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Histórico da soja

e introdução à
fenologia

Origem e descrição botânica da soja

Professor:
Dr. Gustavo Adolfo de Freitas Fregonezi
(Professor UNIFIL)
Objetivo: Realizar uma descrição sobre a origem da soja, sua morfologia e suas
características botânicas, cujas informações são relevantes dentro do processo de
produção.

Introdução
A soja que cultivamos atualmente é muito diferente das plantas ancestrais, que eram
rasteiras e se desenvolviam na região leste da Ásia, principalmente nas margens do rio
Yangtse, na China. A mudança na sua arquitetura se iniciou a partir de plantas originadas de
cruzamentos naturais entre espécies de soja selvagens, posteriormente domesticadas e
melhoradas na antiga China.
Historicamente a soja aparece em relatos entre 2800 e 2890 AC, pois era considerada
ao lado do arroz, cevada, trigo como um grão sagrado. Os registros mais antigos sobre a soja
estão presentes no livro "Pen Ts'ao Kong Mu", que descrevia as plantas cultivadas na China
governada pelo Imperador Sheng-Nung. Entretanto para outros autores, os relatos sobre à
soja são ainda mais antigos, publicados em chinês arcaico no "Livro de Odes".
É uma planta herbácea, pertencente ao grupo das dicotiledôneas, família Fabaceae e
espécie Glycine max. Apresenta grande variabilidade genética, que pode influenciar tanto no
período vegetativo quanto o reprodutivo, sendo ainda influenciada pelo ambiente. O caule é
ereto do tipo haste, as raízes são pivotantes, as folhas unifoliadas, trifoliadas e de folhas
cotiledonares que se localizam acima do solo (que se localizam acima do solo - epígeas),
além de inflorescência do tipo racemo e polinização autógama.

Origem da soja

A soja no Mundo
As primeiras referências sobre a cultura da soja no mundo datam de mais de 5000
anos, ou seja, ainda em tempos anteriores a Cristo, quando a China ainda era Governada
pelo imperador chinês Shen-nung, considerado o maior incentivador do cultivo de grãos como
alternativa ao abate de animais. Shen-nung é considerado o pai da agricultura chinesa.
Um dos argumentos mais importantes que comprovam a importância da soja para os
chineses são relatos existentes em 200 anos a.C. onde o grão já era utilizado para a produção
do tofu. Além disso, a partir da soja, era produzido queijo, leite, pão e óleo. Na época, a soja
era comercializada à vista ou trocada por outros produtos.
A soja era uma planta muito diferente da que cultivamos atualmente, eram rasteiras e
cresciam as margens de rios e lagos. Segundo a história, referências ao processo de
domesticação da soja são datados do século XI a.C., oriundos de cruzamentos naturais
realizados pelos cientistas chineses. Naturalmente a soja era encontrada no Nordeste da
China, região onde já era cultivado o trigo no período de inverno.
Após a domesticação, a soja começou a ser cultivada no Sul da China, posteriormente
na Coréia, no Japão e nos outros países do Sudeste da Ásia. Sua expansão foi lenta, e
segundo as referências só teria chegado à Coréia e depois ao Japão no século III depois de
Cristo. Nas regiões ocidentais os primeiros registros surgiram no final do século XV e início
do século XVI, época caracterizada pelas grandes navegações europeias.
Assim como sua expansão foi lenta no oriente, a adoção da soja como alimento
também foi lenta no Ocidente. Na Europa os primeiros relatos foram no século XVIII, quando
foram realizados estudos com brotos de soja para a produção de óleo e fonte de nutrientes
para engorda de animais.
Nos Estados Unidos, os registros são datados de 1980 e os primeiros cultivos
comerciais são datados do início do século XX, mas foi na segunda década (século XX) que
estudos sobre o teor de óleo e de proteína despertaram o interesse das indústrias mundiais.
Entretanto, somente após a Primeira Guerra Mundial (1919), que o grão de soja passa a ter
relevância no comércio exterior e se torna uma importante cultura agrícola. A consolidação da
cadeia produtiva a nível mundial, ocorre após o ano de 1921 quando foi fundada a American
Soybean Association (ASA).

A soja no Brasil

No Brasil, embora os registros históricos apontem para cultivos experimentais de soja


na Bahia no ano 1882 (Figura 1 e Tabela 1), sua introdução tem como marco principal o ano
de 1901, quando começaram os cultivos na Estação Agropecuária de Campinas e
posteriormente a distribuição de sementes no estado de São Paulo. A origem dos primeiros
genótipos da soja brasileira foi proveniente dos Estados Unidos. Entretanto a popularização
da soja começou a partir da intensificação da migração japonesa a partir de 1908. Foi
introduzida em 1914 no Rio Grande do Sul, estado que apresentava semelhanças climáticas
com as regiões produtoras dos Estados Unidos.
A expansão da soja no Brasil se intensifica mesmo a partir dos anos 1970, quando
além dos investimentos na indústria de óleo ocorreram aumento da demanda internacional
pela soja, fatores que contribuíram para que fosse cultivada de forma comercial em grande
escala. Outro aspecto que pode ser considerado importante para expansão da soja é a
incorporação de quantidades significativas de nitrogênio no solo através da fixação biológica,
tornando importante sua utilização na rotação com as culturas de trigo, de feijão e de milho.
A ampliação dos cultivos de soja no Brasil, sempre estiveram relacionados ao
desenvolvimento de tecnologias e pesquisas visando atender a demanda externa. Tanto que
na década de 70 a soja já era considerada a principal cultura do agronegócio brasileiro, com
elevadas taxas de crescimento, passando de 1,5 milhão de toneladas em 1970 para mais de
15 milhões de toneladas em 1979. Cabe ressaltar aqui, o importante papel dos Institutos de
pesquisas (Embrapa, IAPAR, IAC, entre outros), pois a ampliação da produção estava
relacionada mais ao aumento de produtividade, do que necessariamente ao aumento de área
cultivada. A expansão da área foi de 1,3 para 8,8 milhões de hectares, enquanto que a
produtividade passou de 1,14 para 1,73 toneladas por hectare.

Figura 1. Origem e difusão geográfica da soja. Fonte: Bonetti, 1970

A introdução da soja para além dos estados da região Sul só foi possível devido a
pesquisa e o desenvolvimento de cultivares adaptadas ao clima mais quente e a introdução
do Sistema Plantio Direto. Tecnologias que possibilitaram não só a expansão para as demais
regiões, como tornaram a região Centro-Oeste, a primeira em produção de soja, se
aproximando ano a ano da produtividade do estado do Paraná, a maior do Brasil.
Tabela 1. Principais datas e eventos históricos relacionadas a expansão da soja no mundo.
Datas Eventos
2838 a.C 1º registro no herbário PEN TS’ AO KANG MU
1500 a 1027 a.C. Cultivada na dinastia Chang
Séculos II a.C a
Introduzida na Coréia e no Japão
III d. C.
1739 1º plantio experimental na Europa (Jardim Botânico de Paris)
1790 Jardim Botânico Real em Kew (Inglaterra)
1804 Pensilvânia (EUA): Promissora planta forrageira e produtora de grãos
1880 EUA: cultivada como planta forrageira
1873 Universidade de Viena (Áustria) expõe 19 variedades do Japão e da China
Friederich Hamberlandt (Áustria) envia sementes para Alemanha, Polônia,
1876
Hungria, Suíça e Holanda
1882 Introduzida no Brasil (Bahia) por Gustavo D’utra
1909 Introduzida na Argentina (Estação Experimental de Córdoba)
1921 Introduzida no Paraguai
1928 Introduzida na Colômbia
Fontes: Bonetti (1977) e Nonato e Bonato (1987)

No ano de 1995 quando o Governo Federal aprova a Lei de Biossegurança, é


considerado também um marco na história da cultura da soja, pois permite o cultivo de plantas
de soja transgênicas resistentes a herbicidas em caráter experimental. Entretanto é
importante salientar que agricultores dos estados do Sul do Brasil, traziam e cultivavam
irregularmente sementes soja transgênicas oriundas da Argentina, onde o cultivo já havia sido
regularizado. Em 1998 foi aprovada e liberada para cultivo no Brasil, a primeira cultivar de
soja transgênica, denominada de Roundup Ready (RR), da empresa Monsanto. Em 2005, a
Lei de Biossegurança foi atualizada, regulamentando definitivamente o plantio e a
comercialização de cultivares transgênicas.
O processo de consolidação da soja no País foi importante para desenvolver a cadeia
produtiva, com investimentos públicos e privados em armazenamento, unidades de
processamento, transporte e exportação da soja e seus derivados. A cultura da soja também
fortaleceu a pecuária no Brasil pois o farelo de soja é matéria-prima estratégica para a
produção de ração animal para engorda de bovinos, suínos e aves. Além disso a cultura da
soja promoveu o desenvolvimento urbano dos municípios ligados à cultura, principalmente
nos estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do País, onde são observados aumento no
Índice de Desenvolvimento Humano – IDH (Figura 2).
No Paraná (PR) a cultura da soja se adaptou muito bem, se encaixando na rotação
com as culturas de milho e trigo, que substituíram o café, tornando o estado o maior produtor
de soja durante muitos anos. Atualmente, o PR apresenta a maior produtividade e é
considerado o segundo maior produtor do Brasil, depois do estado de Mato Grosso (MT).
Para que o cultivo de soja no MT se expandisse e se consolidasse foi preciso muito
investimento em pesquisas, destacando aqui o papel da Fundação Mato Grosso, para que
fosse possível a utilização dos solos, inicialmente classificados como inapropriados. Outro
fator complicador foi a infraestrutura, tanto para o transporte, quanto para o recebimento dos
insumos. Atualmente a realidade é um pouco melhor e pode ser observada nos preços de
venda da soja, enquanto que no início do ano de 2000 a diferença era próxima de RS 15,00
reais por saco de 60 kg entre a soja vendida em cidades do norte do MT e do norte do PR,
hoje não chega a R$ 8,00. Entretanto o problema infraestrutura não penaliza apenas os
estados do Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil, sendo urgente investimentos para
redução do custo de transporte e exportação, muito superiores aos observados em outros
países.

Figura 2. Comparação do IDH do ano de 1992 com o ano de 2000 de municípios produtores de
soja. Fonte: http://abiove.org.br/cadeia-produtiva/

Aspectos morfológicos
A cultura da soja (Glycine max (L) Merrill) é amplamente cultivada no Brasil para a
produção de grãos, pertence ao Reino Plantae, a classe Magnoliopsida (Dicotiledônea),
ordem Fabales, família Fabaceae, subfamília Faboideae, tribo Phaseoleae, gênero Glycine
L., espécie Glycine max.
A semente apresenta formato elíptico e hilo de coloração preta, marrom ou amarelo-
palha. É dividida em três partes: o tegumento, os cotilédones e o eixo embrionário (Figura 3).
O tegumento está relacionado a entrada da água na semente, além de proteger o embrião
contra patógenos e choques mecânicos. Os cotilédones considerados as reservas da
semente, representam até 90% de toda sua massa e são constituídos por proteínas (± 45%),
carboidratos (± 25%), óleos (± 20%), fibras (± 5%) e minerais (± 5%). O eixo embrionário é
constituído por duas folhas unifolioladas, o meristema apical, que dá origem a parte aérea e
o meristema radicular que originará as raízes.

Figura 3. Partes da Semente de soja

A raiz (Figura 5A) é do tipo pivotante com eixo principal e muitas ramificações. Sua
extensão varia de acordo com as condições climáticas e com a fertilidade do solo ao longo do
perfil. A raiz principal pode chegar a mais de 2 metros de profundidade e as raízes laterais a
2,5 metros de distância em plantas isoladas, quando as condições do solo e do clima forem
adequadas. No Brasil quase todas as raízes localizam-se nos primeiros 30 cm de
profundidade, sendo a maior parte concentrada nos primeiros 15 cm de profundidade. Uma
das características da espécie é realizar a simbiose com a bactéria Bradyrhizobium
japonicum, formando nódulos capazes de realizar a fixação biológica de nitrogênio. Em
condições favoráveis de solo e de clima, os nódulos podem ser visualizados 10 dias após a
semeadura e três semanas após a emergência, os nódulos já estão disponibilizando
nitrogênio para o crescimento e desenvolvimento da soja.
As folhas podem ser divididas em quatro tipos diferentes: cotiledonares, simples ou
unifolioladas, trifolioladas e prófilos ou brácteas (Figura 5B). As folhas cotiledonares são
formadas após a emergência das plântulas. As folhas simples (unifolioladas) são opostas e
apresentam formato oval com pecíolos curtos (1 a 2 cm), estão localizadas no nó acima das
folhas cotiledonares. A folhas trifolioladas estão dispostas alternadamente, apresentam
formato variável dependendo da cultivar (lanceolada, ovóide, oval, rombóide, rombóide-
lanceolada, oval-lanceolada) (Figura 4). As dimensões também variam com a cultivar (4 a 20
cm de comprimento e de 3 a 10 cm de largura). Já os prófilos estão presentes em pares na
base de cada ramo lateral, apresentando mais de 1 mm de comprimento. A coloração dos
folíolos varia desde o verde claro até ao verde escuro.
O caule (Figura 5C) é do tipo haste, ereto e híspido com tamanho que varia entre 80
e 150 cm, sua ramificação depende da cultivar e em intervalos regulares, desenvolvem-se os
nós que correspondem aos primórdios foliares. Nas gemas axilares, formadas pela junção
das folhas com os nós podem dar origem a uma ramificação lateral e/ou a um botão floral ou
permanecer dormente.
As flores (Figura 5D) são originadas dos brotos axilares, denominadas de racemos
(Figura 5E) com número variável de 2 a 35 flores em cada um. A fecundação é autógama,
característica da subfamília Faboideae também conhecidas como Papileonoideae, com
coloração variando de branca a roxa. Apresentam cálice de 5 lobos desiguais e a corola é
composta de 5 pétalas, sendo a maior, sendo a maior denominada de estandarte, as duas
laterais são de asas e as duas anteriores de quilhas (carena). O androceu tem 10 estames e
o gineceu é constituído por um único pistilo com presença de um a quatro óvulos dentro de
cada ovário, o que pode levar a formação de até quatro grãos em cada vagem. Cabe ressaltar
que a soja origina muito mais flores do que o número de vagens produzidas, o que significa
elevado abortamento (entre 20 a 80%). O abortamento das flores pode ocorrer em qualquer
estádio de desenvolvimento, sendo que a maior frequência é observada entre 1 a 7 dias após
o florescimento e geralmente ocorre com as primeiras e as últimas flores. Também é comum
ocorrer o abortamento de óvulos individuais.
Figura 4. Exemplo de formatos de folhas das cultivares BMX Turbo RR (a), NA 5909 RR (b), Igra RA
518 RR (c) e CD 219 RR (d) utilizadas no experimento de campo em Santa Maria, RS. Fonte: Richter
et al. (2014)

O fruto da soja é do tipo legume ou vagens que são arqueadas, cuja coloração varia
de verde para amarelo-pálido (marrom-claro, marrom ou cinza) à medida que amadurece,
sendo que a cor é dependente da presença de caroteno, de xantofila, de antocianina e da cor
dos pelos que cobrem a vagem. Cada vagem, normalmente apresenta entre uma a quatro
sementes lisas. O comprimento e a largura máxima da vagem ocorrem entre 25 e 30 dias
após o florescimento, respectivamente.
O número de vagens por racemo varia de 2 a 20, dependendo do tipo de cultivar e da
sua posição na planta. O total de vagens por planta pode chegar a mais de 400, valor
dependente do espaçamento, do ambiente e da cultivar. De 10 a 15 dias após o florescimento
já se observa a presença das vagens (Figura 5F) e o término da frutificação irá depender das
condições ambientais e do ciclo de maturação da cultivar (Figura 5G).
Figura 5. Soja: sistema radicular com a presença de nódulos (A); tipos de folhas (B); Ramificação do
caule (C); Flor (D); Racimo (E); Estádios reprodutivos R3 (F); Estádios reprodutivos R4, R5, R6, R7 e
R8 (G).Fonte: Hungria (A); Portal Syngenta (B, E e G); Fregonezzi e Santana (C); Agrolink (D).
Tipos de crescimento da soja
O tipo de crescimento da soja está relacionado ao caule (haste principal). Apresentam
crescimento indeterminado, determinado, semideterminado (semi-determinado). Entretanto,
em algumas condições de campo os tipos semindeterminado (semi-indeterminado) e
indeterminado apresentam comportamentos muito semelhantes, o que provoca ambiguidade
na identificação do tipo de crescimento. Os tipos de crescimento mais utilizados são o
determinado e o indeterminado (Figura 6, 7 e 8).
No crescimento determinado a planta apresenta primeiro o desenvolvimento
vegetativo e quando floresce não emite novos nós no caule, iniciando o desenvolvimento
reprodutivo que é finalizado com a formação de um racemo terminal onde se forma um
cartucho de flores e posteriormente de vagens (Figura 7A). O crescimento após o
florescimento pode ocorrer devido ao alongamento dos espaços entre os nós, entretanto é
reduzido. As folhas do ápice são semelhantes em tamanho quando comparadas às demais
folhas. As flores se formam primeiro no terço médio superior, para depois surgirem no terço
inferior do caule, sendo que as vagens são formadas tanto nas gemas axilares quanto no nó
terminal.
O tipo de crescimento indeterminado se caracteriza pelo desenvolvimento vegetativo
ocorrer em conjunto com o período reprodutivo, sendo que após o início do florescimento a
planta continua a emitir novos nós no caule. O final do crescimento é indicado por uma gema
vegetativa localizada no ápice do caule (Figura 7B e 8). As folhas presentes no ápice do caule
apresentam tamanho menor do que as presentes no terço médio e inferior. O florescimento e
formação das vagens, se inicia no terço inferior do caule, sendo concentrado nas gemas
axilares, com ausência ou pouca presença no nó terminal.
No crescimento semideterminado (semi-indeterminado), a planta apresenta
características “intermediárias” em relação aos crescimentos determinado e indeterminado
(Figura 7C).
O método mais utilizado para classificar o hábito de crescimento é descrito por Thseng
e Hosokawa (1972), onde estabelecem o número de nós no caule até o início do florescimento
e o número de nós desenvolvidos nele após o início do florescimento para determinar o tipo
de crescimento.
Figura 6. Diferença do hábito de crescimento determinado e indeterminado em soja. Fonte: Embrapa

Na figura 8 e na tabela 2 é possível verificar as diferenças dos tipos de crescimento


determinado e indeterminado. As principais diferenças estão relacionadas ao crescimento
vegetativo e reprodutivo separados no tipo determinada e uma coincidência entre o período
de crescimento vegetativo e reprodutivo nas cultivares indeterminadas. Além disso o período
de crescimento, florescimento, desenvolvimento dos frutos e enchimento de grãos é maior
nas cultivares com hábito indeterminado.
O crescimento determinado aumenta os riscos relacionados ao estresse hídrico na
fase de florescimento/início de enchimento de grãos, impedindo a recuperação da planta após
déficits hídricos. Já o crescimento indeterminado apresenta período juvenil mais longo, o que
permite a obtenção de plantas maiores em semeaduras antecipadas, apresentando maior
flexibilidade e potencializando o uso do solo no período chuvoso, o que aumenta o retorno
econômico.
A altura das plantas é depende das condições do ambiente e da cultivar, variando de
60 a 110 cm, facilitando a colheita mecânica e evitando acamamento. A floração da soja está
relacionada ao nictoperíodo (duração da noite), entretanto utilizamos o fotoperíodo, que
significa a duração do dia. É uma planta de dia curto, que quando cultivada em dias longos
atrasa seu florescimento, alongando seu ciclo, reduzindo a restrição relacionada ao
fotoperiódo ao plantio comercial de soja, mesmo na região do equador. Está pesquisa permitiu
seu cultivo praticamente em todas as regiões do Brasil, rendendo o título de país que
“tropicalizou” a soja.
Figura 7. Tipo de crescimento de soja: caule com crescimento do tipo determinado – dt1/dt1 (A);
caule com crescimento indeterminado – Dt1/Dt1(B); Tipo de crescimento de soja na maturação com
crescimento determinado (dt1/dt1), semideterminado (Dt1/dt1) e indeterminado (Dt1/Dt1) (C). Fonte:
Liu et al. (2010)

Figura 8. Caracterização do desenvolvimento vegetativo (V) e reprodutivo (R) em genótipos de soja


com tipo de crescimento determinado e indeterminado. Fonte: Thomas (2018).
Tabela 2. Altura de planta, período de florescimento (PF) e número de nós no caule de uma cultivar
de soja com tipo de crescimento determinado (grau de maturação 5) e outra com tipo indeterminado
(grau de maturação 4).
PF no Altura da planta Nós no caule
Tipo de
caule R1 FF Dif. R1 FF Dif.
crescimento
dias cm nº
Determinado 25 45 68 23 9 12 3
Indeterminado 45 18 84 65 6 17 11

R1 = início do florescimento; FF = final do florescimento; Dif = diferença (FF – R1)


Fonte: Heatherly e Smith (2004).

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