Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
gue
tilín www.RevistaOpinioes.com.br
ul ISSN: 2177-6504
M
ção
i
Ed
perspectivas para o
sistema bioenergético
🔊
instruções
IMPORTANTE • IMPORTANT • WICHTIG
• First of all, before any action, please touch in the flag of your language.
• Tout d'abord, avant toute action, veuillez toucher le drapeau de votre langue.
• Primero, antes de realizar cualquier acción, toque la bandera de su idioma.
• Bitte berühren sie vor jeder aktion die flagge ihrer sprache.
14
16
20 24
30 34
32 38 48
42 52
44 56 64
60 68
70
índice 🔊
EDITORIAL DE ABERTURA:
10: Plinio Mário Nastari, Datagro
POLÍTICAS PÚBLICAS:
14: Evandro Gussi, Unica
HIDROGÊNIO VERDE:
16: Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio, Abag e Canaplan
VEÍCULOS HÍBRIDOS:
20: Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo, Alta Mogiana
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA:
24: Jucelino Oliveira de Sousa, Bevap
A INTERNACIONALIZAÇÃO DO ETANOL COMBUSTÍVEL:
30: Bento Albuquerque, Consultor em Defesa, Energergia e Mineração
32: Eduardo Leão de Sousa, Unica
SISTEMA BIOENERGÉTICO BRASILEIRO:
34: Heloisa Borges Bastos Esteves, EPE
MACROVISÃO ESTRATÉGICA:
38: Alexandre Enrico Silva Figliolino, MB-Agro e XP
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA E ECONOMIA CIRCULAR:
42: Luciano Rodrigues, UNICA e FGV/EESP
BIOECONOMIA CIRCULAR:
44: Heloisa Lee Burnquist, Esalq-USP
MERCADO DE COMBUSTÍVEIS:
48: Martinho Seiiti Ono, SCA
52: Tarcilo Ricardo Rodrigues, Bioagência
PRODUTORES DO SISTEMA BIOENERGÉTICO:
56: Hugo Cagno Filho, Vertente e UDOP
60: Pedro Robério de Melo Nogueira, Sindaçúcar-AL
64: Mário Campos Filho, Fórum Nacional Sucroenergético e Siamig
68: Antonio Cesar Salibe, UDOP
70: Silvio Cézar Pereira Rangel, FIEMT e Sindicato de Bioenergia de MT
quando
01
02 03
04
05 06
07
08 09
10 12
11 13
14 16
15 17
18
você tiver na estrada 🔊
Na sua próxima viagem de carro, pegue seu celular, entre no
site da Revista Opiniões, escolha a edição recente desejada,
folheie até esta página, ligue o rádio do seu carro, toque na foto
do autor escolhido e ouça o primeiro artigo pelos controles do
rádio do seu carro. Quando terminar, toque no segundo autor e
assim por diante. Quando chegar no seu destino, provavelmente
terá ouvido toda a revista.
Se desejar ouvir o artigo numa outra língua, lido com voz nativa,
localize o artigo desejado e toque na bandeira da língua que preferir.
Além do português, estão à sua disposição os áudios em inglês,
espanhol, francês e alemão. Pelo fato do artigo ser traduzido
e lido por robôs, poderá haver pequenas imperfeições.
É lógico que você não precisa viajar para desfrutar desse conforto.
O sistema também funcionará na sua mesa de trabalho, andando
no parque, na esteira da academia, nas ruas congestionadas
da cidade grande ou no sofá da sua Casa.
Boa leitura ou boa audição, como preferir.
www.fcntecnologia.com.br
+55 19 99604-0736 • +55 19 98159-0609
Rua Antonio Frederico Ozanan, 2293
13417-160 - Piracicaba - SP
milagre, tem tecnologia !
O que pode ser mais agradável para um
produtor do que ouvir a seguinte frase:
" Você pode dobrar a sua produção e
baixar seus custos pela metade "
Essa é a solução ideal para áreas com produtividade abaixo de 60 toneladas por
hectare. A lógica é muito simples. A operação é aplicada em ruas alternadas.
O equipamento faz o corte da cana de ambas as ruas e empurra a cana cortada
para as duas ruas laterais.
O trabalho a ser feito pela colhedora passa a ser: cortar da rua que ainda
está de pé e recolher, na mesma operação, a cana já cortada pelo equipamento
CORT-I-CANA, que recebeu o apelido muito próprio de "engordador de rua".
10
Opiniões
Vale lembrar que a meta aprovada para O preço do CBIO deveria também cobrir o
2023 é de 37,50 milhões de tCO2e, e que, obstáculo a novos investimentos, que é gerado
em 2022, foram gerados 31,448 milhões de pela elevada taxa de juros real, que também
tCO2e, com vendas basicamente de etanol e inibe investimentos.
biodiesel, embora ainda haja potencial para A verdade é que, mesmo com a aprovação
biogás/biometano e bioquerosene. Conside- de uma regulação eficiente e moderna como o
rando que a cana-de-açúcar tem, no Brasil, RenovaBio, a falta de uma clara visão estraté-
um ciclo de produção médio de 5 a 6 anos, gica de longo prazo tem impedido a sua eficá-
estamos distantes pouco mais de um ciclo de cia como mecanismo indutor de planejamento.
cana do atingimento do período em que essas Essa mesma falta de visão estratégica tem im-
metas precisariam estar sendo cumpridas. pedido uma expansão mais vigorosa da gera-
Portanto, mesmo com uma regulação efi- ção elétrica de biomassa. Seus atributos posi-
ciente em vigor, não têm sido geradas as condi- tivos são inúmeros, como o fato de ser energia
ções para viabilizar ou estimular investimentos firme e não intermitente como as energias ;
privados que possam atingir essas metas.
Uma das explicações pode estar na própria
reação do governo que, em 2022, reagiu ao
atingimento do preço do crédito de descar-
bonização (CBIO) ao alcançar valores que ul-
trapassaram R$ 200 por tCO2e. Embora esse
valor fosse ainda muito distante de valores
observados em mercados similares de carbo-
no, como a Califórnia, onde se superaram US$
200 por tCO2, ou à União Europeia, onde se
chegou a mais de US$ 85 por tCO2e, o gover-
no brasileiro, durante a última administração
federal, mostrou que não estava disposto a ad-
mitir valores de tal magnitude, desvirtuando
o programa RenovaBio com alterações de sua
regra básica e metas.
Para o RenovaBio funcionar em sua ple-
nitude, seria preciso que, uma vez definida e
aprovada a meta de descarbonização, o valor
do CBIO fosse aquele necessário e suficiente
para estimular novos investimentos. Não foi
isso que se verificou na prática, pois o governo
preferiu priorizar o impacto no preço do com-
bustível fóssil ao consumidor no curto prazo,
no lugar da possibilidade de atingir a sua pró-
pria meta de longo prazo.
11
Q editorial de abertura
Índice Opiniões
eólica e solar fotovoltaica, embora sendo sazo- na utilização de combustíveis líquidos de
nal, mas com sazonalidade benéfica e favorá- baixa pegada de carbono, capazes de utilizar
vel ao planejamento do setor elétrico. eficientemente etanol e biodiesel, e já se en-
Ou o fato de ser gerada próxima aos cen- contra tecnologicamente pronto para deslan-
tros de carga (próxima às cidades), poupan- char o uso de biometano em ônibus e veículos
do investimentos em linhas de transmissão pesados, todos com muito baixa pegada de
e perdas de transmissão estimadas no Brasil carbono. O Brasil é também um dos maiores
em cerca de 11% do consumo total. É gera- produtores e exportadores de minério de fer-
da no período de inverno, complementando ro, matéria-prima básica para a produção de
com perfeição o regime de geração do nosso aço. Tem uma competente indústria local de
enorme parque hidroelétrico, responsável por produção de plásticos e elastômeros, inclusive
72,1% de toda a geração elétrica do País em com relevante produção de plásticos verdes.
2022, elevando a base de geração do sistema Além disso, dentre as maiores economias
hidroelétrico sem que fossem necessários no- do mundo, possui a matriz energética mais
vos investimentos. renovável, capaz de produzir aço, compo-
A energia de biomassa gerada principal- nentes e peças com baixa pegada de carbono
mente nos meses de inverno, quando ocorre a que podem alavancar o processo de eletrifica-
colheita da cana na principal região produtora ção com motorizações que otimizem o uso de
do País, portanto valiosa por sua sazonalidade, combustíveis limpos e renováveis, acelerando
recebe uma tarifa que varia em torno de R$ a adoção de tecnologias híbridas que associam
260 a 320 por MWh. Enquanto isso, o sistema essas vantagens à adoção de uma eletrificação,
elétrico interligado remunera usinas térmicas que utiliza a infraestrutura já instalada de dis-
movidas a energia fóssil ─ em muitos casos, tribuição de energia na forma de combustíveis
óleo diesel importado, que onera a balança co- limpos. Uma tecnologia que é, ao mesmo tem-
mercial e gera emissões de gases do efeito estu- po, limpa e acessível em preço para o consumi-
fa a tarifas acima de R$ 1.800 por MWh. dor e que permite às montadoras atingir o tão
A mesma falta de visão estratégica que in- sonhado objetivo de emissão zero até 2050.
terfere no RenovaBio, não permitindo que Uma política industrial alicerçada na valo-
o programa cumpra o proposito para o qual rização da tecnologia desenvolvida no Brasil,
foi criado, também não reconhece o valor da para produção local de veículos de baixa emis-
energia elétrica de biomassa que poderia estar são e elevado rendimento e a exportação des-
sendo gerada com caldeiras mais eficientes e se modelo de mobilidade para outros países,
modernas em usinas de cana-de-açúcar, re- é uma oportunidade que o País, seus empre-
duzindo o custo de fabricação do açúcar e do sários e trabalhadores deveriam reconhecer,
etanol, tornando-os mais competitivos para os valorizar e aproveitar.
consumidores, gerando mais créditos de des- Estímulos à conversão de veículos antigos
carbonização e mais possibilidades de cum- e mais poluidores, por novos com menores
primento de metas ambientais pelo País. Caso emissões, associados à devida reciclagem de
houvesse essa visão estratégica, deveriam es- materiais e recompensas aos consumidores
tar sendo criadas linhas especiais de financia- pelo uso de combustíveis renováveis, pode-
mento através de bancos de fomento, como o riam recuperar e alavancar uma indústria au-
BNDES e outros, para impulsionar o aprovei- tomotiva, que é estratégica e de grande impac-
tamento desse potencial hoje desperdiçado. to para o desenvolvimento econômico e social
A falta de visão estratégica impede também por seu elevado efeito multiplicador.
que se enxergue e reconheça que o Brasil desen- Uma nova reindustrialização do País pode-
volveu, nas últimas décadas, uma tecnologia ria estar sendo estimulada, caso houvesse uma
automotiva eficiente, utilizando biocombustí- visão estratégica para um planejamento inte-
veis, que permite ao País dispor do veículo de grado dos setores de energia, meio ambiente,
menor emissão de CO2e em todo o mundo, na industrial e agroindustrial e de comércio ex-
avaliação do ciclo de vida. Em realidade, o Bra- terior. Oportunidades valiosas têm sido des-
sil possui todas as condições de se posicionar perdiçadas por falta de uma visão estratégica.
como supridor de tecnologia de mobilidade No início de um novo ciclo, só podemos dese-
sustentável para o mundo, como está fazen- jar que prevaleça o bom senso, o espírito público
do, neste momento, para a Índia. Nas últimas e o interesse geral, para que sejam criadas con-
quatro décadas, o Brasil desenvolveu uma dições que estimulem o investimento privado
bem-sucedida tecnologia automotiva calcada nessa direção. n
12
Conte com a tecnologia Timken
para obter o máximo desempenho
e produtividade na sua usina.
Com os produtos de última geração da Timken®, você
garante a máxima eficiência e confiabilidade em seus
equipamentos desde o plantio à colheita, passando pelo
processamento e produção de açúcar e álcool:
Stronger. By Design.
www.timken.com
A Timken aplica seu know-how para melhorar a confiabilidade e o desempenho das máquinas das mais diversas indústrias
em todo o mundo. A empresa desenvolve, produz e comercializa componentes mecânicos, como rolamentos, engrenagens,
correntes, produtos de transmissão de potência, além de serviços.
Timken® é marca registrada da The Timken Company. I © 2021 The Timken Company
Q políticas públicas
Índice
Evandro Gussi
Presidente da Unica
14
Opiniões
A utilização de tributos parafiscais (como Sob essa perspectiva, o Congresso Nacio-
o carbon tax) tem inúmeros pontos positivos nal aprovou, em julho de 2022, a Emenda
e merece sempre nossa atenção. No entanto, Constitucional 123, que altera o Artigo 225
o mercado de carbono, precificando-se as da Constituição, para estabelecer um regime
emissões evitadas ou mesmo a sua captura, fiscal diferenciado para os biocombustíveis.
tem se revelado como uma maneira ainda A decisão veio em resposta à medida, na
mais eficiente de precificar externalidades, contramão do mundo comprometido com a
nesse caso, positivas. No Brasil, uma políti- sustentabilidade, que zerou os tributos dos
ca de mercado de carbono teve início com o combustíveis até 31 de dezembro de 2022,
RenovaBio, a Política Nacional de Biocom- período reconhecido juridicamente como
bustíveis, que visa expandir a produção de “estado de emergência”. Após esse prazo,
combustíveis renováveis, fundamentada na estaria vedada a fixação de alíquotas sobre
previsibilidade e sustentabilidade ambien- a gasolina e o etanol em percentual superior
tal, econômica e social. ao vigente quando da publicação da regra.
Um dos instrumentos do RenovaBio é Prorrogações da medida seriam inconstitu-
o Crédito de Descarbonização, o CBio, que cionais.
oferece oportunidade de compensação de Ao fixar o diferencial tributário para bio-
emissões para setores da economia com combustíveis, os legisladores corrigem pos-
maior custo de mitigação. Diferente do im- síveis distorções de mercado, incoerentes
posto sobre o carbono, cada CBio representa com o compromisso com energias de baixo
uma tonelada de CO2eq que deixou de ser carbono, promovendo um meio ambiente
emitida graças à substituição de combustí- ecologicamente equilibrado.
veis fósseis. Essa substituição ocorre, por De acordo com o Artigo 225 da Consti-
exemplo, com a opção pelo etanol em vez da tuição Federal, “todos têm direito ao meio
gasolina no abastecimento do veículo. ambiente ecologicamente equilibrado, bem
O uso de etanol no Brasil, e em outros de uso comum do povo e essencial à sadia
países, vem contribuindo sistematicamente qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pú-
para a redução de emissões de CO2eq na at- blico e à coletividade o dever de defendê-lo
mosfera. O etanol emite até 90% menos CO- e preservá-lo para as presentes e futuras ge-
2eq do que o combustível fóssil. Desde que rações”. É disso que se trata.
a tecnologia flex foi lançada no Brasil, em Quase meio século depois de Friedman,
2003, aproximadamente 600 milhões de to- a quem cabe a conta ambiental dos agen-
neladas de dióxido de carbono deixaram de tes poluidores está no cerne dos debates
ser lançadas na atmosfera, impactando po- sobre transição energética. Obviamente
sitivamente a saúde de milhões de pessoas e não existe um modelo único, e a escolha
o meio ambiente. da rota mais adequada para cada país es-
Uma forma de fomentar a escolha pelo tá sujeita a uma série de fatores, como as
substituto renovável é garantir a compe- características produtivas, o perfil da ma-
tividade dos biocombustíveis por meio triz energética, a aceitabilidade política da
de instrumentos fiscais. São conhecidos medida, o apoio da sociedade e a sinali-
os impactos positivos da diferenciação de zação dos impactos nos indicadores socio-
tributos no estado de São Paulo, onde foi econômicos, além da situação fiscal em
instituída a política de alíquotas de ICMS que o país se encontra.
(Imposto sobre Operações relativas à Cir- Mas uma coisa é certa: a precificação de
culação de Mercadorias) diferenciadas carbono é uma ferramenta muito importan-
para gasolina C (25%) e etanol hidratado te para o cumprimento das metas do Acordo
(12%). A opção pelo biocombustível pro- de Paris. E, para além dos benefícios am-
porcionou, entre outras positividades, uma bientais, pode criar um ecossistema fiscal
bem-sucedida experiência para o controle para os governos, incentivando o desenvol-
das emissões de poluentes na cidade de vimento de diversos setores da economia,
São Paulo, quarta maior do mundo, que com geração de emprego e renda no País.
contabiliza baixos índices de poluição at- Temos, no Brasil, um enorme potencial para
mosférica, segundo a plataforma interna- fazer negócios, descarbonizando. E quere-
cional IQAir. mos descarbonizar, fazendo negócios. n
15
Q hidrogênio verde Opiniões
Índice
A cana-de-açúcar se casa
com o milho, e, obviamente,
é uma nova integração que o
mercado adora, mas o governo
leva tempo para se
ajustar a ela. "
16
Q hidrogênio verde Opiniões
Índice
18
ATAG WATER SOLUTIONS
60 ANOS COMO REFERÊNCIA EM TRATAMENTO DE ÁGUA INDUSTRIAL
contato@atagwatersolutions.com
+55 11 4070-5220
Av. Dona Ruyce Ferraz Alvim, 149
09951-002 - Diadema - SP
www.atagwatersolutions.com
Q veículos híbridos
Índice
A hibridização pode
aumentar a eficiência de
um carro híbrido em até 50%
no uso geral. Em resumo,
um carro a etanol híbrido seria
até 70% mais eficiente do que
um similar flex, comumente
vendido no Brasil. "
20
Opiniões
Parece claro que quem procura um carro motores pequenos, extremamente eficientes e
novo, hoje, está buscando atributos ligados à econômicos, além de baratos para se produzir e
maior tecnologia e eficiência energética, man- se manter, com menos cilindros e menor peso.
tendo a praticidade do abastecimento rápido, Segundo fontes da indústria automobilística
amplamente disponível e, principalmente, um que eu consultei, um veículo desses pode fa-
baixo preço de aquisição. Eu não enxergo to- cilmente ser até 20% mais econômico do que
dos esses atributos nos carros elétricos, o que seu similar flex, reduzindo os custos ao con-
me leva a concluir que eles dificilmente serão sumidor, aumentando a autonomia do carro e
líderes de vendas na maioria dos países consu- reduzindo ainda mais a emissão de poluentes.
midores. Existe outro componente da decisão A hibridização, por sua vez, dependendo da sua
de compra que também deixa uma eventual intensidade, pode aumentar a eficiência de um
dominância dos veículos elétricos em xeque: o carro híbrido em até 50% no uso geral. Em re-
potencial de desvalorização do veículo à medi- sumo, um carro a etanol híbrido seria até 70%
da que se aproxima o momento da substituição mais eficiente do que um similar flex, comu-
das baterias, que pode levar de 8 a 15 anos, de- mente vendido no Brasil.
pendendo da taxa de utilização do carro. Com Além dessas vantagens, a indústria automo-
o preço de uma bateria nova, superior ao valor bilística necessitaria de uma fração dos investi-
do casco depois de 8 anos, será preciso que o mentos hoje direcionados ao desenvolvimento
consumidor deprecie agressivamente o valor dos carros puramente elétricos para colocarem
do seu patrimônio nesse período, o que vai dei- esses veículos no mercado, bastando aos postos
xar muitos proprietários simplesmente furio- de combustíveis serem incentivados a adap-
sos e decepcionados. tarem algumas bombas para o etanol, como
Tecnologias promissoras, como as de hidro- já foi feito no Brasil desde a década de 1980,
gênio e de células de combustível, também não com enorme sucesso. Outra vantagem dessa
parecem prontas e maduras para chegarem aos transição, além dos ganhos ambientais, seria
mercados no médio prazo; os mais otimistas a manutenção da cadeia de produção das in-
esperam que esses veículos sejam viáveis ape- dústrias por trás dos componentes de motores
nas após 2040. É aí que entram os carros hí- atuais, que empregam milhões de pessoas pelo
bridos a combustão e a eletricidade como uma mundo. Manteríamos empregos técnicos e bem
solução intermediária, até que surjam outras remunerados, ao mesmo tempo em que evita-
alternativas mais viáveis. Os carros híbridos ríamos uma perda de arrecadação de impostos
são mais baratos do que os elétricos, têm a que essas empresas recolhem à sociedade.
praticidade do abastecimento rápido, não têm Caberia aos produtores de etanol o desafio
uma depreciação tão acelerada, são econômi- de aumentarem a produção do combustível a
cos e possuem uma excelente autonomia. um custo que seja assemelhado ou até menor
Porém, eles ainda consomem combustíveis do que o da gasolina, algo que já ocorre hoje.
fósseis, o que nos impõe um desafio em encon- O litro de etanol vale aproximadamente entre
trarmos um combustível líquido renovável e de 70% e 80% do preço da gasolina na maioria dos
baixa emissão de carbono na atmosfera para países produtores, gerando empregos e divisas
substituí-lo. Ora, esse combustível já existe! a esses países, muitos deles economias em de-
Trata-se do etanol, seja ele oriundo do milho senvolvimento e ávidas por crescimento econô-
ou da cana-de-açúcar. Segundo a consultoria mico, como a Índia e o Brasil. Mesmo um país
Datagro, um carro flex fuel (gasolina/etanol) desenvolvido e com poucas fronteiras agrícolas
híbrido emite 27 gramas de CO2 por km ro- a serem exploradas, como os Estados Unidos,
dado no Brasil, contra 120 gramas de CO2 de tem espaço para aumentar a sua produção de
um carro elétrico na Europa. Apesar dos nú- etanol através da construção de mais destila-
meros convincentes, eles podem ser ainda me- rias de milho, algo que provavelmente ocorre-
lhores: basta que as montadoras desenvolvam ria no Brasil, outro grande produtor do grão.
motores otimizados para consumirem etanol, Conclui-se, portanto, que o carro a etanol
aproveitando-se da maior octanagem (ao redor híbrido pode ser uma excelente solução am-
de 120 octanas, contra 80 da gasolina pura) biental, social, fabril e mercadológica, prin-
para aumentarem a taxa de compressão do cipalmente para os países que já dominam a
motor. Aliado à tendência dominante dos mo- produção do combustível em larga escala, co-
tores atuais, que são cada vez menores e con- locando-se como mais uma excelente opção no
tam com turbinas para compensarem a perda cardápio das montadoras aos seus consumido-
de potência advinda da redução de tamanho, o res, cada vez mais ansiosos por novidades em
etanol mostra-se perfeito para ser utilizado em tecnologia automotiva. n
21
CARREGUE
MUITO MAIS
RODOTREM 91 ton
11 EIXOS 30 met
n
tros
O CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE
CADA VEZ MAIS PRÓXIMO A VOCÊ!
Equipamentos desenvolvidos com foco
em performance e tecnologia para o
melhor aproveitamento na uulização
dos recursos e processos.
24
Opiniões
Estudos indicam que o consumo de bio- parece, no médio e longo prazo, ser essa uma
combustíveis vai quadruplicar até 2050 em aposta muito sensata a ser feita. Em outros
todos os cenários avaliados, seja na limitação países, o boom dos carros elétricos foi impul-
de aquecimento global ou na velocidade de sionado por políticas agressivas dos governos
penetração da eletrificação. Ora, se existe ta- locais, que ofereceram benefícios fiscais aos
manho potencial, se temos a maior vantagem compradores; algo assim é impensável no
competitiva no mundo quanto à produção Brasil, pelos problemas econômicos e fiscais
de produtos agrícolas, se temos o domínio do País. É inacreditável que pelo menos sete
da tecnologia na produção, se temos a maior estados brasileiros já tenham uma legislação
infraestrutura instalada na logística e abaste- que permita abater ou isentar a cobrança de
cimento de biocombustíveis, por que o etanol IPVA para veículos elétricos e híbridos, ou
aparece de forma tão tímida, e às vezes nem que, pasmem, em São Paulo, os elétricos não
aparece, nas discussões de transição energé- precisam seguir o rodízio. A quem interessa
tica no Brasil? esses incentivos? Ao meio ambiente certa-
A cana-de-açúcar tem potencial para ser mente não, pois, se assim fosse, iguais ini-
até 10x mais eficaz que as células fotovoltai- ciativas estariam sendo feitas em benefício
cas (energia solar) em potencial de descar- ao etanol, igualmente limpo e disponível em
bonização por hectare de terra no futuro, em larga escala. A propósito, seguindo essa lógi-
países de clima tropical. Existem inúmeros ca, a venda de gasolina deveria ser proibida
desafios tecnológicos e econômicos para que nas grandes metrópoles brasileiras.
isso aconteça, porém eles não são maiores Os desafios no Brasil para os carros elé-
que os outros desafios, que as demais tecno- tricos são imensos: O alto preço dos veícu-
logias de geração de energia limpa precisarão los, devido ao custo das baterias (que só se
enfrentar. A produtividade agrícola da cana tornarão mais baratas através de avanços na
pode chegar a 90 t/ha até 2030; com irrigação química, e não sabemos quando e se aconte-
e melhorias na fertilização, o melhoramento cerão), e a implantação de uma vasta infraes-
genético e a biotecnologia podem elevar esse trutura de recarga são alguns deles. Conve-
patamar para 150 t/ha. Diversos projetos em nhamos, num país onde ainda temos regiões
andamento prometem aumentar entre 10% a sem energia elétrica, faz sentido investir-
15% a eficiência no processo de fermentação, mos em instalações de recarga para Volvos,
aumentando a produção de etanol por tone- Toyotas e Porshes?
lada de cana. Pesquisadores recentemente Outro queridinho da vez é o hidrogênio
descobriram como aumentar em até 120% a verde. Sua demanda vai ganhar força com a
sacarificação do bagaço da cana-de-açúcar ao aplicação, principalmente em setores de alta
longo de 12 meses. A descoberta vai reduzir intensidade energética. A Europa é o merca-
significativamente os custos de produção do do de H2V que mais cresce, principalmente
E2G. Enfim, as oportunidades de aumento devido à fragilidade demonstrada frente à
de produtividade em todas as etapas de pro- dependência do gás natural da Rússia. Me-
dução do etanol são infinitas e atingíveis em tas ambiciosas de implantação do H2V tam-
curto e médio prazo. bém estão em alta nos EUA, reforçadas pelos
Muito se fala dos carros elétricos, que, compromissos do presidente Biden de forne-
sem dúvida, já são uma realidade no mundo, cer incentivos para as energias renováveis.
porém, numa rápida análise, ainda parecem O Brasil está bem posicionado para se tor-
algo meio sem sentido para o nosso País. A nar um dos principais agentes do mercado
adesão aos carros elétricos ainda não é pa- na produção de H2V, liderando indicadores
ra todos e isso se deve, em grande parte, ao de competitividade vs custo devido a uma
preço cobrado por esse futuro sustentável. matriz energética limpa, uma grande capa-
Atualmente, o carro elétrico mais barato à cidade instalada de energia eólica e solar e
venda no País pode ser encontrado por R$ uma sólida infraestrutura de portos e fer-
160 mil, enquanto os lançamentos mais re- rovias. Contudo, existem enormes desafios.
centes passam de R$ 400 mil. O modelo mais Para que o mercado de H2V de fato deslan-
caro, da marca Porsche, não sai por menos de che e ganhe escala, existem pelo menos seis
R$ 1 milhão. Num país onde a grande maio- gargalos importantes : 1) a tecnologia dispo-
ria de carros são os ditos populares, não me nível atualmente ainda é bastante restrita; ;
25
Q transição energética
Índice
26
Opiniões
Recuperação, repotencia
otimização de rolamentos
• Aumento substancial da vida útil do rolamento;
• Milhões de dólares em economia para a indústria;
• Manutenção inteligente na indústria 4G;
• Pioneirismo, inovação e aprimoramento contínuo;
• Atuamos nos setores sucroenergético, mineração, siderúrgico,
celulose & papel, energia eólica, metalúrgico, automotivo, etc.
• Mais de 40.000 rolamentos reformados.
Exportamos para:
Argentina, Paraguai, Bolivia,
Honduras, Chile, Nicaragua,
Perú, México, Venezuela e
República Dominicana.
ANTES DEPOIS
n o mia de
e co b i l ida
de n fia
80 % c o ro
• d e d o b
00% em
• 1 rantia
a
• G dito
ré
•C
Bento Albuquerque
Consultor Especialista Defesa, Energia e Mineração
30
Opiniões
cia externa de 85% do petróleo, sendo muito
relevante para a segurança energética reduzir
a utilização de combustíveis fósseis, bem como
para a melhoria da qualidade do ar.
Balança comercial Brasil-Índia no se-
tor de energia: A Índia é o quinto parceiro
comercial brasileiro no mundo, com volume
total de exportações e importações, em 2021,
de US$ 11,53 bilhões. As exportações totalizam
US$ 4,80 bilhões, sendo 47% de petróleo, 16%
de gorduras e óleos vegetais e 13% de ouro. As
importações representam US$ 6,73 bilhões,
sendo de combustíveis (principalmente diesel)
com 20%, compostos orgânicos e inorgânicos
Reunião da delegação lideradas pelo Ministro Bento com 13%, assim como inseticidas e fungicidas
Albuquerque, pelo Brasil, e o Ministro Hardeep Sing com 8,4%, dentre outros. Esses dados, aliado
Puri, pela Índia, para promover a integração ener- às características de complementaridade entre
gética sustentável dos dois países. as duas economias, demonstram o potencial de
crescimento nas relações comerciais e empre-
O esforço realizado permitiu a continuidade sariais entre os dois países.
das tratativas e, neste ano de 2023, tivemos um Aliança Brasil-Índia em bioenergia:
pavilhão dedicado exclusivamente ao etanol A adoção de etanol na gasolina pela Índia per-
na Auto Expo Motor Show 2023, principal e mite o aumento da octanagem do combustível
maior salão de automóveis da Ásia, com a par- comercializado naquele país, o maior equilí-
ticipação destacada da UNICA, pelo Brasil, e da brio do mercado de açúcar pela redução da
SIAM – Society of Indian Automobile Manu- oferta desse produto, a redução das emissões
facturers, pela Índia de gases do efeito estufa e da dependência ex-
Dessa forma, a partir das relações interna- terna de petróleo, proporcionando segurança
cionais conduzidas com planejamento e previ- energética e maior sustentabilidade à sua ma-
sibilidade, o Brasil e seus parceiros estão cons- triz energética.
truindo uma solução de mobilidade sustentável Perspectivas para o Futuro: A aliança
para o hemisfério sul e norte, em que um dos Brasil-Índia permitirá:
alicerces é a bioenergia. a) Desenvolver metodologia harmonizada de
Importância dos biocombustíveis pa- análise de ciclo de vida do poço à roda para ava-
ra Brasil e Índia: O Brasil é um dos maiores liação da mobilidade sustentável, cuja impor-
produtores e consumidor de biocombustíveis. tância foi materializada na criação do Programa
Em 2021, foram evitadas emissões de 24 mi- Combustível do Futuro, criado pelo Conselho
lhões de toneladas de CO2eq pela substituição Nacional de Política Energética em 2021;
de combustíveis fósseis por biocombustíveis. b) Avanços na tecnologia flex-fuel e híbridos
Considerando o mercado automotivo, em que flex, dado que os desenvolvimentos tecnológicos
ocupa o oitavo maior mercado de veículos leves não ficariam restritos ao Brasil, juntando dois
e o quarto maior mercado de veículos pesados, importantes centros de produção de veículos;
onde são flex fuel, 94% dos veículos de passeio c) Aumento da produtividade da cana-de-açú-
e 51% dos veículos comerciais, o País se apre- car pelo compartilhamento das experiências e
senta como um importante vetor da transição das variedades dos dois países;
energética da mobilidade de baixo carbono d) Combustíveis sustentáveis de aviação (SAF),
para o mundo. que é uma importante fronteira para a indús-
Já a Índia, como terceiro maior mercado tria de açúcar e etanol, dado que podemos pro-
de combustíveis do mundo, sendo o segundo duzir, no Brasil, 9 bilhões de litros por ano, fora
maior produtor de açúcar e o quarto maior um potencial gigantesco na Índia;
mercado de veículos, tem os biocombustíveis e) Etanol de segunda geração, com os dois paí-
como um alicerce para a descarbonização da ses juntando esforços para aumentar a oferta
sua matriz de transporte. A gasolina no país, de etanol, sem haver aumento de área plan-
hoje, tem 10% de etanol e estará progredindo tada, e
para uma mistura de 20% a partir de 2023. Im- f) Células a combustível, em que o etanol e o
portante destacar que o país possui dependên- biometano serão as fontes de hidrogênio. n
31
Q a internacionalização do etanol combustível
Índice
“No que se refere a etanol na Índia, a hora é que representa 85% do seu consumo, além de
agora!”. Foi com essas palavras que o influente outros desafios que podem ser endereçados di-
ministro de Petróleo e Gás indiano, Hardeep retamente pelo uso do etanol: é o terceiro país
Puri, encerrou seu discurso na inauguração ofi- que mais emite gases de efeito estufa, tendo
cial do “Pavilhão do Etanol” no Salão do Auto- ainda 63 de suas cidades dentre as 100 mais
móvel indiano, o Auto Expo Motor Show, um poluídas do mundo, segundo o site IQAir, no
dos maiores eventos dessa natureza na Ásia. ano de 2021. Além disso, é o segundo maior
Com mais de 3 mil metros quadrados dedi- produtor de cana-de-açúcar, matéria-prima
cados ao combustível mais limpo do mundo, o mais utilizada no planeta para a produção do
pavilhão apresentou, a mais de um milhão de etanol.
indianos que visitaram a feira no início de ja- Cabe destacar que essa transformação vai
neiro deste ano, os primeiros modelos de mo- muito além das palavras do ministro. De fato,
tos e carros flex produzidos no país, uma novi- em 2014, o nível de mistura do etanol na ga-
dade na região. solina era de apenas 1,5%. Em 2022, essa mis-
Apesar de tardiamente, a Índia reúne todos tura atingiu os 10%, e o governo já anunciou
os motivos que justificam a adoção dessa tecno- que a mistura deverá atingir 20% até 2025. Ou,
logia com o uso do etanol, a começar pela sua sig- colocando essa evolução em valores absolutos,
nificativa dependência de petróleo importado, a aquisição de etanol pelas distribuidoras de
combustíveis indianas saiu de 380 milhões de
litros na safra 2013-14, para impressionantes
4,5 bilhões de litros em 2021-22; ou seja, um
aumento de quase 12 vezes em apenas 8 anos!
E, de acordo com dados do NITI Aayog, uma
think thank de políticas públicas do governo
indiano, a necessidade estimada de etanol para
mistura de 20% de etanol na gasolina será de
10 bilhões de litros por ano para o período en-
tre 2024 e 2026. Como se vê, há um mercado
promissor, que irá gerar emprego e renda, ao
mesmo tempo que reduzir emissões.
32
Opiniões
Para complementar, o E20 já começou a ser configura como a região mais dinâmica do pla-
oferecido, ainda de forma experimental, em neta e, portanto, com demanda crescente por
postos de combustíveis em 15 cidades do país, energia.
com expansão progressiva para toda a região Nesse sentido, é importante lembrar que,
nos próximos dois anos. Inicialmente, o E20 em 2023, a Índia irá sediar a reunião do G20
estará disponível em 84 bombas de gasolina de (grupo que reúne as 20 maiores economias glo-
três varejistas de combustível estatais, em 11 bais) e já sinalizou que o etanol deverá ser uma
estados/territórios da União. das estrelas nas discussões referente à mudan-
O compromisso com que a Índia abraçou o ça climática. No próximo ano, caberá ao Brasil
Programa do Etanol, colocando em marcha ca- presidir o G20, e será uma excelente oportuni-
da etapa, antes mesmo do prazo planejado, é dade de dar continuidade a esse processo, for-
um caso de sucesso de como governo, setor pri- mando uma “dobradinha” eficaz nessa agenda.
vado e instituições públicas, olhando estrate- O mundo clama por energia, e a atual guerra
gicamente para o mesmo objetivo, podem ala- na Europa nos mostra os riscos da dependência
vancar transformações significativas no país. da concentração de fontes energéticas (gás) e
Em relação ao futuro, a expectativa é a de de origem do fornecimento (Rússia). Sabemos
que possamos fortalecer cada vez mais essa que a transição energética por meio dos bio-
cooperação, engajando países produtores e combustíveis é uma grande oportunidade pa-
consumidores do biocombustível. Brasil e Ín- ra criar e modernizar indústrias, impulsionar
dia são duas grandes economias em desenvol- a inovação tecnológica, atrair investimentos e
vimento, onde a agricultura forma a espinha gerar empregos de alta qualidade – tudo isso
dorsal de suas respectivas economias. Sendo contribuindo para o desenvolvimento susten-
países tropicais, os dois maiores produtores tável e para a qualidade de vida das futuras ge-
de cana-de-açúcar do mundo estão, portanto, rações ao redor do mundo.
bem posicionados para liderar, juntos, o eta- Por ser um produto renovável, o etanol
nol como uma commodity global e preparar o pode ser produzido, de forma sustentável e
caminho para um novo mercado internacional competitiva, em mais de 100 países ao redor do
que favoreça, em primeiro lugar, os países em mundo, principalmente nas regiões tropicais e
desenvolvimento. Particularmente, o protago- subtropicais, e ser uma efetiva alternativa de
nismo geopolítico da Índia na Ásia deverá ser descarbonização, um dos maiores desafios des-
chave para estimular o seu uso nessa que se te século. n
33
Q sistema bioenergético brasileiro
Índice
Os sistemas bioenergéticos
são fundamentais para
atingir o objetivo de reduzir
as emissões de gases de
efeito estufa (GEE) e as suas
consequentes influências nas
mudanças climáticas. "
34
Opiniões
sendo transformados em biogás, com gran-
des perspectivas para geração de energia
elétrica, ou mesmo para uso em motores a
combustão interna.
Uma grande vantagem do sistema bio-
energético construído no Brasil é que, pelas
nossas condições edafoclimáticas favo-
ráveis e extensa disponibilidade de terra,
os sistemas foram concebidos como siste-
mas integrados de produção de alimentos
e energia, permitindo um planejamento
que potencializa as vantagens, tanto para
a produção de energia quanto para a pro-
dução de alimentos. De fato, nos últimos
anos, as produtividades das culturas que
fornecem a matéria-prima para a bioener-
gia vêm aumentando significativamente,
o que permitirá, no futuro, menor uso de
área agricultável.
O Plano Decenal de Expansão de Energia
2032 (PDE 2032), elaborado pela Empresa
com mandatos de substituição compulsória de Pesquisa Energética, empresa vinculada
de parte do diesel fóssil, que tinham por ob- ao Ministério de Minas e Energia, indica
jetivo inserir esse biocombustível de forma que a oferta total de etanol alcançará 47 bi-
sustentável na matriz energética brasileira, lhões de litros em 2032, com destaque para
com enfoque na inclusão social e no de- o aumento da representatividade do etanol
senvolvimento regional. Finalmente, já na de milho (que atinge cerca de 20% da oferta
segunda década do século XXI, foi lançado total, chegando a 9 bilhões de litros no final
o RenovaBio, política que visa estimular a da década).
fabricação e o uso de biocombustíveis, pre- A cana permanecerá como insumo prin-
miando os produtores mais eficientes, com cipal para a produção do etanol e, com isso,
uma visão mais ampla da importância es- os resíduos dessa cultura poderão ser uti-
tratégica da bioenergia na estratégia de des- lizados para a expansão de geração de bio-
carbonização brasileira. eletricidade, inclusive com a incorporação
Como se vê, os resultados que apresen- de palhas e pontas, o que permite que seja
tamos hoje são fruto de um longo e consis- atingido o patamar de 4,1 GW médios (com
tente processo, que vem sendo aprimorado, potencial técnico para comercialização de
cada vez mais, para que outros biocombus- até 6 GW médios em 2032).
tíveis (como biogás, bioquerosene de avia- O biogás do setor sucroenergético terá
ção e biocombustíveis avançados) possam uma inserção cada vez maior no futuro.
também fazer parte da cesta de energéti- Versátil, o biocombustível pode ser desti-
cos de baixa emissão de carbono na matriz nado à geração elétrica em substituição ao
energética. diesel ou, ainda, misturado ao gás natural
Não obstante o destaque de o sistema fóssil nas malhas de gasodutos. Estima-se
bioenergético no Brasil, atualmente, ser o que o potencial de produção de biogás, em
setor de transporte (com preponderância 2032, seja de 35 bilhões de Nm³ (19 bilhões
do etanol e o biodiesel), a bioeletricidade de Nm³ de biometano), oriundos da vinha-
gerada com os resíduos das culturas energé- ça e da torta de filtro e das palhas e pontas
ticas também constitui importante produto da cana-de-açúcar.
dentro do portfólio do sistema bioenergéti- Para o biodiesel, os cenários de referên-
co. Além da geração de eletricidade a partir cia indicam que o óleo de soja permanece
do bagaço de cana, do cavaco de madeira e como a principal matéria-prima nos próxi-
da palha de arroz, outros produtos, como a mos anos e que a demanda por esse biocom-
palha e ponta da cana e a lixívia, já estão bustível atinja 12 bilhões de litros em 2032. ;
35
Q sistema bioenergético brasileiro Opiniões
Índice
36
Q macrovisão estratégica
Índice
Não temos dúvida da importância que sis- de etanol, por exemplo, pela utilização de car-
temas integrados de produção de alimentos e ros com motor híbrido a etanol, como já ocorre
energia, como o da cana-de-açúcar, terão no hoje em modelo do fabricante Toyota, sendo
esforço mundial de descarbonização, hoje uma esse modelo, aliás, o que apresenta a melhor
prioridade mundial. performance disponível em emissão de gases
Não obstante o hemisfério norte estar partin- do efeito estufa (GEE), como revelou uma aná-
do para a adoção do carro elétrico em massa, no lise feita pela Unica – União da Indústria de
Brasil, teremos, devido a uma série de fatores, Cana-de-Açúcar e Bioenergia.
ainda por um longo tempo, a supremacia dos Um veículo híbrido flex abastecido com eta-
veículos flex fuel na frota leve. nol emite, do poço à roda, apenas 29 g CO2/km,
Mas mesmo com a predominância na maior ao passo que um veículo elétrico a bateria emite
parte do mercado global de veículos elétricos, 37 g CO2/km, nas condições do grid brasileiro,
com repercussões inevitáveis no padrão do com alta participação de fontes renováveis na
mercado brasileiro no longo prazo, o conceito matriz de energia elétrica brasileira. Essa dife-
de eletrificação pode ser combinado com o uso rença tende a ser ainda mais representativa fora
do mercado brasileiro, sendo que, na Europa
um veículo elétrico a bateria emite, em média,
54 g CO2/km.
Além disso, estão atualmente em estágio de
desenvolvimento outras possibilidades de com-
binação entre etanol e veículos elétricos, como
uso das tecnologias de célula de combustível a
etanol. Nessas células, a eletricidade é quimica-
mente extraída da molécula de álcool para ala-
vancar os motores elétricos dos veículos, que
são mais eficientes que os motores a combustão.
38
Opiniões
EMISSÕES DE DIFERENTES MOTORES E COMBUSTÍVEIS A oportunidade de protagonismo do
(EM GRAMAS DE CO2 POR KM RODADO) etanol fica mais nítida ainda, no entanto,
155
quando ele pode ir além do uso em veícu-
131
los leves. A Europa, por exemplo, preten-
de estabelecer um mandato obrigatório
94 de 2% de biocombustível no querosene
80
54
de aviação a partir de 2025.
37 35 Outro fato extremamente auspicioso
29
foi o etanol de cana-de-açúcar produzido
100% Gasolina Híbrido Híbrido Elétrico 100% Elétrico Híbrido no Brasil ser reconhecido pela Agência
gasolina brasileira
(27% de
com com
gasolina gasolina
com
matriz
etanol
flex
com matriz com
energética 100% Ambiental Americana (EPA) como sus-
etanol) 100% brasileira energética
europeia
brasileira etanol
(híbrido tentável para a produção de bioquerose-
flex)
ne de aviação. Se, hoje, o etanol é utili-
zado como substituto da gasolina, no fu-
FROTA DE VEÍCULOS LEVES - 2023 - 2032 turo, poderá servir como plataforma para
(MILHÕES DE VEÍCULOS) a produção de combustíveis sustentáveis
para aviação (SAF, na sigla em inglês).
Flex Fuel Etanol Gasolina 53,1
Híbrido Elétrico CL Diesel 48,9
50,9 Uma destilaria no estado da arte con-
Total
43,7
45,2
47,0
segue fabricar, já nesta década de 2020,
42,3
40,0 40,5 41,3 uma grande variedade de produtos bio-
energéticos. Entre eles, destacam-se o
etanol de primeira geração (1G), prove-
niente da fermentação do caldo da cana-
-de-açúcar, e o etanol de segunda geração
31,0 31,6 32,4 33,4 34,6 35,9 37,4 38,9 40,5 42,1
(2G), advindo da fermentação dos pro-
dutos lignocelulósicos da cana-de-açúcar
(bagaço e palha), que substituem perfei-
tamente a gasolina. Ela ainda gera bio-
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 metano, oriundo da purificação do biogás
obtido da vinhaça residual e substituto
do gás natural, e pellets de lignina, prove-
PARTICIPAÇÃO NA FROTA CICLO OTTO (%) nientes da parte residual não fermentá-
vel do material lignocelulósico destinado
Flex Fuel Etanol Gasolina Híbrido Elétrico
% à produção do etanol 2G e um biocom-
100 0,4 0,6 0,8 1,1 1,3 1,6 2,0 2,3 2,6 2,9
bustível sólido de interesse do mercado
% % % % % % % % % % europeu, sobretudo para reduzir a neces-
95
10,7 9,8
sidade de queima de carvão mineral. E
12,6 11,6 9,1 8,5 7,9 7,4
14,9 13,8
% % % % % % % % % também produz bioeletricidade, gerada
90 %
a partir do excedente da geração terme-
85
létrica com o bagaço da cana-de-açúcar
não usado na produção de etanol 2G,
88,4 88,9 89,0
80 83,8 84,9 85,9 86,7 87,4
%
87,9
% %
88,7
% % % que, despachável, pode substituir a fon-
%
% % %
te marginal entrante no grid brasileiro –
75
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032
por exemplo, o gás natural.
Em 2030, o aumento da eficiência de
descarbonização, em comparação com o
Isso pode aumentar, de modo disruptivo, a eficiência cenário de 2020, virá por ganhos de pro-
do uso do etanol enquanto fonte de energia. dutividade agrícola e pela implementação
Em outras palavras, o etanol, que já é uma solução de tecnologias de captura e armazena-
competitiva para descarbonização de veículos leves, mento de CO2 (BECCS) e reforçará mui-
pode ter seu uso com eficiência muito maior no futu- to essa cesta. E, se olharmos para um fu-
ro. Pelo elevado teor de hidrogênio contido no etanol, turo mais distante, abrem-se ainda mais
levamos uma grande vantagem em relação ao resto do portas para a cadeia de valor da cana-de-
mundo, pois o Brasil já possui instalada a maior rede -açúcar brasileira. É que a biotecnologia
de distribuição do planeta, através dos mais de 41.700 deverá ter um papel crítico na produção
postos de revenda distribuindo etanol em um país de econômica, e o açúcar é o principal insu-
dimensões continentais. mo para processos biotecnológicos. n
39
SOLUÇÕES PARA
IMPULSIONAR A
PRODUTIVIDADE NO
MERCADO DA CANA.
jacto.com
2dcb.com.br
Q transição energética e economia circular
Índice
É no contexto da transição
energética e da economia
circular que a indústria da
bioenergia pode se posicionar
de maneira efetiva diante das
oportunidades criadas por
esse movimento global. "
Luciano Rodrigues
Diretor de Economia e Inteligência
Estratégica da UNICA e pesquisador do
Observatório de Bioeconomia da FGV/EESP
42
Opiniões
Esse é apenas um dos inúmeros exemplos Além disso, a produção de hidrogênio com
da utilização dos resíduos industriais para am- energia renovável a partir da reforma do eta-
pliar a qualidade e o número de energéticos nol, ou com o uso do biogás, também pode ser
dessa indústria. vislumbrada pela indústria da bioenergia no
No futuro próximo, podemos vislumbrar futuro. De fato, hoje, temos plantas com eletri-
novos avanços importantes. O CO2 obtido na cidade renovável, etanol, biogás e CO2, que po-
fermentação do etanol e na purificação do bio- dem ser utilizados como insumo para a produ-
gás poderá ser alocado no subsolo, a partir de ção de SAF e hidrogênio (figura em destaque).
projetos de captura e armazenamento de car- Cabe ainda destacar que a produção brasi-
bono (projetos de BECCS, da sigla em inglês), leira de biocombustíveis já possui pegada de
permitindo balanço negativo de CO2 na indús- carbono auditada graças às exigências do Re-
tria do etanol. novaBio, permitindo a aferição adequada do
A fabricação de combustível sustentável de potencial de descarbonização de cada planta
aviação (SAF) a partir de etanol pela rota ATJ industrial, garantindo, com isso, a geração de
(alcohol-to-jet), ou a partir da biomassa pela créditos de descarbonização ou CBios.
rota FT (Fischer-Tropsch), também pode tra- Em síntese, a despeito das turbulências polí-
zer oportunidades efetivas ao setor. ticas, regulatórias e de mercado, o setor apresen-
De acordo com a Associação Internacional tou avanços importantes na última década e pos-
de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), sui enorme potencial para se posicionar na van-
serão necessários 450 bilhões de litros de SAF guarda de um movimento mundial irreversível.
para que o setor aéreo alcance as metas de des- Precisamos de aperfeiçoamentos nos mar-
carbonização previstas para 2050. Além das cos legais e no ambiente regulatório, garantir
metas nacionais e voluntárias de redução de previsibilidade e manutenção das regras cria-
emissões na aviação, a resolução do Icao, uma das, valorizar o potencial de descarbonização
das agências das Nações Unidas, definiu que da bioenergia, investir em comunicação e dis-
as emissões de GEE do setor se estabilizem seminar o sistema brasileiro para outras regiões
nos patamares observados em 2019 e criou do mundo com condições semelhantes. Por
o Mecanismo de Redução e Compensação de fim, o setor produtivo precisa manter os esfor-
Emissões da Aviação Internacional (Corsia, ços para ampliar a eficiência energética e am-
na sigla em inglês), com reduções mandató- biental na conversão de luz solar em biomassa
rias a partir de 2027. e em energéticos renováveis de baixo carbono. n
PROCESSOS E ENERGÉTICOS OFERTADOS PELA INDÚSTRIA
Descarbonização
e créditos de carbono
Biomassa,
resíduo Óleo de milho
Etanol milho
DDG 2ª safra
CO2 Food
Grade
Milho de
BECCS
2ª safra CO2
biogênico
Bioeletricidade
Bagaço SAF
e palha
Levedura Etanol 2G
Etanol 1G
Cana-de-
açúcar Vinhaça e torta Biometano
Palha
Biogás
Biofertilizante
Substituição do diesel Hidrogênio
Legenda
43
Q bioeconomia circular
Índice
44
Opiniões
Uma estratégia de resposta ao tri-
Figura 1: USO DE BIOMASSA EM UMA BIOECONOMIA CIRCULAR
lema é a mudança do paradigma em
direção à bioeconomia circular. A ob-
tenção de energia adicional a partir de
BIOMASSA
fontes renováveis e locais, a intensifi- (carbono)
de energia renováveis emitem menos, Fonte: wits.worldbank.org Comércio de Energia como % do uso total
BAGAÇO
se refletem com grande capilaridade FILTRO E
VINHAÇA
MOSTO LUBRIFICANTES
Fonte: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0959652617310934
45
Q bioeconomia circular
Índice Opiniões
Fatores conjunturais também têm sido essa proporção por território, tamanho da
críticos nessa transição, como a pandemia população e tamanho econômico.
de Covid-19, que expôs a fragilidade do sis- O que tem impedido o País de se apre-
tema energético atual, ainda bastante de- sentar ao mundo como um modelo de siste-
pendente de matéria-prima fóssil (cerca de ma energético responsável e sustentável? É
83%). urgente que medidas sejam implementadas
Quando as fronteiras se fecharam, a in- para potencializar o que pode ser conside-
terrupção dos fluxos de produtos e insu- rado um dos maiores trunfos do País.
mos estratégicos em um sistema orientado Desde o século passado, a biomassa é
pela dependência externa provocou forte aproveitada, particularmente com o au-
impacto recessivo, frente à desorganização mento das alternativas dentro do setor su-
rápida e inesperada das cadeias produtivas croenergético.
e dos fluxos logísticos nas cadeias de supri- A cana-de-açúcar é uma cultura alta-
mentos. mente valorizada pelo seu potencial de pro-
Bilhões de pessoas ao redor do planeta dução de biomassa para sistemas bioener-
mudaram radicalmente os seus hábitos, e géticos, destacando-se como uma das fon-
as taxas de crescimento dos países desa- tes mais produtivas e eficientes de biomas-
baram, retraindo a demanda e o preço de sa devido à sua rápida taxa de crescimento,
petróleo para patamares nunca vistos an- alto rendimento e capacidade de produzir
teriormente. grandes quantidades de açúcar.
Isso fragilizou o apoio às energias reno- Esse açúcar pode, então, ser converti-
váveis mais sustentáveis, em grande parte do em bioetanol, uma importante fonte
ainda sem um mercado consolidado. O ris- de energia renovável. Além disso, o alto
co associado a novos investimentos tam- teor de açúcar da cana-de-açúcar a torna
bém aumentou. adequada para a produção de outros bio-
Já a invasão da Ucrânia pela Rússia pro- produtos, como bioplásticos e biogás (con-
vocou mudanças em sentido contrário. Os forme demonstrado na Figura 4 da página
preços aumentaram, resultando em grande anterior).
volatilidade e riscos no suprimento ade- Assim, na conjuntura atual, mais uma
quado à demanda por energia, provocando vez a intensificação do uso de derivados da
instabilidade econômica, custo social, pois cana no sistema bioenergético apresenta-se
muitos países, particularmente os de me- como uma das melhores alternativas para o
nor nível de renda, ainda são importadores Brasil. Isso em termos de desenvolvimento
líquidos de energia (conforme demonstra- de processos de produção circular, bem co-
do na Figura 2 da página anterior). mo da proximidade dos consumidores, fa-
Os preços mais altos potencializaram o cilidade de transmissão, mercados secun-
argumento da transição para as energias re- dários de carbono, dentre outros aspectos
nováveis. No entanto, também resultaram que a favorecem.
em inflação, menor crescimento e rupturas A importância da cana-de-açúcar precisa
nos mercados financeiros, fenômenos estes ser reforçada na conjuntura atual, sendo
já iniciados em 2022 e que têm impactos reconhecida como uma ferramenta podero-
negativos sobre investimentos volumosos sa no desenvolvimento de um sistema bio-
requeridos para amadurecer as inovações, energético sustentável para a economia na-
desestimulando a mobilidade de capital de cional. Seu alto teor de açúcar e rápida taxa
investimento entre países. de crescimento a tornam uma fonte ideal
O Brasil encontra-se em posição favo- de biomassa para a produção de energia
rável devido à composição de seu siste- renovável. Tem capacidade de converter
ma energético. Em 2020, a oferta total de grande porção da economia de base fóssil
energia atingiu 287,6 milhões de tep (to- em uma bioeconomia circular em um ho-
nelada equivalente de petróleo), 48% dos rizonte mais próximo, com tecnologia na-
quais vieram de fontes renováveis (con- cional, e, portanto, precisa reassumir sua
forme demonstrado na Figura 3 da página posição estratégica no desenvolvimento so-
anterior). Nenhum país no mundo guarda cioambiental brasileiro.n
46
#OrgulhoDeSerCopercana!
copercana.com.br
Q mercado de combustíveis
Índice
48
Opiniões
Projetos de biocombustíveis, dezenas deles em fase • Em produtividade (TCH), regredimos,
de maturação, compromissos de amortização em não conseguimos superar 80 toneladas
curso começam a trocar de mãos. por hectare. (veja detalhes no gráfico:
Projetos que nasceram de famílias tradicionais “Evolução da produtividade agrícola da
e empreendedoras, até então o perfil predominante cana-de-açúcar em toneladas por hectare
do setor, tiveram que transferir seus ativos aos mais do Centro-Sul”)
diversos setores da economia. Tradings, fundos de • Área plantada de cana estável, com
investimentos, distribuidoras, entre outros, socorre- 7.600 a 7.800 mil hectares.
ram e sucederam muitas usinas. • A participação do hidratado (E100) no
Importante destacar também o fechamento de de- ciclo Otto se altera, a depender do mix
zenas de usinas e destilarias que não suportaram o maior ou menor de açúcar a cada safra.
elevado custo industrial e agrícola, não correspondido • Apenas 5 estados são responsáveis pela
pelos preços congelados e subsidiados da gasolina demanda de 85% do etanol hidratado
pela Petrobras. (E100) comercializado no País.
Desde 2013, não tivemos mais “novos projetos” Em 2016, assume o Governo Temer, e,
em nosso setor. Paramos por completo de investir. com a chegada de Pedro Parente na pre-
Vejamos os números dos últimos 10 anos. sidência da Petrobras, muda o cenário,
• Na Safra 2013/14, moemos 600 M de toneladas de abrindo novas perspectivas para o mer-
cana e, desde então, estamos com crescimento zero, cado de renováveis.
oscilando negativamente, a depender das condições • Preços dos combustíveis no Brasil passam
climáticas. (veja detalhes no gráfico: “Evolução da a ser alinhados com preço internacional
moagem de cana-de-açúcar do Centro-Sul”) (PPI), permitindo maior previsibilidade
• Nossa quantidade de ATR total se mantém em 80 ao setor sucroenergético.
milhões, com pequenas oscilações. • Incentivo ao uso de biodiesel, com au-
mento gradativo de mistura.
EVOLUÇÃO DA MOAGEM DE CANA-DE-AÇÚCAR • Criação e lançamento do programa Re-
DO CENTRO-SUL novaBio e comercialização dos CBIOs.
Assistimos nos últimos 5 anos com
essa sinalização positiva foi a volta dos in-
vestimentos em combustíveis renováveis.
Plantas de etanol de milho (greenfields)
estão sendo inauguradas e, hoje, já ocu-
pam produção de 15% do etanol total
produzido no País. Muitos projetos em
construção, assegurando um crescimento
de oferta para os próximos anos.
Dezenas de usinas de biodiesel foram
inauguradas, distribuídas aos 4 cantos do
País, com capacidade instalada de mais
de 12 milhões de m3, para um mercado de
6 milhões de m3 em 2022 para mistura de
EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA DA CANA B10. Portanto, com potencial de atender,
EM TONELADAS POR HECTARE DO CENTRO-SUL com tranquilidade, ao mercado com B15,
conforme previsto no cronograma pelo
CNPE para 2023.
Como sabemos, “Todo investimento
depende do ambiente de negócio que
vivemos, com políticas públicas econo-
micamente sustentáveis e com a devida
segurança jurídica”.
Os sinais dados ao setor de combus-
tíveis renováveis no último ano voltaram
a ser preocupantes, com mudanças nas
regras que estavam estabelecidas, compro-
metendo resultados das empresas que
apostaram investindo no setor, criando no-
vamente uma forte insegurança jurídica. ;
49
Q mercado de combustíveis
Índice
50
Opiniões
Q mercado de combustíveis
Índice Opiniões
52
Q mercado de combustíveis
Índice Opiniões
preços do açúcar que não remuneravam as dos últimos anos retardaram a recuperação
usinas, e não havia mercado de etanol para do crescimento da oferta de matéria-prima.
absorver os excedentes de açúcar de que o O cenário é, ao mesmo tempo, fascinante
mundo não precisava mais. e desafiador. Sendo o Brasil um importante
O etanol hidratado, por sua vez, embarcou ator do mercado mundial de açúcar, o cres-
em uma decadência ainda maior. Os baixos cimento da demanda mundial nos próximos
preços começaram a atrair proprietários de anos exigirá uma oferta maior de produto.
veículos a gasolina a abastecerem com uma Compartilhando da mesma matéria-prima
mistura de etanol e gasolina, conhecida po- para a produção de etanol, a arbitragem de
pularmente como “rabo de galo”. preços entre eles, para os próximos anos, será
A demanda de etanol hidratado começa muito acirrada.
a reagir, impulsionada pela vantagem eco- Cabe ao setor buscar o equilíbrio para que
nômica da mistura, até que, em 2003, a possamos atender aos dois mercados de forma
Volkswagen oficializa o “rabo de galo” com consistente e segura, alimentando o cresci-
o lançamento do primeiro veículo flex fuel mento sustentável de toda a cadeia sucro-
do País. alcooleira, em busca de aumento da produti-
O sucesso foi enorme, e em pouco tempo vidade e de inovações.
atingimos a marca de mais de 80% dos veí- Temos uma forte concorrência com os
culos novos no modelo flex. As montadoras grãos, igualmente importantes impulsiona-
que não possuíam essa opção simplesmente dores do crescimento do agronegócio, que
não vendiam. concorrem com as mesmas infraestruturas
A ideia de decidir pelo combustível no de transporte, armazéns e terminais.
posto de abastecimento e não na conces- Os cenários de preços de petróleo ainda
sionária caiu na graça dos brasileiros, tor- estão difusos, em decorrência das turbu-
nando-se um exemplo para o mundo. Hoje, lências mundiais recentes, que afetaram a
aproximadamente 80% da frota de comer- economia mundial de forma jamais vista.
ciais leves que circula no País é flex, nos pro- A redução gradual da inflação e, por conse-
porcionando uma demanda potencial muito quência, dos juros, deve trazer um cresci-
significativa. mento à economia mundial e um reposicio-
Todo o arcabouço fiscal, níveis de mistu- namento dos preços do petróleo.
ra de etanol anidro a gasolina necessários à Diferente de décadas anteriores, agora
competividade do etanol hidratado, foi resul- temos um direcionador muito forte, que é
tado de grande trabalho e esforço de muitos a inevitável ameaça da mudança climática,
do setor, que culminou com a aprovação da a qual não será resolvida queimando in-
Emenda Constitucional nº 123, assegurando, discriminadamente combustíveis fósseis,
por 20 anos, a competividade do etanol pe- por mais atrativos e acessíveis que possam
rante a gasolina, associado à consolidação do parecer. O relógio da humanidade não
programa RenovaBio. pode esperar, e os biocombustíveis são a
O vilão dos anos 1970, é, hoje, uma impor- transição imediata disponível para mitigar
tante peça no equilíbrio do mercado de com- os danos já causados. Qualquer atraso na
bustíveis, sendo a gasolina um de seus deriva- adoção de uma política consistente poderá
dos e, particularmente, no Brasil, produzida ser irreversível.
por um modelo estatal, com uma política de Os biocombustíveis são uma realidade, e o
preços nem sempre transparente e sujeita a Brasil está muito bem-posicionado. Tal con-
influências políticas, como vimos recente- dição favorece a atração de grandes investi-
mente, que provocaram um desequilíbrio mentos, pois temos as condições climáticas,
entre os combustíveis fosseis e os renováveis. geográficas, humanas, técnicas e competência
É imprescindível blindar os pilares que para assumirmos esse papel de protagonista
sustentam essa competitividade, de forma no cenário mundial.
a cumprirmos as metas claramente descri- Essa história que começou por um fator
tas no programa RenovaBio e atingirmos os externo há cinquenta anos, agora está conso-
compromissos de reduções de emissões fir- lidada, e nem por isso está imune a ataques
mados pelo País, no acordo de Paris. destinados a desestabilizá-la. Com a resis-
Os desafios são imensos, e, como se não tência de todos os agentes, enxergamos forte
bastassem todos os entraves políticos e outros potencial desse relevante setor para escrever
interesses, os fatores climáticos e financeiros um novo capítulo nos próximos anos. n
54
Q produtores do sistema bioenergético
Índice
um ano de superações:
construindo a história
Ao iniciarmos 2023, percebemos o Finalizamos a última temporada com a moagem
momento de grande instabilidade nos de 2,13 milhões de toneladas de cana-de-açúcar
campos político e econômico e os inú- processadas e a produção de 3,6 milhões de sacas
meros desafios que se apresentam neste de açúcar; 70,37 milhões de litros de etanol, entre
momento por que passa nosso País e anidro e hidratado; além de 106 mil megawatts de
várias regiões do mundo. bioeletricidade, produzidas através da queima do
Continuamos em guerra na Europa e bagaço da cana, exportadas para a rede.
em um período de pós-pandemia ainda Nossa produtividade média saltou de 72 to-
incerto, o que mexe com mercados em neladas de cana-de-açúcar por hectare, na safra
todo o mundo, trazendo ainda mais vo- 2021/22, para 82 toneladas de cana na última
latilidade a setores altamente dependen- temporada, ainda abaixo de nosso potencial agro-
tes neste mundo, cujas fronteiras físicas nômico e refletindo as intempéries climáticas dos
estão cada vez menores e cujos impactos últimos anos.
de ações, mesmo que tomadas a milha- A fim de melhorarmos nossa performance,
res de quilômetros, chegam em questão estamos investindo em diversas frentes, desde a
de segundos a todos os cantos. capacitação profissional e formação de mão de
Nesse cenário cada vez mais desa-
fiador para commodities e moedas nos
cinco continentes do Planeta Terra, ini-
ciaremos, nas próximas semanas, nossa
20ª safra de cana-de-açúcar na Usina
Vertente, de Guaraci, São Paulo, numa
parceria dos Grupos Humus e Tereos.
Os números de nossa safra 2022/23
na Vertente somaram muitos recordes,
e outros desafios em que estamos traba-
lhando com nossas equipes, a fim de que
possamos celebrar essas duas décadas
de operação consolidando-nos como
um dos principais players neste compe-
titivo universo sucroenergético.
Nossa produtividade
média saltou de 72 ton de
cana-de-açúcar por hectare,
na safra 2021/22, para 82
ton de cana na última
temporada, ainda abaixo
de nosso potencial
agronômico "
56
Opiniões
obra para nossa unidade até investimentos maior em profissionais de nível médio para
vultosos em irrigação e melhorias contínuas as funções de operadores, eletricistas, me-
dos tratos culturais em diferentes frentes. cânicos, profissionais de campo, motoristas,
Na área agronômica, finalizamos, em 2022, dentre tantas outras profissões.
a instalação de um projeto piloto de irrigação Pensando nessa falta de mão de obra, bus-
por pivô central numa área de 80 hectares, camos na UDop – União Nacional da Bio-
com investimento na ordem de R$ 4 milhões, energia, entidade que tenho a honra de pre-
que devem incrementar, já nesta safra 2023, sidir desde o ano passado, e na Consultoria
a produtividade média em pelo menos mais Datagro, com as quais, juntos, estamos dese-
10 toneladas de cana por hectare, atenuando nhando um projeto inovador que abrirá uma
o impacto dos períodos de seca. nova linha de formação e capacitação profis-
O projeto é complementado, também, sional, atendendo a uma deficiência cada vez
pela fertirrigação, que consiste na aplicação mais presente em inúmeras unidades.
de água residuária junto à vinhaça nos cana- O trabalho na formação profissional, por
viais, mitigando, assim, parte do déficit hídri- sinal, sempre foi uma característica presen-
co da Vertente. te em nossa gestão. Já nos primeiros anos,
Esse investimento na irrigação por pivô, quando da construção da Vertente, busquei
necessário para a melhoria de nossos índices auxiliar as prefeituras da região, junto a pro-
de produtividade, só foi possível graças à dis- gramas de alfabetização e qualificação pro-
ponibilidade de água, uma vez que estamos fissional, com parcerias sólidas e que trouxe-
localizados às margens do Rio Grande, com ram inúmeros resultados.
outorga de uso já aprovada. Por acreditar no potencial do ser humano é
Investimos ainda mais R$ 2 milhões na que estamos investindo, Usina Vertente, UDOP
aquisição de dois novos equipamentos para e Datagro, nesse novo formato de cursos de for-
aplicação de vinhaça localizada, tendo em mação e capacitação, cujos resultados, segura-
vista, sempre, a máxima de que o açúcar é mente, colheremos nos próximos anos.
produzido no campo, com melhorias sempre Todos esses esforços, no entanto, tendem
contínuas, que vão desde o preparo de solo, a nos fortalecer, enquanto setor, para es-
cuidados com os tratos culturais, colheita até tarmos prontos a atender a busca cada vez
o transporte da cana. maior por soluções sustentáveis para o ávido
Esperamos que, para a safra 2023/24, já mercado de energia limpa, que terá, segura-
possamos colher os resultados desses inves- mente, o etanol como vanguardista na corri-
timentos vultosos e que estejamos prepara- da por uma solução limpa e renovável na ma-
dos para mais em outras frentes, mantendo- triz de veículos leves, ainda mais agora, com
-nos aptos a melhorias constantes em nossos os veículos híbridos flex, uma nova revolução
processos. para nosso segmento.
Mas não é apenas no campo que estamos Ainda levando-se em consideração os as-
investindo. Na área industrial, nossas equi- pectos voltados para o ESG, a Vertente sai,
pes também estão se desdobrando em me- novamente, na frente, e com sua sócia, Tereos,
lhorias de processos, automações e melhores têm feito um investimento na produção de
performances. biogás, que deverá substituir a utilização
Fomos uma das primeiras unidades no dos veículos pesados a diesel por uma solu-
País a extrair o caldo da cana-de-açúcar em ção menos poluente, que contribuirá, ainda
um sistema híbrido, onde o caldo primário é mais, para nosso balanço energético no mé-
extraído num terno de moenda e, depois, um dio e longo prazo, para a obtenção de CBIos.
moderno sistema de difusor extrai o máximo Por tudo isso, me sinto renovado para
da matéria-prima, tornando-nos referência mais uma safra à frente da Vertente, do Gru-
nesse quesito. po Humus e de nossa UDOP, referência hoje
Mas todos esses números só são possíveis na capacitação profissional de nosso setor.
graças a uma equipe engajada e em constante Que possamos nos sentir energizados e
treinamento, outra frente de investimentos revigorados para os novos desafios que se
ininterrupta em nossa unidade. Nos últimos apresentam, na certeza de que, neste exato
anos, percebemos uma deficiência cada vez instante, está se erguendo o futuro. n
57
Educação continuada
Imagine que você descobrisse que o médico com
o qual você vai fazer uma cirurgia cardíaca na
manhã seguinte se formou há 20 anos como o
melhor aluno da sua classe, na melhor faculdade
de medicina do País. Muito bom, hein?!
Entretanto, nos últimos 20 anos, ele não leu
nenhum livro, nem participou de nenhum
congresso, nem teve por costume ler
regularmente revistas especializadas
da sua área médica.
Você faria a cirurgia em paz?
🔊
gratuita
No que se refere a nossa área, quantas tecno- Ampliando o projeto de educação continuada,
logias foram desenvolvidas e implantadas nessas decidimos também abrir as inscrições gratuitas
duas décadas como o estado da arte e, depois de para todos os funcionários das áreas técnicas,
algum tempo, substituídas por uma nova opção, agrícolas, industriais e admistrativas das empre-
muito mais eficaz e eficiente, que tomaria o lugar sas produtoras e fornecedoras dos sistemas
da anterior, até ser igualmente substituída por florestal e bioenergético de qualquer parte do
uma mais nova ainda. Brasil e do mundo.
Quantas pragas e doenças apareceram, desa- Todos os artigos da Revista Opiniões têm
pareceram, e algumas até voltaram? Quantas téc- áudios traduzidos para 5 idiomas: português,
nicas foram substituídas nesses últimos 20 anos? inglês, espanhol, francês e alemão.
Nenhum conhecimento é definitivamente eterno. O acesso à informação dirigida é a mais efi-
A faculdade está sempre atualizada, mas tão ciente forma de unificar e atualizar o conheci-
somente até o dia da sua formatura. Os livros, mento entre todos os funcionários em cargos
igualmente, até o dia da sua publicação. As opções de comando, bem como preparar os funcioná-
que são continuadamente atualizadas são os rios em ascensão para assumi-los. Esta é a mais
congressos e as publicações regulares das áreas. eficaz e natural forma de gerar a educação.
Conhecendo esse cenário e o que passou a Para se cadastrar na plataforma do programa
representar nesses 20 anos de operação para as de "Educação Continuada da Revista Opiniões"
universidades, centros de pesquisa e empresas do e passar a receber regular e gratuitamente as
sistema agrícola e florestal, a Revista Opiniões deci- edições de nossas revistas, basta enviar um
diu abrir inscrições para que todos os estudantes e-mail conforme especificado abaixo:
de todos os cursos de agroconhecimento, de
qualquer parte do Brasil e do mundo, passem a • Para: Jornalismo@revistaopinioes.com.br
receber gratuitamente as suas publicações. • Assunto: Educação continuada gratuita
O objetivo é fazer com que o estudante, desde • Corpo do e-mail:
o primeiro dia de aula, passe a participar da vida - Nome do funcionário ou estudante
empresarial na qual se integrará, em alguns anos, - Área de trabalho ou curso que frequenta
já com atualizado conhecimento do que está sen- - Nome da empresa ou da escola
do discutido, avaliado e implantado nas empresas. - e-mail principal
Muitos dos executivos e cientistas que hoje - e-mail secundário ou pessoal
escrevem na Revista Opiniões declararam que • Conforme a Lei nacional de proteção de dados,
liam nossas edições desde quando ainda eram garantimos que as informações não serão utili-
estudantes nas universidades. zadas para qualquer outro interesse.
Opiniões
Q produtores do sistema bioenergético
Índice
60
Opiniões
Como não poderia ser diferente, a ciência • No que se refere à motorização veicular pro-
e a tecnologia foram chamadas a se debruçar priamente dita, os carros a combustão flex, movi-
sobre as soluções para a inibição ou a redução dos a etanol, já emitem a metade de CO2 (60 g)
da velocidade desse processo negativo para o quando comparados aos veículos elétricos na
equilíbrio climático do planeta e a consequente Europa (120 g), na consideração correta do pro-
redução desses efeitos na vida dos povos. cesso pelo ciclo de vida do combustível.
Assim, de forma clara e inequívoca, a biolo- • A adequação natural e automática dos moto-
gia, a química e a física nos oferecem a solução res a combustão a etanol, com a motorização
para esse incômodo problema, com a defesa do veicular elétrica através dos carros híbridos, é
maior uso da bioenergia – energia renovável processo em uso.
– de fontes limpas para se transformar na ala- • A produção de etanol a partir da biomassa
vanca que deverá operar os sistemas de tecno- cana-de-açúcar, pela resultante da fotossíntese,
logia industrial e de mobilidade social atuais. protagoniza um evento de energia solar palpável.
A ordem, que se impõe, de convivência civili- • As entregas ambientais que o etanol propor-
zatória socialmente justa e ambientalmente cor- ciona na vertente da descarbonização são con-
reta para o equilíbrio do nosso planeta é reduzir cretas e indiscutíveis, se configurando num fa-
a pegada de CO2 no ir e vir das pessoas e nos cilitador no cumprimento das metas assumidas
processos de transformação industrial vigentes. pelo Brasil nos Acordos mundiais sobre o meio
A oportunidade, como nunca se verificou, é ambiente e a necessária adoção de processos de
brasileira para esse histórico, integrado e sus- uso de energia sem estimular o “efeito estufa”.
tentável processo de transformação planetário • O estímulo e a integração que o Brasil vem
exigido por todos comprometidos com o bem- desenvolvendo junto a países africanos e asiá-
-estar do ser humano. ticos para a produção de etanol nessas regiões
O Brasil, há meio século, desenvolveu o seu contribuem para a reorganização geopolítica
biocombustível – etanol –, com larga produção mundial, com vistas ao desenvolvimento social
e eficiente sistema de distribuição, e está apto e humano.
a liderar esse processo de transformação, quer • Destaque, ainda, para o fato de cada veículo a
seja pela significação dessa experiência para o etanol ser uma fonte de hidrogênio verde para
resto mundo, quer seja, sobretudo, pela impor- motorização nos futuros carros movidos a célu-
tância que essa atividade assumiu no desen- las de combustíveis.
volvimento nacional, na integração regional e Ademais, e não menos importante, assume
na certificação da produção do biocombustível notória relevância, em nosso estágio atual de
etanol mais relevante ambientalmente quando desenvolvimento econômico, o aspecto da im-
comparado com todos os processos de motori- portância social dessa atividade, pelos milha-
zação veicular de baixo carbono em estudo ou res de empregos absorvidos e a qualificação
desenvolvimento no mundo. profissional que se pratica. Sem dúvida, o “S”
Os estudos técnicos e científicos já do co- do conceito ESG se apresenta de forma mar-
nhecimento público, as manifestações da in- cante e destacada nessa atividade.
dústria automobilística nacional e a opinião Essa massa de empregos, por si só muito re-
fundamentada da academia com relação à levante, se espalha por todos as regiões do País,
produção e ao uso do etanol no Brasil nos re- transformando essa atividade para além do de-
comendam concentrar os esforços de política senvolvimento sustentável, na medida em que
pública e de desenvolvimento tecnológico em- dá suporte a uma integração regional e nacio-
presarial nesse biocombustível. Sem discorrer, nal nos milhares de municípios onde se verifica
nesse momento, aspectos físico-químicos, nos a produção.
permitimos destacar: O início da produção em larga escala de eta-
• Por força de lei, a produção e a distribuição de nol em nosso País, meio século atrás, a intro-
etanol no País passaram a ser realizadas e qua- dução pioneira dos carros flex há 20 anos, e o
lificadas através de certificação, por agentes cre- avanço na meritocracia na produção através do
denciados internacionalmente, como decorrên- RenovaBio, desde de 2018, nos recomendam,
cia de uma metodologia exigida pelo RenovaBio enquanto País, a não copiar ou importar proces-
– Política Nacional de Biocombustíveis, através sos de motorização que não se harmonizem com
da qual os produtores são estimulados a produ- o nosso consolidado polo sucroenergético, pela
zir sem desmate e com a menor pegada de car- sua entrega ambiental relevante, pelo seu peso
bono em seu processo agrícola-industrial. Pelo econômico-social na integração nacional na pro-
seu conteúdo, essa política representa o maior dução e pela inserção plena nos conceitos da bio-
programa de descarbonização hoje conhecido. energia e nos postulados da bioeconomia. n
61
Localização dos leitores da Revista Opiniões,
Tem muita gente analisando o seu artigo, o
Áreas de interesse:
Edição Bioenergética:
• Cana
• Milho
• Agave
• Açúcar
• Etanol
• Biodiesel
• Biogás
• Biometano
• Bioeletricidade
• Carbono
Edição Florestal:
• Celulose
• Papel
• Carvão
• Siderúrgia
• Painéis
• Madeira
• Produtos
não-madeireiros
64
Opiniões
A indústria automobilística já desenvolvia, e na sua competitividade a partir da criação de
desde a década de 1980, uma tecnologia que um diferencial tributário, tanto em nível fede-
permitisse que os veículos operassem com ral quanto estadual. Já em 2001, o Governo Fe-
etanol e gasolina ao mesmo tempo. Em março deral lançou a CIDE-Combustíveis, incidindo
de 2003, a tecnologia flex fuel estreou com a sobre combustíveis fósseis. Em dezembro de
Volkswagen apresentando, durante a festa de 2003, o então governador de São Paulo e atual
comemoração de 50 anos de operação no País e vice-presidente da república, Geraldo Alckmin,
com direito à presença do então presidente da sancionou a lei que reduzia a alíquota ICMS do
República, Luiz Inácio Lula da Silva, o Gol 1.6 etanol hidratado de 25% para 12%, tornando-se
Total Flex. o primeiro estado a adotar essa medida. A lei en-
O modelo da Volkswagen seria o primeiro trou em vigor em 2004 e foi seguida por outros
de uma série de lançamentos que ganharam estados nos anos seguintes.
o mercado, com a nova tecnologia: o flex bra- Atualmente, 14 estados estabelecem dife-
sileiro, como foi batizado, capaz de consumir renciais tributários de ICMS entre etanol hidra-
etanol, gasolina ou qualquer mistura entre os tado e gasolina. A questão é tão crucial a esse
dois combustíveis, de modo a dar, ao consumi- mercado que, em 2022, o Congresso Nacional
dor final, o direito de escolha do combustível decidiu por colocar na Constituição Brasileira,
a cada abastecimento, considerando seu custo, no seu capítulo que trata de meio ambiente, a
disponibilidade ou qualquer outro atributo de obrigatoriedade de apresentar um diferencial
sua conveniência. tributário entre etanol e gasolina no que tange
O crescimento da frota capaz de abastecer aos impostos federais e estaduais. Com tributa-
com etanol devolveu ao hidratado o potencial ção menor e mais competitivo que a gasolina, o
de concorrência com a gasolina. Uma ampla consumidor era incentivado, além de comprar
janela de oportunidades se abria para o setor um veículo flex, a também abastecer com o eta-
sucroenergético brasileiro, e o mercado interno nol hidratado.
voltava a ser ponto fundamental para o cresci- Os 20 anos do carro flex fuel chegam quando
mento do setor no Brasil. Naquele momento, o as atenções do mundo se voltam para as fontes
mercado era sustentado pela mistura obrigató- alternativas de energia de baixa emissão, em
ria de etanol anidro na gasolina e por uma frota que o etanol precisa ter um grande destaque.
em acelerada depreciação dos antigos carros a Além da forte tendência global de eletrificação
álcool. O lançamento do carro flex e o seu su- no setor automobilístico.
cesso a partir de 2003 mudam, de forma estru- O conjunto de agentes de mercado que com-
tural, o setor sucroenergético e todo o mercado põem o ambiente do etanol no Brasil está atento
de combustíveis no Brasil. Os dados históricos a essa tendência e, em um movimento de ante-
demonstram a grande aceitação do flex fluel cipação, quer fazer da ameaça de mercado uma
pelos consumidores, após 2 anos de mercado, oportunidade para consolidar o papel socioam-
os veículos flex já representavam mais da me- biental do biocombustível.
tade das vendas no País. A eletrificação de veículos é associada aos
A evolução do flex no Brasil decorre de uma carros movidos a bateria. Mas essa não é a úni-
série de fatores que auxiliaram a dinâmica da ca possibilidade, existem alternativas, como os
oferta de novos modelos de automóveis com modelos híbridos flex, já lançados no Brasil, e
essa tecnologia, o crescimento da produção de a célula a combustível. Nesse último, o etanol é
etanol no País e o incremento das estruturas lo- fonte de hidrogênio que alimenta o sistema em
gísticas, transporte, armazenamento e bombas forma de energia.
nos postos de combustíveis. O Brasil é um mercado pioneiro na junção
O País passou por um crescimento verti- do etanol à eletrificação, em busca de soluções
ginoso de sua frota nos anos subsequentes ao para reduzir o impacto ambiental. O carro híbri-
lançamento do flex, o que possibilitou sua rápi- do e o movido a hidrogênio são possibilidades
da renovação. Atualmente, de cada 100 veícu- diferenciadas dentro do mercado brasileiro, já
los rodando nas ruas e rodovias do País, 84 são contam com apoio da indústria automobilística
flex e podem ser abastecidos com etanol. Além e de diferentes montadoras. Para um país que
disso, o crescimento da preocupação ambiental criou sua própria rota nos últimos 50 anos pa-
e o aumento dos preços do petróleo elevaram ra driblar crises e incentivar ainda mais suas
os preços da gasolina, dando ainda mais espaço vocações internas, não nos parece difícil pen-
para o combustível limpo e renovável. Contudo, sar que, no futuro da mobilidade sustentável, o
a mudança mais estrutural que se viu foi uma etanol continuará tendo protagonismo, inclusi-
série de políticas públicas focalizadas no etanol ve para além das fronteiras brasileiras. n
65
66
28a FEIRA INTERNACIONAL DE TECNOLOGIA AGRÍCOLA EM AÇÃO
Conectando
PESSOAS E TECNOLOGIAS
Compre online
com desconto:
maio
01 a 05
2023
8H ÀS 18H
RIBEIRÃO PRETO
SP • BRASIL
AGRISHOW.COM.BR
REALIZADORES APOIO PROMOÇÃO E ORGANIZAÇÃO
67
Q produtores do sistema bioenergético
Índice
o começo da realidade
Prestes a encerrarmos a safra 2022/23 Há mais de uma década, venho defendendo, de
na principal região produtora de cana- forma até exaustiva, que precisamos de uma política
-de-açúcar do Brasil, o Centro-Sul, nos pública, e fomento privado, para que nossos insti-
deparamos com números, de certa for- tutos de pesquisa sejam estimulados para trabalha-
ma, “assustadores” em alguns aspectos, rem mais fortemente nos ambientes de produção,
principalmente no que tange à produ- que hoje são os principais gargalos de nossa baixa
tividade de nossos canaviais, principal produtividade.
matéria-prima do complexo bioenergé- No último mês de dezembro, para citar um epi-
tico para a produção de açúcar, etanol e sódio recente, participando como convidado na
bioeletricidade. Dados do Plano Decenal comissão responsável pela transição governamen-
de Expansão de Energia (PDE 2032) da tal do Presidente Lula, pude defender, novamen-
EPE – Empresa de Pesquisa Energética, te, para uma plateia muito seleta, a criação de uma
ligada ao Ministério de Minas e Energia, Embrapa Cana, organismo que poderia agrupar as
mostram que o País deve colher, na atual diversas Embrapas, que, hoje, pesquisam, de forma
temporada, algo como 583 milhões de to- descentralizada, a cana-de-açúcar.
neladas de cana-de-açúcar, em uma área
territorial de cerca de 8,2 milhões de hec-
tares e uma produtividade média de 71
toneladas de cana por hectare.
Considerando, ainda, uma projeção
para os próximos 10 anos, que faça a pro-
dução de etanol saltar de 31 bilhões de
litros (números de 2022 projetados pelo
PDE) para 47 bilhões de litros em 2032,
vemos a importância de uma pauta cada
vez mais premente que seja alicerçada no
crescimento verticalizado de nosso setor,
com aumento de produtividade aliada a
mais e mais investimentos em novas tec-
nologias e sistemas de produção.
68
Opiniões
A então Senadora e Ex-Ministra da Agri- (segundo dados da Unem) para 9,1 bilhões de
cultura, Kátia Abreu, acompanhada do hoje litros a partir do cereal, além do uso do bagaço
Ministro da Agricultura Carlos Henrique Fá- e da palha da cana para a produção de outros
varo, dentre outras autoridades, se mostraram 560 milhões de litros de etanol celulósico em
até surpresos pela não existência da Embrapa uma década.
Cana, considerando o protagonismo brasileiro Tudo isso se justifica, ainda, quando vemos
quando o assunto é o etanol e sua contribuição, as projeções do MME de que o etanol possa fa-
mais do que reconhecida, para nossa matriz zer crescer sua participação no ciclo Otto dos
energética. atuais 44% (2022) para 55% (2032).
Essa unidade da Embrapa Cana, que pode- Se somarmos a essa equação a demanda de
ria ter, inclusive, um escritório físico apoiado etanol para sua participação efetiva na rota da
pela Udop para a união dos pesquisadores que motorização híbrida flex, como solução para o
já atuam na cana-de-açúcar, e áreas experi- processo de eletrificação mais eficaz hoje, ve-
mentais a céu aberto, nas associadas Udop, mos o quanto nosso setor demanda, mesmo, de
com expertise de nosso setor, poderia deman- pesquisas e tecnologias que propiciem nosso
dar pesquisas, por exemplo, em temas hoje crescimento, não apenas horizontal, na expan-
muito importantes e determinantes para nosso são das áreas cultivadas, mas, principalmente,
segmento, como o espaçamento de cana ideal; no crescimento vertical, com ganho de produ-
a adubação necessária para cada tipo de so- tividade que se reverterá em aumento de com-
lo e variedade de cana específica; sistemas de petitividade.
colheita mecanizados com menor impacto na Para que o ciclo se feche, ainda, e não menos
compactação do solo; controle de pragas e do- importante, temos a pegada ambiental, cada
enças no novo sistema onde a palha fica depo- vez mais em voga hoje com a adoção de práti-
sitada no campo; para citar apenas alguns. cas de ESG, muito presentes em toda a cadeia
O que temos, hoje, são excelentes institutos da bioenergia. Somos, seguramente, a melhor
de pesquisa que estão dedicados em nos ofere- alternativa energética no curto prazo para a
cer as melhores variedades de cana-de-açúcar, mobilidade sustentável, e o mundo já se aten-
cada vez mais resistentes a alguns fatores, co- tou para isso, o que é provado com o aumento
mo clima adverso, estresse hídrico, pragas de da produção e de políticas públicas para o eta-
doenças, dentre outros, mas não temos nada, nol em quase todos os continentes, de forma
ou quase nada, quando o tema se volta para os notável na Ásia (com China e Japão com mistu-
sistemas diferenciados de produção. ras regulatórias); na Europa (com o Renewable
Vale aqui destacar, por exemplo, a grande Energy Directive); nos Estados Unidos (com o
esperança acalentada por todo o nosso setor Renewable Fuel Standar); e, mais recentemen-
no lançamento da Semente de Cana, hoje es- te, com a Índia, aumentando sua mistura de
tudada pelo CTC, que pode representar ganhos etanol na gasolina para 20%.
enormes para o atingimento de nossos objeti- Pensando em dar maior visibilidade a este
vos, mas que, no nosso entendimento, precisa aspecto tão importante da equação que torna
ser acelerado, a fim de se resolver outro impor- nosso etanol ambientalmente correto, social-
tante gargalo. mente justo e economicamente viável, a Udop
A Embrapa Cana, como tenho defendido, e criou, em 2021, o Prêmio Udop/Embrapa de
colocado até nossa Udop como apoiadora no Boas Práticas Ambientais e, em 2022, o Selo
que for preciso para sua implantação, pode- Udop de Boas Práticas Ambientais, reconhe-
ria significar uma alavanca essencial para esse cendo o trabalho diuturno de sustentabilidade
aumento de produção, estimado pela EPE em de nossas associadas.
mais de 50% nos próximos 10 anos. Encerro essas breves reflexões com um tom
Em paralelo a esses esforços, que, como disse otimista, que tenho adotado em toda a minha
anteriormente, demandam políticas públicas e trajetória de mais de 50 anos completados com
incentivos para que a iniciativa privada possa o trabalho em cana-de-açúcar no último mês
enveredar por esse caminho, continuamos a de janeiro, parafraseando Miguel de Cervantes,
passos largos avançando na produção de etanol em Dom Quixote, “Quando se sonha sozinho, é
de milho e do etanol lignocelulósico, o conhe- apenas um sonho. Quando se sonha juntos, é o
cido etanol 2G. começo da realidade”.
Ainda com os dados do PDE 2032, vemos a Tenho esperança de que, com os esforços de
projeção da EPE para a oferta em 10 anos, dos todos, conseguiremos avançar um passo a mais
atuais 4,4 bilhões de litros de etanol de milho rumo à sustentabilidade de nosso planeta. n
69
Q produtores do sistema bioenergético
Índice
70
Opiniões
das emissões de gases de efeito estufa, em rela- inovadora e funcional, com monitoramento,
ção ao combustível fóssil. Já temos uma indús- reporte e verificação, além de gerar benefícios
tria forte e consolidada. Somos o segundo maior e retornos para as reduções de emissões. Basta
produtor de etanol do mundo, atrás apenas dos ao Brasil assumir que o mercado de bioenergia
Estados Unidos, responsáveis por pouco mais de é fundamental, para além da geração de em-
50% da produção mundial, enquanto, no Brasil, prego, rendas, investimentos e disponibilidade
produzimos cerca de 27% desse biocombustível. de biocombustíveis, para a descarbonização da
Na última safra, foram produzidos mais de 27 produção brasileira e mundial.
bilhões de litros de etanol no Brasil. Mercado em crescimento: Somos o maior
Atualmente, 20% do consumo do setor de produtor do mundo de etanol a partir da cana-
transporte brasileiro é de combustíveis renová- -de-açúcar. E, agora, se soma a esse pujante
veis, e a tendência é de crescimento. Vale des- mercado o etanol que tem como matéria-prima
tacar algumas políticas públicas para incentivo o milho. A produção desse biocombustível vem
para uso do etanol, como o Programa Nacional crescendo com a criação de novas indústrias,
do Álcool – Proálcool, criado em 1975, e que especialmente no Centro-Oeste, e a expectativa
contribuiu para impulsionar a produção de é de que a safra 2022/23 chegue a 4,5 bilhões
bioenergia no País, nas últimas décadas. Esse de litros. Em Mato Grosso, quase 80% da pro-
foi o maior avanço tecnológico da história da dução de etanol é de milho. Nosso estado é a
indústria automobilística brasileira e nasceu prova de que podemos aumentar a nossa pro-
por causa da crise mundial do petróleo. A evo- dução de bioenergia preservando nosso território,
lução do programa possibilitou o nascimento mantendo sua biodiversidade.
de uma tecnologia genuinamente brasileira, o Temos uma característica diferenciada pela
carro flex, que hoje já está em mais de 80% da produção de etanol de milho de “segunda safra”,
frota de veículos leves do Brasil. plantio no mesmo terreno onde a soja foi plan-
Nos tempos atuais, também por conta do tada, sem aumento de novas áreas agrícolas.
petróleo, mas em razão dos efeitos nocivos com Com essa nova indústria, também temos
a emissão de gás carbônico, foi criado um novo incrementado a produção de carne bovina,
mecanismo para a produção de etanol, a Polí- pois, com o resíduo, é produzido o DDG (Grão
tica Nacional de Biocombustíveis – RenovaBio. de Milho Seco por Destilação, em português),
Muitos dos resultados positivos dos anos re- composto proteico usado como ração animal e
centes se deram em razão desse programa. que tem contribuído para aumentar os confi-
Lançado em 2018, o RenovaBio é um pro- namentos de gado, reduzindo a idade de abate:
grama inovador, que reúne incentivos à produ- mais carne produzida sem aumento de área
ção de biocombustíveis e, por consequência, à para a pecuária.
redução de emissões de gases de efeito estufa, E Mato Grosso já está desenvolvendo novas
com a mensuração de dados que possibilitam o tecnologias para o incremento da geração de
cálculo aditável dessas informações. bioenergia no Brasil. Investimento relevante es-
Com a implementação do Crédito de descar- tá na produção de biogás e biometano a partir
bonização de Biocombustíveis (CBIOs), o Reno- da vinhaça gerada nas indústrias de etanol. O
vaBio passou a conter um instrumento financei- primeiro componente gera energia elétrica, e o
ro utilizado para medir e creditar as emissões de segundo substitui o diesel nos automóveis, con-
gases de efeito estufa evitadas pela utilização de tribuindo ainda mais para a descarbonização.
biocombustíveis. Instrumento esse que possibi- Nos tempos atuais, o crescimento econô-
litou investimentos na expansão da produção de mico deve estar atrelado a uma agenda de sus-
etanol orientada em uma transição energética tentabilidade ambiental. Por isso o Brasil tem
mais eficiente, reforçando o papel dos biocom- chance de ser protagonista nessa nova agenda
bustíveis na matriz de combustíveis. econômica mundial.
A partir da RenovaCalc, a calculadora do Para a indústria, não se trata apenas de
Programa RenovaBio, o setor tem investido em vender uma imagem boa para o resto do mun-
novas tecnologias e em aumento de produtivi- do. Essa não é apenas uma agenda ambiental,
dade para ampliar sua eficiência, garantindo essa é uma agenda de inovação. Trata-se, es-
uma produção renovável, revertendo políticas pecialmente, de desenvolvimento econômico
públicas em um melhor meio ambiente para o e, consequentemente, social. Mais dinheiro,
Brasil e para o mundo. mais emprego, melhor renda para a popula-
Em um momento em que o mundo discute ção. Todos saem ganhando, setor produtivo,
a regulamentação do Mercado de Carbono glo- tanto agropecuária quanto industrial, popula-
bal, o RenovaBio é um exemplo de iniciativa ção, nação e o mundo. n
71
m a r na s
i u n c i a
x
A n p iniõe
O
ó
i s
Rev ishowt a
Ed how
r is
Ag
Opiniões
gue
tilín www.RevistaOpinioes.com.br
ul ISSN: 2177-6504
M
o
içã
Ed
a agricultura do
sistema bioenergético
m a r na s
i u n c i a
x
A n p iniõe l
O
ó
i s t a
Rev loresta
Pr ição
i m a F
próx 2 200
l 9 7 73 -
d
16 9
E s t a
r e
F l o
Opiniões
gue
tilín www.RevistaOpinioes.com.br
ul ISSN: 2177-6504
M
o
içã
Ed
Boa leitura.
Revista Opiniões
16 99777-7799
oteca dos nossos primeiros 20 anos
Acesso ao Site
Expediente: Acervo Mailson Pignata
expediente
Editora WDS Ltda e Editora VRDS Brasil Ltda: Rua Jerônimo Panazollo, 350 - 14096-430, Ribeirão
Preto, SP, Brasil - Pabx: +55 16 3965-4600 - e-Mail Geral: Opinioes@RevistaOpinioes.com.br
•Diretor Geral de Operações e Editor Chefe: William Domingues de Souza - Celular/WhatsApp:
16 99777-7799 - WDS@RevistaOpinioes.com.br •Coordenadora Nacional de Marketing:
Valdirene Ribeiro Souza - Celular/WhatsApp: 16 99773-2200 - VRDS@RevistaOpinioes.com.br
•Vendas: Lilian Restino - Celular/WhatsApp: 16 99777-7654 - LR@RevistaOpinioes.com.br
• Priscila Boniceli de Souza Rolo - Celular/WhatsApp: 16 99777-3242 - PRI@RevistaOpinioes.com.br
•Jornalista Responsável: William Domingues de Souza - MTb35088 - jornalismo@RevistaOpinioes.
com.br •Midia Social: Fernanda Silva - 16 3965-4600 - FS@RevistaOpinioes.com.br •Projetos
Futuros: Julia Boniceli Rolo - 2604-2006 - JuliaBR@RevistaOpinioes.com.br • Projetos Avançados:
Luisa Boniceli Rolo - 2304-2012 - LuisaBR@RevistaOpinioes.com.br •Consultoria Juridica:
Jacilene Ribeiro Oliveira Pimenta - RibeiroLena@hotmail.com •Correspondente na Europa
(Augsburg Alemanha): Sonia Liepold-Mai - Fone: +49 821 48-7507 - sl-mai@T-online.de
•Copydesk: Roseli Aparecida de Sousa - RAS@RevistaOpinioes.com.br •Edição Fotográfica: Priscila
Boniceli de Souza Rolo - Fone: 16 16 99777-3242 - PRI@RevistaOpinioes.com.br •Tratamento das
Imagens: Douglas José de Almeira - douglas@saofranciscograf.com.br - 16 2101-4151 •Artigos: Os
artigos refletem individualmente as opiniões pessoais sob a responsabilidade de seus próprios autores
•Foto da Capa: Acervo Revista Opiniões •Foto do Índice: Acervo Revista Opiniões •Foto Áudios:
Acervo Revista Opiniões •Expediente: Mailson Pignata - mailson@aresproducoes.com.br - fone:
16 99213-2105 •Fotos das Ilustrações: Paulo Alfafin Fotografia - 19 3422-2502 - 19 98111-
8887- paulo@pauloaltafin.com.br • Ary Diesendruck Photografer - 11 3814-4644 - 11 99604-5244
- ad@arydiesendruck.com.br • Tadeu Fessel Fotografias - 11 3262-2360 - 11 95606-9777 - tadeu.
fessel@gmail.com • Mailson Pignata - mailson@aresproducoes.com.br - fone: 16 99213-2105
•Acervo Revista Opiniões e dos específicos articulistas •Fotos dos Articulistas: Acervo Pessoal dos
Articulistas e de seus fotógrafos pessoais ou corporativos •Foto da Próxima edição: Acervo Revista
Opiniões •Expedição Revista Digital: 33.112 e-mails cadastrados •Cadastro para recebimento
da Revista Digital: Cadastre-se no Site da Revista Opiniões através do serviço de Fale Conosco
e receba as edições diretamente em seu computador ou celular •Portal: Estão disponíveis em
nosso Site todos os artigos, de todos os articulistas, de todas as edições, de todas as divisões
das publicações da Editora WDS, desde os seus respectivos lançamentos, com livre possibilidade para
donwload •Auditoria de Veiculação e de Sistemas de controle: Liberada aos anunciantes a qualquer
hora ou dia, sem prévio aviso, através de visita virtual • Home-Page: www.RevistaOpinioes.com.br
Opiniões