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Opiniões

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tilín www.RevistaOpinioes.com.br

ul ISSN: 2177-6504
M
ção
i
Ed

BIOENERGÉTICO: cana, milho, agave, açúcar, etanol, biogás, bioeletricidade e carbono


ano 20 • número 75 • Divisão C • Fev-Abr 2023

perspectivas para o
sistema bioenergético
🔊
instruções
IMPORTANTE • IMPORTANT • WICHTIG
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• Primero, antes de realizar cualquier acción, toque la bandera de su idioma.
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assista ao video abaixo. Nele estão contidos alguns recursos que lhe serão
úteis neste momento. Ao acionar o play, o video abaixo será iniciado. Ao
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Plataforma Digital Multimídia da Revista Opiniões


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índice 🔊
EDITORIAL DE ABERTURA:
10: Plinio Mário Nastari, Datagro
POLÍTICAS PÚBLICAS:
14: Evandro Gussi, Unica
HIDROGÊNIO VERDE:
16: Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio, Abag e Canaplan
VEÍCULOS HÍBRIDOS:
20: Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo, Alta Mogiana
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA:
24: Jucelino Oliveira de Sousa, Bevap
A INTERNACIONALIZAÇÃO DO ETANOL COMBUSTÍVEL:
30: Bento Albuquerque, Consultor em Defesa, Energergia e Mineração
32: Eduardo Leão de Sousa, Unica
SISTEMA BIOENERGÉTICO BRASILEIRO:
34: Heloisa Borges Bastos Esteves, EPE
MACROVISÃO ESTRATÉGICA:
38: Alexandre Enrico Silva Figliolino, MB-Agro e XP
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA E ECONOMIA CIRCULAR:
42: Luciano Rodrigues, UNICA e FGV/EESP
BIOECONOMIA CIRCULAR:
44: Heloisa Lee Burnquist, Esalq-USP
MERCADO DE COMBUSTÍVEIS:
48: Martinho Seiiti Ono, SCA
52: Tarcilo Ricardo Rodrigues, Bioagência
PRODUTORES DO SISTEMA BIOENERGÉTICO:
56: Hugo Cagno Filho, Vertente e UDOP
60: Pedro Robério de Melo Nogueira, Sindaçúcar-AL
64: Mário Campos Filho, Fórum Nacional Sucroenergético e Siamig
68: Antonio Cesar Salibe, UDOP
70: Silvio Cézar Pereira Rangel, FIEMT e Sindicato de Bioenergia de MT
quando
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você tiver na estrada 🔊
Na sua próxima viagem de carro, pegue seu celular, entre no
site da Revista Opiniões, escolha a edição recente desejada,
folheie até esta página, ligue o rádio do seu carro, toque na foto
do autor escolhido e ouça o primeiro artigo pelos controles do
rádio do seu carro. Quando terminar, toque no segundo autor e
assim por diante. Quando chegar no seu destino, provavelmente
terá ouvido toda a revista.

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localize o artigo desejado e toque na bandeira da língua que preferir.
Além do português, estão à sua disposição os áudios em inglês,
espanhol, francês e alemão. Pelo fato do artigo ser traduzido
e lido por robôs, poderá haver pequenas imperfeições.

É lógico que você não precisa viajar para desfrutar desse conforto.
O sistema também funcionará na sua mesa de trabalho, andando
no parque, na esteira da academia, nas ruas congestionadas
da cidade grande ou no sofá da sua Casa.
Boa leitura ou boa audição, como preferir.

ARTICULISTAS DESTA EDIÇÃO:


01: Plinio Mário Nastari, Datagro
02: Evandro Gussi, Unica
03: Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio, Abag e Canaplan
04: Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo, Alta Mogiana
05: Jucelino Oliveira de Sousa, Bevap
06: Bento Albuquerque, Consultor em Defesa, Energia e Mineração
07: Eduardo Leão de Sousa, Unica
08: Heloisa Borges Bastos Esteves, EPE
09: Alexandre Enrico Silva Figliolino, MB-Agro e XP
10: Luciano Rodrigues, UNICA e FGV/EESP
11: Heloisa Lee Burnquist, Esalq-USP
12: Martinho Seiiti Ono, SCA
13: Tarcilo Ricardo Rodrigues, Bioagência
14: Hugo Cagno Filho, Vertente e UDOP
15: Pedro Robério de Melo Nogueira, Sindaçúcar-AL
16: Mário Campos Filho, Fórum Nacional Sucroenergético e Siamig
17: Antonio Cesar Salibe, UDOP
18: Silvio Cézar Pereira Rangel, FIEMT e Sindicato de Bioenergia de MT
Aqui não tem
Agora também para
adensamento de 4 ruas em
espaçamento alternado.

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milagre, tem tecnologia !
O que pode ser mais agradável para um
produtor do que ouvir a seguinte frase:
" Você pode dobrar a sua produção e
baixar seus custos pela metade "
Essa é a solução ideal para áreas com produtividade abaixo de 60 toneladas por
hectare. A lógica é muito simples. A operação é aplicada em ruas alternadas.
O equipamento faz o corte da cana de ambas as ruas e empurra a cana cortada
para as duas ruas laterais.

O trabalho a ser feito pela colhedora passa a ser: cortar da rua que ainda
está de pé e recolher, na mesma operação, a cana já cortada pelo equipamento
CORT-I-CANA, que recebeu o apelido muito próprio de "engordador de rua".

Esta operação reduz o trabalho da colhedora pela metade, colocando o dobro da


cana no elevador. Outra vantagem: para fazer o posicionamento de retorno, a
🔊 colhedora passa a ter um raio de curva 3 vezes maior, reduzindo o número de
manobras, o tempo, a complexidade dos movimentos e o pisoteio. Em função da
sua produtividade, um "engordador " atende a duas colheitaderas. Assim, seu
uso dobra ou triplica a massa de cana colhida.

O CORT-I-CANA, copia o relevo do solo – independente da ação do operador –


permitindo corte bem rasos, e auxilia na abertura de aceiros de colheita evitando
o esmagamento da cana. O TCH limite para adensamento passa a depender da
capabilidade da colhedora, pois a mesma passará a enfrentar um canavial com
TCH dobrado. O uso de tratores com piloto automático facilitará sobremaneira a
operação em áreas georeferenciadas.

Temos agora também uma opção para o adensamento de 4 ruas em espaço


alternado. O que você acha da ideia de ligar agora para a FCN e pedir uma visita?
Se desejar se adiantar, solicite o envio de uma Planilha de Pay-back pelo e-mail
Felix@fcntecnologia.com.br. Agora, aperte o botão do Play da página ao lado
e assista ao vídeo que mostra a CORT-I-CANA em ação.

Aguardamos seu contato.


Q editorial de abertura
Índice

a importância de uma visão estratégica


A indústria do açúcar é a mais antiga Na prática, entretanto, desde a safra 2010/11,
do Brasil e evoluiu muito com a crescen- a oferta de açúcares totais recuperados (ATR) do
te diversificação na direção do etanol, setor encontra-se praticamente estagnada na faixa
a partir da década de 1970, e posterior de 87 a 94,4 milhões de toneladas, com uma moa-
aproveitamento da bioeletricidade. Ou- gem de cana, em todo o Brasil, entre 600 e 670 mi-
tros aproveitamentos da considerável lhões de toneladas. São mais de 12 anos de virtual
energia contida na cana têm sido desenvol- estagnação. Não que o setor tenha ficado parado.
vidos com o etanol de segunda geração, a Investimentos foram feitos para aumentar a flexi-
biodigestão de resíduos, a peletização do bilidade industrial para a produção de açúcar ou
bagaço, o aproveitamento da levedura, etanol e de etanol hidratado ou anidro, e, em al-
a transformação do etanol em produtos guns poucos casos, diversificações para etanol 2G
químicos e plásticos e a captura de dió- e biogás/biometano.
xido de carbono biogênico. Em verdade, à oferta de etanol produzido a par-
É impressionante que o setor tenha tir da cana, vêm se somando volumes crescentes de
atingido a sua dimensão e importância, etanol produzido a partir do milho, que tem dado
visto que, até pouco tempo, não dispunha suporte à manutenção e, em alguns momentos, ex-
de uma regulação que indicasse uma pansão do uso do etanol no mercado de combustí-
meta de desenvolvimento de longo prazo. veis do ciclo Otto. Isso tem ocorrido de forma relati-
Toda a expansão ocorreu por conta de vamente rápida. Em 2015/16, a produção de etanol
um espírito empreendedor que motivou de milho passou de apenas 141 milhões de litros,
o aproveitamento de pastagens que ge- para, em 2022/23, atingir a marca de 4,6 bilhões
ravam pouca renda para a produção de de litros de etanol de milho. Até 2031/32, projetos
cana e a instalação de usinas para o seu em andamento e em fase de planejamento projetam
processamento. uma produção de etanol de milho de 9,65 bilhões de
A dimensão atingida está relaciona- litros por ano.
da à acumulação de capital obtida por A expansão do etanol de milho, em usinas dedi-
essa diversificação e é resultado dela, cadas ou anexas a plantas de processamento de ca-
o que a distingue de indústrias equiva- na, é virtuosa, pois agrega valor ao grão, gera sub-
lentes de outros países. Foi por causa produto de alto valor proteico (DDGS) e óleo que
dessa expansão que o etanol atingiu impulsionam a intensificação da pecuária, liberan-
uma participação de 48,4% no consu- do áreas de pastagem para expansão da agricultura,
mo de combustíveis do ciclo Otto em permitindo a geração de produtos de maior valor e
gasolina equivalente, em 2019 (partici- menor impacto logístico.
pação que caiu para 41,9%, em 2022), No entanto, no setor de cana, têm sido muito
e que a eletricidade de biomassa atin- poucas as iniciativas no sentido de materializar in-
giu 4,4% de toda a geração elétrica em vestimentos adicionais em moagem ou difusão da
2022, contribuindo para a invejável cana. Têm ocorrido, sim, operações de fusão e aqui-
marca de 92,0% de geração elétrica re- sição de ativos que se encontravam paralisados por
novável nesse ano. conta de crises anteriores, em particular a mais re-
A regulação que resolveu a defi- cente, de 2011 a 2014, advinda do controle de pre-
ciência de uma meta de longo prazo foi ços sobre a gasolina, algo que já havia acontecido no
o RenovaBio, aprovado através da Lei período de 1985 a 1989, mas muito poucos investi-
13.576, de 2017, regulamentado por vá- mentos adicionais.
rios decretos e resoluções da ANP e im- Novos investimentos em expansão não têm ocor-
plementado, em termos práticos, a par- rido, mesmo tendo havido a aprovação e plena vigên-
tir de abril de 2020. Através de metas de cia atual de metas de descarbonização do RenovaBio
descarbonização aprovadas e renovadas aprovadas até 2032, que projetam uma demanda
sempre para os 10 anos a seguir, o Re- de 99,22 milhões de toneladas de CO2 equivalente
novaBio passou a oferecer esse direcio- (tCO2e) por ano, com uma variação já admitida entre
namento. 90,79 e 107,72 milhões de tCO2e por ano.

10
Opiniões
Vale lembrar que a meta aprovada para O preço do CBIO deveria também cobrir o
2023 é de 37,50 milhões de tCO2e, e que, obstáculo a novos investimentos, que é gerado
em 2022, foram gerados 31,448 milhões de pela elevada taxa de juros real, que também
tCO2e, com vendas basicamente de etanol e inibe investimentos.
biodiesel, embora ainda haja potencial para A verdade é que, mesmo com a aprovação
biogás/biometano e bioquerosene. Conside- de uma regulação eficiente e moderna como o
rando que a cana-de-açúcar tem, no Brasil, RenovaBio, a falta de uma clara visão estraté-
um ciclo de produção médio de 5 a 6 anos, gica de longo prazo tem impedido a sua eficá-
estamos distantes pouco mais de um ciclo de cia como mecanismo indutor de planejamento.
cana do atingimento do período em que essas Essa mesma falta de visão estratégica tem im-
metas precisariam estar sendo cumpridas. pedido uma expansão mais vigorosa da gera-
Portanto, mesmo com uma regulação efi- ção elétrica de biomassa. Seus atributos posi-
ciente em vigor, não têm sido geradas as condi- tivos são inúmeros, como o fato de ser energia
ções para viabilizar ou estimular investimentos firme e não intermitente como as energias ;
privados que possam atingir essas metas.
Uma das explicações pode estar na própria
reação do governo que, em 2022, reagiu ao
atingimento do preço do crédito de descar-
bonização (CBIO) ao alcançar valores que ul-
trapassaram R$ 200 por tCO2e. Embora esse
valor fosse ainda muito distante de valores
observados em mercados similares de carbo-
no, como a Califórnia, onde se superaram US$
200 por tCO2, ou à União Europeia, onde se
chegou a mais de US$ 85 por tCO2e, o gover-
no brasileiro, durante a última administração
federal, mostrou que não estava disposto a ad-
mitir valores de tal magnitude, desvirtuando
o programa RenovaBio com alterações de sua
regra básica e metas.
Para o RenovaBio funcionar em sua ple-
nitude, seria preciso que, uma vez definida e
aprovada a meta de descarbonização, o valor
do CBIO fosse aquele necessário e suficiente
para estimular novos investimentos. Não foi
isso que se verificou na prática, pois o governo
preferiu priorizar o impacto no preço do com-
bustível fóssil ao consumidor no curto prazo,
no lugar da possibilidade de atingir a sua pró-
pria meta de longo prazo.

a falta de visão estratégica


tem impedido uma expansão
da geração elétrica de biomassa.
Seus atributos positivos são
inúmeros, como o fato de ser
energia firme e não intermi-
tente como as energias eólica
e solar fotovoltaica"

Plinio Mário Nastari


Presidente da Datagro

11
Q editorial de abertura
Índice Opiniões
eólica e solar fotovoltaica, embora sendo sazo- na utilização de combustíveis líquidos de
nal, mas com sazonalidade benéfica e favorá- baixa pegada de carbono, capazes de utilizar
vel ao planejamento do setor elétrico. eficientemente etanol e biodiesel, e já se en-
Ou o fato de ser gerada próxima aos cen- contra tecnologicamente pronto para deslan-
tros de carga (próxima às cidades), poupan- char o uso de biometano em ônibus e veículos
do investimentos em linhas de transmissão pesados, todos com muito baixa pegada de
e perdas de transmissão estimadas no Brasil carbono. O Brasil é também um dos maiores
em cerca de 11% do consumo total. É gera- produtores e exportadores de minério de fer-
da no período de inverno, complementando ro, matéria-prima básica para a produção de
com perfeição o regime de geração do nosso aço. Tem uma competente indústria local de
enorme parque hidroelétrico, responsável por produção de plásticos e elastômeros, inclusive
72,1% de toda a geração elétrica do País em com relevante produção de plásticos verdes.
2022, elevando a base de geração do sistema Além disso, dentre as maiores economias
hidroelétrico sem que fossem necessários no- do mundo, possui a matriz energética mais
vos investimentos. renovável, capaz de produzir aço, compo-
A energia de biomassa gerada principal- nentes e peças com baixa pegada de carbono
mente nos meses de inverno, quando ocorre a que podem alavancar o processo de eletrifica-
colheita da cana na principal região produtora ção com motorizações que otimizem o uso de
do País, portanto valiosa por sua sazonalidade, combustíveis limpos e renováveis, acelerando
recebe uma tarifa que varia em torno de R$ a adoção de tecnologias híbridas que associam
260 a 320 por MWh. Enquanto isso, o sistema essas vantagens à adoção de uma eletrificação,
elétrico interligado remunera usinas térmicas que utiliza a infraestrutura já instalada de dis-
movidas a energia fóssil ─ em muitos casos, tribuição de energia na forma de combustíveis
óleo diesel importado, que onera a balança co- limpos. Uma tecnologia que é, ao mesmo tem-
mercial e gera emissões de gases do efeito estu- po, limpa e acessível em preço para o consumi-
fa a tarifas acima de R$ 1.800 por MWh. dor e que permite às montadoras atingir o tão
A mesma falta de visão estratégica que in- sonhado objetivo de emissão zero até 2050.
terfere no RenovaBio, não permitindo que Uma política industrial alicerçada na valo-
o programa cumpra o proposito para o qual rização da tecnologia desenvolvida no Brasil,
foi criado, também não reconhece o valor da para produção local de veículos de baixa emis-
energia elétrica de biomassa que poderia estar são e elevado rendimento e a exportação des-
sendo gerada com caldeiras mais eficientes e se modelo de mobilidade para outros países,
modernas em usinas de cana-de-açúcar, re- é uma oportunidade que o País, seus empre-
duzindo o custo de fabricação do açúcar e do sários e trabalhadores deveriam reconhecer,
etanol, tornando-os mais competitivos para os valorizar e aproveitar.
consumidores, gerando mais créditos de des- Estímulos à conversão de veículos antigos
carbonização e mais possibilidades de cum- e mais poluidores, por novos com menores
primento de metas ambientais pelo País. Caso emissões, associados à devida reciclagem de
houvesse essa visão estratégica, deveriam es- materiais e recompensas aos consumidores
tar sendo criadas linhas especiais de financia- pelo uso de combustíveis renováveis, pode-
mento através de bancos de fomento, como o riam recuperar e alavancar uma indústria au-
BNDES e outros, para impulsionar o aprovei- tomotiva, que é estratégica e de grande impac-
tamento desse potencial hoje desperdiçado. to para o desenvolvimento econômico e social
A falta de visão estratégica impede também por seu elevado efeito multiplicador.
que se enxergue e reconheça que o Brasil desen- Uma nova reindustrialização do País pode-
volveu, nas últimas décadas, uma tecnologia ria estar sendo estimulada, caso houvesse uma
automotiva eficiente, utilizando biocombustí- visão estratégica para um planejamento inte-
veis, que permite ao País dispor do veículo de grado dos setores de energia, meio ambiente,
menor emissão de CO2e em todo o mundo, na industrial e agroindustrial e de comércio ex-
avaliação do ciclo de vida. Em realidade, o Bra- terior. Oportunidades valiosas têm sido des-
sil possui todas as condições de se posicionar perdiçadas por falta de uma visão estratégica.
como supridor de tecnologia de mobilidade No início de um novo ciclo, só podemos dese-
sustentável para o mundo, como está fazen- jar que prevaleça o bom senso, o espírito público
do, neste momento, para a Índia. Nas últimas e o interesse geral, para que sejam criadas con-
quatro décadas, o Brasil desenvolveu uma dições que estimulem o investimento privado
bem-sucedida tecnologia automotiva calcada nessa direção. n

12
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Q políticas públicas
Índice

políticas públicas de tributação dos combustíveis


Há quase meio século, o economista Mil- iniciativas de precificação implementadas,
ton Friedman declarou, em um célebre pro- agendadas ou em análise, segundo levanta-
grama de televisão dos Estados Unidos, que mento da Empresa de Pesquisa Energética
"a melhor maneira de lidar com a poluição (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e
era estabelecer um imposto sobre o custo Energia. Chile, Colômbia, México, Canadá,
dos poluentes emitidos por um carro, como Suíça e Japão são exemplos de países que
incentivo para manter baixa a quantidade de já implementaram carbon tax, o imposto
poluição". Influente pensador das ciências sobre carbono.
econômicas do século XX, Friedman alicer- Para se ter ideia da dimensão desse me-
çava ali o que, décadas mais tarde, viria a ser canismo no debate internacional, em janeiro
política instituída em diversos países, como de 2019, economistas publicaram uma de-
resposta a um dos mais urgentes problemas claração no Wall Street Journal, dos Esta-
da humanidade: a crise climática. dos Unidos, pedindo um imposto sobre o
Em todo o mundo, a transição energética carbono, descrevendo-o como "a alavanca
para a mobilidade de baixo carbono ocorre, mais econômica para reduzir as emissões de
principalmente, via subsídios, diferencial tri- carbono na escala e velocidade necessárias".
butário e mercado de carbono. Muitos países Em outubro de 2021, a declaração havia sido
têm optado pela carbon tax, um “imposto” assinada por mais de 3,6 mil economistas,
cobrado sobre as emissões de gases que incluindo 28 ganhadores do Prêmio Nobel.
agravam o efeito estufa, precificando, assim,
as externalidades negativas dos combustí-
veis fósseis. A ideia é impulsionar a redução
das emissões de dióxido de carbono equiva-
lente (CO2eq), tendo como objetivo final de-
sacelerar o aquecimento global em até 1,5 ºC,
como pactuado no Acordo de Paris.
A Finlândia foi o primeiro país do mun-
do a introduzir uma “taxa de carbono”,
em 1990. Posteriormente, muitos países
seguiram o exemplo e introduziram suas
próprias versões. Atualmente, existem 92

O uso de etanol no Brasil,


e em outros países, vem
contribuindo sistematica-
mente para a redução de
emissões de CO2eq na
atmosfera. O etanol emite
até 90% menos CO2eq do
que o combustível fóssil. "

Evandro Gussi
Presidente da Unica

14
Opiniões
A utilização de tributos parafiscais (como Sob essa perspectiva, o Congresso Nacio-
o carbon tax) tem inúmeros pontos positivos nal aprovou, em julho de 2022, a Emenda
e merece sempre nossa atenção. No entanto, Constitucional 123, que altera o Artigo 225
o mercado de carbono, precificando-se as da Constituição, para estabelecer um regime
emissões evitadas ou mesmo a sua captura, fiscal diferenciado para os biocombustíveis.
tem se revelado como uma maneira ainda A decisão veio em resposta à medida, na
mais eficiente de precificar externalidades, contramão do mundo comprometido com a
nesse caso, positivas. No Brasil, uma políti- sustentabilidade, que zerou os tributos dos
ca de mercado de carbono teve início com o combustíveis até 31 de dezembro de 2022,
RenovaBio, a Política Nacional de Biocom- período reconhecido juridicamente como
bustíveis, que visa expandir a produção de “estado de emergência”. Após esse prazo,
combustíveis renováveis, fundamentada na estaria vedada a fixação de alíquotas sobre
previsibilidade e sustentabilidade ambien- a gasolina e o etanol em percentual superior
tal, econômica e social. ao vigente quando da publicação da regra.
Um dos instrumentos do RenovaBio é Prorrogações da medida seriam inconstitu-
o Crédito de Descarbonização, o CBio, que cionais.
oferece oportunidade de compensação de Ao fixar o diferencial tributário para bio-
emissões para setores da economia com combustíveis, os legisladores corrigem pos-
maior custo de mitigação. Diferente do im- síveis distorções de mercado, incoerentes
posto sobre o carbono, cada CBio representa com o compromisso com energias de baixo
uma tonelada de CO2eq que deixou de ser carbono, promovendo um meio ambiente
emitida graças à substituição de combustí- ecologicamente equilibrado.
veis fósseis. Essa substituição ocorre, por De acordo com o Artigo 225 da Consti-
exemplo, com a opção pelo etanol em vez da tuição Federal, “todos têm direito ao meio
gasolina no abastecimento do veículo. ambiente ecologicamente equilibrado, bem
O uso de etanol no Brasil, e em outros de uso comum do povo e essencial à sadia
países, vem contribuindo sistematicamente qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pú-
para a redução de emissões de CO2eq na at- blico e à coletividade o dever de defendê-lo
mosfera. O etanol emite até 90% menos CO- e preservá-lo para as presentes e futuras ge-
2eq do que o combustível fóssil. Desde que rações”. É disso que se trata.
a tecnologia flex foi lançada no Brasil, em Quase meio século depois de Friedman,
2003, aproximadamente 600 milhões de to- a quem cabe a conta ambiental dos agen-
neladas de dióxido de carbono deixaram de tes poluidores está no cerne dos debates
ser lançadas na atmosfera, impactando po- sobre transição energética. Obviamente
sitivamente a saúde de milhões de pessoas e não existe um modelo único, e a escolha
o meio ambiente. da rota mais adequada para cada país es-
Uma forma de fomentar a escolha pelo tá sujeita a uma série de fatores, como as
substituto renovável é garantir a compe- características produtivas, o perfil da ma-
tividade dos biocombustíveis por meio triz energética, a aceitabilidade política da
de instrumentos fiscais. São conhecidos medida, o apoio da sociedade e a sinali-
os impactos positivos da diferenciação de zação dos impactos nos indicadores socio-
tributos no estado de São Paulo, onde foi econômicos, além da situação fiscal em
instituída a política de alíquotas de ICMS que o país se encontra.
(Imposto sobre Operações relativas à Cir- Mas uma coisa é certa: a precificação de
culação de Mercadorias) diferenciadas carbono é uma ferramenta muito importan-
para gasolina C (25%) e etanol hidratado te para o cumprimento das metas do Acordo
(12%). A opção pelo biocombustível pro- de Paris. E, para além dos benefícios am-
porcionou, entre outras positividades, uma bientais, pode criar um ecossistema fiscal
bem-sucedida experiência para o controle para os governos, incentivando o desenvol-
das emissões de poluentes na cidade de vimento de diversos setores da economia,
São Paulo, quarta maior do mundo, que com geração de emprego e renda no País.
contabiliza baixos índices de poluição at- Temos, no Brasil, um enorme potencial para
mosférica, segundo a plataforma interna- fazer negócios, descarbonizando. E quere-
cional IQAir. mos descarbonizar, fazendo negócios. n

15
Q hidrogênio verde Opiniões
Índice

estabilidade e confiança nas políticas públicas


“O tempo não é renovável” ALGUNS EXEMPLOS DO AGRO BRASILEIRO
Autor desconhecido Fonte: FAO, OIC, USDA, ABPA, SECEX e COGO

PRODUTO PRODUÇÃO EXPORTAÇÃO % DA


EXPORTAÇÃO
O campeão mundial da biomassa competiti- GLOBAL
va é o Brasil. Várias safras na mesma área, no SOJA 1º 1º 58%
mesmo ano! Crescimento anual de 3%, em pro- CAFÉ 1º 1º 28%
dutividade, é muito inspirador. AÇÚCAR 1º 1º 41%
Nessa Copa do mundo de competitividade,
CARNE 2º 1º 25%
os juízes são selecionados de acordo com os
interesses dos países europeus, com alguns de
Os europeus produziram o Green Deal, e os
outros países ricos (e não tem VAR). Aos emer-
norte-americanos preparam algo. Enquanto isso,
gentes, essas regras são no sentido de proteção
cabe ao Brasil reagir às narrativas ao agro bra-
aos mais ricos para que prosperem. As guerras
sileiro, preparadas pelos colonialistas euro-
reforçaram as regras, e o mundo ficou mais po-
peus, que lhes interessam (e que nos sufocam).
bre quando se trata de produtos do agro.
Tanto o Green Deal como o que virá dos
No entanto, mesmo com regras assim, o
EUA seguem a linha de regrar o mundo. Muitas
Brasil segue batendo recordes em produção e
tentativas disso são feitas, mas o seu sucesso
exportação. Afinal, levando em consideração os
depende da reação de outros blocos ou países.
resultados, dá para entender que eles precisem
O protagonismo brasileiro em relação ao
fazer algo como precaução (do lado do compe-
“mundo da biomassa” é real e precisa ser efe-
tidor subsidiado).
tivo. Isso, sem dúvida, requer posicionamento
de Estado, chamamento ao esforço público-
-privado e liderança efetiva do Brasil.
Quando se fala em políticas públicas globais,
em fase de organizações internacionais mul-
tilaterais (cite-se ONU, OMC e OCDE, entre
outras), a fragilização dessas entidades requer
forte posicionamento de cada país na defesa do
que julga correto e pertinente.
Imagine um bloco de países tratando de im-
por uma política pública global que fira políti-
cas públicas nacionais, no coração. Isso existe?
Claro, o Green Deal europeu não considera o
desmatamento legal em seu documento.

A cana-de-açúcar se casa
com o milho, e, obviamente,
é uma nova integração que o
mercado adora, mas o governo
leva tempo para se
ajustar a ela. "

Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio


Presidente da Abag e Diretor da Canaplan

16
Q hidrogênio verde Opiniões
Índice

Imagine um bloco de países tratando de de- Houve o aplauso e a atuação da Anfavea e de


finir uma política mundial com base na sua rea- entidades setoriais de bioenergia, mas, de novo,
lidade de clima. Isso existe? Sim, o Green Deal dependerá da nova caneta para 2023-2026.
trata o mundo tropical (o dos latinos) como se O desenvolvimento tecnológico, a inovação
fosse o mesmo para o mundo temperado (o dos e as ações privadas estão se movendo em um
europeus). frenesi nunca visto. Certamente, vão gerando
O Brasil enfrentará isso e vai lutar, mesmo impactos que o governo e o legislativo têm difi-
assim, pelo Acordo EU–Mercosul. Isso signifi- culdade de ir adaptando as regras do jogo, mui-
ca uma importante revisão, do lado europeu, da tas delas de meados do século XX.
forma unilateral como quer tratar uma questão Um exemplo disso é o mundo digital, a in-
multilateral. ternet das coisas, o esforço de conectividade
Enquanto as políticas globais mostram a re- nas fazendas no País, a produção de biogás ou
levância do diálogo, das articulações voltadas biometano. Na mesma linha, segue a lenta ação
à paz e ao equilíbrio comercial, é essencial que de aprovação de novas moléculas químicas ou
cada país tenha as suas políticas públicas está- produtos biológicos para o controle de pragas,
veis e que gerem a confiança fundamental aos doenças e ervas daninhas nas lavouras. A cana-
agentes do mercado. -de-açúcar se casa com o milho, e, obviamente,
Todo o esforço global, com aprovação for- é uma nova integração que o mercado adora,
mal efetivada, está voltado à luta contra as mu- mas o governo leva tempo para se ajustar a ela.
danças climáticas e à descarbonização, como É preciso integrar, mas não é fácil fazê-lo
forma efetiva de se buscar as metas individuais com o mesmo tema sendo conduzido por vários
de mitigação das emissões dos gases do efeito Ministérios de diferentes matizes ideológicas e
estufa, assim como de se manter ações no co- de partidos políticos competindo por espaço.
mércio que não deem espaço à nova onda pro- As mudanças globais não esperam reações
tecionista/precaucionista. lentas e não têm paciência com atrasos. No caso
Essa linha de pensamento, sempre defen- da bioenergia, o enfrentamento é constante
dida pelo Brasil, requer compromissos e po- e precisa da união dos esforços do governo e
líticas internas estáveis. Ao se olhar para a das entidades de classe no planejamento e na
“irmã” mais nova do agro brasileiro, a bioenergia, execução das medidas que estimulem, assegu-
tem-se muitos ângulos a conferir, se o país rem investimentos e modernizem as relações
realmente quer manter o seu protagonismo no público-privadas internamente para o diálogo
tema. Enquanto o etanol tem, juntamente com com terceiros países. Enquanto a defesa das
o biodiesel, a legislação nacional da energia re- entidades internacionais multilaterais é fun-
novável – RenovaBio – a ser seguida, o execu- damental ao Brasil, a segurança aos investi-
tivo público tem a caneta a ameaçar a estabi- mentos internos é fundamental à capacidade
lidade do processo de desenvolvimento dessas competitiva da biomassa, requerendo a estabi-
cadeias produtivas. Em tempos de petróleo a lidade e a menor intervenção do governo nas
US$ 100/b, o executivo público busca medi- regras do jogo.
das para atenuar o impacto dos preços altos Desse modo, enquanto o pêndulo comer-
ao consumidor. Todo um esforço que resulta, cial tente novamente ao Oriente, para o Brasil,
por exemplo, em MPs (muitas vezes inconsti- deve-se refletir que as nossas raízes são ociden-
tucionais, como a recente extensão da desone- tais, e o nosso mundo está assentado em bases
ração PIS-COFINS e CIDE nos combustíveis), democráticas. Isso não significa escolhas, se re-
ou em redução do nível de mistura do biodiesel fere tão somente ao fluxo comercial internacio-
no diesel, ou mesmo em se mudar a política de nal. É difícil crer que o mundo rico siga vendo
correção dos preços desses combustíveis sem o autocracias crescerem, e os líderes mundiais
conhecimento dos atores setoriais. Colocam-se (G7) terem dificuldade de buscar o diálogo, no
ou se retiram impostos de importação, na pres- mundo ocidental, equilibrado e sensato.
são de países. Olhando internamente, salta aos olhos a di-
Durante o governo Temer, foi criada uma sé- ficuldade dos governos brasileiros, que passam
rie de ações, como o RenovaBio e o Rota 2030, sem entender o fator agroenergia, o seu sucesso
posteriormente regulamentadas e confirmadas e a necessidade de tratá-la com estabilidade,
no governo Bolsonaro, para uma plataforma que atrai o investimento, no caminho asfaltado
veicular voltada à busca integrada de motores pela confiança. Em um mundo onde a descar-
flexíveis e híbridos (combustíveis do futuro), bonização é prioridade comum, o Brasil está à
com a meta do hidrogênio verde nas células de frente. Basta, assim, afiar melhor seu detalhe
combustível. positivo às políticas públicas setoriais. n

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Q veículos híbridos
Índice

buscando o carro perfeito


As reuniões dos conselhos de administra- Por outro lado, a pressão para substituir o
ção das montadoras de automóveis ao redor do velho e confiável motor a gasolina não para de
mundo nunca foram tão tensas. O motivo não aumentar. Na Europa, por exemplo, a partir
poderia ser menos desafiador: qual tecnologia de 2035, eles não poderão mais ser fabricados.
de motorização deve prevalecer nos próximos Além disso, carros a combustão pura começam
anos e como direcionar esforços e investimen- a ser vistos pelos consumidores como uma tec-
tos na direção certa? As cartas estão postas nologia ultrapassada, o que limita suas vendas.
na mesa, e centenas de bilhões de dólares em A própria Toyota, que tem se recusado a
pesquisa e em desenvolvimento precisam ser fazer grandes mudanças em seus veículos ul-
alocados, podendo gerar lucros (ou prejuízos) timamente, tem visto sua participação de
igualmente bilionários. mercado cair nos Estados Unidos nos últimos
Os defensores do carro puramente elétrico anos. Isso nos leva a pensar que essas duas so-
estão tendo que enfrentar desafios de custo e luções podem estar diante de grandes dificul-
de disponibilidade em relação às matérias- dades em atrair interesse dos novos consumi-
-primas das baterias dos seus carros, ao mesmo dores de veículos.
tempo em que os consumidores mostram-se
cada vez menos dispostos a pagarem mais por
um automóvel desse tipo. Recentemente, a
própria Tesla precisou dar grandes descontos
em seus principais mercados, os Estados Unidos
e a China, para encontrar novos compradores
para seus carros. Os motivos da falta de inte-
resse são os de sempre: a demora no carrega-
mento das baterias, a baixa autonomia de
alguns modelos de entrada, a limitada rede de
abastecimento e o alto preço em relação a mo-
delos similares à combustão pura.

A hibridização pode
aumentar a eficiência de
um carro híbrido em até 50%
no uso geral. Em resumo,
um carro a etanol híbrido seria
até 70% mais eficiente do que
um similar flex, comumente
vendido no Brasil. "

Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo


Diretor Comercial da Usina Alta Mogiana

20
Opiniões
Parece claro que quem procura um carro motores pequenos, extremamente eficientes e
novo, hoje, está buscando atributos ligados à econômicos, além de baratos para se produzir e
maior tecnologia e eficiência energética, man- se manter, com menos cilindros e menor peso.
tendo a praticidade do abastecimento rápido, Segundo fontes da indústria automobilística
amplamente disponível e, principalmente, um que eu consultei, um veículo desses pode fa-
baixo preço de aquisição. Eu não enxergo to- cilmente ser até 20% mais econômico do que
dos esses atributos nos carros elétricos, o que seu similar flex, reduzindo os custos ao con-
me leva a concluir que eles dificilmente serão sumidor, aumentando a autonomia do carro e
líderes de vendas na maioria dos países consu- reduzindo ainda mais a emissão de poluentes.
midores. Existe outro componente da decisão A hibridização, por sua vez, dependendo da sua
de compra que também deixa uma eventual intensidade, pode aumentar a eficiência de um
dominância dos veículos elétricos em xeque: o carro híbrido em até 50% no uso geral. Em re-
potencial de desvalorização do veículo à medi- sumo, um carro a etanol híbrido seria até 70%
da que se aproxima o momento da substituição mais eficiente do que um similar flex, comu-
das baterias, que pode levar de 8 a 15 anos, de- mente vendido no Brasil.
pendendo da taxa de utilização do carro. Com Além dessas vantagens, a indústria automo-
o preço de uma bateria nova, superior ao valor bilística necessitaria de uma fração dos investi-
do casco depois de 8 anos, será preciso que o mentos hoje direcionados ao desenvolvimento
consumidor deprecie agressivamente o valor dos carros puramente elétricos para colocarem
do seu patrimônio nesse período, o que vai dei- esses veículos no mercado, bastando aos postos
xar muitos proprietários simplesmente furio- de combustíveis serem incentivados a adap-
sos e decepcionados. tarem algumas bombas para o etanol, como
Tecnologias promissoras, como as de hidro- já foi feito no Brasil desde a década de 1980,
gênio e de células de combustível, também não com enorme sucesso. Outra vantagem dessa
parecem prontas e maduras para chegarem aos transição, além dos ganhos ambientais, seria
mercados no médio prazo; os mais otimistas a manutenção da cadeia de produção das in-
esperam que esses veículos sejam viáveis ape- dústrias por trás dos componentes de motores
nas após 2040. É aí que entram os carros hí- atuais, que empregam milhões de pessoas pelo
bridos a combustão e a eletricidade como uma mundo. Manteríamos empregos técnicos e bem
solução intermediária, até que surjam outras remunerados, ao mesmo tempo em que evita-
alternativas mais viáveis. Os carros híbridos ríamos uma perda de arrecadação de impostos
são mais baratos do que os elétricos, têm a que essas empresas recolhem à sociedade.
praticidade do abastecimento rápido, não têm Caberia aos produtores de etanol o desafio
uma depreciação tão acelerada, são econômi- de aumentarem a produção do combustível a
cos e possuem uma excelente autonomia. um custo que seja assemelhado ou até menor
Porém, eles ainda consomem combustíveis do que o da gasolina, algo que já ocorre hoje.
fósseis, o que nos impõe um desafio em encon- O litro de etanol vale aproximadamente entre
trarmos um combustível líquido renovável e de 70% e 80% do preço da gasolina na maioria dos
baixa emissão de carbono na atmosfera para países produtores, gerando empregos e divisas
substituí-lo. Ora, esse combustível já existe! a esses países, muitos deles economias em de-
Trata-se do etanol, seja ele oriundo do milho senvolvimento e ávidas por crescimento econô-
ou da cana-de-açúcar. Segundo a consultoria mico, como a Índia e o Brasil. Mesmo um país
Datagro, um carro flex fuel (gasolina/etanol) desenvolvido e com poucas fronteiras agrícolas
híbrido emite 27 gramas de CO2 por km ro- a serem exploradas, como os Estados Unidos,
dado no Brasil, contra 120 gramas de CO2 de tem espaço para aumentar a sua produção de
um carro elétrico na Europa. Apesar dos nú- etanol através da construção de mais destila-
meros convincentes, eles podem ser ainda me- rias de milho, algo que provavelmente ocorre-
lhores: basta que as montadoras desenvolvam ria no Brasil, outro grande produtor do grão.
motores otimizados para consumirem etanol, Conclui-se, portanto, que o carro a etanol
aproveitando-se da maior octanagem (ao redor híbrido pode ser uma excelente solução am-
de 120 octanas, contra 80 da gasolina pura) biental, social, fabril e mercadológica, prin-
para aumentarem a taxa de compressão do cipalmente para os países que já dominam a
motor. Aliado à tendência dominante dos mo- produção do combustível em larga escala, co-
tores atuais, que são cada vez menores e con- locando-se como mais uma excelente opção no
tam com turbinas para compensarem a perda cardápio das montadoras aos seus consumido-
de potência advinda da redução de tamanho, o res, cada vez mais ansiosos por novidades em
etanol mostra-se perfeito para ser utilizado em tecnologia automotiva. n

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Q transição energética
Índice

a grama do vizinho não é mais verde que a nossa


A expressão do momento é a transição Surpreendem-me as discussões que surgem
energética. Mas, afinal, o que realmente se a todo instante quanto às novas iniciativas
busca com essa transição? Contribuir para o para energia limpa no Brasil: carros elétri-
clima é fundamental, mas é preciso ir além, cos, hidrogênio verde, ampliação da geração
é preciso ter economicidade, considerar a se- de energia solar, eólicas offshore e por aí vai
gurança energética do País e se avaliar a de- ... O clamor é constante: precisamos de pro-
pendência tecnológica que será criada pela gramas de incentivo! Precisamos de mais
escolha desse ou daquele caminho. A transi- pesquisas! As empresas públicas e o gover-
ção energética tem sido mencionada em to- no precisam se engajar e direcionar recur-
dos os discursos oficiais e incluída de forma sos! Tem momentos em que penso estar na
obrigatória na pauta de todas as empresas, China, ou no Japão, ou na Califórnia, ou na
porém as perguntas que não querem calar são: Europa ameaçada pelo gás natural russo...
qual será o caminho a ser seguido? Vamos Não me entendam mal, não sou contrário ao
aderir às iniciativas desenvolvidas mundo desenvolvimento e à implementação dessas
afora ou vamos aproveitar as nossas peculia- tecnologias no Brasil; meu ponto é apenas
ridades e as nossas vantagens competitivas? relativizar a importância e a prioridade que
Seremos locomotiva ou vagões? deve ser dada a elas, levando-se em conside-
O ano de 2022 foi marcado pelo avanço da ração o estágio em que os biocombustíveis
energia renovável no Brasil. O País ultrapas- se encontram no Brasil.
sou a marca de 92% de participação de usinas
hidrelétricas, eólicas, solares e de biomassa no
total gerado pelo SIN – Sistema Interligado
Nacional, o maior percentual dos últimos 10
anos. O Brasil já tem uma matriz energética
diversificada, estamos à frente de quase to-
dos os outros países; as metas de diversifi-
cação que os demais países levarão décadas
para atingir nós já atingimos hoje. A ques-
tão, mais uma vez, não é como faremos a
transição, ela já foi feita, mas sim como nos
aproveitaremos dela.

Qual será o caminho a ser


seguido? Vamos aderir às
iniciativas desenvolvidas mundo
afora ou vamos aproveitar as
nossas peculiaridades e as
nossas vantagens competitivas?
Seremos locomotiva ou vagões? "

Jucelino Oliveira de Sousa


Presidente do Conselho da Bevap BioEnergia
e Conselheiro na Usina Santa Adélia,
Aroeira Bioenergia e Alesat

24
Opiniões
Estudos indicam que o consumo de bio- parece, no médio e longo prazo, ser essa uma
combustíveis vai quadruplicar até 2050 em aposta muito sensata a ser feita. Em outros
todos os cenários avaliados, seja na limitação países, o boom dos carros elétricos foi impul-
de aquecimento global ou na velocidade de sionado por políticas agressivas dos governos
penetração da eletrificação. Ora, se existe ta- locais, que ofereceram benefícios fiscais aos
manho potencial, se temos a maior vantagem compradores; algo assim é impensável no
competitiva no mundo quanto à produção Brasil, pelos problemas econômicos e fiscais
de produtos agrícolas, se temos o domínio do País. É inacreditável que pelo menos sete
da tecnologia na produção, se temos a maior estados brasileiros já tenham uma legislação
infraestrutura instalada na logística e abaste- que permita abater ou isentar a cobrança de
cimento de biocombustíveis, por que o etanol IPVA para veículos elétricos e híbridos, ou
aparece de forma tão tímida, e às vezes nem que, pasmem, em São Paulo, os elétricos não
aparece, nas discussões de transição energé- precisam seguir o rodízio. A quem interessa
tica no Brasil? esses incentivos? Ao meio ambiente certa-
A cana-de-açúcar tem potencial para ser mente não, pois, se assim fosse, iguais ini-
até 10x mais eficaz que as células fotovoltai- ciativas estariam sendo feitas em benefício
cas (energia solar) em potencial de descar- ao etanol, igualmente limpo e disponível em
bonização por hectare de terra no futuro, em larga escala. A propósito, seguindo essa lógi-
países de clima tropical. Existem inúmeros ca, a venda de gasolina deveria ser proibida
desafios tecnológicos e econômicos para que nas grandes metrópoles brasileiras.
isso aconteça, porém eles não são maiores Os desafios no Brasil para os carros elé-
que os outros desafios, que as demais tecno- tricos são imensos: O alto preço dos veícu-
logias de geração de energia limpa precisarão los, devido ao custo das baterias (que só se
enfrentar. A produtividade agrícola da cana tornarão mais baratas através de avanços na
pode chegar a 90 t/ha até 2030; com irrigação química, e não sabemos quando e se aconte-
e melhorias na fertilização, o melhoramento cerão), e a implantação de uma vasta infraes-
genético e a biotecnologia podem elevar esse trutura de recarga são alguns deles. Conve-
patamar para 150 t/ha. Diversos projetos em nhamos, num país onde ainda temos regiões
andamento prometem aumentar entre 10% a sem energia elétrica, faz sentido investir-
15% a eficiência no processo de fermentação, mos em instalações de recarga para Volvos,
aumentando a produção de etanol por tone- Toyotas e Porshes?
lada de cana. Pesquisadores recentemente Outro queridinho da vez é o hidrogênio
descobriram como aumentar em até 120% a verde. Sua demanda vai ganhar força com a
sacarificação do bagaço da cana-de-açúcar ao aplicação, principalmente em setores de alta
longo de 12 meses. A descoberta vai reduzir intensidade energética. A Europa é o merca-
significativamente os custos de produção do do de H2V que mais cresce, principalmente
E2G. Enfim, as oportunidades de aumento devido à fragilidade demonstrada frente à
de produtividade em todas as etapas de pro- dependência do gás natural da Rússia. Me-
dução do etanol são infinitas e atingíveis em tas ambiciosas de implantação do H2V tam-
curto e médio prazo. bém estão em alta nos EUA, reforçadas pelos
Muito se fala dos carros elétricos, que, compromissos do presidente Biden de forne-
sem dúvida, já são uma realidade no mundo, cer incentivos para as energias renováveis.
porém, numa rápida análise, ainda parecem O Brasil está bem posicionado para se tor-
algo meio sem sentido para o nosso País. A nar um dos principais agentes do mercado
adesão aos carros elétricos ainda não é pa- na produção de H2V, liderando indicadores
ra todos e isso se deve, em grande parte, ao de competitividade vs custo devido a uma
preço cobrado por esse futuro sustentável. matriz energética limpa, uma grande capa-
Atualmente, o carro elétrico mais barato à cidade instalada de energia eólica e solar e
venda no País pode ser encontrado por R$ uma sólida infraestrutura de portos e fer-
160 mil, enquanto os lançamentos mais re- rovias. Contudo, existem enormes desafios.
centes passam de R$ 400 mil. O modelo mais Para que o mercado de H2V de fato deslan-
caro, da marca Porsche, não sai por menos de che e ganhe escala, existem pelo menos seis
R$ 1 milhão. Num país onde a grande maio- gargalos importantes : 1) a tecnologia dispo-
ria de carros são os ditos populares, não me nível atualmente ainda é bastante restrita; ;

25
Q transição energética
Índice

2) o apoio governamental é desigual em to-


do o mundo; 3) as infraestruturas existen-
tes precisam evoluir; 4) os custos de pro-
dução ainda são elevados; 5) as técnicas de
transporte e armazenagem são deficientes;
6) a alta perda de energia durante todas as
etapas da cadeia de produção e transporte.
Enfim, tecnologia promissora que certamen-
te terá lugar de destaque no futuro, porém
está longe de ser algo próximo e palpável pa-
ra a realidade brasileira.
Recentemente, importantes empresas
anunciaram a criação de uma joint venture
com o objetivo de desenvolver e comerciali-
zar uma nova tecnologia de Combustível Sus-
tentável de Aviação (SAF, na sigla em inglês),
que usará etanol como matéria-prima. O SAF,
que usa matéria-prima não petrolífera, é uma
alternativa de baixo carbono ao combustível
de aviação tradicional, que oferece até 85%
menos emissões de gases de efeito estufa,
ou seja, mais um mercado gigantesco que se
abre para o etanol.
Somando-se todo o potencial de aumento
de produtividade agrícola e industrial com a
possibilidade de novas usinas, mais o etanol
de 2ª geração, mais a produção de biogás,
mais a oportunidade de extração de hidro-
gênio das moléculas do etanol, mais o etanol
de milho, não seria um disparate dizer que o
etanol deveria estar na vanguarda da agen-
da política e ambiental quando falarmos de
transição energética no Brasil.
Antes de importarmos aerogeradores e
placas solares da China, carros elétricos dos
EUA e da Europa, pagarmos royalties pelas
tecnologias de produção e armazenagem de
H2V, vamos olhar com carinho para o setor
sucroenergético, começando pela simples
ação de se avaliar antecipadamente os impac-
tos catastróficos que uma mera desoneração
tributária de combustíveis fósseis ou uma re-
visão atabalhoada das metas anuais de CBios
podem causar ao setor. Recentemente, o no-
vo presidente da Petrobras disse que a esta-
tal vai investir em transição energética, que,
dentro de 10 anos, o mundo não terá nem a
mesma logística, nem a mesma relação de
consumo com o setor de petróleo e energia, e
vinculou ao desenvolvimento tecnológico es-
sa mudança nas fontes de geração de energia.
Meu caro amigo Jean Paul, olhe com carinho
para o setor sucroenergético, a solução está
aqui, ao alcance do País; a grama do vizinho
não é, e nunca será, mais verde que a nossa. n

26
Opiniões
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Q a internacionalização do etanol combustível
Índice

liderança internacional do Brasil


para promoção da bioenergia
Durante meu período à frente do Ministério e Energia do Brasil, com a participação da Em-
de Minas e Energia, buscamos aprofundar e es- presa de Pesquisa Energética - EPE, de comi-
treitar as relações internacionais. O País, hoje, tiva brasileira de dirigentes empresariais do
ocupa posição de destaque junto à Agência In- setor sucronergético (Unica, Apla, Exal, Foro
ternacional de Energia e é um importante ator Sucroenergético, Copersucar, Bunge/BP) e
na agenda da produção sustentável de energia. automotivo (Volkswagen, Toyota, Stelantis e
Em janeiro de 2020, em missão de Estado Abraciclo/Yahama), e da Petrobras.
para a Índia, foram assinados três memorandos Fruto de uma agenda bem organizada, fo-
de entendimento nos setores de energia e mi- ram realizadas reuniões e troca de informações
neração. Nos anos subsequentes, por meio das entre os produtores de etanol e a indústria au-
equipes técnicas, apesar da pandemia da Co- tomotiva, tendo como principais resultados a
vid-19, foram discutidas e intensificadas as pos- colaboração entre Brasil e Índia na redução do
sibilidades de cooperação entre os dois países. consumo de água para produção do biocombus-
O amadurecimento do diálogo e a vontade polí- tível, no aprimoramento do desenvolvimento
tica levaram, em abril de 2022, à realização de tecnológico de etanol de segunda geração e no
uma missão liderada pelo Ministério de Minas desenvolvimento da plataforma de mobilidade
sustentável com a valorização da bioenergia.
Destacou-se, na oportunidade, a importância
da política nacional de biocombustíveis do Brasil
(RenovaBio), que permitirá evitar as emissões
de 670 milhões de toneladas de dióxido de car-
bono equivalente, de 2020 até 2030, e como
essa política de Estado possibilita a melhora da
eficiência energético-ambiental das usinas de
etanol, atraindo investimentos e gerando em-
pregos e renda. Os representantes do setor auto-
motivo brasileiro compartilharam a experiência
nacional com utilização de 27% de etanol na ga-
solina, as vantagens do etanol como booster de
octanagem e quais as adaptações foram necessá-
rias para utilização do biocombustível.

A continuidade das tratativas


entre o Brasil e a Índia e a
cooperação entre as autoridades
governamentais e as empresas pri-
vadas estão impulsionando a
bioenergia como uma das soluções
para a mobilidade sustentável. "

Bento Albuquerque
Consultor Especialista Defesa, Energia e Mineração

30
Opiniões
cia externa de 85% do petróleo, sendo muito
relevante para a segurança energética reduzir
a utilização de combustíveis fósseis, bem como
para a melhoria da qualidade do ar.
Balança comercial Brasil-Índia no se-
tor de energia: A Índia é o quinto parceiro
comercial brasileiro no mundo, com volume
total de exportações e importações, em 2021,
de US$ 11,53 bilhões. As exportações totalizam
US$ 4,80 bilhões, sendo 47% de petróleo, 16%
de gorduras e óleos vegetais e 13% de ouro. As
importações representam US$ 6,73 bilhões,
sendo de combustíveis (principalmente diesel)
com 20%, compostos orgânicos e inorgânicos
Reunião da delegação lideradas pelo Ministro Bento com 13%, assim como inseticidas e fungicidas
Albuquerque, pelo Brasil, e o Ministro Hardeep Sing com 8,4%, dentre outros. Esses dados, aliado
Puri, pela Índia, para promover a integração ener- às características de complementaridade entre
gética sustentável dos dois países. as duas economias, demonstram o potencial de
crescimento nas relações comerciais e empre-
O esforço realizado permitiu a continuidade sariais entre os dois países.
das tratativas e, neste ano de 2023, tivemos um Aliança Brasil-Índia em bioenergia:
pavilhão dedicado exclusivamente ao etanol A adoção de etanol na gasolina pela Índia per-
na Auto Expo Motor Show 2023, principal e mite o aumento da octanagem do combustível
maior salão de automóveis da Ásia, com a par- comercializado naquele país, o maior equilí-
ticipação destacada da UNICA, pelo Brasil, e da brio do mercado de açúcar pela redução da
SIAM – Society of Indian Automobile Manu- oferta desse produto, a redução das emissões
facturers, pela Índia de gases do efeito estufa e da dependência ex-
Dessa forma, a partir das relações interna- terna de petróleo, proporcionando segurança
cionais conduzidas com planejamento e previ- energética e maior sustentabilidade à sua ma-
sibilidade, o Brasil e seus parceiros estão cons- triz energética.
truindo uma solução de mobilidade sustentável Perspectivas para o Futuro: A aliança
para o hemisfério sul e norte, em que um dos Brasil-Índia permitirá:
alicerces é a bioenergia. a) Desenvolver metodologia harmonizada de
Importância dos biocombustíveis pa- análise de ciclo de vida do poço à roda para ava-
ra Brasil e Índia: O Brasil é um dos maiores liação da mobilidade sustentável, cuja impor-
produtores e consumidor de biocombustíveis. tância foi materializada na criação do Programa
Em 2021, foram evitadas emissões de 24 mi- Combustível do Futuro, criado pelo Conselho
lhões de toneladas de CO2eq pela substituição Nacional de Política Energética em 2021;
de combustíveis fósseis por biocombustíveis. b) Avanços na tecnologia flex-fuel e híbridos
Considerando o mercado automotivo, em que flex, dado que os desenvolvimentos tecnológicos
ocupa o oitavo maior mercado de veículos leves não ficariam restritos ao Brasil, juntando dois
e o quarto maior mercado de veículos pesados, importantes centros de produção de veículos;
onde são flex fuel, 94% dos veículos de passeio c) Aumento da produtividade da cana-de-açú-
e 51% dos veículos comerciais, o País se apre- car pelo compartilhamento das experiências e
senta como um importante vetor da transição das variedades dos dois países;
energética da mobilidade de baixo carbono d) Combustíveis sustentáveis de aviação (SAF),
para o mundo. que é uma importante fronteira para a indús-
Já a Índia, como terceiro maior mercado tria de açúcar e etanol, dado que podemos pro-
de combustíveis do mundo, sendo o segundo duzir, no Brasil, 9 bilhões de litros por ano, fora
maior produtor de açúcar e o quarto maior um potencial gigantesco na Índia;
mercado de veículos, tem os biocombustíveis e) Etanol de segunda geração, com os dois paí-
como um alicerce para a descarbonização da ses juntando esforços para aumentar a oferta
sua matriz de transporte. A gasolina no país, de etanol, sem haver aumento de área plan-
hoje, tem 10% de etanol e estará progredindo tada, e
para uma mistura de 20% a partir de 2023. Im- f) Células a combustível, em que o etanol e o
portante destacar que o país possui dependên- biometano serão as fontes de hidrogênio. n

31
Q a internacionalização do etanol combustível
Índice

India: a hora é agora


'

“No que se refere a etanol na Índia, a hora é que representa 85% do seu consumo, além de
agora!”. Foi com essas palavras que o influente outros desafios que podem ser endereçados di-
ministro de Petróleo e Gás indiano, Hardeep retamente pelo uso do etanol: é o terceiro país
Puri, encerrou seu discurso na inauguração ofi- que mais emite gases de efeito estufa, tendo
cial do “Pavilhão do Etanol” no Salão do Auto- ainda 63 de suas cidades dentre as 100 mais
móvel indiano, o Auto Expo Motor Show, um poluídas do mundo, segundo o site IQAir, no
dos maiores eventos dessa natureza na Ásia. ano de 2021. Além disso, é o segundo maior
Com mais de 3 mil metros quadrados dedi- produtor de cana-de-açúcar, matéria-prima
cados ao combustível mais limpo do mundo, o mais utilizada no planeta para a produção do
pavilhão apresentou, a mais de um milhão de etanol.
indianos que visitaram a feira no início de ja- Cabe destacar que essa transformação vai
neiro deste ano, os primeiros modelos de mo- muito além das palavras do ministro. De fato,
tos e carros flex produzidos no país, uma novi- em 2014, o nível de mistura do etanol na ga-
dade na região. solina era de apenas 1,5%. Em 2022, essa mis-
Apesar de tardiamente, a Índia reúne todos tura atingiu os 10%, e o governo já anunciou
os motivos que justificam a adoção dessa tecno- que a mistura deverá atingir 20% até 2025. Ou,
logia com o uso do etanol, a começar pela sua sig- colocando essa evolução em valores absolutos,
nificativa dependência de petróleo importado, a aquisição de etanol pelas distribuidoras de
combustíveis indianas saiu de 380 milhões de
litros na safra 2013-14, para impressionantes
4,5 bilhões de litros em 2021-22; ou seja, um
aumento de quase 12 vezes em apenas 8 anos!
E, de acordo com dados do NITI Aayog, uma
think thank de políticas públicas do governo
indiano, a necessidade estimada de etanol para
mistura de 20% de etanol na gasolina será de
10 bilhões de litros por ano para o período en-
tre 2024 e 2026. Como se vê, há um mercado
promissor, que irá gerar emprego e renda, ao
mesmo tempo que reduzir emissões.

A Índia é o terceiro país


que mais emite gases de
efeito estufa no mundo,
tendo ainda 63 de suas
cidades dentre as 100
mais poluídas
do mundo "

Eduardo Leão de Sousa


Diretor executivo da Unica

32
Opiniões
Para complementar, o E20 já começou a ser configura como a região mais dinâmica do pla-
oferecido, ainda de forma experimental, em neta e, portanto, com demanda crescente por
postos de combustíveis em 15 cidades do país, energia.
com expansão progressiva para toda a região Nesse sentido, é importante lembrar que,
nos próximos dois anos. Inicialmente, o E20 em 2023, a Índia irá sediar a reunião do G20
estará disponível em 84 bombas de gasolina de (grupo que reúne as 20 maiores economias glo-
três varejistas de combustível estatais, em 11 bais) e já sinalizou que o etanol deverá ser uma
estados/territórios da União. das estrelas nas discussões referente à mudan-
O compromisso com que a Índia abraçou o ça climática. No próximo ano, caberá ao Brasil
Programa do Etanol, colocando em marcha ca- presidir o G20, e será uma excelente oportuni-
da etapa, antes mesmo do prazo planejado, é dade de dar continuidade a esse processo, for-
um caso de sucesso de como governo, setor pri- mando uma “dobradinha” eficaz nessa agenda.
vado e instituições públicas, olhando estrate- O mundo clama por energia, e a atual guerra
gicamente para o mesmo objetivo, podem ala- na Europa nos mostra os riscos da dependência
vancar transformações significativas no país. da concentração de fontes energéticas (gás) e
Em relação ao futuro, a expectativa é a de de origem do fornecimento (Rússia). Sabemos
que possamos fortalecer cada vez mais essa que a transição energética por meio dos bio-
cooperação, engajando países produtores e combustíveis é uma grande oportunidade pa-
consumidores do biocombustível. Brasil e Ín- ra criar e modernizar indústrias, impulsionar
dia são duas grandes economias em desenvol- a inovação tecnológica, atrair investimentos e
vimento, onde a agricultura forma a espinha gerar empregos de alta qualidade – tudo isso
dorsal de suas respectivas economias. Sendo contribuindo para o desenvolvimento susten-
países tropicais, os dois maiores produtores tável e para a qualidade de vida das futuras ge-
de cana-de-açúcar do mundo estão, portanto, rações ao redor do mundo.
bem posicionados para liderar, juntos, o eta- Por ser um produto renovável, o etanol
nol como uma commodity global e preparar o pode ser produzido, de forma sustentável e
caminho para um novo mercado internacional competitiva, em mais de 100 países ao redor do
que favoreça, em primeiro lugar, os países em mundo, principalmente nas regiões tropicais e
desenvolvimento. Particularmente, o protago- subtropicais, e ser uma efetiva alternativa de
nismo geopolítico da Índia na Ásia deverá ser descarbonização, um dos maiores desafios des-
chave para estimular o seu uso nessa que se te século. n

33
Q sistema bioenergético brasileiro
Índice

perspectivas e desafios para a


próxima década
O Brasil é reconhecidamente um país com Após um longo tempo de convivência dos
alta participação da energia renovável em carros movidos a etanol, e alguns percalços,
sua matriz energética. O que poucos lem- a indústria automotiva lançou, em 2003, a
bram é que quase 30% da renovabilidade da tecnologia flex fuel, que facultava ao pro-
nossa matriz energética vem da biomassa. prietário do veículo o uso de gasolina, eta-
E essa situação deve perdurar e até se am- nol ou a mistura dos dois em qualquer pro-
pliar para os próximos anos. Isso porque porção, o que impulsionou o consumo desse
a diversidade e a renovabilidade da matriz biocombustível no Brasil. No começo dos
energética nacional não apenas são um dos anos 2000, foi lançado o programa nacio-
atributos que contribuem para a segurança nal de produção e uso de biodiesel (PNPB),
energética do Brasil, mas também porque
as políticas voltadas ao incentivo da bio-
energia têm inúmeras interfaces positivas
com nossas ambições de descarbonização
da economia e desenvolvimento socio-
econômico.
Políticas públicas de incentivo ao uso de
bioenergéticos, entretanto, não são novida-
de no cenário brasileiro. De fato, elas estão
presentes desde a década de 1970, com a
instituição do Proálcool, que visava à substi-
tuição de parte da gasolina no ciclo Otto, por
questões econômicas e de segurança ener-
gética, seguida do lançamento, pela indús-
tria automobilística, de motores a etanol.

Os sistemas bioenergéticos
são fundamentais para
atingir o objetivo de reduzir
as emissões de gases de
efeito estufa (GEE) e as suas
consequentes influências nas
mudanças climáticas. "

Heloisa Borges Bastos Esteves


Diretora de Estudos do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis da EPE -
Empresa de Pesquisa Energética

34
Opiniões
sendo transformados em biogás, com gran-
des perspectivas para geração de energia
elétrica, ou mesmo para uso em motores a
combustão interna.
Uma grande vantagem do sistema bio-
energético construído no Brasil é que, pelas
nossas condições edafoclimáticas favo-
ráveis e extensa disponibilidade de terra,
os sistemas foram concebidos como siste-
mas integrados de produção de alimentos
e energia, permitindo um planejamento
que potencializa as vantagens, tanto para
a produção de energia quanto para a pro-
dução de alimentos. De fato, nos últimos
anos, as produtividades das culturas que
fornecem a matéria-prima para a bioener-
gia vêm aumentando significativamente,
o que permitirá, no futuro, menor uso de
área agricultável.
O Plano Decenal de Expansão de Energia
2032 (PDE 2032), elaborado pela Empresa
com mandatos de substituição compulsória de Pesquisa Energética, empresa vinculada
de parte do diesel fóssil, que tinham por ob- ao Ministério de Minas e Energia, indica
jetivo inserir esse biocombustível de forma que a oferta total de etanol alcançará 47 bi-
sustentável na matriz energética brasileira, lhões de litros em 2032, com destaque para
com enfoque na inclusão social e no de- o aumento da representatividade do etanol
senvolvimento regional. Finalmente, já na de milho (que atinge cerca de 20% da oferta
segunda década do século XXI, foi lançado total, chegando a 9 bilhões de litros no final
o RenovaBio, política que visa estimular a da década).
fabricação e o uso de biocombustíveis, pre- A cana permanecerá como insumo prin-
miando os produtores mais eficientes, com cipal para a produção do etanol e, com isso,
uma visão mais ampla da importância es- os resíduos dessa cultura poderão ser uti-
tratégica da bioenergia na estratégia de des- lizados para a expansão de geração de bio-
carbonização brasileira. eletricidade, inclusive com a incorporação
Como se vê, os resultados que apresen- de palhas e pontas, o que permite que seja
tamos hoje são fruto de um longo e consis- atingido o patamar de 4,1 GW médios (com
tente processo, que vem sendo aprimorado, potencial técnico para comercialização de
cada vez mais, para que outros biocombus- até 6 GW médios em 2032).
tíveis (como biogás, bioquerosene de avia- O biogás do setor sucroenergético terá
ção e biocombustíveis avançados) possam uma inserção cada vez maior no futuro.
também fazer parte da cesta de energéti- Versátil, o biocombustível pode ser desti-
cos de baixa emissão de carbono na matriz nado à geração elétrica em substituição ao
energética. diesel ou, ainda, misturado ao gás natural
Não obstante o destaque de o sistema fóssil nas malhas de gasodutos. Estima-se
bioenergético no Brasil, atualmente, ser o que o potencial de produção de biogás, em
setor de transporte (com preponderância 2032, seja de 35 bilhões de Nm³ (19 bilhões
do etanol e o biodiesel), a bioeletricidade de Nm³ de biometano), oriundos da vinha-
gerada com os resíduos das culturas energé- ça e da torta de filtro e das palhas e pontas
ticas também constitui importante produto da cana-de-açúcar.
dentro do portfólio do sistema bioenergéti- Para o biodiesel, os cenários de referên-
co. Além da geração de eletricidade a partir cia indicam que o óleo de soja permanece
do bagaço de cana, do cavaco de madeira e como a principal matéria-prima nos próxi-
da palha de arroz, outros produtos, como a mos anos e que a demanda por esse biocom-
palha e ponta da cana e a lixívia, já estão bustível atinja 12 bilhões de litros em 2032. ;

35
Q sistema bioenergético brasileiro Opiniões
Índice

Entretanto, o desenvolvimento de outras • Assegurar uma vida saudável e promover


culturas promissoras, como a palma e a ma- o bem-estar para todos, em todas as idades;
caúba, altamente produtoras de óleos, sur- • Assegurar o acesso confiável, sustentável,
ge como potenciais insumos a serem agre- moderno e a preço acessível à energia para
gados às matérias-primas para a produção todos;
nacional de biodiesel. • Tornar as cidades e os assentamentos hu-
É importante avançarmos nas iniciati- manos inclusivos, seguros, resilientes e sus-
vas para criar políticas públicas e aprofun- tentáveis;
dar o conhecimento sobre os combustíveis • Construir infraestruturas resilientes, pro-
sustentáveis de aviação e combustíveis de mover a industrialização inclusiva e susten-
baixo carbono para o transporte marítimo. tável e fomentar a inovação;
Espera-se que, em 2032, a participação de • Assegurar padrões de produção e de con-
mercado desses biocombustíveis seja cerca sumo sustentáveis;
de 2% da demanda total de combustíveis de • Tomar medidas urgentes para combater a
aviação, mas ainda há espaço para avançar- mudança climática e seus impactos;
mos mais e mais rápido. E, ainda, além de • Proteger, recuperar e promover o uso sus-
todos os programas atualmente em curso, tentável dos ecossistemas terrestres, gerir
um grande desafio é pensar uma nova con- de forma sustentável as florestas, combater
figuração do setor bioenergético, na qual as a desertificação, deter e reverter a degrada-
usinas, hoje produtoras de biocombustíveis ção da terra e deter a perda de biodiversi-
e outros coprodutos, se integrem ainda mais dade.
em um novo sistema. Esse arranjo de bior- Os sistemas bioenergéticos são funda-
refinarias produzirá, além da energia, molé- mentais para atingir o objetivo de reduzir
culas-base que possam substituir ou servir as emissões de gases de efeito estufa (GEE)
de insumos a uma grande cadeia integrada, e as suas consequentes influências nas mu-
como a indústria de cosméticos, alimentos danças climáticas. A posição privilegiada
e fármacos, impulsionando a bioeconomia. do Brasil quanto à renovabilidade dos seus
Como última mensagem, reforço que o recursos energéticos em relação ao restan-
caminho para a bioeconomia e a transição te do mundo é uma vantagem comparativa
energética no Brasil abre perspectivas cla- para liderar as ações rumo ao desenvolvi-
ras para avançar em pontos importantes mento sustentável, o combate às mudanças
entre os 17 listados como Objetivos de De- climáticas e a inovação tecnológica, condi-
senvolvimento Sustentável (ODS) propos- cionantes básicos para a rota da transição
tos pela Organização das Nações Unidas energética.
(ONU), com destaque para: Esse é o nosso desafio, essa é a nossa meta. n

36
Q macrovisão estratégica
Índice

se olharmos para um futuro mais distante,


abrem-se ainda mais portas para a cana

Não temos dúvida da importância que sis- de etanol, por exemplo, pela utilização de car-
temas integrados de produção de alimentos e ros com motor híbrido a etanol, como já ocorre
energia, como o da cana-de-açúcar, terão no hoje em modelo do fabricante Toyota, sendo
esforço mundial de descarbonização, hoje uma esse modelo, aliás, o que apresenta a melhor
prioridade mundial. performance disponível em emissão de gases
Não obstante o hemisfério norte estar partin- do efeito estufa (GEE), como revelou uma aná-
do para a adoção do carro elétrico em massa, no lise feita pela Unica – União da Indústria de
Brasil, teremos, devido a uma série de fatores, Cana-de-Açúcar e Bioenergia.
ainda por um longo tempo, a supremacia dos Um veículo híbrido flex abastecido com eta-
veículos flex fuel na frota leve. nol emite, do poço à roda, apenas 29 g CO2/km,
Mas mesmo com a predominância na maior ao passo que um veículo elétrico a bateria emite
parte do mercado global de veículos elétricos, 37 g CO2/km, nas condições do grid brasileiro,
com repercussões inevitáveis no padrão do com alta participação de fontes renováveis na
mercado brasileiro no longo prazo, o conceito matriz de energia elétrica brasileira. Essa dife-
de eletrificação pode ser combinado com o uso rença tende a ser ainda mais representativa fora
do mercado brasileiro, sendo que, na Europa
um veículo elétrico a bateria emite, em média,
54 g CO2/km.
Além disso, estão atualmente em estágio de
desenvolvimento outras possibilidades de com-
binação entre etanol e veículos elétricos, como
uso das tecnologias de célula de combustível a
etanol. Nessas células, a eletricidade é quimica-
mente extraída da molécula de álcool para ala-
vancar os motores elétricos dos veículos, que
são mais eficientes que os motores a combustão.

Um veículo híbrido flex


abastecido com etanol
emite, do poço à roda,
apenas 29 g CO2/km, ao
passo que um veículo elétrico a
bateria emite 37 g CO2/km "

Alexandre Enrico Silva Figliolino


Consultor-sócio da MB Agro e
Consultor da XP para agronegócio

38
Opiniões
EMISSÕES DE DIFERENTES MOTORES E COMBUSTÍVEIS A oportunidade de protagonismo do
(EM GRAMAS DE CO2 POR KM RODADO) etanol fica mais nítida ainda, no entanto,
155
quando ele pode ir além do uso em veícu-
131
los leves. A Europa, por exemplo, preten-
de estabelecer um mandato obrigatório
94 de 2% de biocombustível no querosene
80
54
de aviação a partir de 2025.
37 35 Outro fato extremamente auspicioso
29
foi o etanol de cana-de-açúcar produzido
100% Gasolina Híbrido Híbrido Elétrico 100% Elétrico Híbrido no Brasil ser reconhecido pela Agência
gasolina brasileira
(27% de
com com
gasolina gasolina
com
matriz
etanol
flex
com matriz com
energética 100% Ambiental Americana (EPA) como sus-
etanol) 100% brasileira energética
europeia
brasileira etanol
(híbrido tentável para a produção de bioquerose-
flex)
ne de aviação. Se, hoje, o etanol é utili-
zado como substituto da gasolina, no fu-
FROTA DE VEÍCULOS LEVES - 2023 - 2032 turo, poderá servir como plataforma para
(MILHÕES DE VEÍCULOS) a produção de combustíveis sustentáveis
para aviação (SAF, na sigla em inglês).
Flex Fuel Etanol Gasolina 53,1
Híbrido Elétrico CL Diesel 48,9
50,9 Uma destilaria no estado da arte con-
Total
43,7
45,2
47,0
segue fabricar, já nesta década de 2020,
42,3
40,0 40,5 41,3 uma grande variedade de produtos bio-
energéticos. Entre eles, destacam-se o
etanol de primeira geração (1G), prove-
niente da fermentação do caldo da cana-
-de-açúcar, e o etanol de segunda geração
31,0 31,6 32,4 33,4 34,6 35,9 37,4 38,9 40,5 42,1
(2G), advindo da fermentação dos pro-
dutos lignocelulósicos da cana-de-açúcar
(bagaço e palha), que substituem perfei-
tamente a gasolina. Ela ainda gera bio-
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 metano, oriundo da purificação do biogás
obtido da vinhaça residual e substituto
do gás natural, e pellets de lignina, prove-
PARTICIPAÇÃO NA FROTA CICLO OTTO (%) nientes da parte residual não fermentá-
vel do material lignocelulósico destinado
Flex Fuel Etanol Gasolina Híbrido Elétrico
% à produção do etanol 2G e um biocom-
100 0,4 0,6 0,8 1,1 1,3 1,6 2,0 2,3 2,6 2,9
bustível sólido de interesse do mercado
% % % % % % % % % % europeu, sobretudo para reduzir a neces-
95
10,7 9,8
sidade de queima de carvão mineral. E
12,6 11,6 9,1 8,5 7,9 7,4
14,9 13,8
% % % % % % % % % também produz bioeletricidade, gerada
90 %
a partir do excedente da geração terme-
85
létrica com o bagaço da cana-de-açúcar
não usado na produção de etanol 2G,
88,4 88,9 89,0
80 83,8 84,9 85,9 86,7 87,4
%
87,9
% %
88,7
% % % que, despachável, pode substituir a fon-
%
% % %
te marginal entrante no grid brasileiro –
75
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032
por exemplo, o gás natural.
Em 2030, o aumento da eficiência de
descarbonização, em comparação com o
Isso pode aumentar, de modo disruptivo, a eficiência cenário de 2020, virá por ganhos de pro-
do uso do etanol enquanto fonte de energia. dutividade agrícola e pela implementação
Em outras palavras, o etanol, que já é uma solução de tecnologias de captura e armazena-
competitiva para descarbonização de veículos leves, mento de CO2 (BECCS) e reforçará mui-
pode ter seu uso com eficiência muito maior no futu- to essa cesta. E, se olharmos para um fu-
ro. Pelo elevado teor de hidrogênio contido no etanol, turo mais distante, abrem-se ainda mais
levamos uma grande vantagem em relação ao resto do portas para a cadeia de valor da cana-de-
mundo, pois o Brasil já possui instalada a maior rede -açúcar brasileira. É que a biotecnologia
de distribuição do planeta, através dos mais de 41.700 deverá ter um papel crítico na produção
postos de revenda distribuindo etanol em um país de econômica, e o açúcar é o principal insu-
dimensões continentais. mo para processos biotecnológicos. n

39
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IMPULSIONAR A
PRODUTIVIDADE NO
MERCADO DA CANA.

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de trabalho e o MAIOR vão livre do setor!

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Q transição energética e economia circular
Índice

oportunidades para a bioenergia


A humanidade está presenciando em várias áreas da economia nos próximos anos.
transformações importantes em diversas É nesse contexto que a indústria da bioenergia pode se
áreas da sociedade. Digitalização, inteli- posicionar de maneira efetiva diante das oportunidades
gência artificial, telemedicina, engenha- criadas por esse movimento global.
ria genética, entre outros movimentos, A indústria sucroenergética, que há dez anos ainda
se aceleraram nos últimos anos, especial- presenciava discussões sobre o término da queima da
mente no período pós-pandemia. Dentre palha da cana-de-açúcar, está se reinventando, com
essas mudanças, estão aquelas associadas mudanças importantes no sistema de produção, no
à transição energética e à circularidade portfólio de produtos ofertados e na qualidade am-
dos negócios e dos sistemas de produção. biental dos energéticos comercializados. No passado,
A transição energética se caracteri- a lógica da produção agrícola como fonte de alimen-
za pela necessidade de ampliar a oferta tos foi inicialmente transporta com a fabricação do
de energia com menor emissão de gases etanol a partir da cana-de-açúcar. Nas últimas duas
causadores de efeito estufa (GEE). décadas, a bioeletricidade fabricada a partir da pa-
Essas diretrizes devem ser atendidas lha e do bagaço da cana se consolidou como um novo
com maior eficiência, mudanças nos pa- produto exportado pelo setor.
drões de consumo e substituição das fontes Hoje, além do etanol de cana e da bioeletricidade,
fósseis por combustíveis renováveis de essa indústria conta com a produção de etanol de mi-
baixo carbono. lho de segunda safra, de etanol de segunda geração,
A economia circular, por sua vez, ga- de biogás, de biometano e de créditos de descarbo-
nhou notoriedade a partir do trabalho se- nização. Trata-se de um crescimento expressivo no
minal de David Pearce e Kerry Turner no portfólio de energéticos em apenas uma década. Isso
início da década de 1990. Em linhas gerais, sem contar os inúmeros subprodutos gerados, como
ela preconiza a substituição da economia é o caso da levedura seca, do óleo de milho, do CO2
linear, baseada na extração produção, biogênico e do DDG, por exemplo.
utilização, descarte –, por um sistema Essas mudanças também permitiram ajustes no
econômico que prioriza a preservação e o sistema de produção, ampliando a característica de
aprimoramento do capital natural, a oti- circularidade dos parques de bioenergia. A vinhaça,
mização de recursos e a administração dos que era tida como um problema, passou inicialmente
estoques finitos dos produtos renováveis. a ser utilizada na lavoura com aplicação controlada
Conceitos como reutilização, reciclagem e por aspersão, migrando, em muitos casos, para um
regeneração constituem princípios bási- sistema de aplicação localizada e, nos últimos anos,
cos da economia circular. garantindo a produção de biogás e biometano antes
Essas macrotendências mundiais devem de retornar ao campo. O gás produzido nesse sistema
nortear a dinâmica de consumo, as estra- é utilizado para substituir parte do diesel consumido
tégias empresariais e as políticas públicas no processo produtivo.

É no contexto da transição
energética e da economia
circular que a indústria da
bioenergia pode se posicionar
de maneira efetiva diante das
oportunidades criadas por
esse movimento global. "

Luciano Rodrigues
Diretor de Economia e Inteligência
Estratégica da UNICA e pesquisador do
Observatório de Bioeconomia da FGV/EESP

42
Opiniões
Esse é apenas um dos inúmeros exemplos Além disso, a produção de hidrogênio com
da utilização dos resíduos industriais para am- energia renovável a partir da reforma do eta-
pliar a qualidade e o número de energéticos nol, ou com o uso do biogás, também pode ser
dessa indústria. vislumbrada pela indústria da bioenergia no
No futuro próximo, podemos vislumbrar futuro. De fato, hoje, temos plantas com eletri-
novos avanços importantes. O CO2 obtido na cidade renovável, etanol, biogás e CO2, que po-
fermentação do etanol e na purificação do bio- dem ser utilizados como insumo para a produ-
gás poderá ser alocado no subsolo, a partir de ção de SAF e hidrogênio (figura em destaque).
projetos de captura e armazenamento de car- Cabe ainda destacar que a produção brasi-
bono (projetos de BECCS, da sigla em inglês), leira de biocombustíveis já possui pegada de
permitindo balanço negativo de CO2 na indús- carbono auditada graças às exigências do Re-
tria do etanol. novaBio, permitindo a aferição adequada do
A fabricação de combustível sustentável de potencial de descarbonização de cada planta
aviação (SAF) a partir de etanol pela rota ATJ industrial, garantindo, com isso, a geração de
(alcohol-to-jet), ou a partir da biomassa pela créditos de descarbonização ou CBios.
rota FT (Fischer-Tropsch), também pode tra- Em síntese, a despeito das turbulências polí-
zer oportunidades efetivas ao setor. ticas, regulatórias e de mercado, o setor apresen-
De acordo com a Associação Internacional tou avanços importantes na última década e pos-
de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), sui enorme potencial para se posicionar na van-
serão necessários 450 bilhões de litros de SAF guarda de um movimento mundial irreversível.
para que o setor aéreo alcance as metas de des- Precisamos de aperfeiçoamentos nos mar-
carbonização previstas para 2050. Além das cos legais e no ambiente regulatório, garantir
metas nacionais e voluntárias de redução de previsibilidade e manutenção das regras cria-
emissões na aviação, a resolução do Icao, uma das, valorizar o potencial de descarbonização
das agências das Nações Unidas, definiu que da bioenergia, investir em comunicação e dis-
as emissões de GEE do setor se estabilizem seminar o sistema brasileiro para outras regiões
nos patamares observados em 2019 e criou do mundo com condições semelhantes. Por
o Mecanismo de Redução e Compensação de fim, o setor produtivo precisa manter os esfor-
Emissões da Aviação Internacional (Corsia, ços para ampliar a eficiência energética e am-
na sigla em inglês), com reduções mandató- biental na conversão de luz solar em biomassa
rias a partir de 2027. e em energéticos renováveis de baixo carbono. n
PROCESSOS E ENERGÉTICOS OFERTADOS PELA INDÚSTRIA
Descarbonização
e créditos de carbono
Biomassa,
resíduo Óleo de milho

Etanol milho
DDG 2ª safra

CO2 Food
Grade

Milho de
BECCS
2ª safra CO2
biogênico

Bioeletricidade

Bagaço SAF
e palha
Levedura Etanol 2G

Etanol 1G

Cana-de-
açúcar Vinhaça e torta Biometano
Palha
Biogás
Biofertilizante
Substituição do diesel Hidrogênio

Legenda

Subprodutos Energéticos ofertados atualmente Potencial de processos energéticos para o futuro

43
Q bioeconomia circular
Índice

reafirmando o potencial da energia


da biomassa da cana-de-açúcar
O sistema energético é a base da eco- 1. Segurança: atender à demanda de energia
nomia moderna que possibilita o avan- atual e futura, de forma confiável, resistente e
ço na produção de vários setores e na resiliente, recuperando-se rapidamente de inter-
nossa qualidade de vida. À medida que rupções e gerindo eficientemente fontes domésti-
a população mundial cresce, aumen- cas e importadas, com infraestrutura energética
ta também a demanda por energia. bem distribuída.
O consumo anual global de energia 2. Equidade: fornecer acesso universal à ener-
vem sendo estimado em 580 milhões gia confiável, abundante e barata para uso do-
de terajoules, o equivalente a 13.865 méstico e comercial, inclusive acesso a combus-
milhões de toneladas de petróleo, e tíveis limpos para cozinhar e a um mínimo ne-
aumentará 30%, entre 2000 e 2040. cessário de eletricidade.
Para atender a essa demanda, é es- 3. Sustentabilidade: transição energética para
sencial que o sistema energético seja fontes renováveis, com maior produtividade e
gerido de forma responsável, aumen- eficiência da geração, transmissão e distribui-
tando a disponibilidade com segu- ção, promovendo a descarbonização e a melhora
rança, equidade e, ao mesmo tempo, da qualidade do ar.
reduzindo as emissões de gases de
efeito estufa. Esse tem sido um dos
grandes desafios globais, designado
trilema do sistema energético global:

na conjuntura atual, mais


uma vez a intensificação
do uso de derivados da
cana no sistema bioenergético
apresenta-se como uma das
melhores alternativas
para o Brasil. "

Heloisa Lee Burnquist


Professora de Economia e
Administração da Esalq-USP

44
Opiniões
Uma estratégia de resposta ao tri-
Figura 1: USO DE BIOMASSA EM UMA BIOECONOMIA CIRCULAR
lema é a mudança do paradigma em
direção à bioeconomia circular. A ob-
tenção de energia adicional a partir de
BIOMASSA
fontes renováveis e locais, a intensifi- (carbono)

cação e o aumento do aproveitamento


do recursos, até se chegar ao ideal: em
que tudo que seja descartado em uma
etapa da produção possa ser aprovei-
tado por outra. Avanços tecnológicos,
políticas e mudanças de atitudes são PRODUTO
fundamentais para isso, como mostra
a Figura 1.
A bioeconomia baseia-se na ideia de
Figura 2: COMÉRCIO DE ENERGIA COMO PERCENTUAL DO USO
que fontes de energia renováveis po- TOTAL, SEGUNDO A RENDA DOS PAÍSES; 2017 (valores positivos
dem ser usadas para criar um fluxo cir- exportadores líquidos; negativo: importadores líquidos)

cular de energia, materiais e nutrien- RENDA MÉDIA ALTA


tes, formando um sistema de circuito
fechado, permitindo que sejam usados RENDA MÉDIA INFERIOR

várias vezes. Essa abordagem de pro-


dução de energia é muito mais susten- BAIXA RENDA

tável e eficiente que sistemas lineares RENDA MÉDIA INFERIOR


(aquisição-produção-uso-descarte),
com recursos finitos, como os com- RENDA ALTA

bustíveis fósseis. Além disso, as fontes -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6

de energia renováveis emitem menos, Fonte: wits.worldbank.org Comércio de Energia como % do uso total

ajudando a reduzir a poluição do ar e


outros impactos ambientais. O empre- Figura 3: MIX PERCENTUAL DE OFERTA
DE ENERGIA SEGUNDO A FONTE:
go de energia renovável é economica- BRASIL - 2020
mente mais eficiente, envolvendo me- Renováveis Não Renováveis
nores custos na produção de energia. (48,4%) (51,6%)
Avanços tecnológicos têm viabi- Biomassa de Hidro Óleo e Gás Natural
lizado a incorporação de uma gama cana (12,6%) Derivados
(33,1%)
(11,8%)
(19,1%)
diversificada de fontes energéticas re-
nováveis e com baixos impactos am-
bientais, tanto no âmbito local como Lenha Outros Carvão Urânio
Outros não
renováveis renováveis
global. A velocidade dessas transições, (8,9%)
(7,7%) (4,9%) (1,3%) (0,6%)

no entanto, tem sido aquém das metas


estabelecidas para evitar mudanças Fonte: EPE, Brazilian Energy Balance, 2021
climáticas irreversíveis para o planeta.
As dificuldades para efetivar as mu- FIGURA 4: FLUXO DE BIOMASSA NA CADEIA DE VALOR DA CANA-DE-AÇÚCAR

danças necessárias para corrigir o cur- BIOCOMBUSTÍVEL RUM &


so de nossa trajetória não se resume PELETS &
CACHAÇA AÇÚCAR BIOPLÁSTICO

à matéria-prima empregada. Trata-se BRIQUETES


ETANOL
COLORANTES

da alteração de um sistema dinâmico ÁCIDOS ORGÂNICOS

em funcionamento, onde mudanças BIOELETRICIDADE


TORTA DE
AMINOÁCIDOS

BAGAÇO
se refletem com grande capilaridade FILTRO E
VINHAÇA
MOSTO LUBRIFICANTES

pelas economias e com efeitos de di- FÁRMACOS

fícil previsão. Foi considerando esses BIOGÁS


ENZIMAS & CÉLULAS
VIVAS
aspectos que pesquisadores, executi- SABORES E
vos e formuladores de política se de- RESÍDUO FRAGRÂNCIAS

bruçaram sobre novos conceitos para COSMÉTICOS

definir estratégias de maior alcance, SOLO CULTIVO DA CANA


DETERGENTES E
SOLVENTES
tal como a bioeconomia circular. ; DE AÇÚCAR

Fonte: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0959652617310934

45
Q bioeconomia circular
Índice Opiniões
Fatores conjunturais também têm sido essa proporção por território, tamanho da
críticos nessa transição, como a pandemia população e tamanho econômico.
de Covid-19, que expôs a fragilidade do sis- O que tem impedido o País de se apre-
tema energético atual, ainda bastante de- sentar ao mundo como um modelo de siste-
pendente de matéria-prima fóssil (cerca de ma energético responsável e sustentável? É
83%). urgente que medidas sejam implementadas
Quando as fronteiras se fecharam, a in- para potencializar o que pode ser conside-
terrupção dos fluxos de produtos e insu- rado um dos maiores trunfos do País.
mos estratégicos em um sistema orientado Desde o século passado, a biomassa é
pela dependência externa provocou forte aproveitada, particularmente com o au-
impacto recessivo, frente à desorganização mento das alternativas dentro do setor su-
rápida e inesperada das cadeias produtivas croenergético.
e dos fluxos logísticos nas cadeias de supri- A cana-de-açúcar é uma cultura alta-
mentos. mente valorizada pelo seu potencial de pro-
Bilhões de pessoas ao redor do planeta dução de biomassa para sistemas bioener-
mudaram radicalmente os seus hábitos, e géticos, destacando-se como uma das fon-
as taxas de crescimento dos países desa- tes mais produtivas e eficientes de biomas-
baram, retraindo a demanda e o preço de sa devido à sua rápida taxa de crescimento,
petróleo para patamares nunca vistos an- alto rendimento e capacidade de produzir
teriormente. grandes quantidades de açúcar.
Isso fragilizou o apoio às energias reno- Esse açúcar pode, então, ser converti-
váveis mais sustentáveis, em grande parte do em bioetanol, uma importante fonte
ainda sem um mercado consolidado. O ris- de energia renovável. Além disso, o alto
co associado a novos investimentos tam- teor de açúcar da cana-de-açúcar a torna
bém aumentou. adequada para a produção de outros bio-
Já a invasão da Ucrânia pela Rússia pro- produtos, como bioplásticos e biogás (con-
vocou mudanças em sentido contrário. Os forme demonstrado na Figura 4 da página
preços aumentaram, resultando em grande anterior).
volatilidade e riscos no suprimento ade- Assim, na conjuntura atual, mais uma
quado à demanda por energia, provocando vez a intensificação do uso de derivados da
instabilidade econômica, custo social, pois cana no sistema bioenergético apresenta-se
muitos países, particularmente os de me- como uma das melhores alternativas para o
nor nível de renda, ainda são importadores Brasil. Isso em termos de desenvolvimento
líquidos de energia (conforme demonstra- de processos de produção circular, bem co-
do na Figura 2 da página anterior). mo da proximidade dos consumidores, fa-
Os preços mais altos potencializaram o cilidade de transmissão, mercados secun-
argumento da transição para as energias re- dários de carbono, dentre outros aspectos
nováveis. No entanto, também resultaram que a favorecem.
em inflação, menor crescimento e rupturas A importância da cana-de-açúcar precisa
nos mercados financeiros, fenômenos estes ser reforçada na conjuntura atual, sendo
já iniciados em 2022 e que têm impactos reconhecida como uma ferramenta podero-
negativos sobre investimentos volumosos sa no desenvolvimento de um sistema bio-
requeridos para amadurecer as inovações, energético sustentável para a economia na-
desestimulando a mobilidade de capital de cional. Seu alto teor de açúcar e rápida taxa
investimento entre países. de crescimento a tornam uma fonte ideal
O Brasil encontra-se em posição favo- de biomassa para a produção de energia
rável devido à composição de seu siste- renovável. Tem capacidade de converter
ma energético. Em 2020, a oferta total de grande porção da economia de base fóssil
energia atingiu 287,6 milhões de tep (to- em uma bioeconomia circular em um ho-
nelada equivalente de petróleo), 48% dos rizonte mais próximo, com tecnologia na-
quais vieram de fontes renováveis (con- cional, e, portanto, precisa reassumir sua
forme demonstrado na Figura 3 da página posição estratégica no desenvolvimento so-
anterior). Nenhum país no mundo guarda cioambiental brasileiro.n

46
#OrgulhoDeSerCopercana!

Cooperar 60 ANOS COPERCANA:


A NOSSA HISTÓRIA É
COOPERAR COM
A SUA HISTÓRIA.
de bom! Acreditamos que trabalhar em
conjunto é a chave para alcançar
o sucesso. Por isso, ao longo das
últimas seis décadas,
construímos uma história de
parceria, que se fortalece cada
vez mais com o seu apoio e
confiança. Nosso objetivo é
continuar contribuindo com a
história de sucesso e conquistas
de cada uma das gerações de
nossos cooperados.

copercana.com.br
Q mercado de combustíveis
Índice

etanol: duas décadas de avanços e recuos


Em 2003, tivemos o lançamento dos carros Paralelo a tudo isso, o setor sucroenergético
flex fuel no Brasil, reabrindo nova perspectiva respondeu ao mercado com investimento forte
de mercado de etanol hidratado. em greenfields, inaugurando mais de 100 usi-
Todas as montadoras já instaladas, outras nas em 10 anos. Nossa fronteira limitada so-
marcas europeias e asiáticas chegaram e fize- mente aos estados de São Paulo, Minas Gerais
ram vultosos investimentos, lançando dezenas e Paraná alcançou com força a região Centro-
de modelos de automóveis, todos flex fuel, na -Oeste, com projetos novos, em especial em
expectativa de mudança na matriz energética Mato Grosso do Sul e Goiás.
dos veículos leves no Brasil. Assim, a moagem do Centro-Sul saltou de
Em poucos anos, as vendas de automóveis 300 para mais de 600 milhões de toneladas
de ciclo Otto alcançavam 90% dos chamados em menos de 10 anos. Além do mercado do-
automóveis flex fuel. méstico, abrimos fronteiras no exterior, ele-
Em seguida, as motocicletas também segui- vando nossa participação nos EUA, na Europa
ram a tendência, oferecendo muitos modelos e na Ásia.
que permitiam o uso do etanol E100. Na virada do século, a euforia por um mundo
mais sustentável, com uso de energia renovável
no segmento de transporte, fez o setor privado
e público se unirem e se comprometerem com a
sustentabilidade. Tudo caminhava para futuro,
onde a participação do etanol hidratado (E100)
seria, ano a ano, crescente, ocupando o espaço
do combustível fóssil, a gasolina.
Chegamos a 2012 com mais de uma centena
de projetos implantados e consolidados na re-
gião Centro-Sul.
Em 2012, tivemos a mudança de governo e
completa mudança de prioridade.
A princesa da vez passou a ser o Pré-sal.
Foco total na exploração de petróleo em
águas profundas, investimentos e incentivos
em energia fóssil voltam à tona. Gasolina, sob
o pretexto de segurar a inflação, foi congelada
e subsidiada, com preço inferior aos praticados
no mercado internacional.

Temos terra, clima e,


especialmente, tecnologia
e uma força de trabalho
experiente, com ambição de
crescer e investir. Falta o setor
público dar a garantia necessária,
com política de longo prazo, que
assegure confiança e retorno
ao empreendedor. "

Martinho Seiiti Ono


Diretor da SCA Etanol do Brasil

48
Opiniões
Projetos de biocombustíveis, dezenas deles em fase • Em produtividade (TCH), regredimos,
de maturação, compromissos de amortização em não conseguimos superar 80 toneladas
curso começam a trocar de mãos. por hectare. (veja detalhes no gráfico:
Projetos que nasceram de famílias tradicionais “Evolução da produtividade agrícola da
e empreendedoras, até então o perfil predominante cana-de-açúcar em toneladas por hectare
do setor, tiveram que transferir seus ativos aos mais do Centro-Sul”)
diversos setores da economia. Tradings, fundos de • Área plantada de cana estável, com
investimentos, distribuidoras, entre outros, socorre- 7.600 a 7.800 mil hectares.
ram e sucederam muitas usinas. • A participação do hidratado (E100) no
Importante destacar também o fechamento de de- ciclo Otto se altera, a depender do mix
zenas de usinas e destilarias que não suportaram o maior ou menor de açúcar a cada safra.
elevado custo industrial e agrícola, não correspondido • Apenas 5 estados são responsáveis pela
pelos preços congelados e subsidiados da gasolina demanda de 85% do etanol hidratado
pela Petrobras. (E100) comercializado no País.
Desde 2013, não tivemos mais “novos projetos” Em 2016, assume o Governo Temer, e,
em nosso setor. Paramos por completo de investir. com a chegada de Pedro Parente na pre-
Vejamos os números dos últimos 10 anos. sidência da Petrobras, muda o cenário,
• Na Safra 2013/14, moemos 600 M de toneladas de abrindo novas perspectivas para o mer-
cana e, desde então, estamos com crescimento zero, cado de renováveis.
oscilando negativamente, a depender das condições • Preços dos combustíveis no Brasil passam
climáticas. (veja detalhes no gráfico: “Evolução da a ser alinhados com preço internacional
moagem de cana-de-açúcar do Centro-Sul”) (PPI), permitindo maior previsibilidade
• Nossa quantidade de ATR total se mantém em 80 ao setor sucroenergético.
milhões, com pequenas oscilações. • Incentivo ao uso de biodiesel, com au-
mento gradativo de mistura.
EVOLUÇÃO DA MOAGEM DE CANA-DE-AÇÚCAR • Criação e lançamento do programa Re-
DO CENTRO-SUL novaBio e comercialização dos CBIOs.
Assistimos nos últimos 5 anos com
essa sinalização positiva foi a volta dos in-
vestimentos em combustíveis renováveis.
Plantas de etanol de milho (greenfields)
estão sendo inauguradas e, hoje, já ocu-
pam produção de 15% do etanol total
produzido no País. Muitos projetos em
construção, assegurando um crescimento
de oferta para os próximos anos.
Dezenas de usinas de biodiesel foram
inauguradas, distribuídas aos 4 cantos do
País, com capacidade instalada de mais
de 12 milhões de m3, para um mercado de
6 milhões de m3 em 2022 para mistura de
EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA DA CANA B10. Portanto, com potencial de atender,
EM TONELADAS POR HECTARE DO CENTRO-SUL com tranquilidade, ao mercado com B15,
conforme previsto no cronograma pelo
CNPE para 2023.
Como sabemos, “Todo investimento
depende do ambiente de negócio que
vivemos, com políticas públicas econo-
micamente sustentáveis e com a devida
segurança jurídica”.
Os sinais dados ao setor de combus-
tíveis renováveis no último ano voltaram
a ser preocupantes, com mudanças nas
regras que estavam estabelecidas, compro-
metendo resultados das empresas que
apostaram investindo no setor, criando no-
vamente uma forte insegurança jurídica. ;

49
Q mercado de combustíveis
Índice

• A redução de 30% do mercado de biodie-


sel, com a mistura até então de 13% para
10%;
• Alíquota dos impostos federais (CIDE, Co-
fins e Pis) sendo zeradas para a gasolina co-
mum e etanol, reduzindo a competitividade
do etanol e não reconhecendo as diversas van-
tagens que o biocombustível proporciona para
a saúde, meio ambiente, economia, geração de
empregos e desenvolvimento dos municípios
brasileiros.
• Os impostos estaduais (ICMS), reduzidos per-
centualmente e com a PMPF sendo cobrada so-
bre a média dos últimos 60 meses para a gasoli-
na (preço baixo), enquanto o hidratado (E100),
com cobrança sobre o preço real de mercado, o
que contribuiu para aumento da perda de com-
petitividade do hidratado.
• O dilatamento do prazo para cumprimen-
to da meta de CBIOs depreciou os preços
dos certificados de descarbonização em
mais de 50%.
Sabemos que o Brasil apresenta um enor-
me potencial para o mercado de biocom-
bustíveis. No ciclo Otto, o hidratado (E100)
participa com menos de 20% de market sha-
re, enquanto a frota de flex fuel é de 83%,
carros que poderiam usar etanol hidratado,
portanto temos o potencial para crescer,
aproximadamente, quatro vezes o atual vo-
lume de vendas.
Em óleo diesel − somos importadores de
25% do volume consumido no País −, pode-
ríamos ampliar a mistura e reduzir a depen-
dência externa.
Temos terra, clima e, especialmente, tecno-
logia e uma força de trabalho experiente, com
ambição de crescer e investir. Falta o setor pú-
blico dar a garantia necessária, com política de
longo prazo, que assegure confiança e retorno
ao empreendedor.
Estamos diante de um novo governo neste
ano de 2023, no qual depositamos e almeja-
mos um ambiente de negócios seguro, aten-
dendo aos compromissos que assumimos
nas diversas COPs; a meta do RenovaBio de
comercializar 47 milhões de metros cúbicos
de etanol em 2030, com incentivo para as
energias renováveis na transição energética
que vivemos.
É preciso corrigir as decisões equivocadas,
tomadas ao calor das últimas eleições, para
tranquilizar e assegurar ao setor privado con-
fiança na manutenção e ampliação dos inves-
timentos necessários para atender ao enorme
potencial existente no segmento de combustí-
veis renováveis. n

50
Opiniões
Q mercado de combustíveis
Índice Opiniões

perspectivas do mercado de etanol


Neste ano, estamos completando 50 anos Em menos de um ano, em 1980, lançamos
do primeiro choque do petróleo. O mundo o primeiro veículo comercial movido com o
era diferente de hoje, e o poder do cartel da combustível vegetal. Passaram-se apenas oito
Opep era muito maior. O choque foi imenso e anos, e mais de 80% dos veículos novos ven-
abalou a economia mundial, e o Brasil, à épo- didos eram movidos a álcool. A frota mudou
ca com sua estrutura primária de produção, rapidamente, e os problemas apareceram.
carente de divisas, em meio a uma década de No final dos anos 1980, com o desabasteci-
altos investimentos governamentais, tornou-se mento do produto nos postos de combustível,
extremamente vulnerável. a venda dos veículos novos, movidos a álcool,
O resultado não poderia ser pior. Impor- foi reduzida a praticamente zero, e o etanol
távamos boa parte do petróleo que refiná- hidratado perdeu rapidamente a preferência
vamos, e a gasolina era o único combustível dos consumidores.
para os veículos no País. Essa década provocou uma revolução si-
Sem muitas alternativas, reagimos e, em lenciosa, que alavancou o setor sucroalcoo-
1976, criou-se o Proálcool. Um programa leiro de forma consistente, porém o modelo
destinado a fomentar a criação de destilarias de negócios tinha uma enorme dependência
anexas às usinas de açúcar existentes, para estatal: em normas, cotas de produção e ven-
produzir etanol combustível e reduzir a nossa das e, principalmente, preços.
dependência do petróleo importado. Afetada pela redução da demanda do eta-
O programa decolou e, no princípio, pro- nol hidratado, a indústria enfrentou uma
duzíamos apenas o etanol anidro destinado à enorme capacidade ociosa, não possuindo
mistura com a gasolina, contribuindo para re- outra alternativa a não ser optar pela produ-
duzir a dependência externa de combustíveis. ção de açúcar destinado à exportação.
Quando, em 1979, vivenciamos o segundo Encontramos um espaço para a nossa
choque do petróleo, mais uma vez a econo- produção, e, junto, vieram os investimentos
mia mundial ficou refém da poderosa Opep. em infraestrutura de ferrovias, terminais e
A reação do Brasil foi ainda mais criativa armazéns, necessários à movimentação do
em comparação ao primeiro choque. Esse açúcar a ser exportado, e o etanol hidratado
novo entrave ao nosso crescimento nos obri- ficou abandonado à sua própria sorte, como
gou a desenvolver algo ainda mais inovador um produto secundário, uma vez que os con-
em termos de substituição de combustível, e, sumidores voltaram a comprar veículos mo-
assim, criamos o carro “a álcool”. Movido por vidos a gasolina.
um motor a combustão que podia rodar ex- No final dos anos 1990, a indústria sucro-
clusivamente com etanol hidratado. alcooleira viu o seu colapso com os baixos

Os desafios são imensos,


e os entraves políticos, os
fatores climáticos e financeiros
dos últimos anos retardaram a
recuperação do crescimento
da oferta de matéria-prima.
O cenário é, ao mesmo tempo,
fascinante e desafiador. "

Tarcilo Ricardo Rodrigues


Diretor da Bioagência

52
Q mercado de combustíveis
Índice Opiniões
preços do açúcar que não remuneravam as dos últimos anos retardaram a recuperação
usinas, e não havia mercado de etanol para do crescimento da oferta de matéria-prima.
absorver os excedentes de açúcar de que o O cenário é, ao mesmo tempo, fascinante
mundo não precisava mais. e desafiador. Sendo o Brasil um importante
O etanol hidratado, por sua vez, embarcou ator do mercado mundial de açúcar, o cres-
em uma decadência ainda maior. Os baixos cimento da demanda mundial nos próximos
preços começaram a atrair proprietários de anos exigirá uma oferta maior de produto.
veículos a gasolina a abastecerem com uma Compartilhando da mesma matéria-prima
mistura de etanol e gasolina, conhecida po- para a produção de etanol, a arbitragem de
pularmente como “rabo de galo”. preços entre eles, para os próximos anos, será
A demanda de etanol hidratado começa muito acirrada.
a reagir, impulsionada pela vantagem eco- Cabe ao setor buscar o equilíbrio para que
nômica da mistura, até que, em 2003, a possamos atender aos dois mercados de forma
Volkswagen oficializa o “rabo de galo” com consistente e segura, alimentando o cresci-
o lançamento do primeiro veículo flex fuel mento sustentável de toda a cadeia sucro-
do País. alcooleira, em busca de aumento da produti-
O sucesso foi enorme, e em pouco tempo vidade e de inovações.
atingimos a marca de mais de 80% dos veí- Temos uma forte concorrência com os
culos novos no modelo flex. As montadoras grãos, igualmente importantes impulsiona-
que não possuíam essa opção simplesmente dores do crescimento do agronegócio, que
não vendiam. concorrem com as mesmas infraestruturas
A ideia de decidir pelo combustível no de transporte, armazéns e terminais.
posto de abastecimento e não na conces- Os cenários de preços de petróleo ainda
sionária caiu na graça dos brasileiros, tor- estão difusos, em decorrência das turbu-
nando-se um exemplo para o mundo. Hoje, lências mundiais recentes, que afetaram a
aproximadamente 80% da frota de comer- economia mundial de forma jamais vista.
ciais leves que circula no País é flex, nos pro- A redução gradual da inflação e, por conse-
porcionando uma demanda potencial muito quência, dos juros, deve trazer um cresci-
significativa. mento à economia mundial e um reposicio-
Todo o arcabouço fiscal, níveis de mistu- namento dos preços do petróleo.
ra de etanol anidro a gasolina necessários à Diferente de décadas anteriores, agora
competividade do etanol hidratado, foi resul- temos um direcionador muito forte, que é
tado de grande trabalho e esforço de muitos a inevitável ameaça da mudança climática,
do setor, que culminou com a aprovação da a qual não será resolvida queimando in-
Emenda Constitucional nº 123, assegurando, discriminadamente combustíveis fósseis,
por 20 anos, a competividade do etanol pe- por mais atrativos e acessíveis que possam
rante a gasolina, associado à consolidação do parecer. O relógio da humanidade não
programa RenovaBio. pode esperar, e os biocombustíveis são a
O vilão dos anos 1970, é, hoje, uma impor- transição imediata disponível para mitigar
tante peça no equilíbrio do mercado de com- os danos já causados. Qualquer atraso na
bustíveis, sendo a gasolina um de seus deriva- adoção de uma política consistente poderá
dos e, particularmente, no Brasil, produzida ser irreversível.
por um modelo estatal, com uma política de Os biocombustíveis são uma realidade, e o
preços nem sempre transparente e sujeita a Brasil está muito bem-posicionado. Tal con-
influências políticas, como vimos recente- dição favorece a atração de grandes investi-
mente, que provocaram um desequilíbrio mentos, pois temos as condições climáticas,
entre os combustíveis fosseis e os renováveis. geográficas, humanas, técnicas e competência
É imprescindível blindar os pilares que para assumirmos esse papel de protagonista
sustentam essa competitividade, de forma no cenário mundial.
a cumprirmos as metas claramente descri- Essa história que começou por um fator
tas no programa RenovaBio e atingirmos os externo há cinquenta anos, agora está conso-
compromissos de reduções de emissões fir- lidada, e nem por isso está imune a ataques
mados pelo País, no acordo de Paris. destinados a desestabilizá-la. Com a resis-
Os desafios são imensos, e, como se não tência de todos os agentes, enxergamos forte
bastassem todos os entraves políticos e outros potencial desse relevante setor para escrever
interesses, os fatores climáticos e financeiros um novo capítulo nos próximos anos. n

54
Q produtores do sistema bioenergético
Índice

um ano de superações:
construindo a história
Ao iniciarmos 2023, percebemos o Finalizamos a última temporada com a moagem
momento de grande instabilidade nos de 2,13 milhões de toneladas de cana-de-açúcar
campos político e econômico e os inú- processadas e a produção de 3,6 milhões de sacas
meros desafios que se apresentam neste de açúcar; 70,37 milhões de litros de etanol, entre
momento por que passa nosso País e anidro e hidratado; além de 106 mil megawatts de
várias regiões do mundo. bioeletricidade, produzidas através da queima do
Continuamos em guerra na Europa e bagaço da cana, exportadas para a rede.
em um período de pós-pandemia ainda Nossa produtividade média saltou de 72 to-
incerto, o que mexe com mercados em neladas de cana-de-açúcar por hectare, na safra
todo o mundo, trazendo ainda mais vo- 2021/22, para 82 toneladas de cana na última
latilidade a setores altamente dependen- temporada, ainda abaixo de nosso potencial agro-
tes neste mundo, cujas fronteiras físicas nômico e refletindo as intempéries climáticas dos
estão cada vez menores e cujos impactos últimos anos.
de ações, mesmo que tomadas a milha- A fim de melhorarmos nossa performance,
res de quilômetros, chegam em questão estamos investindo em diversas frentes, desde a
de segundos a todos os cantos. capacitação profissional e formação de mão de
Nesse cenário cada vez mais desa-
fiador para commodities e moedas nos
cinco continentes do Planeta Terra, ini-
ciaremos, nas próximas semanas, nossa
20ª safra de cana-de-açúcar na Usina
Vertente, de Guaraci, São Paulo, numa
parceria dos Grupos Humus e Tereos.
Os números de nossa safra 2022/23
na Vertente somaram muitos recordes,
e outros desafios em que estamos traba-
lhando com nossas equipes, a fim de que
possamos celebrar essas duas décadas
de operação consolidando-nos como
um dos principais players neste compe-
titivo universo sucroenergético.

Nossa produtividade
média saltou de 72 ton de
cana-de-açúcar por hectare,
na safra 2021/22, para 82
ton de cana na última
temporada, ainda abaixo
de nosso potencial
agronômico "

Hugo Cagno Filho


Diretor Executivo da Usina Vertente e
Presidente da UDOP

56
Opiniões
obra para nossa unidade até investimentos maior em profissionais de nível médio para
vultosos em irrigação e melhorias contínuas as funções de operadores, eletricistas, me-
dos tratos culturais em diferentes frentes. cânicos, profissionais de campo, motoristas,
Na área agronômica, finalizamos, em 2022, dentre tantas outras profissões.
a instalação de um projeto piloto de irrigação Pensando nessa falta de mão de obra, bus-
por pivô central numa área de 80 hectares, camos na UDop – União Nacional da Bio-
com investimento na ordem de R$ 4 milhões, energia, entidade que tenho a honra de pre-
que devem incrementar, já nesta safra 2023, sidir desde o ano passado, e na Consultoria
a produtividade média em pelo menos mais Datagro, com as quais, juntos, estamos dese-
10 toneladas de cana por hectare, atenuando nhando um projeto inovador que abrirá uma
o impacto dos períodos de seca. nova linha de formação e capacitação profis-
O projeto é complementado, também, sional, atendendo a uma deficiência cada vez
pela fertirrigação, que consiste na aplicação mais presente em inúmeras unidades.
de água residuária junto à vinhaça nos cana- O trabalho na formação profissional, por
viais, mitigando, assim, parte do déficit hídri- sinal, sempre foi uma característica presen-
co da Vertente. te em nossa gestão. Já nos primeiros anos,
Esse investimento na irrigação por pivô, quando da construção da Vertente, busquei
necessário para a melhoria de nossos índices auxiliar as prefeituras da região, junto a pro-
de produtividade, só foi possível graças à dis- gramas de alfabetização e qualificação pro-
ponibilidade de água, uma vez que estamos fissional, com parcerias sólidas e que trouxe-
localizados às margens do Rio Grande, com ram inúmeros resultados.
outorga de uso já aprovada. Por acreditar no potencial do ser humano é
Investimos ainda mais R$ 2 milhões na que estamos investindo, Usina Vertente, UDOP
aquisição de dois novos equipamentos para e Datagro, nesse novo formato de cursos de for-
aplicação de vinhaça localizada, tendo em mação e capacitação, cujos resultados, segura-
vista, sempre, a máxima de que o açúcar é mente, colheremos nos próximos anos.
produzido no campo, com melhorias sempre Todos esses esforços, no entanto, tendem
contínuas, que vão desde o preparo de solo, a nos fortalecer, enquanto setor, para es-
cuidados com os tratos culturais, colheita até tarmos prontos a atender a busca cada vez
o transporte da cana. maior por soluções sustentáveis para o ávido
Esperamos que, para a safra 2023/24, já mercado de energia limpa, que terá, segura-
possamos colher os resultados desses inves- mente, o etanol como vanguardista na corri-
timentos vultosos e que estejamos prepara- da por uma solução limpa e renovável na ma-
dos para mais em outras frentes, mantendo- triz de veículos leves, ainda mais agora, com
-nos aptos a melhorias constantes em nossos os veículos híbridos flex, uma nova revolução
processos. para nosso segmento.
Mas não é apenas no campo que estamos Ainda levando-se em consideração os as-
investindo. Na área industrial, nossas equi- pectos voltados para o ESG, a Vertente sai,
pes também estão se desdobrando em me- novamente, na frente, e com sua sócia, Tereos,
lhorias de processos, automações e melhores têm feito um investimento na produção de
performances. biogás, que deverá substituir a utilização
Fomos uma das primeiras unidades no dos veículos pesados a diesel por uma solu-
País a extrair o caldo da cana-de-açúcar em ção menos poluente, que contribuirá, ainda
um sistema híbrido, onde o caldo primário é mais, para nosso balanço energético no mé-
extraído num terno de moenda e, depois, um dio e longo prazo, para a obtenção de CBIos.
moderno sistema de difusor extrai o máximo Por tudo isso, me sinto renovado para
da matéria-prima, tornando-nos referência mais uma safra à frente da Vertente, do Gru-
nesse quesito. po Humus e de nossa UDOP, referência hoje
Mas todos esses números só são possíveis na capacitação profissional de nosso setor.
graças a uma equipe engajada e em constante Que possamos nos sentir energizados e
treinamento, outra frente de investimentos revigorados para os novos desafios que se
ininterrupta em nossa unidade. Nos últimos apresentam, na certeza de que, neste exato
anos, percebemos uma deficiência cada vez instante, está se erguendo o futuro. n

57
Educação continuada
Imagine que você descobrisse que o médico com
o qual você vai fazer uma cirurgia cardíaca na
manhã seguinte se formou há 20 anos como o
melhor aluno da sua classe, na melhor faculdade
de medicina do País. Muito bom, hein?!
Entretanto, nos últimos 20 anos, ele não leu
nenhum livro, nem participou de nenhum
congresso, nem teve por costume ler
regularmente revistas especializadas
da sua área médica.
Você faria a cirurgia em paz?

🔊
gratuita
No que se refere a nossa área, quantas tecno- Ampliando o projeto de educação continuada,
logias foram desenvolvidas e implantadas nessas decidimos também abrir as inscrições gratuitas
duas décadas como o estado da arte e, depois de para todos os funcionários das áreas técnicas,
algum tempo, substituídas por uma nova opção, agrícolas, industriais e admistrativas das empre-
muito mais eficaz e eficiente, que tomaria o lugar sas produtoras e fornecedoras dos sistemas
da anterior, até ser igualmente substituída por florestal e bioenergético de qualquer parte do
uma mais nova ainda. Brasil e do mundo.
Quantas pragas e doenças apareceram, desa- Todos os artigos da Revista Opiniões têm
pareceram, e algumas até voltaram? Quantas téc- áudios traduzidos para 5 idiomas: português,
nicas foram substituídas nesses últimos 20 anos? inglês, espanhol, francês e alemão.
Nenhum conhecimento é definitivamente eterno. O acesso à informação dirigida é a mais efi-
A faculdade está sempre atualizada, mas tão ciente forma de unificar e atualizar o conheci-
somente até o dia da sua formatura. Os livros, mento entre todos os funcionários em cargos
igualmente, até o dia da sua publicação. As opções de comando, bem como preparar os funcioná-
que são continuadamente atualizadas são os rios em ascensão para assumi-los. Esta é a mais
congressos e as publicações regulares das áreas. eficaz e natural forma de gerar a educação.
Conhecendo esse cenário e o que passou a Para se cadastrar na plataforma do programa
representar nesses 20 anos de operação para as de "Educação Continuada da Revista Opiniões"
universidades, centros de pesquisa e empresas do e passar a receber regular e gratuitamente as
sistema agrícola e florestal, a Revista Opiniões deci- edições de nossas revistas, basta enviar um
diu abrir inscrições para que todos os estudantes e-mail conforme especificado abaixo:
de todos os cursos de agroconhecimento, de
qualquer parte do Brasil e do mundo, passem a • Para: Jornalismo@revistaopinioes.com.br
receber gratuitamente as suas publicações. • Assunto: Educação continuada gratuita
O objetivo é fazer com que o estudante, desde • Corpo do e-mail:
o primeiro dia de aula, passe a participar da vida - Nome do funcionário ou estudante
empresarial na qual se integrará, em alguns anos, - Área de trabalho ou curso que frequenta
já com atualizado conhecimento do que está sen- - Nome da empresa ou da escola
do discutido, avaliado e implantado nas empresas. - e-mail principal
Muitos dos executivos e cientistas que hoje - e-mail secundário ou pessoal
escrevem na Revista Opiniões declararam que • Conforme a Lei nacional de proteção de dados,
liam nossas edições desde quando ainda eram garantimos que as informações não serão utili-
estudantes nas universidades. zadas para qualquer outro interesse.

Opiniões
Q produtores do sistema bioenergético
Índice

oportunidade de desenvolvimento nacional integrado


A ordem do dia, na elaboração, construção O desenvolvimento tecnológico, a redução
e execução de processos e projetos econômi- de custos nos processos de transformação e
cos com alcance social, é a sustentabilidade a expansão do uso da energia na melhoria e
ambiental dos mesmos e sua maior inserção bem-estar do dia a dia das pessoas se transfor-
social. Para tanto, governos e empresas inse- maram nos únicos motivadores no desenvol-
rem ou exigem, nesses projetos, o conceito e a vimento para maior oferta desses benefícios.
aplicabilidade do ESG – environmental, social Notadamente, a disponibilização de energia
and corporate governance. A necessidade dessa advinda do combustível fóssil – petróleo –,
governança ambiental e corporativa impõe a armazenada por milhares de anos no subsolo e
viabilização desses empreendimentos com as no fundo dos oceanos, se constituiu no grande
questões dos fundamentos na bioeconomia e avanço tecnológico civilizatório de então.
na bioenergia de hoje e sua perspectiva para o Nesse processo, assumiu grande destaque o
futuro, menos pelo simplismo do “politicamente uso dos combustíveis líquidos em larga escala
correto” e muito mais pelo “ambientalmente – diesel e gasolina – para viabilizar a circula-
correto”, contribuindo para a redução do efeito ção de pessoas e materiais.
estufa na atmosfera e a desaceleração das mu- O crescimento populacional acelerado
danças climáticas, que proporcionam as devas- passou a exigir, cada vez mais, o aumento do
tações de cheias e secas, calor e frios extremos consumo na queima pela combustão desses
atípicos, volatilidade errática das estações re- combustíveis, acarretando a correspondente e
gulares do clima e as implicações desestrutura- inevitável liberação de CO2 para a atmosfera.
doras na organização social das comunidades Identificou-se, a partir de então, uma simetria
sociais, notadamente dos mais pobres. entre essa descarga de CO2 e muitas mudanças
A humanidade assistiu, com satisfação, a no comportamento climático de várias regiões
todas as mudanças de hábitos, à aceleração do planeta, gerando tragédias e desarranjos so-
do progresso e à redução da pobreza com a ciais e agrícolas de grandes proporções. É fato,
chegada a Revolução Industrial, iniciada no também, que essa liberação excessiva de gás
século XVIII, e com a “era do petróleo”, na carbônico veio concomitante com a liberação
segunda metade do século XIX, com seu apo- de outros gases de outras atividades industriais
geu no século XX. e urbanas que, juntos, passaram a contribuir
para a formação do efeito estufa, e a contribui-
ção decisiva é cientificamente comprovada me-
dida pelo aquecimento progressivo das águas
oceânicas e os reflexos no degelo atípico das
camadas polares e na interrupção do processo
natural da evaporação das águas do planeta pa-
ra a atmosfera.

A ordem, que se impõe,


de convivência civilizatória
socialmente justa e ambientalmente
correta para o equilíbrio do nosso
planeta é reduzir a pegada de CO2
no ir e vir das pessoas e nos
processos de transformação
industrial vigentes. "

Pedro Robério de Melo Nogueira


Presidente do Sindaçúcar-AL

60
Opiniões
Como não poderia ser diferente, a ciência • No que se refere à motorização veicular pro-
e a tecnologia foram chamadas a se debruçar priamente dita, os carros a combustão flex, movi-
sobre as soluções para a inibição ou a redução dos a etanol, já emitem a metade de CO2 (60 g)
da velocidade desse processo negativo para o quando comparados aos veículos elétricos na
equilíbrio climático do planeta e a consequente Europa (120 g), na consideração correta do pro-
redução desses efeitos na vida dos povos. cesso pelo ciclo de vida do combustível.
Assim, de forma clara e inequívoca, a biolo- • A adequação natural e automática dos moto-
gia, a química e a física nos oferecem a solução res a combustão a etanol, com a motorização
para esse incômodo problema, com a defesa do veicular elétrica através dos carros híbridos, é
maior uso da bioenergia – energia renovável processo em uso.
– de fontes limpas para se transformar na ala- • A produção de etanol a partir da biomassa
vanca que deverá operar os sistemas de tecno- cana-de-açúcar, pela resultante da fotossíntese,
logia industrial e de mobilidade social atuais. protagoniza um evento de energia solar palpável.
A ordem, que se impõe, de convivência civili- • As entregas ambientais que o etanol propor-
zatória socialmente justa e ambientalmente cor- ciona na vertente da descarbonização são con-
reta para o equilíbrio do nosso planeta é reduzir cretas e indiscutíveis, se configurando num fa-
a pegada de CO2 no ir e vir das pessoas e nos cilitador no cumprimento das metas assumidas
processos de transformação industrial vigentes. pelo Brasil nos Acordos mundiais sobre o meio
A oportunidade, como nunca se verificou, é ambiente e a necessária adoção de processos de
brasileira para esse histórico, integrado e sus- uso de energia sem estimular o “efeito estufa”.
tentável processo de transformação planetário • O estímulo e a integração que o Brasil vem
exigido por todos comprometidos com o bem- desenvolvendo junto a países africanos e asiá-
-estar do ser humano. ticos para a produção de etanol nessas regiões
O Brasil, há meio século, desenvolveu o seu contribuem para a reorganização geopolítica
biocombustível – etanol –, com larga produção mundial, com vistas ao desenvolvimento social
e eficiente sistema de distribuição, e está apto e humano.
a liderar esse processo de transformação, quer • Destaque, ainda, para o fato de cada veículo a
seja pela significação dessa experiência para o etanol ser uma fonte de hidrogênio verde para
resto mundo, quer seja, sobretudo, pela impor- motorização nos futuros carros movidos a célu-
tância que essa atividade assumiu no desen- las de combustíveis.
volvimento nacional, na integração regional e Ademais, e não menos importante, assume
na certificação da produção do biocombustível notória relevância, em nosso estágio atual de
etanol mais relevante ambientalmente quando desenvolvimento econômico, o aspecto da im-
comparado com todos os processos de motori- portância social dessa atividade, pelos milha-
zação veicular de baixo carbono em estudo ou res de empregos absorvidos e a qualificação
desenvolvimento no mundo. profissional que se pratica. Sem dúvida, o “S”
Os estudos técnicos e científicos já do co- do conceito ESG se apresenta de forma mar-
nhecimento público, as manifestações da in- cante e destacada nessa atividade.
dústria automobilística nacional e a opinião Essa massa de empregos, por si só muito re-
fundamentada da academia com relação à levante, se espalha por todos as regiões do País,
produção e ao uso do etanol no Brasil nos re- transformando essa atividade para além do de-
comendam concentrar os esforços de política senvolvimento sustentável, na medida em que
pública e de desenvolvimento tecnológico em- dá suporte a uma integração regional e nacio-
presarial nesse biocombustível. Sem discorrer, nal nos milhares de municípios onde se verifica
nesse momento, aspectos físico-químicos, nos a produção.
permitimos destacar: O início da produção em larga escala de eta-
• Por força de lei, a produção e a distribuição de nol em nosso País, meio século atrás, a intro-
etanol no País passaram a ser realizadas e qua- dução pioneira dos carros flex há 20 anos, e o
lificadas através de certificação, por agentes cre- avanço na meritocracia na produção através do
denciados internacionalmente, como decorrên- RenovaBio, desde de 2018, nos recomendam,
cia de uma metodologia exigida pelo RenovaBio enquanto País, a não copiar ou importar proces-
– Política Nacional de Biocombustíveis, através sos de motorização que não se harmonizem com
da qual os produtores são estimulados a produ- o nosso consolidado polo sucroenergético, pela
zir sem desmate e com a menor pegada de car- sua entrega ambiental relevante, pelo seu peso
bono em seu processo agrícola-industrial. Pelo econômico-social na integração nacional na pro-
seu conteúdo, essa política representa o maior dução e pela inserção plena nos conceitos da bio-
programa de descarbonização hoje conhecido. energia e nos postulados da bioeconomia. n

61
Localização dos leitores da Revista Opiniões,
Tem muita gente analisando o seu artigo, o

Áreas de interesse:
Edição Bioenergética:
• Cana
• Milho
• Agave
• Açúcar
• Etanol
• Biodiesel
• Biogás
• Biometano
• Bioeletricidade
• Carbono

Edição Florestal:
• Celulose
• Papel
• Carvão
• Siderúrgia
• Painéis
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• Produtos
não-madeireiros

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Fonte: Google Analytics


Q produtores do sistema bioenergético
Índice

os 20 anos do carro flex no Brasil


Etanol ou gasolina? Você certamente já ouviu Ao final de 2002, as vendas de carros a álcool
(ou disse) essa frase. Mas o que você sabe sobre no Brasil representavam “traço” na estatística,
os carros flex? Tecnologia 100% brasileira co- e a frota circulante caía a cada ano, chegando
memora duas décadas neste ano. Bem, antes a representar 15%. A oferta ainda consistente
de temas como descarbonização ou mobilida- de etanol mantinha, naquele momento, os pre-
de sustentável ganharem o mundo, o mercado ços bem competitivos, e muitos consumidores
automotivo brasileiro já se notabilizava pela passaram a misturar gasolina e etanol no mo-
peculiaridade de usar um combustível limpo, o mento do abastecimento por conta própria, o
etanol, como fonte energética em seus motores chamado “rabo de galo”.
a combustão.
O carro flex fuel caiu no gosto popular dos
brasileiros, sendo um item indispensável na
hora de se comprar um automóvel novo. A
vantagem de poder escolher o combustível no
momento do abastecimento, e não mais na
concessionária, trouxe mais liberdade ao con-
sumidor.
A história do uso do álcool, ou etanol, como
combustível no Brasil, remonta aos anos 20 do
século passado com o uso do USGA , desen-
volvido pela centenária Usina Serra Grande,
em Alagoas, e ganhou grandes proporções com
as consequências dos choques dos preços do
petróleo na década de 1970, primeiro com a in-
tensificação do uso do etanol misturado à gaso-
lina e, depois, com o lançamento, em 1979, do
primeiro veículo a álcool hidratado no Brasil.
Do sucesso das vendas dos veículos a álcool, na
primeira metade da década de 1980, às dificul-
dades vistas no final dessa década e ao longo da
seguinte, o Brasil desenvolveu um sistema de
produção e distribuição de etanol que atingiu
os quatro cantos do País.

após 2 anos de mercado, os


veículos flex já representavam
mais da metade das vendas no
País. Atualmente, de cada 100
veículos rodando nas ruas e
rodovias do País, 84 são flex e podem
ser abastecidos com etanol. "

Mário Campos Filho


Presidente do Fórum Nacional
Sucroenergético e da Siamig - Associação
das Indústrias Sucroenergéticas MG

64
Opiniões
A indústria automobilística já desenvolvia, e na sua competitividade a partir da criação de
desde a década de 1980, uma tecnologia que um diferencial tributário, tanto em nível fede-
permitisse que os veículos operassem com ral quanto estadual. Já em 2001, o Governo Fe-
etanol e gasolina ao mesmo tempo. Em março deral lançou a CIDE-Combustíveis, incidindo
de 2003, a tecnologia flex fuel estreou com a sobre combustíveis fósseis. Em dezembro de
Volkswagen apresentando, durante a festa de 2003, o então governador de São Paulo e atual
comemoração de 50 anos de operação no País e vice-presidente da república, Geraldo Alckmin,
com direito à presença do então presidente da sancionou a lei que reduzia a alíquota ICMS do
República, Luiz Inácio Lula da Silva, o Gol 1.6 etanol hidratado de 25% para 12%, tornando-se
Total Flex. o primeiro estado a adotar essa medida. A lei en-
O modelo da Volkswagen seria o primeiro trou em vigor em 2004 e foi seguida por outros
de uma série de lançamentos que ganharam estados nos anos seguintes.
o mercado, com a nova tecnologia: o flex bra- Atualmente, 14 estados estabelecem dife-
sileiro, como foi batizado, capaz de consumir renciais tributários de ICMS entre etanol hidra-
etanol, gasolina ou qualquer mistura entre os tado e gasolina. A questão é tão crucial a esse
dois combustíveis, de modo a dar, ao consumi- mercado que, em 2022, o Congresso Nacional
dor final, o direito de escolha do combustível decidiu por colocar na Constituição Brasileira,
a cada abastecimento, considerando seu custo, no seu capítulo que trata de meio ambiente, a
disponibilidade ou qualquer outro atributo de obrigatoriedade de apresentar um diferencial
sua conveniência. tributário entre etanol e gasolina no que tange
O crescimento da frota capaz de abastecer aos impostos federais e estaduais. Com tributa-
com etanol devolveu ao hidratado o potencial ção menor e mais competitivo que a gasolina, o
de concorrência com a gasolina. Uma ampla consumidor era incentivado, além de comprar
janela de oportunidades se abria para o setor um veículo flex, a também abastecer com o eta-
sucroenergético brasileiro, e o mercado interno nol hidratado.
voltava a ser ponto fundamental para o cresci- Os 20 anos do carro flex fuel chegam quando
mento do setor no Brasil. Naquele momento, o as atenções do mundo se voltam para as fontes
mercado era sustentado pela mistura obrigató- alternativas de energia de baixa emissão, em
ria de etanol anidro na gasolina e por uma frota que o etanol precisa ter um grande destaque.
em acelerada depreciação dos antigos carros a Além da forte tendência global de eletrificação
álcool. O lançamento do carro flex e o seu su- no setor automobilístico.
cesso a partir de 2003 mudam, de forma estru- O conjunto de agentes de mercado que com-
tural, o setor sucroenergético e todo o mercado põem o ambiente do etanol no Brasil está atento
de combustíveis no Brasil. Os dados históricos a essa tendência e, em um movimento de ante-
demonstram a grande aceitação do flex fluel cipação, quer fazer da ameaça de mercado uma
pelos consumidores, após 2 anos de mercado, oportunidade para consolidar o papel socioam-
os veículos flex já representavam mais da me- biental do biocombustível.
tade das vendas no País. A eletrificação de veículos é associada aos
A evolução do flex no Brasil decorre de uma carros movidos a bateria. Mas essa não é a úni-
série de fatores que auxiliaram a dinâmica da ca possibilidade, existem alternativas, como os
oferta de novos modelos de automóveis com modelos híbridos flex, já lançados no Brasil, e
essa tecnologia, o crescimento da produção de a célula a combustível. Nesse último, o etanol é
etanol no País e o incremento das estruturas lo- fonte de hidrogênio que alimenta o sistema em
gísticas, transporte, armazenamento e bombas forma de energia.
nos postos de combustíveis. O Brasil é um mercado pioneiro na junção
O País passou por um crescimento verti- do etanol à eletrificação, em busca de soluções
ginoso de sua frota nos anos subsequentes ao para reduzir o impacto ambiental. O carro híbri-
lançamento do flex, o que possibilitou sua rápi- do e o movido a hidrogênio são possibilidades
da renovação. Atualmente, de cada 100 veícu- diferenciadas dentro do mercado brasileiro, já
los rodando nas ruas e rodovias do País, 84 são contam com apoio da indústria automobilística
flex e podem ser abastecidos com etanol. Além e de diferentes montadoras. Para um país que
disso, o crescimento da preocupação ambiental criou sua própria rota nos últimos 50 anos pa-
e o aumento dos preços do petróleo elevaram ra driblar crises e incentivar ainda mais suas
os preços da gasolina, dando ainda mais espaço vocações internas, não nos parece difícil pen-
para o combustível limpo e renovável. Contudo, sar que, no futuro da mobilidade sustentável, o
a mudança mais estrutural que se viu foi uma etanol continuará tendo protagonismo, inclusi-
série de políticas públicas focalizadas no etanol ve para além das fronteiras brasileiras. n

65
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67
Q produtores do sistema bioenergético
Índice

o começo da realidade
Prestes a encerrarmos a safra 2022/23 Há mais de uma década, venho defendendo, de
na principal região produtora de cana- forma até exaustiva, que precisamos de uma política
-de-açúcar do Brasil, o Centro-Sul, nos pública, e fomento privado, para que nossos insti-
deparamos com números, de certa for- tutos de pesquisa sejam estimulados para trabalha-
ma, “assustadores” em alguns aspectos, rem mais fortemente nos ambientes de produção,
principalmente no que tange à produ- que hoje são os principais gargalos de nossa baixa
tividade de nossos canaviais, principal produtividade.
matéria-prima do complexo bioenergé- No último mês de dezembro, para citar um epi-
tico para a produção de açúcar, etanol e sódio recente, participando como convidado na
bioeletricidade. Dados do Plano Decenal comissão responsável pela transição governamen-
de Expansão de Energia (PDE 2032) da tal do Presidente Lula, pude defender, novamen-
EPE – Empresa de Pesquisa Energética, te, para uma plateia muito seleta, a criação de uma
ligada ao Ministério de Minas e Energia, Embrapa Cana, organismo que poderia agrupar as
mostram que o País deve colher, na atual diversas Embrapas, que, hoje, pesquisam, de forma
temporada, algo como 583 milhões de to- descentralizada, a cana-de-açúcar.
neladas de cana-de-açúcar, em uma área
territorial de cerca de 8,2 milhões de hec-
tares e uma produtividade média de 71
toneladas de cana por hectare.
Considerando, ainda, uma projeção
para os próximos 10 anos, que faça a pro-
dução de etanol saltar de 31 bilhões de
litros (números de 2022 projetados pelo
PDE) para 47 bilhões de litros em 2032,
vemos a importância de uma pauta cada
vez mais premente que seja alicerçada no
crescimento verticalizado de nosso setor,
com aumento de produtividade aliada a
mais e mais investimentos em novas tec-
nologias e sistemas de produção.

Somos a melhor alternativa


energética para a mobilidade
sustentável, e o mundo já se
atentou para isso. Na Ásia, China e
Japão, com misturas regulatórias;
na Europa, com o Renewable Energy
Directive; nos USA, com o Renewable
Fuel Standar; e, agora a Índia,
misturando 20% de etanol
na gasolina. "

Antonio Cesar Salibe


Presidente Executivo da UDOP

68
Opiniões
A então Senadora e Ex-Ministra da Agri- (segundo dados da Unem) para 9,1 bilhões de
cultura, Kátia Abreu, acompanhada do hoje litros a partir do cereal, além do uso do bagaço
Ministro da Agricultura Carlos Henrique Fá- e da palha da cana para a produção de outros
varo, dentre outras autoridades, se mostraram 560 milhões de litros de etanol celulósico em
até surpresos pela não existência da Embrapa uma década.
Cana, considerando o protagonismo brasileiro Tudo isso se justifica, ainda, quando vemos
quando o assunto é o etanol e sua contribuição, as projeções do MME de que o etanol possa fa-
mais do que reconhecida, para nossa matriz zer crescer sua participação no ciclo Otto dos
energética. atuais 44% (2022) para 55% (2032).
Essa unidade da Embrapa Cana, que pode- Se somarmos a essa equação a demanda de
ria ter, inclusive, um escritório físico apoiado etanol para sua participação efetiva na rota da
pela Udop para a união dos pesquisadores que motorização híbrida flex, como solução para o
já atuam na cana-de-açúcar, e áreas experi- processo de eletrificação mais eficaz hoje, ve-
mentais a céu aberto, nas associadas Udop, mos o quanto nosso setor demanda, mesmo, de
com expertise de nosso setor, poderia deman- pesquisas e tecnologias que propiciem nosso
dar pesquisas, por exemplo, em temas hoje crescimento, não apenas horizontal, na expan-
muito importantes e determinantes para nosso são das áreas cultivadas, mas, principalmente,
segmento, como o espaçamento de cana ideal; no crescimento vertical, com ganho de produ-
a adubação necessária para cada tipo de so- tividade que se reverterá em aumento de com-
lo e variedade de cana específica; sistemas de petitividade.
colheita mecanizados com menor impacto na Para que o ciclo se feche, ainda, e não menos
compactação do solo; controle de pragas e do- importante, temos a pegada ambiental, cada
enças no novo sistema onde a palha fica depo- vez mais em voga hoje com a adoção de práti-
sitada no campo; para citar apenas alguns. cas de ESG, muito presentes em toda a cadeia
O que temos, hoje, são excelentes institutos da bioenergia. Somos, seguramente, a melhor
de pesquisa que estão dedicados em nos ofere- alternativa energética no curto prazo para a
cer as melhores variedades de cana-de-açúcar, mobilidade sustentável, e o mundo já se aten-
cada vez mais resistentes a alguns fatores, co- tou para isso, o que é provado com o aumento
mo clima adverso, estresse hídrico, pragas de da produção e de políticas públicas para o eta-
doenças, dentre outros, mas não temos nada, nol em quase todos os continentes, de forma
ou quase nada, quando o tema se volta para os notável na Ásia (com China e Japão com mistu-
sistemas diferenciados de produção. ras regulatórias); na Europa (com o Renewable
Vale aqui destacar, por exemplo, a grande Energy Directive); nos Estados Unidos (com o
esperança acalentada por todo o nosso setor Renewable Fuel Standar); e, mais recentemen-
no lançamento da Semente de Cana, hoje es- te, com a Índia, aumentando sua mistura de
tudada pelo CTC, que pode representar ganhos etanol na gasolina para 20%.
enormes para o atingimento de nossos objeti- Pensando em dar maior visibilidade a este
vos, mas que, no nosso entendimento, precisa aspecto tão importante da equação que torna
ser acelerado, a fim de se resolver outro impor- nosso etanol ambientalmente correto, social-
tante gargalo. mente justo e economicamente viável, a Udop
A Embrapa Cana, como tenho defendido, e criou, em 2021, o Prêmio Udop/Embrapa de
colocado até nossa Udop como apoiadora no Boas Práticas Ambientais e, em 2022, o Selo
que for preciso para sua implantação, pode- Udop de Boas Práticas Ambientais, reconhe-
ria significar uma alavanca essencial para esse cendo o trabalho diuturno de sustentabilidade
aumento de produção, estimado pela EPE em de nossas associadas.
mais de 50% nos próximos 10 anos. Encerro essas breves reflexões com um tom
Em paralelo a esses esforços, que, como disse otimista, que tenho adotado em toda a minha
anteriormente, demandam políticas públicas e trajetória de mais de 50 anos completados com
incentivos para que a iniciativa privada possa o trabalho em cana-de-açúcar no último mês
enveredar por esse caminho, continuamos a de janeiro, parafraseando Miguel de Cervantes,
passos largos avançando na produção de etanol em Dom Quixote, “Quando se sonha sozinho, é
de milho e do etanol lignocelulósico, o conhe- apenas um sonho. Quando se sonha juntos, é o
cido etanol 2G. começo da realidade”.
Ainda com os dados do PDE 2032, vemos a Tenho esperança de que, com os esforços de
projeção da EPE para a oferta em 10 anos, dos todos, conseguiremos avançar um passo a mais
atuais 4,4 bilhões de litros de etanol de milho rumo à sustentabilidade de nosso planeta. n

69
Q produtores do sistema bioenergético
Índice

bioenergia: o combustível do futuro


A produção de bioenergia é um caminho Conforme dados do balanço Energético
certo e seguro para a retomada do crescimento Nacional da Empresa de Pesquisa Energética
industrial e, consequentemente, do desenvolvi- (EPE), quase 48,4% da energia produzida no
mento econômico do Brasil. Com uma demanda País tem como origem fontes renováveis, como
mundial crescente por uma economia de baixo hídrica, eólica, solar, biogás e derivada de cana-
carbono, o País tem a chance de ser protago- -de-açúcar, e ainda temos o promissor hidro-
nista nesse cenário. Nossa bioenergia, produzi- gênio verde. Enquanto isso, a média mundial
da em todas as formas – seja biocombustíveis, da matriz energética de fontes renováveis é de
bioeletricidade, biogás –, pode ser um relevan- 13,8%. Para o País ampliar sua participação no
te produto brasileiro no mercado internacional. mercado de bioenergia, o setor precisa investir
O mundo vive uma junção de crises energética em pesquisa e desenvolvimento, buscando solu-
e climática, gerando uma corrida tecnológica ções para aumentar a eficiência e a sustentabili-
para a consolidação e viabilidade econômica de dade da produção. E isso passa, é claro, por uma
novas fontes de energia, em especial, as reno- política de incentivo do Governo Federal, que já
váveis. Sendo assim, a perspectiva para o setor declarou que essa é uma pauta cara e prioritária.
bioenergético é muito positiva, com o aumento Etanol - a realidade da transição energética:
significativo na demanda por fontes de energia Como representante do setor e conhecedor dos
alternativas, com baixa pegada de carbono e processos, oportunidades e desafios, posso afir-
menor impacto ambiental. A janela de oportu- mar que o etanol tem um dos papéis mais im-
nidade está aberta à nossa frente. Essa é uma portantes na transição energética para a mobi-
agenda, sobretudo, de tecnologia, inovação, de- lidade urbana, já que pode reduzir em até 70%
senvolvimento econômico e social.
Com um potencial energético verde como
nenhum outro lugar do mundo, o Brasil tem um
enorme diferencial competitivo, principalmen-
te se compararmos os aspectos de capacidade
tecnológica para o aumento de produtividade.
A Agência Internacional de Energia (AIE)
considera a matriz energética brasileira uma
das mais limpas do mundo e aponta o País
como um dos mais capazes de contribuir para
a redução do impacto da geração de gases do
efeito estufa.

Essa não é apenas uma agenda


ambiental, essa é uma agenda
de inovação. Trata-se de desenvol-
vimento econômico e social. Mais
dinheiro, mais emprego, melhor
renda para a população. Todos sa-
em ganhando, setor produtivo, tan-
to agropecuária quanto industrial,
população, nação e o mundo. "

Silvio Cézar Pereira Rangel


Presidente da Federação das Indústrias de
Mato Grosso (FIEMT) e Presidente do
Sindicato de Bioenergia de Mato Grosso

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Opiniões
das emissões de gases de efeito estufa, em rela- inovadora e funcional, com monitoramento,
ção ao combustível fóssil. Já temos uma indús- reporte e verificação, além de gerar benefícios
tria forte e consolidada. Somos o segundo maior e retornos para as reduções de emissões. Basta
produtor de etanol do mundo, atrás apenas dos ao Brasil assumir que o mercado de bioenergia
Estados Unidos, responsáveis por pouco mais de é fundamental, para além da geração de em-
50% da produção mundial, enquanto, no Brasil, prego, rendas, investimentos e disponibilidade
produzimos cerca de 27% desse biocombustível. de biocombustíveis, para a descarbonização da
Na última safra, foram produzidos mais de 27 produção brasileira e mundial.
bilhões de litros de etanol no Brasil. Mercado em crescimento: Somos o maior
Atualmente, 20% do consumo do setor de produtor do mundo de etanol a partir da cana-
transporte brasileiro é de combustíveis renová- -de-açúcar. E, agora, se soma a esse pujante
veis, e a tendência é de crescimento. Vale des- mercado o etanol que tem como matéria-prima
tacar algumas políticas públicas para incentivo o milho. A produção desse biocombustível vem
para uso do etanol, como o Programa Nacional crescendo com a criação de novas indústrias,
do Álcool – Proálcool, criado em 1975, e que especialmente no Centro-Oeste, e a expectativa
contribuiu para impulsionar a produção de é de que a safra 2022/23 chegue a 4,5 bilhões
bioenergia no País, nas últimas décadas. Esse de litros. Em Mato Grosso, quase 80% da pro-
foi o maior avanço tecnológico da história da dução de etanol é de milho. Nosso estado é a
indústria automobilística brasileira e nasceu prova de que podemos aumentar a nossa pro-
por causa da crise mundial do petróleo. A evo- dução de bioenergia preservando nosso território,
lução do programa possibilitou o nascimento mantendo sua biodiversidade.
de uma tecnologia genuinamente brasileira, o Temos uma característica diferenciada pela
carro flex, que hoje já está em mais de 80% da produção de etanol de milho de “segunda safra”,
frota de veículos leves do Brasil. plantio no mesmo terreno onde a soja foi plan-
Nos tempos atuais, também por conta do tada, sem aumento de novas áreas agrícolas.
petróleo, mas em razão dos efeitos nocivos com Com essa nova indústria, também temos
a emissão de gás carbônico, foi criado um novo incrementado a produção de carne bovina,
mecanismo para a produção de etanol, a Polí- pois, com o resíduo, é produzido o DDG (Grão
tica Nacional de Biocombustíveis – RenovaBio. de Milho Seco por Destilação, em português),
Muitos dos resultados positivos dos anos re- composto proteico usado como ração animal e
centes se deram em razão desse programa. que tem contribuído para aumentar os confi-
Lançado em 2018, o RenovaBio é um pro- namentos de gado, reduzindo a idade de abate:
grama inovador, que reúne incentivos à produ- mais carne produzida sem aumento de área
ção de biocombustíveis e, por consequência, à para a pecuária.
redução de emissões de gases de efeito estufa, E Mato Grosso já está desenvolvendo novas
com a mensuração de dados que possibilitam o tecnologias para o incremento da geração de
cálculo aditável dessas informações. bioenergia no Brasil. Investimento relevante es-
Com a implementação do Crédito de descar- tá na produção de biogás e biometano a partir
bonização de Biocombustíveis (CBIOs), o Reno- da vinhaça gerada nas indústrias de etanol. O
vaBio passou a conter um instrumento financei- primeiro componente gera energia elétrica, e o
ro utilizado para medir e creditar as emissões de segundo substitui o diesel nos automóveis, con-
gases de efeito estufa evitadas pela utilização de tribuindo ainda mais para a descarbonização.
biocombustíveis. Instrumento esse que possibi- Nos tempos atuais, o crescimento econô-
litou investimentos na expansão da produção de mico deve estar atrelado a uma agenda de sus-
etanol orientada em uma transição energética tentabilidade ambiental. Por isso o Brasil tem
mais eficiente, reforçando o papel dos biocom- chance de ser protagonista nessa nova agenda
bustíveis na matriz de combustíveis. econômica mundial.
A partir da RenovaCalc, a calculadora do Para a indústria, não se trata apenas de
Programa RenovaBio, o setor tem investido em vender uma imagem boa para o resto do mun-
novas tecnologias e em aumento de produtivi- do. Essa não é apenas uma agenda ambiental,
dade para ampliar sua eficiência, garantindo essa é uma agenda de inovação. Trata-se, es-
uma produção renovável, revertendo políticas pecialmente, de desenvolvimento econômico
públicas em um melhor meio ambiente para o e, consequentemente, social. Mais dinheiro,
Brasil e para o mundo. mais emprego, melhor renda para a popula-
Em um momento em que o mundo discute ção. Todos saem ganhando, setor produtivo,
a regulamentação do Mercado de Carbono glo- tanto agropecuária quanto industrial, popula-
bal, o RenovaBio é um exemplo de iniciativa ção, nação e o mundo. n

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BIOENERGÉTICO: cana, milho, agave, açúcar, etanol, biogás, bioeletricidade e carbono


ano 20 • número 76 • Divisão C • Mai-Jul 2023

a agricultura do
sistema bioenergético
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FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira


ano 20 • número 71 • Divisão F • Mar-Mai-2023

a qualidade como ferramenta


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