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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE


UNIDADE ACADÊMICA DE ENFERMAGEM
MONITOR: RAFAEL GALDINO BEZERRA
PROFESSORA: MABEL CALINA DE FRANÇA PAZ
DISCIPLINA: MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA

INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA

CAMPINA GRANDE/PB
2023
O que é a microbiota?

Microbiota é o conjunto de microrganismos (bactérias, vírus, fungos e protozoários) que habitam


o organismo humano, desempenhando funções essenciais, definindo condições fisiológicas,
imunológicas e nutricionais, que contribuem para a homeostasia do hospedeiro.

É importante também separar os conceitos de microbiota normal e transitória.

Microbiota normal, residente ou nata: é o conjunto de microrganismos que residem


permanentemente nos sítios corporais, exercendo atividades de auxílio a diversas funções
fisiológicas (auxílio na digestão, síntese e degradação de substâncias e maturação do sistema
imunológico). É composta principalmente por bactérias e fungos leveduriformes e quando
removida, é rapidamente restabelecida.

Microbiota transitória: conjunto de microrganismos que habitam a pele e as mucosas dos seres
humanos por curto período de tempo, sendo potencialmente infectante.

Funções da microbiota normal:

• Causam doenças em indivíduos imunocomprometidos, especialmente quando os


microrganismos nativos de determinado local passam a habitar um outro;
• Proteção: ocupam sítios de adesão, impedindo a colonização e o crescimento de
microrganismos patogênicos, configurando uma resistência à colonização;
• Nutrição: bactérias intestinais têm a capacidade de produzir vitaminas B e K, essenciais
para a manutenção da homeostase.

É importante entender alguns conceitos que vão te ajudar:

• Colonizado: Refere-se a uma pessoa que tem bactérias, vírus ou outros microrganismos
em seu corpo, mas que não apresenta sintomas da doença causada por esses
microrganismos. Por exemplo, uma pessoa pode ser colonizada pela bactéria
Staphylococcus aureus em sua pele, mas não apresentar nenhum sinal de infecção;
• Portador: Refere-se a uma pessoa que tem um microrganismo em seu corpo e pode
transmiti-lo a outras pessoas, mesmo que não apresente sintomas da doença. Por
exemplo, uma pessoa pode ser portadora do vírus da hepatite B e transmiti-lo para
outras pessoas, mesmo sem ter sinais da doença;
• Doente: Refere-se a uma pessoa que apresenta sintomas de uma doença causada por
um microrganismo. Por exemplo, uma pessoa que apresenta febre, tosse e dor de cabeça
pode estar doente com gripe causada pelo vírus influenza;
• Biofilme: Um biofilme é uma comunidade complexa de microrganismos, como bactérias
e fungos, que aderem e crescem na superfície de um material ou substância, formando
uma matriz tridimensional de polissacarídeos e proteínas. São resistentes e podem
causar infecções.

A exposição de um indivíduo a um microrganismo pode ter 3 finais: colonização de maneira


transitória, colonização permanente ou produção de uma doença.
Os microrganismos podem ser classificados por suas características físicas e químicas, mas para
a disciplina é importante entender apenas os aspectos físicos de temperatura, pH e atmosfera
gasosa.

Obs: TIC = Temperatura ideal de crescimento

Temperatura:

• Psicrófilos: TIC 15°C, mínima de -10°C e máxima de 20°C;


• Psicotróficos: TIC 25°C, mínima de 0°C e máxima de 30°C;
• Mesófilos: TIC 39°C, mínima de 10°C e máxima de 50°C, são as que predominam no
corpo humano;
• Termotolerantes: TIC 44,5°C, mínima de 44°C e máxima de 45,5°C;
• Termófilos: TIC 60°C, mínima de 40°C e máxima de 70°C;
• Hipertermófilos: Mínima de 60°C e máxima de 110°C.

pH:

• Acidófilos: Crescem em pH ácido, abaixo de 7;


• Neutrófilos: Crescem em pH em torno de 7, variando entre 6,5 e 7,5;
• Alcalófilos: Crescem em pH básico, acima de 7.

Atmosfera gasosa:

• Aeróbio obrigatório: Só crescem na presença de oxigênio, ex: Mycobacterium


tuberculosis;
• Anaeróbio obrigatório: Só crescem na ausência de O2 e podem morrer na presença do
gás, ex: Clostridium tetani;
• Microaerófilo: Só crescem em atmosfera contendo concentração de oxigênio menor
que a encontrada no ar atmosférico (21%), ex: Helicobacter pylori;
• Anaeróbio facultativo: Crescem em qualquer condição de oxigênio, presente ou
ausente, ex: Escherichia coli.
As bactérias podem ser caracterizadas quanto a sua morfologia, além disso, dizem que uma
imagem vale mais que mil palavras:

Dediquem sua atenção a categoria de cocos e bacilos, e a forma específica de espiroqueta.


É importante também conhecer os principais microrganismos presentes em cada região do
corpo:

Na pele, predomina o Staphylococcus epidermidis e também o S. aureus que geralmente é


encontrado em processo infeccioso, como foliculite;

Em indivíduos normais, o estômago contém poucos organismos devido a sua acidez, mesmo
assim, a bactéria H. pylori é a principal causadora de infecções;

O cólon é onde há a maior concentração de bactérias no corpo;

A Candida albicans é um fungo que normalmente habita a pele, cavidade oral e vagina, mas pode
causar infecções como a candidíase oral (como o surgimento de aftas), candidíase vaginal
(causando prurido, irritação e corrimento);

A microbiota vaginal contém principalmente Lactobacillus, responsáveis pela pelo pH ácido que
impede o crescimento de outros patógenos.

Microbiota intestinal:

A microbiota intestinal é a maior comunidade de microrganismos que habita nosso corpo, tendo
mais de 100 trilhões de microrganismos. Dentre as principais funções dessa microbiota:

• Digestão e metabolismo: As bactérias da microbiota auxiliam na digestão e absorção de


nutrientes, como fibras e compostos complexos, que o corpo humano não consegue
digerir por conta própria.
• Saúde imunológica: Especialmente nos primeiros anos de vida, a interação entre a
microbiota e as células imunológicas é crucial para ensinar o sistema imunológico a
distinguir entre substâncias inofensivas e patológicas. A microbiota ajuda a desenvolver
diferentes tipos de células imunológicas, promovendo um equilíbrio entre defesa contra
patógenos e prevenção de reações autoimunes. Além disso, ela contribui para a
tolerância imunológica, evitando respostas exageradas a elementos benignos.
• Barreira contra patógenos: A microbiota intestinal age como uma barreira física,
ocupando os sítios de adesão, impedindo a fixação de microrganismos patogênicos,
além disso, a microbiota intestinal libera substâncias que impedem a proliferação de
microrganismos invasores.

A formação da microbiota intestinal começa logo após o nascimento e continua ao longo da vida,
porém sua composição é praticamente formada até o 1° ano de vida, após isso, é mais
perceptível o aumento da quantidade de microrganismos.

• Parto: O processo de formação da microbiota começa durante o parto. O bebê entra em


contato com microrganismos presentes no canal de parto da mãe, que podem contribuir
para a colonização inicial do intestino. O tipo de parto (cesariana ou vaginal) pode
influenciar o tipo de bactérias que colonizam o intestino do bebê.
• Amamentação: O leite materno é uma fonte importante de nutrientes para os recém-
nascidos e também contém compostos que promovem o crescimento de bactérias
benéficas no intestino. O leite materno fornece pré-bióticos naturais, como
oligossacarídeos, que auxiliam no desenvolvimento da microbiota.
• Dieta: À medida que a criança cresce, a introdução de alimentos sólidos e a variedade
de alimentos consumidos desempenham um papel fundamental na formação da
microbiota. As bactérias presentes no intestino se adaptam às diferentes fontes de
nutrientes fornecidas pela dieta.
• Interações Sociais e Ambientais: Ao longo da vida, interações sociais e exposição
ambiental moldam a microbiota. Viagens, contato com animais, uso de antibióticos,
estresse e outros fatores também podem influenciar a diversidade microbiana.
• Estabilidade e Mudanças: A microbiota é relativamente estável na idade adulta, mas
ainda pode ser influenciada por mudanças na dieta, estilo de vida e saúde geral. Idade
avançada e certas condições médicas podem levar a alterações na composição
microbiana.
Disbiose: é quando há um desequilíbrio na microbiota intestinal, ocorrendo alterações na
quantidade e na composição de microrganismos da microbiota. Isso pode ser causado por vários
fatores, como uso indiscriminado de antibióticos, dieta inadequada, estresse, infecções, entre
outros. Quando a microbiota está desequilibrada, pode haver um aumento de bactérias
potencialmente prejudiciais ou uma diminuição das bactérias benéficas. A disbiose intestinal
está associada a várias condições de saúde, como problemas digestivos, síndrome do intestino
irritável, doenças inflamatórias intestinais, alergias, obesidade e diabetes. Para restaurar o
equilíbrio da microbiota, pode ser utilizado os pré-bióticos e pró-bióticos.
Pré-bióticos e pró-bióticos:

Os pré-bióticos são tipos de fibras alimentares que não são digeríveis pelo nosso organismo, mas
que alimentam as bactérias benéficas do nosso intestino e regula o trânsito intestinal.

Já os pró-bióticos são microrganismos como bactérias e leveduras, que quando consumidos em


quantidades adequadas, exercem efeitos benéficos à saúde. Quando ingeridos, eles colonizam
nosso intestino, ajudam a equilibrar a microbiota intestinal, competem com bactérias
prejudiciais e produzem substâncias que promovem a saúde do nosso trato gastrointestinal e do
sistema imunológico.

Agentes quimioterápicos: são substâncias químicas que exercem ação seletiva sobre
microrganismos patogênicos. Esses antimicrobianos podem ser classificados quanto à sua ação:
antihelmínticos, antiprotozoários, antifúngicos, antibacterianos, antifúngicos e antineoplásicos.

Antibacteriano: é qualquer substância utilizada para combater bactérias, são classificados em:

• Bactericidas: são aqueles que matam as bactérias, causando sua morte irreversível. Eles
interferem nos processos vitais das bactérias, como a síntese da parede celular, a síntese
de proteínas ou o metabolismo.
• Bacteriostáticos: são aqueles que inibem o crescimento e a multiplicação das bactérias,
impedindo sua proliferação, mas não causam sua morte imediata.

Lembrar que o sufixo -cida e -stático, também se aplicam para os outros antimicrobianos.

Antibióticos: são os antimicrobianos de origem microbiana.

Resistência bacteriana:

• Resistência intrínseca: é a resistência natural que algumas espécies bacterianas possuem


desde o seu surgimento, como sua estrutura celular ou mecanismos de defesa próprios,
sendo uma característica genética da bactéria.
• Resistência adquirida: ocorre quando uma bactéria desenvolve resistência a antibióticos
devido a mutações genéticas ou transferência de genes de resistência de outras
bactérias, por meio da conjugação, transformação ou transdução. Ocorre em resposta à
exposição prolongada a antibióticos. Bactérias que inicialmente eram suscetíveis a um
antibiótico podem se tornar resistentes devido a essas mudanças genéticas.
• Resistência adaptativa: as bactérias podem alterar sua expressão genética para ativar
mecanismos de resistência quando expostas a antibióticos, estresse e condições
nutricionais. Essa resistência é de natureza transitória e reversível, se houver a remoção
da condição que a induziu.

Existem alguns conceitos importantes que devem ser apresentados para melhor compreensão
dos conteúdos, são eles:

• Patogenia: se refere aos processos moleculares, celulares e fisiológicos que levam ao


desenvolvimento e manifestação da doença no hospedeiro;
• Patogênese: compreende os processos biológicos envolvidos na infecção, multiplicação
e disseminação dos patógenos no hospedeiro, assim como as respostas imunológicas e
inflamatórias do organismo infectado;
• Patógeno: microrganismo capaz de causar doença;
• Patogenicidade: capacidade de um patógeno de causar doenças em um hospedeiro;
• Virulência: é a medida da capacidade de um patógeno causar doença em um
hospedeiro;
• Fator de virulência: é qualquer característica ou molécula produzida por um patógeno
que contribui para sua capacidade de causar doenças em um hospedeiro. Esses fatores
podem ser estruturais, como as proteínas na superfície das bactérias que permitem que
elas se adiram às células do hospedeiro, ou moleculares, como as toxinas produzidas por
alguns vírus e bactérias que danificam as células do hospedeiro. Os fatores de virulência
podem ajudar o patógeno a invadir tecidos do hospedeiro, evadir as defesas
imunológicas do hospedeiro e se multiplicar dentro do hospedeiro;
• Infecção: Infecção é a invasão e multiplicação de um agente patogênico que resulta em
uma resposta imunológica do organismo infectado;
• Cadeia de infecção: se inicia na transmissão, perpassa pela adesão e invasão dos
microrganismos, seguidas da colonização, da evidenciação de sinais e sintomas e finda
na progressão da patogenia ou sua buscada resolução;
• Dose infecciosa: é a quantidade mínima de microrganismos necessários para
desencadear uma infecção. Quanto menor a dose infecciosa, maior a virulência, pois é
necessário um número menor de microrganismos para desencadear a patogenia;
• Resistência do hospedeiro: é a persistência; capacidade de impedir a adesão, invasão e
colonização do patógeno.
O controle do crescimento microbiano pode ser realizado utilizando de processos e substâncias:

• Assepsia: refere-se ao conjunto de medidas utilizadas para prevenir a entrada de


microrganismos em um ambiente ou em um organismo. Isso é feito por meio de técnicas
como lavagem das mãos, uso de luvas estéreis e utilização de campos cirúrgicos estéreis,
por exemplo;
• Antissepsia: é um processo que envolve a aplicação de um agente antimicrobiano em
um tecido vivo (como a pele) ou em uma superfície (como um instrumento cirúrgico)
para prevenir a colonização ou proliferação de microrganismos. Exemplos de agentes
antissépticos incluem o álcool etílico e o iodo;
• Desinfecção: refere-se ao processo de eliminação de microrganismos patogênicos de
objetos e superfícies, eliminando quase todos os microrganismos;
• Esterilização: é o processo mais completo de limpeza e desinfecção e consiste na
eliminação de todos os microrganismos, incluindo esporos bacterianos e vírus. A
esterilização é realizada por meio de métodos físicos (como calor seco ou vapor) ou
químicos (como óxido de etileno);
• Germicida: é um produto químico que é capaz de matar ou inativar germes, ou seja,
microrganismos que podem causar doenças. Os germicidas podem ser usados em
superfícies, equipamentos médicos, água e outros materiais. Exemplos de germicidas
incluem água oxigenada, cloro, ácido peracético e formaldeído;
• Desinfetante: é um produto químico que é capaz de matar ou inativar microrganismos,
como bactérias, fungos e vírus, mas não é necessariamente eficaz contra esporos
bacterianos. Os desinfetantes são geralmente usados em superfícies, equipamentos e
outros materiais que não entram em contato direto com os tecidos vivos. Exemplos de
desinfetantes incluem álcool, quaternários de amônio e hipoclorito de sódio;
• Esporicida: é um produto químico que é capaz de matar ou inativar esporos bacterianos,
que são formas resistentes de vida de algumas bactérias. Os esporicidas são geralmente
usados em superfícies, equipamentos e outros materiais que foram contaminados com
esporos bacterianos, como em unidades de terapia intensiva e salas de cirurgia.
Exemplos de esporicidas incluem glutaraldeído, ácido peracético e formaldeído.

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