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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) PROMOTOR (A) REPRESENTANTE DO

MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DA COMARCA DE SÃO PEDRO/SP

URGENTE

REFERÊNCIA:
IRREGULARIDADES NO CRAS JARDIM JERUBIAÇABA - ÁGUAS DE SÃO PEDRO

RENATA , portadora do RG nº , CPF nº , Assistente Social inscrita no Conselho Regional do


Serviço Social sob nº [doc. 01], vem, respeitosamente, à elevada presença de Vossa
Senhoria, por sua procuradora in fine assinada [doc. 02], apresentar DENÚNCIA em face da
PREFEITURA MUNICIPAL DE ÁGUAS DE SÃO PEDRO, sediada na Rua Antô nio Feijó , nº
76, Á guas de Sã o Pedro - SP, CEP 13525-000, devidamente representada pelo Prefeito
Municipal Sr. Paulo César Borges, o que o faz nos imperiosos motivos de fato e de direito
doravante aduzidos:
I - DOS FATOS
1. A Servidora Municipal, ora Denunciante, foi legalmente aprovada no Concurso Pú blico
nº /2015 para o cargo de assistente social do Município de Á guas de Sã o Pedro [doc. 03],
onde foi lotada para laborar no Centro de Referência de Assistência Social de Á guas de Sã o
Pedro, denominado como “CRAS – Jardim Jerubiaçaba”.
2. A Denunciante atuou no CRAS Jd. Jerubiaçaba entre o período de janeiro de 2016 a maio
de 2016, contudo, foi arbitrariamente removida de sua funçã o, pois se encontrava afastada
por laudo médico quando foi forçada por questõ es de doença a se manter em repouso por 1
(um) dia conforme anexo[doc. 04].
3. Inconformada com a negativa da Denunciante, apesar do atestado médico apresentado, a
Secretá ria da Promoçã o Social e Termal, Sra. Sandra Regina Marques Dias da Silva,
requereu fosse a Denunciante redirecionada para outro posto de trabalho [doc. 05].
4. Ocorre que, antes desses fatos ocorridos, a Denunciante em meados do mês de
maio/2016, participou de um Curso de capacitaçã o do Capacita SUAS, que foi realizada pela
EDESP - Curso Capacita SUAS, de forma que para o desenvolvimento da capacitaçã o seria
necessá rio a utilizaçã o do sistema do “Plano Municipal de Assistência Social” [1], motivo
pelo qual fora fornecido uma ú nica senha de acesso ao site www.pmas.sp.gov.br do “Plano
Municipal de Assistência Social” para cada um dos participante da capacitaçã o dos
funcioná rios na utilizaçã o do referido sistema.
5. Ao acessar o sistema pela primeira vez a Denunciante foi surpreendida ao perceber que
seu nome consta formalmente como “coordenadora” no Plano Municipal de Assistência
Social da Diretoria Regional “DRADS” Piracicaba, gerida pelo Governo do Estado de Sã o
Paulo a qual dentre outras atribuiçõ es, tem o dever de assistir os Municípios e entidades
sociais na implementaçõ es e no acompanhamentos das políticas e programas de assistência
social [doc. 06].
6. Absolutamente suspeita e completamente equivocada o registro formal da Denunciante
no Sistema oficial do Plano Municipal de Assistência Social, Diretoria Regional “DRADS”
Piracicaba, gerida pelo Governo do Estado de Sã o Paulo como coordenadora do referido
CRAS, sopesando que nunca exerceu tal funçã o nem tinha conhecimento que seu nome lá
constava.
7. Surpreendida com a informaçã o descoberta, a Denunciante se aprofundou no estudo do
sistema do “Plano Municipal de Assistência Social” em busca de possíveis outras
irregularidades, e, encontrou algumas, o que a motivou a distribuir a presente denú ncia
buscando que este I. Parquet investigue as ilegalidades contidas na gestã o do CRAS.
8. Dessa forma, considerando diversas irregularidades que chegaram ao conhecimento da
Denunciante, é a presente para denunciar presumíveis atos de improbidade administrativa,
praticadas pela gestã o da Municipalidade de Á guas de Sã o Pedro, conforme será a seguir
exposto para que este Ministério Pú blico investigue as referidas irregularidades buscando
sana-las no intuito de normalizar o serviço oferecido pelo CRAS atualmente, visando
melhorar seu atendimento à populaçã o carente de políticas pú blicas.
II – DAS ILEGALIDADES NA GESTÃO DO CRAS
9. A Constituiçã o Federal de 1988 definiu que a Assistência Social, junto com a Saú de e a
Previdência formariam a Seguridade Social para que todos tivessem acesso à proteçã o
social. A partir disto, a Assistência Social passou a ser uma política pú blica. O Conselho
Nacional de Assistência Social (CNAS) aprovou a Política Nacional de Assistência Social
(PNAS), que define o funcionamento do Sistema Ú nico de Assistência Social (SUAS),
responsá vel pela organizaçã o e aplicaçã o da Lei Orgâ nica de Assistência Social (LOAS) em
todos os municípios brasileiros.
10. Para proteger famílias e pessoas em situaçõ es de risco, o SUAS criou os Centros de
Referência de Assistência Social (CRAS). Os CRAS sã o equipamentos instalados conforme
o nú mero de habitantes por á rea nos municípios, e também sã o responsá veis pela oferta de
serviços continuados de Proteçã o Social Bá sica [2].
11. Portanto, o CRAS é um equipamento pú blico do territó rio municipal que deve
implementar a Política Nacional de Assistência Social, articulando açõ es de proteçã o social
e vigilâ ncia social dos usuá rios, garantindo, de modo efetivo, o acesso a serviços, programas
e benefícios como direitos socioassistenciais.
12. As açõ es da política de assistência social podem ser executadas de forma direta pelo
poder pú blico ou em parceira com a sociedade civil, compondo a rede “socioassistencial”,
sendo essas açõ es classificadas em serviços, programas, projetos e benefícios, conforme
determinam o LOAS e Norma Operacional Bá sica do Sistema Ú nico de Assistência Social –
NOB/SUAS.
13. Ocorre que, o CRAS de Á guas de Sã o Pedro vêm sendo administrado sem atender as
diretrizes legais da sua constituiçã o jurídica enquanto equipamento pú blico de
atendimento à populaçã o. A coordenaçã o do CRAS vêm eximindo-se de suas
responsabilidades, “maquiando” informaçõ es, e mantendo registrada formalmente como
Coordenadora do referido equipamento pessoa diferente daquela que de fato exerce a
funçã o, em nítida atitude de esquivar-se das possíveis responsabilidades da administraçã o
do CRAS.
14. Ademais, diversas outras irregularidades puderam ser observadas nas diligências para
distribuiçã o da presente denú ncia, conforme descrito abaixo, tanto a execuçã o dos serviços,
como a gestã o dos recursos financeiros e, ainda, a relaçã o dos funcioná rios, encontram-se
absolutamente em desacordo com as diretrizes legais do estabelecimento do equipamento
em questã o.
II.I – ESPAÇO FÍSICO DA UNIDADE
15. É imprescindível que a infra-estrutura e os ambientes do CRAS atendam aos requisitos
legais para sua implementaçã o. A Resoluçã o da Comissã o Intergestores Tripartite nº 06 de
01/07/2008 determina que nã o é permitido o compartilhamento do espaço físico do CRAS
com estruturas administrativas. Contudo, a Municipalidade nã o atende tal requisito, vez
que no mesmo imó vel funcionam também a Secretaria de Promoção Social e Thermal e
o Fundo Social de Solidariedade. A saber:
PREFEITURA MUNICIPAL DE ÁGUAS DE SÃO PEDRO – SP
SECRETARIA DE PROMOÇÃO SOCIAL E THERMAL DE ÁGUAS DE SÃO PEDRO – SP

FUNDO SOCIAL DE SOLIDARIEDADE


SECRETARIA DE PROMOÇÃO SOCIAL E THERMAL

CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL CRAS “JARDIM JERUBIAÇABA”


17. Ou seja, as 3 (três) estruturas compartilham o mesmo endereço na Rua Antonio
Aparecido Barbosa nº 210 – Bairro Jardim Jerubiaçaba, Á guas de Sã o Pedro/SP,
contrariando totalmente o que dispõ e a legislaçã o, conforme imagens anexas [doc. 07].
18. Em completo desacordo com as diretrizes da Resoluçã o da Comissã o Intergestores
Tripartite nº 06 de 01/07/2008, a municipalidade de Á guas de Sã o Pedro vem permitindo
que estruturas administrativas ocupem o mesmo espaço do CRAS, fazendo com que seus
funcioná rios acumulem funçõ es, e nã o consigam exercer o atendimento correto que a
populaçã o mais vulnerá vel carece.
19. Essa discrepâ ncia administrativa é de fá cil percepçã o conforme imagens inclusas.
Ademais, uma simples visita “in loco” pode constatar as alegaçõ es nesta peça exordial.
II.II – DA EQUIPE
20. Igualmente, também é imprescindível que as atribuiçõ es da equipe de referência do
CRAS sejam exclusivas para o cumprimento das funçõ es da Unidade, portanto, a equipe do
CRAS ou parte dela nã o pode acumular atividades referentes a outros serviços, somente os
serviços socioassistenciais ofertados pelo CRAS.
21. A equipe de referência do CRAS Jd. Jerubiaçaba deveria ser constituída de acordo com o
que determina a Norma Operacional Bá sica de Recursos Humanos do SUAS –
NOB-RH/SUAS, sendo certo que a baixa rotatividade é fundamental para garantir a
continuidade, eficá cia e efetividade dos serviços oferecidos. Para um CRAS com até 2.500
famílias referenciadas, o mínimo da equipe deve ser 2 (dois) técnicos com nível médio
e 2 (dois) técnicos com nível superior, sendo um assistente social e outro
preferencialmente psicólogo.
22. Ainda, a equipe de referência do CRAS deve sempre contar com um coordenador com
nível superior, concursado, com experiência em trabalhos comunitá rios.
23. Entretanto, a equipe de referência do CRAS Jardim Jerubiaçaba nã o observou as
exigências, sendo a equipe é composta hoje por:
SANDRA – Senhora esposa do Prefeito (Primeira Dama), desenvolvendo as funçõ es de:
- Secretá ria de Promoçã o Social e Thermal [doc.08];
- Presidente do Fundo Social de Solidariedade [doc.08];
- Responsá vel pelo Ó rgã o Gestor da Assistência Social [doc.08].
SALETE :
- Assistente Social; n
- Coordenadora do CRAS – Jardim Jerubiaçaba, conforme consta nas notícias anexas [doc.
09];
- Responsá vel pela Secretaria de Promoçã o Social e Thermal, conforme consta em ofícios e
no site do PMAS [doc. 09]; e
- Contratada como Assessora de Secretá rio. [doc. 09]
ANA - Monitora da Oficina de Customizaçã o; desenvolve serviços gerais conforme folha de
frequência, e é recepcionista dos 3 (três) Ó rgã os: Fundo Social / Secretaria de Promoçã o
Social e Thermal / CRAS [doc. 10];
MARIA: Aux. Serviços Gerais, conforme consta na folha de frequência [doc. 11];
LINA V: Monitora, conforme consta na folha de frequência [doc. 12];
VANESSA : Monitora na Oficina de Culiná ria e Auxiliar de Serviços Gerais, conforme consta
na folha de frequência [doc. 13];
DANIELA : Psicó loga do CRAS Jardim Jerubiaçaba; mas é contratada como assessora de
secretá rio, conforme consta na folha de frequência [doc. 14].
24. Como consta da lista de funcioná rios diretamente ligados ao CRAS, a Sra. SALETE A é
Assistente Social, muito embora nã o exerça essa funçã o, nem tenha sido contratada com
essa finalidade, SALETE, que também está contratada como Assistente de Secretá rio, em
verdade, exerce funçã o de coordenaçã o do CRAS - conquanto tenha formalizado o nome da
denunciante com essa funçã o nos ó rgã os oficiais do Município e do Estado de Sã o Paulo.
25. Consta em diversas notícias sobre o CRAS, o nome da Sra. SALETE como coordenadora
do referido equipamento pú blico, ainda assim, consultando o sistema do “Plano Municipal
de Assistência Social”, é possível perceber que equivocadamente consta nos quadros do
CRAS como coordenadora denunciante, ou seja, a Srta. RENATA , embora ela nunca tenha
exercido essa funçã o, nem soubesse que constasse seu nome como responsá vel pelo
equipamento pú blico denominado CRAS.
26. A denunciante estranha que a Sra. SALETE nã o conste oficialmente como coordenadora
já que exerce essa funçã o, por isso, esse fato também deverá ser motivo de investigaçã o por
parte desta E. Promotoria Pú blica, pois gravíssimo os fatos narrados e percebidos pela
Denunciante.
27. Ademais, a Srta. RENATA , já nã o faz mais parte do quadro de funcioná rios do CRAS,
pois arbitrariamente foi remanejada em claro desvio de sua funçã o, ainda assim, consta
oficialmente como coordenadora para os ó rgã os oficiais, o que é de fato muito preocupante,
pois pode lhe gerar responsabilidades fiscais decorrentes do exercício da referida funçã o,
devendo ser normalizada urgentemente a condiçã o da coordenaçã o do CRAS [doc. 15].
28. As funcioná rias ANA , acumula irregularmente três funçõ es: de monitora, aux. serviços
gerais, e, ainda, recepçã o, considerando ainda que na recepçã o ela faz atendimento para os
3 (três) ó rgã os que funcionam no mesmo prédio, caracterizando irregularidade evidente no
exercício das atividades do CRAS, que nã o poderia dividir o espaço com outros seguimentos
administrativos, como o caso do Fundo Social e da Secretaria de Promoçã o Social e
Thermal, dos quais ANA também atende na recepçã o ao mesmo tempo, e que estã o
instalados no mesmo prédio que o CRAS.
29. Já as funcioná rias MARIA , LINA e VANESSA , embora exerçam suas funçõ es com zelo e
dedicaçã o, e seus trabalhos sejam absolutamente ú teis e necessá rios à prestaçã o dos
serviços que o CRAS oferece, nã o possuem formaçã o acadêmica que supra a necessidade de
uma assistente social e uma psicó loga, além de que a VANESSA acumula duas funçõ es:
prestadora de serviços gerais, e, ainda, monitora.
30. Atualmente o CRAS nã o conta com nenhuma Assistente Social desde a arbitrá ria
transferência da Denunciante, nã o existindo atualmente uma profissional que realize os
atendimentos necessá rios como a legislaçã o exige, sendo que a pessoa aprovada em
concurso pú blico para exercer essa funçã o foi transferida sem justificativa legal, e, desviada
de sua funçã o, sucateando nitidamente os serviços prestados pelo CRAS em interesse
pessoal e difuso da Sra. SALETE e Sra. SANDRA, suprindo direito líquido e certo da
Denunciante de exercer a funçã o da qual foi aprovada por concurso pú blico.
31. Por fim, DANIELA, que exerce funçã o de psicó loga no CRAS, na verdade, está
contratada como Assistente de Secretá rio, embora seja a ú nica psicó loga locada em
exercício no referido equipamento, sua funçã o nã o está devidamente descrita nos quadros
de funcioná rios, sendo que ela também já constou como coordenadora do CRAS, sem que
estivesse de fato exercendo tal funçã o, demonstrando que a prá tica de camuflar a
coordenaçã o do CRAS é comum por parte da Secretaria de Promoçã o Social.
32. Embora a Sra. SALETE seja de fato a Coordenadora do CRAS, ela nã o está assim
registrada nas formalizaçõ es oficiais deste cargo, e provavelmente nunca esteve, a mesma
também nã o exerce a funçã o de Assistente Social, pois sã o corriqueiros os pedidos para que
a Denunciante proceda atendimentos desta natureza. Ainda que a Denunciante esteja agora
lotada na Secretá ria de Saú de (UBS), entretanto os holerites ainda constam como na
Secretá ria de Promoçã o Termal, sendo que recebe insalubridade que somente poderia ser
pela Saú de. [doc. 16]
33. Sra. SALETE está contratada como Assistente de Secretá rio - e nã o como Assistente
Social, nã o obstante seja atualmente a ú nica pessoa com tal formaçã o disponível no
equipamento, nã o exerce a referida funçã o, limitando-se a gestã o administrativa do CRAS
através da coordenaçã o. Lembrando, mais uma vez, que ela mesma afastou a Denunciante
de suas funçõ es, sendo certo que a Denunciante seria a pessoa adequada para exercício da
funçã o, tendo inclusive sido aprovada em concurso para essa finalidade, quando a Sra.
SALETE é na verdade uma contratada que pode deixar o cargo a qualquer momento, sem
gozar da estabilidade que pode vir a ser adquirida pela Denunciante se aprovada pelo
está gio probató rio.
34. Destaca-se que, com o remanejamento da assistente social RENATA ora Denunciante, o
CRAS encontra-se atualmente sem profissional de que deveria obrigatoriamente dispor
conforme a legislaçã o, e, mesmo apó s sua transferência de setor, ainda sã o lhe
encaminhados diversos casos para atendimento, porém sem estrutura e adequaçã o
necessá ria fica impedida de exercer sua funçã o.
35. Ainda que a Srta. SALETE tenha formaçã o em Assistência Social, nã o prestou concurso
nem foi contratada para essa finalidade, e ainda desviou de sua funçã o a pessoa
devidamente aprovada em concurso para exercício da funçã o. Outrossim, o município
publicou edital e criou concurso específico para ocupaçã o do cargo de assistente social, e,
com isso, conseguiu selecionar a Denunciante que teve boa colocaçã o no concurso, ainda
assim, em nítido prejuízo aos custos desse procedimento de contrataçã o que o município
custeou, a Sra. SANDRA, contrariando as diretrizes da legislaçã o e do pró prio planejamento
do município - que previu a contrataçã o da referida assistente social - e todas as normas
administrativas possíveis, para desviar a Denunciante de sua funçã o legal, mantendo-a
impedida de exercer a atividade para qual tomou posse.
36. Atualmente o CRAS nã o conta com uma Assistente Social no quadro funcional, embora a
lei exija que possua, ademais careça necessariamente do exercício dessa funçã o.
II.III – DOS CONSELHOS
37. A Carta Magna de 1988 regulamentou uma série de reivindicaçõ es das organizaçõ es
populares em muitos artigos. A participaçã o popular na elaboraçã o das políticas pú blicas,
através da atuaçã o em Conselhos de gestã o, sejam eles, federais, estaduais ou municipais,
foi assegurada nos artigos 203 e 204 do texto constitucional.
38. Dessa forma, os conselhos sã o ferramentas essenciais para a participaçã o social
democrá tica, pois com a presença dos cidadã os no processo de formulaçã o do controle das
políticas pú blicas ampliam o espaço politico para avanços de direitos diante da
desigualdade social, bem como com a presença de pessoas da sociedade cível consegue-se
avançar na participaçã o da gestaçã o de recursos pú blicos, ou seja, os Conselhos devem
atuar com o má ximo de transparência.
39. Nã o é o que ocorre na Municipalidade de Á guas de Sã o Pedro, pois a Denunciante
espantou-se ao se deparar com o Decreto nº 4710 de 24/02/2016 [doc. 17] onde consta
como “representante da á rea social” no referido Conselho municipal, tendo como suplente
a Sra. Salete M. Fedrizzi de Moura.
40. Ora! A Denunciante nã o foi convidada nem informada para participar do Conselho,
tampouco deu anuência para que seu nome constasse como conselheira - foi incluída de
modo ilegal apenas para “cumprir” uma exigência da legislaçã o, sem, contudo, ser sequer
informada de tal atribuiçã o.
41. O Conselho Municipal de Assistência Social – CMAS existe apenas no decreto, nã o
funciona de fato, mas foi incluído no PMAS de 2016 conforme avaliaçã o anexa [doc. 18],
onde descaradamente consta que o CMAS é utilizado para realizar avaliaçõ es, e no quesito
onde solicita o parecer do CMAS foi incluído o seguinte comentá rio ipsis litteris:
“De acordo com as atribuições legais o Conselho Municipal de Assistência Social de 2016. Os
membros analisaram as ações, projetos e orçamento a ser desenvolvidos como também as
verbas. Onde por unanimidade aprovou-se o Plano de prestação de contas.” (g.n.)
42. Gravíssima a irregularidade cometida pela Municipalidade, pois os Conselhos sã o
instituídos de maneira ilegal, apenas para anuência á s decisõ es administrativas do
município de Á guas de Sã o Pedro, sem que tenha seu exercício garantido de fato como
prevê a Lei, sendo utilizados para falsidades como a acima descrita, usando-se dos nomes
das pessoas ilegalmente, como foi o caso específico da Denunciante.
43. De fato que o Conselho Municipal de Assistência Social vem sendo utilizado pela Sra.
SALETE de forma irregular, para referendar seus interesses administrativos, e, para tanto,
ainda utiliza de meios ilícitos, como a nomeaçã o compulsó ria da Denunciante para constar
como membro de um Conselho que nunca fez parte.
44. Ainda, essa irregularidade inviabiliza o verdadeiro objetivo da formação dos
conselhos, que é a participação da população, pois a população não é chamada
publicamente para compor e participar do conselho, o qual virou ferramenta
administrativa da Secretária de Promoção Social para referendar atos
administrativos suspeitos, e eximir a coordenação de ser responsabilizada
legalmente por sua improbidade administrativa.
45. Todos os outros Conselhos existentes na Municipalidade de Á guas de Sã o Pedro, como,
por exemplo: o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente; Conselho
Municipal de Alimentaçã o Escolar (CAE); e Conselho Deliberativo do Fundo Social de
Solidariedade, conforme decretos anexos [doc. 19], devem ser investigados por esta I.
Promotoria, vez que nítidas as irregularidades prestadas pela Municipalidade no caso
específico, ora apresentado e, muito prová vel, que a prá tica aqui avançada seja utilizada
também no exercício dos demais conselhos, buscando maquiar a realidade administrativa
do município de forma, aparentemente, criminosa.
46. A Lei nº 8.742/1993, que dispõ e sobre a Organizaçã o da Assistência Social estabelece:
Art. 9º O funcionamento das entidades e organizações de assistência social depende de
prévia inscrição no respectivo Conselho Municipal de Assistência Social, ou no Conselho
de Assistência Social do Distrito Federal, conforme o caso.
§ 1º A regulamentação desta lei definirá os critérios de inscrição e funcionamento das
entidades com atuação em mais de um município no mesmo Estado, ou em mais de um Estado
ou Distrito Federal.
§ 2º Cabe ao Conselho Municipal de Assistência Social e ao Conselho de Assistência
Social do Distrito Federal a fiscalização das entidades referidas no caput na forma
prevista em lei ou regulamento.
47. Resta claro que referido conselho é alvo de instrumentalizaçã o por parte da
administraçã o da Municipalidade que o utiliza como mero aparelho de legitimaçã o da má
gestã o das suas políticas pú blicas, assim, cabe ao Ministério Pú blico investigar os fatos
narrados para defesa dos interesses sociais e na defesa do ordem jurídica e da
regulamentaçã o dos serviços oferecidos pelos CRAS.
48. Nesses moldes, é latente a ocorrência de conduta improba da Municipalidade, causando
dano ao erá rio pú blico, violando os princípios da legalidade, moralidade, igualdade,
impessoalidade e probidade administrativa.
49. Motivo pelo qual os conselhos devem ser investigados, e regularizados para que de fato
atinjam seus reais objetivos de fiscalizaçã o do pode pú blico municipal.
II.IV – DOS RECURSOS FINANCEIROS
50. A Municipalidade tem o dever de informar a populaçã o sobre como é gasto o dinheiro
pú blico. A Prefeitura deve prestar contas à populaçã o e publicar suas contas de forma
simples em local visível e de fá cil acesso para todos os cidadã os, o que também nã o
acontece, vez que o Portal da Transparência de Á guas de Sã o Pedro é confuso e as
informaçõ es nã o sã o claras.
51. Além disso, a Lei de Responsabilidade Fiscal determina em seus artigos 48 e 49, que a
prefeitura deve incentivar a participaçã o popular na discussã o de planos e orçamentos, o
que também nã o ocorre, pois os Conselhos Municipais existem somente na lei, nã o na
prá tica, sendo que a populaçã o nã o é chamada para participar dos referidos conselhos.
52. Assim sendo, a obtençã o de dados sobre os recursos específicos do CRAS só foi possível
apó s a Denunciante participar do Curso de Capacitaçã o SUAS ocorrido de 02 a 06 de maio
de 2016, e ter acesso à senha de navegaçã o do sistema, que até entã o ela nunca possuiu.
53. O efetivo funcionamento dos CRAS pressupõ e o financiamento, o conhecimento das
necessidades da populaçã o a ser atendida, o planejamento das açõ es, a organizaçã o do
trabalho, bem como a definiçã o das informaçõ es coletadas.
54. Há , nos documentos anexos do PMAS pagamento vultosas quantias de recursos para o
CRAS [doc. 20] que nos levam a crer pelas irregularidades apontadas que nã o sã o
utilizados para a finalidade objetiva desses recursos. Tudo indica que a administraçã o do
Município usou o nome de pessoas que nã o sabiam que estavam sendo usadas, para dar
ares de legalida;de à s operaçõ es, ou seja, pessoas que desconhecem a origem e a finalidade
dos recursos, e, muitas vezes nem sabem que seus nomes estã o sendo usados.
55. Portanto, resta demonstrada a ineficiência na manutençã o da estrutura de
funcionamento dos CRAS e a centralizaçã o de informaçõ es sobre os recursos financeiros,
uma vez que nã o existem instrumentos adequados que possibilitem a transparência das
aplicaçõ es dos recursos pú blicos como exige a Lei vigente.
56. O que se extrai dos documentos anexos, é que a Municipalidade desrespeita a
legalidade por nã o cumprir os procedimentos exigidos pela legislaçã o, sã o inú meros
indícios que os recursos nã o estã o sendo aplicados corretamente e, prová vel que ocorram
desvios de finalidade.
57. Insta consignar que pelo princípio da moralidade administrativa ou da probidade
administrativa, requer-se dos administradores pú blicos a observâ ncia “não só da legalidade
formal restrita, mas também de princípios éticos, de lealdade, de boa-fé, de regras que
assegurem a boa administração e a disciplina interna na Administração Pública” [3]
58. O dever de eficiência é dirigido para todo o seio do serviço pú blico, a conduta da gestã o
municipal, nã o só descumpre o dever de ofício - zelar por um mandato probo e voltado
para atender o interesse pú blico - mas, também, age negligentemente quanto á s verbas
pú blicas.
59. Ao realizar o confronto entre o plano fá tico e o normativo, está claro que a conduta da
Municipalidade atenta contra os princípios da Administraçã o, descritas no artigo 10, caput,
XI, XIII, XIV e 11, caput, I, da Lei nº 8.429/92:
“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer
ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta
lei, e notadamente:
XI – liberar verba pública sem a estrita observância das
normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;
XIII – permitir que se utilize, em obra ou serviço particular,
veículos, máquinas, equipamentos, ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à
disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho
de servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades;
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação de serviços
públicos por meio da gestão associada sem observar as formalidades previstas na lei; (...)
60. Nessa linha de raciocínio, as condutas permeadas pelos denunciados colidem
frontalmente com o princípio constitucional da moralidade administrativa, no sentido de
que todo ato do agente pú blico deve ser estribado em regras de disciplina para nã o
infringir a legislaçã o pá tria, sempre visando resguardar o interesse coletivo.
61. Nã o é demais salientar que, no caso em tela, também ocorreu violaçã o ao mandamento
da legalidade, eis que ao agirem com improbidade, desrespeitaram nã o só os ditames da
Carta Constitucional, mas também a Lei nº 8.429/92, que estabelecem esse dever.
62. Por tudo que fora exposto, é imprescindível que a Secretá ria de Promoçã o Social
apresente a este Ministério Pú blico as despesas realizadas durante sua gestã o do
equipamento pú blico denominado CRAS, para que se possa verificar a aplicaçã o dos
recurso pú blicos na gestã o do CRAS.
II.V – DA COORDENAÇÃO DO CRAS
63. Como já avançado nos tó picos anteriores, a Coordenaçã o do CRAS vem sendo exercida
de forma clandestina para maquiar a verdadeira responsabilidade por sua administraçã o,
visando responsabilizar terceira pessoa que nunca exerceu a referida funçã o de fato.
64. Essa informaçã o pode ser verificara no documento impresso pela Denunciante, na
oportunidade de acesso ao sistema do “Plano Municipal de Assistência Social” [4], no site
www.pmas.sp.gov.br do “Plano Municipal de Assistência Social” [ibidem doc. 06], onde
consta como coordenadora do CRAS a Denunciante, que nã o sabia até entã o que
formalmente estava classificada com essa funçã o.
65. Realizando um estudo histó rico da coordenaçã o do CRAS, é possível perceber que a Sra.
SALETE nunca esteve oficialmente classificada como coordenadora do CRAS, embora
sempre tenha exercido essa funçã o, por motivos alheios ao conhecimento da Denunciante,
a Sra. SALETE sempre procurou manter formalmente nos quadros oficiais de registro
terceira pessoa como responsá vel pela gestã o e coordenaçã o do CRAS, visando
responsabilizar terceiros pelas suas açõ es administrativas.
66. Essa conduta, além de suspeita, é completamente incompatível com a boa-fé da
administraçã o pú blica, pois visa eximir da responsabilidade funcional a pessoa que de fato
exerce e sempre exerceu tal funçã o.
67. Esses fatos sã o demasiadamente preocupantes, e colocam em risco a prestaçã o do
serviço pú blico ao atendimento da comunidade, pois existe a possibilidade de que uma
quadrilha esteja formada com a finalidade de desviar recursos e funçõ es no â mbito da
administraçã o do CRAS.
68. Por fim, se faz necessá ria realizaçã o de diligência no sentido de descobrir qual a
motivaçã o da Sra. SALETE em omitir sua verdadeira funçã o, e administrar o CRAS sem
qualquer critério do direito administrativo, sem seguir normas legais, sem padrõ es de
eficiência, e colocando em risco os atos administrativos da coordenaçã o do CRAS.
69. Nesse sentido, deverá a mesma ser notificada para que esclareça os apontamentos
acima questionados, bem como, esclareça também a este Ministério Pú blico, fiscal da lei,
com quais critérios nomeou-se pessoas diversa da que exerce de fato a funçã o, bem como
porque esquiva-se de formalizar oficialmente a funçã o que exerce de fato.
III – CONCLUSÃO E PEDIDOS
70. Ante todo o exposto, clamando pelo notá vel saber jurídico desta (e) DD. Representante
do Ministério Pú blico, pelo brilhante senso de justiça na execuçã o de suas atribuiçõ es
funcionais, nos termos do art. 129, inciso II, da CF, requer digne-se, em cará ter de
URGÊ NCIA-URGENTÍSSIMA:
i) Diligenciar “in loco” para fins de CONSTATAÇÃ O e COMPROVAÇÃ O dos fatos, ora
relatados;
ii) Seja instaurado o competente procedimento, por esse DD. Ministério Pú blico Estadual,
na funçã o de fiscal da lei para fins de apuraçã o e tomada de providências cabíveis;
iii) Determinar a notificaçã o da Gestã o do CRAS para prestar depoimento sobre os fatos;
iv) Determinar a expediçã o de ofício à Secretaria Promoçã o Social e Thermal da
Municipalidade de Á guas de Sã o Pedro requisitando:
a) informaçõ es sobre o nú mero de famílias referenciadas atendidas pelo CRAS Jardim
Jerubiaçaba;
b) relaçã o nominal dos servidores lotados no CRAS Jardim Jerubiaçaba, com indicaçã o do
tipo de formaçã o acadêmica ou profissional e espécie de vínculo trabalhista com o
Município;
c) có pia dos relató rios mensais de que trata a Resoluçã o nº 4, de 24 de maio de 2011 –
Comissã o Intergestores Tripartite – Secretaria Nacional de Assistência Social – dos ú ltimos
24 (vinte e quatro) meses;
d) relaçã o dos atendimentos nã o concluídos pela unidade do CRAS Jd. Jerubiaçaba; e
e) prestaçã o de contas minuciosa dos recursos pú blicos disponibilizados para
administraçã o do CRAS e sua real destinaçã o detalhada.
v) Seja fotocopiado todo procedimento, com a inicial, e encaminhado para Procuradoria-
Geral de Justiça para fins criminais (instauraçã o de Inquérito Policial), já que presente foro
privilegiado, na seara penal, envolvendo Prefeito Municipal, no caso;
vi) Seja requerida judicialmente a indisponibilidade dos bens dos Requeridos mencionados
nesta inicial nos termos da fundamentaçã o delineada, determinando-se a quebra do sigilo
bancá rio dos administradores envolvidos na presente denú ncia;
vii) Seja oficiado e encaminhado a có pia da inicial para o Tribunal de Contas, para que
proceda auditoria nas prestaçõ es de contas do Município;
viii) Confirmando as evidências apresentadas, devem ser aplicadas a Municipalidade,
proporcionalmente à gravidade dos fatos imputados, as reprimendas do art. 12, II e III, da
Lei 8.429/92, pela prá tica de atos de improbidade administrativa, que causam lesã o ao
Erá rio e que atentam contra os princípios da Administraçã o Pú blica;
Por fim, protesta pela produçã o de todas as provas admitidas em direito, especialmente a
oitiva de testemunhas [doc. 21] arroladas abaixo, depoimento pessoal dos Requeridos,
juntada de documentos.
Termos em que,
p. deferimento.
Piracicaba, 11 de agosto de 2016.

MARCELA BRAGAIA
OAB/SP 329.604
ROL DE TESTEMUNHAS USUÁRIAS:

VANESSA

TÂNIA

ELIANE
[1] http://www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br/a2sitebox/arquivos/documentos/78.pdf
[2] Sistema Ú nico de Assistência Social – SUAS. Compromissos e responsabilidades para
assegurar proteçã o social pelo Sistema Ú nico de Assistência Social. Brasília, Dezembro de
2006, p. 20.
[3] Di Pietro, Maria Sylvia Zanela. Direito Administrativo, 13ª Ed. Sã o Paulo: Atlas, 2001, p.
647
[4] http://www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br/a2sitebox/arquivos/documentos/78.pdf
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