Você está na página 1de 9

Resumo da obra

Perto do coração selvagem é a primeira obra de Clarice Lispector, publicado em


1944, mas já fazendo parte da terceira fase do modernismo, que tem como uma de suas
maiores características a introspecção das personagens que fazem parte da obra,
elemento muito presente nas obras clarissianas. Nessa obra a imagem de mulher ,que na
literatura masculina do século XVIII é sempre representada por uma personagem que
tem todo seu desenvolvimento dependente de um homem, e feita em pedaços pela
narrativa de Clarisse que apresenta uma personagem feminina que pensa e reflete sobre
a sua vida e sobre aquilo que lhe interessa e não tem sua existência baseada na figura de
um homem.
Esta é uma obra que, diferentemente da maioria dos romances escritos, não usa a
típica linha do tempo abordada nesse tipo de texto: Início, meio e fim de uma história
bem amarrada e linear. Não! Nesse texto, o leitor acompanha alguns acontecimentos da
vida da protagonista, Joana, que deseja fortemente uma razão para viver e enquanto não
encontra decide viver a vida por meio de ciclos, como a infância e, após isso, a viva
adulta que talvez ela, mesmo com idade condizente, não tenha sido capaz de alcançar.
Joana está sempre pensando e observando o mundo ao seu redor e a partir desse
ponto passa a construir inúmeros degraus em forma de pensamento que ao final não
parece ser suficientemente consistente a escada formada por eles que nem mesmo
ela ,que a fez, teria coragem de usá-la. Isso, coragem é algo que não está presente nas
ações de Joana, com exceção da vez que roubou um livro na livraria e quando sua tia a
confronta e pergunta-lhe o porquê de ter feito desprezível ato, ela simplesmente diz que
como não tinha medo de fazer, não havia uma razão para não a fazer.
Na primeira parte do livro conhecemos mais sobre a vida de Joana por meio de
uma narrativa que alterna passado e presente mostrando para os leitores importantes
acontecimentos na vida de Joana na sua infância e na fase adulta, mostrando que talvez
não haja tanta diferença entre essas duas Joanas. Em relação à segunda parte da obra,
acompanhamos os densos mergulhos de Joana em seu eu interior e suas consequentes
descobertas e reflexões sobre a vida, além do desenrolar de sua vida de casada com seu
marido Otávio.
Sobre as demais personagens da obra podemos destacar: Otávio e Lídia. Otávio
é um homem comum que estava se preparando para casar-se com Lídia, uma mulher
também comum, mas ao deparar-se com Joana sente-se atiçado a conhecer mais sobre
essa encantadora e estranha mulher que alisava uma cadela grávida. Após romper seu
casamento com Lídia e casar-se com Joana, Otávio percebe que Joana é uma mulher fria
e estranha e que por ela ser tão poderosa, ele tem sua masculinidade castrada e
diminuída por ela e decide voltar para os braços de Lídia, por meio de uma traição.
A partir dessa traição, Lídia, uma mulher bela, formosa, que sabe seu papel
como mulher e que foi criada para tal, ou seja, o contrário de Joana engravida de Otávio
e manda uma carta para Joana chamando-a para um encontro. Ao chegar na casa de
Lídia, Joana logo é atingida pela gravidez da voluptuosa mulher a sua frente e decide
partir sem terem mal trocado uma palavra. Lídia a convence a ficar e conversar, no
entanto a conclusão que Joana tem dessa conversa e que ela engravidará de Otávio e o
deixará para Lídia.
Percebe-se mais uma quebra de imagens, pois agora o homem, Otávio é
visto como um mero reprodutor, e não uma mulher tem esse papel. Além disso,
nota-se que Lídia é o total oposto de Joana, pois enquanto Lídia aceita seu papel
como esposa e procura dedicar-se a ele, Joana questiona o casamento e tudo que
esse trouxe para sua vida, como a redução dos momentos em que estaria sozinha
junto ao coração selvagem da vida, ou como disse James Joyce “Ele estava só.
Estava abandonado, feliz, perto do selvagem coração da vida.” Por isso após
ser rejeitada pelo homem e pelo Otávio ela decide sair para viajar e ficar
finalmente livre.
Resumos dos capítulos
Primeira parte

O Pai...
Joana é uma criança que se perde em seus pensamentos e tédios, além de prestar
bastante atenção nos sons incomuns ao seu redor. Ela gosta de olhar o tempo e quando
não sabe o que fazer pergunta seu pai.

O dia de Joana
Joana é uma mulher com um animal perfeito dentro de si, mas com medo de ver
seu verdadeira forma se soltá-lo. Para ela a bondade é algo morno e quase podre, como
uma carne velha que persiste em não estragar. Ela aceita tudo que vem de si, pois pode
estar pisando em algo vital a ela ao se recusar. Ser livre é seguir-se. Falta-lhe vida. Ela
sabe que vive, mas não sabe quem é, ou melhor, não pode dizer. Ela vive por piedade,
esse é seu amor. Para ela, sua vida foi fútil. Otávio, seu marido.

... A mãe...
O pai não presta tanta atenção na filha. A mãe era bruta? Religiosa. Elza, a mãe,
tinha forte raiva e seca bondade. Joana tem mede do escuro e de Elza. Joana não gosta
de se divertir . ?

O passeio de Joana
Aceitava o medo de sofrer e guardava a piedade de ambos, Otávio. Para ela, a
mulher liga-se ao homem quando é aprisionada por ele. Talvez não goste da natureza.
Otávio tem olhar de ‘’ me poupe ‘’. Um ponto sem dimensões é o máximo de solidão,
pois não pode contar nem consigo mesmo. Ela ama-o.

... A tia...
Joana perdeu seu pai, mas como ? e foi morar com sua tia gorda perto do mar.
Não gosta da tia e de seus beijos ensossos... Joana foge para o mar e lá aprecia o sal e a
areia que a pinicam, além disso, sente uma tristeza morne, talvez, pela morte de seu pai.
Sente-se insegura por ter que morar com a tia e não sabe o que irá fazer... tem algo atrás
da cortina ?

Alegrias de Joana
Joana sentia felicidade ao refletir sobre questões como a eternidade, a sucessão.
Subir o monte era outra sensação que lhe dava felicidade. Sentia seu pensamento
conectado às músicas que ouvia, mas deixava de sentir-se assim quando a música ficara
famosa ou quando a ouvia muitas vezes. Aquilo que era visto passava a existir. Círculos
eram coisas completas, enquanto linhas eram mais belas porque ninguém podia levá-las
a um fim. Fica feliz ao perceber algo novo sobre si enquanto falava. Sente sua infância
mais fortemente hoje do que quando criança.

... O banho...
Para Joana, ela pode fazer o que quiser, até roubar, contanto que não sinta medo
daquilo que está fazendo. Seus tios, Alberto e tia, ficam incrédulos com essa atitude da
garota, por serem religiosos, além disso, sua tia a chama de víbora fria sem amigos e
sem Deus capaz até mesmo de matar e decidem mandá-la para um internato. Joana ouvi
tudo e vai para o seu refúgio, o professor. Na conversa com ela, não sobre esse assunto,
ela diz que o que mais gosta é tudo e é perceptível sua inveja pela esposa da professor,
uma mulher. Ele é inalcançável para ela, por isso ela corre para se renovar no mar.
Parece gostar de ver as pessoas ( ‘’Quando é que eu vou para o internato ?’’) e gostaria
de ser uma estrela.

A mulher da voz e Joana


Joana se casa com Otávio e um dia vai sozinha olhar uma casa para alugar. Lá
encontra uma mulher com uma voz de alguém que viveu algo desconhecido por Joana,
uma entonação longe da vida. Ela sorria sem alegria, sua voz parecia ter percorrido
longos caminhos até chegar na garganta. Joana passou a tarde pensado na mulher da
voz, desvendando sua história. Joana invejava aquele ser meio morto porque ela
compreendia a vida.

... Otávio...
Acorda em uma manhã e tem o pressentimento que ia pensar algo surpreendente,
mas se esvai. Fecha a visão e os demais sentidos próximo à janela para meditar, mas o
pensamento não renasce. Olha-se no espelho, ri e observa-se, fala palavras estranhas de
maneira não intencional e observa-se, sentindo-se mais leve. Percebe que o ato de rezar
seria o remédio para o tedio que sentia, mas prefere não se submeter a esse covarde ato
e sim desbravar todo tipo de dor que sentia, já que, se começasse a rezar, teria que entrar
para um convento porque toda a morfina seria pouca.
Otávio tem um desejo de ter a absolvição de Deus mesmo que, em sua mente,
ele não tenha cometido um pecado. Ama sua prima Isabel, mas odeia-a por não poder
amá-la, prima velha. Lídia é sua noiva ? Otávio aperfeiçoa ela e a deixa mais viva,
enquanto ele se sente morto. Otávio vacilão (sonho).
Quando se encontraram pela primeira vez, Joana e Otávio, ele achou algo nela
que o atraia e repugnava-lhe, sua forma de ser. Não olhava para ela como alguém
atraente nem bonita. Medo de não amar é pior que o medo de não ser amado... Ao
abraçá-la, Otávio sente Joana viva; e ao beijá-la, ele sente-se livre. Tarde demais, ele
prefere-a a Lídia, e espera que em seus dias juntos ela seja pior que ele e ensinara-lhe a
não ter medo. Ele a queria para que ela o fizesse viver e crê que poderá continuar a
pecar se estiver ao seu lado.

Otávio beijou-a, mas ela não gostou da sensação porque não sabia como se
portar diante da mesma, assim como se intrigava por sentir dor de algo que lhe trouxera
felicidade. Procurou-o e sentiu novamente a angustiante sensação, casou-se. Após
experimentar os prazeres do matrimonio, sentiu-se mais viva e renovada, aos poucos
acostumou-se a ser feliz. E desejava fortemente se encontrar cada vez mais. A vida dela
é feito de pequenos ciclos que ficam cheios de passados e esvaem-se, o pensamento é
sua maior dádiva.
Segunda parte

O casamento
No casamento, provavelmente, na festa, Joana entretém-se nas escadas,
apreciando o novo sentimento e os leques dos possíveis convidados. Mais tarde, Joana
pega um livro para Otávio e após um momento sem prestar atenção na esposa ele
estende a mão que e pega por Joana, mas logo ele volta para seus estudos e ela enfurece-
se. Dessa fúria, Joana percebera que agora que era casada, pouco tempo tinha para
pensar como sempre fizera, como se esses intervalos de tempo fossem cubos de gelo
que derretem rapidamente. Decidiu que ia deixá-lo, mas se conteve, pois a piedade
abrangera-a. ‘’ Ama mais o que quer do que a si mesma’’. Pousou a cabeça em seu
peito.

O abrigo no professor
Joana decidiu que iria visitar o professor antes de se casar. Sentiu-se
tremulamente alegre pela ideia de encontrá-lo novamente. Agora, o professor estava
doente, velho, gordo e prestava mais atenção nos ponteiros do relógio e frascos de
remédio que na conversa que estava tendo com Joana. Após um tempo, Joana sente que
ele quer que ela vá embora.

A pequena família
Otávio trabalha regido por pequenas hábitos que mais parecem superstições, da
mesma forma, sua vida era norteada por permitidos e tabus. O fato de Joana não viver
dessa forma, e sim amando repentinamente algumas coisas e cega para outras. Certo dia,
mesmo antes de fazer seus rituais, e logo ter desculpado-se por isso, escreveu o
seguinte: “ É necessário certo grau de cegueira para poder enxergar determinadas
coisas.(...). Mas exatamente aquelas coisas escapam à luz. Na escuridão tornam-se
fosforescentes. Vive com uma mulher nua e fria. “Não agasalho meus erros, mas que
todos me agalhem”, enquanto Joana não erra.
Dentro do mundo não há lugar para outras criações. Há apenas oportunidade de
reintegração e continuação. Tudo o que poderia existir, já existe. Nada mais pode ser
criado senão revelado. Quanto mais evoluído o homem mais princípios e leis para sua
vida ele estabelece, então, um Deus de livre arbítrio não seria inferior a um Deus de
uma só lei?
Lídia é amante de Otávio, tem como amante sua ex-noiva. Ela não quer perdê-lo,
mas não teme que isso acorra, isso o surpreende. Eles ficam juntos pois se entendem,
pois viveram sob o mesmo teto e conhecem um a o outro há muito tempo. Lídia está
gravida de Otávio. Lídia fica feliz porque terá sua pequena família.

O encontro de Otávio
No meio da noite, Joana acorda entre blocos negros de sono. Relutante, mas para
felicidade da plateia, finalmente aceita olhar para o lado e ver seu homem. Observa-o
suavemente e não resiste a vontade de tocá-lo porem o medo de que ele acorde
abruptamente logo se afasta. Pensa que ele poderia estrangulá-la se quisesse. Depois de
muita relutância e medo do medo, põe sua face no peito nu de seu homem, Otávio.
Tempo depois, volta para seu lado da cama e cai no sono novamente.

Lídia
No dia seguinte, Joana acorda e Otávio já se retirara. Que bom da parte dele,
agora ela pode pensar. Recebeu uma carta de Lídia convidando-a para visitá-la. Joana
imaginou seu tia morta perguntando-lhe: Otávio voltou para Lídia, apesar de Joana?
Joana passou um bom tempo penteando seus cabelos com o frio pende metálico em
contraste com seu quente coração. Joana não sabia como sentir-se: alegre ou triste,
calma ou agressiva? Perambulou perdidamente pela casa, tocou piano e lembrava da
noite passada que adormecera profundamente, quase pela primeira vez na vida, logo ao
lado de um homem. Ao conversar com Lídia, à tarde, percebera que estava tão distante
dela, como mulher, como da mulher da voz. Enquanto Lídia falava sobre assuntos que
não interessavam a nenhuma delas, Joana observou a bela mulher em sua frente e como
a casa onde estava agora, mesmo com os móveis apagados, representava que esta estava
grávida.
Antes mesmo de conversarem sobre o adultério, Joana decide que é hora de ir
embora, mas Lídia retruca e dizem que não podem perder essa oportunidade de
conversas, mesmo que para Joana ambas não estejam mais propícias a falar sobre o
assunto. Joana para e repara como os traços e corpo de Lídia são superiores ao seu,
desde os lábios à pele das mãos. Joana lembra de seu tempo no internato quando
começava a falar com as outras garotas sobre fatos diversos, como seus pensamentos,
atraindo a atenção delas, embora as jovens, depois de alguns risos, passem a considerá-
la insuportável.
Joana questiona o que Otávio pensa dela, Lídia responde que eles não tocam
nesse assunto, mas que ele de certo modo a detesta. Conversam mais um pouco e Joana
sente vontade de passar um dia inteiro com Lídia para observar como vive, como viver
da maneira certa, ou seja, esquecer as maluquices e ser um boa menina, gostaria de
ajudá-la a coser. Joana quer ter um filho.
Joana indaga-a se ela gostaria de estar casada com Otávio. Lídia responde que
sim. Joana a questiona dizendo que ela já tem tudo que uma esposa tem. Joana enuncia
que não gostaria de estar casada, nunca tinha pensado nisso, pois tinha ojeriza em
relação a ideia de nunca mais estar consigo mesma apenas, ter seu destino traçado, já
que era mulher. Joana a questiona sobre como quer Otávio. Como homem, ela responde.
Joana retruca e diz que nem tanto o deseja assim. Lídia percebe que, na verdade, Joana é
inexperiente em relação ao amor, quase como uma virgem. Lídia começa ao chorar por
perceber que não é capaz de tirar Otávio de um mulher tão sublime quanto Joana. Joana
decide com certeza de que pode e terá um filho, pois ser mão parece ser bom para Lídia,
pois ela também é capaz, assim como Lídia; e depois de ter o filho cederá Otávio a sua
rival.

O homem
Joana deixa a casa de Lídia e ao mesmo tempo decide afastar-se de Otávio e da
própria Lídia e sai sem rumo pelas frescas e desertas ruas a caminhar. Finalmente
parece ter chegado ao fim: um casarão próximo a uma terra úmida perfeita para receber
um corpo, mas Joana temia a morte. Observou um fio d´água por um momento e logo
retomou a caminhada. Enquanto caminhava fraca pelas ruas, seus olhos encontraram o
homem que quase sempre estava por ali quando ela passara. Dessa vez, decidiu que iria
fugir dele, que iria esperar e ver o que suceder-se-ia. Ele parou a poucos passos dela que
permaneceu com o olhar fixo e cansado, enquanto ele, trêmulo e hesitante. O
prolongado silencio foi cortado pela fala do homem: “ Eu moro naquela casa... Quer
descansar?”. Ela seguiu-o até a casa dele e lá sentou-se em uma poltrona velha e macia.
O homem sentou-se na cama próxima à Joana e ela fechou os olhas para sentir os sons
do ambiente. Encararam-se por um momento e isso fê-la perguntar o que para ele que
respondeu: Tenho medo. Sequencialmente, Joana disse que voltaria àquela casa. O
homem ainda trêmulo quando finalmente fugiu do olhar de Joana escondeu o rosto nas
grandes e magras mãos.

O refúgio no homem
O homem espera ansioso pela vinda de Joana a sua casa. Pensa bastante nela e
em como ela era diferente dos outros. De longe sentiu os passos de Joana se
aproximarem e quando ela abriu a porta ele caiu para dentro de si, deixando de existir.
Joana sente que pode pensar junto dele, assim como fazia com o professor.
Conversavam sobre o que Joana vira e não vira, além de inventar palavras, como
Lalande que todo vez que for dita deve-se sentir a vibração fresca e salgada do mar.
Diferente das outras pessoas que tinham um proposito para viver e um fim para
boa parte dos seus intervalos de um minuto que são frequentemente perdidos e
esquecidos no tempo e na memória. Joana buscou pela sua razão de viver, percorreu
todo seu ser nessa aventura para encontrar-se, mas nunca conseguiu, assim como nunca
desistiu.

A víbora
Em uma noite, Joana decide confrontar Otávio e intimá-lo com o seu desejo de
ter um filho para pôr um fim no relacionamento deles. Otávio indaga-a sobre o que fará
esse menino depois que eles se separarem, Joana responde que ele viverá, mas Otávio
retruca que dessa maneira ele não será feliz. Sua resposta surpreende Joana. Otávio
agora a apunhala dizendo que ela sempre o deixou só, ela rebate dizendo que ela não
tem culpa já que a solidão faz parte de seu ser, mas Otávio diz que ela o fez por vontade
própria. Joana diz que tudo aquilo que sabe não foi aprendido e que não pode ser
ensinado. Joana associa sua conversa agora com Otávio como se ele fosse na verdade
seu próprio pai. Otávio então começa a pensar o porquê de não ter se separado de Joana
e percebe que mesmo se estivesse, anos mais tarde, como Lídia e seu filho, a semente
de Joana que agora vive em seu interior mais profundo iria momentaneamente aflorar e
ele sentiria a dor de não tê-la.

Sendo assim, percebe que para que possa viver com Lídia tem que primeiro
viver ao lado de Joana. Finalmente decide perguntar por que Joana deseja ter um filho.
Ela responde que ele será como uma forte luz que iluminará seu caminho e questiona o
porquê de Otávio temer ter um filho com Joana, mas não temer o filho com Lídia.
Otávio, então, percebe que Joana sabia de sua traição “ há quanto tempo?”, “como ela
ainda é capaz de se deitar ao meu lado à noite?” Otávio não se controla de raiva e
explode em frente de Joana chamando-a de víbora, assim como sua tia a chamou no
passado. Depois do surto, Otávio esmorece e um infinito silêncio reina entre o casal até
que a claridade comesse a quebrar essa penumbre noite.

A partida dos homens


O homem teve que ir embora, mas ele voltará e pede que Joana o espere, pois se
ela não espera-lo ele viverá apenas o quanto um pássaro consegue ficar voando sem
bater a assas e quando cair, morrerá. Joana lê isso em um bilhete dele e sua solidão após
Otávio ter partido fica ainda mais palpável. Joana não sabia o nome dele, pois queria
apenas vê--lo como um corpo vivendo, para que seus passados não interferissem na
relação deles, se arrepende por isso, mas acha que foi o melhor. Joana sente a brisa
fresca na janela, deita-se na cama e sonha sobre sua infância: ‘’a morte é o retorno para
infância?”... Descobre que a verdadeira eternidade é a morte.

A viajem
Joana, à noite, observara lá fora como as plantas cresciam calmamente na
fazendo, o mesmo fez pela manhã, lembrou disso na sua infância. Agora, depois da
despedida dos homens decidira que pegaria a intocada herança de seu pai e a usar-lhe-ia
para viajar. Falando para Deus implora por sua ajuda e auxílio para viver o pouco que
resta de sua curta existência que se esvai de suas mãos sem que ela possa fazer nada.
Joana pede que simplesmente possa se salvar que ele mesma possa renascer a partir
dela.

Você também pode gostar