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Oreste Preti
1.0 - Introdução
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Em 1972, a UNESCO, ao traçar algumas diretrizes para o ensino, afirmava que
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momento de expansão econômica e de entusiasmo dos governos em relação à educação”
(MEDIANO, 1988:46) e devido aos graves problemas enfrentados pelo sistema formal de
educação (monopolista, fechado, ritualista, expulsador e de exclusão), ao processo de
democratização da sociedade e ao desenvolvimento das técnicas de comunicação, que se
vem caminhando, de maneira mais rápida e expansiva, para novas formas, abertas, de
educação:
Na Europa, são oferecidos mais de 700 programa de diferentes níveis, nos mais
variados campos do saber. Segundo o Conselho Internacional de Ensino a Distância
/CIED, em 1988, mais de 10 milhões de estudantes acompanhavam seus cursos a Distância
(apud KAYE, 1988:57) e, em nível superior e de pós-graduação, essa formação é
reconhecida legal e socialmente (IBAÑEZ, 1989). A Universidad Nacional de Educación
a Distancia /UNED, na Espanha, oferece 200 cursos, em nível superior, a mais de 140.000
estudantes matriculados em 1995. A universidade de Hagen (Alemanha) e a Open
University são reconhecidas internacionalmente e caracterizadas pela excelência de seus
cursos. Nos países socialistas do Leste europeu desenvolveu-se uma política coerente para
assegurar a formação dos trabalhadores. Somente na Rússia, 2.500.000 estudantes (mais da
metade dos inscritos nas universidades) estudavam a distância antes da ruptura do bloco
socialista.
O Parlamento Europeu reconheceu a importância da EAD para a Comunidade
Européia ao adotar uma Resolução sobre as Universidades Abertas (10/07/87) e ao
desenvolver diversos programas comunitários, a partir de 1991, utilizando a modalidade da
EAD. É o caso dos programas Sócrates, Leonardo da Vinci e ADAPT (do Fundo Social
Europeu).
Na China, a televisão cultural universitária, desde 1977, oferece cursos a distância,
enquanto na África os programas educativos a distância ainda são incipientes, face às
limitações de recursos econômicos. A Austrália, por outro lado, é o país que mais
desenvolve programas a distância integrados com as universidades presenciais.
Na América Latina há países tomando a iniciativa de consolidação e
institucionalização de programas de EAD, como a Universidad Nacional Abierta de
Venezuela, a Universidad Estatal a Distancia de Costa Rica e o Sistema de Educación
Abierto y a Distancia de Colombia1. No Brasil, a EAD começa a ser posta como uma
alternativa já “possível e viável” para solucionar a “falta” de instrução e educação da
maioria da população adulta e trabalhadora.
Porém, a expansão quantitativa (mais alunos e mais instituições) foi sempre
acompanhada pela busca do incremento qualitativo. Existe toda uma gama variada de
estudos e pesquisas sobre as experiências de EAD no mundo que vêm apontando ser esta
1
Cerca de 60% da população estudantil é da Colômbia atendida pelo sistema de EAD (Ver. Horizonte: una mirada a la distancia.
Ano I, nº 1, marzo 1996 - Universidad del Quindío - Colômbia)
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uma modalidade de educação eficaz para atender não somente à população que, embora
não o seja legalmente, na prática é excluída do ensino presencial, como também a todos os
cidadãos que em algum momento de sua vida ativa necessitam de formações distintas ou
pretendem ter acesso a uma educação continuada e permanente. A EAD, pois, oferece
serviços educativos aos quais não tiveram acesso diversos setores ou grupos da população,
por inúmeros motivos, tais como: localização geográfica ou situação social, falta de oferta
de determinados níveis ou cursos na região onde moram ou ainda questões pessoais
familiares ou econômicas, que impossibilitavam o acesso ou continuidade do processo
educativo.
A educação a distância é, pois, uma modalidade não-tradicional, típica da era
industrial e tecnológica, cobrindo distintas formas de ensino-aprendizagem, dispondo de
métodos, técnicas e recursos, postos à disposição da sociedade. A maioria de seus alunos
apresenta características particulares, tais como: são adultos inseridos no mercado de
trabalho, residem em locais distantes dos núcleos de ensino, não conseguiram aprovação
em cursos regulares, são bastante heterogêneos e com pouco tempo para estudar no ensino
presencial. Esses estudantes buscam essa modalidade porque nela encontram facilidade
para planejar seus programas de estudo e avaliar o progresso realizado, e até mesmo
porque preferem estudar a sós do que em classes numerosas.
A eficácia da Educação a Distância está, hoje, inegavelmente comprovada,
o que não significa falta de questionamentos e estudos contínuos sobre essa modalidade.
Há uma significativa produção internacional que aponta aspectos positivos e negativos
referentes ao sistema. O importante é que se conceba a Educação a Distância como um
sistema que pode possibilitar atendimento de qualidade, acesso ao ensino de 3o grau, além
de se constituir em forma de democratização do saber. Em muitos países já ganhou seu
espaço de atuação, reconhecida pela sua qualidade e inovações metodológicas e
considerada como a educação do futuro, da sociedade mediatizada pelos processos
informativos.
No Brasil, com a fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1923, por
um grupo de membros da Academia Brasileira de Ciências, doada posteriormente, em
1936, ao Ministério da Educação e Saúde, BORDENAVE (1987) localiza as raízes da
Educação a Distância, da Teleducação. Porém, será somente na década de 60 que ela
tomará vulto e expressão significativa, visto que em 1965 começou a funcionar uma
Comissão para Estudos e Planejamento da Radiodifusão Educativa que acabou criando,
em 1972, o Programa Nacional de Teleducação (PRONTEL), com o objetivo de integrar
todas as atividades educativas dos meios de comunicação com a Política Nacional de
Educação. Posteriormente, em 1972, o governo federal criaria a Fundação Centro
Brasileiro de Televisão Educativa que, em 1981, passaria a se denomiar FUNTEVE e que
viria fortalecer o Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa (SINREAD) colocando no
ar programas educativos, em parceria com diversas rádio educativas e canais de Televisão.
Paralelamente ao caminho percorrido pelo governo federal, encontramos
instituições privadas ou governos estaduais ousando projetos educativos próprios,
utilizando-se da modalidade de Educação a Distância. Vejamos alguns, que tiveram
significado histórico particular quanto à modalidade.2
2
Um retrospecto da EAD no Brasil está no artigo de Kátia M. ALONSO A Educação a Distância no Brasil: a busca de
identidade, nesta mesma obra.
20
Em 1956, a diocese de Natal, no Estado do Rio Grande do Norte, tendo como referência
a experiência da Rádio Sutalenza (Colômbia) iniciou o Movimento de Educação de
Base (MEB), "o maior sistema de educação a distância não formal até agora
desenvolvido no Brasil" (BORDENAVE, 1987:57).
A FUBRAE também criou o Centro Educacional de Niterói (CEN), que atuaria mais
no Estado do Rio de Janeiro, oferecendo cursos a nível de 1º e 2º graus a alunos fora da
faixa etária regular para frequentar tais cursos.
A Fundação Padre Anchieta, uma organização criada em 1967 e mantida pelo Governo
do Estado de S. Paulo, deu início, em 1969, a atividades educativas e culturais junto a
populações faveladas e a diversos tipos de coletividades organizadas e, ainda, a
secretarias municipais de educação, utilizando-se de repetidoras para atingir milhões de
habitantes.
Em 1978, a Fundação Padre Anchieta (TV Cultura) e a Fundação Roberto Marinho (TV
Globo) lançaram o Telecurso de 2º Grau, combinando programas televisivos com
material impresso vendido nas bancas de jornais.
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A Associação Brasileira de Tecnologia Educacional, fundada em 1971 com o nome de
Associação Brasileira de Teleducação, também vem dando sua contribuição na difusão
do significado e da importância da Educação a Distância no país, organizando
Seminários Brasileiros e publicando a revista Tecnologia Educacional.
O Curso João da Silva, com formato de telenovela, voltado para o ensino das quatro
primeiras séries e que se desdobraria no Projeto Conquista, também com formato de
telenovela, voltado para as últimas séries do 1º grau. Foi uma inovação pioneira no
Brasil e no mundo. (BORDENAVE, 1987:64)
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Mais recentemente os Programas Um Salto para o Futuro, uma iniciativa do governo
federal em parceria com a Fundação Roquette Pinto (1991) e o Telecurso 2000, em
parceria com a Fundação Roberto Marinho (1995).
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Distância / BRASILEAD, que vem se consolidando, desde novembro de 1993, quando da
assinatura do Convênio entre o MEC e as Universidades Públicas Brasileiras, com o
objetivo de implantar um sistema público de EAD.
Há hoje consenso entre as universidades brasileiras quanto à necessidade de criação
de alternativas de atendimento a um contingente expressivo da população que ainda não
tem acesso ao ensino de 3º grau. Novas formas devem ser pensadas e implementadas
urgentemente, conforme as possibilidades e demandas regionais, expandindo sua ação e
buscando uma maior atuação sem que isto acarrete perda de qualidade.
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didáticos e o apoio de uma organização e tutoria que propiciam uma aprendizagem
independente e flexível”.
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* a eficácia: o estudante, estimulado a se tornar sujeito de sua aprendizagem, a aplicar o
que está apreendendo e a se autoavaliar, recebe um suporte pedagógico, administrativo,
cognitivo e afetivo, através da integração dos meios e uma comunicação bidirecional;
* a formação permanente: há uma grande demanda, no campo profissional e pessoal, para
dar continuidade à formação recebida “formalmente” e adquirir novas atitudes, valores,
interesses, etc.
* a economia: evita o deslocamento, o abandono do local de trabalho, a formação de
pequenas turmas e permite uma economia de escala.
A EAD é, pois, uma alternativa pedagógica de grande alcance e que deve utilizar e
incorporar as novas tecnologias como meio para alcançar os objetivos das práticas
educativas implementadas, tendo sempre em vista as concepções de homem e sociedade
assumidas e considerando as necessidades das populações a que se pretende servir.
A EAD coloca-se, então, como um conjunto de métodos, técnicas e recursos,
postos à disposição de populações estudantis dotadas de um mínimo de maturidade e de
motivação suficiente, para que, em regime de auto-aprendizagem, possam adquirir
conhecimentos ou qualificações a qualquer nível. A EAD cobre distintas formas de ensino-
aprendizagem em todos os níveis que não tenha a continua supervisão imediata de
professores presentes com seus alunos na sala de aula, mas que, no entanto, se beneficiam
do planejamento, guia, acompanhamento e avaliação de uma organização educacional.
A Educação a Distância, porém, não deve ser simplesmente confundida com o
instrumental, com as tecnologias a que recorre. Deve ser compreendida como uma
prática educativa situada e mediatizada, uma modalidade de se fazer educação, de se
democratizar o conhecimento. É, portanto, uma alternativa pedagógica que se coloca
hoje ao educador que tem uma prática fundamentada em uma racionalidade ética, solidária
e compromissada com as mudanças sociais.
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Para tal, este “novo educador” deverá conhecer as características, necessidades e
demandas do alunado, formar-se nas técnicas específicas do modelo a distância,
desenvolver atitudes orientadoras e de respeito à personalidade dos estudantes e dar-se
conta de que sua função é formar alunos adultos para uma realidade cultural e técnica em
constante transformação. E isso só será possível se toda a equipe envolvida no processo de
EAD reconhecer suas limitações, estiver aberta ao diálogo e disposta a construir
caminhos, reconhecendo falhas e desvios. O trabalho cooperativo, portanto, será a base da
construção deste novo educador e da consolidação dos trabalhos e experiências em EAD.
Mas, a partir dos caminhos percorridos por instituições, que há décadas vêm
desenvolvendo programas a distância, pontos de referências e parâmetros podem ser
extraídos e utilizados por quem vai “ousar” nesta modalidade.
A EAD, pois, faz recurso a suportes administrativo, pedagógico, cognitivo,
metacognitivo, afetivo e motivacional3 que propiciam um clima de auto-aprendizagem
(aliás, ninguém aprende por nós!) e oferecem um ensino de qualidade. São suportes que
interagem, se influenciam reciprocamente e se completam, dando ao processo ensino-
aprendizagem o senso e a direção na formação do cursista como cidadão que atua nos
mais diferentes campos onde se situa (profissional, familiar, social, religioso, etc.).
Para que uma universidade ofereça um saber atualizado (filtrando o mais válido
das recentes produções científicas), dando prioridade aos conhecimentos instrumentais
(“aprender a aprender”), visando uma educação permanente do cidadão e estando
compromissada com o meio circundante, torna-se necessária uma organização, em EAD,
que atente e atenda a todos os componentes:
A comunicação: que deverá ser bidirecional, com diferentes modalidades e vias de acesso.
A comunicação multimídia, com diversos meio e linguagens, exige, como qualquer
aprendizagem, uma implicação consciente do aluno, uma intencionalidade, uma atitude
adequada, as destrezas e conhecimentos prévios necessários, etc. Os materiais utilizados
também devem estar adequados aos interesses, necessidades e nível dos alunos. Esta
capacidade de adaptação aos interesses dos alunos é uma das caracterísitcas dos recursos
3
A respeito disso ver o texto de PRETI, O e ARRUDA, Maricília C. C. Licenciatura Plena em Educação Básica ... nesta obra, na
pág.
27
multimeios interativos bem desenhados. Ainda que a comunicação multimídia favoreça a
aprendizagem, ela não a garante. A comunicação multimídia se produz entre o mediador
(professor, orientador acadêmico, tutor, autor) e o aluno com a ajuda dos diversos meios e
diversas linguagens, embora seu principal meio seja ainda a escrita. É necessário que o
mediador conheça as novas tecnologias para direcionar sua utilização e aplicabilidade em
seu trabalho diário, junto aos seus alunos.
Através da figura nº 1, talvez, seja mais fácil visualizar como esses componentes se
interrelacionam dentro de um sistema de EAD.
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INSTITUIÇÃO
Funções
Concepção do curso
Professores/Especialistas Elaboração do material didático
Acompanhamento e Avaliação
Pesquisa
Do sistema:
Concepção/Produção
Planejamento
Acompanhamento Tutores
Administração
Avaliação e Pesquisa
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A EAD, portanto, como modalidade, pressupõe a otimização e intensificação não
só do atendimento aos alunos, mas também dos recursos disponíveis para ampliação de
ofertas de vagas, sem que isto represente a instalacão de grandes estruturas físicas e
organizacionais. Esta otimização de recursos humanos e financeiros, com a conseqüente
relação baixa de custos-benefícios, talvez seja o aspecto que mais interessa a
administradores e governantes e faça com que apoiem experiências em Educação a
Distância.
No entanto, não deverá ser pensada como algo à parte da organização de ensino, é
necessário que se compreenda que Educação a Distância é educação permanente, contínua
e que, dada a sua característica, se faz imprescindível a organização de um sistema que
ofereça ao aluno as condições para que o mesmo efetue sua formação.
Os cursos, tanto a nível de graduação, pós-graduação lato sensu e/ou stricto sensu
como cursos de aperfeiçoamento, reciclagem, etc. podem ser oferecidos à comunidade
utilizando-se a modalidade de EAD.
Como fazer isto? Que critérios utilizar e quais os passos a serem seguidos?
A - “Clientela”
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áreas onde urge uma atuação da instituição a distância no sentido de qualificar
profissionalmente contingentes expressivos de trabalhadores que atuam sem a devida
preparação ou com uma qualificação deficiente.
D - Princípios de abordagem
31
Quanto aos aspectos formais na proposição de cada curso indicamos, em anexo, um
esquema apontando quais os elementos a serem contemplados e trabalhados na montagem
de cursos. Caberá, porém, a cada departamento definir a estrutura curricular dos mesmos.
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ALUNO
Matrícula
Orientação inicial (manual do estudante / contato com o tutor / Seminário)
Aquisição do material didático
Processo de
Aprendizagem
SUPORTE
* Materiais impressos
Material
* Fitas, audio, vídeo, CD room
* Presencial
Tutoria * a Distância
* Auto-avaliação
* Atividades
Avaliação * Avaliação Formal
* Seminários
* Ficha de Acompanhamento
Superação das
Etapas Estabelecidas
* Mudança de Atitudes
* Novas Habilitações
* Impacto no sistema/Instituição
Prática Transformada
e Transformadora
Trabalho Conclusivo
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4.3 - Organização
O Centro de EAD, numa instituição que atua presencialmente, poderá estar ligado
a este ou aquele órgão da instituição e, à medida que for consolidando sua atuação e se
expandindo, vir a ser um Instituto ou uma Fundação. O importante é que goze de autonomia
administrativa e financeira para poder implementar uma política de EAD e consolidar seus
projetos, sem atrelamentos a interesses particulares.
É interessante contar com uma organização administrativa, constituída por equipes
de: Coordenação Geral, Administrativa, Pedagógica, de Professores/Especialistas e
Secretaria (Fig. 03):
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coordenar os subsistemas de concepção, produção e avaliação dos cursos nos processos
de ensino-aprendizagem como desenvolver pesquisas que permitam um conhecimento
da realidade dos cursos e que auxiliem na retroalimentação dos mesmos;
junto aos demais setores da Instituição relacionados com o sistema de EAD e autores dos
materiais didáticos, promover discussões pedagógicas para que em todas as ações a
serem desenvolvidas se tenha presente a função educativa dos cursos oferecidos;
responsabilizar-se pela formação e acompanhamento dos Tutores;
propiciar e dinamizar uma comunicação interativa do Centro de EAD com os tutores, os
professores-especialistas e os cursistas;
cuidar da produção de software que dê suporte eficiente aos cursos, possibilitando criar
banco de dados;
assessorar os professores-especialistas na escolha do material didático ou aos autores na
produção ou compilação de materiais didáticos para os cursos.
) Equipe de professores-especialistas
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INSTITUIÇÃO
DIREÇÃO
Departamentos
CENTRO Secretaria
E A D
Especialistas em
EAD
Coord. Adm. Coord. Geral Equipe Pedag. Tecnologia Ed.
Comunicação
Multimídia
Prof./Especialistas Tutores
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4.4 - Meios Técnicos
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MATERI AL DI DÁTI CO
Material Material
I mpresso Audio-visual
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Equipe Pedagógica
e Administratuva
Alunos
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vista administrativo. Os dados relativos ao percurso do cursista, bem como das informações
de adequações do material, das atividades de tutoria, das avaliações, etc. serão todos
“armazenados”, através de um soft específico, criando-se, assim um Banco de Dados muito
útil para funções informativas, de análise e de investigação científica.
O fundamental, porém, não é estar usando este ou aquele meio de comunicação, mas
que seja estabelecida, efetivada e dinamizada uma rede interativa constante e contínua que
viabilize o diálogo entre todos os componentes envolvidos no processo educativo (Fig. 05).
4.5 - A tutoria
No sistema de EAD, o tutor tem um papel fundamental, pois, é através dele que se
garante a interrelação personalizada e contínua do cursista no sistema e se viabiliza uma
articulação entre os elementos do processo, necessária à consecução dos objetivos
propostos. Por isso, cada instituição busca construir seu modelo tutorial que atenda às
especificidades regionais e aos programas e cursos propostos, incorporando as novas
tecnologias. Mas, o que caracteriza e diferencia a figura do tutor nas universidades a
distância é fundamentalmente a concepção manifestada quanto à sua função dentro do
sistema de EAD. Nas práticas implementadas aparentemente não são percebidas grandes
diferenças, pois, na estrutura do sistema, a tutoria é posta nas instâncias de mediação entre o
estudante, o material didático e o professor, na busca de uma comunicação cada vez mais
ativa e personalizada, respeitando-se a autonomia da aprendizagem.
O que tentaremos expor aqui é uma concepção de tutoria, baseada nas experiências
da Universidad Nacional de Educación a Distancia / UNED, da Espanha, da Télé-université
du Québèc, do Canadá / Téluq e do Núcleo de Educação Aberta e a Distância (NEAD) da
Universidade Federal de Mato Grosso.
O sub-sistema de tutoria, muito mais que uma fórmula de enquadramento e de
assistência ao estudante, deve ser visto como educação individualizada, cooperativa e
“uma abordagem pedagógica centrada sobre o ato de aprender que põe à disposição do
estudante-adulto recursos que lhe permitem alcançar os objetivos do curso totalmente
desenvolvendo a autonomia em sua caminhada de aprendizagem” (DESLISE e outros,
1985).
A autonomia é algo que se adquire gradualmente, nos diferentes níveis de
desenvolvimento. O tutor, respeitando a autonomia da aprendizagem de cada cursista,
estará constantemente orientando, dirigindo e supervisionando o processo de ensino-
aprendizagem dos cursistas. É através dele, também, que se garantirá a efetivação da
avaliação do curso em todos os níveis.
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de maneira adequada e, finalmente, um especialista
em avaliação formativa” (DION, 1985).
E a essas podemos ainda acrescentar algumas tarefas administrativas que a instituição exige
dele.
Para preencher adequadamente seu papel, portanto, o tutor deve possuir previamente
um certo número de qualidades, de capacidades ou aptidões. Isso devido à importância e à
posição que ocupa dentro de um sistema que compreende a EAD como sendo uma prática
educativa, situada e mediatizada.
41
TUTORIA
Presencial A Distância
FA X ,
I ndividual Coletiva Telefone correspondência Telemática
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c - na fase posterior ao desenvolvimento do curso: o tutor fará um breve relato,
avaliando a disciplina (quanto ao material escrito, à modalidade, à participação do
professor/especialista, ao tipo de avaliações realizadas, etc.) bem como o sistema posto à
disposição para dar suporte ao processo de ensino-aprendizagem.
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iniciado o curso e das decisões tomadas ao longo do mesmo, viabilizando, assim, uma
adequação constante de possíveis pontos percebidos como “problemáticos”.
c - Avaliação da modalidade: tanto o tutor como o cursista irão fornecendo dados, ao longo
do curso, (informalmente ou quando da aplicação de instrumentos a serem elaborados pela
Equipe Pedagógica) que auxiliarão a rever constantemente o sistema de EAD proposto em
seus subsistemas: administrativo e pedagógico.
4
Concepção elaborada e proposta para o NEAD por : ALONSO, K. M. e outros, 1993: 61-70.
Sobre avaliaçào em EAD ver o artigo de Maria Lúcia C. Neder, nesta mesma obra.
44
empresas e locais de trabalho. Pois, o objetivo principal do curso é provocar mudanças
(cognitivas e da práxis).
5. 0 - Os custos
CFT
ou seja N = --------------
RM - CVM
45
Custos Varáveis FT
+ Custos Fixos
Custos Fixos FT
nº de alunos matriculados
Umbral Crítico
Figura 07 - Comparação entre os custos fixos e variáveis en Formação Tradicional (FT) e EAD
sgundo Rumble, G.. - “Economics and cost structures”, apud : KAYE, 1985:76
Fica claro então que a rentabilidade de um curso em EAD está associado ao número
de alunos matriculados. Há um investimento inicial na formação de recursos humanos que
atuarão no Centro e na montagem da estrutura de apoio ao estudante (computadores, fax,
telefone, soft, produção de material didático), mas que se tornará rentável à medida em que
os cursos vão se expandindo, com o aumento de matrículas e novos cursos vão sendo
oferecidos.
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Considerações finais
O sistema em EAD deve ser visto não como algo “supletivo”, que corre paralelo ao
sistema regular de educação, mas sim como parte integrante do mesmo, inspirado em
princípios, valores e práticas, solidamente fundamentado nas atuais teorias científicas da
educação e da comunicação. E mais ainda, a EAD, diante das limitações e falhas do
sistema educacional vigente, deve ser compreendida como educação permanente e
contínua, pelas suas próprias características e objetivos, pois busca dar respostas mais
imediatas à demanda premente de uma parcela significativa da população historicamente
excluídas dos serviços oferecidos pelo sistema educacional tradicional. Coloca-se como
uma inovação, como algo capaz de gerar novas possibilidades de acesso ao
conhecimento, à cultura e à tecnologia.
Esta modalidade, por ser mediada pelos meios de comunicação, tem levado muitos
educadores a confundi-la como um sistema informativo, com pouca profundidade.
Outros pensam imediatamente em um sistema complexo de multimeios e ficam
surpresos diante da existência de programas de EAD que utilizam o material escrito
como recurso didático básico e praticam a tutoria “cara a cara”. Não há dúvida, como
afirma Georges Luckás, de que “a educação é o mais poderoso meio que a humanidade
possui para garantir sua própria sobrevivência e que a tecnologia está influenciando-a”.
Por isso, a EAD olha positivamente os novos caminhos da tecnologia em comunicação,
posicionando-se criticamente para usá-los de maneira tal que respondam às demandas
locais e atendam às condições de vida de seus alunos.
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definir bem o sistema de tutoria a ser adotado e oferecer uma formação contínua aos
tutores.
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