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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA:

uma prática educativa mediadora e mediatizada

Oreste Preti

1.0 - Introdução

As transformações produzidas durante estes últimos anos no Brasil são o reflexo da


aceleração no ritmo das mudanças que vêm ocorrendo, sobretudo a partir da década de 50,
nos países do chamado primeiro mundo, e que estão gerando um modelo de sociedade em
que a formação é posta como fator estratégico do desenvolvimento, da produtividade e da
competitividade. Assim, para os governos e agentes sociais, as políticas relacionadas com
a qualificação dos recursos humanos merecem o máximo de interesse e prioridade e os
processos formativos devem caracterizar-se por sua continuidade, permanente atualização
e renovação em seus conteúdos. E isso deve atingir o maior número possível de pessoas
adultas e ao longo de toda sua vida.
Por outro lado, existe uma crescente demanda social de formação, devido às
exigências de níveis mais elevados de formação, aos avanços tecnológicos, à insuficiência
de qualificação e às novas tendências demográficas. A diminuição da natalidade,
constatada também no Brasil nesta última década (IBGE, 1991), a entrada cada vez mais
significativa de mulheres no mundo do trabalho, o intenso processo migratório de mão-de-
obra do campo em direção aos grandes núcleos urbanos e de regiões menos desenvolvidas
para as mais industrializadas, a aposentadoria de uma parcela qualificada da mão-de-obra,
especialmente em alguns setores como o da educação, diante das mudanças nas regras da
aposentadoria, vêm modificando o mercado de trabalho. Torna-se cada vez mais urgente e
necessário proporcionar formação a esses novos grupos para que tenham acesso às
qualificações e conhecimentos requeridos.
As mudanças tecnológicas da informação também fazem com que grande parte das
qualificações fiquem defasadas, a um ritmo cada vez mais rápido, diante dos aparatos de
informação que operam em tempo real. Por outro lado, existe uma interdependência maior
entre os conhecimentos e a vida econômica.
Estudos recentes têm comprovado que o crescimento econômico e a
competitividade das economias mais avançadas dependem primordialmente da capacidade
para inovar nos produtos e nos processos, e que esta capacidade está baseada num elevado
nível de conhecimentos profissionais dos trabalhadores (MEC/CIDEAD, 1995:10).
Na atualidade, existe um nível de desemprego e uma insuficiência de qualificações.
Há uma divergência entre as capacidades exigidas nos novos trabalhos e os conhecimentos
que dispõe o conjunto dos trabalhadores. Por isso, torna-se imperativo aumentar o nível de
formação dos jovens que chegam ao mercado do trabalho e, ao mesmo tempo, atualizar e
melhorar as qualificações da mão-de-obra existente mediante uma educação e uma
formação contínua e permanente.

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Em 1972, a UNESCO, ao traçar algumas diretrizes para o ensino, afirmava que

“a educação deve ter por finalidade não apenas formar as


pessoas visando uma profissão determinada, mas sobretudo
colocá-las em condições de se adaptar a diferentes tarefas e
de se aperfeiçoar continuamente, uma vez que as formas de
produção e as condições de trabalho evoluem: ela deve
tender, assim, a facilitar as reconversões profissionais”
(UNESCO, 1972)

Portanto, a crescente demanda por educação, devida não somente à expansão


populacional como sobretudo às lutas das classes trabalhadoras por acesso à educação, ao
saber socialmente produzido, concomitantemente com a evolução dos conhecimentos
científicos e tecnológicos está exigindo mudanças a nível da função e da estrutura da
escola e da universidade.
Os atuais sistemas educativos formais, porém, têm-se apresentados incapazes de
atender às necessidades massivas, diversificadas e dinâmicas de educação e formação de
adultos. Por outro lado, o aumento de atendimento instrucional e as mudanças nos aspectos
pedagógicos e tecnológicos implicariam o conseqüente aumento de custos, sobretudo nos
níveis médio e superior.
Como atender às demandas crescentes por formação e atualização de
conhecimentos e práticas profissionais, diante da situação de crise financeira que
atravessam os países em desenvolvimento, como o nosso, com reflexo imediato nas
instituições de ensino superior?
O século XX encontrou na Educação a Distância /EAD uma alternativa, uma
opção às exigências sociais e pedagógicas, contando com o apoio dos avanços das novas
tecnologias da informação e da comunicação. A EAD passou a ocupar uma posição
instrumental estratégica para satisfazer as amplas e diversificadas necessidades de
qualificação das pessoas adultas.

2.0 - A EAD no contexto mundial e no Brasil

Experiências educativas a distância já existiram no final do século XVIIIº, se


desenvolveram com êxito a partir da segunda metade do séc. XIX, para qualificação e
especialização de mão-de-obra face às novas demandas da nascente industrialização, da
mecanização e divisão dos processo de trabalho. Alcançaram uma rápida expansão no séc.
XX, sobretudo a nível de estudos superiores. Porém, é a partir da década de 60 e 70, “num

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momento de expansão econômica e de entusiasmo dos governos em relação à educação”
(MEDIANO, 1988:46) e devido aos graves problemas enfrentados pelo sistema formal de
educação (monopolista, fechado, ritualista, expulsador e de exclusão), ao processo de
democratização da sociedade e ao desenvolvimento das técnicas de comunicação, que se
vem caminhando, de maneira mais rápida e expansiva, para novas formas, abertas, de
educação:

“Em mais de 80 países do mundo o ensino a distância vem


sendo empregado em todos os níveis educativos, desde o
primeiro grau até a pós-graduação, assim como também
na educação permanente” (LISSEANU, 1988: 70).

Na Europa, são oferecidos mais de 700 programa de diferentes níveis, nos mais
variados campos do saber. Segundo o Conselho Internacional de Ensino a Distância
/CIED, em 1988, mais de 10 milhões de estudantes acompanhavam seus cursos a Distância
(apud KAYE, 1988:57) e, em nível superior e de pós-graduação, essa formação é
reconhecida legal e socialmente (IBAÑEZ, 1989). A Universidad Nacional de Educación
a Distancia /UNED, na Espanha, oferece 200 cursos, em nível superior, a mais de 140.000
estudantes matriculados em 1995. A universidade de Hagen (Alemanha) e a Open
University são reconhecidas internacionalmente e caracterizadas pela excelência de seus
cursos. Nos países socialistas do Leste europeu desenvolveu-se uma política coerente para
assegurar a formação dos trabalhadores. Somente na Rússia, 2.500.000 estudantes (mais da
metade dos inscritos nas universidades) estudavam a distância antes da ruptura do bloco
socialista.
O Parlamento Europeu reconheceu a importância da EAD para a Comunidade
Européia ao adotar uma Resolução sobre as Universidades Abertas (10/07/87) e ao
desenvolver diversos programas comunitários, a partir de 1991, utilizando a modalidade da
EAD. É o caso dos programas Sócrates, Leonardo da Vinci e ADAPT (do Fundo Social
Europeu).
Na China, a televisão cultural universitária, desde 1977, oferece cursos a distância,
enquanto na África os programas educativos a distância ainda são incipientes, face às
limitações de recursos econômicos. A Austrália, por outro lado, é o país que mais
desenvolve programas a distância integrados com as universidades presenciais.
Na América Latina há países tomando a iniciativa de consolidação e
institucionalização de programas de EAD, como a Universidad Nacional Abierta de
Venezuela, a Universidad Estatal a Distancia de Costa Rica e o Sistema de Educación
Abierto y a Distancia de Colombia1. No Brasil, a EAD começa a ser posta como uma
alternativa já “possível e viável” para solucionar a “falta” de instrução e educação da
maioria da população adulta e trabalhadora.
Porém, a expansão quantitativa (mais alunos e mais instituições) foi sempre
acompanhada pela busca do incremento qualitativo. Existe toda uma gama variada de
estudos e pesquisas sobre as experiências de EAD no mundo que vêm apontando ser esta

1
Cerca de 60% da população estudantil é da Colômbia atendida pelo sistema de EAD (Ver. Horizonte: una mirada a la distancia.
Ano I, nº 1, marzo 1996 - Universidad del Quindío - Colômbia)

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uma modalidade de educação eficaz para atender não somente à população que, embora
não o seja legalmente, na prática é excluída do ensino presencial, como também a todos os
cidadãos que em algum momento de sua vida ativa necessitam de formações distintas ou
pretendem ter acesso a uma educação continuada e permanente. A EAD, pois, oferece
serviços educativos aos quais não tiveram acesso diversos setores ou grupos da população,
por inúmeros motivos, tais como: localização geográfica ou situação social, falta de oferta
de determinados níveis ou cursos na região onde moram ou ainda questões pessoais
familiares ou econômicas, que impossibilitavam o acesso ou continuidade do processo
educativo.
A educação a distância é, pois, uma modalidade não-tradicional, típica da era
industrial e tecnológica, cobrindo distintas formas de ensino-aprendizagem, dispondo de
métodos, técnicas e recursos, postos à disposição da sociedade. A maioria de seus alunos
apresenta características particulares, tais como: são adultos inseridos no mercado de
trabalho, residem em locais distantes dos núcleos de ensino, não conseguiram aprovação
em cursos regulares, são bastante heterogêneos e com pouco tempo para estudar no ensino
presencial. Esses estudantes buscam essa modalidade porque nela encontram facilidade
para planejar seus programas de estudo e avaliar o progresso realizado, e até mesmo
porque preferem estudar a sós do que em classes numerosas.
A eficácia da Educação a Distância está, hoje, inegavelmente comprovada,
o que não significa falta de questionamentos e estudos contínuos sobre essa modalidade.
Há uma significativa produção internacional que aponta aspectos positivos e negativos
referentes ao sistema. O importante é que se conceba a Educação a Distância como um
sistema que pode possibilitar atendimento de qualidade, acesso ao ensino de 3o grau, além
de se constituir em forma de democratização do saber. Em muitos países já ganhou seu
espaço de atuação, reconhecida pela sua qualidade e inovações metodológicas e
considerada como a educação do futuro, da sociedade mediatizada pelos processos
informativos.
No Brasil, com a fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1923, por
um grupo de membros da Academia Brasileira de Ciências, doada posteriormente, em
1936, ao Ministério da Educação e Saúde, BORDENAVE (1987) localiza as raízes da
Educação a Distância, da Teleducação. Porém, será somente na década de 60 que ela
tomará vulto e expressão significativa, visto que em 1965 começou a funcionar uma
Comissão para Estudos e Planejamento da Radiodifusão Educativa que acabou criando,
em 1972, o Programa Nacional de Teleducação (PRONTEL), com o objetivo de integrar
todas as atividades educativas dos meios de comunicação com a Política Nacional de
Educação. Posteriormente, em 1972, o governo federal criaria a Fundação Centro
Brasileiro de Televisão Educativa que, em 1981, passaria a se denomiar FUNTEVE e que
viria fortalecer o Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa (SINREAD) colocando no
ar programas educativos, em parceria com diversas rádio educativas e canais de Televisão.
Paralelamente ao caminho percorrido pelo governo federal, encontramos
instituições privadas ou governos estaduais ousando projetos educativos próprios,
utilizando-se da modalidade de Educação a Distância. Vejamos alguns, que tiveram
significado histórico particular quanto à modalidade.2

2
Um retrospecto da EAD no Brasil está no artigo de Kátia M. ALONSO A Educação a Distância no Brasil: a busca de
identidade, nesta mesma obra.

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 Em 1956, a diocese de Natal, no Estado do Rio Grande do Norte, tendo como referência
a experiência da Rádio Sutalenza (Colômbia) iniciou o Movimento de Educação de
Base (MEB), "o maior sistema de educação a distância não formal até agora
desenvolvido no Brasil" (BORDENAVE, 1987:57).

 Em 1967, o governo do Estado do Maranhão, na tentativa de resolver os graves


problemas educacionais diagnosticados, decidiu utilizar a TV Educativa e através do
Centro Educativo do Maranhão, em 1969, começou a emitir programas, em circuito
fechado, para alunos das 5ª a 8º séries.

 A TVE do Ceará, nesta mesma época, também desenvolveria o programa TV Escolar,


para atender a alunos da 5ª a 6ª séries das regiões mais interioranas, onde estas séries
terminais do 1º grau inexistiam.

 O Estado da Bahia, em 1969, negando-se a participar do projeto nacional MINERVA,


fundou o Instituto de Radiodifusão do Estado da Bahia (IRDEB), que passaria a
oferecer, até 1977, uma variedade de programas (pré-escolar, 1º e 2º graus e formação
de professores), aproveitando-se da experiência dos MEBs.

 A Fundação Brasileira de Educação (FUBRAE), em acordo com o MEC, criou, em


1965, o Centro de Ensino Técnico de Brasília (CETEB), com a finalidade de formar e
treinar recursos humanos. Mas somente a partir de 1973 é que passaria oferecer seus
cursos utilizando-se da modalidade a Distância.

 A FUBRAE também criou o Centro Educacional de Niterói (CEN), que atuaria mais
no Estado do Rio de Janeiro, oferecendo cursos a nível de 1º e 2º graus a alunos fora da
faixa etária regular para frequentar tais cursos.

 A Fundação Padre Anchieta, uma organização criada em 1967 e mantida pelo Governo
do Estado de S. Paulo, deu início, em 1969, a atividades educativas e culturais junto a
populações faveladas e a diversos tipos de coletividades organizadas e, ainda, a
secretarias municipais de educação, utilizando-se de repetidoras para atingir milhões de
habitantes.

 Em 1967, a Fundação Educacional Padre Landall de Moura, uma instituição privada


instalada na cidade de Porto Alegre, também iniciou programas de educação de adultos,
através de teleducação multimeios. Destacou-se o Programa de Teleextensão Rural,
desenvolvido na Amazônia, em parceria com a EMATER.

 Em 1978, a Fundação Padre Anchieta (TV Cultura) e a Fundação Roberto Marinho (TV
Globo) lançaram o Telecurso de 2º Grau, combinando programas televisivos com
material impresso vendido nas bancas de jornais.

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 A Associação Brasileira de Tecnologia Educacional, fundada em 1971 com o nome de
Associação Brasileira de Teleducação, também vem dando sua contribuição na difusão
do significado e da importância da Educação a Distância no país, organizando
Seminários Brasileiros e publicando a revista Tecnologia Educacional.

Durante a ditadura militar o Governo Federal iria implementar programas, a nível


nacional, para atender a demandas emergenciais. Vejamos sumariamente:

 O Projeto Minerva, composto por diversos cursos (Capacitação Ginasial, Madureza


Ginasial, Curso Supletivo de Iº Grau) transmitidos, desde 1970, em cadeia nacional por
emissoras de rádio.

 O Curso João da Silva, com formato de telenovela, voltado para o ensino das quatro
primeiras séries e que se desdobraria no Projeto Conquista, também com formato de
telenovela, voltado para as últimas séries do 1º grau. Foi uma inovação pioneira no
Brasil e no mundo. (BORDENAVE, 1987:64)

 O Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) também acabou utilizando, em


caráter experimental, a partir de 1979, os recursos da TVE para emitir 60 programas em
forma de teleaula dramatizada, com duração de 20 minutos cada um e eram apoiados
por material impresso.

 O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em 1973, iniciou, em caráter


experimental no estado do Rio Grande do Norte, o Projeto SACI (Sistema Avançado de
Comunicações Interdisciplinares) com o objetivo de estabelecer um sistema nacional de
teleducação via satélite. Voltado para as primeiras três séries do 1º grau foi, porém,
logo abandonado.

 O Programa LOGOS que, em 13 anos de existência (1977 a 1991), atendeu a cerca de


50.000 professores, qualificando aproximadamente 35.000 em 17 estados brasileiros.
Em 1990 foi desativado e substituído pelo Programa de Valorização do Magistério que
começou a funcionar somente em 1992, seguindo o mesmo formato do Logos e
atendendo a professores desde sua formação para as séries iniciais até à formação
específica para o Magistério.

 POSGRAD (Pós-graduação Tutorial a Distância), implantado em caráter experimental


(1979-83) pela Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior
(CAPES-MEC), mas administrado pela Associação Brasileira de Tecnologia
Educacional (ABT). Seus resultados foram positivos, mas o MEC, sem explicações
plausíveis, não daria continuidade.

 A Universidade de Brasília, através de seu Centro de Educação a Distância (CEAD),


vem desde 1980 oferecendo cursos de educação continuada.

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 Mais recentemente os Programas Um Salto para o Futuro, uma iniciativa do governo
federal em parceria com a Fundação Roquette Pinto (1991) e o Telecurso 2000, em
parceria com a Fundação Roberto Marinho (1995).

 E aqui em nosso Estado, a Universidade Federal de Mato Grosso / UFMT, através do


Núcleo de Educação Aberta e a Distância do Instituto de Educação, a partir de 1995, faz
sua “iniciação” na EAD com dois programas: o curso de Licenciatura Plena em
Educação Básica: 1ª a 4ª séries do 1º grau, dirigido a quase 10.000 professores que
atuam nas primeiras quatro séries do 1º grau da rede pública sem qualificação de
terceiro grau e o curso de Especialização para a Formação de Orientadores Acadêmicos
(tutores) em EAD.

A idéia de institucionalização das estruturas organizacionais vem se fazendo


presente nas discussões sobre a EAD no país. Em 1986 houve a iniciativa de se criar uma
comissão de especialistas do MEC e Conselho Federal de Educação, para a viabilização de
propostas em torno da Universidade Aberta. Esta comissão foi coordenada pelo
conselheiro Arnaldo Niskier e produziu um documento denominado Ensino a Distância
uma opção - proposta do Conselho Federal de Educação, onde a modalidade é tida como
uma alternativa viável à democratização das oportunidades educacionais no país,
compreendendo a democratização como acesso, permanência e qualidade de ensino.
Apesar de resultados quantitativos “aparentemente” positivos de muitos programas
implementados nestes últimos 20 anos, a maioria deles foi desativada com as mudanças de
governos que não deram continuidade e estabilidade aos programas iniciados. Sua
ineficácia, porém, se deveu muito à desatualização dos materiais didáticos, à falta de um
atendimento sistematizado aos alunos, ao não desenvolvimento de sistemas de avaliação
da formação oferecida e à não consideração das diferenças regionais, por serem, quase
sempre, impostos de cima para baixo.
Existe também uma não credibilidade quanto ao produto desta modalidade, quanto
a sua seriedade, a sua eficiência e eficácia, diante do entendimento de que nos países do
terceiro mundo não existe uma “cultura de autodidatismo”. Há um certo "pré-conceito"
difuso em relação a EAD. Resistências e não compreensão clara e exata do que seja
Educação a Distância são encontradas no seio das próprias universidades.
O que se percebe é uma grande diversidade de propostas, cujo sentido é de
responder a problemas específicos. Esta forma de se pensar a EAD tem excluído
sistematicamente a idéia de criação de sistemas de EAD em caráter permanente que
pudessem atender a projetos e programas diferenciados. Ou seja, para cada um dos
projetos e programas são criados "estruturas" organizacionais que não subsistem à revisão
ou à finalização das propostas de formação. Este é um problema que poderá ser
"solucionado" à medida em que instituições "assumam" a coordenação e o
desenvolvimento de propostas.
Neste momento existem duas propostas concretas quanto a utilização da EAD no
âmbito das Universidades. A primeira se refere à nova Lei de Diretrizes e Bases que
incentiva a criação de sistemas cuja base seja o ensino individualizado. A segunda
proposta diz respeito ao Consórcio Interuniversitário de Educação Continuada e a

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Distância / BRASILEAD, que vem se consolidando, desde novembro de 1993, quando da
assinatura do Convênio entre o MEC e as Universidades Públicas Brasileiras, com o
objetivo de implantar um sistema público de EAD.
Há hoje consenso entre as universidades brasileiras quanto à necessidade de criação
de alternativas de atendimento a um contingente expressivo da população que ainda não
tem acesso ao ensino de 3º grau. Novas formas devem ser pensadas e implementadas
urgentemente, conforme as possibilidades e demandas regionais, expandindo sua ação e
buscando uma maior atuação sem que isto acarrete perda de qualidade.

3.0 - Educação a Distância

Mas o que é Educação a Distância? O que caracteriza e diferencia esta


modalidade de outras? Como ela se estrutura e funciona?

3.1 - Conceitos e características

Diversas são as denominações e as conceptualizações que encontramos


relacionadas com essa modalidade. Fala-se, freqüentemente, em Ensino a Distância e
Educação a Distância como se fossem sinônimos, expressando um processo de ensino-
aprendizagem. Ensino representa instrução, socialização de informação, aprendizagem,
etc., enquanto Educação é “estratégia básica de formação humana, aprender a aprender,
saber pensar, criar, inovar, construir conhecimento, participar, etc.” (MAROTO, 1995).
É nesta segunda acepção que pretendemos discutir o significado e as dimensões que
abarcam a EAD.
A situação sócio-econômico-cultural dos países da América Latina, marcada pelas
desigualdades sociais, contrasta com as mudanças tecnológicas e as exigências de
qualificação no mundo de trabalho. Por exemplo, frente ao aumento de usuários dos meios
de comunicação cresce, paradoxalmente, o número de analfabetos, acentua-se a
“desigualdade” entre os que têm formação muito especializada e os que se encontram cada
vez mais desqualificados para atender às exigências da sociedade atual.
A EAD, enquanto prática educativa, deve considerar esta realidade e
comprometer-se com os processos de libertação do homem em direção a uma sociedade
mais justa, solidária e igualitária. Enquanto prática mediatizada, deve fazer recurso à
tecnologia, entendida como “um processo lógico de planejamento, como um modo de
pensar os currículos, os métodos, os procedimentos, a avaliação, os meios, na busca de
tornar possível o ato educativo” (MAROTO, 1995). Exige-se, pois, uma organização de
apoio institucional e uma mediação pedagógica que garantam as condições necessárias
à efetivação do ato educativo.
Para Lorenzo GARCÍA ARETIO (1995), a EAD distingue-se da modalidade de
ensino presencial por ser “um sistema tecnológico de comunicação bidirecional que pode
ser massivo e que substitue a interação pessoal na sala de aula entre professor e aluno
como meio preferencial de ensino pela ação sistemática e conjunta de diversos recursos

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didáticos e o apoio de uma organização e tutoria que propiciam uma aprendizagem
independente e flexível”.

São, pois, elementos constitutivos da Educação a Distância:

* a “distância” física professor-aluno: a presença física do professor ou do autor, isto é do


interlocutor, da pessoa com quem o estudante vai dialogar não é necessária e indispensável
para que se dê a aprendizagem. Ela se dá de outra maneira, “virtualmente”;
* de estudo individualizado e independente: reconhece-se a capacidade do estudante de
construir seu caminho, seu conhecimento por ele mesmo, de se tornar autodidata, ator e
autor de suas práticas e reflexões;
* um processo de ensino-aprendizagem mediatizado: a EAD deve oferecer suportes e
estruturar um sistema que viabilizem e incentivem a autônomia dos estudantes nos
processos de aprendizagem. E isso acontece “predominantemente através do tratamento
dado aos conteúdos e formas de expressão mediatizados pelos materiais didáticos, meios
tecnológicos, sistema de tutoria e de avaliação” (MAROTO, 1995);
* o uso de tecnologias: os recursos técnicos de comunicação, que hoje têm alcançado um
avanço espetacular (correio, rádio, TV, audiocassette, hipermídia interativa, Internet),
permitem romper com as barreiras das distâncias, das dificuldades de acesso à educação e
dos problemas de aprendizagem por parte dos alunos que estudam individualmente, mas
não isolados e sozinhos. Oferecem possibilidades de se estimular e motivar o estudante, de
armazenamento e divulgação de dados, de acesso às informações mais distantes e com
uma rapidez incrível;
* a comunicação bidirecional: o estudante não é mero receptor de informações, de
mensagens; apesar da distância, busca-se estabelecer relações dialogais, criativas, críticas
e participativas.

A essência, pois, da EAD é a relação educativa entre o estudante e o professor que


não é direta, mas “mediada e mediata” (SEBASTIÁN RAMOS, 1990:22), pois se vale de
meios diversos e diferentes da explicação e a relação cara a cara, que se realiza em
momentos e lugares diferentes da presencial, fazendo uso de uma organização de apoio.

São suas características:

* a abertura: uma diversidade e amplitude de oferta de cursos, com a eliminação do maior


número de barreira e requisitos de acesso, atendendo a uma população numerosa e
dispersa, com níveis e estilos de aprendizagem diferenciados, para atender à complexidade
da sociedade moderna;
* a flexibilidade: de espaço, de assistência e tempo, de ritmos de aprendizagem, com
distintos itinerários formativos que permitam diferentes entradas e saídas e a combinação
trabalho/estudo/família, favorecendo, assim, a permanência em seu entorno familiar e
laboral;
* a adaptação: atendendo às características psicopedagógicas de alunos que são adultos;

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* a eficácia: o estudante, estimulado a se tornar sujeito de sua aprendizagem, a aplicar o
que está apreendendo e a se autoavaliar, recebe um suporte pedagógico, administrativo,
cognitivo e afetivo, através da integração dos meios e uma comunicação bidirecional;
* a formação permanente: há uma grande demanda, no campo profissional e pessoal, para
dar continuidade à formação recebida “formalmente” e adquirir novas atitudes, valores,
interesses, etc.
* a economia: evita o deslocamento, o abandono do local de trabalho, a formação de
pequenas turmas e permite uma economia de escala.

A EAD é, pois, uma alternativa pedagógica de grande alcance e que deve utilizar e
incorporar as novas tecnologias como meio para alcançar os objetivos das práticas
educativas implementadas, tendo sempre em vista as concepções de homem e sociedade
assumidas e considerando as necessidades das populações a que se pretende servir.
A EAD coloca-se, então, como um conjunto de métodos, técnicas e recursos,
postos à disposição de populações estudantis dotadas de um mínimo de maturidade e de
motivação suficiente, para que, em regime de auto-aprendizagem, possam adquirir
conhecimentos ou qualificações a qualquer nível. A EAD cobre distintas formas de ensino-
aprendizagem em todos os níveis que não tenha a continua supervisão imediata de
professores presentes com seus alunos na sala de aula, mas que, no entanto, se beneficiam
do planejamento, guia, acompanhamento e avaliação de uma organização educacional.
A Educação a Distância, porém, não deve ser simplesmente confundida com o
instrumental, com as tecnologias a que recorre. Deve ser compreendida como uma
prática educativa situada e mediatizada, uma modalidade de se fazer educação, de se
democratizar o conhecimento. É, portanto, uma alternativa pedagógica que se coloca
hoje ao educador que tem uma prática fundamentada em uma racionalidade ética, solidária
e compromissada com as mudanças sociais.

3.2 - Componentes da organização do sistema em EAD

Pensar na formação do profissional, do trabalhador para atender às novas formas


de organização do trabalho no atual processo de globalização da economia, pensar fazê-la
recorrendo a uma nova modalidade de educação é pensar também em novo tipo de
educador que vai atuar a distância. Formados em sistemas educativos convencionais,
devemos ser preparados para desempenhar funções outras dentro do sistema de EAD.

“/ / espera-se do professor uma atuação técnica, ligada ao desenho dos


cursos e a sua avaliação; uma atividade orientadora, capaz de
estimular, motivar e ajudar o aluno, além de estimulá-lo à
responsabilidade e à autonomia; um comportamento facilitador do êxito
e não meramente controlador e sancionador da aprendizagem
alcançada, e a utilização eficaz de todos os meios para a informação e o
ensino” (SEBASTIÁN RAMOS, 1990:31).

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Para tal, este “novo educador” deverá conhecer as características, necessidades e
demandas do alunado, formar-se nas técnicas específicas do modelo a distância,
desenvolver atitudes orientadoras e de respeito à personalidade dos estudantes e dar-se
conta de que sua função é formar alunos adultos para uma realidade cultural e técnica em
constante transformação. E isso só será possível se toda a equipe envolvida no processo de
EAD reconhecer suas limitações, estiver aberta ao diálogo e disposta a construir
caminhos, reconhecendo falhas e desvios. O trabalho cooperativo, portanto, será a base da
construção deste novo educador e da consolidação dos trabalhos e experiências em EAD.
Mas, a partir dos caminhos percorridos por instituições, que há décadas vêm
desenvolvendo programas a distância, pontos de referências e parâmetros podem ser
extraídos e utilizados por quem vai “ousar” nesta modalidade.
A EAD, pois, faz recurso a suportes administrativo, pedagógico, cognitivo,
metacognitivo, afetivo e motivacional3 que propiciam um clima de auto-aprendizagem
(aliás, ninguém aprende por nós!) e oferecem um ensino de qualidade. São suportes que
interagem, se influenciam reciprocamente e se completam, dando ao processo ensino-
aprendizagem o senso e a direção na formação do cursista como cidadão que atua nos
mais diferentes campos onde se situa (profissional, familiar, social, religioso, etc.).
Para que uma universidade ofereça um saber atualizado (filtrando o mais válido
das recentes produções científicas), dando prioridade aos conhecimentos instrumentais
(“aprender a aprender”), visando uma educação permanente do cidadão e estando
compromissada com o meio circundante, torna-se necessária uma organização, em EAD,
que atente e atenda a todos os componentes:

O aluno: que é um adulto que irá aprender a distância;


Os professores especialistas: cada um responsável por seu curso ou disciplina, à
disposição de alunos e tutores;
Os tutores: que poderão ser ou não especialistas daquela disciplina ou área de
conhecimento, com a função de acompanhar e apoiar os estudantes em sua caminhada;
O material didático: o elo de diálogo do estudante com o autor, com o professor , com
suas experiências, com sua vida mediando seu processo de aprendizagem;
O Centro de Educação a Distância \ CEAD: composto por uma equipe de especialistas em
EAD, Tecnologia Educacional, Comunicação e Multimídia, para oferecer todos os
suportes necessários ao funcionamento do sistema de EAD.

Para tal, teve estar presente constantemente:

A comunicação: que deverá ser bidirecional, com diferentes modalidades e vias de acesso.
A comunicação multimídia, com diversos meio e linguagens, exige, como qualquer
aprendizagem, uma implicação consciente do aluno, uma intencionalidade, uma atitude
adequada, as destrezas e conhecimentos prévios necessários, etc. Os materiais utilizados
também devem estar adequados aos interesses, necessidades e nível dos alunos. Esta
capacidade de adaptação aos interesses dos alunos é uma das caracterísitcas dos recursos

3
A respeito disso ver o texto de PRETI, O e ARRUDA, Maricília C. C. Licenciatura Plena em Educação Básica ... nesta obra, na
pág.

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multimeios interativos bem desenhados. Ainda que a comunicação multimídia favoreça a
aprendizagem, ela não a garante. A comunicação multimídia se produz entre o mediador
(professor, orientador acadêmico, tutor, autor) e o aluno com a ajuda dos diversos meios e
diversas linguagens, embora seu principal meio seja ainda a escrita. É necessário que o
mediador conheça as novas tecnologias para direcionar sua utilização e aplicabilidade em
seu trabalho diário, junto aos seus alunos.

A estrutura organizativa, composta por: concepção e produção de materiais didáticos,


distribuição dos mesmos, direção da comunicação, condução do processo de aprendizagem
e de avaliação, centros ou unidades de apoio.
A organização de um sistema de Educação à Distância é mais complexa, às vezes,
que um sistema tradicional presencial, visto que exige não só a preparação de material
didático específico, mas também a integração de "multi-meios" e a presença de
especialistas nesta modalidade. O sistema de acompanhamento e avaliação do aluno
requer, também, um tratamento especial. Isso significa um atendimento de expressiva
qualidade. Apesar das dificuldades na organização desse sistema, os resultados já
conhecidos de experiências realizadas incentivam aqueles, que ainda não o desenvolvem, a
fazê-lo.

Através da figura nº 1, talvez, seja mais fácil visualizar como esses componentes se
interrelacionam dentro de um sistema de EAD.

28
INSTITUIÇÃO
Funções
Concepção do curso
Professores/Especialistas Elaboração do material didático
Acompanhamento e Avaliação
Pesquisa

CEAD A L U N O S Material Didático

Do sistema:
Concepção/Produção
Planejamento
Acompanhamento Tutores
Administração
Avaliação e Pesquisa

Suportes ao aluno Funções:


Pedagógico Didática
Cognitivo Orientadora
Metacognitivo Avaliadora
Afetivo Administradora
Motivacional
Social Figura 01 - Componentes da ação educativa em EAD

29
A EAD, portanto, como modalidade, pressupõe a otimização e intensificação não
só do atendimento aos alunos, mas também dos recursos disponíveis para ampliação de
ofertas de vagas, sem que isto represente a instalacão de grandes estruturas físicas e
organizacionais. Esta otimização de recursos humanos e financeiros, com a conseqüente
relação baixa de custos-benefícios, talvez seja o aspecto que mais interessa a
administradores e governantes e faça com que apoiem experiências em Educação a
Distância.
No entanto, não deverá ser pensada como algo à parte da organização de ensino, é
necessário que se compreenda que Educação a Distância é educação permanente, contínua
e que, dada a sua característica, se faz imprescindível a organização de um sistema que
ofereça ao aluno as condições para que o mesmo efetue sua formação.

4.0 - Estrutura e Organização de cursos em EAD

Os cursos, tanto a nível de graduação, pós-graduação lato sensu e/ou stricto sensu
como cursos de aperfeiçoamento, reciclagem, etc. podem ser oferecidos à comunidade
utilizando-se a modalidade de EAD.
Como fazer isto? Que critérios utilizar e quais os passos a serem seguidos?

4.1 - Definição dos cursos

Inicialmente, a instituição, através de seus departamentos, centros, faculdades ou


institutos tem que se colocar algumas questões básicas: quais são as reais necessidades
sentidas na região ou no estado no sentido de formação de profissionais em diferentes
áreas? Para que oferecer cursos formativos /profissionais? Qual a função da instituição
junto ao seu entorno?
Esta problematização deverá ser posta a nível da direção da instituição e das
diferentes equipes que coordenam cursos de graduação e pós-graduação. Uma comissão
composta por representantes destes setores, a partir de pesquisas de mercado, de
diagnóstico e de solicitações advindas externamente, analisará e decidirá que cursos
oferecer.

Mencionaremos aqui, alguns aspectos a serem considerados neste processo de


definições.

A - “Clientela”

Através de um diagnóstico junto a empresas, a entidades de classes organizadas, a


centros educativos, a secretarias e órgãos públicos e à comunidade poderão ser detectadas

30
áreas onde urge uma atuação da instituição a distância no sentido de qualificar
profissionalmente contingentes expressivos de trabalhadores que atuam sem a devida
preparação ou com uma qualificação deficiente.

B - Viabilidade econômica e significância social

Para que esta modalidade se viabilize economicamente e faça sentido socialmente é


importante oferecer cursos em áreas onde há potencialmente uma grande demanda e uma
aceitação expressiva. Que sejam, portanto, cursos com uma certa significância e
viabilidade.

C - Perfil dos candidatos

O diagnóstico permitirá, além de identificar qual a “clientela” a ser atingida, definir


o perfil profissional de referência do candidato, para que este possa ter, posteriormente,
uma ação e intervenção em seu respectivo campo de trabalho que atenda tanto a seus
interesses particulares como aos de sua instituição ou empresa e às necessidades sociais do
seu entorno.

D - Princípios de abordagem

Os cursos a serem propostos para desenvolvimento do formação do profissional


terão que considerar duas dimensões:

- dimensão epistemológica: relativa ao desenvolvimento do pensamento científico,


para que o profissional possa lançar mão de um “esquema conceitual” (paradigmático),
entendido como uma lógica reconstituída ou maneira de ver, decifrar e analisar a realidade
na qual está inserido e sobre a qual sua ação interfere;
- dimensão profissionalizante: relativa à compreensão de sua ação educativa no seio
da comunidade onde atua, estabelecendo relações e interrelações entre os diferentes campos
do saber-fazer, desenvolvendo nele habilidades para o desempenho de sua prática.
Os cursos deverão, pois, primar por oferecer uma formação téorica e prática sólida,
no sentido de colocar no mercado especialistas preparados, cuja atuação seja percebida e
reconhecida.

E - Indicação de elementos curriculares

Os cursos desenvolverão conteúdos ligados às respectivas áreas de formação, mas


tendo como como pressuposto a indissociabilidade da relação teoria-prática dos
fundamentos, princípios e pressupostos epistemológicos, educativos e ético-políticos
implicados em seu campo de trabalho profissional.

31
Quanto aos aspectos formais na proposição de cada curso indicamos, em anexo, um
esquema apontando quais os elementos a serem contemplados e trabalhados na montagem
de cursos. Caberá, porém, a cada departamento definir a estrutura curricular dos mesmos.

4.2 - Desenvolvimento do curso

Aqui se coloca o desafio de conduzirmos os cursos tendo presente que se darão


dentro da modalidade de Educação a Distância e contando com uma equipe que também
estará sendo introduzida nesta nova modalidade, passando por um processo de
autoformação em Educação a Distância.
É importante que todos os passos e etapas dos cursos oferecidos sejam planejados
pela equipe de coordenação com antecedência e que os alunos sejam informados desde o
início de seu percurso (Fig. 02). Por isso, ao matricular-se, o cursista receberá o material
didático da primeira disciplina e o Manual do Estudante, contendo todas as informações
referentes ao curso e à modalidade. Cada disciplina terá um primeiro momento a Distância,
em que o cursista terá que ler o material específico acompanhado por um Guia Didático e
apresentar uma síntese ou desenvolver uma atividade que evidencie a compreensão dos
conteúdos e aplicação em seu campo de atuação.
Num segundo momento, presencial, discutirá o material produzido com os
colegas, sob a animação do tutor, e apontará dificuldades e/ou sugestões quanto à
disciplina e ao sistema adotado, que serão valiosas para “redimensionar” o processo do
próprio curso e fornecerão subsídios úteis à equipe pedagógica encarregada.
O cursista, durante o momento a distância, poderá entrar em contato com o tutor
utilizando o sistema de correio, fax, telefone ou Internet obedecendo um cronograma de
atendimento definido pelo próprio tutor em acordo com a coordenação do Centro de EAD.
Caso o trabalho apresentado ou a avaliação escrita realizada presencialmente pelo
cursista não atender aos requisitos mínimos exigidos, o tutor, assessorado pelo professor-
especialista, indicará ao aluno uma literatura complementar que o auxilie a completar sua
compreensão sobre o tema em estudo. Será definida outra data para uma segunda avaliação
ou, caso o cursista prefira, terá oportunidade até o final do semestre ou do curso, para re-
apresentar seu trabalho, atendendo às reformulações solicitadas, ou submeter-se a uma
outra avaliação presencial. Por isso, sugere-se que haja um espaço mínimo de 3 semanas
entre o oferecimento de uma disciplina e a seguinte para possibilitar a este cursista uma
“recuperação” rápida neste espaço de tempo, evitando assim acumular “dependências” de
disciplinas ao longo do curso.
Ao final de cada disciplina, o tutor encaminhará ao professor-especialista os
resultados da avaliação e uma apreciação pessoal quanto ao material didático que auxiliarão
na revisão do mesmo. Ao final do curso, será organizado um Seminário para uma avaliação
do mesmo em todos os seus aspectos, contando com a presença do professor-especialista.

32
ALUNO

 Matrícula
 Orientação inicial (manual do estudante / contato com o tutor / Seminário)
 Aquisição do material didático

Processo de
Aprendizagem

SUPORTE

* Materiais impressos
Material
* Fitas, audio, vídeo, CD room

* Presencial
Tutoria * a Distância

* Auto-avaliação
* Atividades
Avaliação * Avaliação Formal
* Seminários
* Ficha de Acompanhamento

Meios de * Telefone, Fax, Correio


Comunicação * Tele-conferência,
* Internet

Superação das
Etapas Estabelecidas

* Mudança de Atitudes
* Novas Habilitações
* Impacto no sistema/Instituição
Prática Transformada
e Transformadora

Trabalho Conclusivo

Figura 2 : Percurso do Aluno


PRETI e SATO, 1996

33
4.3 - Organização

As coordenações dos respectivos cursos ou institutos, contando com orientação do


Centro de EAD, desenvolverão atividades de diagnóstico das necessidades e demandas
reais existentes na região, para propor a implantação de cursos, utilizando a modalidade de
EAD. Toda a discussão referente a concepção curricular dos mesmos se dará, porém, nos
respectivos Departamentos, em consonância com as políticas e diretrizes da Instituição.
Para a implementação e implantação desses cursos, os Departamentos recorrerão à
assessoria do Centro para discussão de sua viabilidade e a forma como serão oferecidos. O
Centro dará todo o suporte típico do sistema em EAD que se compõe de diferentes subs-
sistemas intercalados: a concepção, a produção e a avaliação.

4.3.1 - Centro de EAD

O Centro de EAD, numa instituição que atua presencialmente, poderá estar ligado
a este ou aquele órgão da instituição e, à medida que for consolidando sua atuação e se
expandindo, vir a ser um Instituto ou uma Fundação. O importante é que goze de autonomia
administrativa e financeira para poder implementar uma política de EAD e consolidar seus
projetos, sem atrelamentos a interesses particulares.
É interessante contar com uma organização administrativa, constituída por equipes
de: Coordenação Geral, Administrativa, Pedagógica, de Professores/Especialistas e
Secretaria (Fig. 03):

) Coordenação Geral - responsável por integrar as diversas atividades internas e


externas, no sentido de articular e viabilizar uma política institucional em EAD e definir
operações e tomada de decisões para alcançar os objetivos fundamentais dos cursos.
Também deverá estabelecer contatos com profissionais e instituições que atuam com
EAD no Brasil e exterior, divulgar junto aos meios de comunicação cursos e eventos
relacionados com EAD na sua região como promover e organizar eventos em EAD no
Estado.

) Coordenação Administrativa - responsável pelas atividades estratégicas e operacionais,


transformando planos gerais em procedimentos e métodos de trabalho, alocando recursos
disponíveis para o desenvolvimento e funcionamento dos cursos. Será também
responsável pela impressão e distribuição do material didático e de todos os aspectos
burocráticos relacionados ao percurso acadêmico dos cursistas.

) Equipe Pedagógica - composta, inicialmente, por especialistas em Educação a


Distância, Tecnologia Educacional, Comunicação e Multimídia, para:

34
 coordenar os subsistemas de concepção, produção e avaliação dos cursos nos processos
de ensino-aprendizagem como desenvolver pesquisas que permitam um conhecimento
da realidade dos cursos e que auxiliem na retroalimentação dos mesmos;
 junto aos demais setores da Instituição relacionados com o sistema de EAD e autores dos
materiais didáticos, promover discussões pedagógicas para que em todas as ações a
serem desenvolvidas se tenha presente a função educativa dos cursos oferecidos;
 responsabilizar-se pela formação e acompanhamento dos Tutores;
 propiciar e dinamizar uma comunicação interativa do Centro de EAD com os tutores, os
professores-especialistas e os cursistas;
 cuidar da produção de software que dê suporte eficiente aos cursos, possibilitando criar
banco de dados;
 assessorar os professores-especialistas na escolha do material didático ou aos autores na
produção ou compilação de materiais didáticos para os cursos.

) Equipe de professores-especialistas

Ao propor um curso, o departamento responsável pelo oferecimento do mesmo formará


uma equipe de Especialistas na área de conhecimento, composta por um professor de cada
uma das disciplinas do curso e que terão a responsabilidade da escolha ou produção do
material didático. O professor-especialista receberá assessoria da Equipe Pedagógica no
processo de concepção e produção do material didático. Caberá ao especialista da disciplina
assessorar e acompanhar o trabalho dos tutores, quando do oferecimento da mesma, e
avaliar o processo ensino-aprendizagem dos alunos em parceria com os tutores.
Designados pelos respectivos departamentos, de acordo com sua disponibilidade e suas
competências, ou contratados exclusivamente para elaboração do material didático e
acompanhamento de sua disciplina no curso, os professores especialistas ficarão ligados
diretamente ao Centro de EAD, durante o oferecimento de sua disciplina, para que este
viabilize um trabalho integrado com uma base epistemológica comum. Para tal será
fundamental criar uma rede interativa para que a Coordenação do Centro possa, a distância,
manter contatos frequentes com os especialistas e promover debates entre eles.

) Secretaria - responsável por desempenhar as funções relativas ao recebimento


expedição e arquivo de correspondências relativos ao curso, organizar e manter
atualizado o arquivo relativo ao curso, executar todos os trabalhos de datilografia e
digitação necessários ao curso.

35
INSTITUIÇÃO

DIREÇÃO

Departamentos

CENTRO Secretaria
E A D

Especialistas em
EAD
Coord. Adm. Coord. Geral Equipe Pedag. Tecnologia Ed.
Comunicação
Multimídia

Prof./Especialistas Tutores

Figura 03 - Organograma do Centro de EAD / CEAD

36
4.4 - Meios Técnicos

Um dos problemas que a Educação a Distância enfrenta é o isolamento físico e


geográfico do aluno e do tutor. Para estabelecer um contato mais próximo, facilitando o
processo ensino-aprendizagem e viabilizando uma prática educativa situada e mediatizada,
recorre-se a vários meios: material didático e as mais diferentes tecnologias de
comunicação.

a - quanto à produção do material didático

Segundo IBAÑEZ (1990) e SEBASTIÁN RAMOS (1990), apesar da tecnologia de


comunicações à disposição hoje no mundo, a maior parte dos cursos de Educação a
Distância utiliza o material impresso como principal via de comunicação e de estudo em
seus cursos, pois é a ele que o aluno dedica mais tempo e o material escrito ainda supera
em muito os demais meios na Educação a Distância. Por isso, na fase inicial de um curso,
poderá ser privilegiado o material escrito como recurso didático.
Em parceria com os respectivos departamentos, a que os cursos
epistemologicamente estão ligados, serão programados encontros para uma discussão
preliminar sobre os conteúdos a serem trabalhados no curso, no sentido de se dar sequência,
unidade e bases conceptuais comuns, definindo a direção teórico-metodológica do curso e
estabelecer parâmetros de acompanhamento e avaliação.
A Coordenação do Centro, em seguida, discutirá com os professores-especialistas o
material didático a ser utilizado nas respectivas disciplinas. Porém, passará a estimulá-los a
produzirem material didático específico para o curso e para a modalidade. Serão dadas,
então, orientações técnicas quanto à produção do material para que atenda às peculiaridades
do aluno adulto que estuda sem a presença física do professor.
Os professores-especialistas poderão escrever, na sua disciplina, um texto (que
chamaremos aqui de Fascículo - de no máximo 80 páginas) onde sejam apresentados os
conteúdos mais significativos e relacionados com a prática dos cursistas e sejam propostas
atividades a serem desenvolvidas no sentido dos cursistas se auto-avaliarem na
compreensão dos conhecimentos aí apresentados e refletirem sobre suas ações nas
respectivas instituições e/ou comunidades. Este material impresso deverá ser adequado à
EAD do ponto de vista dos conteúdos, da linguagem, da estrutura do texto, da formatação,
etc., viabilizando uma relação bidirecional, um diálogo entre o cursista e o sistema
organizado para atendê-lo.
Outra alternativa, muito utilizada em universidades a Distância, como a Télé-
université du Québéc, no Canadá, é escolher uma obra já publicada que, no entender do
especialista, dá conta, perfeitamente, dos conteúdos e da linha teórica definidos para aquela
disciplina. Caberá, então, ao professor-especialista, elaborar um Guia Didático, que servirá
para orientar o cursista sobre o uso da obra escolhida e seu percurso, propondo-lhe
momentos de reflexão, de auto-avaliação e atividades práticas.

37
MATERI AL DI DÁTI CO

Material Material
I mpresso Audio-visual

. um/disciplina . já existente, com


V ídeo
Fascículo . auto-avaliação guia de orientação
. atividades

. livro texto adotado A udio . produzido pelos


Guia Didático professores
. guia do aluno

Figura 04 - Materiais Didáticos


PRETI e SATO, 1996

O professor especialista poderá recorrer a outros materiais didáticos


complementares, como fitas K7 (onde gravar algumas falas que considera fundamentais ou
para apresentação da disciplina ou para atendimento individual em casos muito
específicos) ou fitas de vídeo já produzidas para enriquecimento de temas ou aspectos da
disciplina e de atividades complementares. Deverá, aqui também, redigir um pequeno guia
sobre o tema da fita para que o cursista tenha clareza quanto aos objetivos a serem
alcançados e que aspectos analisar.
Na figura 04, são apontadas as diferentes e variadas possibilidades que o professor
especialista poderá utilizar na produção do material didático em EAD.

b - quanto ao meios de comunicação

A EAD é uma alternativa pedagógica de grande alcance e que deve utilizar e


incorporar as novas tecnologias como meio para alcançar os objetivos das práticas
educativas implementadas, tendo sempre em vista as concepções de homem e sociedade
assumidas e considerando as necessidades das populações a que se pretende servir.

38
Equipe Pedagógica
e Administratuva

Eq. Especialistas Tutores

Alunos

Figura 05 - Sub-sistema de Comunicação

A EAD caracteriza-se pela utilização simultânea de meios. A entrega do material


relativa ao curso será realizada via correio, diretamente ao cursista. Este poderá também
utilizar este meio para se comunicar com seu tutor ou com o professor-especialista. Porém,
o trabalho de tutoria a distância será realizado, preferencialmente, utilizando-se o telefone,
o fax , o correio ou o correio eletrônico. O computador poderá ser utilizado também para
intercâmbio entre o Centro e os tutores quer do ponto de vista pedagógico quer do ponto de

39
vista administrativo. Os dados relativos ao percurso do cursista, bem como das informações
de adequações do material, das atividades de tutoria, das avaliações, etc. serão todos
“armazenados”, através de um soft específico, criando-se, assim um Banco de Dados muito
útil para funções informativas, de análise e de investigação científica.
O fundamental, porém, não é estar usando este ou aquele meio de comunicação, mas
que seja estabelecida, efetivada e dinamizada uma rede interativa constante e contínua que
viabilize o diálogo entre todos os componentes envolvidos no processo educativo (Fig. 05).

4.5 - A tutoria

No sistema de EAD, o tutor tem um papel fundamental, pois, é através dele que se
garante a interrelação personalizada e contínua do cursista no sistema e se viabiliza uma
articulação entre os elementos do processo, necessária à consecução dos objetivos
propostos. Por isso, cada instituição busca construir seu modelo tutorial que atenda às
especificidades regionais e aos programas e cursos propostos, incorporando as novas
tecnologias. Mas, o que caracteriza e diferencia a figura do tutor nas universidades a
distância é fundamentalmente a concepção manifestada quanto à sua função dentro do
sistema de EAD. Nas práticas implementadas aparentemente não são percebidas grandes
diferenças, pois, na estrutura do sistema, a tutoria é posta nas instâncias de mediação entre o
estudante, o material didático e o professor, na busca de uma comunicação cada vez mais
ativa e personalizada, respeitando-se a autonomia da aprendizagem.
O que tentaremos expor aqui é uma concepção de tutoria, baseada nas experiências
da Universidad Nacional de Educación a Distancia / UNED, da Espanha, da Télé-université
du Québèc, do Canadá / Téluq e do Núcleo de Educação Aberta e a Distância (NEAD) da
Universidade Federal de Mato Grosso.
O sub-sistema de tutoria, muito mais que uma fórmula de enquadramento e de
assistência ao estudante, deve ser visto como educação individualizada, cooperativa e
“uma abordagem pedagógica centrada sobre o ato de aprender que põe à disposição do
estudante-adulto recursos que lhe permitem alcançar os objetivos do curso totalmente
desenvolvendo a autonomia em sua caminhada de aprendizagem” (DESLISE e outros,
1985).
A autonomia é algo que se adquire gradualmente, nos diferentes níveis de
desenvolvimento. O tutor, respeitando a autonomia da aprendizagem de cada cursista,
estará constantemente orientando, dirigindo e supervisionando o processo de ensino-
aprendizagem dos cursistas. É através dele, também, que se garantirá a efetivação da
avaliação do curso em todos os níveis.

“Tendo um conhecimento de base do conteúdo, é um


facilitador que ajuda o estudante a compreender os
objetivos do curso, um observador que reflete e um
conselheiro sobre os métodos de trabalho, um
psicólogo que é capaz de compreender as questões e
as dificuldades do aprendiz e de ajudá-lo a responder

40
de maneira adequada e, finalmente, um especialista
em avaliação formativa” (DION, 1985).

E a essas podemos ainda acrescentar algumas tarefas administrativas que a instituição exige
dele.
Para preencher adequadamente seu papel, portanto, o tutor deve possuir previamente
um certo número de qualidades, de capacidades ou aptidões. Isso devido à importância e à
posição que ocupa dentro de um sistema que compreende a EAD como sendo uma prática
educativa, situada e mediatizada.

A participação do tutor no curso se dará em três momentos:

a - na fase de planejamento: o tutor participa e discute com o professor-especialista


os conteúdos a serem trabalhados no curso, o material didático a ser utilizado e o sistema de
acompanhamento e avaliação dos alunos. Junto à equipe pedagógica do Centro receberá
uma formação específica sobre a modalidade de EAD e conhecerá em detalhes todo o
sistema que dará suporte ao cursista e serão definidas suas funções e competências;

b - na fase de desenvolvimento do curso: o tutor tem a função primordial de


estimular, motivar e orientar o cursista em acreditar em sua capacidade de organizar sua
atividade acadêmica e de auto-aprendizagem (funções orientadora e motivadora). O tutor,
pois, deverá dar-lhe os suportes metacognitivo, afetivo e motivacional necessários para
superar os problemas que o aluno for encontrando ligados à sua compreensão e adapatação
a esta modalidade de ensino para que não desanime e abandone o curso.
Deverá também estar à disposição dos cursistas para tirar dúvidas quanto ao conteúdo da
disciplina (função didática). Por isso um dos critérios de seleção será sua qualificação e
competência profissional naquela área do conhecimento.

Nesta fase a tutoria pode se dar de duas formas (Fig. 06):

- a distância: o cursista, individualmente, entrará em contato com o tutor, através de


meios de comunicação estabelecidos, nos horários definidos anteriormente; ou em
pequenos grupos de estudo, poderá formular algumas questões ou dúvidas e solicitar ao
tutor que os esclareça utilizando-se de um sistema interativo de comunicação;
- presencialmente: o cursista, individualmente ou em pequenos grupos, se
encontrará no Centro com o seu tutor muito mais para discutir e avaliar seu processo de
aprendizagem, apresentar os resultados de suas leituras, atividades e trabalhos propostos
nos materiais didáticos do que somente para tirar dúvidas.

41
TUTORIA

Presencial A Distância

FA X ,
I ndividual Coletiva Telefone correspondência Telemática

Figura 06 - Sub-sistema de tutoria


PRETI e SATO, 1996

É importante que se estimule e fomente a organização dos estudantes em pequenos


grupos para estudarem e desenvolverem as atividades solicitadas. Isso motiva muito mais o
estudante, facilita a compreensão dos conteúdos ao discuti-los com os colegas, contribue na
superação de dificuldades e faz com que vença melhor os momentos de desânimo. No
curso de Licenciatura em Educação Básica, que está sendo desenvolvido pelo
NEAD/UFMT, na região norte de Mato Grosso, os próprios estudantes formaram grupos de
estudo e criaram a figura do monitor, isto é, do colega que “melhor entende o conteúdo”,
para coordenar o grupo nas discussões do material didático. O trabalho cooperativo,
portanto, permite uma interação maior entre os próprios estudantes e com o tutor, fazendo
com que avancem e cheguem mais longe do que sozinhos, evitando também criar uma
certa “dependência” do tutor. É um momento onde exercitam a exposição, a verbalização, a
organização de seus pensamentos e aprendem a trabalhar coletivamente. O que é de suma
importância para uma prática educativa no contexto onde atuam.
Ao final do curso, poderá promover seminários onde os alunos poderão expor seus
trabalhos ou discutir temas educativos de atualidade relacionados com seu trabalho docente,
convidando os professores/especialsitas do curso a participarem. O contato direto com os
professores, com os autores dos materiais didáticos tem-se evidenciado motivador para o
estudante continuar no curso.
Caberá também ao tutor avaliar o estudante e informar ao professor/especialista
sobre a necessidade de textos complementares de apoio, não previstos pelo material
didático, quando detectadas dificuldades de aprendizagem.

42
c - na fase posterior ao desenvolvimento do curso: o tutor fará um breve relato,
avaliando a disciplina (quanto ao material escrito, à modalidade, à participação do
professor/especialista, ao tipo de avaliações realizadas, etc.) bem como o sistema posto à
disposição para dar suporte ao processo de ensino-aprendizagem.

Contratado em regime parcial de trabalho ou de dedicação exclusiva, juntamente


com a coordenação do Centro, definirá seu horário de atendimento. Poderá ser à noite ou
em fins de semana, cumprindo a carga horária estabelecida e não tendo mais do que 30
alunos sob sua orientação. O tempo de contratação variará de acordo com as necessidades
impostas pelas disciplinas, visando o atendimento aos alunos.

O tutor, em síntese, constitui um elemento dinâmico e essencial no processo ensino-


aprendizagem, oferecendo aos estudantes os suportes cognitivo, metacognitivo,
motivacional, afetivo e social para que estes apresentem um desempenho satisfatório ao
longo do curso. Deverá, pois, ter participação ativa em todo o processo. Por isso, é
importante que se estabeleça uma vinculação dialogal e um trabalho de parceria entre o
tutor, o professor/especialista e a equipe pedagógica. Isso valorizará a figura do tutor,
garantirá a qualidade do ensino oferecido e servirá de “exemplo” aos alunos ao ver ser
posto em prática o processo pedagógico e educativo “intencionalmente” proposto no
desenho curricular do curso.
O tutor vem se revelando, na experiência do Núcleo de Educação Aberta e a
Distância da UFMT, como sendo a figura chave, “a vertente humana da Educação a
Distância” e “o lado humano do processo de ensino-aprendizagem” (SERRANO,
1994:68,95), não simplesmente porque facilita a a compreensão do aluno em relação ao
material didático tornando mais acessível o processo ensino-aprendizagem, mas porque, ao
promover a comunicação e o diálogo, supera as limitações da ausência do professor-
educador, rompe com o possível isolamento do estudante e introduz a “perspectiva
humanizadora” num processo mediado pelo meios tecnológicos.
A formação do tutor, portanto, nos aspectos acadêmico e profissional, é uma das
tarefas mais importantes e que tem que receber uma atenção e carinho especial por parte da
equipe pedagógica na consolidação de qualquer proposta educativa através da modalidade
de EAD. Catalina Martínez Mediano (1988), ao fazer um estudo da “prática tutorial na
UNED”, sugere a “profissionalização” do tutor, propondo sua incorporação ao
Departamento que oferece a disciplina que está tutorizando, sua formação permanente e sua
remuneração digna e adequada à sua dedicação.

4.6 - Os processos avaliativos

Um dos pontos de maior relevância e de maiores cuidados na EAD é o que diz


respeito aos processos avaliativos, pois é a partir deles que será possível se fazer as devidas
adequações tanto nos processos de ensino-aprendizagem quanto no sistema e na
modalidade. Permitirão um constante “feedback” dos encaminhamentos dados antes de

43
iniciado o curso e das decisões tomadas ao longo do mesmo, viabilizando, assim, uma
adequação constante de possíveis pontos percebidos como “problemáticos”.

A avaliação poderá dar-se em diferentes níveis4:

a - Avaliação da aprendizagem: o cursista será avaliado quanto ao seu desempenho ao


longo de cada disciplina e do curso como um todo. O tutor, através de uma ficha individual,
acompanhará o desempenho de cada cursista colocado sob sua orientação, verificando o
nível de dificuldades, sua participação nas entrevistas individuais e nos encontros grupais, a
apresentação das atividades previstas ou sugeridas no material didático. Outro indicador
que comporá essa avaliação será fornecido pela avaliação escrita presencial ou pelo
trabalho conclusivo da disciplina que poderá ser solicitado ao cursista como síntese dos
conteúdos trabalhados naquela disciplina e fazendo a ponte com sua prática profissional e
com a realidade em que está inserido. Este trabalho será julgado pelo tutor e o professor
especialista. As formas avaliativas dos processos de aprendizagem deverão ser definidas
nas propostas curriculares dos cursos, atendendo às especificidades de cada disciplina e da
modalidade de EAD.

b - Avaliação do material didático: o tutor irá armazenando informações sobre os tipos e


níveis de dificuldades que os cursistas irão apresentar ao manusearem o material escrito e
ao utilizarem o complementar. O próprio aluno, ao final da disciplina, avaliará o material,
através de um questionário. Essas informações fornecerão ao professor-especialista um
mapeamento dos aspectos problemáticos existentes no material que o ajudarão a adequá-lo
melhor ao tipo de aluno matriculado no curso e poder, assim, oferecer um atendimento cada
vez mais eficiente àqueles alunos que apresentarem maiores problemas no
acompanhamento da disciplina.

c - Avaliação da modalidade: tanto o tutor como o cursista irão fornecendo dados, ao longo
do curso, (informalmente ou quando da aplicação de instrumentos a serem elaborados pela
Equipe Pedagógica) que auxiliarão a rever constantemente o sistema de EAD proposto em
seus subsistemas: administrativo e pedagógico.

d - Avaliação da tutoria: ao final de cada disciplina, quando da avaliação da mesma, o


cursista fará, no mesmo questionário, uma avaliação do sistema de tutorização adotado.
Uma outra fonte que fornecerá à coordenação do Centro elementos de avaliação de cada
tutor é o próprio percurso do cursista, na ficha individual, que apontará as dificuldades
manifestadas e como foram atendidas pelo tutor.

e - Avaliação do curso: as avaliações anteriores estabelecerão uma “rede” de informações


suficientes e úteis à avaliação processual do curso. Porém, o que deve ser enfatizado e
avaliado é em que sentido o curso está modificando a prática dos alunos em seus
respectivos campos de atuação e qual o impacto ou reflexos disso nas suas instituições,

4
Concepção elaborada e proposta para o NEAD por : ALONSO, K. M. e outros, 1993: 61-70.
Sobre avaliaçào em EAD ver o artigo de Maria Lúcia C. Neder, nesta mesma obra.

44
empresas e locais de trabalho. Pois, o objetivo principal do curso é provocar mudanças
(cognitivas e da práxis).

5. 0 - Os custos

Os estabelecimentos de Formação a Distância tem uma estrutura de custos muito


diferente dos estabelecimentos educativos tradicionais. Pois nestes, a atividade de ensino
propriamente dita se apoia geralmente somente no professor e se desenvolve em dois
momentos: a preparação do curso e a sala de aula. E é a remuneração do pessoal docente
que constitui o principal componente dos custos de ensino. A massa salarial do pessoal
docente depende do número de docentes e de suas características (formação e tempo de
serviço).
Num sistema de EAD, a atividade de educar implica a produção e difusão dos
instrumentos didáticos. Isto é, a atividade do professor deve ser “materializada”. Por isso,
os custos relativos à produção de material didático e de apoio são consideráveis.
Porém, a diferença nos custos variáveis e fixos é sentida à medida que aumenta o
número de estudantes no curso (economia de escala). Na EAD há uma amortização dos
custos fixos e, por conseguinte, a busca de um “ponto umbral” de rentabilidade é alcançado
maximizando-se o “custo-eficiência” das funções pedagógicas de concepção e produção do
material didático.
Os custos variáveis provêm de gastos relativos às funções de apoio pedagógico aos
estudantes e de tutoria, assim como à gestão logística de atividades de aprendizagem
(admissão, contrato dos tutores, divulgação do material, etc.). Dificilmente os custos
variáveis em EAD alcançam o mesmo nível que os do ensino tradicional.
A maior parte dos custos fixos depende em grande medida das somas destinadas à
concepção e produção de documentos mediatizados, assim como ao estabelecimento da
infra-estrutura destinada à sua difusão. Por outro lado, os custos variáveis - que evoluem em
função do número de estudantes - são relativamente mínimos para a grande maioria dos
cursos em EAD.
A determinação do ponto de rentabilidade consiste em encontrar o valor N na
seguinte equação:

(RM x N) = CFT + (CVM x N)

CFT
ou seja N = --------------
RM - CVM

donde: N: número de estudantes


RM: custos (médios) de matrícula e documentação por estudante
CVM: custos variáveis médios por estudante
CFT: custos fixos

(Fonte: R. Brulotte, 1995)

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Custos Varáveis FT
+ Custos Fixos

Custos Variáveis EAD


+ Custos Fixos

Custos Fixos EAD

Custos Fixos FT

nº de alunos matriculados

Umbral Crítico

Figura 07 - Comparação entre os custos fixos e variáveis en Formação Tradicional (FT) e EAD
sgundo Rumble, G.. - “Economics and cost structures”, apud : KAYE, 1985:76

Fica claro então que a rentabilidade de um curso em EAD está associado ao número
de alunos matriculados. Há um investimento inicial na formação de recursos humanos que
atuarão no Centro e na montagem da estrutura de apoio ao estudante (computadores, fax,
telefone, soft, produção de material didático), mas que se tornará rentável à medida em que
os cursos vão se expandindo, com o aumento de matrículas e novos cursos vão sendo
oferecidos.

46
Considerações finais

Neste texto buscamos tratar de diferentes aspectos que envolvem um sistema de


EAD, tentando enfatizar tantos os aspectos conceituais como operacionais do mesmo.
Tomamos como base uma vasta bibliografia internacional e como ponto de referência, para
explicitar e refletir esta modalidade educativa, a experiência que o Núcleo de Educação
Aberta e a Distância, do Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso,
vem desenvolvendo na formação dos professores que tuam nas primeiras quatro séries do 1º
grau na rede pública de ensino em Mato Grosso, utilizando-se da modalidade de EAD.
Queremos aqui reforçar, como fechamento, alguns pontos abordados ao longo do
texto.

 O sistema em EAD deve ser visto não como algo “supletivo”, que corre paralelo ao
sistema regular de educação, mas sim como parte integrante do mesmo, inspirado em
princípios, valores e práticas, solidamente fundamentado nas atuais teorias científicas da
educação e da comunicação. E mais ainda, a EAD, diante das limitações e falhas do
sistema educacional vigente, deve ser compreendida como educação permanente e
contínua, pelas suas próprias características e objetivos, pois busca dar respostas mais
imediatas à demanda premente de uma parcela significativa da população historicamente
excluídas dos serviços oferecidos pelo sistema educacional tradicional. Coloca-se como
uma inovação, como algo capaz de gerar novas possibilidades de acesso ao
conhecimento, à cultura e à tecnologia.

 Esta modalidade, por ser mediada pelos meios de comunicação, tem levado muitos
educadores a confundi-la como um sistema informativo, com pouca profundidade.
Outros pensam imediatamente em um sistema complexo de multimeios e ficam
surpresos diante da existência de programas de EAD que utilizam o material escrito
como recurso didático básico e praticam a tutoria “cara a cara”. Não há dúvida, como
afirma Georges Luckás, de que “a educação é o mais poderoso meio que a humanidade
possui para garantir sua própria sobrevivência e que a tecnologia está influenciando-a”.
Por isso, a EAD olha positivamente os novos caminhos da tecnologia em comunicação,
posicionando-se criticamente para usá-los de maneira tal que respondam às demandas
locais e atendam às condições de vida de seus alunos.

 Todos os componentes de um sistema em EAD são importantes para a implementação e


eficácia do mesmo, porém, devemos destacar que a preparação de recursos humanos e a
elaboração dos materiais didáticos devem merecer prioridade e dispensar atenções
especiais.

 A formação dos tutores, no caso do curso de Licenciatura Plena em Educação Básica e


em outras experiências analisadas, tem se evidenciado como sendo o elemento dinâmico
e humanizador que estimula a autonomia do aluno em seu processo ensino-
aprendizagem e garante seu desempenho no curso. Por isso, é de relevane importância

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definir bem o sistema de tutoria a ser adotado e oferecer uma formação contínua aos
tutores.

 A elaboração do material didático é um processo único e particular. A equipe, embora


inicialmente possa utilizar-se de materiais produzidos por outras instituições, deverá aos
poucos tentar seu próprio caminho e experienciar a riqueza desse processo. A
bibliografia existente sobre o assunto pode servir de pista e fazer com que se evitem
percursos que tornem mais complexa e difícil a concepção, produção e utilização do
material didático.

A Educação a Distância, assim, poderá oferecer à população uma educação acessível,


flexível e de qualidade que atenda às suas necessidades e expectativas, fortalecendo a
possibilidade da educação promover o crescimento pessoal de seus alunos e provocar
mudanças no seu entorno familiar, profissional e social.
Porém, devemos estar atentos para que, na implantação em nossas economias “periféricas”
do modelo neo-liberal, com uma ideologia de substrato conservador e que castiga a
economia nacional, o sistema de Educação a Distância não seja utilizado para “massificar”
o ensino com o propósito de formar um novo tipo de trabalhador que atenda à nova divisão
de mercado no processo internacional de produção.

BIBLIOGRAFIA

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