Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Lei de Terrorismo
Renato Brasileiro
Aula 19
ROTEIRO DE AULA
Nas lições de Alberto Silva Franco podemos conceituar esses mandados de criminalização como normas
constitucionais que criam a obrigação para o legislador infraconstitucional de incriminar lesões a
determinados bens jurídicos.
Na Constituição Federal temos vários exemplos desses “mandados de criminalização” (exemplo: Crimes
ambientais, Crimes contra a ordem econômica e financeira; Racismo, etc.).
Questionamento: Por que é que esses mandados existem? Repare que a própria Magna Carta reconhece a
importância de determinados bens jurídicos, estabelecendo para o legislador infraconstitucional o dever de
sancionar as condutas com determinado tipo penal.
Existe um mandado de criminalização que trata do Terrorismo (art. 5º, XLIII, CF), vejamos:
(...)
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
Obs.1: No ano de 1990 (movimento da lei e da ordem), entra em vigor a Lei 8.072/90 que trata dos crimes
hediondos (ao longo do tempo sofrendo diversas alterações).
Obs.2: A prática do crime de tortura tecnicamente não é um crime hediondo, mas sim equiparado à ele (Lei
9.455/97).
Repare que praticamente todos os mandados de criminalização da Constituição já haviam sido atendidos, mas
o único que ainda faltava era o terrorismo, agora sanado pela Lei 13.260/16. Mas, o porquê dessa demora na
www.g7juridico.com.br
1
elaboração da lei de terrorismo? Podemos apontar aqui dois motivos: a) ausência da prática de terrorismo em
território nacional; b) dificuldade nacional e internacional em definir o que é terrorismo.
Sobre esse assunto a ONU, desde os atentados em Nova Iorque (11/09/2001), vêm editando várias resoluções
de modo a coibir o terrorismo, mas até hoje não tem uma definição concreta do que seja terrorismo.
Hoje o Terrorismo é tratada na Lei 13.260/16, que teve a sua vigência no mesmo dia da publicação
(18/03/2016). Curiosamente, o projeto dessa lei foi encaminhado ao Congresso Nacional em junho de 2015:
Lei n. 13.260/16: Art. 1o Esta Lei regulamenta o disposto no inciso XLIII do art. 5º da Constituição Federal,
disciplinando o terrorismo, tratando de disposições investigatórias e processuais e reformulando o
conceito de organização terrorista.
Claramente existe hoje com a lei 13.260/16 o conceito de terrorismo. Mas, e antigamente, a legislação
disciplinava algo? Tínhamos algumas correntes.
a) 1ª Corrente:
Como adeptos dessa corrente temos o Professor Antônio Scarance Fernandes; Professor
José Paulo Baltazar Júnior.
Lei n. 7.170/83: Art. 20. Devastar, saquear, extorquir, roubar, sequestrar, manter em
cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou
atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados
à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversiva.
Observem, essa posição não era a dominante, isso porque a redação do artigo 20, ao falar
de terrorismo, nada explica.
b) 2ª Corrente: (majoritária)
Para os adeptos desse entendimento, o crime de terrorismo (antes da Lei 13.260/16), não
estava definido na legislação pátria (Brasil). Quem sustentava isso era o Professor Alberto
Silva Franco dizendo que o artigo 20 não era suficiente para definir terrorismo. Isso porque
afrontaria o princípio da taxatividade.
Essa era uma corrente que estava sendo aceita, chegando até o STF:
/ÊÀiÛiÊÌ ÃÊÌVi]ÊÛÃÌ\Ê
www.g7juridico.com.br ÜÜÜ°Vi°VÉÕV° Ì
2
AO ATENDIMENTO DO PEDIDO DE EXTRADIÇÃO (E, TAMBÉM, À DECRETAÇÃO DA
PRISÃO CAUTELAR PARA EFEITOS EXTRADICIONAIS) – POSTULAÇÃO DEDUZIDA POR
ESTADO ESTRANGEIRO QUE NÃO OBSERVA REQUISITOS IMPOSTOS PELO TRATADO
BILATERAL DE EXTRADIÇÃO CELEBRADO COM O BRASIL – “PACTA SUNT SERVANDA” –
PEDIDO DE PRISÃO CAUTELAR PARA EFEITOS EXTRADICIONAIS INSUSCETÍVEL DE
ACOLHIMENTO, POR ESTAR INSUFICIENTEMENTE INSTRUÍDO – NECESSIDADE DE
DILIGÊNCIAS COMPLEMENTARES – DETERMINAÇÃO DO RELATOR PARA QUE A
INSTRUÇÃO DOCUMENTAL FOSSE COMPLEMENTADA – IMPRESCINDIBILIDADE DOS
ELEMENTOS FALTANTES (DESCRIÇÃO DOS FATOS IMPUTADOS, INDICAÇÃO DO TEMPO
E LOCAL DE SUA SUPOSTA OCORRÊNCIA, IDENTIFICAÇÃO DO ÓRGÃO JUDICIÁRIO
COMPETENTE PARA O PROCESSO E JULGAMENTO DO ILÍCITO PENAL E CÓPIA DAS
NORMAS CONCERNENTES AO REGIME JURÍDICO DA PRESCRIÇÃO PENAL NO ESTADO
REQUERENTE) – NOTIFICAÇÃO FORMAL DA MISSÃO DIPLOMÁTICA DO ESTADO
REQUERENTE – NÃO ATENDIMENTO DESSA DETERMINAÇÃO JUDICIAL –
DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO JURÍDICO- -PROCESSUAL QUE INCUMBE,
EXCLUSIVAMENTE, AO ESTADO REQUERENTE – PRECEDENTES – PEDIDO DE PRISÃO
CAUTELAR PARA EFEITOS EXTRADICIONAIS NÃO CONHECIDO – PROCESSO JULGADO
EXTINTO. (PPE 730 QO, Relator (a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em
16/12/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-037 DIVULG 25-02-2015 PUBLIC 26-02-2015)
Em 2016 com a Lei 13.260, toda essa discussão ficou no passado, pois o legislador conceituou o que
seria terrorismo:
II – (VETADO);
III - (VETADO);
Pena - reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções correspondentes à ameaça ou à
violência.
/ÊÀiÛiÊÌ ÃÊÌVi]ÊÛÃÌ\Ê
www.g7juridico.com.br ÜÜÜ°Vi°VÉÕV° Ì
3
A Lei de terrorismo têm 4 crimes (art. 2º; art. 3º; art. 5º; art. 6º, da Lei 13.260/16), mas quais desses
crimes podem ser considerados equiparados a hediondos? Possuímos duas correntes que buscam
solucionar esse questionamento:
a) Corrente ampliativa:
Essa corrente sustenta que todos os crimes previstos na Lei 13.260/16 são considerados como
equiparado a hediondo.
b) Corrente restritiva:
Os adeptos dessa corrente sustentam que apenas o art. 2º é que deve ser considerado
equiparado a hediondo.
Lei n. 13.260/16: Art. 2o O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos
previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor,
etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou
generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.
§ lo Incorre nas mesmas penas o agente que, com o propósito de praticar atos de terrorismo:
I - recrutar, organizar, transportar ou municiar indivíduos que viajem para país distinto
daquele de sua residência ou nacionalidade; ou
Lei n. 13.260/16: Art. 6o Receber, prover, oferecer, obter, guardar, manter em depósito,
solicitar, investir, de qualquer modo, direta ou indiretamente, recursos, ativos, bens, direitos,
valores ou serviços de qualquer natureza, para o planejamento, a preparação ou a execução
dos crimes previstos nesta Lei:
Pena - reclusão, de quinze a trinta anos.
Lei n. 13.260/16: Art. 17. Aplicam-se as disposições da Lei n. 8.072/90, aos crimes previstos
nesta Lei.
Art. 18. O inciso III do art. 1o da Lei n. 7.960/89, passa a vigorar acrescido da seguinte
alínea p:
“Art. 1º
III (...)
/ÊÀiÛiÊÌ ÃÊÌVi]ÊÛÃÌ\Ê
www.g7juridico.com.br ÜÜÜ°Vi°VÉÕV° Ì
4
2.3. Bem jurídico tutelado.
A Doutrina estrangeira costuma dizer que o crime de terrorismo tutela bens jurídicos diversos.
O primeiro bem jurídico seria o mesmo bem jurídico tutelado pelo ato terrorista;
O segundo bem jurídico tutelado seria a paz pública, trabalhada em seu ponto de vista
subjetivo (sendo um estado coletivo de tranquilidade).
O terceiro bem jurídico tutelado pelo bem jurídico seria a própria democracia, isso porque,
quando se pratica um atentado terrorista, na verdade tenta-se subverter o processo natural da
democracia.
Sob a ótica da doutrina nacional, os poucos doutrinadores que tratam desse assunto (Professor
Callegari e outros), dizem que o bem jurídico é apenas a paz pública. Essa segunda posição é a mais
acertada. Aliás, no projeto do novo Código Penal, o crime de terrorismo está previsto no capítulo que
versa sobre “os Crimes contra a Paz Pública”.
Por esse motivo o ideal no Brasil é dizer que o bem jurídico tutelado pelo crime de terrorismo é a paz
pública no sentido subjetivo (sentimento coletivo de confiança na ordem jurídica).
Primeiramente o crime de terrorismo é comum, isto é, pode ser praticado por qualquer pessoa.
É possível falar que o crime de terrorismo pode ser praticado por uma só pessoa?
2ª Corrente:
Obs. essa segunda corrente está prevista expressamente na legislação brasileira (art. 2º).
Repare que é perfeitamente possível o terrorismo individual (art. 2º, caput). Portanto, o crime
de terrorismo pode ser classificado como um crime de concurso eventual (crime unissubjetivo,
pois pode ser praticado por uma única pessoa sem prejuízo que ela esteja associada a outros).
Exemplos:
o UnaBomber;
PONTO DO RATEIO - www.pontodorateio.com.br
`Ìi`ÊÜÌ ÊÌ iÊ`iÊÛiÀÃÊvÊ
vÝÊ*ÀÊ* Ê `ÌÀÊ
/ÊÀiÛiÊÌ ÃÊÌVi]ÊÛÃÌ\Ê
www.g7juridico.com.br ÜÜÜ°Vi°VÉÕV° Ì
5
Theodore John "Ted" Kaczynski, com bombas de fabricação doméstica cometeu
vários atentados (1978 a 1995) que resultou na morte de 3 pessoas e feriu outras
23.
Alguns doutrinadores se utilizam das expressões lobo solitário (lone wolf) e rato solitário (lone
rate) – é alguém que organiza e executa atos de terrorismo sozinho sem estar conectado a
uma estrutura de comando.
Caracteriza-se pela execução reiterada e aleatória de crimes violentos contra os bens jurídicos mais
essenciais dos indivíduos.
Cuidado, na redação do art. 2º, ao dizer “...atos previstos neste artigo...” estamos diante de uma
norma penal em branco homogênea homovitelina.
Homogênea – porque quem editou esse complemento foi o mesmo que editou a norma a
ser completada, qual seja, o Congresso Nacional.
Art. 2o O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste
artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião,
quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a
perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.
I - usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases
tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de
causar danos ou promover destruição em massa;
II – (VETADO);
III - (VETADO);
/ÊÀiÛiÊÌ ÃÊÌVi]ÊÛÃÌ\Ê
www.g7juridico.com.br ÜÜÜ°Vi°VÉÕV° Ì
6
V - atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa:
Cuidado, pois além do dolo (elemento geral) teremos dois elementos especiais, que são o:
Geralmente a motivação pouco importa para a caracterização do delito. Porém, para fins de
tipificação do crime de terrorismo, deve restar demonstrado que aqueles atos terroristas
foram praticados pelo agente por determinados motivos (razões de xenofobia, discriminação
ou preconceito de raça, cor, etnia e religião).
Obs. À exceção da xenofobia, todos os demais elementos constam da lei do racismo (Lei
7.716/89).
Lei n. 13.260/16 Art. 2o O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos
previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor,
etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou
generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.
a) Xenofobia:
Essa palavra é formada por dois termos, xenos (estrangeiro) e phóbos (medo). Com
isso, xenofobia nada mais é do que uma espécie de preconceito caracterizado pelo
ódio aos estrangeiros.
b) Discriminação:
Discriminação positiva
Discriminação negativa
/ÊÀiÛiÊÌ ÃÊÌVi]ÊÛÃÌ\Ê
www.g7juridico.com.br ÜÜÜ°Vi°VÉÕV° Ì
7
c) Preconceito:
Repare que o preconceito por si só não é considerado crime (na verdade é um pré-
julgamento). O preconceito apenas se torna crime quando resultar em uma
discriminação.
f) Etnia: Quando se fala em etnia está-se falando de um grupo de pessoas unidos por
laços culturais.
Obs: o preconceito e a discriminação têm que estar ligados a um desses elementos (raça, cor,
etnia, religião).
Lei n. 13.260/16 Art. 2o O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos
atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de
raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social
ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade
pública.
Aqui entra o chamado “Método terrorista”, isto é, usar alguém como instrumento para criar
um sentimento de insegurança nos demais, esse método se caracteriza por diversos fatores:
/ÊÀiÛiÊÌ ÃÊÌVi]ÊÛÃÌ\Ê
www.g7juridico.com.br ÜÜÜ°Vi°VÉÕV° Ì
8
d. Terrorismo e mídia;
O preceito secundário do art. 2º da Lei 13.260 deixa claro que o agente irá responder não apenas pelo
crime de terrorismo, mas também será punido pelos atos correspondentes à ameaça ou à violência.
Exemplo: praticar um crime de terrorismo matando 20 pessoas, o agente responderá pelos 20 crimes
de homicídio em concurso formal impróprio com o delito de terrorismo do art. 2º.
§ 2o O disposto neste artigo (faz uma interpretação ampla) não se aplica à conduta individual
ou coletiva de pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos,
de classe ou de categoria profissional, direcionados por propósitos sociais ou
reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar ou apoiar, com o objetivo de defender
direitos, garantias e liberdades constitucionais, sem prejuízo da tipificação penal contida em
lei.
Durante o processo legislativo um dos grandes problemas que a lei enfrentou foram as manifestações
sociais.
De maneira explícita a legislação fala que não será aplicável às manifestações sociais (§2º).
3. Organização terrorista.
Lei n. 13.260/16: Art. 3o Promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por
interposta pessoa, a organização terrorista:
Pena - reclusão, de cinco a oito anos, e multa.
/ÊÀiÛiÊÌ ÃÊÌVi]ÊÛÃÌ\Ê
www.g7juridico.com.br ÜÜÜ°Vi°VÉÕV° Ì
9
Obs. 1: Qual o conceito legal de organização terrorista? A doutrina vem dizendo que essa terminologia
utilizada (organização terrorista) obrigatoriamente seria uma espécie do gênero organização criminosa;
4. Preparação de terrorismo.
Lei n. 13.260/16: Art. 5o Realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de
consumar tal delito:
Pena - a correspondente ao delito consumado (12 a 30 anos), diminuída de um quarto até a metade.
§ 1º Incorre nas mesmas penas o agente que, com o propósito de praticar atos de terrorismo:
I - recrutar, organizar, transportar ou municiar indivíduos que viajem para país distinto
daquele de sua residência ou nacionalidade (combatente terrorista); ou
a) Cogitação
b) Preparação
Obs. Em algumas situações excepcionais atos preparatórios deixam de ser tratados como fatos
impuníveis, e passam a ser incriminados. (ex: art. 288, art. 291, etc.)
c) Execução
O Direito Penal incide, pelo menos em regra, a partir desse momento (art. 14 do CP)
d) Consumação
/ÊÀiÛiÊÌ ÃÊÌVi]ÊÛÃÌ\Ê
www.g7juridico.com.br ÜÜÜ°Vi°VÉÕV° Ì
10
Mas o que seria um ato preparatório, pois o artigo 5º, caput, não o define? Alguns autores entendem
que esse caput viola o princípio da legalidade em sua garantia da taxatividade. Não há problema em se
punir atos preparatórios. O único problema é a não definição do que seriam esses atos.
No parágrafo primeiro do aludido art. 5º, a coisa já é um pouco diferente, pois ele também traz atos
preparatórios dizendo o que são:
I - recrutar, organizar, transportar ou municiar indivíduos que viajem para país distinto
daquele de sua residência ou nacionalidade; ou
A consumação estará aperfeiçoada quando realizar o ato preparatório (exemplo: recrutar, organizar,
etc.).
O caput é um crime unissubjetivo (pode ser praticado por uma única pessoa);
É um crime obstáculo (são aqueles que cumprem uma função de prevenção ou impedimento da
realização de outro delito).
À luz do princípio da legalidade, o art. 5º, caput, da Lei 13.260, gerará questionamentos. Isso porque
não definiu de maneira precisa o que seriam esses atos preparatórios.
À luz do princípio da proporcionalidade, o art. 5º, caput, também irá gerar alguns questionamentos,
pois a pena cominada é praticamente igual à pena cominada ao crime de homicídio simples.
Lei n. 13.260/16
PONTO DO RATEIO - www.pontodorateio.com.br
`Ìi`ÊÜÌ ÊÌ iÊ`iÊÛiÀÃÊvÊ
vÝÊ*ÀÊ* Ê `ÌÀÊ
/ÊÀiÛiÊÌ ÃÊÌVi]ÊÛÃÌ\Ê
www.g7juridico.com.br ÜÜÜ°Vi°VÉÕV° Ì
11
Art. 5o Realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal
delito:
§ 1º Incorre nas mesmas penas o agente que, com o propósito de praticar atos de terrorismo:
I - recrutar, organizar, transportar ou municiar indivíduos que viajem para país distinto
daquele de sua residência ou nacionalidade; ou
§ 2o Nas hipóteses do § 1o, quando a conduta não envolver treinamento ou viagem para país
distinto daquele de sua residência ou nacionalidade, a pena será a correspondente ao delito
consumado, diminuída de metade a dois terços.
Combatente terrorista estrangeiro: aqueles indivíduos que viajam para um Estado distinto
daqueles de sua residência ou nacionalidade, com o propósito de perpetrar, planejar,
preparar ou participar de atos terroristas, ou fornecer ou receber treinamento para o
terrorismo, inclusive em conexão com conflitos armados.
Treinamento para terrorismo: deve ser compreendido como o fato de dar instruções para
o fabrico ou para a utilização de explosivos, armas de fogo ou outras armas ou
substâncias nocivas ou perigosas ou para outros métodos e técnicas específicos tendo em
vista a prática de uma infração terrorista ou contribuir para a sua prática, sabendo que os
conhecimentos específicos fornecidos visam à realização de tal objetivo;
Lei n. 13.260/16: Art. 6o Receber, prover, oferecer, obter, guardar, manter em depósito, solicitar,
investir, de qualquer modo, direta ou indiretamente, recursos, ativos, bens, direitos, valores ou serviços
de qualquer natureza, para o planejamento, a preparação ou a execução dos crimes previstos nesta
Lei: (financiamento ao terrorismo)
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem oferecer ou receber, obtiver, guardar, mantiver em
depósito, solicitar, investir ou de qualquer modo contribuir para a obtenção de ativo, bem ou recurso
financeiro, com a finalidade de financiar, total ou parcialmente, pessoa, grupo de pessoas, associação,
entidade, organização criminosa que tenha como atividade principal ou secundária, mesmo em caráter
eventual, a prática dos crimes previstos nesta Lei. (financiamento às organizações terroristas)
Os institutos da desistência voluntária e do arrependimento eficaz estão previstos no Código Penal (art. 15) – a
doutrina denomina esses institutos de ponte de ouro (que é um estímulo dado pelo ordenamento jurídico
para que o agente retorne, sendo responsabilizado apenas pelos atos já praticados).
CP, Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o
resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.
/ÊÀiÛiÊÌ ÃÊÌVi]ÊÛÃÌ\Ê
www.g7juridico.com.br ÜÜÜ°Vi°VÉÕV° Ì
12
Ainda com base no Código Penal:
O pressuposto básico é que o agente tenha ingressado em atos de execução (fase de execução);
Cuidado, pois na Lei de terrorismo esses institutos estão previstos no art. 10, vejamos:
Lei n. 13.260/16: Art. 10. Mesmo antes de iniciada a execução do crime de terrorismo, na hipótese do
art. 5o desta Lei (preparação de terrorismo), aplicam-se as disposições do art. 15 do Código Penal.
A grande novidade na lei é que existe a possibilidade de aplicar o art. 15 do Código Penal para atos
preparatórios.
Obs. quando o agente é beneficiado pela ponte de ouro, apenas responderá pelos atos já praticados.
7. Juiz natural para o processo e julgamento dos crimes previstos na Lei n. 13.260/16.
Lei n. 13.260/16: Art. 11. Para todos os efeitos legais, considera-se que os crimes previstos nesta Lei
são praticados contra o interesse da União, cabendo à Polícia Federal a investigação criminal, em sede
de inquérito policial, e à Justiça Federal o seu processamento e julgamento, nos termos do inciso IV do
art. 109 da Constituição Federal.
Os crimes previstos nessa lei são praticados contra o interesse da União. O art. 109, IV, da CF, diz que aos
juízes federais compete julgar os crimes praticados contra bens, serviços, interesses da União. Repare que o
legislador por uma lei ordinária diz que esse crime é de interesse da União.
Obs.1: Caso o cargo de interesse seja um concurso para área federal – adote essa posição acima.
Obs.2: Poderia afirmar que essa disposição (competência para a Justiça Federal) seria inconstitucional (cargo
de concursos estaduais). Vejamos os motivos:
Motivo 1: O bem jurídico tutelado é a paz pública, e esta não pertence à União, mas sim à coletividade;
Motivo 2: A competência da justiça federal tem status constitucional. O correto seria a Constituição
Federal prever essa competência e não ser ela trazida por uma lei ordinária.
Podemos concluir que o Juiz natural para o processamento e julgamento desses crimes é a Justiça Estadual, a
não ser que esteja presente uma das hipóteses do art. 109 da CF.
A polícia federal poderá investigar os crimes de terrorismo. Isso porque a Constituição Federal prevê que
quando um crime for dotado de repercussão interestadual ou internacional a lei poderá autorizar que a Policia
Federal investigue esse delito.
Lei n. 13.260/16: Art. 11. Para todos os efeitos legais, considera-se que os crimes previstos nesta Lei são
praticados contra o interesse da União, cabendo à Polícia Federal a investigação criminal, em sede de
inquérito policial, e à Justiça Federal o seu processamento e julgamento, nos termos do inciso IV do art.
109 da Constituição Federal.
§1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se a:
/ÊÀiÛiÊÌ ÃÊÌVi]ÊÛÃÌ\Ê
www.g7juridico.com.br ÜÜÜ°Vi°VÉÕV° Ì
13
I – apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses
da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática
tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei
(Lei 10.446/02);
9. Aplicação das disposições da Lei das Organizações Criminosas para a investigação, processo e julgamento dos
crimes previstos na Lei Antiterrorismo.
Lei n. 13.260/16: Art. 16. Aplicam-se as disposições da Lei n. 12.850/13, e (da lei 12.694/12) para a
investigação, processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei.
Quando se fala em “investigação”, na verdade o que o legislador está dizendo, é que todas as técnicas
especiais de investigação previstas na lei de organizações criminosas poderão ser aplicadas aos crimes de
terrorismo.
Também são aplicáveis todas as regras da lei das organizações quanto ao processo (procedimento).
Também são aplicáveis todas as regras da lei das organizações quanto ao julgamento, aqui temos um
problema, pois a lei 12.850 não tem nenhuma regra atinente ao julgamento.
O legislador, no art. 16 da Lei de terrorismo, disse menos do que queria dizer, sendo assim, por meio de uma
interpretação extensiva, as regras de julgamento previstas na Lei 12.694/12 serão aplicadas à lei 13.260/16.
10. Aplicação das disposições da Lei dos Crimes Hediondos aos crimes previstos na Lei n. 13.260/16.
Lei n. 13.260/16: Art. 17. Aplicam-se as disposições da Lei n. 8.072/90 aos crimes previstos nesta Lei.
11. Cabimento de prisão temporária em relação aos crimes previstos na Lei de Terrorismo.
A Lei de terrorismo teve o cuidado para alterar a lei de prisão temporária (Lei 7.960/89), passando a permitir a
prisão para todos os crimes previstos na Lei 13.260/16, cuidado com isso.
Lei n. 13.260/16: Art. 18. O inciso III do art. 1º da Lei n. 7.960/89 passa a vigorar acrescido da seguinte
alínea p:
“Art. 1º (...)
III (...)
/ÊÀiÛiÊÌ ÃÊÌVi]ÊÛÃÌ\Ê
www.g7juridico.com.br ÜÜÜ°Vi°VÉÕV° Ì
14