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CENTRO DE FORMACAO CENTRAL JOVEM

FORMACAO EM MARKETING

RESUMO DO LIVRO MENTES CONSUMISTAS

DISCENTE:

DYWAH ARMINDO DA CONCEICAO MULESSIUA

EMAIL: mdywah@gmail.com

CONTACTO: 841414596

DOCENTE: KELVIN GUNE

MAPUTO, 16 DE SETEMBRO DE 2023


Introdução

Ana Beatriz Barbosa é médica psiquiatra formada pela UERJ (Universidade Estadual do
Rio de Janeiro) e autora de mais de 10 livros. Especificamente em “Mentes
Consumistas” ela aborda a questão de como a actual sociedade que assume o ter como
prioridade e objectifica tudo, vem enfrentando a emergência do consumismo,
caracterizado por excessos em todos os aspectos, e as mais diversas consequências que
acarretam tais atitudes, a nível interpessoal como individual.
Em tempos como nossos, a autora cita que o ser acaba muitas vezes por ser confundido
ou ate mesmo considerado, pela sociedade como um tudo, como sinonimo de ter, facto
que pode ser explicado por aquilo que geralmente esta sociedade toma como critério de
determinação de identidade e valores. Enquanto uma sociedade que prioriza o ser tem
como enfoque aquilo que são os atributos ou qualidades intrínsecas das pessoas, a
sociedade onde vivemos tem como senso comum vigente o modo ter de estabelecer
regras e valores, em que o nosso “eu”, acaba sendo definido apenas pela quantidade e
pelo valor dos produtos que consumimos e que podem ser compradas por valor
determinado pelo mercado, sendo por essa razão que a autora a denomine Sociedade
Consumista ou de produtos.

De facto, o actual sistema económico em muito tem estado a contribuir para que tal
realidade surja e influencie o modo de viver nos dias actuais, uma vez que este prioriza
a produção e o lucro em detrimento da ética e valores humanos, e o ter passa a ser uma
necessidade que visa alimentar e manter ativo esse sistema. Sendo o “consumir’ a
maneira mais rápida e eficaz de ‘ter’, então é visto como uma forma de buscar prazer e
alegria, no entanto acaba gerando um certo “vício” por tais sensações, levando as
pessoas a comprarem mais e mais, formando assim um ciclo vicioso que faz girar e em
muito beneficia a economia, que por sua vez produz mais bens de consumo alcançando
o tao almejado lucro.

Ana Beatriz referencia que uma sociedade consumista irá sempre implicar numa
produção em excessos, de desperdícios e irracionalidades, e de manipulação dos nossos
desejos como consumidores, tendo em conta que tudo o que sustenta e promove o
consumismo, é exatamente o que cria um impacto negativo na natureza, gerado pela
pressão sobre esta, destruindo suas fontes de recursos naturais finitos. É importante
salientar que autora não olha para o consumo propriamente dito como o problema de
facto, ou então, que a solução para preservar ou melhorar o planeta é o não consumo,
pois este é sim necessário. Contudo a variação quantitativa deste consumo é que se
torna um problema, tornando-se uma ameaça não só para a natureza, como também e
principalmente para as diferentes esferas da vida interpessoal deste consumidor, que
pode ser visto como um compulsivo.
Como dito, o ato de consumir é preciso para viver, pois é a maneira pela qual o ser
humano poderá suprir certas necessidades com as quais se depara no seu dia-a-dia. No
entanto, sem o conhecimento prévio sobre as diversas facetas do comprar e acerca do
nosso comportamento mental no que diz respeito a ‘comprar’, qualquer um se torna
uma presa frágil de um sistema económico que se apoia no consumismo, o que torna
necessária a capacidade de se distinguir o consumo necessário- relevando a
redundância-, do consumo típico de uma sociedade consumista, e as consequências que
tais comportamentos podem provocar.

A autora faz a distinção de dois tipos de consumo: aquele que esta ligado a satisfação
das nossas necessidades essenciais/ de subsistência, ao qual chamou de consumo
primário; e aquele que está inteiramente ligado a nossa imaginação e cujo objetivo não
é suprir necessidades reais, mas sim satisfazer desejos ou vontades, consumo
secundário. Esta acrescenta que uma vez garantida a satisfação de necessidades
primárias, a mente humana se ocupa em buscar a satisfação de desejos socialmente
valorizados, através de compras de coisas que são validadas como necessárias à
felicidade e sendo assim, o individuo é impulsionado a comprar. É nesse contexto e
embasado nessa forma de consumo tao predominante nos dias atuais (consumo
secundário) que o consumismo, e a sua vertente patológica Transtorno do comprar
compulsivo, vem ganhando cada vez mais espaço na vida das pessoas.

Segundo Ana Beatriz, uma compra impulsiva é feita sem nenhum planeamento prévio e
de maneira totalmente irracional. O seu objetivo é quase sempre a satisfação imediata de
uma vontade momentânea. Estas tendem a não gerar grandes transtornos as pessoas
quando ocorrem eventualmente e não comprometem o orçamento, no entanto quando
esta ação tende a repetir-se frequentemente, esta pessoa pode ser denominado de
comprador abusivo/excessivo que diferentemente do compulsivo, apesar de sofrer as
consequências da sua forma de consumo, consegue lidar com a situação e manter um
certo grau de funcionalidade em todas a esferas da sua vida, e em ultimo estágio
encontramos a forma mais nociva com que o consumismo pode atingir a vida de um
individuo, compulsão por compras.

Também designada por oniomania ou transtorno do comprar compulsivo, a compulsão


por compras caracteriza-se por um estado constante em que o individuo tem a mente
dominada por pensamentos que invadem e tomam conta da sua mente e de forma
repetitiva, relacionados à necessidade de adquirir diversos tipos de produtos. Em casos
como este, o ato de comprar toma para o individuo um caracter de urgência, com o
único intuito de aliviar o mal-estar interno gerados por tais pensamentos, isso embora a
duração da sensação de “alívio” tensional obtido com as compras vá diminuindo com o
tempo provocando certos comportamentos repetitivos buscando satisfazer sua
dependência.

Para que um comprador se torne compulsivo, é necessário que o individuo apresente


em sua personalidade algumas características fundamentais como: um perfil impulsivo,
e um perfil obsessivo compulsivo, ou seja, a autora considera que, não basta que o
individuo ceda a seus impulsos por compras para que se torne um dependente porque
importa que, o que o caracterize seja mesmo um estado em que a sua mente seja repleta
de pensamentos intrusivos e repetitivos sobre o deseja ou o que deseja comprar, e em
tentativa de reduzir ou mesmo aliviar esses sintomas, o cérebro acaba por impor ao
individuo que este tome certas atitudes (compulsões). No entanto o alivio produzido por
essas compulsões é temporário e pouco tempo depois os sintomas estarão de volta, e
com eles as compulsões, estabelecendo assim um ciclo vicioso.

Um ponto que chama a atenção e que é abordado no livro é em relação às crianças.


Apesar da compulsão por compras ainda ser uma doença que apenas passou a ser
conhecida mundialmente quase recentemente, ou então cujas investigações científicas
sobre o problema e sobre a sua real incidência ainda estarem em fase embrionária, em
nosso actual contexto social parece ser de certa forma comum se deparar com um
individuo adulto que padece desta condição. Mas e as crianças? Em resposta, a autora
afirma que crianças podem sim presentar quadros comportamentais semelhantes aos de
um compulsivo, no entanto a que ter em conta que crianças não têm autonomia
financeira, logo tudo dependeria se estas teriam ou não ao seu alcance alguém que as
ajudasse a comprar, e disposto a transformar os seus mais profundos desejos em
realidade. Em suma, “a compulsão por compras, infelizmente, pode acometer crianças e
adolescentes, como também pessoas de qualquer religião ou credo, idade, poder
aquisitivo, nacionalidade” ou seja, todos, sem exceção estão suscetíveis ao problema.
Nossos desejos são constantemente manipulados para o consumo desenfreado,
precisamos, no mínimo, entender como nosso cérebro é capaz de nos induzir e nos
influenciar na hora de escolhermos o que consumir

Uma pergunta interessante que ela procura responder é porque nós compramos? Ao
considerar que o nosso cérebro funciona independente da nossa vontade, ele se torna
capaz de nos manipular e nos enganar para conseguir o que julga mais adequado no
momento. Assim, quando fazemos uma compra, mesmo que de maneira não consciente,
as associações e as conexões geradas pelo cérebro são capazes de nos influenciar. De
forma sucinta, a autora afirma que tudo se resume a um sistema de recompensa que
basicamente nos motiva a fazer tudo o que fazemos, em outras palavras, o cérebro tem
vida própria, e nós somos constantemente persuadidos a suprir seus desejos, muitas
vezes sem nos darmos conta disso.

Existem diversos tipos de compulsões, e diversas situações prazerosas também são


capazes de viciar os indivíduos que apresentam determinados comportamentos. Para se
sentir prazer de forma saudável e até produtiva, existe em nosso cérebro uma região
chamada sistema de recompensa. No entanto, quando esse sistema se mostra
disfuncional, especialmente em pessoas com predisposição genética e sob situação de
estresse pessoal e/ou social, o prazer sai do controle e a dependência tende a se instalar,
originando a compulsão.

Os compulsivos por compras, na maioria dos casos, tendem a manter seu transtorno em
segredo por muito tempo, pois têm plena consciência de que seus pensamentos e ações
relacionados ao consumo fogem de um padrão “normal”. As compulsões por compras,
alimentos, corpos perfeitos, drogas em geral, beleza eterna, jogos diversos etc.,
demonstram a tendência humana de criar ilusões e acreditar sempre em soluções
mágicas ou milagrosas para a árdua tarefa de esculpir, na pedra da vida, uma história
que dê significado a nossa existência.

Para superarmos de fato um comportamento disfuncional contumaz e desprovido de


sentido transcendente, como o vício por bens materiais, precisamos muito mais que
informação, conhecimento, vontade, suporte médico e psicológico. Antes de tudo,
necessitamos desenvolver e aperfeiçoar a nossa consciência.

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