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Exame Físico

Primeiramente, é importante salientar que embora o exame físico seja ​registrado


seguindo a sequência do modelo céfalo-caudal, ao ​examinar a criança essa sequência não
necessariamente precisa ser seguida, visto que o exame físico ​deve ser realizado no
tempo da criança para não causar estresse e agitação. Além disso, permitir o contato
físico, fornecer privacidade à criança, utilizar brinquedos terapêuticos e incentivar a
colaboração dos pais é de suma importância para que o exame físico seja realizado da
melhor forma.

1. Medidas de antropométricas
Os parâmetros de crescimento físico incluem peso; altura; espessura da
prega cutânea ou circunferência do braço; perímetro cefálico, torácico e
abdominal.

● Peso:
- Antes de pesar a criança, é necessário regular a balança
colocando-a em 0 e observando se ela registra exatamente no meio
da marca.
- Crianças maiores em geral são pesadas vestidas ou usando um
roupão de tecido leve. Se a criança precisar ser pesada usando
alguma roupa ou algum tipo de dispositivo especial, como uma
prótese ou um anteparo para o braço para um dispositivo
intravenoso, é importante ser observe ao registrar o peso.
- As crianças que são medidas a partir do comprimento em
decúbito dorsal em geral são pesadas sobre uma balança com
plataforma para lactente e colocadas em posição deitada ou sentada.

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● Altura e comprimento
- O termo ​comprimento se refere a medida da criança na posição
de decúbito dorsal. Ela deve ser medida nessa posição até os 2 anos
de idade;
- Para medir o ​comprimento é preciso estender o corpo
completamente segurando a cabeça da criança, mantendo os
joelhos delicadamente juntos e empurrando para baixo sobre os
joelhos até as pernas estarem totalmente estendidas e as costas,
justapostas à mesa. Se usar régua de medida, deve-se colocar a
cabeça firmemente no alto da régua e os calcanhares firmemente
contra o apoio da parte inferior da régua.

- O termo ​altura (ou estatura) refere-se à medida tomada quando


a criança encontra-se de pé. Meça a altura com a criança em pé,
sem sapatos, e tão ereta quanto possível, com a cabeça na linha
média e a linha de visão paralela ao teto e ao chão. Certifique-se de
que as costas da criança estejam contra a parede ou outra
superfície plana vertical, com os calcanhares, nádegas e ombros
tocando a parede e os maléolos mediais se tocando, se possível.

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● Circunferência do braço
- Importante para verificação de reserva energética;
- Ideal para criança menores de 5 anos;

● Perímetro ​cefálico​, ​torácico​ e ​abdominal


Cefálico:
- É necessário medir o perímetro ​cefálico ​até os 36 meses e em
qualquer criança cujo tamanho da cabeça seja questionável.
- Para mensuração do perímetro cefálico a fita métrica deve ser
posicionada um pouco acima das sobrancelhas e orelhas e passar
pela protuberância occipital.
- Nos primeiros 6 meses há um crescimento de 10 cm do perímetro
cefálico, sendo de 1 cm a 2 cm a cada mês.
- Mede cerca de 33 cm a 35 cm no recém nascido a termo;
- OBS: ​se o perímetro cefálico for significativamente MENOR que o
perímetro torácico, há a possibilidade de microcefalia. Se for MAIOR
que o perímetro torácico, mais de 4 cm maior, há a possibilidade de
hidrocefalia.
- Outras causas para o aumento do perímetro cefálico:
cefalohematoma, hemorragia e hematoma subdural.

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Torácico
- Até os 6 meses o perímetro ​torácico é MENOR do que o perímetro
cefálico​;
- Nos dos 6 aos 9 meses, aproximadamente, o perímetro torácico e
cefálico são iguais;
- A partir dos 9 meses o perímetro ​torácico é MAIOR que o
perímetro ​cefálico​;
- Para medi-lo a fita métrica deve passar na altura dos mamilos;
- Em recém nascidos o perímetro torácico é menor que o cefálico
cerca de 2 a 3 cm.

Abdominal
- Frequentemente medida em casos de distensão abdominal e
para determinar suas alterações;
- Para mensurá-lo a fita métrica deve passar na altura da cicatriz
umbilical;
- No RN mede cerca de 28 a 31 cm;

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2. Sinais Vitais
Incluem temperatura, frequência cardíaca e respiração; e pressão
arterial.

● Verificação da temperatura
- A temperatura em crianças pode ser medida em vários locais do
corpo por via oral, retal, axilar e canal auditivo;

Os instrumentos para medir a temperatura mais utilizados em


lactentes e crianças incluem:
- Termômetros intermitentes eletrônicos: Medem a temperatura do
paciente por via oral, retal e axilar e são usados como indicadores
diagnósticos primários

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- Termômetros infravermelhos: Medem a temperatura do paciente
coletando radiação térmica emitida de um local em particular (p. ex.,
canal auditivo)
- Termômetros contínuos eletrônicos – Medem a temperatura do
paciente durante a administração de anestesia geral, tratamento de
hipotermia ou hipertermia e em outras situações que exigem
monitoração contínua.

Variações térmicas considerando a temperatura axilar


Normotermia 36,0 - 37,0

Hipotermia < 36,0

Febril 37,0 - 37,5

Febre Baixa 37,5 - 38,5

Febre moderada 38,5 - 39,5

Febre alta 39,5 - 40,5

Febre muito alta (hiperpirexia) > 40,5


Fonte: Santana JC, et al. Semiologia Pediátrica. Porto Alegre: Aetmed; 2002.

● Verificação da frequência cardíaca


- A FC pode ser verificada pela palpação da artéria radial,
braquial, femoral, carotídea, temporal, pediosa ou poplítea.
- Um pulso satisfatório pode ser obtido na veia radial em crianças
com mais de 2 anos de idade. Entretanto, em lactentes e crianças
pequenas, o impulso apical (ouvir por um estetoscópio colocado no
tórax no ápice do coração) é o mais fidedigno.
- Conte por 1 minuto em lactentes e crianças pequenas, em função
de possíveis irregularidades de ritmo. Entretanto, quando são

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necessárias frequências apicais constantemente, use tempos
contínuos mais curtos (p. ex., intervalos de 15 ou 30 segundos).

Frequência cardíaca média em repouso de acordo com a faixa etária


Faixa pediátrica Frequência (bpm)

Recém Nascido 120 a 160

até 2 anos (lactante) 90 a 140

de 2 a 4 anos (pré-escolar) 80 a 110

De 5 a 10 anos (escolar) 75 a 100

De 11 a 19 (adolescente) 60 a 90

● Verificação da Frequência respiratória

- Conte a frequência respiratória em crianças da mesma maneira


que no paciente adulto. Entretanto, em lactentes, observe os
movimentos abdominais, já que as respirações são primariamente
diafragmáticas. Como os movimentos são irregulares, conte-os por 1
minuto para que seja precisa.
- Durante a frequência respiratória também é importante observar
o ritmo, frequência, profundidade, simetria da expansão pulmonar e
ruídos audíveis.

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Frequência cardíaca média em repouso de acordo com a faixa etária
Faixa etária Frequência por min

Recém-nascido 30 a 60

Lactante 24 a 40

Pré-escolar 22 a 34

Escolar 18 a 30

Adolescente 12 a 16

● Verificação da pressão arterial


- A pressão arterial pode ser medida em crianças sadias a ​partir
dos 3 anos de idade ​e obrigatoriamente em ​crianças sintomáticas de
qualquer idade (cefaléia, déficit de crescimento, convulsões,
insuficiência cardíaca e etc), crianças em serviços de emergência e em
unidades de cuidado intensivo, e em crianças de alto risco.
- Independentemente do tipo de técnica não invasiva que se use, o
fator mais importante na medida acurada da pressão arterial é o uso
do tamanho apropriado do manguito (tamanho do manguito refere-se
apenas ao balão inflável interior, não à cobertura de tecido). A técnica
para estabelecer um tamanho apropriado do manguito é escolher um
manguito com a largura do balão inflável que seja aproximadamente
40% da linha média da circunferência do braço.

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3. Aparência geral
- Embora o profissional registre a aparência geral no começo do
exame físico, ela engloba todas as observações da criança durante a
entrevista e a avaliação física.
- Observar o ​fácies​, a expressão e aparência facial da criança. Por
exemplo, o fácies pode dar indicações de crianças que estão com dor;
têm dificuldade de respirar; sentem-se ameaçadas, descontentes, ou
infelizes; são mentalmente deficientes; ou estão agudamente doentes.
- Observar a ​postura, posição e tipos de movimento corporal​. A
criança com dor pode favorecer uma parte do corpo. A criança com
baixa autoestima ou sentimento de rejeição pode assumir uma
postura abatida, carente e apática. Da mesma maneira, a criança
confiante, com sentimento de autovalorização e sentimento de
segurança, geralmente demonstra uma postura elevada, reta e bem
equilibrada.
- Observar a ​higiene da criança em termos de limpeza; cheiro
incomum do corpo; a condição do cabelo, pescoço, unhas, dentes e
pés; e a condição das roupas. Tais observações são excelentes dicas
para possíveis situações de negligência, recursos financeiros
insuficientes, dificuldades de moradia.
- Observar o ​comportamento​, o qual inclui a personalidade da
criança, grau de atividade, reação a estresse, exigências, frustrações,
interações com os outros (primariamente os pais e a enfermeira), grau
de alerta e resposta a estímulos.

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4. Pele e anexos
- Avaliar a ​coloração, textura, temperatura, umidade, turgor e erupções​.
O exame da pele e de seus órgãos acessórios envolve primariamente
inspeção e palpação. O toque permite que o profissional avalie a textura,
turgor e temperatura da pele. Avaliar também linfonodos, couro cabeludo,
unhas e presença de lesões.

Diferenças nas mudanças de coloração


Descrição Aparência na pele clara Aparência na pele escura

Cianose ​– Tom azulado pela pele; Coloração azulada, sobretudo na Lábios e língua
reflete hemoglobina reduzida conjuntiva da pálpebra (pálpebra acinzentados.
(desoxigenada). inferior), lóbulos da orelha,
lábios, membranas orais, solas
e palmas.

Palidez – Pode ser sinal de anemia, Perda do brilho róseo da pele, Aparência acinzentada
doença crônica, edema ou choque. sobretudo no rosto. na pele preta. Coloração
mais marrom-amarelada na
pele morena.

Eritema – pode ser resultado de A vermelhidão é vista com Muito mais difícil de
fluxo sanguíneo elevado em facilidade em qualquer parte do avaliar; depende de
decorrência de condições corpo. palpação para calor ou
climáticas, inflamação edema.
local, infecção, irritação de pele,
alergia ou outras dermatoses, ou
pode ser provocado por número
elevado de eritrócitos como
resposta compensatória à hipóxia
crônica.

Equimose – Áreas grandes e Áreas roxas a verde- Muito difícil de ver,


difusas, normalmente pretas e amareladas; podem ser vistas em exceto na boca ou
azuis, provocadas por hemorragia qualquer parte da pele. conjuntiva.
de sangue na pele; resultado
comum de lesões.

Petéquias – O mesmo que Os pontos arroxeados podem ser Normalmente invisíveis,


equimoses, exceto pelo tamanho: mais vistos nas nádegas, no exceto na mucosa oral,
pequenas hemorragias distintas e abdome e nas superfícies conjuntiva das pálpebras e
puntiformes com ≤2 mm; podem internas dos braços ou das conjuntiva que cobre o
denotar algum tipo de distúrbio pernas. globo ocular.
sanguíneo, como leucemia.

Icterícia – Manchas amarelas da Essas manchas são vistas nas Mais confiavelmente
pele normalmente provocadas por escleras dos olhos, pele, unhas avaliada nas escleras, no
pigmentos biliares. das mãos, solas, palma e mucosa palato duro, palmas e solas.
oral.

Fonte: WONG: Fundamentos da Enfermagem Pediátrica. 9. ed, 2014

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5. Cabeça e pescoço
- Observar ​formato, simetria, movimentos e postura da cabeça​.
Aos 4 meses a maioria dos lactentes deve ser capaz de manter a
cabeça ereta e em linha média quando na posição vertical.
- Inspecionar e palpar região do pescoço e analisar presença de
linfadenopatias.

● Crânio
- Realizar ​palpação do crânio em relação a suturas patentes,
fontanelas, fraturas e tumefações. Normalmente a ​fontanela posterior
se fecha em torno do ​2° mês de vida, e a ​fontanela anterior ​funde-se
entre ​12 e 18 meses​ de idade.

● Olhos
- Comparar as pupilas com relação a tamanho, formato e
movimento. Elas devem ser redondas, claras e iguais. Testar sua
reação à luz, iluminando rapidamente o olho e removendo a luz.
Conforme a luz se aproxima, as pupilas devem contrair-se; conforme a
luz se afasta, as pupilas devem dilatar-se.

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- Normalmente, por volta de ​3 a 4 meses​, as crianças são capazes
de fixar um campo visual com ambos os olhos simultaneamente
(binocularidade). Um dos exames mais importantes da binocularidade
é o alinhamento dos olhos para detectar visão não binocular, ou
estrabismo.
- No ​estrabismo um dos olhos se
desvia do ponto de fixação. Se o mau
alinhamento for constante, o olho fraco
torna-se “preguiçoso”, e o cérebro
acaba suprimindo a imagem produzida
por esse olho.
- Se o estrabismo não for
detectado e corrigido por volta de 4 a 6
anos de idade, pode ocorrer cegueira
por desuso, conhecida como
ambliopia.
- O estrabismo pode ser fisiológico
até os 28 dias de vida.

● Orelhas e pavilhão auditivo


- Observar forma, inserção, higiene, presença de cerume e
anormalidades.

A ​mastoidite é um exemplo de
anormalidade que pode ser encontrada, ​é
uma infecção no ouvido médio que pode
resultar em danos ao osso mastóide e na
formação de cistos com secreção purulenta.
Os sintomas incluem vermelhidão, inchaço e
sensibilidade ao redor do osso. É possível
haver febre, dor de ouvido e secreção.

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A ​otite também é um
exemplo de anormalidade. ​As
otites médias são comuns
principalmente em pacientes
até os 6 anos de idade. Um dos
motivos é o fato de elas
possuírem a tuba auditiva,
canal que liga a orelha média
ao nariz, em posição mais horizontal, favorecendo as infecções. A otite
média pode gerar um líquido conhecido como efusão da orelha média.
Essa secreção pode ser fina e líquida (serosa), espessa e viscosa ou
purulenta.

● Nariz
- Observar a cor do revestimento mucoso, que normalmente é mais
vermelha que as membranas orais, bem como qualquer tumefação,
secreção, secura ou sangramento e qualquer outra anormalidade.

● Cavidade Oral
- Observar mucosa bucal, forma, higiene, dentição, língua, gengiva,
palato, orofaringe posterior e lábios;
- Observar há presença de cárie, tártaro, aftas na musoca;
- Os lábios devem ser úmidos, macios, de textura suave e
aparência rósea, ou ter um matiz mais profundo que a pele em volta.
Os lábios devem ser simétricos quando relaxados ou tensionados;
- Deixe a criança examinar a boca de alguém, como um dos pais, a
enfermeira, ou uma boneca, e depois examine a boca da criança.

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A fissura labial e a fenda palatina são exemplos
de anormalidades que podem ser encontradas,
ambos causam dificuldade para respiração,
alimentação e fala.
● O ​lábio leporino é uma separação do
lábio superior, normalmente logo abaixo do
nariz.
● A fenda palatina é uma abertura na
parte superior do céu boca (o palato) que causa
uma abertura anômala para dentro do nariz.

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6. Tórax
- Inspecionar o tamanho, formato, simetria, movimento,
desenvolvimento da mama e os limites ósseos formados;
- O movimento da parede torácica deve ser simétrico
bilateralmente e coordenado com a respiração.
- Em crianças com menos de 6 ou 7 anos de idade, o movimento
respiratório é principalmente abdominal ou diafragmático. Nas
crianças maiores, particularmente meninas, as respirações são
principalmente torácicas. Em ambos os tipos, o tórax e o abdome
devem elevar-se e descer juntos.
- O desenvolvimento da mama púbere, em geral, começa em
meninas ​entre 10 e 14 anos de idade. Registre desenvolvimento
precoce ou retardado das mamas, bem como evidência de qualquer
outra característica sexual secundária.
- Em ​meninos​, o aumento da mama (ginecomastia) pode ter como
causa distúrbios hormonais ou sistêmicos, porém, mais comumente, é
resultado de tecido adiposo por obesidade ou uma mudança
transitória do corpo durante a puberdade precoce.

- Exemplo de anormalidade encontrada:


Pectus excavatum também conhecido como
“peito de sapateiro” ou “peito escavado”. ​Trata-se
de uma depressão do osso esterno, não causa
dor e a principal preocupação vem a ser o
aspecto aspecto estético da deformidade e os
possíveis prejuízos funcionais que pode
acarretar.

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● Ausculta e inspeção pulmonar
1. Observação​ dos movimentos respiratórios;
2. Avaliar a respiração com relação a frequência (número por minuto),
ritmo (regular, irregular ou periódica), profundidade (profunda ou
superficial) e qualidade (sem esforço, automática, difícil ou trabalhosa)
3. Observar ​o caráter dos sons respiratórios, como estridente, em chiado,
ronco ou pesado.

Ausculta pulmonar
- Sons Respiratórios Vesiculares​: ouvidos em toda a superfície dos
pulmões, com exceção da área intraescapular superior e área abaixo do
manúbrio. A inspiração é mais alta, maior e de maior intensidade que a
expiração.
- Sons respiratórios ausentes ou diminuídos: são sempre um achado
anormal, requerendo investigação. Líquido, secreção, ar ou massas sólidas
no espaço pleural interferem na condução dos sons respiratórios.

Taquipneia – Frequência
aumentada
Bradipneia – Frequência reduzida
Dispneia – Desconforto res-
piratório
Apneia – Cessação da respiração
Hiperpneia – Maior profundidade
Hipoventilação – Profundidade
reduzida e ritmo irregular
Hiperventilação – Frequência e
profundidade aumentadas

- Sons adventícios:
Estertores ou crepitações​: som semelhante a esmagamento de papel, melhor
auscultados no fim da inspiração. Indicam líquido/secreção nos bronquíolos.
Sibilos: som agudo semelhante a chiados, é produzido devido estreitamento
de vias aéreas, é melhor auscultado na expiração e pode ser causado por
exsudato, inflamação, espasmo ou tumor.
Roncos: ​São sons grosseiros e ásperos que ocorrem quando o ar está
bloqueado por muco, podendo ocorrer tanto na inspiração como na
expiração.

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- Anormalidades que podem ser encontradas:
● Asma: estreitamento ou obstrução de vias aéreas, causada pela
inflamação dos brônquios. Pode ser intermitente quando a criança
passa longos períodos sem apresentar sintomas ou pode ser crônica
quando o tratamento deve ser contínuo.

Fatores de exacerbação da doença:


alérgenos, irritantes, exercício
físico e alterações no clima.
Sinais e sintomas: tosse,
dificuldade respiratória,
presença de sibilos na ausculta,
cianose, agitação, retração
torácica, taquipnéia.

● Bronquiolite: ​infecção viral que acomete os bronquíolos


(continuidade dos brônquios que distribuem o ar para dentro dos pulmões).
É, na maior parte das vezes, causada por vírus respiratórios.
Sinais e sintomas: ​Como é uma doença
causada por vírus respiratórios, o quadro
se inicia como um resfriado, com
obstrução nasal, coriza clara, tosse, febre,
recusa das mamadas e irritabilidade de
intensidade variável. Em um ou dois dias
o quadro evolui para tosse mais intensa,
dificuldade para respirar, respiração
rápida e sibilância. Por vezes, podem
haver sinais e sintomas mais graves, como
sonolência, gemência, cianose
(arroxeamento dos lábios e extremidades)
e pausas respiratórias.

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Ausculta cardíaca
- O coração situa-se na cavidade torácica entre os pulmões no
mediastino e acima do diafragma

- Avaliar o tempo de ​enchimento capilar (o enchimento deve ser de 2s) o


enchimento prolongado pode associar-se à perfusão sistêmica deficiente ou
a uma temperatura ambiente fria; e realizar ​ausculta​.

Ausculta
- Os principais achados auscultatórios compreendem ​sons cardíacos e
sopros​.
Sons cardíacos: ​são transitórios, breves e produzidos por abertura
ou fechamento de valva, além de serem divididos em sons sistólicos (B1)
e diastólicos (B2). B1 e B2 batimento são componentes normais do ciclo
cardíaco, os familiares sons “tum-tá”.

B1:​ causado pelo fechamento das valvas tricúspide e mitral (TUM).


B2:​ é o resultado do fechamento das valvas pulmonar e aórtica (TÁ).

Ritmo normal:​ bulhas cardíacas normofonéticas em 2 tempos.


Ritmo anormal: ​bulhas cardíacas hipofonéticas/hiperfonéticas com ou
sem ausência de sopro.

OBS: outros dois sons cardíacos B3 e B4 podem ser produzidos. B3 é


normalmente ouvido em crianças; B4 raramente é ouvido como som
cardíaco normal.

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Sopros: ​são provocados pela turbulência do fluxo sanguíneo e são mais
prolongados que os sons cardíacos, podendo ser sistólicos, diastólicos ou
contínuos. Devem ser observados com relação a sua intensidade e descritos
pela localização e pelo momento em que ocorrem no ciclo cardíaco.

Sopros Inocentes​: Não existe nenhuma anormalidade anatômica ou


fisiológica.
Sopros funcionais​: Não existe defeito cardíaco automático, mas uma
anormalidade fisiológica, como anemia, está presente.
Sopros orgânicos​: Existe um defeito cardíaco com ou sem uma anormalidade
fisiológica.

Disfunções cardiovasculares: ​Nas crianças as cardipatias


congênitas são mais frequentes; existem várias causas para as principais
cardiopatias congênitas, dentre elas, medicamentos, radiação, patologias
como rubéola e vírus Cosakie B e intenções de abortos. Fatores genéticos e
fatores maternos que incluem as doenças crônicas como a ​diabetes ou a
fenilcetonúria mal controladas, também se destacam. Além disso, consumo de
álcool, exposição a toxinas ambientais e infecções também podem aumentar
consideravelmente a probabilidade de uma anomalia cardíaca.

As anomalias cardíacas congênitas são classificadas como ​Cianótica e


Acianóticas​ (derivações da esquerda para a direita ou lesões obstrutivas).

As consequências fisiológicas das cardiopatias congênitas variam


significativamente, envolvendo desde sopro assintomático ou discrepância

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entre pulsos até cianose grave e insuficiência cardíaca ou colapso
circulatório.

Manifestações clínicas das cardiopatias:

- Aumento da frequência cardíaca e hipertrofia das câmaras:


ocorre como mecanismo compensatório devido ao aumento de
trabalho cardíaco.

- Fadiga e cansaço: ​surgem devido à diminuição de débito


cardíaco, decorrente da sobrecarga cardíaca.

- Dispnéia: ​as pressões vasculares, normalmente baixas nos


pulmões, elevam-se, acarretando o extravasamento de líquidos em
alvéolos. Isso dificulta as trocas gasosas e propicia ambiente favorável
à proliferação de agentes causadores de infecções respiratórias.

- Cianose: ​a coloração azulada da pele e extremidades decorre da


queda da saturação de oxigênio no sangue levando à policitemia.

- Policitemia: ​aumento de glóbulos vermelhos ocorre para


compensar a baixa oferta de oxigênio aos tecidos, mas, quando ele é
excessivo o sangue torna-se viscoso, circulando lentamente pelos
vasos e reduzindo a oferta de oxigênio aos tecidos. A cianose e o
desconforto respiratório intensificam-se e as crises de hipóxia podem
tornar-se mais frequentes.

- Crise de hipóxia: manifestação aguda desencadeada por


situações em que as demandas orgânicas aumentam como choro,
febre, mudanças bruscas de temperatura ambiental e etc; suplantando
a capacidade do sistema cardiovascular em suprir as necessidades
teciduais de oxigênio e nutrientes. Na crise de hipóxia a cianose e o
desconforto respiratório intensificam-se progressivamente. Também a
intensificação de sudorese e queda do nível de consciência e da
perfusão nas extremidades, as quais se tornam úmidas e frias. O
sofrimento cerebral devido a hipóxia pode levar a uma crise convulsiva.

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7. Abdome
- O exame do abdome envolve ​inspeção​, ​ausculta​, ​palpação e
percussão​. A palpação deve ser realizada por último, porque ela pode
distorcer os sons abdominais normais.

● Inspeção abdominal
Inspecionar simetria, forma, condições da pele, presença de
hérnias.
- Inspecionar o contorno do abdome com a criança ereta e na
posição de decúbito dorsal. Normalmente, o abdome de lactentes e
crianças pequenas é cilíndrico. Um abdome tenso, em tábua, é um
sinal grave de íleo paralítico (​ausência temporária dos movimentos
contráteis normais do intestino)​ e obstrução intestinal.
- Forma:​ semigloboso, escavado, plano, distendido.
- Pele: a pele que cobre o abdome deve ser uniformemente lisa,
sem pregas ou enrugamento.
- Examinar ​o umbigo com relação a tamanho, higiene e evidência
de qualquer anormalidade, como hérnias. O umbigo deve ser
achatado e fazer ligeira protrusão. Se existir uma hérnia, palpar o
saco à procura de conteúdos abdominais e estime o tamanho
aproximado da abertura. Hérnias umbilicais são comuns em lactentes.
- Podem existir hérnias em qualquer parte da parede abdominal .
Uma hérnia inguinal é uma protrusão de peritônio através da parede
abdominal no canal inguinal. Ela ocorre principalmente no sexo

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masculino, frequentemente é bilateral e pode ser visível como uma
massa no escroto.

● Ausculta abdominal
Auscultar movimentos peristálticos (ruídos hidroaéreos: normais,
hipoativos ou hiperativos) nos 4 quadrantes.
- O achado mais importante que deve ser escutado é peristalse ou
ruídos hidroaéreos.
O que também pode ser auscultado:
Borborigmo: Ocorre quando houver
predominância de gases em relação ao
conteúdo líquido do órgão. É o ronco da
barriga, que indivíduos normais podem
apresentar quando estão com fome. Em
casos de obstrução incompleta do intestino
o ruído hiperativo pode ser audível até dois
metros do paciente.

Meteorismo: ​é o acúmulo de gases no


estômago, o qual causa fortes dores no
abdômen e distensão.

sopros:​ ​podem aparecer em situações em que ocorre interrupção do fluxo


laminar de sangue.

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● Percussão abdominal
A partir da percussão é possível identificar presença de ar livre, líquidos e
massas intra-abdominais. A técnica é digito-digital, em que o examinador
posiciona uma das mãos sobre o abdome e percute com o dedo indicador.

● Som normal: maciço (baço e fígado), timpânico (vísceras ocas);


● Percussão normal: macicez hepática no hipocôndrio direito;
timpanismo no espaço de Traube, timpanismo nas demais regiões.
● Massas abdominais sólidas ou líquidas (ascite) são maciços.
● Timpanismo generalizado pode indicar obstrução

● Palpação abdominal
- Para a ​palpação superficial​, coloque uma das mãos suavemente
contra a pele e sinta cada quadrante, observando quaisquer áreas de
sensibilidade, tônus muscular e lesões superficiais, como cistos.

- A ​palpação profunda é
usada para palpar órgãos e
grandes vasos sanguíneos e para
detectar massas e sensibilidade
que tenham sido descobertas
durante a palpação superficial. A
palpação em geral começa nos
quadrantes inferiores e vai para
cima para evitar que se esqueça
da borda de um fígado ou baço
aumentado.

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8. Órgãos genitais e ânus
- O exame da genitália segue convenientemente a avaliação do
abdome enquanto a criança ainda está na posição de decúbito
dorsal.
- Ao examinar a genitália, use luvas ao tocar substâncias
corporais.

● Genitália masculina
- Observar a aparência externa da glande e do pênis, o prepúcio,
o meato uretral e o escroto;
- O pênis geralmente é pequeno em lactentes e meninos pequenos
até a puberdade, quando seu tamanho e largura começam a
aumentar. Na criança obesa, o pênis em geral parece pequeno em
função das pregas de pele que o cobrem parcialmente.
- Examinar a glande e a haste à procura de sinais de tumefação,
lesões da pele, inflamação ou outras irregularidades. Qualquer destes
sinais pode indicar distúrbios subjacentes, especialmente infecções
sexualmente transmissíveis.
- Examinar a localização e o tamanho do escroto. Em lactentes, os
escrotos parecem maiores em relação ao resto da genitália. A pele do
escroto é frouxa e altamente enrugada.
- A ​palpação do escroto inclui identificação dos testículos,
epidídimo e, se presente, hérnias inguinais. Os dois testículos são
sentidos como corpos pequenos e ovóides de aproximadamente 1,5 a
2 cm – um em cada bolsa escrotal.

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Achados normais: ​órgão genital compatível com a idade do paciente;
meato urinário centralizado na glande; ausência de lesões e
secreções; testículos no interior da bolsa escrotal; surgimento de
pelos pubianos com a puberdade;
Achados anormais: ​fimose; lesões; testículos edemaciados;

● Genitália feminina
- O exame da genitália feminina limita-se à inspeção e à palpação
das estruturas externas. Se for necessário um exame vaginal, faz-se
um encaminhamento apropriado, a menos que a enfermeira seja
qualificada para realizar o procedimento.
- O posicionamento conveniente para o exame da genitália
envolve a colocação da criança pequena em decúbito dorsal na mesa
de exame ou em uma posição semirreclinada no colo de um dos pais.
- Examinar a genitália feminina com relação a tamanho e
localização das estruturas da vulva, ou pudendo.
- Observar o tamanho dos lábios e qualquer evidência de fusão,
que pode sugerir escroto masculino ou sinéquia vaginal.
- À volta da abertura vaginal encontram-se as glândulas de
Bartholin, que secretam um líquido mucoide claro na vagina para
lubrificação durante o intercurso. Palpar os ductos à procura de
cistos.
- Observar ​a secreção da vagina, que geralmente é clara ou
branca.

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Achados normais: ​formação anatômica normal; pequenos lábios
compatíveis com a idade; canal vaginal presente com abertura vaginal
coberta pelo hímen; ausência de lesões surgimento de pelos a partir da
puberdade;
Achados normais: ​desenvolvimento incompatível com a idade;
sangramentos anormais; sinais de infecção; sinais de trauma; sinéquia
vaginal

● Ânus
- Observar a firmeza geral das nádegas e simetria das pregas
glúteas. Avalie o tônus do esfíncter anal desencadeando o reflexo anal.
- O discreto prurido da área anal resulta em uma contração
rápida óbvia do esfíncter anal externo.

Achados normais: ​orifício anal presente, íntegro; ausência de


parasitoses;
Achados anormais: ​ânus imperfurado; presença de hemorróidas;
presença de parasitoses;

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9. Dorso e membros
Coluna: a curvatura geral da coluna é observada. Normalmente,
as costas do recém-nascido são redondas ou em forma de C a partir
das curvas torácica e pélvica.
Inspecionar as costas, especialmente ao longo da coluna, à
procura de tufos de pelo, depressões, ou descoloração.
O desenvolvimento das curvas cervical e lombar aproxima-se do
desenvolvimento de várias habilidades motoras, como curvatura
cervical com controle da cabeça, e dá à criança maior a típica curva
em S dobrada.
Curvas acentuadas na postura são anormais. A escoliose,
curvatura lateral da coluna, é um problema importante da infância,
especialmente em meninas.

Membros: ​Inspecionar a simetria do comprimento e o tamanho


de cada um dos membros; encaminhe qualquer desvio para avaliação
ortopédica. Conte os dedos das mãos e dedos dos pés para
certificar-se do número normal. Esta contagem pode indicar um dedo
extra (polidactilia) ou fusão dos dedos (sindactilia).
As crianças de 1 a 3 anos geralmente têm as ​pernas arqueadas até
que toda a parte inferior das costas e os músculos da perna estejam
bem desenvolvidos. Arqueamentos unilaterais ou assimétricos
apresentados além da idade de 2 a 3 anos, podem representar
condições patológicas que exigem investigação adicional.

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Joelho valgo​: os joelhos ficam muito próximos, mas os pés ficam
separados. O joelho valgo está normalmente presente em crianças de
aproximadamente 2 a 7 anos de idade. O joelho valgo que é excessivo,
assimétrico, acompanhado de estatura pequena, ou evidente na
criança próximo da puberdade exige avaliação adicional.
Observar qualquer anormalidade na região dos pés. O problema
de marcha mais comum em crianças pequenas é o dedo de pombo, ou
dedo para dentro, que geralmente resulta de deformidades em torção.
Verificar​ o reflexo plantar ou de preensão.
- O ​sinal de Babinski​, dorsiflexão do dedo grande do pé e abertura
dos outros dedos, é normal durante a lactância, mas anormal
após cerca de 1 ano de idade ou quando começa a locomoção

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THE END

Referências

HOCKENBERRY, Marilyn J.; WILSON, David. WONG: Fundamentos da Enfermagem


Pediátrica. 9. ed. [​S. l.​]: Mosby Elsevier, 2014. 3092 p.

ALMEIDA, Fabiane de Amorim; SABARÉS, Ana Llonch. Enfermagem Pediátrica: A criança,


o adolescente e sua família no hospital. 1. ed. Barueri, SP: Manole, 2008.

BURNS, Dennis Alexander Rabelo ​et al.​ Tratado de Pediatria: Sociedade Brasileira de
Pediatria. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2017.

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