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R E V I S T A
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TEMAS DE 2023
PARA LER E
REFLETIR AO
LONGO DE 2024
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O futuro chegou e ele não tem motorista: os
106
táxis-robôs tomam conta de San Francisco
3
Uma das tendências internas mais antigas do PT é formada por militantes
trotskistas | Foto: Eli Vieira com Midjourney
“MUSO" DA ESQUERDA
4
escola de pensamento se destaca por sua grande
influência e adeptos famosos: o trotskismo.
5
lançam candidaturas radicais à Presidência da
República) também seguem essa linha do mar-
xismo. Sem falar no PSOL, fundado, entre ou-
tros grupos, pelo Movimento Esquerda Socia-
lista (MSE, organização ligada ao trotskismo e
surgida de uma cisão com o PT).
6
pioneirismo. Afinal, os comunistas brasileiros
estão entre os primeiros situados fora da
Europa a se interessar pelo trotskismo.
7
tarde, na década de 1960, ela apoiaria o regime
militar – inclusive era parente do ex-presidente
Humberto Castello Branco).
8
assassinatos em massa, ele era um intelectual
que incentivava a cultura e registrava seus
pensamentos em textos elogiados até pelos
detratores. Essa suposta sofisticação seduzia os
mais jovens – e preocupava os comunistas
pragmáticos.
9
Estudantes da USP criaram um “trotskismo
pop” na década de 1970
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organizações, de curta e longa duração. Muitas
delas trocaram de nome, adaptaram suas
propostas aos períodos históricos posteriores e
estão por aí até os dias de hoje.
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Capriglione, Cleusa Turra, Markus Sokol, Cadão
Volpato, Eugênio Bucci, Renata Rangel, Alex
Antunes. Todos eles dão depoimentos no docu-
mentário ‘Libelu: Abaixo a Ditadura’ (2020),
dirigido por Diógenes Muniz, distribuído pela
Globo Filmes e vencedor do festival É Tudo
Verdade.
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E como surgiu o termo “libelu”, que acabou
pegando e entrando para a cultura? Como
explica a jornalista Laura Capriglione, ele foi
criado para ser uma espécie de xingamento:
“Era um apelido jocoso que os comunistas que
se consideravam sérios e responsáveis deram
para a gente, os esquerdistas loucos e, para eles,
infantiloides”.
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o Demétrio Magnoli, mais conhecido como
comentarista da GloboNews (e único entrevis-
tado do documentário que hoje se posiciona
mais à direita dos demais). “Nós ridicularizáva-
mos muito qualquer sentimento de nacionali-
dade exacerbado”, afirma o economista
Eduardo Gianetti da Fonseca.
14
movimento estudantil”, afirma José Arbex Jr.,
ex-editor da revista de esquerda Caros Amigos.
15
Em 1978, após vencer a eleição para o DCE da
USP e participar de passeatas em São Paulo, a
Liberdade e Luta explodiu nacionalmente. Foi
assunto de reportagens em jornais, revistas e
programas tevê, além de ser citada em músicas,
filmes e novelas.
16
poder não corrompeu”, dizem os primeiros
versos (que, obviamente, não valem para
Palocci).
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revolucionário marxista, eles formam uma lista
enorme. Miguel Rossetto, Clara Ant, Luiz
Gushiken, Carlos Minc, Luis Favre, Sérgio Rosa,
Marcelo Sereno são apenas alguns dos nomes
que fazem parte dessa relação. Mesmo a
ex-presidente Dilma Roussef, atualmente à
frente do Novo Banco de Desenvolvimento (o
“Banco dos Brics”), teve sua fase trotskista
quando integrou o grupo armado Comando de
Libertação Nacional (Colina).
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18
Brasil tem uma série de trunfos e desafios na corrida pela transição energética.|
Foto: Albari Rosa/Arquivo/Gazeta do Povo
ENERGIA DO FUTURO
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processo em que combustíveis fósseis vão sendo
gradualmente substituídos por fontes de ener-
gia consideradas limpas e renováveis. Mas o
país também enfrenta obstáculos para aprovei-
tar toda a sua vocação.
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Têm sido frequentes os anúncios, de investido-
res locais ou estrangeiros, de projetos-piloto ou
mesmo grandes empreendimentos voltados pa-
ra a transição energética. O interesse não se li-
mita ao potencial retorno financeiro. Mais que
render dinheiro, a energia verde gerada no Bra-
sil ajuda multinacionais a elevar suas pontua-
ções globais nas metas de "descarbonização"
dos negócios.
21
se tornar um "hub" de exportação de energia ou
produtos verdes, avalia José Mauro Ferreira
Coelho, ex-presidente da Petrobras e presidente
da Aurum Energia.
22
produzir energia limpa, a falta de clareza nas
leis e normas leva investidores a pisar no freio.
23
Energia eólica
24
de aproximadamente 700 gigawatts (GW) – 3,6
vezes a capacidade instalada de todas as fontes
de energia do país hoje, de 196 GW.
25
“Para a rede brasileira de energia, o onshore
ainda tem muito potencial. O offshore em algum
momento vai para a rede brasileira, mas a ideia
é produzir nele o hidrogênio verde para expor-
tação”, diz Santos, da USP (veja mais abaixo
informações sobre o hidrogênio verde).
26
intermitente, com a produção de energia
variando bastante ao longo do dia conforme a
velocidade dos ventos.
Energia solar
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já investiu R$ 163 bilhões em energia solar. A
fonte fotovoltaica, que na primeira década deste
século tinha participação quase irrelevante na
matriz elétrica nacional, já soma 10,4 GW, ou
mais de 5% da potência instalada no país – e
avança rápido.
28
Assim como ocorre com a energia eólica, a solar
é uma fonte de energia intermitente. Ou seja,
não assegura geração contínua e estável de
energia, ao contrário do que ocorre com as
fontes hídrica e térmica, por exemplo.
Hidrogênio verde
29
Por isso, o hidrogênio verde é considerado uma
aposta estratégica na transição energética. Por
outro lado, o custo para produzi-lo ainda é alto.
30
Biomassa
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O lixo urbano é uma fonte de biomassa com po-
tencial de escala. Porém, o professor Edmilson
Moutinho dos Santos, da USP, observa que a
coleta de lixo ainda é muito dispersa, o que
dificulta a logística. “Lixo tem no Brasil. O que
não tem é lixo concentrado e fácil de pegar. A
energia depende da facilidade de pegar a
energia”, diz.
Biocombustíveis
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produzido a partir de óleos vegetais ou de gor-
duras animais e adicionado ao diesel de petróleo
em proporções variáveis. No Brasil, a mistura de
biodiesel ao combustível fóssil é de 12%.
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setor, o desempenho do combustível em termos
de descarbonização é muito parecido.
Diesel verde
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Produzido a partir de matérias-primas reno-
váveis e com baixa emissão de carbono, como
óleos vegetais e gorduras de origem animal, o
diesel verde é considerado melhor para os
motores diesel tradicionais do que o biodiesel.
35
Níquel, lítio e cobre são metais muito usados na
fabricação de baterias elétricas e com potencial
geológico a ser explorado no Brasil. O lítio, por
exemplo, já é extraído no Vale do Jequitinho-
nha, em Minas Gerais, e há iniciativas para
aumentar a produção.
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Números da consultoria S&P Global indicam que
a demanda pelo lítio deve atingir 2 milhões de
toneladas até 2030. Até 2040, a demanda deve
crescer mais de 40 vezes. Santos, da USP,
observa que o Brasil ocupa o oitavo lugar no
ranking das maiores reservas de lítio, mas vê
mais potencial para a exploração dessas reser-
vas para fins locais do que como projeto expor-
tador. Ele tem dúvidas sobre a capacidade do
país de competir mesmo na América do Sul.
"Será que produzir lítio aqui sairá mais barato
do que importar dos vizinhos Chile e
Argentina?”, questiona.
Energia nuclear
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geração de 2 GW, cerca de 1% do parque elétrico
nacional. Uma terceira usina, de Angra 3, está
com a construção paralisada. O país tem
reservas significativas de urânio, em especial
em Caetité (BA), e consegue produzir seu
combustível nuclear – no caso, urânio
enriquecido.
38
acidente nuclear, o descarte e armazenamento
dos resíduos radioativos não são operações
simples. Erros de manejo podem resultar em
grave contaminação do ambiente ao redor, com
riscos para a população.
39
Energia hidrelétrica
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irregulares e conexão com países instáveis”, diz
o especialista.
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41
| Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo
AGRICULTURA DO FUTURO
42
lham por toda a economia e a sustentabilidade é
item obrigatório nas negociações internacionais
– haja vista o Green Deal da União Europeia,
que vai cobrar taxa de carbono na fronteira e
exigirá desmatamento zero de seus parceiros
comerciais –, uma pesquisa global revela que os
produtores rurais brasileiros já põem em prática
hoje o que muitos países ainda veem apenas
como uma “agricultura do futuro”, ou desafio a
ser conquistado.
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biodiversidade, melhorando a qualidade do
solo, da água e do ar.
44
Em biológicos, agricultura brasileira lidera
com folga
45
Adoção de práticas sustentáveis
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47
48
49
No Brasil, o mercado dos bioinsumos vem
crescendo a taxas de 50% ao ano, contra uma
média global de 15%. Não se trata de mera
substituição dos defensivos químicos, mas de
uma estratégia complementar dentro do
Manejo Integrado de Pragas (MIP) que previne a
resistência aos pesticidas, ao mesmo tempo em
que reduz os custos e a quantidade de
aplicações. Os ganhos se estendem, também, na
indução do crescimento das plantas e no melhor
aproveitamento dos nutrientes disponíveis no
solo.
50
Argentina, 9% no Canadá e 3% na Índia. A
liderança também é significativa na utilização
dos biofertilizantes (adubos orgânicos): 36%
dos produtores brasileiros usam, contra 25%
dos europeus, 22% dos chineses, 12% dos
americanos, 11% dos indianos, 7% dos
canadenses e 6% dos argentinos.
51
sustentável da terra, que já atinge 18 milhões de
hectares e deve dobrar de tamanho até 2030.
52
Para entender o processo de modernização e
inovação na agricultura brasileira, é preciso
olhar para a transição de gerações. Segundo
Mikael Djanian, sócio da McKinsey em São
Paulo, a primeira pesquisa, há três anos, já
havia detectado "uma força" que empurrava o
movimento tecnológico no campo. "Tem uma
geração mais nova assumindo a propriedade
dos pais, e eles carregam muito isso de
tecnologia, ambição de crescer, abertura a
tomar riscos. O que antes era uma das
hipóteses, a transição geracional, se confirmou
com os dados desta última pesquisa", observa.
53
associado à busca dos agricultores comerciais
por manejos mais eficientes e em larga escala.
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Químico quando necessário, biológico sempre
que possível
55
As soluções biológicas não são de todo novidade
para os produtores brasileiros. Prova disso,
segundo o pesquisador Jerri Zilli, da Embrapa
Agrobiologia, está na tradição de uso de
bactérias inoculantes de nitrogênio na soja.
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matemática não dá para discutir, então, isso
acaba puxando outros produtos biológicos”,
assegura.
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Brasil lidera adoção de ferramentas biológicas
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Adoção de bioestimulantes
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Uso de biofertilizantes
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Restos mortais em local onde jovens participavam de um festival de música
eletrônica quando o Hamas atacou. | Foto: EFE/ Martin Divisek
ARTIGO
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mundo sabe. Mas essa guerra tem ainda uma
segunda peculiaridade: ela é calculada para
subtrair antecipadamente das nações atacadas
— EUA e Israel em primeiro lugar — toda
possibilidade de defesa.
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nação é alvo de ataques terroristas, que é que
ela pode fazer para resolver o problema? Pode,
em primeiro lugar, defender-se no seu próprio
território, perseguindo os agentes locais do
terrorismo. Segundo: pode descobrir os Estados
que dirigem ou apoiam a ação terrorista, e
atacá-los em guerra declarada.
63
ameaça de declaração de guerra suscita uma
epidemia de protestos “pela paz”, a luta
clandestina é denunciada como crime por meio
de inquéritos parlamentares e reportagens de
escândalo, provocando crises diplomáticas e
eventualmente a queda do governo.
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Assim também se passa na esfera do terrorismo.
Burocratas, jornalistas, intelectuais, estrelas da
TV e do cinema, o beautiful people na sua
totalidade, são tão vitais para o bom êxito do
empreendimento criminoso quanto os próprios
agentes da violência física. A rede que eles
formam tem hoje as dimensões de um
megapoder internacional, incalculavelmente
maior que o de qualquer nação.
65
Nenhum Estado pode comprar consciências a
granel entre jornalistas e intelectuais de um
país estrangeiro. “Nenhum” Estado? Não é bem
assim. Os Estados totalitários podem, porque
não têm satisfações a dar à opinião pública
interna. A China pode.
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quase institucional, atuando sempre em prol
dos terroristas. Estes só são condenados,
quando chegam a sê-lo, durante o breve
momento de impacto de suas ações
espetaculares.
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É por isso que, há décadas, a força do terrorismo
cresce ininterruptamente, ao passo que toda
veleidade de resposta das vítimas esbarra cada
vez mais em obstáculos psicológicos, políticos,
jurídicos e culturais, seja no exterior, seja em
seus próprios territórios.
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fala. Ninguém vê nada de anormal ou
escandaloso em que agentes de influência
diretamente ligados à coordenação política do
movimento comunista no continente exerçam
na mídia o cargo de editores ou comentaristas
políticos.
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haverá de usar dessa mesma dualidade em favor
de si própria?
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70
Mohammad bin Salman, príncipe herdeiro e primeiro-ministro da Arábia
Saudita| Foto: EFE/Aitor Pereira
71
Aos 31 anos, o brasileiro, que em 2017 havia
trocado o Barcelona pelo Paris Saint-Germain
(PSG) no auge da carreira, foi anunciado pelo
Al-Hilal, comandado agora pelo ex-treinador
do Flamengo Jorge Jesus, como a grande estrela
do time para a temporada do campeonato
saudita.
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Neymar seguiu afirmando que quer escrever
uma nova história no esporte e que a “Saudi Pro
League [campeonato saudita] tem uma energia
tremenda e jogadores de qualidade no
momento”.
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aquela que é sua maior estrela, Cristiano
Ronaldo, um dos melhores jogadores das
últimas décadas, cinco vezes melhor do mundo
e que foi o primeiro a chegar ao futebol saudita,
no começo do ano, atraído por um contrato
multimilionário oferecido no final de 2022.
74
atuavam em solo saudita. Ao todo, somente com
os salários anuais, a Arábia Saudita deverá
gastar mais de US$ 1 bilhão.
75
acordo com muitos analistas, tem sido adotado
pelo país nesse momento como a principal
plataforma para colocar em prática sua
mudança de imagem.
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O Catar, assim como a Arábia Saudita, é alvo de
denúncias por sua violação dos direitos
humanos. As liberdades de expressão, religião,
associação e orientação sexual são severamente
restringidas no país. Além disso, o Catar
também tem histórico de apoio a grupos
terroristas islâmicos na região, como o Hamas e
a Irmandade Muçulmana.
77
No final de outubro, a Fifa confirmou a Arábia
Saudita como sede da Copa do Mundo de 2034,
mas o reino já vinha apelando para outros
métodos dentro do esporte mais popular do
mundo, que inclui também ir além da
contratação de jogadores.
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recentemente, na proposta de inserir o seu
campeão nacional na Uefa Champions League, a
principal competição europeia de clubes.
79
país de Mohammed bin Salman, o príncipe
herdeiro e primeiro-ministro saudita.
80
No mais recente índice de democracia do The
Economist, divulgado em 2022, a Arábia Saudita
apareceu na 150ª posição, em uma lista que
contava com 167 países.
81
A HRW afirmou em um comunicado que a
“Arábia Saudita gasta bilhões de dólares
hospedando grandes eventos de
entretenimento, culturais e esportivos para se
desviar do péssimo histórico de direitos
humanos do país".
Diversificação econômica?
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O regime saudita afirma que o investimento no
setor esportivo, como o futebol, que já é uma
paixão nacional, trará diversos benefícios para o
país, que incluem o alto investimento
estrangeiro, a promoção do emprego interno e o
impulsionamento do turismo, já que muitos
estrangeiros podem se dirigir ao país para
assistir ao Mundial de Clubes ou à Supercopa da
Espanha, bem como ir a um estádio local para
assistir presencialmente a um confronto entre
Benzema e Ronaldo.
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Arábia Saudita, chegando atualmente a alcançar
mais de 50% da população.
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84
Cena da releitura da ópera ‘O Guarani’, de Carlos Gomes, que estreou em maio.|
Foto: Divulgação/Rodrigo Duarte
GUERRA CULTURAL
85
mundo das artes. Afinal, o rigor que envolve a
realização de óperas e concertos, pelo menos
em tese, não dá brechas para truques,
embromações ou enganadores. Trata-se,
portanto, de um meio norteado pelo
refinamento técnico e a preservação de criações
centenárias. Ou melhor: tratava-se.
86
O patrulhamento, como sempre, começa com
detalhes aparentemente pequenos. Como a
revisão e substituição de palavras
“problemáticas” do ponto de vista identitário.
No ano passado, o celebrado maestro italiano
Riccardo Muti, regente da Orquestra Sinfônica
de Chicago, denunciou a pressão que recebeu
para trocar termos considerados racistas e
misóginos do libreto da ópera ‘O Baile de
Máscaras’, escrita em meados do século 19 por
seu conterrâneo Giuseppe Verdi (1813-1901) –
em cuja obra ele é especialista.
87
jornal italiano Corriere dela Serra, ele afirmou:
“Você não pode mudar a História. Ela deve ser
mantida em sua essência, para que as próximas
gerações possam saber. Não ajudamos os jovens
dessa forma, pelo contrário”.
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chinesa – é um “anacronismo”. “Ela é antiga,
cansada e extremamente problemática. Me
senti quase doente ao ver aqueles atores
brancos usando perucas ‘chinesas’. (...) A ópera
é repugnantemente racista, piorada pelo uso
consistente de um elenco embranquecido com
maquiagem amarela. E seu tratamento das
mulheres é absurdamente insultante”,
escreveu, em um texto publicado no site
especializado Parterre.
89
acadêmico insuportável para os que ainda se
interessam pela tradição.
90
como Jacques Lacan e Theodor Adorno
(cultuados pelos progressistas), além de serem
marcados por uma crítica ao neoliberalismo.
91
político e filantropo norte-americano Andrew
W. Mellon (1855-1937). Desde 2019, as duas
instituições oferecem bolsas, no valor de U$ 75
mil (R$ 378 mil na cotação atual) cada, para
sinfônicas dispostas a participar, por um
período de três anos, de programas
administrados por consultores da área de
inclusão e diversidade.
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Fim da audição às cegas pode representar duro
golpe na meritocracia
93
filarmônica da cidade, por exemplo, tem apenas
um negro em suas fileiras – quando as audiên-
cias às cegas começaram por lá, em 1969, eram
dois.
94
Negro e de origem pobre, ele já tocou em várias
sinfônicas norte-americanas importantes (in-
cluindo a itinerante do Metropolitan Opera, de
Nova York) e atualmente é diretor musical da
orquestra comunitária de Grosse Point, no
estado do Michigan. E garante: “As orquestras
ficariam mais do que felizes em ter mais
negros”.
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refletir acerca do assunto. De origem judia,
Tarunskin teorizou, entre outros temas, sobre a
retirada de elementos antissemitas presentes
na obra de Johann Sebastian Bach.
96
espectador a contextualização das referências
ditas ofensivas. “Sempre que sou consultado,
sugiro optar pela estratégia de preservar o texto
original. Mas também proponho dar luz às
questões problemáticas, aproveitando as
circunstâncias para promover o letramento
sensível do público, e não sua anestesia”,
afirma.
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Música Clássica Brasileira’ (2018) e ‘Populares e
Eruditos’ (2001).
98
Oliveira também recorre à essência do gênero
para comentar esse tipo de reinterpretação.
“Estou longe de achar que todo gesto artístico é
necessariamente político. Mas trazer a política
ao palco, em ópera, é uma coisa mais antiga do
que andar para frente. Basta lembrar que
Giuseppe Verdi foi nomeado senador vitalício
pelo engajamento de suas obras no projeto da
reunificação italiana, no século 19”, diz.
99
portanto, não há motivos para temor. O nível
alto pode ser garantido sempre”, afirma.
100
currículo inclui passagens por diversas orques-
tras e a fundação da Associação Brasileira de
Clarinetistas e Claronistas.
101
prática, chamada de blackface, é considerada
altamente racista.
102
encerrar o contrato dos músicos caso desaprove
seu comportamento.
103
Tatiane Costa, de 27 anos. Em 2018, enquanto
cursava o bacharelado em Música na Univer-
sidade Estadual Paulista (Unesp), ela passou por
maus bocados quando confessou admirar o
então candidato a presidente Jair Bolsonaro. Foi
o suficiente para que alunos e professores
iniciassem uma onda de posts em redes sociais
para atacar e silenciar Tatiane.
104
nas próximas eleições, na cidade paulista de
Sorocaba. Para ela, a era do politicamente
correto representa uma ameaça para a conti-
nuidade da música erudita – e não somente
devido ao fim da meritocracia e a pressão para
que as orquestras adotem repertórios
engajados.
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105
Passageira entra no táxi- robô da Cruise em San Francisco| Foto: Divulgação
Cruise
MOBILIDADE
106
24 horas, todos os dias da semana, em San
Francisco, na Califórnia. A novidade mudou a
paisagem local. Agora é comum ver carros sem
motoristas trafegando pelas famosas e
congestionadas ladeiras e vias da cidade.
107
atendiam aos pedidos com a supervisão de um
motorista, que acompanhava todo o percurso e
podia assumir o volante caso fosse necessário.
108
surpreendeu ao ver que não havia um motorista
para supervisionar a corrida.
109
um podcast da revista chamado The
Intelligence.
110
Maggie, foi saudado pela inteligência artificial
do computador de bordo do carro: “Olá! Só nos
dê um minuto para cobrir algumas dicas da
corrida.”
111
pedestres, com várias pessoas passando pelo
carro. “Acho que se você fizesse isso em uma
prova direção, seria reprovado”, disse Scriven.
112
“Olá Tripp. Esta experiência pode parecer fu-
turista", disse o carro. "Por favor, não toque no
volante ou nos pedais durante o trajeto. Para
qualquer dúvida, você pode encontrar infor-
mações no aplicativo Waymo. Por exemplo,
como mantemos nossos carros seguros e
limpos."
113
empresa, um W azul esverdeado (ou
vice-versa), instalado em seu teto.
114
Mas, mesmo diante dos atrasos e alertas, os
argumentos em favor do “avanço tecnológico”
venceram. Entidades que apoiam pessoas com
deficiência votaram a favor. Em sua página, por
exemplo, a Cruise relata como está adaptando
seus carros para atender cadeirantes com todo o
conforto.
115
Muitas pessoas ainda acham muito difícil
chegar onde precisam com segurança”, dizia a
carta.
116
passageiros nas calçadas ou, até mesmo,
estacionam longe dos locais de destino, o que
dificulta o acesso das pessoas com deficiência.
117
apenas 25% do total de quilômetros percorridos
nesse horário.
118
Os táxis autônomos não sofrem com esse tipo
de questão. Podem buscar passageiros em re-
giões remotas ou com pouco acesso a transpor-
tes públicos e outras formas de locomoção. E,
por não terem condutores, estão sujeitos a ris-
cos reduzidos de assaltos. Mas a falta de condu-
tores e de alguém que iniba os comportamentos
dos passageiros, aparentemente, tem levantado
outras questões. Há diversos relatos de pessoas
fazendo sexo em veículos autônomos da Cruise
durante as viagens noturnas. O uso de drogas
também é outra possibilidade.
119
Outro desdobramento que envolve as gravações
de vídeo dos carros autônomos também diz
respeito à segurança. A polícia de San Francisco
já requisitou filmagens dos carros da Waymo e
da Cruise para ajudar a solucionar crimes,
segundo reportado pela Bloomberg.
120
Departamento de Veículos Motorizados da
Califórnia, os carros autônomos teriam
interferido no atendimento a cerca de 40
situações de emergência ao longo de 2023.
Também foram reportadas 70 colisões.
121
A dificuldade dos robôs para interpretar as
condições do trânsito são a causa de certas
paradas imprevistas que condutores humanos
resolvem de forma mais rápida. As empresas,
no entanto, dizem que, além de serem raras,
essas paradas são o modo mais seguro de lidar
com circunstâncias incomuns.
122
pessoas morreram em razão de acidentes de
trânsito nos EUA, um aumento de 22% desde
2019.
123
Mapeamento minucioso e aprendizagem em
linha
124
sistemas de inteligência artificial usados para a
localização e deslocamento dos veículos
autônomos.
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125
Os Centros de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) divulgaram dados
no início deste ano, revelando que a saúde mental diminuiu drasticamente entre
as meninas, especialmente as progressistas| Foto: Bigstock
ARTIGO
126
depois que os Centros de Controle de Doenças
(CDC, na sigla em inglês) divulgaram dados no
início deste ano, revelando que a saúde mental
diminuiu drasticamente entre as meninas, es-
pecialmente as progressistas. As explicações
mais populares têm sido psicológicas e tecno-
lógicas: os jovens passam muito tempo nas re-
des sociais, o que é tóxico para sua saúde men-
tal. Além disso, seus professores e pais os enco-
rajaram a ver o mundo de uma forma cognitiva-
mente distorcida ou doentia, distorcendo sua
psicologia e privando-os da sensação de que
controlam suas próprias vidas.
127
ação. Isso os deixa mal equipados para lidar com
as decisões que enfrentam, fazendo com que
muitos se perguntem como a vida pode ser bem
vivida e se vale a pena viver.
128
não aumentaram, se é que aumentaram, com
29% relatando tristeza persistente, acima dos
21%, e 14% relatando tentativas de suicídio,
acima dos 13%.
129
O segundo constatou que antes de 2012 havia
poucas diferenças no relato de depressão entre
homens e mulheres e apenas uma pequena di-
ferença entre progressistas e conservadores.
Depois de 2012, a taxa de depressão entre as
meninas progressistas começou a subir e subiu
mais de todas as categorias, superando os ho-
mens progressistas e conservadores de ambas
as faixas. Michelle Goldberg, do New York
Times, apontou 2012 como o ano em que o
Facebook adquiriu o Instagram e as selfies se
tornaram uma prática comum. O livro Gerações,
de Jean Twenge, apoia esse diagnóstico,
relatando que as meninas progressistas são as
mais propensas a dizer que passam cinco ou
mais horas por dia nas redes sociais. Mais uma
razão, conclui Haidt, para colocar a culpa na
mídia social por deixar essas meninas mais
deprimidas.
130
Os jornalistas Matt Yglesias e Jill Filipovic estão
inclinados a uma explicação mais psicológica.
Quando os pacientes de saúde mental catastro-
fizam ou se fixam no resultado mais negativo
possível quando é altamente improvável, os
psicólogos os ajudam a separar suas reações
internas das ações externas dos outros, para
que seu estado mental se alinhe melhor com a
realidade. Yglesias se preocupa com o fato de
que “líderes institucionais progressistas ensi-
naram especificamente aos jovens progressistas
que a catastrofização é uma boa maneira de
conseguir o que desejam”. É exatamente contra
isso que os profissionais de saúde mental
desaconselham. Filipovic elabora:
131
provenientes dessa confiança na linguagem do
mal e das acusações de que as coisas que consi-
deramos ofensivas são 'profundamente proble-
máticas' ou mesmo violentas. Quase tudo que os
pesquisadores entendem sobre resiliência e
bem-estar mental sugere que as pessoas que se
sentem os principais arquitetos de suas pró-
prias vidas - para misturar metáforas, que co-
mandam seu próprio navio, não que estão
simplesmente sendo jogadas de um lado para o
outro por uma força incontrolável oceano -
estão muito melhores do que pessoas cuja
posição padrão é vitimização, mágoa e uma
sensação de que a vida simplesmente acontece
com eles e eles não têm controle sobre sua
resposta."
132
um locus de controle interno (o sentimento de
ação) são mais felizes e produtivas, enquanto
aquelas com um locus de controle externo (o
sentimento de que os outros determinam o
curso de sua vida) são mais passivos e deprimi-
dos. Com base em suas pesquisas, Haidt e
Goldberg argumentam que a Geração Z se tor-
nou mais externa em seu locus de controle, e os
progressistas da Geração Z mais autodeprecia-
tivos. Para eles, os principais culpados são as
dinâmicas culturais tóxicas na internet e nas
instituições, principalmente escolas e
universidades.
133
sófico mais fundamental: os jovens são infelizes
porque pais e professores não os ensinaram a
pensar e agir de maneira a torná-los felizes.
Não é só que muitos foram ensinados que as
coisas erradas os deixam felizes e que sua de-
liberação leva a escolhas que os tornam infe-
lizes - embora isso aconteça em muitos casos.
Com muita frequência, eles não receberam
ferramentas suficientes para pensar e agir
moralmente.
134
onde encontrar uma. Nas palavras dos Storeys,
seus “anos de progresso constante culminaram
em uma estranha e inquieta paralisia”.
135
filhos lhes dará alegria ou os esmagará - ou,
mais realisticamente, ambos?
136
moralidade.” Eles observam ainda que muitos
“desses entrevistados perplexos não conse-
guiam nem entender nossas perguntas sobre
esse ponto. Não importa quantas maneiras
diferentes nós colocamos... nossas próprias
perguntas sobre as fontes da moralidade não
faziam ou não podiam fazer sentido para eles”.
137
agente moral livre... Ela sabia, de forma avas-
saladora, que tudo dependia dela quando se tra-
tava de sucesso, mas se sentia resignada a uma
espécie de determinismo quando se tratava do
objetivo da vida, despreparada para deliberar ou
escolher. Ela não só não sabia o que fazer, mas
foi treinada para não entender a pergunta.”
138
espaço moral, o arbítrio e a capacidade de tomar
uma posição, agir, ser responsável de maneira
razoável e fazê-lo em toda a gama de atos hu-
manos e pessoais – não apenas como produto-
res ou graduados credenciados, mas como pes-
soas”. Os alunos não precisam de doutrinação;
eles precisam de uma educação moralmente
séria.
139
conhecimento forte e claro do certo e do errado,
do santo e do pecador. Faz julgamentos totali-
zantes, capitaliza o negativo, denuncia falhas
inerentes e dá pouca absolvição além de atos
contínuos de abjeção e arrependimento. Suas
categorias e critérios são evidentes; somente
alguém preconceituoso questionaria a dinâmica
de privilégio que envolve raça, sexualidade e
outros marcadores de localização social.
140
grande parte de nossa moralidade pública é es-
truturada em torno de cultivar e remediar a
autoaversão feminina. Portanto, não é surpresa
que as garotas progressistas estejam supor-
tando o peso da miséria produzida por essa
exigente moralidade política.
141
fazer isso, devemos eliminar políticas e estru-
turas em nossas instituições que encorajam
distorções cognitivas e protegem os jovens
online. A rejeição da Universidade de Cornell aos
avisos de gatilho e a Lei de Regulamentação de
Mídia Social de Utah servem como exemplos
concretos disso. Mas devemos ir além disso. Os
jovens — homens e mulheres, conservadores e
progressistas — precisam ver a deliberação
moral praticada e aprender a praticá-la eles
mesmos. Eles precisam de adultos para
ensiná-los que vale a pena viver a vida e que
devem considerar vivê-la de maneiras
específicas.
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142
| Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo
ESTUDO
Aprender a aprender
Por Samia Marsili
143
concepções construtivistas da educação. Atual-
mente, ter como objetivo que a criança adquira
essa habilidade ou competência é ponto pacífico
de quase todos os projetos pedagógicos, públi-
cos e privados. Trata-se, grosso modo, de fo-
mentar no aluno a capacidade de buscar fontes
de informação, e de articular e abalançar essas
informações sozinho, “construindo” o seu
próprio conhecimento, tornando-se assim o
agente principal e o centro de seu próprio
aprendizado.
144
de maneira inteligente, de modo a sintetizar,
em si mesmas, um conhecimento verdadeiro.
Mas os defensores do “aprender a aprender”
nem sempre se recordam de que, para que a
criança aprenda a aprender, é preciso que
alguém as ensine a aprender, com exemplo e
método, conduzindo-a, ainda um pouco às
tontas, por processos dos quais ela vai, aos
poucos, tomar consciência para enfim dominar.
Isto é, ensinar a aprender significa, até boa
parte dos anos de vida da criança, ensinar a
estudar.
145
filhos no lar, tudo isso é, em cada uma das cir-
cunstâncias e para todos os estados de vida,
obrigação igualmente grave a ser cumprida, e
cumprida com esmero. O cumprimento do dever
do trabalho é, para o adulto, ocasião de fortale-
cimento do caráter, de dignificação, e, para os
religiosos, até mesmo de santificação. No caso
das crianças, a formação do caráter passa pelo
cumprimento esmerado do dever do estudo.
“Mas por quê?” – se você não perguntou agora,
talvez se perguntasse quando era aluno; e, se
não, espere que alguma criança ainda vai lhe
perguntar: “Por que devo estudar estas coisas
chatas, se não vou usar para nada?” Nós pode-
ríamos dar a essa pergunta, e às crianças, al-
guma razão, se fôssemos fazer uma crítica da
escola ou levar em conta a qualidade do que se
vem ensinando nela, mas também não é este o
meu ponto aqui, ao contrário.
146
Quero mostrar como essa visão sobre o estudo –
sobre o estudo de verdade – é limitada, é nada
mais que utilitarista, o que, no caso, quer dizer
materialista: estuda-se apenas na medida em
que isso tiver a ver com a função que se preten-
de desempenhar na sociedade, que se reduz, no
mais das vezes, a conseguir um bom emprego,
para assim ganhar mais dinheiro – e este é o
topo, o suprassumo do sucesso e do que se es-
pera na vida. Esse aspecto também é verdadeiro,
é claro: o conhecimento tem a sua utilidade
prática, e o conhecimento técnico e especializa-
do prepara a pessoa para desempenhar funções
de trabalho, que, além de dar dinheiro, servem à
sociedade, e são boas. Mas não podemos reduzir
o estudo a este único aspecto, pois isso privaria
especialmente as crianças dos motivos e dos
benefícios mais profundos do desenvolvimento
desse hábito. E, antes de transmitir aos nossos
147
filhos uma visão mais ampla sobre o estudo e o
conhecimento, talvez nós mesmos precisemos
passar a vê-los desse modo.
148
como os relacionamentos pessoais. Passamos a
enxergar relações entre coisas que antes não
víamos, e a formar, dentro de nós, um esboço
mais claro da unidade do mundo. Estudar Geo-
grafia, por exemplo, pode potencializar nossa
inteligência de modo a que consigamos “ma-
pear” várias outras regiões do ser; as mate-
máticas imprimem em nós a forma das pro-
porções do mundo, e assim por diante. Ao
estudarmos as constantes e os processos que se
repetem em vários níveis da realidade, nós
conhecemos o mundo, não só os seus dados
soltos, mas em sua essência, em sua natureza.
149
consciência da maneira como algumas ideias
vêm parar dentro da nossa cabeça, e se insinuar
como se fossem nossas. Isso é pré-requisito
para termos uma “consciência crítica” em
algum momento, sentido pleno da expressão.
Por meio do estudo, podemos viver processos
semelhantes com relação também às nossas
ações, aos nossos hábitos, àquilo que conside-
ramos normal e esperado, e ter a mente aberta
para novas possibilidades, melhores e piores, de
outros tempos e lugares, que antes não nos
ocorriam. Podemos tomar conhecimento das
forças que regem a nossa sociedade, e a nossa
vida como um todo. Assim podemos distinguir
melhor quem somos e quem queremos ser;
enfim, assim conhecemos a nós mesmos, e o
mundo em nós, e nós no mundo.
150
Além disso, em terceiro lugar, o estudo nos ca-
pacita para melhor compreender o outro, uma
vez que valem para os outros, a depender da
situação, algo do conhecimento que adquirimos
sobre o mundo, para os homens de outros tem-
pos e lugares e todos os muito diferentes de nós,
e muito do conhecimento que tivermos obtido
sobre nós próprios, para compreendermos, com
compaixão, os que forem mais semelhantes a
nós. De um modo ou de outro, a prática do
estudo nos capacita, indiretamente, para amar.
151
manuais, mas também as intelectuais, nos são
dadas para que as coloquemos a serviço dos ou-
tros, e para isso nós precisamos conhecê-las e
desenvolvê-las. Ora, é por meio do estudo e do
trabalho que isso se dá. Essa é a mais honesta
explicação, para os alunos relutantes, do porquê
de precisarem estudar, e que tipo de recom-
pensa receberão pelo esforço nessa prática. Eles
precisam estudar Matemática, e Geografia, e
Biologia, e História etc. porque, independente-
mente do que venham a fazer no futuro, isso
fará deles pessoas mais inteligentes, e ser mais
inteligente, além de ser benéfico e útil para
qualquer um, é o dever que eles têm em sua
grave obrigação de estudar.
152
tração, o foco da atenção e a livre associação de
ideias, a correlação com outros assuntos e me-
mórias. Nesse sentido, não ter facilidade natural
ou preferência por um assunto – geometria, por
exemplo – não atrapalha em nada o desenvolvi-
mento da atenção por meio da resolução de um
problema ou o estudo de uma demonstração. Ao
contrário: essa dificuldade vira quase um apoio,
uma circunstância favorável. E mesmo que esse
exercício não chegue a um resultado exterior
bom, a boas notas, ele não ficará sem recom-
pensa interior, pois serviu de meio para um
ganho em outro plano, e o fruto desse trabalho
poderá ser colhido só muito mais tarde.
153
coisas das quais ele gosta? Sim, pois quando a
coisa nos interessa ela logo chama a nossa
atenção, e fica fácil focar. Uma criança vidrada
na televisão ou no videogame está hiperfocada.
Só que ter hiperfoco somente nas coisas de que
gostamos, e nos momentos em que queremos,
não faz de nós senhores da nossa atenção, nem
mais inteligentes, nem seres humanos mais
retos, de melhor caráter, com vontade forte.
Nós precisamos exercitar o foco da nossa
atenção e a operação da nossa inteligência
independentemente do nosso interesse espon-
tâneo – servindo-nos dele ao nosso favor, é
claro, mas não servindo-o apenas. O nome
dessa virtude da atenção, e que é justamente a
virtude que nós devemos fomentar nos nossos
filhos por meio do estudo, é, segundo os an-
tigos, studiositas, estudiosidade. O vício que lhe
é oposto é a curiositas, a curiosidade, no sentido
154
de uma vã curiosidade que, assim como está a
gula para a alimentação, busque só o que é
gostoso e nos momentos e quantidades erradas.
155
ao equilíbrio e à moderação no comer e no
beber, e nos demais apetites. Leiamos aqui, na
Suma Teológica, IIa IIae, questão 166, artigo 2,
solução:
156
O esforço, e especialmente esse sutil esforço de
atenção, é sempre recompensado, e faz de nós,
e de nossos filhos, pessoas melhores, ainda que
o êxito na soma das frações ou na conjugação do
“present perfect” não tenha sido lá essas coisas
157
pela beleza e pela maravilha das coisas, que se
mostram e se dão a conhecer no tempo normal
da natureza e da leitura, e não no frenesi piro-
técnico das telas. É a forma viciada da fome
natural de conhecer, a curiositas. Seus efeitos
são nefastos, e não se restringem a danificar a
inteligência, mas ressoam nas emoções e em
todo o equilíbrio bioquímico e psíquico – como
acontece, em geral, com todos os vícios. E o pior
é que, para sanar o desinteresse das crianças, e
tentar, na verdade, engambelá-las para que
sejam atraídas para os temas do currículo,
muitas escolas e outras iniciativas pedagógicas
apelam para esses mesmos equipamentos, os
mesmos entretenimentos e expedientes
extasiantes, e assim estão apenas aprofundando
ainda mais o buraco. Não estão ensinando a
aprender, não estão ensinando a estudar.
158
O que devemos desejar, na prática, com relação
ao estudo dos nossos filhos? Que estudem com
eficácia, isto é, que se atenham às tarefas pro-
postas, àquilo que precisa ser compreendido ou
exercitado, e gastem nelas um tempo justo,
nem maior nem menor, e que o façam da me-
lhor maneira possível. Que estudem com res-
ponsabilidade, ou seja, que saibam o que preci-
sam fazer, e o façam sozinhos. Que estudem
com constância, e não apenas pouco antes da
prova; que o seu estudo não seja uma artimanha
para passar nas provas, mas um estudo para
conhecer e para se fortalecer, que se refletirá,
idealmente, nas notas. Que o estudo seja um
hábito. Que consigam, por meio do estudo,
descobrir outros interesses, desenvolver-se
neles, e colocar seus progressos a serviço dos
outros, ajudando seus amigos. Como ajudá-los
a fazer isso?
159
Antes de qualquer coisa, é preciso ajudá-los a
tirar os obstáculos que talvez venham antes do
próprio estudo. Suas necessidades mais básicas,
que são sanadas, do mesmo modo, com bons
hábitos, devem estar equilibradas: o sono, a
alimentação, a postura corporal; que haja um
local suficientemente adequado para se estudar,
silencioso e iluminado, e cuja paz esteja garan-
160
analisado os deveres e a quantidade de conteú-
do, estabeleça previamente um tempo de estudo
no qual você estima que ele é capaz de
cumpri-los. Você pode adquirir um relógio, e
tê-lo diante da mesa de estudo, para medir o
tempo de cada tarefa. Entretanto, cobrar sem
ensinar não somente é injusto como não vai dar
certo. Se o seu filho ainda não tem o hábito do
estudo, sente-se ao lado dele, e fique ali. Você
deve instruí-lo, guiá-lo, quase como uma
personal trainer intelectual, ou uma coach da
atenção, em cada uma das ações, exteriores e
sobretudo interiores, que é preciso operar para
se atingir êxito. Se for preciso, adapte-se aos
ritmos, facilidades e dificuldades do seu filho
dando pausas, para que ele faça às vezes um
refresh cerebral, ou troque de assunto, e depois
torne ao primeiro. Em suma, você deve
mostrar-lhe o caminho, mostrar como pode
161
lidar consigo mesmo, mostrar como se faz para
“sentar e estudar”, e então levantar-se, no
tempo determinado, com a tarefa concluída, e o
coração em paz. Estudar é uma arte, e toda arte
se aprende imitando alguém que a pratica
diante de nós.
162
fazemos qualquer coisa um pouco mais perfei-
tamente, já gostaríamos que o mundo inteiro
nos elogiasse. Por que seria diferente com os
pequenos? É importante, sim, que demonstre-
mos interesse pelas descobertas e pelos avanços
dos nossos filhos, pois elogiar e incentivar é
grifar, é dar um contraste na compensação in-
terna que eles sentem ao realizar bem a tarefa, e
não é o mesmo que um prêmio ou uma barga-
nha com recompensas externas, o que, ao con-
trário, seria muito danoso para o progresso nos
estudos. Sem isso, e apenas sob o peso de “ter
de cumprir sua obrigação”, é provável que a
criança que não tenha um especial dom natural
acabe desistindo, deixe a escola e o estudo para
lá, porque aquilo não lhe pareceu desejável, ela
não conseguiu encontrar um motor interno
para sua ação, quando, para isso, talvez
bastasse que a mãe o valorizasse.
163
Agora, esse elogio, que é valorização de um bem
que foi efetivamente feito, não é o mesmo, nem
de longe, que uma associação dos sucessos com
o sentimento dos pais. Tanto quanto não se de-
ve usar de barganhas com recompensas exter-
nas, e nem de um excessivo peso na obrigação,
não se deve jamais apelar para sentimentalis-
mos baratos (o que não vale só para o estudo,
evidentemente). Frases como “muitas crianças
gostariam de estar no seu lugar, e você não
aproveita a oportunidade”, “eu me mato para
pagar a melhor escola para você, e você nem
liga”, ou “eu fico muito triste, muito desapon-
tada que você não faça seu dever de casa”
significam apenas que a ação infantil deve ter
como motivo, como motor, o sentimentalismo
dos pais. Esse tipo de “chantagem emocional”
não tem como formar o caráter da criança, nem
como ensiná-la autonomia; a ação dela ficará
164
atrelada ao seu sentimento, e não à clareza de
que algo deve ser feito porque é certo e bom. Ela
só fará as coisas porque você está muito triste,
ou muito brava, ou muito decepcionada. E pior:
pode acabar acontecendo de, lá pelas tantas, ela
desprezar os seus sentimentos e você perder sua
autoridade sobre ela, e ela, a admiração que ti-
nha por você. Não faça com que seus filhos ajam
de acordo com seus sentimentos, verdadeiros
ou simulados, pois este não pode ser o motivo, o
motor de suas ações. Elas precisam fazer o bem
porque é bom, e o certo porque é certo; o que
você deve fazer é ajudá-las a reconhecer isso
dentro de si.
165
tomá-los pela mão, não seremos muletas, ou
resolveremos para eles os problemas; não, nós
estaremos dando a eles tudo de que precisam
para ser autônomos, estaremos ensinando-os a
aprender.
166
ser a atenção? Os tristes e os aflitos querem ou-
tra coisa além de alguém que preste atenção ne-
les? É o olhar atento o que os conforta, e mesmo
uma hora de estudo apenas, desde que ensine
nossos filhos a olhar com atenção, poderá um
dia, se a ocasião se apre- sentar, fazer com que
deem a alguém o socorro necessário, e, mesmo
dessa maneira inesperada, aquela uma hora de
estudo terá valido o mesmo que uma hora de
oração.
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167
Até mesmo o sofrimento de “perda de lugar” é natural e serve como um preparo
para a vida, diz psicóloga| Foto: Pixabay
FAMÍLIA
168
conservadores do Brasil, ter muitos filhos está
longe de ser o comportamento familiar médio
do brasileiro atualmente. A verdade é que o
“filho único”, comum em países que adotaram
políticas de restrição de natalidade, como a
China, já é uma tendência por aqui. Uma
progressiva queda na taxa de fecundidade, nas
últimas décadas, colocou o país em um cenário
semelhante ao de 60% da população mundial,
em que os nascimentos não são suficientes para
repor a população que morre: o dado mais
recente aponta 1,65 filho por mulher brasileira
(enquanto a taxa de reposição da população
seria, pelo menos, 2,1 filhos por mulher).
169
impactos disso são primeiramente sociais: “o
Brasil é um país que envelheceu antes de
enriquecer, esse é um grande desafio”, resume
Rodolfo Canônico, especialista em Políticas
Públicas para a Família pela Universidade
Internacional da Catalunha e fundador e
diretor-executivo da ONG Family Talks, que
apoia o fortalecimento das famílias em favor do
desenvolvimento social. Isso porque, com
menos nascimentos e as pessoas vivendo
potencialmente mais, em 2050 um em cada
quatro brasileiros deverá ser idoso, segundo
projeções, o que aponta para um alto custo
social de cuidar dessa população.
170
em Massachusetts), crianças sem irmãos são
descritas como mais mimadas e menos
preparadas para a vida. A concepção, aceita
durante décadas, passou a ser questionada por
estudos mais recentes, que garantem que a
diferença entre ter ou não irmãos é menos
relevante para o desenvolvimento da criança
que fatores como o relacionamento dos pais e o
status socioeconômico da família.
171
pesquisadores, o achado reforça a tese de que o
contexto familiar conta mais do que ter ou não
irmãos. Isso porque “ao longo do tempo, ser
filho único tornou-se mais associado a
condições potencialmente desfavoráveis, como
crescer com pais separados”.
172
Do ponto de vista do desenvolvimento infantil,
estudos afirmam de tudo, até que ter um
cachorro (ou outro pet qualquer) é mais
vantajoso do que ter um irmão. "O fato de
animais não poderem entender ou responder
pode ser um benefício", afirma o psiquiatra
Matt Cassells, da Universidade de Cambridge.
173
em psicologia clínica, cujo trabalho tem ênfase
no vazio existencial.
174
"Não é que é pior criar um filho único", pondera
Canônico, "porque é possível criar os mesmos
problemas na educação de mais de uma criança.
Agora, existem benefícios de se ter irmãos",
afirma.
Relacionamentos duradouros
175
Também é no relacionamento com um irmão
que se estabelecem as bases práticas para todos
os demais ao longo da vida. Nesse sentido,
relacionamentos positivos entre irmãos tendem
a ser protetores e levar a melhores
relacionamentos sociais na adolescência. Ainda
de acordo com McHale, se relacionar de
maneira próxima com irmãos traz impactos
positivos na saúde mental, enquanto ter
conflitos nesse contexto aumenta riscos de
depressão, ansiedade e comportamento
antissocial.
176
tem uma necessidade especial, a criança é capaz
de compreender. “Eles podem proteger um ao
outro, desde que ambos entendam o que está
acontecendo, que isso seja reconhecido e a
criança favorecida possa apoiar a criança menos
favorecida para ajudar a compensar o
comportamento dos pais”, afirma.
177
Tendência populacional
178
cobro demais por não estar mais disponível.
Imagina ter dois? Não dou conta. Ser mãe é
assim. Eternamente a gente fica nessa coisa de
se cobrar, amar, se doar e achar que está sempre
se doando pouco", declarou.
179
contexto, as famílias pequenas terão menos
condições de cuidar dos idosos. Por outro lado,
há menos jovens em idade economicamente
ativa gerando renda para garantir o cuidado
desses idosos por meio da previdência social,
que já demanda metade dos gastos da União
atualmente, e da saúde pública. É uma mudança
social radical”, completa Canônico.
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