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RESUMO
ecológicos geralmente não são computados seria o enterramento dos cabos, o que
ou socializados. apresenta pouca segurança ambiental. A
Recentemente somou-se mais um problema passagem de cabos de alta tensão pela
ambiental àqueles causados pelas usinas superfície do solo somente é viável em cabos
hidroelétricas - sua contribuição ao "efeito submarinos, como é o caso do existente na
estufa". Fearnside (1995) demonstrou que a Ilha Grande (RJ). Desta forma, é grande o
vegetação submersa pode contribuir de forma número de variáveis envolvidas na escolha do
significativa para o tamponamento da melhor traçado das linhas de transmissão.
atmosfera em função das altas emissões de Geralmente a linha reta é o trajeto menos
dióxido de carbono (C0 2 ) e metano (CH 4 ), utilizado, em função de obstáculos tisicas e
chegando a sua contribuição a ser muito de elementos da paisagem. Para linhas de alta
superior à das usinas termoelétricas. tensão são utilizadas torres metálicas, que
podem ser autoportantes ou estaiadas e sua
O problema da transmissão de energia à altura é condicionada pela tensão transmitida
distância deve também ser considerado não ou por características da paisagem. No caso
só no conjunto da problemática ambiental dos da LT ltaperebá-Tijuco Preto, que transmite a
reservatórios, como também da situação energia gerada em ltaipú, as torres
energética do país como um todo. É sabido autoportantes atingem até 60 me as estaiadas
que quanto mais unidades produtoras de 45 m (FURNAS, 1987).
energia estiverem interligadas, maior será a
eficiência do sistema, sem que para tanto haja As chamadas faixas de servidão (faixas de uso
necessidade do aumento da capacidade restritivo situadas embaixo das LT) apresentam
instalada. Isto se deve ao fato de que as cobertura vegetal, dimensões e contornos
unidades que se encontrarem em época de muito variados em função de características
estiagem ou submetidas a um regime de pico do terreno, da tensão transmitida e da técnica
poderão ter suas demandas supridas por utilizada. Dependendo da altura das torres, a
usinas trabalhando com superávit de energia. vegetação pode variar do corte raso da
Assim sendo, a questão da interligação de vegetação até a sua completa "conservação".
usinas hidroelétricas por linhas de transmissão A LT que vem da usina atômica de Angra dos
deve ser considerada como uma alternativa à Reis segue um trecho considerável da BR 101
construção de novas estações. A (Aio-Santos) apresentando a sua faixa de
contabilização dos impactos ambientais deve servidão (de aproximadamente 50 m) com a
se adequar, portanto, às alternativas de menor vegetação mantida em corte raso. Já a LT
custo econômico-ambiental. O presente ltaperebá-Tijuco Preto apresenta uma faixa de
trabalho tem como proposta discutir alguns servidão de 175 m com as seguintes
dos impactos advindos da abertura de linhas restrições: a faixa central da servidão, em uma
de transmissão de energia elétrica (LT) sobre largura de 70 m, deve apresentar um vão livre
ecossistemas florestais. de 12 m em relação à catenária dos cabos.
Nas faixas limítrofes de 9 m para cada lado, a
vegetação deverá ser de 6 m e, nos 1O m
CARACTERÍSTICAS DAS restantes para cada lado, a altura das árvores
LINHAS DE TRANSMISSÃO poderá ser igual à da catenária dos cabos
(FURNAS, 1987). Finalmente temos o caso
A transmissão de energia por cabos aéreos é em que a vegetação na faixa de servidão é
uma solução que data do início do século e, mantida inalterada, como pode ser visto na LT
dadas as tensões enviadas, não existe, até o que cruza o Maciço da Pedra Branca no
momento, outras alternativas viáveis. No caso sentido Pau da Fome - Recreio dos
de longas distâncias, a solução clássica, que Bandeirantes.
já perdura por mais de 80 anos, é a sua
transmissão por meio de cabos suspensos por A integração das LT às paisagens é difícil em
torres metálicas. A alternativa à esta forma função da necessidade de se escolher trajetos
que resultem em menor impacto visual naturais há que se destacar, conforme citado
possível. Existem normas técnicas que anteriormente que os efeitos provocados
tentam associar um certo manejo de sua pelas usinas hidroelétricas são
trajetória de forma a reduzir a sua percepção intensificados pelo fato destas se
visual, como poda seletiva de árvores da encontrarem quase sempre distante de
borda das faixas de servidão, cruzamento centros consumidores e muitas vezes em
de estradas em diagonal e adoção de torres áreas de paisagens pouco alteradas como
mais baixas quando a LT se destaca no é o caso dos reservatórios de São Gabriel,
horizonte {FURNAS, 1987). Balbina e Santa Isabel, localizados na
Amazônia. Assim sendo, os problemas
derivados da ampliação, instalação e operação
TIPOS DE IMPACTO DAS LT das LT são intimamente ligados à geração de
energia hidroe!étrlca.
De uma maneira geral, são vários os impactos
que as LT causam potencialmente ao meio O impacto construção e operação das LT sobre
ambiente, dos quais destacamos: os solos, cursos de água e drenagem
superficial articu1am•se, formando um sistema
a) impactos devidos ao campo elétrico: a interdependente, onde os processos são
energização da linha produz um campo retroatimentados simultaneamente. Os
elétrico nas imediações da faixa de impactos provocados pelas LT sobre os solos,
servidão, e seu principal efeito está ligado estão ligados ao desmatamento necessário à
à indução de cargas elétricas sobre abertura de praças, servidões, estradas de
pessoas ou objetos situados nesta área. acesso, e os movimentos de terra relativos às
O gradiente de potencial em torno dos fundações e às próprias estradas de acesso,
condutores é responsável por descargas além da circulação de equipamentos pesados.
parciais em torno dos mesmos em O papel do desmatamento no
presença de gotículas de água ou desencadeamento de processos impactantes
partículas de terra ou poeira. Este sobre o solo, diz respeito aos efeitos de
fenômeno é denominado efeito carona e é desproteção da cobertura vegetal sobre estes.
responsável pela emissão de ruído Os efeitos advindos são fundamentalmente
contínuo e pela produção de gases (ozônio aqueles ligados aos processos erosivos e de
e NO,) (FURNAS, 1987). desestruturação dos solos provenientes do
impacto direto das gotas de chuva (DUNNE,
b) Quanto aos efeitos diretos do campo 1982).
elétrico sobre pessoas e animais não
existe ainda consenso, embora existam
várias pesquisas sobre o assunto e até a) A fase de implantação das LT
mesmo o estabelecimento de normas de
exposição de seres humanos aos campos Oeve•se separar os impactos ambientais das
elétricos formados nas proximidades das LT provocados pelas obras de sua instalação
linhas de transmissão (EDWARDS, 1987). daqueles oriundos de sua operação. Os
principais, ligados às obras de instalação são:
Tal fato tem gerado bastante preocupação à abertura de estradas de acesso e de áreas
comunidade universitária da UFRRJ em função para finalidades diversas {limpeza seletiva de
da passagem da linha de transmissão de 500 faixas, instalação de torres, praças para
KV. Esta ligará Angra dos Reis a São José/ lançamento de cabos etc), transporte das
Grajaú e, pelo traçado proposto por Furnas estruturas e equipamentos, fundação das
Centrais Elétricas, passa através do campus torres e implantação dos canteiros de obras
daUFRRJ. {FURNAS, 1987). Neste quadro, as obras de
terrap!enagem provocam intensos processos
No que toca aos impactos nos ecossistemas erosivos, que poderão evoluir e culminar na
A predição dos impactos dos efeitos de bordas sendo todo o fragmento alterado.
borda levou à elaboração de um protocolo Disto entende-se que a abertura de faixas
de avaliação dos mesmos por meio do de servidão pode ter um efeito muito maior
estabelecimento de uma metodologia própria do que a faixa desmatada. Deve-se destacar
e à formulação de um modelo de simulação também, que após o desmatamento pode
comavegetação(Lawrence& Yensen, 1991). haver um situação de regressão florestal
No Brasil, o projeto Dinâmica Biológica de até que o sistema restabeleça a sua
Fragmentos Florestais (INPA/WWF) vem "cicatrização", o que geralmente acontece
desenvolvendo inúmeras pesquisas aplicadas com o crescimento de cipós e lianas nas
acerca dos efeitos de borda e ao tamanho beiradas das áreas desnudas. Segundo
mínimo dos fragmentos florestais necessário LUKEN et ai. 1991, para se evitar este
à conservação de um máximo de espécies espectro de problemas, as faixas de
(LOVEJOY, 1980, LOVEJOY et ai., 1983). servidão devem ser situadas em áreas não
Dentre as conclusões tiradas por este grupo, florestadas, em corredores pré-existentes, ou
destacamos as seguintes, relacionadas aos em formações florestais que comprovadamente
efeitos das servidões das LT sobre as florestas: não apresentem viabilidade ecológica.
a mortalidade das árvores aumenta muito As LT podem, portanto, condenar à morte uma
nos fragmentos e nas bordas, em função área florestada muito mais extensa do que
das alterações microclimáticas, sendo que aquela causada pela simples desmatamento
o vento representa importante fator na da faixa de servidão. Este efeito deletério se
queda de árvores; intensifica ainda mais quando se tratam de
fragmentos florestais. Com as atuais taxas de
determinados grupos faunísticos sofrem desmatamento {o Estado do Rio de Janeiro
intensa predação com a presença de apresenta menos de 10% de sua área coberta
populações características das clareiras; por florestas). a vegetação nativa é relegada à
condição de fragmentos (ilhas), de diferentes
a luz determina um aumento de fotos- tamanhos e formas. Assim sendo, o
síntese e consequentemente de insetos seccionamento de um fragmento florestal por
predadores de plantas, o que redunda em uma LT pode redundar, a médio prazo, no
alterações na composição da comunidade desaparecimento das duas metades. Segundo
vegetal justaposta à borda. Viana et ai. (1992), a combinação de: a) alto
percentual de redução da cobertura de
Deve-se destacar que o efeito de borda não vegetação nativa; b) pequena área individual
se circunscreve à faixa imediatamente seguinte dos fragmentos e/ou seu formato alongado; c)
à clareira, mas pode propagar-se a distâncias baixa freqüência natural de muitas espécies;
consideráveis. KAPOS (1989) estudando o d) elevada densidade de cipós e árvores mortas
efeito de borda na Amazônia brasileira e e) alta vulnerabilidade a perturbações
encontrou variações significativas em aspectos antrópicas resultado do estado atual de
abióticos em função do tamanho dos abandono dos fragmentos configura um quadro
fragmentos. No sub-bosque, até 60 m da borda de extrema gravidade para a conservação do
da mata, a temperatura ambiente era elevada que resta de mata atlântica.
e a umidade reduzida, sendo que a penetração
de radiação fotosinteticamente ativa estava A sobrevivência de um fragmento florestal está
aumentada até 60 m em fragmentos ou ainda associada ao seu grau de isolamento e,
reservas de 100 ha em período úmido. No portanto, a conectividade da paisagem pode
período seco as alterações podem propagar- ser bastante importante para a sobrevivência
se a maiores distâncias. Alterações maiores das espécies (TURNER, 1989). A este respeito,
foram encontradas em fragmentos menores (1 O outro efeito deletério das LT é justamente o
ha), onde a umidade do solo baixou seccionamento (perda de conectividade) entre
sensivelmente nos primeiros 20 metros das os fragmentos florestais. A separação de
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