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Disciplina de Resistência e Falha dos Materiais, Artigo (2023.

1)

Universidade Federal De Santa Catarina


Graduação em Engenharia de Materiais

Análise do Comportamento Mecânico do Carbeto de Silício


Luiza Coan Philipi dos Santosa a Departamento de Engenharia, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Campus

Blumenau, 89036-002 Blumenau, SC, Brasil

Informações Resumo

Entrega do artigo: 03/07/2023


O Carbeto de Silício é considerado um material cerâmico avançado devido às suas notáveis
Disciplina ministrada pelo Prof Dr.
propriedades. Ele apresenta características mecânicas excepcionais, como alta resistência a altas
Wanderson Santana da Silva temperaturas, resistência ao desgaste, elevada dureza e uma densidade relativamente baixa em
comparação com os metais. O SiC possui uma estabilidade térmica relativamente alta, com a
Palavras-chave: decomposição começando em temperaturas de 2000°C, o SiC é uma substância extremamente
estável, não apresentando corrosão em diversas soluções líquidas, uma nova dureza de Mohs de
Carbeto de Silício 13 é exibida pelo SiC, tornando-o o material mais duro disponível após o diamante e o carbeto de
Comportamento boro, O SiC possui um módulo de elasticidade alto, seus átomos constituintes são relativamente
Mecânico leves e a diferença de peso atômico é pequena. Como resultado, as vibrações da rede facilmente
Propriedades se tornam harmônicas, conferindo ao material uma alta condutividade térmica para uma
cerâmica. As propriedades dos materiais cerâmicos são determinadas pela microestrutura, a qual
Microestrutura é influenciada pelas características e pelo processo de fabricação, como as propriedades da
matéria-prima, dos aditivos, as condições de moldagem e sinterização, entre outros, dessa forma,
a seleção da composição química e da abordagem de processamento é feita levando em
consideração as aplicações e as geometrias desejadas. Discutimos os quatro principais métodos
de sinterização utilizados, cada um resultando em propriedades e microestruturas diferentes. O
presente trabalho tem o objetivo de analisar as propriedades e comportamento mecânico do
carbeto de silício, levando em conta que as propriedades dos materiais cerâmicos estão
intimamente ligadas às características da sua microestrutura, que, por sua vez, são influenciadas
pelas características do material e pelo processo de fabricação adotado.

1. Introdução metálicos e/ou não metálicos, para os quais a ligação atômica


varia desde puramente iônica até totalmente covalente. Cabe
1.1 Materiais cerâmicos ressaltar que muitos cerâmicos exibem uma combinação
A trajetória dos materiais cerâmicos acompanha a jornada desses dois tipos de ligação, sendo o nível do caráter iônico
da humanidade ao longo da história. Quando a capacidade dependente das eletronegatividades dos átomos
transformadora do fogo foi descoberta, percebeu-se que ele (CALLISTER, 2000).
podia modificar as propriedades dos materiais expostos ao De maneira geral, os materiais cerâmicos podem ser
seu calor. Assim, a humanidade começou a utilizar o processo divididos em duas categorias: cerâmicos tradicionais e
térmico para modificar as características da argila. Essa cerâmicos de engenharia (ou avançados). Os cerâmicos
prática deu origem à indústria cerâmica, considerada a mais tradicionais são compostos principalmente de argila e sílica,
antiga entre todas as indústrias. (COSTA, 2000) e são utilizados na fabricação de tijolos, azulejos e porcelanas.
A palavra cerâmica é proveniente do grego keramikos, que Por outro lado, os cerâmicos de engenharia consistem
significa matéria prima queimada e tem sua origem principalmente de compostos puros ou quase puros, como
aproximada de 5000 a.C., que faz referência de como a alumina, zircônia e carbeto de silício. A produção desses
humanidade produzia e ainda usualmente produz os materiais requer parâmetros precisos e controlados, devido à
materiais cerâmicos, por meio de um processo de tratamento sua natureza e propriedades específicas.
térmico em temperatura elevada (CALLISTER, 2000).
Por definição, os cerâmicos são materiais inorgânicos,
compostos por pelo menos dois elementos, sendo eles
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1.2 História do Carbeto de Silício O carbeto de silício possui diferentes formas polimórficas,
O carbeto de silício (SiC) foi inicialmente observado por sendo uma delas cúbica e as demais hexagonais e
Berzelius em 1810, mas foi Acheson quem percebeu o seu romboédricas. A distinção entre as formas não cúbicas ocorre
enorme potencial. Em 1891, Acheson conseguiu obter SiC devido a um deslocamento helicoidal durante o processo de
através da passagem de uma corrente elétrica intensa por uma formação. A forma cúbica é conhecida como carbeto de silício
mistura de argila e coque. Ele deu o nome de carborundum a beta (β-SiC), enquanto as formas não cúbicas são chamadas
esse novo material, acreditando que era uma mistura de de carbeto de silício alfa (α-SiC). (SILVA, 2011)
carbono e córindum. Análises químicas posteriores revelaram A estrutura tetraédrica de SiC apresenta formas
que o carborundum era na verdade um composto de silício e polimórficas diversas. Há duas fasesde SiC características e
carbono com uma proporção de 1:1, ou seja, SiC. bem definidas, a saber: (CHIMELLI, 2010)
(GUICHELAAR, 1997)
• α-SiC
1.3 Carbeto de Silício
O carbeto de silício é classificado como um tipo de material
o Constitui a fase mais estável;
cerâmico avançado devido às suas propriedades excepcionais.
Entre essas propriedades, destacam-se suas excelentes
o Apresenta estrutura cristalina hexagonal
características mecânicas, incluindo alta resistência em ou romboédrica;
temperaturas elevadas, resistência ao desgaste, alta dureza e
densidade relativamente baixa em comparação com metais. o Ocorre em temperaturas superiores a
(SILVA, 2011) 2000 °C;
Devido a essas características, o carbeto de silício (SiC)
desperta interesse em aplicações que demandam materiais de o Geralmente decorre da redução
alto desempenho. Alguns exemplos dessas aplicações incluem carbotérmica da sílica.
blindagens balísticas, resistências elétricas, mobiliário para
fornos especiais, componentes diversos de bombas
• β-SiC
hidráulicas, peças expostas a ambientes de alta temperatura e
meios agressivos, como válvulas e selos mecânicos. O SiC o Constitui a fase menos estável;
demonstra ser uma escolha adequada para esses contextos
devido à sua capacidade de lidar com condições extremas. o Apresenta estrutura cristalina cúbica;
(VIVIAN apud RICHERSON, 2014).
o Ocorre em temperaturas inferiores a 2000
2. Desenvolvimento °C;

2.1 Estrutura cristalina do Carbeto de Silício o Geralmente decorre da conversão química


de polímeros.
O carbeto de silício (SiC) exibe uma ampla variedade de
propriedades devido ao seu excelente desempenho mecânico
A forma α-SiC é mais estável termicamente, já que em
em altas temperaturas e alta dureza. Essas características são
temperaturas na ordem de 2000 °C ocorre uma
resultado da sua natureza predominantemente covalente,
transformação cristalográfica β para α. Com isso, a fase β-
onde as ligações covalentes são intrinsecamente fortes e
direcionais. Essas ligações ocorrem entre os átomos de silício SiC se caracteriza com uma fase termicamente metaestável.
(Si) e carbono (C), uma vez que os dois elementos possuem
valores de eletronegatividade muito próximos. Materiais Geralmente, a rota de conversão química de precursores
sólidos com ligações covalentes, em geral, apresentam baixa poliméricos leva à formação da forma beta, enquanto a
densidade, pois o empacotamento dessas estruturas é redução carbotérmica da sílica em altas temperaturas resulta
limitado pela direcionalidade das ligações covalentes. em cristais de carbeto de silício alfa. Na verdade, a forma alfa
(SILVA, 2011) é a mais estável. A conversão de beta para alfa ocorre quando
A estrutura cristalina do SiC se caracteriza pela formação a forma beta é aquecida a temperaturas superiores a 2000°C.
de tetraedros coordenados do tipo Si4C ou SiC4. A figura 1 a (SILVA, 2011)
seguir ilustra a estrutura em questão: (CHIMELLI, 2010) Tanto o silício quanto o carbono possuem quatro elétrons
em sua camada de valência. Esses elétrons são distribuídos
em quatro orbitais de energia equivalente através da
hibridização sp3, que é resultado da combinação de um
orbital s e três orbitais p. No carbeto de silício (SiC), esses
orbitais se distribuem espacialmente formando um arranjo
tetraédrico, e a ligação entre o silício e o carbono ocorre
quando os orbitais de um se sobrepõem aos orbitais do outro.
(SILVA, 2011)
Devido à pequena diferença de eletronegatividade entre os
elementos, a ligação entre o silício e o carbono é
predominantemente covalente, com cerca de 88% de caráter
covalente. Essa ligação covalente exibe força e direcionalidade
intrínsecas, o que contribui para as propriedades de
Figura 1: Estrutura cristalina SiC resistência em altas temperaturas e dureza observadas no SiC.
Fonte: CHIMELLI, 2010
(SILVA, 2011)
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Sua unidade básica consiste em um arranjo tetraédrico em função da temperatura de sinterização é mostrada na
empilhado de duas formas distintas: empilhamento paralelo, Figura 3. (GUICHELAAR, 1)
cujos cristais formados são cúbicos e compõe a fase β,
denominada carbeto de silício beta (β-SiC), conforme as
figuras 1.1 e 2, (a); ou empilhamento antiparalelo, cujos
cristais são hexagonais ou romboédricos e formam a fase α,
denominada carbeto de silício alfa (α-SiC), demonstrada na
Figura 1.1 (b) (DIAS, 2011).

Figura 1.1: Estrutura cristalina SiC


Fonte: SHAFFER, 1991

A estrutura do carbeto de silício na forma α-SiC permite a


existência de uma variedade infinita de polítipos, sendo o
polítipo 6H o mais comumente encontrado. A nomenclatura
dos polítipos é determinada pela combinação de letras (H, R
ou C) para indicar se pertencem às classes hexagonal,
romboédrica ou cúbica, respectivamente, seguidas por
números que representam o número de camadas duplas Figura 3: Estabilidade das fases de SiC em função da temperatura
empilhadas. (SILVA, 2011) Fonte: GUICHELAAR, 1997

O carbeto de silício é uma substância que ocorre


naturalmente em quantidades muito pequenas e em locais
geológicos específicos, como paredes de diamante, crateras
vulcânicas e alguns meteoritos. Foi descoberto no estado do
Arizona, EUA, por Ferdinand Frederick Henri Moissan em
1921, quando ele coletou amostras de meteoritos no "Canyon
Diablo". Moissan identificou cristais de SiC no meteorito, e
em sua homenagem, o mineral recebeu o nome de Moissanita,
como está ilustrado na figura 4. No entanto, as aplicações do
carbeto de silício utilizam principalmente o material sintético,
Figura 2: Estrutura cristalina SiC que foi desenvolvido por Edward Goodrich Acheson em 1891,
Fonte: CHIMELLI, 2010 quando ele conseguiu produzir SiC em um forno elétrico.
(SANTANA, 2010 e NASSAU, 2000)
O carbeto de silício (SiC) tem uma estrutura cristalina
compacta que, dependendo da ordem de empilhamento, pode
existir em orientações cúbicas (ABCABC ...) ou hexagonais
(ABAB ...). Numerosos tipos de poli SiC foram identificados,
no entanto, os de ordem inferior são os mais significativos.
Usando a notação de Ramsdell (1947), os politipos de SiC
mais comuns são 3C (cubic or β phase), 4H, 6H, 15R e 27R.
As formas hexagonal (H) e romboédrica (R) constituem α-
SiC e variam em sequência de empilhamento na direção
[0001]. Politipos de período mais longo foram observados
durante processos de vapor ou solvente e normalmente
envolvem a incorporação de defeitos de superfície, levando a
falhas de empilhamento. A estabilidade relativa dessas fases
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Figura 5: Forno processo Acheson


Fonte: CHIMELLI, 2010

O resultado do processo de fabricação é um bloco de


grande tamanho de carbeto de silício (SiC). Devido à
geometria do forno utilizado, as regiões internas sofrem
diferentes tratamentos térmicos, como é comum em muitos
processos industriais que envolvem variações significativas
de temperatura. Isso leva à formação de um gradiente de
temperatura dentro do forno, resultando em diferentes fases
Figura 4: Mineral Moissanita microestruturais dependendo da temperatura local. Na região
Fonte: MEDEIROS, 2016 próxima aos eletrodos, onde a temperatura atinge cerca de
2000 °C, forma-se a fase α-SiC. Por outro lado, em regiões
A coloração do carbeto de silício está diretamente mais distantes dos eletrodos, onde a temperatura é
relacionada à sua composição, e existem dois tipos básicos: significativamente menor que 2000 °C, forma-se a fase β-SiC.
preto e verde. O carbeto de silício preto é geralmente mais (CHIMELLI, 2010)
econômico em comparação ao tipo verde. A cor verde é No processo Acheson, o carbeto de silício é geralmente
atribuída à presença de nitrogênio, enquanto a cor preta é obtido na forma de grandes blocos que precisam ser reduzidos
devido à existência de pequenas quantidades de alumínio ou em tamanho para obter o pó com partículas menores. A
óxido de alumínio. Os rebolos fabricados com carbeto de distribuição do tamanho das partículas no pó resultante
silício verde são levemente mais abrasivos em comparação depende do tempo e do processo de moagem utilizado. A
aos de cor preta. Embora ambos tenham praticamente a presença de impurezas, como o oxigênio, afeta a qualidade do
mesma dureza, os rebolos de carbeto verde geralmente pó produzido. Para remover essas impurezas, o pó é
apresentam maior tenacidade. (SANTANA, 2010) submetido a um processo de lavagem com ácido fluorídrico
em temperatura ambiente. (LEE, 1994)
2.2 Síntese do Carbeto de Silício Além do processo Acheson, há outros métodos para obter
O método predominante para a produção em larga escala carbeto de silício, como a decomposição térmica de
de carbeto de silício (SiC) é a redução carbotérmica da sílica organosilanos, a conversão química de polímeros
(SiO2). Nesse processo, uma fonte de SiO2, como areia, é organometálicos e a síntese em fase gasosa. Embora exista
combinada com uma fonte de carbono, como coque de uma variedade de rotas de síntese para o carbeto de silício, o
petróleo ou carvão. A reação de redução carbotérmica que processo Acheson continua sendo o mais amplamente
ocorre durante esse processo é descrita abaixo: (CHIMELLI, utilizado. Ele permite a produção da fase alfa do carbeto de
2010) silício (α-SiC) em temperaturas mais elevadas (2000 -
2600°C) ou da fase beta do carbeto de silício (β-SiC) em
SiO2(s) + C(s) → SiO(g) + CO(g) temperaturas mais baixas (1500 - 2000°C). (SILVA, 2011)
SiO(g) + 2C(s) → SiC(s) + CO(g)
2.3 Sinterização do Carbeto de Silício
Estas duas reações resultam na reação global: Apesar das propriedades físicas e químicas excelentes do
SiC, aproveitar todo o potencial desse material é desafiador
SiO2(s) + 3C(s) → SiC(s) + 2CO(g) devido à dificuldade de sinterização. A sinterização de sólidos
covalentes é um processo complexo devido à alta energia das
A síntese do carbeto de silício (SiC) ocorre em um forno ligações covalentes, o que requer uma energia de ativação
através da aplicação de corrente elétrica nos eletrodos de elevada para que a autodifusão ocorra. Isso implica em
carbono. Essa corrente elétrica aquece a fonte de carbono a dificuldades na consolidação do material cerâmico. (LEE,
altas temperaturas, em torno de 2600 °C, acelerando a 1994)
cinética da reação de transformação do dióxido de silício A densificação do corpo verde de SiC enfrenta desafios
(SiO2) e carbono em SiC. Esse método específico de devido à baixa difusividade do material, mesmo com o uso de
fabricação é conhecido como processo Acheson. A figura 5 granulometrias finas. Portanto, a seleção da composição
representa o forno utilizado na síntese do SiC. (CHIMELLI, química e da rota de processamento é determinada pelas
2010) aplicações e geometrias desejadas. (CHIMELLI, 2010)
Abaixo estão os quatro principais processos de
sinterização utilizados, cada um resultando em propriedades
e microestruturas distintas:
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2.3.1 Sinterização em estado sólido do Carbeto de composição química do diagrama de fases. (BARSOUM,
Silício 1997)
Durante o processo de sinterização em estado sólido, A presença da fase líquida durante a sinterização facilita o
ocorre o transporte de material por difusão. Esse transporte rearranjo das partículas e promove mecanismos de difusão
pode ocorrer por meio do movimento de átomos ou lacunas mais eficientes. O transporte de material através da fase
ao longo de superfícies, contornos de grão ou mesmo no líquida é mais rápido em comparação ao transporte através
volume do material. A redução do excesso de energia do material sólido. Além das altas temperaturas necessárias,
associada às superfícies impulsiona esse processo. No caso do a utilização de matéria-prima altamente pura e com tamanho
SiC, a sinterização é inibida devido à alta relação entre a de partícula reduzido, e longos tempos de sinterização, há
energia do contorno de grão e a energia de superfície. Para outro desafio associado a essas técnicas. Tanto a sinterização
superar essa dificuldade, é necessário adicionar aditivos de em estado sólido quanto em fase líquida causa uma
sinterização. No caso do carbeto de silício, os aditivos mais considerável contração na peça sinterizada. Portanto, é
comuns são o boro e o carbono. O boro diminui a energia do necessário realizar usinagem nas peças sinterizadas, o que
contorno de grão por meio de uma segregação seletiva, não é uma tarefa simples, requerendo máquinas
enquanto o carbono aumenta a energia da superfície através automatizadas e ferramentas de corte diamantadas. Todos
da desoxidação e remoção de SiO2. (BARSOUM, 1997) esses fatores contribuem para aumentar o custo de
Devido aos fatores mencionados anteriormente, alcançar processamento de componentes à base de SiC. (SILVA, 2011)
altas densidades em carbeto de silício sinterizado em estado
sólido é extremamente desafiador. Para isso, são necessários 2.3.3 SiC ligado por reação (LR ou RBSiC)
pós de alta pureza com tamanhos de partículas na escala O processo LR é caracterizado pela formação de uma
micrométrica ou sub-micrométrica, além de temperaturas estrutura porosa de SiC a partir da infiltração de uma mistura
muito elevadas, acima de 2000°C. (SILVA, 2011) de Si metálico e fonte de carbono com vapor de Si ou Si
No processo SES, a densificação resulta do coalescimento fundido. Esse processo ocorre em atmosfera inerte ou a vácuo.
das partículas viabilizado pela diminuição de energia livre de Variáveis importantes do processo incluem fatores químicos,
superfície. Por outro lado, para densidades mais elevadas, há como concentração, tempo e temperatura, e fatores
um aumento significativo de dificuldade de sinterização mecânicos, como mistura e prensagem. Devido à baixa
decorrente da elevada razão entre as energias de contorno de retração linear, o produto final apresenta dimensões
grão e de superfície das partículas de SiC. Por isto, se faz próximas ao formato desejado ("near net shape"), o que
necessária a incorporação deaditivos de sinterização, como B permite a obtenção de geometrias mais complexas.
e C. Os mecanismos associados aos aditivos são o aumento de (CHIMELLI, 2010)
energia superficial pelo C através da desoxidação e remoção
da SiO2 ea diminuição da energia de contorno de grão pelo B 2.3.4 Prensagem a quente (PQ)
através de uma segregação seletiva e adsorção de impurezas. O processo de prensagem a quente se caracteriza pela
O transporte de material por difusão ocorre em etapas, são formação de um produto sinterizado de densidade
elas: extremamente elevada e, em decorrência, excelentes
• Na fase inicial, ocorre o rearranjo das partículas, propriedades mecânicas. Em contrapartida, há uma elevada
formação de ligações fortes e desenvolvimento de dificuldade na obtenção de geometrias complexas e sua
pescoços entre as partículas. Isso resulta em um produtividade é limitada.
aumento de cerca de 10% na densidade e uma redução A aplicação de pressão no processo gera um elevado nível de
de aproximadamente 50% na superfície específica. tensões internas, gerando um aumento de difusividade e
possibilitando que o processo ocorra em temperaturas mais
• Na fase intermediária, ocorre a formação dos contornos
baixas em relação à SES. O processo de PQ possibilita a
de grão, aumentando o número de pontos de contato e
sinterização em fase líquida ou em estado sólido.
diminuindo a porosidade. Isso leva a uma densificação
em torno de 90%.
2.3.5 Microestruturas do Carbeto de Silício
• Na fase final, os poros são fechados, os grãos crescem, É possível então definir que as propriedades dos materiais
mas não há uma densificação substancial em cerâmicos dependem das características da microestrutura,
comparação com as etapas anteriores. que por sua vez são influenciadas pelas características e pelo
processo de fabricação (propriedades da matéria-prima,
Apesar de exigir matéria-prima altamente pura, com propriedades dos aditivos, condições de moldagem, condições
tamanho de partícula na ordem de micrômetros, e de sinterização etc.) do material.
temperaturas em torno de 2000 °C, a obtenção de um corpo A resistência à abrasão, por exemplo, depende
sinterizado por meio do processo de sinterização em estado significativamente das dimensões dos grãos e dos poros,
sólido (SES) resulta em propriedades mecânicas enquanto a resistência à corrosão e ao calor são afetadas pela
extremamente elevadas. (CHIMELLI, 2010) composição e estrutura das fronteiras de grãos cristalinos.
Portanto, é extremamente importante selecionar uma
2.3.2 Sinterização em estado líquido do Carbeto de microestrutura adequada à aplicação e manter o controle
Silício sobre o processo de fabricação. (YAMADA, MOHRI, 1991)
A sinterização em fase líquida do carbeto de silício é É possível de alcançar propriedades superiores através da
realizada através do uso de aditivos de sinterização minimização de impurezas, que afetam tanto a resistência à
específicos, que têm a capacidade de formar uma fase líquida corrosão quanto à resistência ao calor. Além disso, estabelecer
durante o processo de sinterização. Esses aditivos são um processo de fabricação capaz de produzir uma
geralmente misturas de óxidos ou nitretos, cuja composição microestrutura uniforme, livre de crescimento anormal de
possui pelo menos um ponto de eutética ao longo da faixa de grãos. (YAMADA, MOHRI, 1991)
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A Figura 6 mostra microestruturas de compactos de SiC • Alta resistência à oxidação, mantendo sua integridade
que foram sinterizados em diferentes temperaturas. Embora a mesmo em ambientes oxidantes.
diferença de temperaturas de sinterização seja de • Baixo coeficiente de expansão térmica, o que significa
aproximadamente 100°C, há pouco crescimento de grãos e que esses materiais têm menor tendência a se expandir
nenhuma redução na resistência. Consequentemente, é ou contrair com variações de temperatura.
possível fabricar produtos com qualidade extremamente
• Resistência ao choque térmico, ou seja, capacidade de
estável. (YAMADA, MOHRI, 1991)
suportar mudanças bruscas de temperatura sem se
quebrar.
• Baixa densidade em comparação com materiais
metálicos, o que os torna mais leves em peso.

Essas propriedades tornam as cerâmicas avançadas


altamente atrativas para aplicações onde é necessária
resistência, durabilidade e desempenho em condições
extremas.
No entanto, os materiais cerâmicos também possuem
algumas limitações em relação às suas propriedades, o que
pode restringir suas aplicações em certos casos. Algumas
dessas limitações incluem:

• Alto custo de fabricação: O processo de fabricação de


materiais cerâmicos pode ser mais caro em comparação
a outros materiais devido à complexidade dos métodos
envolvidos.
• Dificuldade de sinterização: A sinterização, que é o
processo de compactação e densificação dos materiais
cerâmicos, pode ser desafiadora e requer altas
temperaturas e longos tempos de processamento.
• Restrição na obtenção de geometrias complexas: A
fabricação de peças cerâmicas com formas complexas e
alta densidade pode ser difícil de alcançar, devido à
queima e contração durante o processo de sinterização.
• Fragilidade intrínseca: Os materiais cerâmicos são
conhecidos por sua fragilidade, o que significa que eles
têm pouca capacidade de deformação plástica antes de
se romperem. Isso resulta em baixa tenacidade dos
componentes cerâmicos e limita sua resistência a
impactos e cargas mecânicas.
Essas limitações precisam ser consideradas ao selecionar e
projetar componentes cerâmicos, a fim de encontrar soluções
adequadas para as aplicações desejadas. (CHIMELLI, 2010)
Figura 6: (a) Sinterização em baixa temperatura, densidade de 3,17
g/cm3, resistência à flexão de 64 kg/mm2. (b) Sinterização em alta 2.6 Propriedades do Carbeto de Silício
temperatura, densidade de 3,17 g/cm3, resistência à flexão de 63
Conforme mencionado anteriormente, o SiC pode ser
kg/mm2.
Fonte: (YAMADA, MOHRI, 1991) processado e sinterizado de diferentes maneiras, e cada
processo utilizado resulta em microestruturas e propriedades
2.4 Propriedades cerâmicas avançadas distintas.
O avanço no processamento cerâmico e nas matérias- No geral, o SiC possui características como alta dureza e
primas utilizadas resultou no desenvolvimento da segunda resistência mecânica, alto ponto de fusão (refratariedade),
geração de materiais cerâmicos, conhecida como cerâmicas resistência química e alta resistência ao choque térmico e à
avançadas ou de engenharia. Esses materiais apresentam um oxidação. No entanto, certas propriedades são
conjunto único de propriedades, o que lhes confere um alto significativamente influenciadas pelo método de
potencial de aplicação em diversas áreas industriais. Algumas processamento adotado, como tenacidade à fratura, módulo
dessas propriedades são destacadas abaixo: (CHIMELLI, de elasticidade e resistência à fluência. (CHIMELLI, 2010)
2010) É possível analisar com base na tabela 1.
Um aspecto essencial a ser considerado nos materiais
cerâmicos, especialmente no caso do SiC, é o impacto da
• Alta dureza e resistência mecânica, mesmo em altas
densidade nas propriedades mecânicas do produto final.
temperaturas.
Como os processos de sinterização resultam em densidades
• Capacidade de suportar temperaturas elevadas sem diferentes, isso influencia as propriedades mecânicas obtidas.
sofrer deformação ou fusão. (CHIMELLI, 2010)
• Resistência à fluência, ou seja, resistência à deformação
lenta sob carga constante em altas temperaturas.
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Sinterização Prensado a 3. Comportamento mecânico do Carbeto de Silício


Propriedade
Convencional quente
Densidade 3,14 g/cm²
Densidade Teórica
(g/cm3)
3,2 3,2 Dureza 24 GPa
Módulo de Elasticidade Módulo de Young 430 Gpa
(GPa) 207 – 483 207 – 483
Módulo de Cisalhamento 180 Gpa
Tenacidade à Fratura
(Mpa.√m) 4,8 – 6,1 4,8 Coeficiente de Poisson 0,16
Coeficiente de Expansão Resistência a flexão 100-820 Mpa
Térmica (10-6 (ºC)-1) 4,6 4,5
Condutividade térmica Resistência a compressão 3100 Mpa
(W/m.K) 85 71 Tenacidade à fratura 4,6 Mpa
Tabela3: Propriedades físicas e mecânicas do Carbeto de Silício
Calor Específico (J/Kg.K) 670 590 Fonte: Adaptado pelo autor, YAMADA, MOHRI, 1991

Resistividade Elétrica 3.1 Propriedades Elásticas


1,0 x 109 1,0 x 109
(W.m) A Tabela 3 mostra as propriedades elásticas medidas
Tabela 1: Propriedades Carbeto de Silício usando a técnica “pulse echo”. O SiC possui alta elasticidade e
Fonte: adaptado pelo autor, CHIMELLI, 2010 apresenta forte resistência à deformação, visto que seu
módulo de Young teve como resultado 430 GPa e seu
A tabela 2 apresenta a diferença em algumas propriedades módulo de cisalhamento 180 GPa.
resultantes de diferentes métodos de processamento. Além
disso, destaca a capacidade do SiC de manter suas 3.2 Dureza
propriedades em altas temperaturas, o que o torna altamente A Tabela 3 mostra a microdureza Vickers. O SiC é superado
recomendado para aplicações que exigem resistência e dureza em dureza apenas pelo diamante, BN cúbico e B4C, tornando-
a quente. Essa característica confere uma vantagem o adequado para aplicações como selos mecânicos e
competitiva em relação aos metais. (CHIMELLI, 2010) rolamentos que requerem resistência à abrasão. (YAMADA,
MOHRI, 1991)
Propriedades x Processamento
Tensão de Ruptura (MPa)
A dureza em carbetos de silício é medida utilizando
Módulo de Coef. Expansão Condutividade
Rota de
Young Térmica (10 -6 K- indentador Knoop ou Vickers. A dureza Knoop do SiC
Processamento 25 °C 1000 °C 1375 °C Térmica (W.m -1 .K-1 )
(GPa) 1
) varia de 250 a 280 MPa, dependendo da porosidade
Prensagem a quente
690 620 330 317 3 30 a 15 residual. (SILVA, 2011)
(aditivo MgO)
A medição e análise de dureza em cerâmicos são tarefas
Sinterizado
(aditivo Y2O3)
655 585 275 236 3,2 28 a 12 complexas, pois a dureza depende fortemente do método de
teste utilizado. Ao fazer a indentação de um cerâmico, o
210 345 380 380 2,8 06 a 03
Reação de ligação material inicialmente deforma elasticamente, após a
deformação elástica o material trinca. Posteriormente, a
Tabela 2: Propriedades x processamento Carbeto de Silício penetração do indentador serve para propagar a trinca a
Fonte: CHIMELLI, 2010 partir da indentação. (SILVA, 2011)
Então, em materiais cerâmicos, a dureza medida é função
Em sumo, o carbeto de silício é um material notável que do módulo de elasticidade, tenacidade à fratura e da energia
exibe uma ampla gama de propriedades altamente de propagação da trinca. (SILVA, 2011)
interessantes para aplicações em engenharia. Essas
excelentes propriedades são resultado das diversas 3.3 Resistência
possibilidades microestruturais que o SiC oferece. Tanto o SiC A Tabela 3 mostra a resistência à compressão e a resistência à
sinterizado convencional como o ligado por reação são flexão de três pontos. O SiC possui resistência relativamente
conhecidos por sua extrema dureza, resistência e alta alta para uma cerâmica, mas o valor é baixo quando
capacidade de suportar abrasão, corrosão, oxidação e choque comparado com nitreto de silício, por exemplo. Isso se deve a
térmico. (SILVA, 2011) uma baixa energia efetiva de fratura γe na tensão de fratura αf
Assim como acontece com outros materiais cerâmicos, a da equação abaixo, que é derivada da teoria de fratura de
resistência mecânica do SiC não é determinística, mas varia Griffith. (YAMADA, MOHRI, 1991)
de acordo com o modelo estatístico proposto por Weibull,
conforme veremos a seguir. Dependendo do método de
processamento do SiC, a resistência à flexão média pode
variar significativamente em uma ampla faixa. Por exemplo, E é o módulo de elasticidade, γe é a energia efetiva de fratura
de acordo com Wachtman, a resistência pode variar entre 350 e C é o raio da trinca. A resistência a flexão foi relatada para
e 550 MPa, enquanto o módulo de Weibull varia entre 6 e 15. um compacto de SiC prensado a quente, mas isso é atribuído
(SILVA, 2011) a uma pequena origem de fratura (diâmetro da trinca).
(YAMADA, MOHRI, 1991)
A Figura 7 mostra uma origem de fratura em um compacto
de SiC. Trata-se de um poro de aproximadamente 30 mícrons,
Disciplina de Resistência e Falha dos Materiais (2023.1)
e normalmente poros e inclusões com menos de 50 mícrons de tensões na ponta da trinca é um possível mecanismo
se tornam origens de fratura. No futuro, espera-se que uma responsável. (YAMADA, MOHRI, 1991)
maior resistência seja alcançada por meio da redução das O SiC possui resistência térmica superior e promete ser um
origens de fratura por meio de processos de fabricação material de alta temperatura para uso em turbinas a gás,
aprimorados e do aumento da tenacidade à fratura, que serão trocadores de calor etc. (YAMADA, MOHRI, 1991)
discutidos abaixo. (YAMADA, MOHRI, 1991)

Figura 8: Dureza em altas temperaturas comparação SiC e Si3N4


Fonte: (YAMADA, MOHRI, 1991)

O SiC possui uma estabilidade térmica


relativamente alta, com a decomposição começando
em temperaturas de 2000°C ou mais no ar
Figura 7: Fratura em um compacto de Carbeto de Silício (temperatura de dissociação: aproximadamente
Fonte: (YAMADA, MOHRI, 1991) 2400°C). (YAMADA, MOHRI, 1991)

3.6 Resistência ao Choque Térmico


3.4 Tenacidade à Fratura A Figura 9 mostra a temperatura de resistência ao choque
A Tabela 3 mostra Kic medida por um método de microfratura térmico medida pelo método de choque térmico (método de
por endentação. Como mostrado na equação do tópico 3.2 a Hasselman). (YAMADA, MOHRI, 1991)
resistência depende das dimensões e da forma da trinca e não O valor medido foi de aproximadamente 450°C. Entre
representa as propriedades do material em si. as cerâmicas de alta densidade, esse valor é o segundo maior,
De acordo com a dinâmica de fratura, a fratura em materiais não superando apenas o Si3N4 (aproximadamente 600-
frágeis ocorre como resultado da concentração de tensões na 9OO°C). (YAMADA, MOHRI, 1991)
área ao redor da ponta da trinca. O grau dessa concentração Geralmente, em condições de resfriamento rápido como as
de tensões é definido como coeficiente de expansão de tensão usadas nesse método, a resistência ao choque térmico é
Kic. Kic é mostrado na equação abaixo como um coeficiente avaliada pela equação abaixo. (YAMADA, MOHRI, 1991)
crítico de expansão de tensão no momento em que a
concentração de tensões na ponta da trinca começa a causar
uma fratura. KiC não é exclusivo do material, mas oferece
uma representação mais clara da diferença de resistência Aqui, αf é a tensão de fratura, ν é o coeficiente de Poisson, E é
entre materiais. (YAMADA, MOHRI, 1991) o módulo de elasticidade e α é o coeficiente de expansão
Kic: 4,6 Mpa.m0,5 térmica. Por outro lado, em resfriamento gradual, a
Atualmente, no entanto, é difícil melhorar a tenacidade sem resistência ao choque térmico é avaliada pela equação a
sacrificar as propriedades em altas temperaturas; quando seguir. (YAMADA, MOHRI, 1991)
Al2O3 é adicionado para aumentar a razão de aspecto do
tamanho cristalino sinterizado, por exemplo, a resistência em
Aqui, k é a condutividade térmica. Quando são usados dados
altas temperaturas diminui. (YAMADA, MOHRI, 1991)
em temperatura ambiente, os compactos de SiC da Sumitomo
Chemical possuem um R de 200k e um R' de 29 kw/m.
3.5 Resistência em Altas Temperaturas
(YAMADA, MOHRI, 1991)
A Figura 8 mostra uma comparação da resistência à flexão de
Os mesmos valores para Si3N4 são 400-600k e 7-10kw/m,
três pontos em altas temperaturas para SiC e Si3N4. Em
respectivamente, melhores do que os valores para SiC sob
temperaturas acima de 1200°C, o SiC possui maior resistência
condições de resfriamento rápido, mas não tão bons quanto
do que o Si3N4. (YAMADA, MOHRI, 1991)
aqueles sob resfriamento gradual. (YAMADA, MOHRI, 1991)
Na verdade, o SiC possui melhor resistência em altas
O valor R = 200k é inferior ao valor medido de 450k, devido
temperaturas do que qualquer outro material, incluindo
ao fato de que a técnica de choque térmico não é para
metais. Existe uma tendência de aumento da resistência do
condições de resfriamento infinitamente rápidas, e a
SiC em altas temperaturas, e foi relatado que o relaxamento
Disciplina de Resistência e Falha dos Materiais (2023.1)
influência da condutividade térmica deve ser levada em 3.8 Resistência à corrosão do Carbeto de Silício
consideração. (YAMADA, MOHRI, 1991) Resistencia à Corrosão
Solução Peso Perdido (mg/dm2)
HF:H2O (34:66) 0,07
HF:NH4F (10:90) 0,1
HF:HNO3 (86:14) 0,17
H2SO4 0,3
H2O:H2SO4 (50:50) 0,15
NAOH:H2O (50:50) 0,13
Tabela 5: Resistência à corrosão do Carbeto de Silício
Fonte: Adaptada pelo autor, YAMADA, MOHRI, 1991

A Tabela 5 mostra a resistência à corrosão em várias


soluções líquidas. O SiC possui uma resistência extremamente
alta à corrosão e não é corroído por ácidos ou álcalis. No
entanto, quando há numerosas impurezas presentes, a
resistência à corrosão diminui, tornando importante a
fabricação de compactos de SiC de alta pureza. (YAMADA,
MOHRI, 1991)
O SiC é uma substância extremamente estável, não
apresentando corrosão mesmo quando fervido em HCI,
H2SO4, HF ou HF + HNO3. Também não é corroído por uma
solução líquida concentrada de soda cáustica. No entanto, é
Figura 9: Resistência ao choque térmico do Carbeto de Silício corroído por Na20 ou por fusões de Na2CO3 + KNO3. Também
Fonte: (YAMADA, MOHRI, 1991) reage com cloro em temperaturas de 900°C e acima, e com
vapor de enxofre em temperaturas de 1000°C e acima. Em
3.7 Propriedades térmicas do Carbeto de Silício
contato com o ar, a oxidação começa em temperaturas de
aproximadamente 850°C, resultando na formação de um
filme de SiO2. A taxa de oxidação é fortemente influenciada
pelas propriedades do filme de Si02, mas como o filme de SiO2
é mais denso em comparação com o caso de Si3N4, a
Tabel4: Propriedades térmicas do Carbeto de Silício resistência à oxidação é muito maior. (YAMADA, MOHRI,
Fonte: Adaptado pelo autor, YAMADA, MOHRI, 1991 1991)

A Tabela 4 mostra a condutividade térmica e a difusividade 3.9 Confiabilidade (Reliability) mecânica do


térmica medidas pelo método de flash a laser. O SiC é um Carbeto de Silício
material que possui uma alta condutividade térmica, sendo Quando cerâmicas são usadas como materiais estruturais,
relatado que a condutividade térmica do SiC monocristalino é a confiabilidade mecânica é o fator mais importante. Como
de 500 W/(m·K). (YAMADA, MOHRI, 1991) descrito anteriormente, a resistência à fratura de materiais
O SiC prensado a quente contendo BeO (condutividade cerâmicos de baixa tenacidade depende muito das dimensões
térmica: 270 W/(m·K)) foi desenvolvido como um substrato e do número de vários defeitos (poros, inclusões, partículas
IC de alta condutividade térmica, mas como material grosseiras), e há uma ampla distribuição estatística. Sabe-se
estrutural, o valor do SiC comum varia entre 50 e 120 que, na prática, essa distribuição segue a distribuição de
W/(m·K). Os compactos de SiC produzidos pela Sumitomo Weibull, conforme mostrado na equação a seguir.
Chemical apresentam uma alta condutividade térmica de 146
W/(m·K), mas isso se deve principalmente à ausência de
impurezas que inibem a condução térmica nas fronteiras de
grãos cristalinos. (YAMADA, MOHRI, 1991)
F é a probabilidade de fratura, Ve é o volume efetivo, αf é o
A condutividade térmica é uma propriedade importante
estresse de fratura, αo é a constante de normalização e m é o
não apenas para materiais de alta temperatura que requerem
coeficiente de Weibull. É possível estimar a dependência
resistência ao choque térmico, mas também para materiais
dimensional do estresse de fratura usando o coeficiente de
resistentes à abrasão. Em geral, é desejável uma alta
Weibull, conforme mostrado na equação a seguir.
condutividade térmica em materiais utilizados para selos
mecânicos e rolamentos. (YAMADA, MOHRI, 1991)

Geralmente, o coeficiente de Weibull para


cerâmicas é aproximadamente 10, o SiC fica atrás
apenas do nitreto de silício, é possível analisar na figura 10.
Disciplina de Resistência e Falha dos Materiais (2023.1)

Tabela 5: Gráfico de Weibull para Amostras de SiC Figura 11


Fonte: Material Complementar prof. Wanderson

Dadas essas condições, a melhoria da confiabilidade das


cerâmicas requer abordagens relacionadas ao projeto,
Figura 10: Gráfico de Weibull para AIN, SiC e Si3N4
Fonte: Mechanical Behavior of Material
incluindo a evitar concentração de estresse, esforços para
aumentar a tenacidade à fratura e esforços para reduzir
defeitos que causam fraturas (ou seja, um aumento no
coeficiente de Weibull). Os esforços para aumentar o
coeficiente de Weibull dependem muito do processo de
fabricação, e isso, juntamente com as tecnologias de teste não
destrutivo, constitui uma tarefa importante para aqueles
envolvidos na fabricação de cerâmicas.

2.4 Aplicações do Carbeto de Silício


O carbeto de silício (SiC) é amplamente utilizado em
cerâmicas avançadas devido ao seu excepcional desempenho
mecânico, tornando-o adequado para diversas aplicações.
Apesar das limitações inerentes, o avanço das técnicas de
processamento possibilitou o uso do SiC em elementos
estruturais e aplicações funcionais. Abaixo estão algumas das
aplicações do SiC: (CHIMELLI, 2010)

• Selos mecânicos: O SiC é empregado em selos mecânicos


devido à sua alta resistência ao desgaste e à corrosão.
• Revestimentos: O SiC é utilizado como revestimento
para proteger superfícies contra desgaste, corrosão e
erosão.
• Elementos de aquecimento: O SiC é empregado em
elementos de aquecimento de alta temperatura devido à
sua estabilidade térmica e resistência a altas
temperaturas.
• Tubeiras: O SiC é usado em tubeiras, especialmente em
aplicações de alta temperatura e corrosivas, devido à sua
resistência química e térmica.
• Blindagem balística: O SiC é utilizado em componentes
de blindagem balística devido à sua alta dureza e
resistência ao impacto.

A utilização do SiC na fabricação de elementos estruturais


oferece uma série de benefícios, incluindo maior tempo de
vida útil dos componentes e menor custo de manutenção.
Essas vantagens resultam da excepcional resistência do SiC à
abrasão, corrosão, oxidação e choque térmico, tornando-o
uma escolha valiosa para aplicações de alto desempenho.
(CHIMELLI, 2010)

Figura 11: Gráfico de Weibull para Amostras de SiC


Fonte: Material Complementar prof. Wanderson
Disciplina de Resistência e Falha dos Materiais (2023.1)
Aplicações do SiC Referências Bibliográficas
Aplicação Condições de trabalho Benefícios observados pelo cliente [1] COSTA, L. V da. 25 séculos de cerâmica. Lisboa: Estampa,
Sede de selos, válvulas, Vida longa, demonstra baixa manutenção
partes de bombas, liners
Abrasão, erosão, frequente degradação,
em processos químicos, refino, marinho,
2000.
de ciclone
faixa de temperatura
polpa e papel, nuclear e efluentes [2] CALLISTER Jr., W.D. - Ciência e Engenharia de Materiais
Queimadores e tubos de Alta temperatura, algumas vezes abrasão Aumento do tempo de vida, baixa
uma Introdução, 5ª Ed., Rio de Janeiro: LTC, 2002.
troca de calor e/ou ambiente químico, choque térmico manutenção [3] GUICHELAAR, P.J. Acheson Process. Carbide, Nitride
and Boride Materials Synthesis and Processing. 1. ed.
Revestimento térmico para Aumento do tempo de vida, baixa
proteção de tubos
Alta temperatura
manutenção
Michigan: Chapman & Hall, 1997.
[4] SILVA, P.R., Processamento, caracterização mecânica e
Rolamentos de bombas
Degradação, desgaste, temperatura Seguro, tempo de vida longo, baixa microestrutural de carbeto de silício produzido pelo método
acima de 370 °C manutenção
de infiltração com reação. Tese de D.Sc, COPPE/UFRJ, Rio de
Tabela 6: Aplicações do Carbeto de Silício Janeiro, 2011.
Fonte: Adaptado pelo autor, CHIMELLI, 2010 [5] DIAS, V. B., Comportamento mecânico de SiC em meios
de petróleo e nafta. Escola Politécnica/UFRJ, Rio de Janeiro,
4. Conclusão 2014.
O Carbeto de Silício é considerado um material cerâmico [6] SHAFFER, P. T. B., “Engineering Properties of Carbides”,
avançado devido às suas notáveis propriedades. Ele apresenta In: Engineered M aterials Handbook - Ceramics and Glasses,
características mecânicas excepcionais, como alta resistência ASM International, v. 4, pp. 804-810, 1991
a altas temperaturas, resistência ao desgaste, elevada dureza e [7] LEE, W. E., RAINFORTH, W. M.,1994, Ceramic
uma densidade relativamente baixa em comparação com os Microstructures: property control by processing, Londres,
metais. A estrutura básica do SiC é composta por um arranjo Chapman&Hall.
tetraédrico empilhado de duas maneiras diferentes. No [8] BARSOUM, M. W., 1997, Fundamentals of Ceramics, Mc
empilhamento paralelo, os cristais formados são cúbicos, Graw Hill, New York.
constituindo a fase β do carbeto de silício (β-SiC). Já no [9] CHIMELLI, C. P. Processamento, caracterização e
empilhamento antiparalelo, os cristais são hexagonais ou propriedades do carbeto de silício (SiC) obtido por
romboédricos, formando a fase α do carbeto de silício (α-SiC). sinterização de fase líquida. Rio de Janeiro, 2010. 64 p. Tese
Explorar plenamente o potencial do SiC é um desafio de Doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
devido às dificuldades encontradas no processo de Disponível em <
sinterização, apesar das suas notáveis propriedades físicas e http://monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli1000
químicas. A densificação do material cerâmico composto de 3420.pdf>.
Carbeto de Silício apresenta desafios devido à sua baixa [10] MEDEIROS, N. M. N. Obtenção de carbeto de silício
difusividade, mesmo quando granulometrias finas são através da redução carbotérmica de sílica via irradiação de
utilizadas. Assim, a escolha da composição química e do micro-ondas. Florianópolis, 2016. 38 p. Trabalho Final de
método de processamento é determinada com base nas Curso. Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível
aplicações e geometrias desejadas. Foram abordados os em <
quatro principais métodos de sinterização empregados, cada https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/16
um resultando em propriedades e microestruturas distintas. 7255/TCC%202%20-
De maneira geral, o carbeto de silício (SiC) apresenta NAT%C3%81LIA%20MARIA%20NUNES.pdf?sequence=1&i
atributos como elevada dureza e resistência mecânica, alto sAllowed=y >.
ponto de fusão, resistência química e excelente capacidade de [11] NASSAU, K. Synthetic Moissanite: a new man-made
resistir a choques térmicos e à oxidação. No entanto, é jewel. Current Science, v. 79, n. 11, Dec. 2000.
importante ressaltar que certas propriedades são [12] SANTANA, J. G. A. Desenvolvimento de cerâmicas
significativamente influenciadas pelo método de multicamadas de carbeto de silício destinadas a aplicações
processamento adotado. A tenacidade à fratura, o módulo de térmicas. Guaratinguetá, 2010. 202p. Tese de Doutorado.
elasticidade, a resistência à fluência e a resistência à flexão, Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Engenharia do
por exemplo, são características que podem variar Campus de Guaratinguetá. Disponível em:
consideravelmente dependendo das técnicas de fabricação [13] GUICHELAAR, P.J. Acheson Process. Carbide, Nitride
utilizadas. Em resumo, o carbeto de silício (SiC) é um material and Boride Materials Synthesis and Processing. 1. ed.
notável que apresenta uma variedade de propriedades Michigan: Chapman & Hall, 1997
altamente interessantes para aplicações em engenharia. Essas [14] Caio Pezzi Chimelli Processamento, caracterização e
excelentes propriedades são atribuídas às diversas opções propriedades do carbeto de silício (SiC) obtido por
microestruturais oferecidas pelo SiC. Tanto o SiC sinterizado sinterização em fase líquida. Rio de Janeira, RJ, Brasil.
convencional quanto o SiC ligado por reação são reconhecidos Dezembro, 2010
por sua extrema dureza, resistência e capacidade de suportar [15] KOICHI YAMADA & MASAHIDE MOHRI. Properties
abrasão, corrosão, oxidação e choque térmico. and Applications of Silicon Carbide Ceramics S. Sömiya et al.
Com base em tudo que foi exposto, podemos afirmar que (eds.), Silicon Carbide Ceramics—1 © Elsevier Science
as propriedades dos materiais cerâmicos estão diretamente Publishers Ltd 1991.
relacionadas às características da microestrutura, as quais, [16] Mechanical Behavior of Material. Marc Andre Meyers
por sua vez, são influenciadas pelas características e pelo University of California, San Diego Krishan Kumar Chawla
processo de fabricação do material, como propriedades da University of Alabama at Birmingham
matéria-prima, aditivos, condições de moldagem e
sinterização, entre outros fatores.

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