A história da educação brasileira é marcada por contrastes entre educação técnica e profissional para os pobres e educação básica para as elites. Ao longo do século XX, a educação profissional oscilou entre um caráter assistencialista e tendências tecnicistas. Atualmente, defende-se uma educação profissional voltada para a cidadania e o "mundo do trabalho", não para o "mercado de trabalho", como parte de um projeto democrático e de equidade social.
Descrição original:
Título original
DESAFIOS DA IMPLANTAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DA EDUCAÇÃO TÉCNICA E PROFISSIONAL NO BRASIL
A história da educação brasileira é marcada por contrastes entre educação técnica e profissional para os pobres e educação básica para as elites. Ao longo do século XX, a educação profissional oscilou entre um caráter assistencialista e tendências tecnicistas. Atualmente, defende-se uma educação profissional voltada para a cidadania e o "mundo do trabalho", não para o "mercado de trabalho", como parte de um projeto democrático e de equidade social.
A história da educação brasileira é marcada por contrastes entre educação técnica e profissional para os pobres e educação básica para as elites. Ao longo do século XX, a educação profissional oscilou entre um caráter assistencialista e tendências tecnicistas. Atualmente, defende-se uma educação profissional voltada para a cidadania e o "mundo do trabalho", não para o "mercado de trabalho", como parte de um projeto democrático e de equidade social.
por Silvana Soares Lacerda - sexta, 15 mar 2024, 09:09
A história da educação brasileira é marcada por diversos contrastes nos conteúdos,
currículo, formas de acesso e permanência. Os acontecimentos mundiais como a globalização são o marco para as significativas mudanças partir da nova ordem neoliberal fundada no individualismo e competitividade. O resultado disso foi o sucateamento e privatização, com intervenção mínima do Estado sobre a sociedade civil. No campo político, disputas de poder entre profissionais liberais, ruralistas, militares e religiosos. Nada diferente do que acontece hoje. No campo educacional, tendências pedagógicas conservadoras e progressivas. No campo científico, visões epistemológicas positivistas e humanistas. Nesse cenário de guerra surge a Educação Profissional Brasileira, marcada pela dualidade que sempre permeou as relações de poder no Brasil.
No início do Séc. XX, a Educação Profissional no Brasil adotou um caráter
assistencialista com base de instrução teórica e prática para o ensino industrial. O Projeto Pedagógico era pautado na transmissão repetitiva de métodos e práticas de ensino centradas no professor e em manuais técnicos. Os meninos "pobres e humildes" eram incumbidos de exercer ofícios de carpintaria, tornearia, alfaiataria, sapataria, entre outros. Do outro lado, a Educação Básica era propedêutica para elites com ensino das Ciências, Letras e Artes. O poder aquisitivo garantia a formação intelectual clássica nas escolas privadas e os sem poder aquisitivo dispunham de formação intelectual técnica nas escolas públicas. No início da década de 20, houve um esforço público para modificar o caráter assistencialista para preparar operários para a formação profissional. Surge o movimento da Escola Nova, resistente à ordem moral e religiosa com incentivos à implantação de escolas públicas com ensino laico voltado para a cidadania e conhecimento científico.
Os Anos de Chumbo (1964-1985) foram marcados pela tendência tecnicista nas
escolas. Houve grande estímulo à implantação de multinacionais, a criação do vestibular classificatório, a substituição de disciplinas humanistas por nacionalistas e moralista, a proibição de manifestação pública dos professores, estudantes e funcionários das escolas, a burocratização do ensino, o controle dos conteúdos, o direcionamento e planejamentos educacionais e por fim; o uso da repressão. Notamos uma tradição instrumentalista das relações entre escola e as classes dominantes. Boudieu & Passeron (1975) já denunciavam o ofuscamento da subjetividade dos indivíduos pelo poder de dominação da lógica totalizante da educação técnico - profissionalizante.
Atualmente, a Educação Profissional se estrutura em um conceito de Politecnia, onde
prevalece a ideia de multiplicidade das atividades pensadas a partir da apreensão do real, potencializando o ser humano. Dessa forma, podemos escolher entre ser artista, comerciante, operário, político, servidor público, exercendo a cidadania e superando a razão instrumental em um processo educacional que estimula a imaginação, a criação, a crítica e a autocrítica. A Educação Profissional se recusa formar "consumidores" em lugar de cidadãos. Para isso, todos enquanto agentes políticos, devemos estar comprometidos com um projeto democrático, de valorização da inclusão e equidade em uma sociedade fundada na igualdade política, econômica e social com uma escola vinculada ao "mundo do trabalho" e não ao "mercado de trabalho". É um caminho árduo e possível à medida que nossas experiências vivenciadas em todos os espaços da sociedade, de forma articulada, exercerem função educadora na busca da construção de uma cultura fundada na solidariedade entre indivíduos, povos e nações.
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