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Cartilha Programa Agrário Do MST - 2 Versão 07 Março 24
Cartilha Programa Agrário Do MST - 2 Versão 07 Março 24
Reforma Agrária
Popular
Pedidos: secgeral1@mst.org.br
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Sumário
Apresentação ................................................................................05
3
3. Água: um alimento da natureza em benefício
de toda as pessoas ............................................................ 21
4. A organização da produção de alimentos .........................23
5. Energia: desenvolver novas fontes sustentáveis
sob controle do povo ........................................................24
6. Agroecologia: um jeito de produzir na
agricultura brasileira .........................................................24
7. A política agrícola: o estado a serviço das
necessidades do povo .......................................................26
8. Educação do campo.......................................................... 27
9. O assentamento e as comunidades rurais
devem ser um lugar bom de viver, com vida
digna e saudável .............................................................. 29
10. Saúde, bem-estar e qualidade de vida .......................... 31
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Apresentação
Foto: Leonardo Milano / Arquivo MST
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I - Os paradigmas da Reforma Agrária Popular
Foto: VI Congresso Nacional MST - Mídia Ninja
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ra de subordinação aos interesses do capital internacional, mais
uma vez mostrou-se incapaz de liderar um projeto de desen-
volvimento nacional. E, além da subserviência e incapacidade,
a burguesia passou a atuar ativamente para bloquear qualquer
alternativa de desenvolvimento econômico que atenda, priori-
tariamente, os interesses e as necessidades do povo brasileiro e
que tenha um protagonismo da classe trabalhadora.
Contraditoriamente, ao eliminar a possibilidade de uma
Reforma Agrária clássica burguesa, criaram-se as condições
objetivas e subjetivas para que as classes subalternas do cam-
po elaborassem suas propostas de democratização do acesso
às terras agricultáveis e de promoção de um desenvolvimento
econômico, social, político e cultural do campo.
A sua elaboração teórica, o MST a denominou de Reforma
Agrária Popular. Não é uma proposta de Reforma Agrária social-
ista. Mas também não é uma reforma agrária burguesa.
A Reforma Agrária Popular se propõe a transformar os
camponeses e camponesas em protagonistas de suas lutas e
conquistas, superando os preconceitos políticos que os considera
uma expressão do atraso tecnológico, cultural e político e, por-
tanto, com potencial anti-revolucionário.
Centrada no binômio da democratização das terras e
num modelo de desenvolvimento da agricultura que priorize a
produção de alimentos saudáveis e a preservação ambiental, a
Reforma Agrária Popular se propõe: a) enfrentar e superar as
mazelas criadas pelo capitalismo que penalizam o povo brasilei-
ro; b) obter melhores condições de vida para os camponeses; c)
promover um desenvolvimento econômico sustentável; d) aper-
feiçoar e fortalecer os mecanismo democracia e participação
popular no destino do país; e) contribuir na construção de um
projeto de desenvolvimento do país, centrado na Justiça Social e
Soberania Nacional.
Em síntese, queremos contribuir de forma permanente
na construção de uma sociedade livre da exploração e das
opressões, articulada ao debate estratégico de um Projeto Popu-
lar para o Brasil.
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Juntam-se a esses objetivos um conjunto de elementos,
tidos como paradigmas, que buscam dar unidade entre uma
visão de mundo e as propostas político-econômicas apresenta-
das no Programa de Reforma Agrária Popular.
Assim, a Reforma Agrária Popular é alicerçada nos
seguintes paradigmas:
1. A terra
A Terra é um bem da humanidade. Juntos, a Terra e a Vida,
são nossos bens mais preciosos. É nossa casa comum, um organ-
ismo vivo que nos garante o equilíbrio natural da vida.
A água, as florestas, os minérios, a biodiversidade, são
bens da natureza e devem ser tratados como um direito de todos
os povos. Eles não podem ser tratados como mercadorias e nem
ser objeto de apropriação privada. E, portanto, lutaremos contra
apropriação privada da natureza promovida pelos capitalistas.
Isso exigirá considerar a natureza como portadora de di-
reitos, negando as imposições ideológicas e econômicas do capi-
tal de considerar a natureza como mercadoria. Exigirá, também,
ressignificar a conexão entre ser humano-agricultura-natureza.
Por isso propomos estabelecer e estimular princípios
ecológicos, o uso de práticas agrícolas comprometidas com a
vida, a valorização dos saberes e técnicas tradicionais e aos va-
lores culturais e sociais que alimentam as práticas de cuidado,
afeto, solidariedade e coletividade entre os povos, respeitando
seus modos de viver e existir.
2 . A emancipação humana
A Reforma Agrária Popular não é um processo apenas
produtivo e ambiental. É, também, um processo, permanente, de
emancipação humana e social.
Os camponeses e camponesas exercem duas das mais no-
bres e dignas missões de um ser humano: produzir alimentos e
ser os guardiões da biodiversidade. É preciso, a partir da con-
vivência social e com a natureza, possibilitar a formulação e a
prática de novos valores culturais. Valores que promovam uma
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relação harmoniosa do ser humano consigo mesmo, entre todos
os seres humanos e destes com a natureza.
É a realização plena das potencialidades humanas, inter-
ditadas pelo modelo de desenvolvimento capitalista. O capitalis-
mo perdeu seu potencial civilizatório e o seu desenvolvimento
promove a barbárie.
A Reforma Agrária Popular se propõe a construir as
condições concretas para promover processos de desenvolvi-
mento das potencialidades do ser humano e sua permanente hu-
manização.
Queremos que as famílias assentadas nas áreas da Refor-
ma Agrária Popular tenham vida digna, promovam um desen-
volvimento do campo sustentável, superem as imposições ditadas
pela propriedade privada da terra e promovam uma sociabilidade
harmoniosa entre os seres humanos e com a natureza.
3. O Estado
Necessitamos de um Estado, liderado por um governo
popular, que atenda as reais necessidades do povo brasileiro,
tenha autonomia em relação as forças do mercado capitalista e
crie canais de participação popular para definir investimentos,
prioridades públicas e o destino do país.
Compreender o Estado como responsável pelo desen-
volvimento solidário, social, redistribuidor de riquezas e con-
strutor de uma sociedade justa, igualitária e democrática, co-
ordenado por um governo popular.
É necessário um Estado em que os poderes institucionais
representem a vontade e o poder do povo e com novas formas de
participação popular no poder.
A realização da Reforma Agrária Popular exige essas
mudanças democráticas na forma de organização e funciona-
mento atual do Estado. A democratização do Estado será uma
conquista do povo brasileiro.
Assim, Reforma Agrária Popular contribuirá na con-
strução de um aparato estatal que priorize o bem-estar do povo,
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promova um desenvolvimento econômico ambientalmente sus-
tentável e assegure a soberania nacional do nosso país.
4. A classe trabalhadora
A classe trabalhadora e suas organizações são os princi-
pais protagonistas em promover as transformações estruturais
em nosso país. Aprofundar a democracia; promover o combate
à pobreza e à desigualdade social; impulsionar um desenvolvi-
mento econômico ambientalmente sustentável e socialmente
justo; fortalecer a Reforma Agrária Popular; e, assegurar a so-
berania nacional, devem ter a iniciativa e a participação ativa da
classe trabalhadora.
1. A distribuição da terra
Acampamento Cícero Guedes/RJ. Foto: Clarice Lissovsky
Precisa atender a
todas as famílias que
quiserem trabalhar
na terra e viver no
campo. Os assenta-
mentos precisam ser
territórios livres de
exploração, opressão e
injustiças, controlados
pelo povo, onde todos tenham uma vida boa e saudável.
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2. A defesa da natureza
Nós seres humanos,
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4. Plantio permanente de árvores
Na construção de uma
cultura política ambi-
ental e agroecológica
para as áreas de
reforma agrária, o
plantio de árvores é
um pilar fundamental
5. Escola e cultura
Em todo acampamen-
to e assentamento a
Escola e a Cultura são
construídas em comu-
nidade. É uma forma
de zelar pelo conheci-
Foto: Alice Oliveira
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6. Energia sustentável a serviço do povo
A energia é fundamen-
tal para o bem estar da
vida das pessoas. Para o
transporte, comunicação,
mover máquinas e pro-
duzir. Nossos territórios
possuem muitas alterna-
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10. Uma vida baseada na solidariedade
Toda caminhada
histórica da classe
trabalhadora e de suas
organizações se forta-
leceram na prática da
18
III - Programa de Reforma Agrária Popular
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1.7 Estabelecer um limite máximo ao tamanho da proprie-
dade das terras agrícolas no Brasil, a um único proprietário;
1.8 Combater todas as formas de cobrança de renda da terra e/
ou arrendamento de áreas rurais;
1.9 Garantir que haja consulta por parte dos governos a todas
as famílias atingidas em caso de obras públicas, para que os
projetos tenham o menor impacto social e ambiental possível.
E se houver necessidade da obra, que lhes seja assegurado o
direito a terra, nas mesmas condições em que viviam e indeni-
zação por perdas e danos, de forma justa, pelo seu trabalho e
benfeitorias construídas;
1.10 Estabelecer que todas as famílias beneficiadas pela refor-
ma agrária receberão títulos de concessão de direito real de
uso, com direito à herança familiar, com dupla titularidade,
homem e mulher, estando proibida a venda das parcelas de
terra de reforma agrária. A titularidade deve incluir casais ho-
moafetivos sem discriminação, e em casos de violência con-
tra a mulher, que as mesmas tenham prioridade de permanên-
cia, com a exclusão do lote do agressor;
1.11 Assegurar em cada assentamento de Reforma Agrária, ter-
ras de uso coletivo que possam ser destinadas à juventude,
para trabalho cooperado na produção agrícola, juntamente
com políticas que reconheçam a juventude como beneficiários
da reforma agrária;
1.12 Não será permitido desenvolver projetos de extração mine-
ral por parte de empresas nas áreas de assentamento e se
caso houver alguma necessidade de interesse público, deve
ser implementado por empresa estatal. A comunidade deve
participar da construção e condução da proposta. Os minérios
devem ser utilizados de forma sustentável, em benefício da co-
munidade e de todo o povo;
1.13 O uso e posse da terra tem que estar comprometido com a
defesa da natureza e uma produção em equilíbrio, convivência
e conservação dos bens naturais.
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2 - As sementes e mudas são a base de toda agricultura
2.1 As sementes são um patrimônio dos povos a serviço da hu-
manidade e não pode haver sobre elas propriedade privada ou
qualquer tipo de controle econômico e tecnológico, e cobrança
de royalties;
2.2 Preservar, multiplicar e socializar as sementes “crioulas”, se-
jam tradicionais ou melhoradas, e as sementes florestais nati-
vas, de acordo com a biodiversidade dos nossos biomas, com
incentivo à organização de casas de sementes e viveiros de
mudas nativas e frutíferas, dos alimentos da cultura brasileira
e da vegetação nativa dos biomas, para atender as necessi-
dades de produção dos camponeses;
2.3 Defender a soberania nacional e popular sobre produção
e multiplicação de todas as sementes e mudas nativas e
frutíferas, alimentares e medicinais sem controle econômico
e tecnológico, incentivando a preservação das sementes criou-
las, as sementes e mudas de florestas nativas de acordo com a
biodiversidade dos biomas brasileiros.;
2.4 Estabelecer a democratização ao acesso e proibição dos
monopólios. Proteger as sementes, assim como legislação
apropriada sobre as sementes exterminadoras e outras vari-
ações geneticamente modificadas que prejudicam a vida e o
meio ambiente.
2.5 Combater os transgênicos e agrotóxicos e plantar árvores
todo tempo.
3- Água: um alimento da natureza em benefício de todas as
pessoas
3.1 A água é um bem da natureza e deve ser utilizada em benefí-
cio de toda a humanidade. Estabelecer que a posse e o uso da
água estejam subordinados aos interesses e às necessidades
de toda população, portanto, não pode ser propriedade pri-
vada. Todos os reservatórios de água, barragens, açudes e in-
clusive subterrâneos devem ser de domínio público;
3.2 Adotar uma política específica de proteção dos aquíferos, e
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das nascentes de todas as bacias hidrográficas, especialmente
as do Cerrado;
3.3 Proibir qualquer tipo de agricultura que comprometa as nas-
centes, os recursos hídricos e recuperar as nascentes atingidas
pelos pela mineração, agronegócio e empresas que despejam
seus dejetos nos rios;
3.4 Garantir o abastecimento de água potável e sem agrotóxi-
cos, promovido pelo Estado e suas empresas públicas a todo
o povo brasileiro;
3.5 O Estado deve estabelecer um controle rígido sobre os
agrotóxicos presentes na água que abastece as cidades;
3.6 O Estado deve adotar políticas que garantam aos povos do
campo, das águas e das florestas as condições para o acesso e
uso adequado das águas, sobretudo dos reservatórios públi-
cos como barragens, represas, lagos, projetos de irrigação,
para consumo e irrigação produtiva. Que se adotem políticas
de proteção e manejo das fontes e mananciais, promovendo o
reflorestamento de árvores nativas nas margens de córregos,
lagoas e rios;
3.7 Implementar um amplo programa de manejo sustentado
da água, que viabilize a sua conservação natural e a infraes-
trutura de captação, armazenamento e uso sustentável para a
produção agrícola e animal;
3.8 Garantir um desenvolvimento ecológico adaptado às es-
pecificidades de cada um dos biomas e ecossistemas do ter-
ritório brasileiro, a saber: Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica,
Cerrado, Pantanal, Pampa, dando a devida atenção aos prob-
lemas graves com os ecossistemas como Mangues, Co- cais,
Araucárias;
3.9 Implementar políticas de sustentabilidade e de convivência
nos períodos de seca, em especial no semiárido;
3.10 Implementar programas de aproveitamento da água da
chuva, para abastecimento das moradias, comunidades, agri-
cultura e agroindústrias.
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3.11 Lutar pelo desmatamento zero em todos biomas do Brasil.
4- A organização da produção de alimentos
4- A organização da produção de alimentos
4.1 Priorizar a produção de alimentos saudáveis para todo o
povo brasileiro, produzidos de forma agroecológica e diversi-
ficada, garantindo o princípio da soberania alimentar, livres de
agrotóxicos e de sementes transgênicas;
4.2 Organizar a produção e comercialização com base em todas
as formas de cooperação agrícola, como formas tradicionais
de organização comunitária, associações, mutirões, cooperati-
vas, empresas públicas e empresas sociais;
4.3 Organizar agroindústrias na forma de cooperativas e sob
controle dos/as camponeses/as, nos assentamentos e em to-
das as regiões, com foco na inserção da juventude, das mul-
heres e LGBTI+;
4.4 Garantir uma política de Estado de compra e distribuição da
produção de alimentos da agricultura familiar;
4.5 Instalação de empresas públicas de serviços, com a par-
ticipação dos trabalhadores do campo, para garantir preços,
armazenamento e a distribuição da produção de alimentos
dos/as camponeses/as;
4.6 Construir bancos de alimentos próximos aos grandes centros
urbanos para contribuir no combate à fome e na logística de
distribuição;
4.7 Organizar instituições para facilitar a certificação dos produ-
tos orgânicos da agricultura camponesa, fortalecendo os sis-
temas participativos de certificação orgânica e apoio direto às
famílias para realizarem a transição agroecológica;
4.8 Lutar por política públicas para atender as necessidades de
todos os camponeses do Brasil, em especial ter recursos sufi-
ciente para o PAA, PNAE, cozinhas solidarias, etc;
4.9 Criar espaços nas ATERs e outras empresas públicas para
inserção e emprego da juventude formada tecnicamente nas
áreas da agricultura;
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4.10 Promover a formação técnica na área de beneficiamento
de alimentos de forma artesanal ou agroindustrializada para
camponeses/as, em especial para a juventude;
4.11 Incentivar cursos técnicos de agroecologia em todos os
níveis nas áreas de assentamento, vinculadas às escolas do
campo.
5- Energia: desenvolver
desenvolvernovas fontes
novas sustentáveis
fontes sob
sustentáveis sob
controle do povo do povo
O desenvolvimento das diferentes formas de energia é funda-
mental para o avanço das forças produtivas. Sua importân-
cia estratégica no atual modo de produção está relacionada
com a nossa construção de soberania popular e da utilização
do desenvolvimento tecnológico para o atendimento das ne-
cessidades humanas, por isso temos a necessidade de:
5.1 Garantir acesso universal e a soberania popular sobre a ener-
gia em cada comunidade e em todos os municípios brasileiros;
5.2 Desenvolver de forma cooperativada a produção de energia
a nível local, com as mais diferentes fontes de recursos reno-
váveis para atender as necessidades de todo povo brasileiro;
5.3 Desenvolver formas viáveis de produção de energia a partir
de cadeias produtivas, como criação de animais e o reuso dos
resíduos, considerando a realidade de cada território e a matriz
energética disponível;
5.4 Implementar políticas e programas que assegurem a
produção, distribuição e uso de energia para a população do
campo;
5.5 Desenvolver programas de soberania energética em todas
as comunidades rurais do país, com base em fontes alter-
nativas renováveis, como vegetais não alimentícios, energia
solar, hídrica e eólica de forma cooperativada e pública;
6- Agroecologia: um jeito de produzir na
agricultura brasileira
6.1 Garantir políticas de créditos, financiamentos subsidia-
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dos, pesquisas e aprendizados tecnológicos voltados para a
produção agrícola de matriz agroecológica com o incentivo à
adoção de técnicas que aumentem a capacidade produtiva das
comunidades, em equilíbrio com a natureza;
6.2 Fortalecer a ciência, pesquisa e estudo com base na produção
da agricultura camponesa e familiar, através do fortalecimento
da atuação das universidades e Institutos Federais, da exten-
são rural, da pesquisa e das escolas de agroecologia e desen-
volver centros de pesquisas, qualificação técnica e intercâm-
bio de conhecimentos, voltados para as atividades agrícolas,
a produção de alimentos, agroindústrias e a conservação am-
biental;
6.3 Ter políticas de incentivos e produção de máquinas, equipa-
mentos e ferramentas agrícolas adequadas às necessidades e
ao bem estar dos/as camponeses/as e dos trabalhadores ru-
rais, de acordo com as realidades regionais e conservação am-
biental;
6.4 Desenvolver um programa nacional de reflorestamento, com
árvores nativas e frutíferas e de manejo florestal nas áreas
de assentamentos, áreas degradadas pelo agronegócio e nas
áreas controladas pelos povos indígenas e comunidades tradi-
cionais, com cadeias produtivas vinculadas à viveiros, coletas
de sementes, quintais produtivos, estimulando processos que
conservem os bens comuns da natureza e gerem renda e in-
tegradas com a produção de alimentos;
6.5 Fomentar programas voltados para os sistemas produtivos
que tenham como central o componente arbóreo, como agro-
florestas, sistemas silvipastoris, quintais produtivos e policul-
tivos;
6.6 Combater a propriedade privada intelectual e de patentes de
sementes, animais, recursos naturais, biodiversidade ou siste-
mas de produção;
6.7 Combater a produção e comercialização de agrotóxicos e de
sementes transgênicas, bem como impedir a pulverização aé-
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rea de veneno em todo o país, a considerar como os agrotóxi-
cos contaminam especialmente os cursos da água, o solo e a
atmosfera;
6.8 Combater o desmatamento e as queimadas em todos os bio-
mas brasileiros;
6.9 Implementar agroflorestas e formas sustentáveis de irri-
gação;
6.10 Reorganizar e reestruturar a pesquisa agropecuária, dirigi-
da prioritariamente para a agroecologia, recuperação ambi-
ental, na produção de alimentos, substituição dos agrotóxicos
e as melhorias genéticas em equilíbrio com a natureza e em
consonância com as necessidades da agricultura camponesa;
6.11 Assegurar que a assistência técnica, a transferência de tec-
nologias, o fomento e extensão rural tenham como orientação
política os princípios da democratização dos conhecimentos,
o favorecimento de intercâmbios e o estímulo à criatividade
dos camponeses, e o fortalecimentos de saberes tradicionais
acerca do manejo agrícola de cada bioma;
6.12 Organizar o fomento e a instalação de empresas públicas
e cooperativas de camponeses/as para produção de insumos
agroecológicos e instalar unidades de transformação de re-
síduos orgânicos das cidades em fertilizantes orgânicos;
6.13 Organizar e ampliar o maior número possível de cursos téc-
nicos e superiores de agroecologia em todas as regiões do país;
7- A política agrícola: o estado a serviço das necessidades do
povo
7.1 Os instrumentos de política agrícola – garantia de preços ren-
táveis para o agricultor, compra antecipada de toda produção
de alimentos dos/as camponeses/as, crédito rural adequado,
seguro rural, assistência tecnológica, armazenagem – de-
vem incentivar a agricultura camponesa e agroecológica na
produção de alimentos saudáveis a todas as famílias campone-
sas, especialmente mulheres e jovens;
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7.2 Garantir, através de políticas públicas, que todos os cam-
poneses e camponesas tenham acesso aos meios de produção
– máquinas adequadas, equipamentos, insumos – necessários
para as atividades agrícolas e preservação ambiental;
7.3 Os/as camponeses/as e trabalhadores/as assalariados/ as
devem ter participação ativa na formulação de todas as políti-
cas públicas para a agricultura;
7.4 Assegurar políticas públicas, com a participação ativa dos
camponeses, que atendam as necessidades das comunidades
para produzir e comercializar os alimentos, que as mulheres e
a juventude sejam sujeitas nesse processo;
8 - Educação do Campo
O acesso à educação pela classe trabalhadora é uma das con-
dições básicas da construção do projeto de Reforma Agrária
Popular. Priorizamos a luta pelo acesso à educação escolar,
mas também o acesso a diferentes tipos de conhecimento e
de bens culturais; à formação para o trabalho e para a partici-
pação política; ao jeito de produzir e de se organizar; à apren-
der a se alimentar de modo saudável; e à prática dos valores
humanistas e socialistas que defendemos.
8.1 Implementar um programa massivo de alfabetização de to-
dos os jovens e adultos do campo, bem como ampliar o acesso
à educação técnica e superior aos sujeitos camponeses;
8.2 Universalizar o acesso à educação básica (educação infantil,
ensino fundamental, ensino médio, Educação de Jovens, Adul-
tos e Idosos) pública, gratuita e de qualidade social pela ga-
rantia de:
a) construção e manutenção de escolas e centros infantis em
todas as áreas de Reforma Agrária;
b)transporte intra-campo que garanta o fluxo de estudantes
entre escolas das próprias comunidades do campo;
c) estrutura física adequada nas escolas que garantam o direito
à literatura, às linguagens artísticas e culturais e a experi-
27
mentação agrícola;
d)atendimento especializado às pessoas com deficiência por
equipamentos localizados no próprio campo;
e) concursos específicos para atuação dos professores em es-
colas do campo, garantindo permanência de 40hs se- manais
do professor em uma mesma escola e condições de trans-
porte e moradia;
f) processos de formação continuada para os educadores/as
específica para a educação do campo;
8.3 Ampliar o acesso de jovens e adultos à educação profissional
de nível médio e superior, fortalecendo as demandas do pro-
jeto de Reforma Agrária Popular e de desenvolvimento do con-
junto das comunidades camponesas;
8.4 Implantar dezenas de escolas de agroecologia e IFETs por
todo interior do país;
8.5 Ampliar o acesso de jovens e adultos camponeses/as à edu-
cação superior em diferentes áreas, principalmente mulheres,
pessoas negras e pessoas trans. Incluindo cursos de pós- grad-
uação, garantindo, quando necessário, o regime de alternân-
cia, com hospedagem e alimentação viabilizada por recursos
públicos;
8.6 Expandir a rede universitária e dos institutos federais den-
tro das áreas e regiões da reforma agrária, com ofertas de cur-
sos para as diversas áreas do conhecimento;
8.7 Garantir o acesso de todos jovens do campo a universidade,
através do PRONERA;
8.8 Implementar programas de formação e projetos de experi-
mentação/pesquisa em agroecologia, vinculados a escolas de
educação básica, profissional e superior, com a inclusão da
agroecologia como componente curricular e como matriz tec-
nológica no processo de ensino, pesquisa e extensão no desen-
volvimento pedagógico;
8.9 Garantir a implementação e uso de materiais didáticos con-
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textualizados com a Educação do Campo, a exemplo dos livros
didáticos;
8.10 Construir o Projeto Político Pedagógico das escolas contex-
tualizado com as práticas agroecológicas e as realidades socio-
culturais dos biomas, com a participação coletiva da comuni-
dade onde a escola está inserida e que considerem as práticas
agroecológicas, culturais, de vivência dos valores de respeito à
diversidade sexual e de gênero.
8.11 Garantir a inclusão de temas relacionados à diversidade
sexual e de gênero nos currículos escolares, combatendo toda
expressão de LGBTIfobia na educação e garantindo que todas
as pessoas possam permanecer na escola sem sofrer violência
ou constrangimento pela sua orientação sexual ou identidade
de gênero.
9- O assentamento e as comunidades rurais devem ser
um lugar bom de viver, com vida digna e saudável
9.1 Garantir as condições de melhoria de vida das pessoas em
todas as dimensões: de moradia, de infraestrutura, de comu-
nicação, de geração de renda, de fortalecimento da identidade
camponesa, da arte e da cultura como direito humano. Com-
bater todas as formas de violências, construir novas relações
sociais e de respeito à identidade de gênero;
9.2 Desenvolver um amplo programa de construção e melho-
ria das moradias no campo, respeitando as especificidades
da cultura camponesa e clima de cada região, conjugado ao
acesso à energia elétrica de fontes alternativas, à água potável,
saneamento básico, transporte e estradas trafegáveis;
9.3 Estimular formas de sociabilidade, com moradias dignas, or-
ganizadas em povoados, comunidades, núcleos de mora- dias
ou agrovilas, de acordo as culturas regionais;
9.4 Assegurar o acesso à internet e implantar a organização de
bibliotecas, telecentros, espaços culturais, esporte e de lazer,
centros de memória em todas as áreas de assentamentos, vol-
tados para o acesso, difusão, produção e inter- câmbios espor-
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tivos, artísticos e culturais;
9.5 Garantir o transporte público e estradas vicinais em con-
dições digna e segura, para a população das áreas rurais;
9.6 A organização social, a infraestrutura básica e o envolvimen-
to de toda comunidade, vai gerar melhores condições de segu-
rança a todos/as;
9.7 Democratizar os meios de comunicação, dando condições
para que as comunidades rurais tenham condições de acessar
e construírem Rádios Sem Terra, TVs comunitárias, redes soci-
ais, jornais e todas as outras formas de comunicação;
9.8 Considerar a internet como infraestrutura fundamental para
consolidação dos assentamentos, com sua implantação estan-
do sob responsabilidade do Estado e de empresas públicas,
garantindo o acesso à internet no campo para escolas, coop-
erativas, centro comunitários e unidades familiares, assegu-
rando um serviço de qualidade e a um custo acessível;
9.9 Defender a soberania tecnológica, por meio da qual as in- for-
mações e dados produzidos e pertencentes a população bra-
sileira, estarão sob controle destas;
9.10 Garantir formas de geração de renda, socialização do tra-
balho e os cuidados domésticos através da construção de
restaurantes/cozinha e lavanderias comunitárias/coletivas e
cooperadas, bem como cirandas infantis/creches nas comuni-
dades, vinculadas às associações e cooperativas, como forma
de socializar o trabalho e os cuidados domésticos, bem como
geração de renda.
9.11 Desenvolver uma política permanente de estímulo e fortale-
cimento da produção cultural no campo que valorize a identi-
dade camponesa, permita acesso e forme agentes da cultura
popular também no intuito de geração de renda, mas pelo
princípio da arte e a cultura enquanto direitos inalienáveis
do ser humano, desde a literatura, a culinária, teatro, dança,
e tantas outras linguagens humanizadoras e emancipatórias;
9.12 Implementar políticas de enfrentamento permanente-
30
mente a todas as formas de exploração, preconceito social e
violências, para que não ocorra discriminação de gênero, ger-
ação, etnia, raça, religião, orientação sexual e identidade de
gênero, buscando construir relações sociais e culturais livres
das agressões;
9.13 Garantir o respeito à identidade de gênero das pessoas no
acesso a todos os espaços, tratando pelo gênero e nome so-
cial indicados pelo sujeito. Impedir qualquer discriminação
no acesso aos banheiros, alojamentos, ou quaisquer outros lu-
gares que tenham separação por gênero. Criar como uma ter-
ceira possibilidade, espaços sem esta distinção.
10 - Saúde, bem-estar e qualidade de vida
Essa dimensão da vida se coloca na relação entre cuidados
individuais e coletivos do ser humano, construindo um projeto
de sociedade saudável, humanizada e emancipada. Para tanto,
há necessidade de políticas públicas na área da saúde que seja
preventiva, não apenas curativa. Que fortaleça o SUS e sua uni-
versalidade, acesso aos benefícios da previdência e assistência
social, reconhecimento à ancestralidade e conhecimentos pop-
ulares, combater o uso de agrotóxicos e viabilizar saneamento
básico no campo.
10.1 A saúde e o bem-estar são parte da promoção de uma vida
digna em sua totalidade, e não devem ser entendidas apenas
no cuidado de enfermidades. A saúde expressa formas e or-
ganizações de cuidados coletivos e individuais do ser humano
e precisa ser uma força mediadora da cultura de relações, para
um projeto de sociedade saudável, vivo e libertador;
10.2 Garantir a toda população do campo acesso e atenção de
saúde, preventiva, pública, gratuita e de qualidade;
10.3 Fortalecer o Sistema Único de Saúde e sua universalidade,
com efetivação, por parte do Estado, da política em saúde
diferenciada aos povos do campo, das águas e das florestas e
à todos os seus sujeitos (gestantes, idosos, mulheres, crianças
e LGBTI+), garantindo o acesso aos equipamentos públicos
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de saúde no campo de forma integral, desde os atendimen-
tos primários até a promoção de saúde de forma preventiva e
saúde bucal;
10.4 Assegurar que toda a população camponesa tenha acesso
aos benefícios da previdência social;
10.5 Ampliar os direitos a assistência social para as pessoas que
moram no campo e se encontram impossibilitados de traba-
lhar.
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IV - Sugestões de Ações Concretas
1. Sobre o debate
Recomendamos que organizem grupos, núcleos e façam a
leitura coletiva desta cartilha.
No debate procurar entender o que se propõem e que outros
temas seriam importante acrescentar.
2. Questões para Debater:
1. Que ajustes e novas propostas deveríamos incorporar no
programa de reforma agrária popular?
2. Como ir construindo na prática o programa de reforma
agrária popular nos nossos territórios.
3. Que ações concretas vamos fazer para marcar os 40 anos do
MST como parte da construção da Reforma Agrária Popular.
4. Como iremos dialogar com a sociedade e com as forças soci-
ais da região para construção da Reforma Agrária Popular?
3. Ações concretas que marquem esse período.
Pensamos em um processo de debate que seja ao mesmo
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tempo celebrativo e místico de nossos 40 anos, de mobili-
zação massiva da nossa base social, organizativo, educativo
e que fortaleça a pertença ao MST e cultive nossa simbologia
e identidade de classe.
Para isso propomos que o debate em torno do Programa
Agrário, mobilize cada acampamento, assentamento, escolas,
cooperativas, e em todos os nossos territórios também em tor-
no de ações concretas:
1)Mutirões de embelezamento de locais históricos dos assenta-
mentos e acampamentos. Placa de identificação, monumen-
tos, murais com a arte dos 40 anos, mastro com a bandeira
do MST, etc;
2)Plantio de bosques “40 árvores nativas da sua região para os
40 anos do MST” nos assentamentos, acampamentos, cen-
tros de formação, espaços internacionais, nas cooperativas,
escolas etc;
3)Roçados solidários para ações de solidariedade e mesmo
para garantir a alimentação de nosso VII Congresso Nacional;
4)Incentivo ao envio pela nossa base social de cartas ao MST
falando sobre o que significa ser do Movimento, narrando
fatos e vivências de sua trajetória;
5)Promover e ampliar a presença das amigas, dos amigos do
MST nas áreas de reforma agrária. Incentivar Estágios de
Vivências de estudantes;
6)Construir assembleias nos acampamentos e assentamentos,
como método organizativo, usando esse espaço para reani-
mar nossa base apontando nossos limites, desafios, organi-
zando as tarefas e participando de ações massivas;
7)Mobilizar em torno da participação de nossa base criando as
condições para participar do Congresso Nacional. Mesmo os
que não forem como delegados/as se sentirem participantes
do VII Congresso do MST;
A mobilização em torno das ações acima propostas (mas as
famílias e a comunidade pode se desafiar a pensar em outras
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iniciativas) devem partir da militância em torno dos cole-
tivos, setores, direções estaduais e da Brigada Nacional Oziel
Alves. Aproveitar datas comemorativas e mesmo o calendário
de mobilização e lutas para construir esse debate em torno
do Programa Agrário;
Faremos chegar em cada comunidade (assentamento/acam-
pamento) e em cada família, outros materiais como progra-
mas de rádios, audiovisuais, cartazes que mobilizem todos
os nossos territórios nesse grande mutirão nacional em tor-
no de nosso Programa.
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