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Prof. Esp.

Mharkos Caetano
Arte – Teatro Nordestino

Nome: Data: / / 2024

ATIVIDADES DE FIXAÇÃO

O texto a seguir é outro fragmento de Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, uma peça
teatral de fundo popular e religioso. Leia-o e faça as atividades
solicitadas.
João Grilo: Que isso Chicó? (Passa o dedo na garganta). Já estou ficando
por aqui com suas histórias. É sempre uma coisa toda esquisita. Quando
se pede uma explicação, vem sempre com “não sei, só sei que foi assim”.
Chicó: Mas se eu tive mesmo o cavalo, meu filho, o que é que eu vou
fazer? Vou mentir, dizer que não tive?
João Grilo: Você vem com uma história dessas e depois se queixa quando
o povo diz que você é sem confiança.
Chicó: Eu sem confiança? Antônio Martinho está aí para dar as provas do que eu digo.
João Grilo: Antônio Martinho? Faz três anos que ele morreu.

Chicó: Mas era vivo quando eu tinha o bicho.


João Grilo: Quando você teve o bicho? E foi você que pariu o cavalo, Chicó?

Chicó: Eu não. Mas do jeito que as coisas vão não me admiro mais de nada. No mês passado uma mulher
pariu um, na serra do Araripe, para os lados do Ceará.
João Grilo: Isso é coisa da seca. Acaba nisso, essa fome: ninguém pode ter menino e haja cavalo no
mundo. A comida é mais barata e é coisa que se pode vender. Mas seu cavalo, como foi?

Chicó: Foi uma velha que me vendeu barato, porque ia se mudar, mas recomendou todo o cuidado
porque o cavalo era bento. E só podia ser mesmo, porque cavalo bom como aquele eu nunca tinha visto.
Uma vez corremos atrás de uma garrota, das seis da manhã até as seis da tarde, sem parar nem por um
momento, eu a cavalo, ele a pé. Fui derrubar a novilha já de noitinha, mas quando acabei o serviço e
enchocalhei a rês, olhei ao redor, e não conhecia o lugar que estávamos. Tomei uma vereda que havia
assim e saí tangendo o boi...
João Grilo: O boi? Não era uma garrota?
Chicó: Uma garrota é um boi.
João Grilo: E você corria atrás dos dois de uma vez?
Chicó (irritado): Corria, é proibido?
João Grilo: Não, mas eu me admiro eles correrem tanto tempo juntos, sem se apartarem. Como foi isso?
Chicó: Não sei, só sei que foi assim. Saí tangendo os bois e de repente avistei uma cidade. Você sabe que
eu comecei a correr da ribeira do Taperoá na Paraíba. Pois bem, na entrada da rua perguntei a um
homem onde estava e ele me disse que era Propriá, de Sergipe.
João Grilo: Sergipe, Chicó?
Chicó: Sergipe, João [...] eu tinha corrido até lá no meu cavalo. Só sendo bento mesmo!
João Grilo: Mas, Chicó, e o rio São Francisco?

Chicó: Só podia estar seco nesse tempo, porque não lembro quando passei [...] E nesse tempo todo o
cavalo ali comigo, sem reclamar nada.
João Grilo: Eu me admirava era se reclamasse.

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. São Paulo: Agir, 2005


1. Embora o texto teatral se aproxime do narrativo, porque apresenta características como tempo e
espaço, também se distancia dele. Aponte uma característica que mostre o distanciamento existente
entre o texto teatral e a narração.

2. O fragmento lido traz um monólogo, um diálogo ou um aparte? Justifique sua resposta.

3. No texto teatral, as falas dos personagens desempenham papel importante na construção da história.
Como é reproduzida a fala dos personagens: pelo discurso direto ou pelo discurso indireto?

Leia o fragmento a seguir para responder às questões 4 a 6.


João Grilo: Que isso Chicó? (Passa o dedo na garganta). Já estou ficando por aqui com suas histórias. E
sempre uma coisa toda esquisita. Quando se pede uma explicação, vem sempre com “não sei, só sei que
foi assim”.

Chicó: Mas se eu tive mesmo o cavalo, meu filho, o que é que eu vou fazer? Vou mentir, dizer que não
tive?
João Grilo: Você vem com uma história dessas e depois se queixa quando o povo diz que você é sem
confiança.
4. Esse texto reproduz, de forma cômica, uma discussão entre dois personagens: Chicó e João Grilo.
a) Qual é o fato que desperta o conflito entre os personagens?

b) O que deixa o personagem João Grilo irritado?

5. O texto teatral se vale de alguns recursos técnicos específicos do gênero. Há, em algumas passagens,
palavras e frases entre parênteses e/ou grafadas em itálico.
a) Identifique a passagem em que esse recurso técnico pode ser observado.
b) Qual é o nome desse recurso?

c) Explique sua função no texto teatral.

6. Nesse trecho, que tipo de registro linguístico predomina: linguagem formal ou informal? Justifique.

7. Quando lemos um texto teatral, o leitor é o interlocutor das histórias contadas pelos personagens.
Quem é o interlocutor quando o texto teatral é encenado?

8. Embora a história contada por Chicó seja engraçada, há uma passagem na qual se observa uma crítica
ao contexto social vivenciado pelos personagens. Retire-a do texto e comente o problema existente.

Leia mais um trecho da peça Hamlet.

POLÔNIO: Mas, e qual é a intriga, meu senhor?


HAMLET: Intriga de quem?
POLÔNIO: Me refiro à trama do que lê, meu Príncipe.

HAMLET: Calúnias, meu amigo. O cínico sem-vergonha diz aqui que os velhos têm barba grisalha e pele
enrugada; que os olhos dele purgam goma de âmbar e resina de ameixa; que não possuem nem sombra
de juízo; e que têm bunda mole! É claro, meu senhor, que embora tudo isso seja verdadeiro, e eu acredite
piamente em tudo, não aprovo nem acho decente pôr isso no papel. Pois o senhor mesmo ficaria tão
velho quanto eu se, como o caranguejo, se pusesse a avançar de trás pra frente.
POLÔNIO: (aparte.) Loucura embora, tem lá o seu método. (Para Hamlet.) O senhor precisa evitar
completamente o ar, meu Príncipe.
HAMLET: Entrando na tumba?

POLÔNIO: Realmente, não há melhor proteção. (aparte.) Que respostas precisas! Achados felizes da
loucura; a razão saudável nem sempre é tão brilhante. Vou deixá-lo agora e arranjar logo um encontro
entre ele e minha filha. (Para Hamlet.) Meu honrado Príncipe, não quero mais roubar seu tempo.
HAMLET: Não há nada que o senhor me roubasse que me fizesse menos falta. Exceto a vida, exceto a vida,
exceto a vida!
POLÔNIO: Passe bem, senhor.
SHAKESPEARE, William. Hamlet: Príncipe da Dinamarca. Tradução de Millôr Fernandes.

9. Nos textos teatrais não há, geralmente, a presença de um narrador. Como o interlocutor toma
conhecimento dos fatos e das características dos personagens?
a) Por meio da ação dos personagens e dos diálogos entre eles.

b) Pela presença de um diretor que orienta os personagens.


c) Pela mudança de cenários e figurinos durante a peça teatral.
d) Por meio da imaginação proposta na composição teatral.

e) Pela presença de marcadores de cena.

10. Observe a passagem a seguir.


POLÔNIO: (aparte.) Loucura embora, tem lá o seu método.
Qual é a função do aparte no texto teatral?
a) Orientar o diretor a mudar o cenário.
b) Designar determinada parte do espetáculo.

c) Orientar o ator a falar ao público ou a si mesmo.


d) Instruir o ator a trocar o figurino.
e) Determinar a mudança de cena.

11. O trecho citado é composto de falas de personagens. Que recurso foi utilizado para a composição do
texto? Assinale.
a) Discurso indireto.
b) Discurso direto.

c) Discurso direto livre.


d) Discurso indireto livre.
e) Ausência de discurso.
12. No texto teatral, as rubricas orientam os atores na atuação cênica. Identifique, nos fragmentos a
seguir, a passagem que apresenta esse recurso técnico.
a) “POLÔNIO: Mas, e qual é a intriga, meu senhor?”

b) “HAMLET: Entrando na tumba?”


c) “(Para Hamlet.) O senhor precisa evitar completamente o ar, meu Príncipe.”

d) “Exceto a vida, exceto a vida, exceto a vida!”


e) “POLÔNIO: Passe bem, senhor.”

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