Atividades para que a aprendizagem se torne um ato de prazer
• LUCIANE KNÜPPE Licenciada em Pedagogia com Habilitação em Supervisão Escolar. Especialista em Educação Infantil. O que Porto Alegre/RS. E-mail: knuppe@cpovo.net isto quer A interpretação de texto é uma dizer? atividade que ocorre em todos os níveis escolares e, toda vez que a proposta é lançada em sala de aula, é comum ouvirmos murmú- rios, tais como: De novo! Ah! Não! Eu não gosto de interpre- tação de texto! Mas, o que pouco sabemos é sobre as origens deste desconfor- to. Em primeiro lugar, necessita- mos saber o porquê de os alunos resistirem tanto a este tipo de tra- balho. Tais resistências podem ter surgido da maneira como é impos- ta a interpretação, ou pelo fato deles apresentarem pouca con- centração ou, ainda, por não con- seguirem compreender o que le- ram. De acordo com os estudos de Vygotsky, o pensamento não se expressa apenas em palavras, ele se torna presente por meio delas, mecânica da leitura. cação na infância levou-nos à con- criando assim alicerces que geram É comum encontrarmos alu- clusão de que a verdadeira comu- maior compreensão. nos, e até mesmo adultos forma- nicação requer significado, ou Cagliari nos diz que o segredo dos, capazes de lerem reporta- seja, só compreende o que lê aque- da alfabetização é a leitura. Talvez gens em jornais e artigos em re- le que consegue entender o signi- mais um motivo desse desconfor- vistas e não entenderem nada da- ficado das palavras. Assim, con- to: o pouco incentivo à leitura ofe- quilo que leram. cluímos que primeiro é preciso recido aos alunos, na fase da alfa- O trabalho com a interpretação compreender aquilo que estamos betização. Segundo o autor, o lei- não acontece apenas na área da lendo para, depois, conseguirmos tor deverá em primeiro lugar de- Língua Portuguesa, mas em todos interpretar a leitura feita. cifrar a escrita, depois entender a os campos de nosso aprendizado É necessário, ainda, incentivar linguagem encontrada, em segui- escolar. Muitos pesquisadores nossos alunos, por meio de uma da decodificar todas as implica- atribuem a dificuldade na Mate- atitude questionadora que favore- ções que o texto tem e, finalmen- mática à interpretação das situa- ça a leitura como um processo te, refletir sobre isso e formar o ções-problema ou das ordens dos mental, oferecendo exercícios de próprio conhecimento e a opinião exercícios. Isto é mais uma prova compreensão e discussão sobre o a respeito do que leu. de que devemos atribuir uma aten- que foi lido. Para Ferreiro e Teberosky, a ção especial a este assunto. De início, o aluno lê o texto, causa principal das dificuldades Segundo Vygotsky, um estudo compreende aquilo que leu e so- de compreensão do conteúdo da mais profundo do desenvolvimen- mente depois consegue fazer a leitura é o domínio imperfeito da to da compreensão e da comuni- sua interpretação. REVISTA DO PROFESSOR, Porto Alegre, 21 (82): 15-17, abr./jun. 2005 15 Create PDF with GO2PDF for free, if you wish to remove this line, click here to buy Virtual PDF Printer Sem título-2 15 07/08/2006, 17:15 O primeiro passo para este de- mos a compreensão e a interpre- professor deve tomar muito cui- safio é a escolha dos textos e dos tação dos textos lidos. dado com a idéia de que toda vez livros infantis trabalhados em sala O procedimento de interpreta- que se trabalha um texto há a in- de aula. Precisamos trazer temas ção de texto vai além de pergun- terpretação do mesmo, pois as e assuntos interessantes que fa- tas óbvias, questionamentos inú- crianças poderão sentir um pou- çam parte da realidade infantil. teis ou as cansativas fichas de lei- co de antipatia pela leitura, uma Cagliari contribui com a idéia tura. Precisamos encontrar meios vez que já começam a ler pen- de que alunos que só lêem livros de aplicá-las em um trabalho sé- sando na série de perguntas que de histórias de fantasia dificil- rio e prazeroso. Assim, como al- vem depois. mente depois vão ler um livro de ternativas de trabalho podemos Algumas atividades, como as matemática ou de história dife- sugerir: sugeridas a seguir, poderão auxi- rente do livro-texto adotado pelo • a discussão do assunto com os liar no trabalho com interpretação professor nas séries mais adian- alunos; de texto em sala de aula. tadas. A escola precisa saber tra- • o recontar a história a sua ma- balhar com essa situação, incen- neira; SUGESTÃO DE ATIVIDADES tivando o aluno a realizar os mais • o transformar aquilo que leram variados tipos de leitura para que, numa dramatização; ö Cartaz-surpresa no futuro, possam vir a ser pes- • o ilustrar e o desenhar figuras soas capazes de compreenderem para as histórias que leram. Objetivo e enfrentarem a sua realidade. É comum entrarmos em uma • Por meio do brincar, interpretar Lembramos que as crianças sala de aula do ensino fundamen- texto ou história lidos. desta faixa etária estão muito pre- tal e encontrarmos o quadro com sas a leituras que envolvem a fan- um texto escrito e várias pergun- Procedimentos tasia, principalmente os clássicos tas sobre ele. Não podemos es- • O professor conta uma história contos de fadas. quecer que uma atividade desgas- ou pede para os alunos lerem um Assim, nós, professores, deve- tante ou repetitiva, em vez de ge- texto sem ilustração. É preciso mos propiciar às crianças o con- rar prazer, transforma-se em algo que as crianças estejam motivadas tato diário com os livros, para que traumatizante que poderá acarre- e curiosas para descobrirem a possam manuseá-los e explorá- tar o afastamento do ato de ler na ilustração da história. No quadro, los, despertando a vontade e o vida adulta. Bamberger diz que a é preso um cartaz com uma ilus- gosto de ler, aproximando-os do superutilização dos exercícios tração ou com um desenho do per- mundo da leitura. mecânicos poderá estragar o pra- sonagem principal. Sobre este car- Para uma leitura infantil, suge- zer que advém da leitura. taz serão presas faixas de papel rimos textos que abordem a lin- É importante ressaltar que o com perguntas criativas e interes- guagem das crianças, histórias em quadrinhos, instruções de traba- lho, encarte de jornais, reporta- gens simples, catálogos de propa- ganda e textos produzidos por elas mesmas, de modo que possam ser devidamente trabalhados com a criança. Para que nossos alunos se sin- tam desafiados a interpretarem o texto que leram, precisamos pro- piciar atividades criativas, que estimulem o prazer pelo querer ler mais e atribuam um importan- te papel aos livros e leituras no sistema educacional; textos que despertem o interesse pelos en- redos e pelo destino dos perso- nagens. Deste modo, facilitare-
REVISTA DO PROFESSOR, Porto Alegre, 21 (82): 15-17, abr./jun. 2005
16 Create PDF with GO2PDF for free, if you wish to remove this line, click here to buy Virtual PDF Printer Sem título-2 16 07/08/2006, 17:15 santes sobre a história. Do lado que fica para dentro estão as per- guntas e do lado exposto aos alu- nos é escrito um número em cada faixa. Assim, o professor solicita que um determinado aluno diga um número correspondente a uma das faixas presas sobre a ilustração. A faixa correspondente ao número dito é aberta num dos lados e a pergunta do verso, lida pelo pro- fessor. Se o aluno responder à per- gunta de acordo com a interpreta- ção feita da história, retira-se a faixa e uma parte da ilustração é visualizada, caso contrário, a fai- xa permanece. O suspense gira em torno de descobrirem qual o de- senho do cartaz sob as faixas de papel. Nota: O obstáculo pode ser o desenho de algum personagem da história. baixo das mesas, por exemplo, au- derá jogar novamente, caso con- ö Texto com Fichas mentando assim a criatividade dos trário permanecerá no mesmo lu- alunos em encaixá-las no texto. gar. Já as crianças que pararem so- Objetivo bre os caminhos que estão repre- • Produzir texto com auxílio de fi- ö Jogo de Trilha sentados por números continua- chas com palavras. rão jogando, não precisando res- Objetivo ponder às perguntas referentes à Procedimentos • Interpretar a história com auxí- história. O interessante nesta ati- • Usando a técnica do cloze, o lio de brincadeira. vidade é que o papel do professor professor apresenta um texto é apenas de observador, pois são com várias lacunas, nas quais es- Procedimentos os alunos que avaliarão se as res- tão faltando palavras importantes • O professor conta uma história postas interpretativas estão de e sugere que retirem, debaixo do aos alunos. Ele poderá utilizar, acordo ou não com a história. assento de algumas cadeiras, fi- como recurso, fantoches, carta- A proposta da interpretação de chas onde constam diferentes pa- zes, varal ou simplesmente o li- texto de uma maneira oposta à tra- lavras (o professor deve colá-las vro. Após a leitura, o professor dicional, que ora apresentamos, antes de começar a aula). Um alu- apresenta um jogo de trilha em gera um pouco de trabalho e de no é escolhido para ler o texto, um tabuleiro contendo vários ca- empenho por parte do professor. enquanto o restante da turma vai minhos (que são identificados por Então, ela só será realmente útil encaixando as fichas. O interes- numerais) e fichas com questio- e eficaz, se este mesmo profes- sante, nesta atividade, é que a in- namentos criativos e interessan- sor estiver, de fato, motivado. terpretação habitual do final da tes sobre a história. Os alunos, di- leitura não precisará acontecer, vididos em grupos, jogam o dado REFERÊN CIAS pois ela ocorreu durante a leitu- e começam o jogo. Mas, durante BAMBERGER, Richard. Como Incentivar o ra: os alunos precisaram pensar o caminho, quem parar sobre os Hábito de Leitura. 7. ed. São Paulo: Ática, 2001. e interpretar aquilo que estavam obstáculos (desenhos feitos sobre CAGLIARI, Luiz C. Alfabetização e Lingüís- lendo para poderem encaixar as alguns caminhos) deverá virar uma tica. 10. ed. São Paulo: Scipione, 1997. palavras. ficha e responder à pergunta so- ______. Alfabetizando sem o Ba-bé-bi-bó-bu. bre a interpretação da história. Se São Paulo: Scipione, 1999. Variável a criança que parou no obstáculo FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogê- nese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artmed, • O professor poderá oferecer ou- virou a ficha, leu a pergunta e res- 1999. tras palavras que não faziam parte pondeu de acordo com a interpre- VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. do texto original, colando-as em- tação feita da história, então, po- São Paulo: Martins Fontes, 1993.
REVISTA DO PROFESSOR, Porto Alegre, 21 (82): 15-17, abr./jun. 2005
17 Create PDF with GO2PDF for free, if you wish to remove this line, click here to buy Virtual PDF Printer Sem título-2 17 07/08/2006, 17:15 Create PDF with GO2PDF for free, if you wish to remove this line, click here to buy Virtual PDF Printer