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A VOZ QUE GRITA NO DESERTO: perspectives to deconstruct their liability

JOÃO BATISTA HISTÓRICO E SEU status, in other words, a simply result of


a clash between economic and social
MOVIMENTO monolithic blocks of dominant and
dominated.
Ms. Vítor Luiz Silva de Almeida KEYWORDS: John the Baptist,
Doutorando pelo Programa de Pós- Resistance Movements, Roman Palestine,
Graduação em História Comparada Religion
Universidade Federal do Rio de Janeiro –
UFRJ. 1 – Em busca do João Batista
vitoralmeida83@gmail.com
histórico
Ao iniciar uma pesquisa que
RESUMO: tem por objeto um líder judaico do
Este artigo tem por objetivo compreender século I e.c. e seu movimento, como
o contexto de ação do movimento de
João, cognominado Batista, um líder descrito, principalmente, em fontes
judeu que viveu, aproximadamente, em literárias produzidas em contextos
momento simultâneo ao de Jesus. A meta variados, duas perguntas básicas se
é analisar criticamente, através dos
fazem necessárias: Quem foi João
resquícios de memória presentes na obra
de Flávio Josefo e na literatura neo - Batista? É possível traçar as linhas de
testamentária, a trajetória de João e seus sua existência histórica? Estes dois
seguidores, não apenas como um questionamentos já foram feitos por
elemento individualizado, mas inserido no
outros pesquisadores do cristianismo
quadro endêmico de formação de
movimentos e grupamentos sociais de antigo, como John Dominic Crossan
resistência na Palestina romana, ao longo (1994), J. P. Meier (1992), Raymond
do século I da era comum. Desta forma o Brown (2004), entre outros, e, no
movimento de João Batista será
investigado à luz de perspectivas teórico - entanto, o caminho para suas
metodológicas que desconstroem seu respostas permanece pedregoso. A
status passivo, ou seja, de simples problemática principal destas
resultado de um choque econômico e
indagações, curiosamente, esbarra
social entre blocos monolíticos de
dominantes e dominados. em um ponto sensível das
PALAVRAS-CHAVE: João Batista, investigações relacionadas ao Novo
Movimentos de Resistência, Palestina Testamento. Seguidas as perguntas,
Romana, Religião
objetivamente ou subjetivamente,
ABSTRACT: estas se encontram atreladas à busca
This article aims to understand the pela historicidade de outra figura
context of action of the movement of
descrita na documentação, Jesus de
John, surnamed the Baptist, a Jewish
leader who lived, approximately, at the Nazaré. Mesmo quando a discussão
same time of Jesus. The goal is to extrapola o âmbito teológico em
critically analyze, through the remnants direção à reflexão histórica e
of memory present in the works of
Josephus and the New Testament sociológica acerca da Palestina
literature, the history of John and his romana do primeiro século e os
followers, not only as an individual diversos movimentos de resistência,
element, but inserted in the endemic
violentos ou não violentos, que
formation of movements and social
groups of resistance in the Roman eclodiram neste espaço geográfico,
Palestine, during the first century of the ainda assim uma hierarquização dos
common era. Thus the movement of John atores é latente. Jesus e seu
the Baptist will be investigated in the
ministério recebem uma grande
light of theoretical and methodological
atenção, enquanto outros
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movimentos que ocorrem que este estava inserido. A primeira
contemporaneamente ou pergunta, por mais simples que
simultaneamente a este, como no pareça, ganha uma grande
caso do movimento de João, são complexidade quando prendemos
relegados a uma importância nosso olhar neste personagem.
secundária ou reunidos em João, o Batista, nos é
coletâneas de movimentos introduzido como um homem
predecessores e/ou ulteriores a nômade e ascético que caminha
Jesus, o nazareno. Em termos pelas veredas do Deserto da Judéia,
históricos, isto é um fator de ao longo do rio Jordão, pregando
enfraquecimento para a compreensão uma mensagem de arrependimento e
do contexto social da Palestina do transformação, interior e exterior,
século I, e segundo R. A. Horsley: que se desenrola em uma assertiva
de cunho escatológico, com a
Só muito recentemente previsão da chegada iminente de
começamos a prestar atenção a uma força de aspecto divinizado,
outros movimentos populares
com os quais Jesus e seu alguém “mais forte”, que julgará o
movimento poderiam ser povo de Israel pelos se us atos
comparados. Uma análise pecaminosos. Em meio à divulgação
cuidadosa de Jesus e de seu
desta mensagem, João promove um
movimento no contexto específico
de uma Galiléia mais bem ritual de imersão na água, ministrado
compreendida ainda precisa ser por ele, com o intuito de purificar o
feita. (Horsley, 2000: 158) indivíduo ímpio e renovar sua
existência terrena, preparando-o
No entanto, para uma
para o julgamento vindouro. Este
compreensão ampliada do que foi o
ritual, chamado nas fontes bíblicas e
movimento do Batista, é necessário
extra-bíblicas de batismo, no
retirar este agente de seu status
entanto, não representaria a salvação
secundário e o tornar protagonista de
do indivíduo e sim o movimento de
suas próprias ações, assim como
passagem da condição de pecador
seus seguidores, buscando
para o de potencialmente escolhido
compreender suas aspirações,
para a salvação, caso seu
estratégias de ação, plataformas e
arrependimento fosse verdadeiro, e
expectativas, sem perder de vista
seus atos estivessem condizentes
sua inserção no contexto social de
com o as prescrições do Batista. É
opressão imperial romana e nas
importante perceber que em nenhum
querelas internas da sociedade
momento este ritual propunha a
judaica. Dito isto, podemos voltar às
formação de um grupo religioso, pois
perguntas iniciais, e com o máximo
João “[...] não usava seu batismo
de coesão e reflexão, tentar
como rito iniciatório para criar em
desenhar, ainda que de forma tênue,
torno de si uma seita ou igreja
os contornos históricos desse líder
organizada”. (MEIER, 1992: 76)
popular judaico, sem passar pelas
Todavia, pessoas juntavam-se ao
mediações de outros objetos centrais
redor dele, antes e após o batismo,
que não o próprio João, mas
para ouvir suas palavras e levá-las
articulando-o ao tempo e espaço em
consigo, fazendo com que mais
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indivíduos e grupos o procurassem, a personagem no contexto histórico,
fim de captar sua exortação e em que, supostamente, ele existiu 1
Obra escrita do historiador
partilhar da redenção prevista por para ser incluído em uma narrativa, antigo Flávio Josefo, escrita
ele, para os que seguissem o de pretensões históricas, acerca da entre 70 e 100 e.c. na cidade
de Roma. Esta obra se
caminho da retidão pós-purif icação trajetória do povo hebraico, desde os propõe a traçar a História
batismal. Com isso, João constitui em seus primórdios até seu posterior Judaica desde os primórdios
da criação até os eventos
torno de si uma comunidade de enfrentamento com os romanos? É ocorridos no século I.
seguidores, que o ouvem, divulgam possível então, a partir daqui, seguir 2
De acordo com Josefo esta
sua mensagem e partilham de seus para a segunda questão proposta no foi a fortaleza para onde foi
ensinamentos. Este grupo, ao início do capítulo, ou seja, se existe a levado João Batista após ser
preso a mando de Herodes
expandir-se, acaba por chamar a possibilidade, de fato, de Antipas. Ao que tudo indica
atenção de estratos sociais vislumbrarmos o João Batista foi construída originalmente
diversificados, e, finalmente, das histórico. por Alexandre Janeu como
uma fortaleza de fronteira e
autoridades locais. Herodes Antipas, Podemos começar pela posteriormente utilizada
o Tetrarca, temendo o aumento última interrogação do parágrafo pelas forças de Herodes.

incontrolável do poder deste homem anterior. O vestígio escrito, deixado


profeta ou descontente com suas pelo historiador antigo F lávio Josefo,
críticas ao seu casamento com a Antiguidades Judaicas,1 menciona
viúva do irmão Filipe, Herodíades, João Batista. Trata-se de uma fonte
julga-o sumariamente e o condena a extra-bíblica, uma obra interessada
prisão e a morte. em narrar os antecedentes e as
Cada um dos quatro agruras do povo judaico até a guerra
evangelhos do Novo testamento, entre judeus e romanos, que
assim como o livro de Atos dos resultaria na destruição do Templo de
apóstolos, detém particularidades Jerusalém, no ano 70 e.c. Esta obra,
acerca de João, mas todos escrita, aproximadamente, duas
concordam, em maior ou menor décadas após o fim da guerra entre
grau, com a descrição supracitada. judeus e romanos, é contemporânea
Porém, o que em um primeiro olhar aos evangelhos canônicos. Neste
pode ser resumido de forma simples, escrito, João é caracterizado como
para não dizer simplória, torna-se um líder popular que reúne em torno
extremamente complexo quando os de si um grande número de pessoas,
detalhes são destacados da e por provocar o temor de uma
totalidade narrativa. Em primeiro rebelião contra o poder herodiano foi
lugar, por que motivos um líder condenado à prisão, em Macaero,2 e
nômade que se vestia com pele de morto.
camelo e alimentava-se de O fragmento completo sobre
gafanhotos poderia ameaçar a João, cognominando o Batista, em
hegemonia das elites locais, Josefo é considerado uma camada
amparadas por todo o poderio militar legítima do texto original, e é
romano? Em segundo lugar, se a sua praticamente consenso entre os
mensagem era puramente espiritual, pesquisadores da área que se trata
qual o sentido do temor ou de uma informação fidedigna. Ao
descontentamento de Herodes inserir a passagem na categoria da
Antipas em relação a João Batista? crítica textual, é possível se
Em terceiro, qual a relevância deste perguntar por que Josefo, um
269
membro da elite judaica, advindo da distintas, por mãos e mentes
3
linhagem sacerdotal e um of icial diferentes, são coadunados por uma Escrito não canônico sobre
os ditos e feitos de Jesus de
responsável pela defesa da Galiléia fonte extra-bíblica legítima – Josefo – Nazaré.
contra a invasão romana, objetivaria . É possível ainda anexar o texto
4
Em relação ao momento de
testemunhar falsamente sobre a não-canônico O evangelho copta de produção deste texto,
existênc ia de João, sobretudo, de Tomé3 a este corpo documental concordo com a autora Elaine
forma próxima ao corpus documental acerca de João. Este é o caminho que Pagels, que o localiza
temporalmente como
neo-testamentário. Há aqui a nos leva mais perto do João Batista contemporâneo ao evangelho
múltipla confirmação de fontes. Cinco histórico. de João. Para uma discussão
mais aprofundada sobre o
livros do Novo Testamento – Marcos, Segue abaixo um quadro assunto ver (PAGELS, 2004.)
Mateus, Lucas, João e Atos dos referente ao corpo de fontes que, em 5
Vila localizada na província
Apóstolos –, produzidos em confluência, viabiliza a busca pelo de Nablus, na atual
temporalidades e espacialidades João Batista histórico: Cisjordânia.
6
Região ao norte de
Documentação textual Data (aproximada) de produção Jerusalém localizada em uma
zona montanhosa da
Evangelho de Marcos 65-70 e.c. Palestina, entre a Judeia e a
Galiléia. Representou durante
Evangelho de Mateus 80-90 e.c. muitos anos o centro do reino
do Norte (Israel),
Evangelho de Lucas 80-90 e.c. tradicionalmente fundado em
torno de Jeroboão, filho de
Atos dos apóstolos 80-90 e.c. Salomão, após o cisma entre
o reino do Sul (Judá) e o
Evangelho de João 90-100 e.c. reino do Norte (Israel).
7
Evangelho Copta de Tomé 90-100 e.c.4 Antiga vila localizada ao
sudoeste de Jerusalém, onde
Antiguidades Judaicas de Flávio 70-100 e.c. segundo a tradição cristã
teria nascido João Batista.
Josefo
8
Suba é uma vila
árabe/palestina localizada
Há ainda outra categoria de outras descobertas arqueológicas geograficamente a oeste de
fontes, crucial para os estudos da relacionadas ao Batista, como a gruta Jerusalém. Para mais
informações ver (GIBSON,
Antiguidade que convêm ser citada, nos arredores de Suba 8 , descoberta 2008.)
apesar da falta de resultados pelo arqueólogo Shimmon Gibson9 e,
9
A descoberta arqueológica
conclusivos sobre o Batista. o ainda mais recente achado,
da gruta de Suba foi
A despeito de não se ter descoberto em 2010, na atual apresentada pelo autor
notícias de provas contundentes da Bulgária10 , articulado, de forma Shimmon Gibson em seu livro
A Gruta de São João Batista.
existência de João Batista através da bastante superficial, aos restos A Primeira Prova
pesquisa arqueológica, muitos sítios mortais de João Batista. Estas Arqueológica da Veracidade
dos Evangelhos. (GIBSON,
foram relacionados a essa figura e descobertas causam estardalhaço 2008.)
seu ritual de imersão. Como midiático, todavia, detém um caráter
10
Esta é uma descoberta
exemplos, podemos citar o túmulo de um tanto sensacionalista e ingênuo, feita em 2010. Para mais
João Batista em Sebaste 5 , outrora acerca da existência de João, pois informações acerca deste
uma importante locação da região da carecem de aprofundamento teórico- achado arqueológico ver:
(HOOPER, 2010.)
Samaria6 , Ain Karin7 , metodológico e criticismo. É
tradicionalmente considerada o local necessário que se tenha muito
de nascimento de João, e Macaero, cuidado por parte dos pesquisadores,
onde, segundo Josefo, João teria sido de qualquer campo, que intentam
aprisionado e morto. Há ainda, compreender o passado da f igura do
270
Batista, ao tratar de vestígios deste aproximadamente, na primeira
tipo. Caso a pesquisa, arqueológica metade do século I.
e/ou histórica, não esteja amparada
por uma leitura crítica do corpus 2. As “víboras” e o “machado”
documental existente sobre o É possível, de agora em
assunto e por um aparato teórico e diante, após a apresentação da
uma metodologia consistente, estas possibilidade de se pesquisar, e
fontes podem encaminhar o historicizar, a figura de João Batista,
estudioso a conclusões precipitadas seguir em direção às questões mais
que comprometem os resultados pontuais de sua atuação como líder
finais, mesmo que os dados obtidos popular. Para isto, é necessário,
possuam um valioso caráter científico antes de qualquer coisa, aprofundar
para a reconstrução e compreensão a análise das ideias de João Batista,
de sociedades antigas e seus sua visão de mundo, sua mensagem
indivíduos. Segundo Pedro Paulo e suas expectativas.
Funari é importante O panorama em que João
Batista surge e desenvolve seu
[...] utilizar as informações ministério é de extrema tensão
textuais e os dados arqueológicos social, e isso não pode ser
como complementares, podendo
ambos conter indicações que se desconsiderado ao se tentar
confirmem ou estejam em compreender o que este judeu
desacordo, cabendo ao estudioso prosaico, advindo das camadas
explorar tanto as convergências
empobrecidas, queria dizer com suas
como as possíveis diferenças.
Dessa forma pode-se esclarecer palavras e por que motivo as
melhor tanto o sentido das proferia. Somente desta maneira é
evidências materiais quanto os possível tentar reconstruir o seu
mecanismos ideológicos ocultos
nas informações escritas. quadro ideológico, condizente não
(FUNARI, 2006: 42.) apenas com o que pode ser obtido
através das fontes que citam João,
Neste sentido, por enquanto, mas inserindo-o em seu próprio
o caminho mais sólido, apesar de tempo e espaço, alocando o Batista
possuir inúmeros obstáculos, até o em seu lugar de indivíduo ativo, em
João Batista histórico encontra-se na uma realidade amplamente
documentação textual judaico-cristã. desfavorável.
Todas as informações contidas nestas Para isto, algumas
fontes, combinadas com a análise considerações a respeito do conceito
crítica e as ferramentas de ideologia são imperativas. Objeto
epistemológicas, levam a crer que a de muitos debates dentro das
figura de João, como descrita na ciências sociais, a ideologia é
literatura, muito provavelmente, compreendida nesta pesquisa como
baseia-se em sua figura real e o que um conjunto de idéias, de um
a tradição oral nos legou não foi um indivíduo ou grupo, provenientes de
personagem fictício, mas sim os uma série subjetiva de reflexões,
vestígios de memória de um legítimo articuladas as tradições e as
líder judaico de um movimento sócio- experiências cotidianas frente à
religioso, que viveu, concepção, e recepção, da realidade
271
externa. O termo “ideologia”, ao de ideologia, como este é
longo do século XX, ganhou toda compreendido em períodos modernos
uma significação própria, que e contemporâneos, e não como um
transmutou o conceito em uma processo psicológico inserido em um
coleção de premissas de cunho determinado contexto social e
político e teórico que se desenrola cultural, o risco de se transferir uma
em um programa político-social interpretação presa a elementos que
específico. No entanto, observar a não condizem com o amb iente em
ideologia como um organismo que o Batista viveu, pode gerar uma
individualizado, separado das série de resultados condenados pelo
condições sociais e culturais em que anacronismo acrítico, e isto é
esta surge é, no mínimo, um ineficaz.
reducionismo conceitual que Antes de iniciar a análise das
atrapalha sua própria percepção fontes, é necessário um pequeno
como objeto de estudo. Clifford exercício propedêutico de reflexão.
Geertz, em um trabalho acerca da Durante muito tempo, se tentou
ideologia como um sistema cultural, incutir em alguns personagens
já havia atentado para esta questão, bíblicos, principalmente os que
e, no entanto, sua discussão ainda estiveram diretamente ligados a saga
permanece atual, quando af irma que de Jesus de Nazaré, uma imagem
apolítica, desinteressada dos
[...] as ciências sociais ainda não problemas sociais dos judeus em
desenvolveram uma concepção
geral e desligada de inclinações
genuinamente não-avaliativa da
ideologia, seu fracasso decorre reformadoras pautadas nas inter-
menos da indisciplina relações entre dominados e
metodológica do que de uma dominadores. Entretanto, separar um
inépcia teórica; essa inépcia
agente histórico de seu contexto é,
manifesta-se principalmente ao
lidar com a ideologia como uma no mínimo, incongruente com as
entidade em si mesma – como preocupações da epistemologia e
um sistema ordenado de símbolos investigação histórica recentes. E
culturais, em vez da
discriminação de seus contextos neste ponto, autores como R. A.
social e psicológico [...]. Horsley e André Chevitarese tornam-
(GEERTZ, 1989: 108.) se referências para um estudo acerca
da Palestina romana do século I e.c.,
Portanto, ao se tentar pois amparados pela teoria e
alcançar o caráter ideológico do metodologia próprias do campo das
discurso de João Batista, é ciências sociais, se afastam da
perceptível que isto só é adequado empiria desmedida, muitas vezes
dentro de um panorama que insere desprovida de criticismo, de alguns
esta “ideologia” em seu contexto trabalhos de cunho teológico que
social, cultural, histórico e observam os personagens da
geográf ico. Apenas desta maneira o literatura neo-testamentária como
estudo de elementos ideológicos, apolíticos, acríticos e comprometidos
dentro dos parâmetros descritos apenas com a sua fé e seus desígnios
acima, faz sentido para a pesquisa teológicos. Segundo R. A. Horsley:
histórica. Ao se lidar com o conceito

272
Na pesquisa bíblica e na teologia Mas em se tratando de pesquisa
temos trabalhado principalmente histórica, eles precisam sair de
com palavras, símbolos, idéias, cena, de modo que cada livro
histórias e estórias, e, em tudo bíblico possa ser lido e pensado
isso, com textos. Nossa tarefa no interior de um tempo e espaço
principal é reunir um sentido novo específicos; que cada livro possa
ou renovado destes textos, ser entendido como literatura, tal
símbolos ou idéias. Contudo, é como ocorre, por exemplo, com
uma convicção fundamental na Homero, Hesíodo e Virgílio.
literatura bíblica e um (CHEVITARESE, 2011: 11.)
compromisso básico com a fé dos
judeus e cristãos que o sentido Dentro desta perspectiva,
básico está encarnado na vida
histórica: nas particularidades esta pesquisa não observa João,
materiais, sociais, pessoais e cognominado Batista, como um
sociais. Por isso precisamos nos homem alienado, desligado de sua
tornar muito mais concretos do
realidade e desinteressado dos
que de costume, simplesmente
para sermos fiéis ao material que problemas de seu povo. Muito pelo
estamos pesquisando e contrário. Olhar a Antiguidade
interpretando [...]. (HORSLEY, vislumbrando uma separação clara e
2010: 137.)
concreta entre religião, política,
economia e cultura não passa de
Estas posições, muitas das
puro anacronismo, em que se
vezes, estão amparadas por uma
transferem questões modernas para
leitura plenamente religiosa dos
sociedades e indivíduos que não as
textos, sem um aprofundamento
conheciam. A mensagem de João
epistemológico necessário para tais
Batista é, de fato, marcadamente de
reconstruções históricas, o que acaba
cunho teológico, e traça paralelos
por transferir aos personagens e
com a tradição profética de Israel,
eventos narrados na literatura
sobretudo nas figuras dos profetas
bíblica, problemáticas sócio-religiosas
ligados ao deserto e ao rio Jordão
atuais, ou apenas um olhar
como Josué, Isaías, Elias e Eliseu.
puramente teológico. Teologia e
Contudo, sua mensagem possui, de
História podem e devem dialogar e
forma bastante clara, ecos da
cooperar mutuamente, a fim de
realidade social na qual João Batista
refinar o campo das pesquisas
e as pessoas de seu tempo estavam
bíblicas. No entanto, ao se trabalhar
inseridos. Suas exortações, de
a literatura neo-testamentária como
caráter escatológico, não apenas
uma fonte literária, com o objetivo de
chamavam atenção pelo modo
produzir conhecimento histórico, é
incisivo com que as proferia, mas por
necessário ter o cuidado de não
tocar os ouvintes de forma a torná-
amalgamar Teologia missionária e
los adeptos de suas palavras. Estes
História. André Chevitarese aborda
indivíduos começaram a segui-lo,
esta questão na introdução de seu
objetivamente e subjetivamente, e
livro Cr istianismos: Questões e
assim, identif icando-se uns com os
Debates Metodológicos, e defende a
outros formaram uma comunidade
seguinte ideia:
que compartilhava mais do que as
palavras de seu mestre.
Para quem tem fé, que eles
sejam vividos em sua plenitude. Compartilhava seus ideais.

273
A principal camada de texto tradição oral, chegou praticamente
11
que nos fornece informações acerca incólume às nossas mãos. Em um A fonte Q, nomenclatura
advinda da palavra alemã
da mensagem e ideologia de João trabalho, bastante pormenorizado, Quelle, literalmente traduzível
Batista advém da fonte Q11 , e está acerca de João Batista e sua relação como “fonte”, é um documento
hipotético, que teria servido
presente nos livros de Mateus (3:7- com Jesus, J. P. Meier, ao tratar como recurso textual base
10) e Lucas (3:7-9). O livro de desta camada de texto, afirma que para partes dos evangelhos de
Mateus e Lucas, além das
Marcos, apesar de mais antigo e de partes advindas de Marcos.
ter servido como fonte literária para [...] é provável que este material Muitos autores já debateram
sobre o Batista tenha sido fixado sobre a sua existência
os outros dois, não contêm concreta, e a tese mais aceita
anteriormente; grande parte
informações aprofundadas das desse material ou não apresenta é a das duas fontes (Mc e Q),
palavras de João, a não ser pela pois a probabilidade dos
relação explícita com Jesus ou
autores de Mateus e Lucas
passagem 1:7-8, que também com cristãos [...]. O critério da terem tido acesso aos textos
descontinuidade, assim como uns dos outros, no momento
aparece em Mateus e Lucas. O fator
ocasionais confirmações de de sua produção, é ínfima.
decisivo para a escolha desta Marcos, João ou Josefo, torna o Para mais informações acerca
passagem é a sua concordância nas núcleo da tradição Q sobre o da fonte Q e suas implicações
Batista bastante confiável. ver as obras de John S.
obras posteriores que utilizaram Q Kloppenborg (1995), Helmut
(MEIER, 1994: 45.)
como fonte – Mateus e Lucas –, em Koester (2005) e Johan
algumas partes quase palavra por Konings (2005).
Para facilitar a visualização
palavra. É bastante provável que isto 12
Tradução de Johan Konings
do esquema citado acima, segue
seja um indício de certa (2005).
abaixo a passagem citada da fonte Q
“independência” destas passagens
– Q 3:7-9 = SQ 4 – e como ela
dentro do contexto de produção
aparece nos evangelhos de Mateus –
destes evangelhos, uma faísca da
3:7-10 – e Lucas – 3:7-9 – 12 :
memória de João, que através da
Vendo muitos fariseus e saduceus Dizia, portanto, às turbas que saíam a
vindo para seu batismo, disse-lhes: caminho para serem batizadas por ele:
Crias de víboras, quem vos orientou a Crias de víboras, quem vos orientou a
fugir da ira que está para vir? Fazei fugir da ira que está para vir? Fazei,
portanto, fruto adequado à conversão, portanto, frutos adequados à
e não penseis em dizer convosco conversão, e não comeceis a dizer
mesmos: Por pai temos a Abraão. Já convosco mesmos: Por pai temos a
está deitado o machado à raiz das Abraão!, pois digo-vos que Deus pode
árvores. Toda árvore, portanto, que destas pedras erguer filhos para
não fizer bom f ruto será cortada e Abraão. Já está deitado o machado à
lançada ao fogo. raiz das árvores. Toda árvore,
portanto, que não fizer bom fruto será
cortada e lançada ao fogo.

O tratamento “Crias de a citação aos “fariseus e saduceus”


víboras”, em Mateus, destinado aos em Mateus for uma adição dos
fariseus e saduceus, e em Lucas, autores deste evangelho à tradição
dedicado às multidões no geral, da fonte Q, então a grande
denotam a opinião do Batista sobre possibilidade é de que João estivesse
seus ouvintes. Se a proposição de J. se referindo a todos os seus
P. Meier (1994: 48) estiver correta, e ouvintes, sem exceções, dando-lhes

274
o título de “Crias de víboras”, por da população de origem judaica,
cometerem pec ados e afastarem-se subjugada pelo invasor estrangeiro.
da vontade de Deus. Isto faz Contudo, fugindo da
bastante sentido ao submeter o texto premissa básica da passividade das
de Mateus à crítica histórica. É sabido camadas dominadas, e pensando
que este escrito é o que mais alude, estes indivíduos em seu pragmatismo
dentre os sinóticos, aos fariseus diário, é necessário colocar de lado
como grupo de oposição da os grandes esquemas e apurar o
comunidade de seguidores de Jesus, olhar crítico - investigativo. Muitas
assim como outros grupos da elite revoltas e movimentos de resistência
sacerdotal judaica, incluindo os eclodiram em toda a região da
saduceus. Isto exprime uma Judéia, assim como na Pereia e
problemática do próprio contexto de Galiléia, todavia, estes grupos não
produção do texto (80-100 e.c.), em eram a grande maioria da população.
que, após a destruição do Templo de A maior parte do povo residente na
Jerusalém pelos romanos, a Palestina, afetado pelas
comunidade que produziu o transformações sociais, culturais,
evangelho de Mateus via-se em econômic as e religiosas, advindas da
contraposição aos fariseus e outros imposição de um poder estrangeiro,
grupos sacerdotais. Desta forma, a via-se, indubitavelmente, em uma
adição dos termos “fariseus e situação de adaptação à realidade
saduceus” à sentença proferida em que se impunha. Estas formas de
Q, é, provavelmente, a expressão de adaptação poderiam variar da
tensões presentes no contexto social indulgência à negociação, mas em
dos indivíduos que montaram o texto todos os seus níveis, a populaç ão
e não em uma problemática inerente subjugada não deixava de ser
ao ministério do Batista. consciente dos males que a
Compreendendo, então, que acometiam, das transformações
João não estabelecia exceções em estruturais em seu modus vivendus e
sua reprimenda, é importante pensar da necessidade de reelaborar suas
na seguinte pergunta: Por que a práticas cotidianas em prol de sua
utilização de palavras tão duras para continuidade. Isto desconstrói o
se referir aos seus ouvintes de um grande mito da passividade dos
modo geral? Uma via de dominados em relação aos
entendimento está nas mudanças dominantes, que muitas vezes
estruturais no modo de vida judaico, resume toda uma população de
fruto de trocas culturais, impostas ou indivíduos pensantes a meros
negociadas, pela ocupação romana expectadores, nulidades sociais, sem
na Palestina. A partir da morte de nenhuma participação ativa nos seus
Herodes Magno, pai de Herodes ciclos de vida. Entretanto, este
Antipas, em aproximadamente 4 posicionamento teórico não significa
a.e.c., o domínio romano sobre a pensar que as divergências entre
região tornou-se mais intenso, diferentes camadas sociais são
menos intermediado, e este contato atenuadas por essa “negociação”,
mais estreito provocou, ou agravou, caindo no silogismo banal de que se
diversas transformações no cotidiano todos os extratos sociais são ativos,
275
e uns atuam sobre os outros, então estrangeiro, significavam um
13
Metanóia é um termo grego
se trata de um extrato social único. distanciamento da Lei de Deus e um
que alude a uma mudança
Em minha opinião, quem melhor ato pecaminoso, que apenas o pessoal radical e fundamental.
resolve a questão é Edward P. arrependimento, seguido de uma
Thompson e seu conceito de metanóia13, ou seja, uma mudança
reciprocidade. Ao analisar a relação espiritual e prática, poderia sanar,
entre gentry e os trabalhadores tendo em vista o grande
pobres da Inglaterra no século XVIII, “julgamento” iminente. Há ainda
Thompson considera que as relações outra parte deste fragmento de Q
entre classes sociais distintas que corrobora esta via de
socialmente e opostas compreensão da perspectiva de João
economicamente, não eram sobre seus ouvintes. Ao interrogar
unilaterais, mas estavam em sobre quem os havia ensinado a fugir
constante fluxo, e as significações da ira de Deus, João em seguida
das ações de ambos perpassavam afirma que é necessário realizar
pela sua apreensão relativa da ações que provem a conversão, pois
realidade, baseada em seus aspectos não basta serem “f ilhos de Abraão”
culturais. para conquistarem a salvação
vindoura. Esta reprimenda de João
Considero essa noção de diz bastante sobre o que ele via
reciprocidade Gentry-multidão, de quando olhava para as pessoas que
“equilíbrio paternalismo-
deferência”, em que os iam até ele para receberem o
dois lados da equação batismo e ouvir suas palavras. Para o
eram, em certa medida, Batista, não bastava apenas o
prisioneiros um do outro, mais
pertencimento a linhagem dos
proveitosa do que as noções de
“sociedade de uma só classe’, de patriarcas e o legado da aliança com
consenso ou de uma pluralidade Javé, como premissas para a
de classes e interesses. O que redenção no dia do julgamento final.
nos deve interessar é a
Ou seja, a manutenção da religião e
polarização de interesses
antagônicos e a dialética das tradições israelitas, mesmo após
correspondente da cultura. [...] a chegada e instalação do dominador
Até a “generosidade” e a
estrangeiro na Palestina, não eram
“caridade” podem ser vistas como
atos calculados de apaziguamento razões suficientes para escapar do
de classe em tempos de escassez “fogo”. Esta salvação viria apenas
e como extorsões calculadas (sob através de ações concretas e
a ameaça de motins) por parte da
arrependimento, ou seja, através de
multidão. O que é (visto de cima)
um “ato de doação” é (a partir de como, a partir do ritual de purif icação
baixo) um “ato de conquista”. pela imersão, estes indivíduos
(THOMPSON, 1998: 68-69.) viveriam seus dias até o “machado”
separar as árvores que dão bons
No que concerne a João
frutos das que não dão.
Batista, um homem arraigado à
A figura do “machado”
tradição israelita que vagava pelo
complementa o esforço de desenhar
deserto da Judéia, estas
o quadro ideológico de João Batista,
transformações sociais deflagradas a
pois é nela que está exposta a face
partir do contato com o dominador
estritamente escatológica de sua
276
mensagem. A faceta mais notável de se propunha a explicar o que
João, que o torna bastante singular, aconteceria depois, pois sua missão
do ponto de vista histórico, é que era apenas, e tão somente, chamar o
este, em nenhum momento de suas povo ao arrependimento e declarar a
pregações, clama para si a vinda do “mais forte”. A expectativa
responsabilidade pelo fim dos males da chegada iminente de Deus ou de
terrenos do povo judaico. A despeito um homem dotado de poderes
de ser, sem sombra de dúvidas, um extraordinários que lideraria o povo
líder popular legítimo, o verdadeiro de Israel, não é uma peculiaridade
redentor seria aquele que viria depois apenas de João. Durante toda a
dele. O “machado”, na linguagem extensão do século I e.c., foram
metafórica adotada por João, muitos os movimentos e líderes
representa o julgamento divino que populares que julgavam estar prestes
se aproxima e a chegada daquele a ver o poder de Deus se manifestar
que ele denomina o “mais forte” – Q na terra. Porém, no que se refere às
3:16 – Desta maneira, o metafórico perspectivas do Batista, sua
“machado” representa o próprio ideologia, por assim dizer, estava
julgamento, ou o julgador, enquanto calcada na crença escatológica de um
as árvores “que dão bons frutos” são julgamento divino que estaria
os que se arrependerem e provarem próximo, em que apenas o
seu arrependimento através de arrependimento sincero e a
ações. É possível perceber neste transformação espiritual, ref letida na
ponto a importância do binômio transformação prática, poderiam
bem/mal e do julgamento final que trazer a redenção futura.
os separará, e é este esquema a O quadro ideológico de João
principal fonte de crença de João, estava plenamente articulado ao
cognominado o Batista. panorama social da população
É importante salientar que palestina do século I. Sua ideologia,
João enfatiza que seu batismo é carregada de teor religioso, não pode
apenas uma fase da preparação para ser enxergada como uma entidade
o evento sobrenatural que se em si mesma, separada da realidade
aproxima. A fase final, o verdadeiro concreta do imperialismo romano e
teste que separará os bons dos das intempéries sociais causadas pela
maus, é a chegada de outro ser, não dominação estrangeira. Um dos
especificamente um homem, mas exemplos mais latentes da influência
possivelmente um anjo ou o próprio de sua mensagem, e
Deus, que ministrará um segundo e consequentemente de sua ideologia,
definitivo batismo. Assim, João é a narração de sua morte pelas
aparece como uma figura mãos de Herodes. A despeito da
intermediária, um “preparador de motivação, que varia de acordo com
terreno”, para esta figura, cósmica as fontes disponíveis, a pergunta
ou humana, que fornecerá um principal reside na razão pela qual
batismo final sobre o povo judaico. É João Batista teria sido executado
importante lembrar que não há como um agitador popular. Isto
menção ao momento pós- significa pensar menos na
julgamento. Ao que parece, João não objetividade dos textos em si, e mais
277
nos elementos históricos que se A documentaç ão textual por diversas
encontram ao alcance, pois ao vezes atesta presença de seguidores. 14
Evangelhos de Marcos,
observar clinicamente estes escritos Eles estão presentes nos sinóticos, Mateus, Lucas e João, o
livro de Atos dos apóstolos
e submetê-los as ferramentas da no evangelho de João, em Atos dos e Antiguidades Judaicas de
crítica histórica, é possível delinear apóstolos e em Josefo. Mas quem Flávio Josefo.

João como um líder que influenciava eram essas pessoas? Por que motivos
as pessoas de uma maneira que elas aderiram ao ministério de João
incomodava o poder hegemônico. Batista?
Suas palavras atingiam as mentes de No que conc erne ao grupo
seus ouvintes e seguidores não organizado em torno de João Batista,
apenas no sentido de comover a grande probabilidade é que este
religiosamente e provocar mudanças fosse formado em sua maioria por
de comportamento, mas causando pessoas advindas das camadas mais
dúvidas, ref lexões e críticas, que empobrecidas da sociedade judaica,
simples mente não poderiam ser como camponeses, pescadores e
apagadas de suas vidas cotidianas. trabalhadores urbanos. Isto não
Uma das vias para a resistência, e significa pensar que membros da
seus elementos ideológicos, reside no elite não tivessem acesso a João,
questionamento da concretude do pois sua mensagem era destinada ao
que está posto como natural e sua povo em geral, mas apenas que a
perpetuação. Este questionamento presença de atores sociais mais
estava presente na mensage m de abastados no Ministério do Batista
João Batista e por isso é era bastante reduzida em relação aos
simplesmente inadmissível que este menos favorecidos. O princ ipal local
seja reconstruído como um profeta de sua atuação era às margens do rio
alienado, desinteressado de sua Jordão, mas nunca em um lugar
realidade social. específico, o que denota uma
peculiaridade deste movimento, pois
3 – Expe riê ncias compartilhadas: os indivíduos que iam ao encontro de
João e seus disc ípulos João deslocavam-se de seus locais de
Após discorrer sobre a os origem para ouvi-lo e receber o
fatores ideológicos presentes no batismo.
discurso de João Batista, o próximo Com exceção do Evangelho
passo encontra-se não no universo Copta de Tomé, toda a
das ideias, mas das ações. João foi documentação textual utilizada nesta
um líder popular, possuía ouvintes pesquisa14 nos fornece algumas
quando discursava, ministrava um informações acerca da existência de
ritual de purif icação e foi executado discípulos e da constituição de um
por ordem de Herodes Antipas, que o movimento em torno de João Batista,
temia como uma potencial ameaça à mas é preciso apurar a investigação
elite judaica e romana. Partindo para buscar pormenores acerca deste
deste ponto, é possível af irmar que, fenômeno social. Neste sentido, três
apesar da imagem de andarilho camadas de texto principais
solitário que lhe foi atribuída, João colaboram para a composição dos
passava mais tempo na companhia contornos do movimento de João, o
de outras pessoas do que o contrário. fragmento sobre o Batista presente
278
em Josefo, a narrativa da morte de acompanhavam em suas
João em Marcos e o livro de João, o movimentações ao longo do rio 15
Ao que tudo indica o
Evangelista. Com relação a estes dois Jordão e por motivos diversos movimento de João,
cognominado o Batista,
últimos escritos, porém, é necessário retornavam, após um período permaneceu após a sua
um cuidado específico ao se buscar indef inido de tempo, aos seus lares e morte, e seus seguidores
continuaram a pregar suas
informações sobre o ministério do afazeres próprios, plenos da palavras, seguir seus
Batista, pois ambos os textos estão mensagem de seu líder. A terceira ensinamentos e,
possivelmente, a batizar.
plenos da harmonização entre João camada, a menor das três, era Isto significa que estes dois
Batista e Jesus, e desenham uma formada por um grupo seleto de movimentos podem ter
hierarquia que coloca o Nazareno e discípulos, que ao receber o batismo vivido momentos de conflito
e rivalidade ao longo do
seus discípulos acima do Batista e e as palavras de João abandonavam século I. Estes conflitos
seus seguidores. No caso específico seus lares e famílias para segui-lo parecem ter trazido
problemas para os
do evangelho de João, é possível permanentemente, estabelecendo seguidores de Jesus, pois a
distinguir um efusivo “rebaixamento” um relacionamento mais íntimo, em memória de João Batista
dentro do movimento
da figura do Batista em relação a que, muito possivelmente, o permaneceu tão forte que
Jesus de Nazaré. Todavia, em ambos observavam como uma espécie de seria impossível extrai - lá
de suas tradições sobre o
os escritos, a memória de João e rabi16. Desta maneira, podemos
Jesus, o Nazareno.
suas palavras transcendem as organizar o movimento de João
16
tensões vividas pelos redatores do Batista e seus seguidores em três Termo hebraico para
Mestre.
texto15 e a partir de f iltros de leitura camadas de pessoas:
devidos é possível extrair a) Indivíduos que
informações acerca de João e sua abdicavam de seus
relação com seus discípulos. lares, famílias e
Primeiramente, é correto afazeres e
supor que João Batista estivesse acompanhavam
cercado por um grupo seleto que o permanentemente
acompanhava em sua vida nômade, João em suas
seguindo-o por algum tempo e movimentações e
retornando posteriormente aos seus práticas diárias,
afazeres ou abdicando de tudo para seguindo-o como uma
segui-lo permanentemente. Contudo, espécie de mestre;
a maior parte de seus seguidores
regressava para seus lares, tendo b) Indivíduos que iam
encontrado João poucas vezes ou até João, passavam
apenas uma única vez. Desta pelo mesmo
maneira, a camada maior deste processo,
grupo era constituída de indivíduos permaneciam ao seu
que iam até João, ouviam sua lado, compartilhando
mensagem, submetiam-se ao de seus ensinamentos
batismo e retornavam para seus diários e seguindo-o
lugares de origem, levando consigo de perto, porém
as ideias e prescrições de João e retornavam para seus
divulgando-as. A segunda camada, locais de origem e
intermediária, era formada por afazeres próprios
seguidores que recebiam o batismo, após um período
permaneciam na presença de João, o indeterminado de
279
tempo; retornavam aos seus
locais de origem,
c) Indivíduos que iam ao sendo este grupo a
encontro do Batista, maior parte de seus
ouviam e recebiam seguidores.
sua mensagem,
submetiam-se ao O gráf ico abaixo explicita o
ritual do batismo e quadro descrito acima:
logo depois

Grupo A

Grupo B

Grupo C

O grupo C detinha em si um como um movimento social. No


caráter não-fixo, e como o batismo entanto, o simples fato de não estar
de João era, por definição, único, vivendo no mesmo perímetro
estes elementos provavelmente o espacial, não desabilita estes
deixavam e retornavam a seus indivíduos a serem seguidores de
afazeres. Entretanto, como explicado João como um mestre religioso, sábio
anteriormente, o âmago da e profeta. Em outras palavras, o fato
mensagem não residia no batismo e dos batizados, de uma forma geral,
sim no arrependimento e na dedicarem suas vidas ao modus
mudança de conduta por parte do operandis descrito pelo Batista e
batizado, e por isso ao regressar aos crerem na sua mensagem e no
seus lares e comunidades, estes se julgamento iminente, já constitui
encontravam completamente imersos uma articulação entre diferentes
nas deliberações do Batista, pessoas e consequentemente uma
conectando-se com suas práticas e articulação identitária. Ou seja, um
elementos ideológicos. Pode-se grupo interligado por questões nos
argumentar que não havendo uma âmbitos do pragmatismo e da
grande comunidade f ixa, não seria consciência.
possível pensar esta relação entre o Com relação ao grupo B,
Batista e os batizados do grupo C este, diferentemente do grupo C, era

280
constituído por indivíduos que ao O conflito interno da
ouvirem João e serem batizados por comunidade joanina, em estabelecer 17
A narrativa do encontro
ele, permaneciam em sua presença uma relação entre o Batista e Jesus, entre João Batista e Jesus de
por algum tempo, ouvindo e demonstrado pelos redatores do Nazaré no livro de Lucas se
passa no período da infância
aprendendo, mas que por razões quarto evangelho – claramente de ambos e é historicamente
diversas abandonavam sua perceptível no paradoxo da negação pouco viável, tendo em vista
as narrativas dos outros três
companhia e regressavam para seus da ação batismal de Jesus após a
evangelhos, em que o
lugares habituais e trajetórias afirmação de que este batizava em Jo encontro acontece na fase
próprias. Este grupo pode ser 4:2 – nos oferece as ferra mentas adulta. Além de ser dotada
de um grande número de
considerado como intermediário para pensar estas informações, pois simbolismos e
entre os que eram batizados e não é impensável que os redatores do encadeamentos, não há
qualquer outro ponto de
permaneciam na presença de João e texto colocar-se-iam em uma posição apoio metodológico, além do
os que optavam, permanentemente, de constrangimento por simples próprio livro de Lucas, e por
isso não será utilizada nesta
pelo modo de vida nômade ao lado descuido. O mais provável é que o pesquisa.
de seu mestre. O exemplo mais texto seja fruto de um debate e as
notável de um desses casos é tentativas de harmonização e
narrado em três dos quatro equalização entre os personagens
evangelhos 17 : o encontro de João atormentaram os redatores durante
Batista e Jesus. Os fragmentos do bastante tempo. Desta forma, é
material neo-testamentário que possível af irmar, com uma boa base
narram este encontro – Mc 1:9/Mt de certeza, que Jesus fez parte da
3:13 /Jo 1:29 – apresentam um comunidade do Batista e foi seu
panorama bastante favorável para a discípulo por algum tempo. Após esse
inferência de que os indivíduos que período indefinido, Jesus deixou o
não permaneciam no núcleo central círculo do Batista e iniciou sua
de seguidores de João Batista, própria jornada como líder popular,
voltavam aos seus lugares de origem mantendo uma relação estreita com
plenos de sua mensagem, divulgando os ensinamentos e práticas
suas palavras e praticando seus apreendidas de João. Mesmo após a
ensinamentos. A própria tradição de constituição dos pilares inerentes de
João, o Evangelista, indica que Jesus seu ministério, até o final de sua
inicia seu ministério pregando vida, Jesus teve o Batista em alta
exatamente o que absorvera de João, conta. Isto é um fato bastante
além de lhe ter arrebatado dois de notável, sobretudo, pela continuidade
seus discípulos – Jo 1:35-37 –. É da figura de João Batista na tradição
apenas ao longo de sua trajetória, dos seguidores de Jesus, em que
após o batismo, que Jesus mesmo sendo o condutor de um
desenvolve as bases intrínsecas de grupo distinto, e até mesmo
seu ministério. “Depois disso veio concorrente, não foi possível, para os
Jesus com os discípulos para o redatores dos textos, apagar a
território da Judéia e permaneceu ali conexão entre os dois personagens.
com eles e batizava. João também Por f im, o grupo A era
batizava em Enom, perto de Salim, formado por uma quantidade menor
pois lá as águas eram abundantes e de pessoas que seguiam o Batista de
muitos se apresentavam para serem forma constante. No livro de Marcos
batizados” (JO 3:22-23). – 6:29 –, ao ser narrada a forma
281
como João foi executado, é dito que Desta forma, este círculo
os discípulos de João ao saberem da composto de três camadas de
morte de seu mestre, tomaram o seguidores, que tinham em João
corpo e o colocaram num túmulo. Batista a sua pedra angular, é
Não se trata, no entanto, de se constitutivo de um processo que
discutir acerca da possibilidade ou remete à formação de um movimento
não de João ter sido sepultado, social pautado em fatores religiosos e
quando a grande probabilidade, morais. Ao que tudo indica, este
considerando o context o histórico e círculo expandiu-se ao longo do
social dos judeus pauperizados de século I e a adesão cada vez maior
seu tempo leva a crer no contrário. de seguidores, fez com ganhasse
Mas o fato de os autores de Marcos proporções tão elevadas, que dentro
terem citado a presença dos do contexto de surgimento de
discípulos no momento pós- movimentos de resistência contra o
execução, leva a indagação a poder central romano-herodiano,
respeito do motivo desta inclusão. A durante o primeiro século, tornou-se,
maneira incisiva com que os para o poder hegemônico, um perigo
discípulos são trazidos à narrativa, em potencial para o status quo
não apresenta nenhum motivo vigente. No fragmento de Josefo
aparente de ser um artifício enfático, sobre João Batista é possível deduzir,
e sim um resquício da tradição oral a paralelamente às informações
que Marcos estava articulado. É contidas nos evangelhos, que a
praticamente impossível que seus adesão ao ministério de João tendia a
seguidores mais próximos não um alargamento. Este alargamento,
tivessem conhecimento de sua provavelmente, elevou o movimento
prisão. Não é plausível afirmar, de de João a um possível foco de
forma contundente, que o motivo da resistência, aos olhos de Herodes, o
morte de João reside realmente na que resultou na morte de João e
crítica ao casamento de Herodes dispersão de seus seguidores.
Antipas, mas é perfeitamente factível
que os discípulos de João estivessem §117. Pois Herodes o matou,
prontificados a receber o corpo de embora ele fosse um bom homem
e [apenas] conclamasse os
seu mestre morto, após a sua judeus a aderirem ao batismo,
execução. Estes seguidores mais contanto que eles estivessem
próximos, que o acompanhavam de cultivando a virtude e praticando
a justiça entre si e a piedade para
perto, em suas exortações ao longo
com Deus. Pois [somente] assim,
do Jordão, e compartilhavam de sua no entender de João, o batismo
dieta e suas práticas diárias, [que ele administrava] seria
provavelmente, recebiam mais que verdadeiramente aceitável [para
Deus], isto é, se eles o usassem
ensinamentos acerc a do jejum e da
para obter, não o perdão para
oração. É bastante presumível que ao alguns pecados, mas sim a
dividir a companhia de seu líder, purificação de seus corpos,
estes absorvessem a doutrina do porquanto [dava-se como certo
que] suas almas já tivessem sido
Batista de forma mais aprofundada e purificadas pela justiça. (apud
o viam como uma espécie de guia MEIER, 1994: 89)
moral e religioso.
282
Conhecendo então a sob o prisma dos próprios elementos
constituição do círculo de seguidores que a compõem, em articulação com 18
Termo aqui utilizado
de João Batista é possível buscar o o contexto em que estão inseridos. propositalmente, em
substituição ao termo “classe”
porquê de João ter articulado um Assim a formação de uma “classe”,
de Thompson. Esta opção se
grupo de seguidores e os motivos sob a perspectiva de Thompson, deve ao fato de que, a
pelos quais as pessoas aderiam ao deixa de ser um processo passivo, despeito do debate entre
primitivistas e modernistas, a
seu movimento. Entretanto para para tornar-se um processo ativo. composição teórica da
compreender o caso particular da É necessário ressaltar que a formulação de Thompson, em
minha opinião, extrapola a
formação de um grupamento social a ideia de “classe”, como rigidez de uma nomenclatura
partir da liderança do Batista, compreendida por Thompson pode presa a um determinado
contexto histórico, pois se dá
composto em grande parte por expandir-se para além das na esfera da prática social
elementos explorados e sociedades capitalistas, quando este entre indivíduos e dos conflitos
entre diferentes grupos
marginalizados da população postula que sua verdadeira
identitários.
palestina, os desdobramentos substância encontra-se na esfera das
teóricos de matiz thompsoniana são relações sociais. Posto isto, é possível
de grande valor para a compreensão perceber, a partir de invest igações
da relação entre João e seus metodológicas, as diferenciações
discípulos. entre os grupos, urbanos ou rurais,
A base do pensamento de presentes no contexto de opressão
Thompson (1987: 9) fundamenta-se, imperial da Palestina no período já
em primeiro lugar, na negação do citado. Pensando a formação de
conceito de “classe”, como uma “grupos sociais”, 18 é possível
estrutura estática, pré-determinada ponderar que o irrompimento de
pelas relações entre um poder conflitos entre grupos judaicos e o
hegemônico e grupos subjugados, poder imperial, assim como entre
como se a delineação da “classe” eles próprios, torna possível uma
partisse de elementos inflexíveis, pormenorização do funcionamento
determinados economicamente e destes grupos em sua forma
socialmente. Para ele noções particular, sem perder de vista o
cristalizadas como “classes contexto em que estão inseridos e as
trabalhadoras” são detentoras de interações entre eles.
uma superficialidade interpretativa Dentro de um contexto
que oblitera as ações de indivíduos opressor de um estado imperial
ou grupos, como se estes fossem estrangeiro, é perceptível que,
atores passivos, dentro de um apesar da existência de uma zona de
contexto maior que cria condições interseção entre os objetivos de
para o seu aparecimento. Para diferentes grupos, inclusive o grupo
Thompson o fenômeno da “classe” só liderado por João Batista, e de estes
é possível de ser determinado dividirem características étnicas,
através de um conjunto de culturais e religiosas, cada qual é
acontecimentos que perpassam tanto portador de uma leitura dos fatos
a experiência quanto a consciência, e que lhe é particular, e suas ações
estas, as “classes”, não são “coisas” determinam-se por motivos diversos
capazes de serem demonstradas e não por um motivo totalizante. A
matematicamente e fundamentadas grande tensão social, provocada pela
sob uma visão “de cima”, mas sim insatisfação de vários setores da
283
sociedade judaica e m relação ao determinações e ideias do Batista
sistema opressivo implementado pelo estes indivíduos estabeleciam uma 19
A implementação de uma
governo romano na região da conexão identitária, em relação ao administração romana no
Palestina19 , foi considerada, por líder e a eles mesmos, e a marca espaço geográfico Palestino
tem seu início no ano 63
grande parte dos pesquisadores, final dessa identificação residia em a.e.c., após a conquista
como o fator crucial para o um ritual de purificação pela imersão militar do mediterrâneo
oriental, no entanto, é a
aparecimento destes tipos de nas águas do Jordão. A partir da morte de Herodes
movimentos sociais. O panorama “dramatização da mensagem Magno, em aproximadamente
4 a.e.c. que esta
conflituoso em que se encontravam oracular” (HORSLEY; HANSON, administração se torna
judeus e romanos, como observou 1995), através de rituais ou de realmente efetiva.
Horsley (2010; 2000; cf. tb. práticas, é uma realidade na
HORSLEY; HANSON, 1995), fez da literatura bíblica, tanto no Antigo
Palestina um terreno fértil para o como no Novo Testamento, e João
surgimento de diversos movimentos Batista estabelecia o batismo como
de resistência que subvertiam o uma marca, um selo, para os que
rígido ordenamento social imposto comungavam de seus ensinamentos
pelo poderio romano. Esta e estariam potencialmente aptos à
intervenção militar estrangeira, salvação no tempo do julgamento do
articulada às elites judaicas locais, “mais forte”.
encaminhava a população palestina
mais empobrecida, sobretudo em O batismo de João deve portanto
áreas rurais, a uma situação de ser entendido como um selo
escatológico que reconstituiu os
pauperismo extremo, perda de eleitos de Israel, que seriam
terras, endividamento, imposições poupados no julgamento de Deus.
religiosas, desmantelamento do [...] A pregação de João sobre o
juízo próximo de Deus chama
modo vida, humilhações públicas e
Israel ao arrependimento e
violência desmedida. oferece o batismo como garantia
João Batista também estava para entrada na promessa divina.
inserido neste panorama, e suas (KOESTER, 2005: 82-84)
mensagens, assim como a
Este selo identitário,
mensagem de muitos líderes
estabelecido através do batismo, é o
anteriores e contemporâneos a ele,
elemento objetivo da conexão entre
apresentavam uma via de redenção e
os diferentes indivíduos que iam ao
mudança, através da equalização
encontro do Batista. No entanto, a
pelo julgamento cósmico, que
substância concreta da formação de
causava uma impressão forte em
um movimento em torno de João
indivíduos que sentiam na pele a
reside na articulação de sua
deterioração de suas existências
ideologia, que deixava rastros em
sociais. Esta perspectiva salvacionista
todos os seus ouvintes por prever um
arrebatava as pessoas em situação
julgamento divino que repararia e
lastimável, que ao ouvir as palavras
restituiria os justos e castigaria os
duras e a incitação a uma mudança
injustos e malignos, e na mudanç a
espiritual e prática, assentavam, na
cotidiana de raiz pragmática, que
fé do julgamento de Deus, as bases
com toda probabilidade os
para a esperança de uma vida
diferenciava de grande parte da
melhor. Com isso, ao acatar as
284
sociedade judaica, imersa em compartilhavam elementos comuns,
querelas intra-judaicas e elementos dentro de um panorama maior de
20
Para mais informações
da cultura romano-helenísticas20 . dominação imperial e degradação
acerca das articulações
Esta articulação entre ideologia e social das camadas oprimidas. Este culturais no Mediterrâneo
pragmatismo é que gera uma movimento floresceu e cresceu de Antigo ver (CHEVITARESE;
CORNELLI, 2007.)
identif icação entre todos os que se forma independente durante a
submeteram ao batismo de João e o primeira metade do século I e.c. e
caráter singular desse ritual de persistiu mesmo após a morte de seu
imersão, ministrado uma única vez, líder, como podemos inferir a partir
nos dá as pistas necessárias para dos escritos das comunidades de
compreender o movimento do Batista seguidores de Jesus de Nazaré e
em sua estrutura essencial. Josefo. A influência de João para
Em conclusão, o movime nto alguns grupos judaicos do primeiro
de João Batista, apesar de inserido século pode ser sentida não apenas
em um contexto maior de surgimento através da literatura do Novo
de grupamentos de resistência e de Testamento, mas também nos
cunho profético, abrange uma gama escritos de Flávio Josefo, e isso é um
de peculiaridades que denotam a fator relevante para se pensar o
formação de um grupo social a partir movimento do Batista como um
de experiências compartilhadas em importante objeto para se
âmbito pragmático e ideológico. Isto compreender o contexto palestino
significa dizer que ao combinar durante a ocupação romana, assim
aspectos identitários entre diferentes como as interações culturais do
indivíduos que detêm em si variadas binômio dominante/dominado e as
perspectivas, visões de mundo e inter-relações entre diferentes
práticas cotidianas, João torna-se o camadas sociais.
centro aglutinador de um círculo de
pessoas que dividiam e

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RECEBIDO EM 09.02.2017
APROVADO EM 01.03. 2017
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