Você está na página 1de 4

Primeira Avaliação de Literatura Portuguesa VI – Bichos, de Miguel Torga.

TEMA/CONTO: “Mago”

1. Apresentar o bicho para a turma.

É um animal bastante mal compreendido pelo ser humano da atualidade. Geralmente, as


pessoas amam ou odeiam, mas quem não gosta desse animal costuma basear sua opinião
em informações genéricas, quase sempre equivocadas. Na verdade, este é um animal
muito amoroso, leal e companheiro, tem um olhar cativante e um paladar que tende a
ser requintado, além de ser colecionável.

2. Apresentar uma análise sobre o nome do bicho.


 Ao longo da história da humanidade, em diversas culturas, os gatos foram
considerados divindades (na mitologia egípcia, eram associados à deusa Bastet)
e vistos como animais sagrados (no Islamismo são admirados por sua higiene e
admitidos em casas e mesquitas. Há abundância de gatos nas ruas em países
islâmicos como o Catar e a Turquia). No entanto, em algumas épocas,
acreditava-se que possuíam conexões malignas com o mundo sobrenatural
(durante a Idade Média, foram associados à bruxaria).
 O nome “Mago”, dado ao protagonista do conto, pode justificar-se tanto por sua
superioridade hierárquica em relação aos demais gatos do conto, uma vez que
ele foi adotado e conquistou um estilo de vida de melhor qualidade que seus
companheiros, como também pelo efeito que causou em Dona Maria da Glória
Saneia, a mulher que o encontrou em seu quintal.
3. Contar o conto.

4. Analisar o conto levando em consideração:


I. O contexto histórico português

“O animal filosófico e a resistência em Bichos, de Miguel Torga”. (Socio, Luama)

Miguel Torga = Adolfo Correia da Rocha (crítico do Estado Novo português, , preso
pela censura, neo-modernista, falecido em 1995).

Salazarismo: 1932 a – 1968 morte de Salazar (assume Marcello Caetano) – 1974


(Revolução dos Cravos)

 Ditadura do Estado Novo Salazarista (1932 a 1968): de cunho fascista,


marcada pelo autoritarismo centrado na figura do líder (que era Salazar, o
Primeiro Ministro; o poder do Presidente passou a ser figurativo), perda da
liberdade de expressão, censura dos meios de comunicação, partido único
(Partido Nacional), nacionalismo exacerbado (Deus, Pátria e Família), resgate
dos valores tradicionais, forte repressão do Estado (com uso da força militar) etc.
 O livro demonstra o corpo social português em 1940, sob o julgo ditadura
salazarista. Cada conto apresenta um bicho-homem “construído literariamente a
partir da evidência de qualidades emocionais simbolizadas popularmente pelo
animal específico” (p. 801).
 METÁFORA DOS ANIMAIS: antropomorfização do animal e zoomorfização
do
 METÁFORA DE ANIMAIS denuncia a naturalização da opressão – ideia de
“natureza” como subalterna à força dos dominadores.
 Corrente cristã – Miguel Torga foi seminarista e teve contato com os textos
sagrados – conexão com o divino representada pela presença de “vários
símbolos bíblicos católicos e ligações com a mitologia grega” (p. 805).
 Paralelismo estrutural entre os contos e os quadros da via crucis (14 contos e 14
quadros). Nos contos, o desenrolar da narrativa é consequência do caráter dos
personagens ou de uma conjuntura social desfavorável e é isso que leva “à
deturpação, inversão ou degradação do que seria a qualidade psicológica
benéfica correspondente.” (p. 806).

II. A crítica por trás do conto

Mago passa parte significativa do início do conto reclamando das circunstâncias de sua
nova vida, no entanto, apesar de passar os dias no mormaço da sala de Dona Saneia, que
o deixaram “mole, sem acção, bambo e morno”, não nega os mimos que a mulher lhe
oferecia. ACOMODAÇÃO. PREGUIÇA. Ao decidir aventurar-se pela noite com os
antigos amigos, ele percebe que seu corpo não é mais tão desenvolto, é incapaz de
vencer uma briga e vira alvo de chacota, então foge. COVARDIA. Para Mago, a única
solução seria voltar à segurança da casa de Dona Saneia, mesmo contrariado; tudo que
lhe acontecera era culpa da mulher que o adotara e o domesticara, tirando dele todos os
instintos e habilidades. INGRATIDÃO. MANIPULAÇÃO. No final do conto, Mago
retorna à casa da senhora “de livre vontade... Ninguém o obrigara...” e mesmo
considerando degradante a sua situação, prefere permanecer. FRAQUEZA.

Segundo quadro da via crucis: Jesus carrega a cruz


A nova vida na casa de Dona Saneia, que o teria condenado à humilhação e
desesperança, era “a cruz que Mago deveria carregar” – seu fardo.

Outra referência à via crucis está em “E só então é que reparou: deixava um rastro de
sangue por onde passava...”. (“Mago”, p. 16).

Você também pode gostar