Você está na página 1de 22

Projeto de Máquinas

Material Teórico
Metodologia e Estrutura Básica de um Projeto

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Marcelo L. Teruel

Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos
Metodologia e Estrutura
Básica de um Projeto

• Introdução ao Projeto – Definições;


• Metodologias e Fases de um Projeto (PDP –
Processos de Desenvolvimento de Produto/
Projeto) – Uma Revisão da Literatura;
• Metodologia Geral (Síntese) das Fases Aplicadas
ao Desenvolvimento de Produto, ao Projeto de
Engenharia e ao Projeto de Máquinas.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Compreender as diversas metodologias utilizadas para o desenvolvimento de um
projeto de engenharia e para o projeto de uma máquina, por meio de uma breve
revisão da literatura;
• Apresentar uma metodologia Global/Genérica (síntese) para o Desenvolvimento de
Produto/Projeto de Máquinas.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de
aprendizagem.
UNIDADE Metodologia e Estrutura Básica de um Projeto

Introdução ao Projeto – Definições


Para o bom entendimento do que se trata um Projeto de Máquinas, primeira-
mente deve-se ter pleno domínio de alguns conceitos, como veremos a seguir.

Projeto
O que é projeto, ou “design”?

O termo projeto (“design”) engloba uma grande variedade de significados e pode


estar relacionado a:
• Aparência, estética de objetos, roupas, adornos, decorações (Desenho Artístico);
• Peças mecânicas (no carro: motor, freios, suspensão, etc.) que devem ser pro-
jetadas por engenheiros (Projeto de Engenharia).

A palavra “design” provém da palavra latina designare, que significa “designar


ou escolher”. No dicionário: “esboçar, traçar ou planejar como ação ou trabalho [...]
para conceber, inventar, produzir”.

Em nosso contexto, em que estamos mais preocupados com o Projeto de En-


genharia do que com o Desenho Artístico, a definição mais aceitável de Projeto é:

Um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades inter-


-relacionadas e coordenadas, com o fim de alcançar objetivos específicos dentro dos
limites de um orçamento e de um período de tempo dados.

Máquina
Uma máquina pode ser definida de muitas formas. Os dicionários apresentam
doze definições, entre as quais estão estas duas:
• Um aparato que consiste em unidades inter-relacionadas; ou
• Um dispositivo que modifica a força ou o movimento.

Na definição anterior, as peças inter-relacionadas também são chamadas, às


vezes, de elementos da máquina.

A função básica de uma máquina é a realização de um trabalho útil, existindo


quase sempre alguma transferência de energia envolvida.

A menção e o entendimento dos conceitos de forças e movimentos também são


cruciais ao nosso interesse, uma vez que, ao converter uma forma de energia em
outra, as máquinas criam movimentos e desenvolvem forças.

8
É tarefa do engenheiro definir e calcular esses movimentos, as forças e as mu-
danças de energia, de modo a determinar as dimensões, as formas e os materiais
necessários para cada uma das peças que integram a máquina.

Projeto de Engenharia/Projeto de Máquinas


Projeto de Engenharia
É o processo de aplicação das várias técnicas e princípios científicos com o intui-
to de definir um dispositivo, um método ou um sistema suficientemente pormeno-
rizado para permitir sua realização.

Projeto de Máquinas
É um aspecto (braço) do Projeto de Engenharia que trata da criação de uma
máquina que funcione bem, com segurança e confiabilidade.
Os objetivos finais do projeto de máquinas são:
• Dimensionar e dar forma às peças (elementos de máquinas);
• Escolher os materiais e os processos de manufatura apropriados;
• Garantir que a máquina resultante possa desempenhar a função desejada sem falhar.

Isso requer que o engenheiro seja capaz de calcular e de prever o modo e as


condições de falha de cada elemento e, então, projetá-lo para prevenir tal falha, o
que requer que uma análise de tensão e deflexão seja feita para cada peça.

Uma vez que as tensões são função dos esforços aplicados e de inércia, assim
como da geometria da peça, uma análise das forças, momentos, torques e dinâmica
do sistema deve ser feita antes de as tensões e deflexões poderem ser completa-
mente calculadas.

Iterações
Enfrentamos um dilema nos estágios iniciais do projeto de uma máquina. Em
geral, a tarefa mais difícil na elaboração do projeto é determinar com precisão todos
os esforços exercidos sobre a máquina. Exemplo:
• As cargas sobre um automóvel em movimento;
• A quais fatores ambientais o usuário submeterá a máquina (buracos, conver-
sões bruscas, etc.).

9
9
UNIDADE Metodologia e Estrutura Básica de um Projeto

O dilema só pode ser resolvido por meio de iteração, que significa repetir, ou
voltar a um estágio anterior. Devemos admitir uma configuração inicial para cada
peça, determinar as forças, os momentos e os torques internos atuantes sobre elas
e, então, usar a geometria da seção transversal do projeto inicial para calcular as
tensões resultantes.

O mais provável é descobrirmos que a primeira tentativa fracassa porque o ma-


terial não suporta o nível de tensão apresentado.

Devemos, então, reprojetar as peças (iterar), alterando o formato, as medidas,


os materiais, o processo de fabricação ou outros fatores para alcançar um pro-
jeto aceitável.

Geralmente, não é possível alcançar um resultado bem-sucedido sem fazer vá-


rias iterações ao longo da elaboração do projeto.

Observe, além disso, que uma alteração da massa de uma peça também afetará
as forças aplicadas sobre as peças conectadas a ela, exigindo, assim, que se refaça
o projeto das demais peças.

Trata-se, na verdade, de um projeto de peças inter-relacionadas.

Metodologias e Fases de um Projeto (PDP –


Processos de Desenvolvimento de Produto/
Projeto) – Uma Revisão da Literatura
O desenvolvimento de novos produtos (produtos inovadores) e a busca por me-
lhorias constantes de produtos já existentes (produtos evolutivos) tornaram-se um
ponto focal da concorrência industrial. Para os gestores do mundo todo, desenvol-
ver produtos melhores e mais rápidos, mais eficientes e mais eficazes está no topo
da agenda competitiva.

Há evidências de que um projeto eficaz e o desenvolvimento de novos produtos


têm um impacto significativo no custo, qualidade, satisfação do cliente e vantagem
competitiva de uma empresa bem-sucedida.

O sucesso de uma empresa está intimamente associado à sua capacidade de


introduzir novos produtos no mercado. Um produto, por sua vez, será tão mais
competitivo quanto maior for seu diferencial com relação aos seus concorrentes
no que diz respeito ao atendimento das necessidades do consumidor, qualidade e
preço. Neste contexto, outra importante vantagem competitiva é a capacidade da
empresa de não somente produzir um produto cada vez melhor, mas também re-
duzir significativamente o seu tempo de desenvolvimento, pois quanto menor for o
ciclo de desenvolvimento maior será a frequência com que novos produtos podem
ser introduzidos no mercado.

10
Antes de uma fábrica iniciar suas atividades e começar a produzir um produto real,
a ideia dos projetistas e gestores deve se transformar em hardware, software, dese-
nhos de produção, peças, ferramentas, procedimentos, equipamentos e processos.
O que a empresa faz (a sua estratégia de projeto de produto) e como ela faz (a sua
gestão de desenvolvimento) irão determinar o posicionamento do produto no merca-
do. A forma como a empresa realiza o desenvolvimento de produtos - sua velocidade,
eficiência e qualidade do trabalho - irá determinar a competitividade do produto.

Mas quais são os indicadores de desempenho no desenvolvimento de produtos


que uma empresa deve utilizar? O quão importantes são a estratégia e o ambiente
competitivo? Qual o escopo existente para lidar com os diferentes níveis internos,
seus respectivos gestores e processos organizacionais? Por que algumas empresas
são muito mais eficazes do que outras? O que, quem, como, quando e onde desen-
volver e produzir? Estas questões dão uma ideia de quão complexo é um processo
de desenvolvimento de produto/projeto (PDP) e de que este envolve muitas pessoas
e está muito relacionado a como a empresa atua nos seus diversos setores - em
estratégia, marketing, engenharia, manufatura, atendimento ao cliente. Sem uma
estrutura bem definida, sem um modelo bem planejado e estudado para guiar este
processo, a empresa está sujeita a perder-se em uma profusão de detalhes, corren-
do grande risco em dar pouca atenção para o que é realmente importante.

Clark e Fujimoto (apud TERUEL, 1991) apresentaram um processo de desen-


volvimento de produtos composto por fases que facilitam o seu entendimento, após
realizarem um estudo na indústria automobilística (figura 1).

Planejamento Engenharia Engenharia Produção


Conceito do Produto do Produto do Processo Piloto

Figura 1 – Fases do processo de desenvolvimento de produtos


Fonte: Adaptado de CLARK e FUJIMOTO apud TERUEL, 1991

Segundo os autores, as primeiras fases, de conceito e planejamento do produto,


consistem basicamente na análise do mercado e no planejamento de como o pro-
duto será projetado. Em seguida, parte-se para o detalhamento do produto e do
processo, incluindo a construção de protótipos. Por fim, parte-se para a produção
piloto, que realiza os testes finais antes do lançamento.

O final de uma fase e o início de outra é marcado por uma revisão da fase, em
que são verificadas todas as atividades e resultados obtidos até então. O significado
da aprovação de uma fase é que o processo está com maturidade suficiente para
prosseguir para a próxima fase sem problemas. Este processo de revisão de fases,
ao longo do tempo, foi sendo mais desenvolvido e detalhado, passando a incluir
também a decisão de pessoas da alta administração para aprovação e consideração
do portfólio de produtos na tomada de decisão.

Aprimorando o modelo anterior, Clark e Wheelwright (apud TERUEL, 1992) divi-


diram o processo de desenvolvimento de produtos em quatro fases: desenvolvimento

11
11
UNIDADE Metodologia e Estrutura Básica de um Projeto

do conceito, planejamento do produto, engenharia do produto/processo e, final-


mente, produção piloto/aumento da produção (figura 2).

Fase
Aprovação do
Desenvolvimento Programa
do Conceito
Conceito Liberação
Primeiro Final de
Protótipo Engenharia
Planejamento
do Produto Projeto/Planejamento

Engenharia do Produto Introdução no


Produto/Processo Mercado
Processo

Produção Produção Piloto


Piloto/Aumento Aumento da Produção
da Produção

Figura 2 – Fases do desenvolvimento de produtos


Fonte: Adaptado de Clark e Wheelright apud TERUEL, 1992

Os autores detalham que as duas primeiras fases, que compreendem o desenvol-


vimento do conceito e o planejamento do produto, incluem informações sobre as
oportunidades de mercado, as possibilidades técnicas e os requisitos de produção.
Consideram aqui o projeto conceitual, o mercado-alvo, os investimentos necessá-
rios e a viabilidade econômica. Para a aprovação do programa de desenvolvimento
de produto, o conceito deve ser validado através de testes e discussão com poten-
ciais clientes.

Seguindo no detalhamento do modelo, os autores argumentam que a fase de


produção piloto compreende a construção e teste dos meios de produção. Di-
zem que nesta fase são produzidas muitas unidades do produto com o objetivo
de testar os planos de processo desenvolvidos nos níveis de produção comerciais.
A conclusão desta fase indica que todo o ferramental e equipamentos estão pron-
tos, incluindo os fornecedores de peças, estando, assim, o produto pronto para
início de produção comercial.

Concluindo o modelo, detalham que a última fase compreende o aumento do


volume de produção, envolvendo o refinamento do processo de produção, com
aumento gradativo do volume até que a organização e os fornecedores atinjam
confiança no processo e estejam aptos a atingir as metas planejadas de produção,
de custos e de qualidade.

Segundo Rozenfeld (apud TERUEL, 2006), geralmente um modelo de PDP estru-


turado é composto por três macrofases, que por sua vez são subdivididas em fases e
atividades. As três macrofases, observadas na figura 3, são: (i) Pré-desenvolvimento;

12
(ii) Desenvolvimento; e (iii) Pós-desenvolvimento. O que determina uma fase é a
entrega de um conjunto de resultados, que juntos determinam o novo patamar de
evolução do processo de desenvolvimento.

Processo de Desenvolvimento de Produto

Pré Desenvolvimento Pós


Planejamento
Estratégico Acompanhar Descontinuar
dos Produtos Produto/ Produto
Processo
Gates >>

Planejamento Planejamento Planejamento Planejamento Planejamento Lançamento


Projeto Informacional Conceitual Detalhado Produção do Produto

Processos Gerenciamento de Mudanças de Engenharia


de Apoio
Melhoria do Processo de Desenvolvimento de Produtos

Figura 3 – Modelo de referência PDP


Fonte: Adapta de Rozenfeld apud TERUEL, 2006

Segundo Nunes (apud TERUEL, 2004), na literatura, os investigadores, de áreas


científicas e disciplinares variadas têm proposto uma grande diversidade de mode-
los para orientar o processo de desenvolvimento de novos produtos. Cada um deles
sugere uma série de etapas, cuja execução permite reduzir a incerteza associada
ao processo de inovação e tomar a decisão adequada em relação a continuar ou
abandonar o projeto.

Ainda que, em geral, o número de fases difira, em todos os casos trata-se de


obter e avaliar simultaneamente a informação de natureza tanto técnica como co-
mercial. A maioria dos modelos concebidos apresenta uma sequência de etapas, ca-
racterizada pela tomada de uma decisão do tipo “go/no go” no final de cada etapa.

Porém, existem outros modelos em que tal situação não ocorre. Isto é, não se
pretende que cada etapa do processo seja executada de forma individual e con-
trolada por uma determinada função, mas sim promovendo um estilo baseado na
sobreposição de atividades (LANGERAK, PEELEN e NIJSSEN, apud TERUEL,
1999). Esta abordagem, segundo os autores, permite encurtar os ciclos de de-
senvolvimento e atenua a transição de uma etapa para outra, evitando que se
formem estrangulamentos.

Na figura 4, são apresentados quatro modelos que representam as diversas abor-


dagens utilizadas, devendo-se considerar que cada etapa proposta implica uma
grande complexidade de atividades e que se produzem interações entre as mesmas
(NUNES, apud TERUEL, 2004).

13
13
UNIDADE Metodologia e Estrutura Básica de um Projeto

Geração de Ideias Desenvolvimento e Teste Filtragem de Ideias Estratégia de Marketing


de Conceito

Análise do Negócio Obtenção do Produto Teste de Mercados Comercialização

Fonte: Kotler (1995)

Design
Identificação de Oportunidade Necessidades dos Clientes Testes
Sim Posicionameto Sim Teste de Produto e Comunicação
Definição do Mercado Segmentação Teste Anterior ao Lançamento
Geração de Ideias I&D Teste de Mercado
Marketing-Mix

Sim
Não Não
Não
Reposicionamento

Introdução Gestão do Ciclo de Vida


Sim Análise da Resposta do Mercado
Plano de Lançamento Controle e Defesa da Concorrência Resultado
Acompanhamento do Lançamento Inovação e Maturidade
Não

Fonte: Urban e Hauser (1993)

Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase 4 Fase 5


Desenvolvimento

Comercialização
Preliminar

Validação
Avaliação

Definição

De mercado Estudo Produto Teste do


detalhado Protótipo
do mercado

Teste com Início dos


Teste e Clientes
Estudo Planos de Planos
técnico em Marketing Operativos
profundidade
Controle 01

Controle 02

Controle 03

Controle 04

Controle 05

Produção
Ideia Técnica Experimental Revisão
Definição e Análise
justificação de Custos Execução do
do produto Teste de Plano de
Mercado Lançamento

Plano de Controle do
projeto, Feedback do Revisão Global
aspectos Mercador e Financeira e
Financeira legais do Clientes do Negócio

Fonte: Cooper e Kleinschmidt (1993b, 1990b, 1986)

Fase 0 Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase 4


Aprovação da Ideia Design Conceitual Especificação e Desenvolvimento e Comercialização
Design Físico Teste de Protótipo

Controle 0 Controle 1 Controle 2 Controle 3


Decisão de Continuar Aprovação do Início do Design Produção em Massa
Desenvolvimento
Fonte: Voss, Blackmon, Hanson e Claxton (1669)

Figura 4 – Modelos de desenvolvimento de novos produtos


Fonte: Adaptado de Nunes apud TERUEL, 2004

O problema com os modelos de desenvolvimento de novos produtos é que, tal


como se tem comprovado na prática, a importância que os executivos atribuem
às etapas propostas, ou às tarefas que cada uma delas inclui, é muito menor do
que aquela que realmente deveria ser, de tal maneira que muitas etapas são omiti-
das ou incorretamente realizadas. De fato, entre os aspectos mais negligenciados

14
encontram-se a investigação de mercados (viabilidade) e a utilização de testes de
mercados (benchmark). Além disso, existe uma grande resistência à utilização de
técnicas de marketing que facilitam o desenvolvimento adequado de muitas das
fases propostas. Reconhecidamente pela literatura, as técnicas de geração de ideias
de novos conceitos e produtos permitem avaliar, entre outros aspectos, a eficácia
de estratégias alternativas de comercialização e de previsão da oferta e procura.
Todos estes instrumentos são basicamente desconhecidos e ainda menos utilizados,
despertando geralmente um reduzido interesse entre os executivos responsáveis pe-
los novos produtos, e se lhe atribui pouca utilidade, o que expõe uma deficiência
muito séria na gestão da inovação (NIJSSEN e FRAMBACH, apud TERUEL, 2000).

Metodologia Geral (Síntese) das Fases


Aplicadas ao Desenvolvimento de
Produto, ao Projeto de Engenharia
e ao Projeto de Máquinas
A metodologia de projetos é essencialmente um exercício de criatividade aplica-
da. Como vimos anteriormente, na literatura encontramos muitas metodologias (de
diversos autores) de projeto e desenvolvimento de produtos que foram definidas para
ajudar a organizar e a enfrentar um problema não estruturado; isto é, casos em que
a definição do problema é vaga e para os quais muitas soluções possíveis existem.

Algumas dessas definições contêm somente algumas etapas, e outras uma lista
detalhada de 25 etapas. Desta forma, tomando como base as várias metodologias
apresentadas, é proposta aqui uma versão geral (uma síntese) de uma metodologia
de projetos (mostrada a seguir), que relaciona 10 etapas.

As 10 Etapas para o Desenvolvimento de


um Produto ou para m Projeto de Máquinas
1ª Etapa: Identificação da Necessidade, do Problema dos Objetivos
Esta primeira etapa visa responder às questões abaixo, com o objetivo de iden-
tificar claramente a necessidade, o problema ou o objetivo a ser alcançado com o
desenvolvimento do projeto:
• Por quê?
• Para quê?
• Para quem?

15
15
UNIDADE Metodologia e Estrutura Básica de um Projeto

2ª Etapa – Pesquisa de Suporte/Revisão da Literatura


Nesta etapa, deve-se realizar uma pesquisa minuciosa na literatura mundial com o
objetivo de conhecer e verificar como o mundo está tratando este assunto. Ou seja,
deve-se responder às questões:
• O que já existe?
• O que estão falando/escrevendo sobre o assunto em nível mundial?

3ª Etapa – Croquis/Esboços (Claramente Desenhados e Rotulados)


Esta é a etapa em que há o início da demonstração/apresentação visual do pro-
jeto/objeto/produto. Deve-se providenciar:
• A confecção do maior número possível de desenhos / croquis, que podem ser
feitos à mão livre, mas sempre em escala razoável, de forma a exibir propor-
ções geométricas realistas do objeto / produto em questão;
• O levantamento do maior número de alternativas e soluções criativas (Brainstorm).

Nesta etapa, não se consideram valor e qualidade; e não são feitas pré-avaliações
de nenhuma espécie.

4ª Etapa – Síntese
Nesta etapa, deve-se proceder à escolha da melhor das alternativas apresenta-
das na etapa anterior. A opção/alternativa selecionada deve ser aceita da forma
como está, ou pode sofrer alterações conforme sugestões propostas. Pode ocorrer
de nenhuma alternativa ter sido escolhida, pois nenhuma delas atinge os objeti-
vos iniciais, ou não atende às necessidades do projeto; neste caso, deve-se rever
as necessidades e/ou objetivos (1ª etapa) e executar novamente a etapa anterior
(3ª etapa). A este retorno às etapas anteriores damos o nome de iteração, confor-
me visto anteriormente.

Após diversas iterações, pode-se até mesmo chegar à conclusão de que não há
uma alternativa completamente aceitável para os objetivos e necessidades propos-
tos. Neste caso, deve-se decidir em prosseguir ou não com o projeto, fase esta que
chamamos de “Go, No Go” (ir adiante, ou abortar o projeto).

5ª Etapa – Análise / Estudo Preliminar de Viabilidade Econômica / Financeira


Nesta etapa, deve-se fazer um estudo preliminar (pesquisa) dos custos que en-
volvem o projeto, através da identificação dos custos individuais aproximados de:
• Materiais;
• Mão de obra;
• Máquinas e dispositivos;
• Outros.

16
Nesta etapa, também deve estar bem definida a quantidade de produtos a serem
produzidos por um período de tempo (quantidade de unidades mensais, por exemplo),
para que se possa verificar a viabilidade econômica do projeto. E, da mesma forma
que a etapa anterior, pode-se concluir que o projeto não é viável economicamente;
neste caso, deve-se decidir em prosseguir ou não com o projeto (“Go, No Go”).

6ª Etapa – Projeto Detalhado/Detalhamento Técnico


Nesta etapa, são definidas as formas/dimensões finais do objeto/produto com
base nas especificações e dados do projeto (vindos da identificação da necessidade/
problema/objetivo). Para tal, deve-se proceder à:
• Definição e identificação dos modelos matemáticos (as cargas, os esforços, os
torques, os momentos atuantes, entre outros);
• Execução dos dimensionamentos (Cálculos / Memoriais), aplicando os conceitos de:
» elementos de Máquinas;
» seleção de Materiais;
» normas e Elementos Normalizados.
• Confecção dos Desenhos Técnicos (CAD):
» de Detalhes (de cada elemento não normalizado);
» de Conjuntos (vistas explodidas, tridimensionais, lista de materiais);
» de Processo / Produção.
• Execução das simulações (CAE)/Ciclos;
• Execução dos estudos preliminares de Confiabilidade de Produto;
• Definição dos aspectos sobre Manutenção e Lubrificação;
• Execução do estudo de Viabilidade Técnica;
• Definição: “GO, NO GO” ou Iterações.

7ª Etapa – Prototipagem e Testes Iniciais


Dependendo da complexidade do projeto, decide-se pela confecção do protótipo
inicial em escala natural ou reduzida para a realização dos testes iniciais.

Existem várias técnicas de prototipagem rápida atualmente disponíveis, das quais


podemos ressaltar algumas mais conhecidas e difundidas:
• Estereolitografia (SL);
• Sinterização Seletiva a Laser (SLS);
• Usinagem com Alta Velocidade (HSM);
• Impressão Tridimensional – 3D (TDP).

17
17
UNIDADE Metodologia e Estrutura Básica de um Projeto

O rápido crescimento da prototipagem rápida deu origem também ao processo


de fabricação rápida de ferramentas ou componentes (Rapid Tooling), que reduz
de forma drástica o tempo necessário para a confecção de moldes, ferramentas e,
inclusive, de algumas das peças necessárias para a fabricação de um novo produto,
e não somente para fabricar protótipos.

8ª Etapa – Prototipagem e Testes de Pré-Produção


Da mesma forma que a etapa anterior, nesta etapa decide-se pela necessidade
de se produzir um maior número de protótipos para verificação e consolidação do
projeto antes da fase de produção. São os chamados protótipos e testes de pré-
-produção, em que são definidos e determinados:
• Quantidade de protótipos para as fases Alpha e Beta;
• Testes Laboratoriais (testes acelerados e de bancada);
• Testes de Campos;
• Determinação da Confiabilidade do Produto e do Período de Garantia;
• Resultados/Avaliações;
• Manuais de Operação e Manutenção;
• Definição: “GO, NO GO” ou Iterações.

9ª Etapa – Questões ambientais


Nesta etapa, são levantadas e implementadas as questões ambientais, que de-
vem atender às normas vigentes tanto de descarte como de aplicação de materiais
ecológicos e não tóxicos, e até de emissão de poluentes.

10ª Etapa – Pré-Produção


Nesta etapa, devem ser realizados estudos e planejamentos completos e detalha-
dos dos recursos necessários, disponíveis e não disponíveis de:
• Mão de obra;
• Máquinas e ferramentas;
• Estruturas prediais e de utilidades;
• Definição: “GO, NO GO” ou iterações.

Tal estudo deverá dar o sinal verde (start) para a produção do produto/objeto.

Às etapas 1 e 2 damos a denominação de Estágio de Definição.

As etapas 3, 4 e 5 são conhecidas como Projeto Preliminar.

E as etapas 6 a 10 são conhecidas como Projeto Detalhado.

18
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Elementos de Máquinas de Shigley
BUDYNAS, R.; NISBETT, J. K. Elementos de máquinas de Shigley. 4ª edição.
Porto Alegre: Grupo GEN, 2006. (E-book)
Projeto de Componentes de Máquinas
JUVINALL, R. C.; MARSHEK, K. M. Projeto de componentes de máquinas.
4ª edição. Porto Alegre: Grupo GEN, 2007. (E-book)
Mecânica Técnica e Resistência dos Materiais
MELCONIAN, S. Mecânica técnica e resistência dos materiais. São Paulo: Editora
Saraiva, 2012. (E-book)
Elementos de Máquina em Projetos Mecânicos
MOTT, R.L. Elementos de máquina em projetos mecânicos. 5ª edição. São Paulo:
Pearson, 2015. (E-book)
Desenho Técnico Moderno
SILVA, A.; RIBEIRO, C. T.; DIAS, J.; SOUSA, L. Desenho técnico moderno.
4ª edição. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2006. (E-book).

19
19
UNIDADE Metodologia e Estrutura Básica de um Projeto

Referências
COLLINS, A.; BUSBY, J.; HENRY, R.; STAAB, G. H. Projeto mecânico de ele-
mentos de máquinas. Rio de Janeiro: LTC, 2006.

JUVINALL, R. C.; MARSHEK, R. Projeto de componentes de máquinas.


4ª edição. Rio de Janeiro: LTC, 2007.

NORTON, R. L. Projeto de máquinas: uma abordagem integrada. 2ª ed. Porto


Alegre: Bookman, 2007.

TERUEL, M. L. Avaliação da confiabilidade de novos produtos. Dissertação de


Mestrado. FEI, São Bernardo do Campo, 2012.

20

Você também pode gostar