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EDITORIAL

O sofrimento do jovem brasileiro.


Taxas de suicídio entre crianças e jovens de 10 a 24 anos crescem 6% ao ano.

Um clichê repetido à exaustão é o de que “o Brasil é o país do futuro”. Mas qual futuro é
possível quando o nível de sofrimento psíquico dos jovens faz a taxa de suicídios e lesões
infligidas a eles mesmos crescer em números superiores aos da população em geral?

O autoextermínio entre crianças e jovens de 10 a 24 anos tem crescido 6% ao ano,


segundo levantamento realizado pela Fiocruz em parceria com pesquisadores de Harvard.
No caso das autolesões, a porcentagem é ainda maior: 29%.

Os dados, publicados na revista “The Lancet Regional Health”, convergem para os


resultados do Panorama de Saúde Mental divulgado em 2023. Pelo levantamento, crianças
e adolescentes brasileiros sofrem com baixa autoestima, isolamento social e conflitos
familiares. Pelo menos 78% dos entrevistados relataram se sentir pouco atraentes ou
mesmo feios nas semanas anteriores à pesquisa, e 73% afirmaram se considerar pouco
inteligentes.

Com relação às interações sociais físicas, quase metade (45%) afirmou não ter saído ou
se encontrado com amigos no período. E sete em cada dez das pessoas ouvidas haviam
brigado com a família na época.

Esse sentimento reflete um ambiente competitivo e polarizado cada vez mais cedo, a
ameaça do bullying ou do cancelamento, bem como a disseminação de uma imagem
pública difícil de alcançar, divulgada por influencers de suas idades nas redes sociais.

Essa distorção de autoimagem foi agravada pelo isolamento e a incerteza acentuados


pela pandemia, quando os índices de ansiedade infantojuvenis aumentaram 10%, enquanto
os de depressão subiram 29%.

A situação se torna ainda mais perigosa diante do farto acesso a medicação controlada –
mais de 120 mil caixas de ansiolíticos vendidas por dia, segundo a Anvisa.

O sofrimento psíquico da juventude brasileira é um problema social e de saúde pública que


precisa ser enfrentado tanto pelo Estado quanto pelo ambiente familiar, com consistência e
seriedade, sob a pena de que o tão sonhado futuro do Brasil nunca se realize.

Editorial O TEMPO Publicado em 11 de março de 2024 | 07h00


EDITORIAL

O sofrimento do jovem brasileiro.


Taxas de suicídio entre crianças e jovens de 10 a 24 anos crescem 6% ao ano.

Um clichê repetido à exaustão é o de que “o Brasil é o país do futuro”. Mas qual futuro é
possível quando o nível de sofrimento psíquico dos jovens faz a taxa de suicídios e lesões
infligidas a eles mesmos crescer em números superiores aos da população em geral?

O autoextermínio entre crianças e jovens de 10 a 24 anos tem crescido 6% ao ano,


segundo levantamento realizado pela Fiocruz em parceria com pesquisadores de Harvard.
No caso das autolesões, a porcentagem é ainda maior: 29%.

Os dados, publicados na revista “The Lancet Regional Health”, convergem para os


resultados do Panorama de Saúde Mental divulgado em 2023. Pelo levantamento, crianças
e adolescentes brasileiros sofrem com baixa autoestima, isolamento social e conflitos
familiares. Pelo menos 78% dos entrevistados relataram se sentir pouco atraentes ou
mesmo feios nas semanas anteriores à pesquisa, e 73% afirmaram se considerar pouco
inteligentes.

Com relação às interações sociais físicas, quase metade (45%) afirmou não ter saído ou
se encontrado com amigos no período. E sete em cada dez das pessoas ouvidas haviam
brigado com a família na época.

Esse sentimento reflete um ambiente competitivo e polarizado cada vez mais cedo, a
ameaça do bullying ou do cancelamento, bem como a disseminação de uma imagem
pública difícil de alcançar, divulgada por influencers de suas idades nas redes sociais.

Essa distorção de autoimagem foi agravada pelo isolamento e a incerteza acentuados


pela pandemia, quando os índices de ansiedade infantojuvenis aumentaram 10%, enquanto
os de depressão subiram 29%.

A situação se torna ainda mais perigosa diante do farto acesso a medicação controlada –
mais de 120 mil caixas de ansiolíticos vendidas por dia, segundo a Anvisa.

O sofrimento psíquico da juventude brasileira é um problema social e de saúde pública que


precisa ser enfrentado tanto pelo Estado quanto pelo ambiente familiar, com consistência e
seriedade, sob a pena de que o tão sonhado futuro do Brasil nunca se realize.

Editorial O TEMPO Publicado em 11 de março de 2024 | 07h00

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