Você está na página 1de 3

Pe.

Gregório eodoro
Catedral Metropolitana Ortodoxa
Patriarcado Greco-Ortodoxo de Antioquia e todo o Oriente

A HISTÓRIA POR TRÁS DO HINO AKATHISTOS

(cantado, em um Ofício próprio, em honra à Virgem Maria, nas Igrejas Ortodoxas, nas
sextas-feiras da Quaresma)

No ano 626 o Império Bizantino estava passando por turbulências políticas. O


imperador Focas havia sido recentemente derrubado por um jovem general, Herá clio,
e o territó rio do Império fora invadido pelos persas a leste e pelos á varos (povo
nô made da Eurá sia que migrou para a Europa central e oriental no século VI), aliados
a estes, a oeste.
Guerras com os persas no Oriente estavam em andamento desde o tempo de
Justiniano no início dos anos 500, com o imperador persa Khosroes nã o permitindo o
comércio bizantino através do Império Persa e ameaçando invadir as terras
bizantinas. Os á varos, por sua vez, em princípio eram pagos desde os tempos do dito
imperador Justiniano para proteger as fronteiras de Bizâ ncio, mas, quando tal
pagamento cessou, se voltaram contra o império.
Assim, em 626, líderes persas e á varos coordenaram-se para forçar Herá clio e seu
exército a deixarem Constantinopla, a capital do império, para combater, e assim
enviaram tropas remanescentes para sitiar a cidade. Constantinopla ficou, entã o, sob
cerco, com a maioria de suas defesas lutando fora, contra os persas.

orthodoxpriest@gmail.com
Pe. Gregório eodoro
Catedral Metropolitana Ortodoxa
Patriarcado Greco-Ortodoxo de Antioquia e todo o Oriente
Os bizantinos contavam com aproximadamente 10.000 homens para defender as
muralhas da cidade, contra uma força de mais de 50.000 á varos e persas. Os á varos,
com sua frota atracada do lado de fora da cidade, tinham conseguido subir à s torres
em parte das muralhas.
A defesa da cidade ficou a cargo do Patriarca Sérgio e do juiz Bó nus. O Patriarca
era um homem de grande fé e coragem. Todos os dias ele circulava ao redor dos
muros da cidade com um ícone da Mã e de Deus, dizendo ao povo que Deus estava do
lado dos defensores bizantinos.
Durante todo o mês de julho e agosto daquele ano o exército inimigo atacou
continuamente as muralhas da cidade. Cada onda sucessiva foi derrotada pelos
defensores, a ponto de os atacantes sofrerem perdas tã o grandes que nem sequer
conseguiam recolher os mortos e feridos.
Em 4 de agosto, porém, os á varos e persas lançaram um ataque massivo e
conseguiram ocupar os subú rbios da cidade, queimando muitas casas e a igreja da
Mã e de Deus de Blaquerne. No dia 7 do mesmo mês eles lançaram mais um ataque
terrestre e marítimo. Os defensores bizantinos avançaram e destruíram toda a frota
adversá ria. Posteriormente, o entã o Patriarca Nicéforo, escrevendo sobre este cerco a
Constantinopla, registrou que o mar ficou vermelho de sangue; Teodoro Syncellos
(político e escritor), por sua vez, escreveu que o mar perto de Blaquerne ficou coberto
de cadá veres e barcos vazios flutuando sem rumo.
As fontes eclesiá sticas relatam que o rei dos á varos teria olhado para as muralhas
da cidade enquanto sua frota estava sendo destruída e visto uma mulher com trajes
reluzentes e o rosto resplandecente de luz – esta era, sem dú vida, a Mã e de Deus.
Os á varos e persas foram forçados a recuar e suas forças terrestres foram
derrotadas em batalha pelo imperador Herá clio pouco depois.
Em comemoraçã o à vitó ria, o Patriarca ordenou que fosse realizada uma vigília
por toda a noite, para agradecer a proteçã o da Virgem Maria, à qual se cantou um hino
“Akathistos” (“durante o qual nã o se senta”), composto de 24 versos, começando cada
um com uma das letras do alfabeto grego, ou seja, um acró stico.
A autoria do Hino Akathistos é desconhecida, mas foi composto para aquela
ocasiã o pelo Patriarca ou um dos Sacerdotes de Constantinopla. Há quem atribua sua
versã o final a Sã o Germano de Constantinopla.

O câ ntico principal do Akathistos diz: “Invencível condutora dos exércitos, a ti a

orthodoxpriest@gmail.com
Pe. Gregório eodoro
Catedral Metropolitana Ortodoxa
Patriarcado Greco-Ortodoxo de Antioquia e todo o Oriente
vitó ria! Eu, cidade por ti protegida, te ofereço este hino de louvor! Com tua força
invencível, salva-me de todos os perigos para que a ti aclame: Salve, Esposa
Indesposada(*)!”

* νύμφη ἀνύμφευτε = “nímfi anímfefte”. A expressã o original refere-se a uma noiva


(comprometida) nã o desposada, a “esposa indesposada”, no sentido de “desposada a
Deus, mas nã o desposada a homem”.

orthodoxpriest@gmail.com

Você também pode gostar