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A Arte Bizantina

Cristo Cura dois Homens Cego. Arte Bizantina, Séc. VI

Em 395, o Imperador Teodósio dividiu em duas partes o imenso território que


dominava: o Império Romano do Ocidente e o Império Romano do Oriente.
O Império Romano do Ocidente, que ficou com a capital em Roma, sofreu
sucessivas ondas de invasões bárbaras até cair completamente em poder dos
invasores, no ano de 476, data que marca o fim da Idade Antiga e o início da Idade
Média. Já o Império Romano do Oriente, apesar das contínuas crises políticas que
sofreu, conseguiu manter sua unidade até 1453, quando os turcos tomaram sua
capital, Constantinopla. Teve início então um novo período histórico: a Idade Moderna.
Constantinopla foi fundada pelo Imperador Constantino, em 330, no local onde
ficava Bizâncio, antiga colônia grega. Por causa de sua localização geográfica entre a
Europa e a Ásia, no estreito de Bósforo, esta rica cidade foi palco de uma verdadeira
síntese das culturas greco-romana e oriental. Entretanto, o termo bizantina, derivado
de Bizâncio, passou a ser usado para nomear as criações culturais de todo o Império
do Oriente, e não só daquela cidade.
O Império Bizantino - como acabou sendo denominado o Império Romano do
Oriente - alcançou seu apogeu político e cultural durante o governo do Imperador
Justiniano, que reinou de 527 a 565.

Arte Bizantina: expressão de riqueza e poder

A afirmação do cristianismo coincidiu historicamente com o momento de


esplendor da capital do Império Bizantino. Por isso, ao contrário da arte cristã
primitiva, que era popular e simples, a arte cristã depois da oficialização do
cristianismo assume um caráter majestoso, que exprime poder e riqueza.
A arte bizantina tinha um objetivo: expressar a autoridade absoluta do
imperador, considerado sagrado, representante de Deus e com poderes temporais e
espirituais.
Para que a arte atingisse melhor esse objetivo, uma série de convenções foram
estabelecidas, tal como na arte egípcia. Uma delas foi a frontalidade, pois a postura
rígida da figura leva o observador a uma atitude de respeito e veneração pelo
personagem representado. Por outro lado, quando o artista reproduz frontalmente as
figuras, ele mostra um respeito pelo observador, que vê nos soberanos e nas
personagens sagradas seus senhores e protetores.
Além da frontalidade, outras regras minuciosas foram estabelecidas pelos
sacerdotes para os artistas, determinando o lugar de cada personagem sagrado na
composição e indicando como deveriam ser os gestos, as mãos, os pés, as dobras
das roupas e os símbolos. Enfim, tudo o que poderia ser representado estava
rigorosamente determinado.
As personalidades oficiais e os personagens sagrados passaram também a ser
retratados de forma a trocar entre si seus elementos caracterizadores. Assim, a
representação de personalidades oficiais sugeria que se tratava de personagens
sagrados.

Imperador Justiniano, mosaico da igreja da São Vital, em Ravena.

O Imperador Justiniano e a Imperatriz Teodora, por exemplo, chegaram a ser


representados na igreja de São Vital com a cabeça aureolada, símbolo usado para
caracterizar as figuras sagradas, como Cristo, os santos e os apóstolos. Os
personagens sagrados, por sua vez, eram reproduzidos com as características das
personalidades do Império. Cristo, por exemplo, aparecia como um rei e Maria como
uma rainha. Da mesma forma, nos mosaicos (veja texto explicativo abaixo), a
procissão de santos e apóstolos aproximava-se de Cristo ou de Maria de forma
solene, como ocorria na realidade com o cortejo do imperador nas cerimônias da
corte.

Cortejo dos Mártires, mosaico da igreja de Santo Apolinário Novo, em Ravena.


Esse caráter majestoso da arte bizantina pode ser observado tanto na
arquitetura como nos mosaicos e nas pinturas que decoram o interior das igrejas. Um
dos melhores exemplos disso é a basílica de Santa Sofia, construída e ornamentada
de acordo com o gosto das classes mais ricas.
Essa igreja, edificada no governo de Justiniano, apresenta a marca mais
significativa da arquitetura bizantina: o equilíbrio de uma grande cúpula sobre uma
planta quadrada.

Basílica de Santa Sofia, Istambul.

Basílica de Santa Sofia, Istambul.

A cúpula é formada por quatro arcos e ampliada por duas absides que, por sua
vez, são ampliadas por mais cinco pequenas absides. A nave central é circundada por
colunas com capitéis detalhadamente trabalhados, que lembram capitéis coríntios. O
revestimento em mármore e mosaicos e a sucessão de janelas e arcos criam um
espaço interno de grande beleza.
Vista parcial do interior da Basílica de Santa Sofia, em Istambul.

Vista parcial do interior da Basílica de Santa Sofia, em Istambul.

Mosaico: o luxo e a suntuosidade em pedras coloridas


O mosaico consiste na colocação, lado a lado, de pequenos pedaços de
pedras de cores diferentes sobre uma superfície de gesso ou argamassa. Essas
pedrinhas coloridas são dispostas de acordo com um desenho previamente
determinado. A seguir, a superfície recebe uma solução de cal, areia e óleo que
preenche os espaços vazios. Aderindo melhor os pedacinhos de pedra. Como
resultado obtém-se uma obra semelhante à pintura.
Os gregos usavam os mosaicos principalmente nos pisos. Já os romanos
utilizavam-nos na decoração, demonstrando grande habilidade na composição de
figuras e no uso da cor. Na América os povos pré-colombianos, principalmente os
Maias e os Astecas, chegaram a criar belíssimos murais com pedacinhos de quartzo.
Jade e outros minerais.
Mas foi com os bizantinos que o mosaico atingiu sua mais perfeita realização.
As figuras rígidas e a pompa da arte de Bizâncio fizeram do mosaico a forma de
expressão artística preferida pelo Império Romano do Oriente.
Assim, as paredes e as abóbadas das igrejas, recobertos de mosaicos de
cores intensas e de materiais que refletem a luz em reflexos dourados, conferem uma
suntuosidade ao interior dos templos que nenhuma época conseguiu reproduzir.

Justiniano e sua Corte, em mosaico bizantino na Igreja de São Vital, em Ravena.

A Arte Bizantina em Ravena


No século VI, Justiniano tentou reunificar o Império Romano e, por isso, iniciou
as guerras de conquista no Ocidente. Por ser um importante ponto estratégico, a
cidade de Ravena, dominada há muito tempo pelos Ostrogodos, foi um dos alvos mais
visados pelo imperador para a conquista da Península Itálica. Após muitas tentativas,
a cidade foi finalmente reconquista em 540. Ravena tornou-se então o centro do
domínio bizantino na Itália.
Entretanto antes da época de Justiniano na primeira metade do século V
Ravena, já tivera contato com a cultura bizantina E dessa época o monumento mais
conhecido e significativo de sua arquitetura o mausoléu da Imperatriz Gala Placídia.

Mausoléu da imperatriz Gala Placídia, em Ravena.


Sua planta segue o desenho de uma cruz e a característica essencial da
construção e um cubo colocado por cima da pequena cúpula central. Externamente e
um edifício simples revestido de tijolo cozido Mas esta simplicidade externa contrasta
foi temente com a riqueza dos trabalhos artísticos do interior, recoberto com
belíssimos mosaicos de motivos florais em que predomina a cor azul.
O Bom Pastor, mosaico do mausoléu da Imperatriz Gala Placídia, em Ravena.

No entanto, as igrejas que revelam uma arte bizantina mais madura são as da
época de Justiniano, como a de São Vital, em Ravena. Devido à sua planta octogonal,
o espaço interno apresenta possibilidades de ocupação diferentes das das outras
igrejas.

Planta baixa da igreja de São Vital, em Ravena.

A combinação perfeita de arcos, colunas e capitéis fornece os elementos de


uma arquitetura adequada para apoiar mármores e mosaicos que, com seu rico
colorido, fazem lembrar a arte do Oriente.
Interior da igreja de São Vital, em Ravena.

Interior da igreja de São Vital, em Ravena.

Como vimos antes, dos mosaicos da igreja de São Vital dois se destacam por
expressar de modo significativo o compromisso da arte bizantina com o Império e a
religião: o do Imperador Justiniano e o da Imperatriz Teodora, com seus respectivos
séquitos, levando oferendas ao templo.
Depois da morte do Imperador Justiniano, em 565, aumentaram as dificuldades
políticas para que o Oriente e o Ocidente se mantivessem unidos. O Império Bizantino
sofreu períodos de declínio cultural e político, mas conseguiu sobreviver até o fim da
Idade Média, quando Constantinopla foi invadida pelos turcos.

Os ícones bizantinos
Além dos trabalhos em mosaicos, os artistas bizantinos criaram os ícones, uma
nova forma de expressão artística na pintura.
A palavra ícone é grega e significa imagem. Como trabalho artístico, os ícones
são quadros que representam figuras sagradas como Cristo, a Virgem, os apóstolos,
santos e mártires. Em geral são bastante luxuosos, conforme o gosto oriental pela
ornamentação suntuosa.
Ao pintar os ícones, usando a técnica da têmpera ou da encáustica (veja texto
explicativo abaixo), os artistas recorriam a alguns recursos para realçar os efeitos de
luxo e riqueza. Comumente, revestiam a superfície da madeira ou da placa de metal
com uma camada dourada, sobre a qual pintavam a imagem. Para fazer as dobras
das vestimentas, as rendas e os bordados, retiravam com um estilete a película de
tinta da pintura. Assim, essas áreas adquiriam a cor de ouro do fundo. Às vezes,
colavam na pintura jóias e pedras preciosas, e chegavam mesmo a confeccionar
coroas de ouro para as figuras de Cristo ou de Maria. Essas jóias, aliadas ao dourado
dos detalhes das roupas, conferiam aos ícones um aspecto de grande suntuosidade.
Geralmente, os ícones eram venerados nas igrejas, mas não era raro encontra-
los nos oratórios familiares, pois se popularizaram entre os gregos, balcânicos,
eslavos e asiáticos, mantendo-se por muito tempo como expressão artística e
religiosa. Os ícones russos, por exemplo, tornaram-se famosos, particularmente os de
Novgorod, onde viveu, no início do século XV, André Rublev, célebre pintor desse
gênero de arte.
Dentre os ícones de Rublev, dois se destacam pela sua expressividade: o de
Nossa Senhora da Misericórdia e O Cristo Pantocrátor.

Rublev, Nossa Senhora da Misericórdia.


Rublev, O Cristo Pantocrátor.

Têmpera e encáustica: técnicas usadas pelos bizantinos em suas pinturas


sagradas
Têmpera é o nome que recebe um dos modos que os artistas bizantinos
utilizavam para preparar a tinta usada em seus ícones. Consiste em misturar os
pigmentos a uma goma orgânica, para facilitar a fixação das cores a superfície do
objeto pintado.
A mais comum é a gema de ovo. O resultado é uma pintura brilhante e
luminosa. A partir do surgimento da pintura a óleo, os artistas abandonaram a técnica
da têmpera. Mas alguns contemporâneos continuam a usá-la, como foi o caso do
pintor brasileiro Alfredo Volpi.
Já a técnica da encáustica foi utilizada desde a Antiguidade. Os gregos
usavam-na, por exemplo, para colorir suas esculturas de mármore. O processo
consiste em diluir os pigmentos em cera derretida e aquecida no momento da
aplicação. Ao contrario da têmpera, cujo efeito é brilhante, a pintura em encáustica é
semifosca.

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