ARTE CRISTÃ......................................................

192

ARTE RENASCENTISTA................................... 196

ARTE BARROCA................................................. 200

 ASSUNTO 07 ARTE CRISTÃ
Arte cristã primitiva
O início do cristianismo foi complicado e bastante con-
flituoso. Seus adeptos eram perseguidos e condenados, e
seus mártires eram enterrados em sepulturas escondidas
debaixo da terra, conhecidas como catacumbas. As primei-
ras manifestações da arte cristã foram justamente encontra-
das nestas catacumbas, e eram feitas por gente simples do
povo (Imagem 1).
Glossário: Catacumbas: são lugares em que se depositam
o corpo de um defunto. No caso das catacumbas primitivas
eram covas subterrâneas que serviam também de local
de culto e manifestação das artes.
Imagem 1. Arte Paleocristã.
Jesus Curando o sangramento de uma mulher
Disponível em: https://www.infoescola.com. Acesso em: 10 fev. 2021.
Por isso esta arte era simples, rude e grosseira e
expressava as origens de um culto que iria dominar a
sociedade e se tornar uma das mais poderosas instituições
religiosas. Essas manifestações, produzidas pelos primeiros
cristãos, ou cristãos primitivos, ficou conhecida como arte
paleocristã, ou arte cristã primitiva. As mais antigas
encontradas datam aproximadamente do século II.
No começo as pinturas se limitavam a representações
de símbolos cristãos como a cruz e a palma, e mais tarde já
apareciam cenas do Antigo e do Novo Testamento. É claro
que essas origens permaneceram escondidas durante um
bom tempo e que este novo culto era dificultado ao máximo,
pois além de não ser permitido, também não era simpatizado
por figuras importantes. Somente em 313 o imperador
Constantino autoriza o culto ao cristianismo, abrindo caminho
para sua expansão e para a construção de espaços mais
luxuosos: as basílicas. Com o tempo a arte bizantina, que
em seu período de maior esplendor coincidiu historicamente
com a oficialização do cristianismo, foi tomando força e
192
substituindo sua arte simples por uma arte de caráter mais
majestoso, esbanjando poder e riqueza. Bem depois da
fundação de Constantinopla, que se dá em 330, o cristianismo
torna-se a religião oficial do império pelas mãos do imperador
Teodósio, em 391.
Arte bizantina
Arte bizantina é toda a criação cultural produzida pelo
Império Romano do Oriente e que tem como centro a cidade
de Constantinopla (hoje Istambul), fundada pelo imperador
Constantino no ano de 330, quando este decide mudar a
capital do império romano para uma cidade chamada
Bizâncio, principal rota de comércio que ligava o oriente ao
ocidente. O termo bizantino deriva desta cidade, uma antiga
colônia grega localizada entre a Europa e a Ásia, e que se
transformou em Constantinopla, graças à sua localização
geográfica privilegiada, transformando-se em pólo cultural
e síntese das culturas greco-romana e oriental.
Nesta cidade, que passa a se chamar Constantinopla
em homenagem à Constantino, o imperador queria construir
a “Nova Roma”, visto que do lado ocidental o império estava
enfraquecido, fragmentando-se rapidamente, por conta das
constantes invasões. No século V viria a cair nas mãos dos
bárbaros.
O Império Bizantino tem uma arte de caráter majestoso,
que exprime poder e riqueza, e que também foi conhecido
pelas belíssimas igrejas, com interiores riquíssimos e
grandiosos. O luxo era uma constante, e a arte bizantina era
utilizada para expressar a autoridade sagrada do imperador,
pois este era visto como uma figura sagrada.
Como vimos acima, a arte bizantina pode ser comparada
a arte egípcia pelo seu caráter sagrado e por suas convenções
pré-estabelecidas, funcionando como regras de conduta
para o artista com o objetivo de representar a figura do
imperador, representante de Deus. Eram características fortes
da cultura egípcia, e as comparações não param por ai. A
forma de representar seus imperadores, ao lado de figuras
sagradas, e comparando estes à elas, assim como a forma
transcendental de valorizar a forma, sem imitar a natureza,
transformando sua expressão em manifestação simbólica,
principalmente pela lei da frontalidade (quando se pinta a
figura de frente para o observador levando-o a uma atitude
de respeito e veneração), pelo colorismo (forma de utilizar
as cores chapadas, quebrando a ilusão realista) e pelo
deformismo (forma de representar o ser humano sem suas
características cotidianas e realistas, deformando a pintura
em busca de uma postura transcendental e mística).
O mosaico era outra forma muito utilizada pelos artistas
bizantinos. Com a arte bizantina, os mosaicos atingiram sua
mais perfeita realização. A riqueza de detalhes, a técnica
invejável no colorido e na colocação das pedras eram apenas
algumas características que davam aos mosaicos bizantinos
a honra de serem considerados obras-primas da arte sacra.
As construções de templos também foram admiradas e
consideradas ponto alto da arte bizantina. Um exemplo
disso é a Igreja de Santa Sofia (Imagem 2), um templo que
em 1935 se transformou em museu. Esta basílica apresenta
a marca mais característica da cultura bizantina.
 Os termos Idade Média e Idade das Trevas foram utilizados
somente pelos renascentistas, que viam este período como
obscuro, e que contrastava profundamente com o Renascimento
e com o período greco-romano, por serem ricos culturalmente,
afirmação defendida pelos homens da Renascença. Até o século
XV, estas nomenclaturas ainda não eram conhecidas. Nos
primeiros séculos, a Idade Média foi um período conturbado.
Sofreu destruições por parte dos bárbaros, uma queda
considerável no campo das artes, analfabetismo e miséria
social, proibições no campo das artes cênicas e muitas outras
limitações, até que no ano 800 d.C., o imperador Carlos Magno
subiu ao poder dando início ao império Carolíngio, e incentivou
o campo das artes abrindo oficinas que estudavam a cultura
greco-romana. Esta medida, entre outras, deu início à um
imenso crescimento na cultura medieval.
O foco principal da arte cristã era na figura de Deus. Com
uma visão teocêntrica (Deus no centro de tudo), em
contraposição ao antropocentrismo (homem no centro de
tudo), o homem se desloca do centro da representação e
transforma-se em mera sombra, vivendo a mercê de um Deus
todo poderoso que regia seus destinos e sua vida, colocando
os eventos da natureza humana material subjugados por uma
visão superior divina, imaterial e transcendente. Sendo assim,
a ênfase se desloca do aqui e agora para o além, e da concepção
de corpo belo para a de corpo corrupto.
A arte era uma ponte para o contato com Deus, e apenas
isso. Como a sociedade medieval era em sua grande maioria
analfabeta, as imagens pictóricas e escultóricas, assim como
os mosaicos, eram utilizados para evangelizar o povo e colocá-lo
em contato com os dogmas da igreja católica. Todas as
atividades estavam ligadas aos mosteiros, assim como a
produção artística da época. Tudo aponta para a figura de
Deus: as pinturas simbólicas, quebrando a ligação com o mundo
material realista e buscando a transcendência da alma, as
esculturas alongadas apontadas para o alto, as construções
gigantescas apontando para onde devemos dirigir nossas
atenções, os espaços físicos gigantescos fazendo nossos corpos
parecerem medíocres diante da grandiosidade de Deus. Tudo
girava em torno do sagrado e da busca da elevação da alma,
e o corpo era local de pecado e de perversão, então ele precisava
ser controlado a qualquer custo.
Hoje sabemos que a arte cristã é profundamente rica, e
nos deixa obras de arte valiosíssimas, rompendo com a visão
preconceituosa dos homens da Renascença. Profundas crises
marcaram o período medieval, como é o caso da peste negra,
uma pandemia que varre a Europa entre os anos de 1347 e
1350, e mata um terço da população da época. Eram tantas
mortes, que os corpos eram jogados em buracos gigantescos,
e queimados para evitar o mal cheiro. Em algumas localidades,
eram cerca de 600 mortes por dia.
A arte românica
Na Europa dos séculos XI e XII predomina um estilo
arquitetônico chamado românico, por causa das construções
que se pareciam com a dos antigos romanos. O estilo românico
era conhecido por suas paredes grossas e pesadas, interiores
escuros e poucas janelas, a utilização de abóbadas e dos pilares
maciços dando um aspecto pesado para a arquitetura. Essas
construções eram sempre grandes e sólidas, por isso mesmo
194
eram conhecidas como “fortalezas de Deus”. As construções
românicas prezavam pela horizontalidade e por causa de suas
paredes maciças diminuía o número de janelas, pois se estas
fossem construídas em abundância a estrutura poderia não
aguentar e ceder.
Um exemplo de arquitetura românica é a Basílica de Saint-
Sernin (Imagem 4), na cidade de Toulouse, na França. Era
uma das paradas obrigatórias para os peregrinos que se
dirigiam rumo a Santiago de Compostela. Na foto podemos
notar as paredes pesadas e a estrutura que se assemelha a
uma fortaleza pelo seu tamanho e sua imponência.
Imagem 4. Igreja de Saint-Sernin (1096). Toulouse, França.
Disponível em: https://operamundi.uol.com.br. Acesso em: 10 fev. 2021
Outro exemplo de arquitetura românica é o conjunto da
catedral de Pisa. E esta construção românica em especial não
segue o estilo de outras estruturas, pois a arte românica na
península itálica não apresenta formas pesadas, duras e
primitivas. A construção da catedral de Pisa inicia-se em 1063,
tem planta em forma de cruz e a fachada de frente sugere a
forma de um frontão, característico dos templos gregos.
O edifício mais conhecido do conjunto da catedral de Pisa é
o campanário, a famosa Torre de Pisa, construção iniciada
em 1174. Com o passar do tempo esta torre foi sofrendo
inclinação porque o terreno cedeu.
A arte gótica
Nos séculos XIII e XIV predomina o estilo conhecido como
Gótico, rivalizando com as maravilhas da Grécia e da Roma
da Antiguidade. As catedrais góticas superaram a arquitetura
clássica em termos de ousadia tecnológica, pois eram tão
grandes e belas que realmente pareciam ser coisa de outro
mundo. Suas estruturas alongadas apontavam para o céu
com o intuito de indicar qual deveria ser nosso caminho, e
para lembrar-nos que aqueles templos chegavam perto de
Deus e que eram para onde deveríamos dirigir nossas atenções
e nossos louvores.
Algumas inovações arquitetônicas possibilitaram o
prolongamento da estrutura e a criação de elementos fantásticos
como os vitrais. Com a criação dos arcobotantes (barras externas
que sustentavam as catedrais ajudando na construção de
paredes mais leves) aumentava a possibilidade de janelas e
também no prolongamento da estrutura, assim como os arcos
ogivais, que aumentavam a ilusão na altura das catedrais e
 ASSUNTO 08 ARTE RENASCENTISTA
O Renascimento, ou Renascença, é um movimento cultural
surgido na Europa entre 1300 e 1650, portanto marca o fim
da Idade Média e o início da Idade Moderna. Um período
onde o ser humano retoma os ideais clássicos antropocêntricos,
valoriza a ciência e coloca o homem no centro das atenções,
dando profundo valor ao conhecimento e a razão. O
Renascimento foi um súbito reviver dos ideais da cultura
greco-romana, e com certeza neste sentido eles souberam
caminhar como ninguém em direção à beleza perfeita e aos
ideais de equilíbrio e harmonia, tão caros aos gregos do período
clássico. Mas este período foi bem mais do que isso, significou
para o homem um avanço em todas as áreas do conhecimento.
O homem se contrapõe à visão teocêntrica de mundo
cultuada na Idade Média, e volta a ser o centro das atenções,
passando novamente a ser visto como “medida de todas as
coisas”. O antropocentrismo coloca o homem no centro da
criação e não mais entende o ser humano como mera sombra
de Deus, mostrando que o destino pode ser construído de
acordo com seu conhecimento de mundo. A Renascença é a
era da ciência, onde o homem passa a dar explicações científicas
para os eventos que antes eram atribuídos às divindades (ou
a Deus tratando da era medieval). Justamente por isso, os
renascentistas viam a Idade Média como um período de trevas,
e que a luz do conhecimento só iria reinar com um “renascer”
da cultura humanista greco-romana onde o homem tinha vez
e o conhecimento humano era valorizado.
A arte renascentista buscava um ideal de beleza, formas
exatas, equilíbrio entre razão e emoção, imitação real da
natureza, um olhar científico da arte, importância no
conhecimento racional, inovações no campo da pesquisa,
inovações na pintura como a tinta à óleo, a pintura em tela, o
esfumato (efeito de sombra), a ilusão da perspectiva científica
para atribuir uma terceira dimensão às obras e ampliar o
conceito de profundidade (tridimensionalidade). Foi no
Renascimento que os artistas passaram a ser vistos como gênios,
pois antes eram meros reprodutores do seu ofício, artesãos,
mas o renascentista não, ele era único, genial, especial, quase
divino. E tivemos várias provas disso, pois uma profusão de
artistas como Michelangelo, Leonardo da Vinci, Botticelli,
Rafael, Donatello, Masaccio, entre outros surgiram ao longo
deste período. Obras como a Monalisa, o teto da Capela Sistina,
o Juízo Final, O Nascimento da Vênus, A Última Ceia, A Virgem
do Fuso, o Davi e a Pietá são apenas algumas das inúmeras
obras deste rico período.
É claro que o Renascimento acarretou mudanças profundas
em todas as áreas, sejam elas sociais, políticas, econômicas,
religiosas, científicas, e isso foi uma reviravolta impressionante
para a história da humanidade. A igreja perde espaço com a
Reforma Protestante, a exploração de novos continentes alarga
o horizonte humano, as explicações científicas revelavam um
poder inimaginável nas mãos do homem e isso não era pouco,
pois o Renascimento dá o pontapé inicial à Idade Moderna e
determina que o homem e a sociedade nunca mais seriam os
mesmos. Foi realmente uma verdadeira revolução, que
podemos comparar em grandiosidade com a Revolução
Neolítica e com a queda do Império Romano e a ascensão da
Igreja Católica. Esta foi uma revolução entre outras que
aconteceram em períodos críticos da história e sacudiram as
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estruturas sociais, dando ao homem a possibilidade de
se reinventar.
As mudanças sociais foram realmente impactantes, e
colocaram o pensamento medieval em xeque. As cidades
crescem economicamente e as relações de mercado mudam
drasticamente, fazendo uma nova visão do capitalismo
aparecer. O homem busca cada vez mais o lucro e o crescimento
individual, quebram-se as antigas estruturas sociais e relações
de mercado, novas pontes são estabelecidas entre os homens
e a população aumenta assustadoramente fazendo aumentar
também a importância dos comerciantes, artesãos e donos de
estabelecimentos. Nestes aspectos, a Itália dos séculos XV e
XVI, torna-se um dos maiores centros urbanos, com grande
desenvolvimento nas estruturas das cidades tanto em sua
formação arquitetônica, quanto em desenvolvimento
econômico. Era o lugar ideal para o “renascer” das artes, e se
tornou com certeza o berço do Renascimento.
Neste cenário de transformações, surgem novas
possibilidades que se abrem para os artistas. Com as
transformações mercantis, surge um novo panorama cultural
completamente novo. A Idade Moderna dá espaço para uma
nova figura social, principalmente pelas relações de mercado:
são os ricos senhores, interessados em incentivar as produções
artísticas e culturais da época, os chamados mecenas.
Glossário: Mecenas são indivíduos ricos que protegem
os artistas e financiavam as artes, proporcionando recur-
sos financeiros ou possibilidades diversas.
O sistema de mecenato não servia somente para cultivar
o apreço às artes, à ciência e a valorização das novas correntes
de ideias. Outro grande motivo buscado pelos mecenas era
a busca de prestígio e a tentativa de conservar a estrutura
social vigente. Esses fatores moviam com imensa força o
panorama cultura na Itália dos séculos XV e XVI. Os artistas
viviam protegidos pelos seus mecenas e isso os dava
segurança e certeza de uma sobrevivência confortável.
Mas sem o incentivo dos mecenas muita coisa não seria
possível neste período. Grandes obras foram criadas tanto
em dimensão quanto em tempo que despendiam em sua
construção, o que seria inviável sem o financiamento e a
ambição dos mecenas. Um exemplo é a obra O Nascimento
de Vênus (Imagem 7), de Sandro Botticelli, que foi
encomendado pela família Médici, a mais importante de
Florença. Realizada por volta de 1483, O Nascimento de
Vênus se destaca pela beleza com que o artista representa
o nascimento da deusa. Seus nus sintetizam a Renascença
e esta obra marca o renascimento da mitologia clássica. Com
forte carga simbólica, a concha, nos costumes da Grécia
Antiga, representa a genitália feminina; a figura da Hora,
do lado direito do quadro, representa a castidade. A deusa
está pronta para cobrir com seu manto a nudez da Vênus;
os amantes Zéfiros sopram o espírito da paixão que pode
ser visto pela materialização deste em rosas, que inspiram
e movem a Vênus. Mas apesar de toda a idealização de
beleza e sensualidade, as formas dadas à personagem central
fogem dos padrões realistas da anatomia renascentista. Seu
pescoço e seus ombros não obedecem às regras de proporção
do corpo humano.
 ASSUNTO 09 ARTE BARROCA
Arte barroca
Quando falamos de arte barroca, podemos sem hesitar
falar em exagero e dramaticidade. O Barroco é a supremacia
da emoção sobre a razão. A arte barroca preza pela
teatralização, pela dramaticidade, pelo exagero das formas,
quebra o equilíbrio, aumenta o contraste entre claro e escuro,
busca as formas assimétricas e não mais distribui as imagens
de forma equilibrada, tudo para causar o maior impacto
emocional no observador.
O Barroco é um estilo suntuoso e ornamentado, e
origina-se na península itálica, mas não tardou a irradiar-se
por toda a Europa, espalhando sua beleza e fixando seu
estilo em cada região de maneiras bem diferentes. O Barroco
rompe o equilíbrio renascentista entre sentimento e razão,
e entre arte e ciência, e é também utilizado pela igreja para
ganhar novos adeptos para a fé cristã, aliando-se ao
movimento da contrarreforma.
Imagem 13. TINTORETTO. A Última Ceia. (1592/1594).
Igreja San Giorgio Maggiore,Veneza, Itália
Disponível em: http://pt.wahooart.com. Acesso em: 13 fev. 2021.
A pintura barroca, por exemplo, pode ser vista como
exagerada e extravagante se compararmos com a pintura
da renascença. Os corpos retorcidos e a carga dramática,
teatralizando a obra são características deste estilo, assim
como a quebra do equilíbrio das imagens na tela e o contraste
entre claro-escuro, que intensificam a expressão dos
sentimentos. O barroco desarruma a cena e contorce os
corpos, teatraliza a luz e intensifica o que antes estava
equilibrado, desorganiza os grupos amontoando-os em cena
ao invés de distribuí-los simetricamente no espaço. Até
mesmo cortes nas imagens acontecem quando estes são
colocados no canto, tudo para buscar a intensificação das
emoções tirando o conforto renascentista. Podemos ver essas
características na obra A Última Ceia, de Tintoretto (Imagem
13), de 1594. Esta obra ainda está dentro do período
maneirista, mas já guarda características do movimento
que, a partir de 1.600, vai ser conhecido como Barroco.
Vemos claramente uma linha em diagonal atravessar a
tela, bem diferente da obra A Última Ceia, de Leonardo da
Vinci. Os corpos retorcidos e amontoados em grupos
teatralizam a cena, e o impacto do jogo de luz, forte,
contrastante e artificial, causa um cenário de espanto e drama.
Tudo é pensado para sacudir a emoção, tudo é exagerado.
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Outro pintor barroco incrível é Caravaggio, que exagerou
no realismo em suas obras conduzindo-as à novas alturas.
Seus contemporâneos o chamavam de “gênio do mal” e “anti-
Cristo da pintura”, e foi acusado de se alimentar do horror,
feiúra e da sujeira do pecado.
Imagem 14. CARAVAGGIO. Tomé, o Incrédulo.
(1602/1603). Sanssouci, Potsdam.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org. Acesso em: 13 fev. 2021.
Caravaggio era boêmio e rebelde, provocava brigas o
tempo todo e até esfaqueou um homem na virilha. Vagava
pela cidade sempre se metendo em confusão. Caravaggio
desprezava as convenções artísticas e defendia a quebra das
tradições. Suas obras fascinam pelo realismo impactante como
na tela Tomé, o Incrédulo (Imagem 14). Uma característica forte
deste pintor é a utilização do fundo preto para aumentar o
contraste, e a colocação da luz artificial que direciona o olhar
do observador para a ação. O realismo impressiona nas
expressões e no movimento das roupas, e a ação de Tomé
exagera o drama contado nos evangelhos bíblicos. Parece que
Caravaggio quer realmente enfiar o dedo na ferida.
Eram incríveis os efeitos conseguidos pela arte barroca,
criada para impressionar e para causar impacto emocional.
A igreja se utilizou disso e com certeza teve grandes méritos,
pela força original alcançada neste estilo. Por isso, outro espaço
em que a pintura barroca foi utilizada, eram os tetos das igrejas.
Assim podemos ver no teto da Igreja de Santo Inácio, em
Roma, feito pelo artista Andrea Pozzo, a pintura A Glória de
Santo Inácio. A obra impressiona pelo número de figuras e
pela ilusão criada pela perspectiva. A impressão que temos é
que o teto se abre e que os anjos e santos convidam os homens
para a santidade. Esta técnica tornou-se comum na época, e
podemos ver também pinturas nos tetos das igrejas barrocas
do Brasil com características parecidas. A arte barroca explora
o movimento de uma forma bem teatral, e dá às imagens
força dramática quebrando o equilíbrio renascentista. Na
arte barroca as imagens parecem se comprometer com o
observador e pulam aos nossos sentidos como feras
enlouquecidas. Se no Renascimento o equilíbrio dá às imagens
o distanciamento necessário para observarmos a calma e a
tranquilidade das estatuetas (no caso das esculturas), no
Barroco o cenário é bem diferente. E não é a toa que utilizo
a palavra cenário, pois é justamente isto que os artistas
barrocos faziam, uma cena para trazer toda a carga emocional
necessária para tocar aos que ali estavam. É este o caso do
Êxtase de Santa Teresa, do escultor barroco Bernini.

Imagem 15. BERNINI, Gianlorenzo.
O Êxtase de Santa Teresa. (1645/1652). Capela Cornaro, Roma.
Disponível em: https://br.pinterest.com. Acesso em: 13 fev. 2021.
O Êxtase de Santa Teresa (Imagem 15) é a escultura de
Bernini que desperta maior emoção religiosa. Foi feita para
uma capela da Igreja de Santa Maria della Vittoria, em Roma.
Esta obra reproduz com intensa dramaticidade o momento
em que Santa Teresa é visitada por um anjo que lhe fere o
peito várias vezes com uma flecha. Segundo relatos da
própria Santa, os ferimentos que lhe causaram profunda
dor, transformaram-se na experiência mística do amor de
Deus. Ao registrar este momento, o artista parece envolver
emocionalmente o observador.
Com a Reforma Protestante a igreja católica perde espaço
e poder, e com a mudança de pensamento com o humanismo,
muitos começaram a questionar se Deus era mesmo o centro
de tudo e se todas as explicações não deveriam ser tomadas
pelas bases científicas. Com esta questão, entre outras, a
igreja se enfraquece e sofre seu primeiro grande choque em
10 séculos. Era preciso organizar um contra-movimento
que pelo menos tentasse buscar novamente fiéis ou até mesmo
expandir seu território. A Contrarreforma teve este objetivo.
Se utilizando da arte, ela arma formas de impressionar e
resgatar suas “ovelhas perdidas”. Por este mesmo motivo,
a arquitetura do século XVII realizou-se principalmente nos
palácios e igrejas. Um exemplo é a praça da basílica de São
Pedro.
O Barroco surge na península Itálica, mas se espalha
por várias regiões da Europa. Cada região assume traços
diferenciados, bem peculiares a cada localidade. Como
exemplo, podemos citar os Países Baixos, com linhas
movimentadas e forte carga emocional. Os Países Baixos
corresponde hoje à Bélgica. Na Holanda a pintura
desenvolveu uma tendência mais descritiva, cujas cenas
preferidas forma os temas de vida doméstica e social,
trabalhadas com minucioso realismo. Rubens foi o maior
representante dos Países Baixos.
Imagem 16. RUBENS, Peter Paul.
A Descida da Cruz. (1611/1614). Catedral de Nossa Senhora, Antuérpia.
Disponível em: https://santhatela.com.br. Acesso em: 13 fev. 2021.
A cor sempre foi o elemento mais importante na pintura
flamenga. Nos quadros de Rubens podemos notar que é no
vestuário que se localizam as cores mais fortes, e este pintor
também se destacou por criar cenas que sugerem um intenso
movimento pelas linhas contorcidas dos corpos e pelas pregas
das roupas, elementos facilmente observados na pintura
A Descida da Cruz (Imagem 16). Outra característica barroca
na obra é a linha diagonal que atravessa o quadro, os corpos
amontoados e o contraste entre luz e sombra, bem como a
forte carga dramática conseguida por uma organização
teatral da cena de Cristo.
Na Holanda, Rembrandt e Vermeer se destacam. Em
Rembrandt, podemos destacar a perfeição com que este
artista utiliza a luz. Ele é considerado um dos maiores artistas
no domínio da luz. O que dirige a atenção do observador
em seus quadros é a gradação de claridade e as penumbras,
assim como os meios-tons utilizados por este gênio da luz.
Tudo isso envolvendo áreas de luminosidade mais intensa.
Vermeer já trabalha a delicadeza da vida cotidiana.
Trabalhando com tons expostos à claridade, seus temas
atingem a vida privada e os costumes holandeses de sua
época.
Vermeer também era habilidoso no domínio da luz, e
pintava com exageros de detalhes cada forma que a
luminosidade natural empregava nos objetos. As cores de
Vermeer alcançavam um brilho intenso incrível. Toda essa
descrição pode ser observada na obra A Criada de Cozinha.
201
 Vermeer foi um mestre ao representar com perfeição cada
detalhe de cada objeto, ou espaço representado na tela. O Já em Velázquez, mudam-se os temas, pois este artista retra-
método de definir as formas com pontinhos de cor, e não
com linhas, é evidente. A variação da intensidade da
cor em relação à distância entre o objeto e a fonte
de luz. Podemos perceber, chegando quase a
sentir só de olhar, a textura de cada objeto.
Outra obra incrível de Vermeer é Moça com
Brinco de Pérola (Imagem 17). Nesta tela
“toda a atenção do observador concentra-se
na expressão do rosto da figura feminina”
(PROENÇA, 2007, p. 146). O artista centra
seu tema na figura feminina, e sem a
utilização de cenário e a anulação do fundo
concentrando as cores luminosas na mulher,
fazem desta o tema central da obra.
Na Espanha, os pintores mais expressivos são
El Greco e Velázquez. A verticalidade é o ponto
marcante na pintura de El Greco, como mostra
na obra Espólio. Cristo aparece cercado por
uma multidão, e olhando atentamente
a figura podemos notar como as linhas
são verticais. O vermelho forte do Cristo
e as cores acinzentadas do povo, dão
Imagem 17. VERMEER, Johannes.
um intenso contraste à obra, assim como Moça com Brinco de Pérola. (1665).
as lanças e o desespero das pessoas Mauritshuis de Haia, Países Baixos.
contrastando com a serenidade de Jesus. Disponível em: https://www.scielo.br.
Acesso em: 13 fev. 2021.
Barroco no Brasil
No Brasil, o Barroco, também conhecido como estilo
colonial, chega um pouco mais tarde. Ele só se desenvolve
plenamente no século XVIII até o início do século XIX. Mas
a história deste estilo começa no século XVII, e aos poucos
vai se desenvolvendo, unindo uma arte erudita europeia,
com um estilo popular e bem característico da região.
Na Europa do século XIX, depois que o Barroco se
desenvolve plenamente no Brasil, os artistas já tinham
abandonado este estilo e a arte volta para os modelos
clássicos. O Barroco brasileiro é claramente associado à Igreja
Católica, e grande parte da sua narrativa está diretamente
ligada ao processo de catequização e ao fortalecimento da
religião cristã. O Barroco é a arte da persuasão.
Imagem 18. Igreja de São Francisco de Assis, Salvador.
Disponível em: https://www.adf.org.br. Acesso em: 14 fev. 2021.
202
O amontoado dá à pintura uma agressividade exagerada.
tou pessoas da corte espanhola do século XVII. Também
registrou tipos populares do seu país, documentando
o dia–a–dia do povo espanhol num dado momento
da história.
Mesmo espalhado pela Europa, e
variando de artista para artista, ou de
região para região, o Barroco sustenta
traços em comum, e traz para a arte o
calor das emoções e a teatralização da
vida. A agonia dos corpos agora reflete
com impacto, traços do homem que não
foram explorados no Renascimento, e
com certeza revelam uma parte impor-
tante da história do ser humano. O Bar-
roco desequilibra a estabilidade renas-
centista, e explode as linhas e formas de
uma forma inacreditável. Foi preciso
sacudir para revelar o homem em todas
as suas potencialidades, e é claro que o
movimento feito pelo Renascimento foi
fundamental para este acontecimento.
Mas o Renascimento esqueceu o deses-
pero e a agonia que fazem parte de
nossas almas.
Podemos apontar duas linhas diferentes: uma nas regiões
enriquecidas pelo comércio de açúcar e pela mineração, como
em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco e nas
regiões onde não havia nem açúcar e nem ouro, e nesses
locais a arquitetura era mais modesta, como em São Paulo.
Este trecho fala de Salvador, que além de centro econômico
era também a capital do país. Era de lá que saiam todas as
riquezas rumo a Portugal e era para lá que se dirigiam os
comerciantes portugueses, trazendo hábitos, artistas e produtos
de Portugal. Por isso, em Salvador, encontramos igrejas
riquíssimas como é o caso da Igreja de São Francisco
(Imagem 18), que começou a ser erguida em 1708.
O seu interior é todo revestido em talha dourada, e a
fachada externa é esculpida em pedra. O interior da igreja é
rico em ornamentos, e um mar de dourado se derrama pelas
paredes e são complementados pelo teto da nave central.
Beleza continua com ricos trabalhos com motivos florais e
arabescos dourados e anjos. Essa igreja ganhou o título de
“igreja mais rica do Brasil”, e é sem duvida a mais conhecida
construção barroca de Salvador, formando um conjunto
arquitetônico com o convento de São Francisco e com a Igreja
da Ordem Terceira de São Francisco. Esta igreja, adjacente à
igreja de São Francisco, mostra um caprichoso trabalho
escultural. Figuras de santos e anjos e os motivos florais,
assim como os balcões, revelam certa influência do barroco
espanhol. Este é um exemplo muito particular de Barroco no
Brasil. Na época, como não havia luz elétrica, o interior era
iluminado com velas, que davam uma ambientação dramática
e teatral, fazendo os fiéis se encantarem diante da glória de
Deus e da Igreja.