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Mais tarde, no ano de 395 d.C., o imperador Teodósio dividiu o Império Romano
entre seus dois filhos: Honório e Arcádio. Aquele se tornou imperador do
Império Romano do Ocidente, que tinha Roma como capital. Por sua vez,
Arcádio, de Constantinopla, antiga Bizâncio, passou a imperador do Império
Romano do Oriente, também chamado de Império Bizantino.
O Império Romano do Ocidente foi alvo de diversas invasões bárbaras até que
em 476 d.C. ruiu e deixou de existir. Já o Império Romano do Oriente, onde se
desenvolveu a Arte Bizantina, apesar das dificuldades, manteve sua unidade e
soberania até 1453, quando Constantinopla foi totalmente dominada por
turco-otomanos, o que é um dos marcos que decretam o fim da Idade Média.
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Arte Paleocristã – AD – SD - Uma das mais antigas representações de Jesus
como o Bom Pastor.
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Concomitantemente ao momento de maior esplendor e à queda do Império
Romano, em frequente convívio com a arte romana espetacular e grandiosa,
que foi alastrada pela presença romana por quase toda a Europa e
significativa parte da Ásia e África, desenvolveu-se uma arte simples, simbólica
e devotadamente religiosa realizada por homens e mulheres pouco educados
e marginalizados em função de suas crenças: os cristãos. Surge, nesse
contexto, a Arte Cristã Primitiva ou Arte Paleocristã, que estende-se do século
II d.C. até o final do quinto século da Era Cristã. Essas duas concepções
estéticas serão as bases mais importantes das expressões artísticas que, com
diversas dificuldades, serão produzidas ao longo da Idade Média, sobretudo,
os primeiros 500 anos.
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Arte Paleocristã – AD - Cristo Bom Pastor (detalhe) - século III - Cripta
de Lucina, Catacumba de São Calixto.
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Em função da perseguição ao culto em torno dos ensinamentos de Jesus
Cristo e de seus apóstolos, seus seguidores viram nas catacumbas, cemitérios
subterrâneos de algumas cidades romanas, um refúgio para professarem e
celebrarem suas crenças. Por isso, é nesse ambiente, que se desenvolve a fase
catacumbária da Arte Primitiva Cristã, caracterizada pela representação
simbólica - nesses espaços fúnebres - de temas ligados, às vezes
disfarçadamente, à crença cristã por meio da pintura, entalhes e baixos
relevos. Primeira manifestação artística visual dos cristãos.
Tal processo persecutório pode ser explicado em função da concorrência e do
choque cultural e religioso que se deu entre as ideias cristãs caracterizadas
por sua abordagem monoteísta, metafísica, eticamente inovadora e coletivista
da vida frente às romanas, notoriamente pagã, intensamente hierárquica,
politeísta e materialista.
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O intenso simbolismo da Arte Paleocristã Catacumbária construía-se em torno
de referências a símbolos, pessoas, suplícios, histórias e crenças cristãs por
meio de estilizações ou mesmo por imagens aparentemente desconectadas
desses referenciais do Cristianismo oriundos do Velho e do Novo Testamento.
Dentre elas destaca-se o uso do peixe como símbolo do Cristianismo (como
referência ao milagre da multiplicação dos peixes e à alcunha do apóstolo
Pedro, “pescador de homens”), que, em grego, escreve-se ichtys, Iesous
CHristos Theou Yios Soter, o que forma as iniciais da frase: “Jesus Cristo, Filho
de Deus, Salvador”; da imagem da fênix associada à ideia da ressurreição de
Cristo; do pão e do vinho como símbolos do corpo e do sangue de Cristo,
respectivamente; da âncora como representação da segurança e firmeza
trazida pela fé; do golfinho como imagem que remete aos cristão recém
convertidos; etc. Outro simbolismo associado a Jesus é a imagem do pastor de
ovelhas e, também, a do cordeiro, já que, segundo as crenças cristãs: "Jesus
Cristo é o Cordeiro de Deus".
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Isso também se justifica pela temática - por vezes - esotérica de interpretação
cristã, impulsionada pela pouca universalização e institucionalização do culto
cristão nesse momento.
A crucificação de Cristo não foi incorporada à tradição imagética paleocristã,
porque nesse período ainda se entendia a crucificação prioritariamente como
uma forma de tortura, de vergonha, de constrangimento, etc. Essa imagem
será incorporada à arte sacra cristã apenas séculos depois da queda de Roma
durante a Idade Média.
Em linhas gerais, a arte paleocristã é definida pelo seu caráter sacro e
utilitarista, pelo seu forte viés simbólico e criptografado, pela temática
religiosa e pela desmaterialização do corpo (como forma de mostrar a
superioridade da alma sobre a matéria).
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Arte Paleocristã – imagens internas da catacumba de Calisto., Roma, Via Ápia, Itália.
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Arte Paleocristã – Período Catacumbário – AD – sec. III d.C. – afresco -
Adão e Eva. Catacumbas de Marcelino e Pedro, Roma, Itália.
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Arte Paleocristã – AD - II d.C. – A Mais antiga imagem da Virgem Maria
com o menino Jesus – Catacumba de Santa Priscila – Roma, Itália.
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Arte Paleocristã AD – século III – “O bom pastor”, pintura do interior da
catacumba de Santa Priscila, Roma..
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Arte Paleocristã – AD - III-IV a.C. – Abdegano, Misac e Sidrac atirados na
fornalha por Nabucondonossor - Catacumba de Santa Priscila – Roma,
Itália.
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Do ponto de vista temático e estético, muito da simbologia e das narrativas
usadas na arte paleocristã são apropriações e adaptações de referenciais
romanos e de outras culturas, por razões que podem ser atribuídas a
precauções diante das intensas perseguições sofridas ou mesmo a meios para
tornar a mensagem do Cristianismo mais palatável e familiar para as pessoas.
Assim, solstícios e equinócios, frequentemente celebrados em culturas pagãs
como a romana, passaram a ser usados como referências para datas cristãs;
atributos apolíneos foram incorporados às virtudes de Jesus Cristo; diversos
histórias como a do dilúvio tem similares em diversas culturas; etc.
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Arte Paleocristã – Período Catacumbário – AD – sec. III d.C. – afresco –
Noé e a arca. Catacumbas de Marcelino e Pedro, Roma, Itália.
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A pintura paleocristã foi a linguagem artística mais usada no período
catacumbário e a técnica mais empregada para realizá-la era a do afresco.
Eram frequentemente executadas em catacumbas de maneira precária ao
menos até o século IV, quando, com a legalização do Cristianismo, ocorre uma
melhoria técnica evidente e uma estética própria e independente da romana
desenvolve-se.
A escultura foi uma forma artística pouquíssimo desenvolvida no período tanto
pela carência de técnica por parte dos artistas cristãos de então quanto
mesmo pela precariedade material e econômica no contexto em que a Arte
Paleocristã desenvolveu-se. A desmaterialização do corpo também é
importante para entender esse fenômeno.
Todavia, na medida em que o cristianismo é incorporado pela sociedade
romana a partir do século IV, a escultura e outras formas de manifestação
artística passam a ser mais comuns e a dialogar com algumas referencias
clássicas.
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Arte Paleocristã – V d.C. – Catacumba de São Marcelino e São Pedro –
Roma, Itália.
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Os cristãos foram impedidos de professar suas crenças - além de serem
muitas vezes perseguidos, presos, torturados ou mesmo mortos - até cerca de
313 d.C., quando o imperador romano Constantino passou a permitir o culto
cristão. Nesse período, inicia-se o Período Basilical da Arte Paleocristã. Esse
termo é derivado da palavra “basílica”, que era um tipo de edifício comum nas
culturas grega e romana, que servia como prédio cívico destinado a assuntos
comerciais e jurídicos. Contudo, após a liberação do culto cristão pelo Império
Romano, foram cedidas basílicas ao povo cristão para que pudessem realizar
seus cultos, muito em função da quantidade expressiva dos fiéis dessa religião
à época. Além disso, essa estrutura arquitetônica passou a ser um padrão
para a construção de novas basílicas originalmente construídas com funções
religiosas.
Basílica de Constantino, uma das primeiras basílicas civis convertidas
em prédio religioso.
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O mosaico foi a técnica artística mais usada no Período Basilical, já que foi
amplamente usada para recobrir as paredes e pisos das basílicas cristãs. Os
temas mais comuns eram cenas bíblicas, tanto do Antigo quanto do Novo
Testamento. Tal técnica também era muito usada para decorar os túmulos e
mausoléus dos cristãos mais abastados.
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Arte Paleocirstã – Mosaico - Mosaico no pavimento da basílica
patriarcal de Aquileia (séc. IV d.C.).
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Música
Pouco ou nada se sabe a respeito da música produzida dentro de um contexto
paleocristão. O pouco que se tem são conjecturas sobre possíveis cânticos
religiosos que norteavam a liturgia das cerimonias religiosas do Cristianismo
Primitivo nas catacumbas. A música, nesse contexto, especula-se
essencialmente vocal e voltada aos ritos religiosos, visto que o uso de
instrumentos musicais nessa linguagem artística era frequentemente
associada pelos cristãos primitivos com as festas hedonistas, orgiásticas e
pagãs romanas. Posteriormente, no Período Basilical, é possível esperar que
houvesse uma maior participação de cânticos ao longo das celebrações, o que
explicaria a presença deles na Idade Média como é o caso dos cantochões.
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Dança
É muito improvável que essa forma de arte tenha tido qualquer
desenvolvimento nesse período sob a influência da cultura cristã primitiva que
repudiava o paganismo, intensamente identificado com a dança em
cerimônias religiosas. Possivelmente, desse contexto, surge a explicação do
porque a dança foi tão perseguida ao longo de toda a Idade Média.
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Teatro
Sobre o teatro, se teve presença nessa cultura, é muito provável que numa
forma pedagógica muito rudimentar e empregada ao longo do culto no intuito
de representar alguma passagem da vida de Cristo ou dos Evangelhos, muito
em função de que a maioria das pessoas era analfabeta. Entretanto, isso não
passa de conjectura, já que a documentação do período a respeito é muito
escassa.
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Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1986.
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