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ÍNDICE

I. INTRODUÇÃO.....................................................................................................................3

II: ARTE PALEOCRISTÃ......................................................................................................5


2.1. Conceito...........................................................................................................................5
2.2. Origem..............................................................................................................................5
2.3. Historial............................................................................................................................5
2.4. Manifestações da arte paleocristã.....................................................................................7
2.5. Fases da arte Paleocristã...................................................................................................7
2.5.1. Arte Catacumbária.....................................................................................................7
2.5.2. Arte Basilical – fim da perseguição.........................................................................15

CONCLUSÃO.........................................................................................................................21
BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................................22
Referências eletrônicas..........................................................................................................22
3

I. INTRODUÇÃO

Nos primeiros séculos na nossa era, a religião do Império romano era politeísta, isto é, eles
adoravam vários deuses, a maioria deles importados da religião grega e rebatizados com nomes
latinos. Já no século II surge uma doutrina do cristianismo que se opôs imediatamente ao
tradicional culto romano aos deuses e aos imperadores, encontrando grande repercussão entre os
pobres e escravos. Trata-se da “Arte Paleocristã.”

Os romanos testemunharam o nascimento de Jesus Cristo, o qual marcou uma nova era e uma
nova filosofia. Com o surgimento de um "novo reino" espiritual, o poder romano viu-se
extremamente abalado e teve início um período de perseguição não só a Jesus, mas também a
todos aqueles que aceitaram sua condição de profeta e acreditaram nos seus princípios.

Após a morte de Jesus Cristo, os discípulos por ele escolhidos começaram a divulgar seus
ensinamentos dispersando-se por várias regiões do Império romano. Inicialmente sua doutrina foi
combatida com violência e brutalidade, e muitos pesquisadores afirmam que diversos cristãos
perderam a vida em sangrentos espetáculos nas arenas romanas.

Esta perseguição marcou a primeira fase da arte paleocristã: a fase catacumbária, que recebe
este nome devido às catacumbas, cemitérios subterrâneos em Roma, onde os primeiros
cristãos secretamente celebravam seus cultos. Nesses locais, a pintura é simbólica.

Enquanto os romanos desenvolviam uma arte colossal e espalhavam seu estilo por toda a
Europa e parte da Ásia, os cristãos começaram a criar uma arte simples e simbólica executada
por pessoas que não eram grandes artistas. Surge a arte cristã primitiva.

Devido às constantes perseguições romanas, os primeiros cristãos, enterravam seus mortos em


profundas galerias denominadas catacumbas. Os mártires eram, porém, sepultados em locais
maiores, que receberam em seu teto e em suas paredes as primeiras pinturas dos anônimos
artistas cristãos.
4

II: ARTE PALEOCRISTÃ

2.1. Conceito
A Arte Paleocristã é uma arte figurativa que possui diferentes funções, era um acto de fé, uma
forma de comunicação entre os primeiros cristãos, com seus diversos símbolos e uma forma
de catequização, uma vez que a maioria dos fiéis era analfabeta. É a arte, pintura, mosaico e
arquitetura produzidos pelos cristãos primitivos.

2.2. Origem
A Arte Paleocristã surge nos primeiros séculos da fé cristã. Quando Jesus Cristo é morto na
cruz, seus seguidores se espalham por toda Europa, o destino preferido desses apóstolos era
Roma, capital do Império Romano. Seu desenvolvimento vai do século II ao século V. Não há
vestígios de arte cristã no primeiro século, mas é possível que alguma manifestação
semelhante a que veremos aqui tenha sido realizada nesse período. A primeira fase chamada
de Catacumbária compreende os séculos II ao III e a segunda fase chama de Basilical, vai do
século IV a VI.

Os primeiros cristãos foram duramente perseguidos nos primeiros séculos pelas autoridades
do Império Romano. Nos grandes circos os mártires cristãos foram jogados aos leões para
divertirem a plateia romana. Sendo assim, os cristãos se escondiam nas catacumbas – locais
subterrâneos que serviam de cemitério para adeptos da doutrina – e é nesses locais que
encontramos as manifestações artísticas do período Paleocristã.

A arte não era produzida por grandes artistas e sim por gente simples. A fé cristã, e suas
promessas de salvação e de igualdade entre as pessoas, atrai primeiramente a grande massa
oprimida pela elite romana. Ser cristão era um crime severamente punido.

2.3. Historial
A Arte Paleocristã desenvolveu-se, especialmente, dentro do Império Romano. No período
deste início das práticas cristãs, no que tange ao campo artístico, havia uma relativa tolerância
para com todas as religiões que se mostravam presentes dentro do vasto Império. Entretanto,
havia um culto oficial voltado ao imperador, o qual deveria ser seguido por todos.
5

Segundo ROUGIER (1995, p. 86) “O culto imperial era o equivalente do juramento cívico,
da saudação à bandeira”.

Os cristãos enxergavam neste culto imperial uma apostasia1, uma prática errônea, e, portanto,
negavam-se a seguí-lo.

O Império Romano colocou-se, portanto, como perseguidor dos cristãos, e estes se viram
obrigados a colocar suas práticas na “clandestinidade”. É necessário salientar que não só a
“desobediência civil”, ou seja, a negação do culto imperial padrão, fez com que o Império se
voltasse contra os cristãos. Trata-se, na verdade, de uma série de fatores, que inclui a pressão
da opinião pública que, em geral, tinha completa ignorância a respeito das práticas usuais dos
cristãos e os atacava veementemente por vários crimes e delitos. Também alguns imperadores
colocaram sobre os cristãos a culpa por alguns factos esporádicos, até de ordem natural.

Nas palavras de Tertuliano apud JOHNSON (2001: p. 87-88), “se o Tibre atinge as
muralhas, se o Nilo não consegue subir até os campos, se o céu não se move ou se a terra o
faz, se há fome ou peste, o clamor é um só: ‘aos leões os cristãos!’’.

Muitos cristãos se tornaram mártires, neste período, por se oporem à submissão de sua
religião ao Império e/ou ao culto imperial. Visando evitar profanação dos túmulos, estes
mártires, bem como os demais falecidos cristãos (cronologicamente, em fase posterior)
passaram a ser sepultados em catacumbas 2. Estes sepulcros subterrâneos, que objetivavam
sepultar os cristãos, constituíram, justamente, o ponto de nascimento da Arte Cristã. Por tal
motivo, a Arte Paleocristã é, também, chamada de Arte Catacumbária.

Torna-se pertinente ressaltar que, de acordo com JANSON & JANSON (1996: p. 89), “antes
de Constantino, Roma ainda não era o centro oficial da fé; comunidades cristãs maiores e
mais antigas existiam [...] e provavelmente tinham suas próprias tradições artísticas”.
Porém, as fontes sobre tais comunidades cristãs são extremamente escassas e, para se tratar da
Arte Paleocristã, quase inexistentes, sobrando apenas em Roma, certos motivos que
mantiveram-se intactas em algumas catacumbas e algumas outras pouco danificadas.

1
Abandono da religião a qual pertencia.
2
Cemitérios subterrâneos
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2.4. Manifestações da arte paleocristã


Segundo MONTERADO (1968: p. 65), “a primeira manifestação da arte cristã está ligada à
decoração dos cemitérios subterrâneos”.

2.5. Fases da arte Paleocristã


A arte paleocristã é dividida em duas fases sendo:
 1ª Fase – Arte das catacumbas – a fase da perseguição (datam desde o inicio da
ressurreição de Cristo até 313, com o Edito de Milão - séculos II e III);
 2ª Fase – Arte basilical – o fim da perseguição (data de 313 – século IV até o século
VI).

2.5.1. Arte Catacumbária


Segundo PROENÇA (1999: p. 45), “[...] essa arte cristã primitiva não era executada por
grandes artistas, mas por homens do povo, convertidos à nova religião. Daí sua forma rude,
às vezes grosseira, mas, sobretudo, muito simples”.

A princípio, a Arte Cristã foi praticada por homens do povo, pobres, sem domínio técnico. De
acordo com GAUER & POZENATO (1996: p. 32), esta era realmente “[...] uma arte pobre,
pela própria situação de vida dos cristãos”.

Contudo, assim como a própria religião que, ao mostrar seu poder e seu potencial, foi
incorporada pelos poderosos do Império, sua arte também o foi. O que, a princípio, foi uma
arte tosca3, praticada sem técnicas por homens simples, acabou se tornando um estilo
elaborado e próprio à época da ascensão do Cristianismo, e, obviamente, passou a ser
executada por técnicos e artistas importantes e, por vezes, de renome. A arte cristã deixou de
ser, após o triunfo da religião, arte do povo – o que a tornava peculiar em relação às demais.
Dai, surge a divisão já citada entre Arte Catacumbária e Arte Triunfal.

Contrariamente ao que se pensa usualmente, as catacumbas não serviam de locais de culto


para os cristãos. Eram elas utilizadas, somente, para sepultamento dos mártires 4 e dos fiéis
comuns, ou seja, constituíam somente cemitérios subterrâneos, e não locais de reunião. Os
cultos eram praticados em residências, tanto em Roma quanto em outras cidades.

3
Clandestina, ou seja, praticado nas escondidas
4
Pessoa que sofreu torturamentos ou morte por causa da sua crença (sustentar a sua fé crista) ou opinião.
7

2.5.1.1. Características da arte catacumbária


São características da arte do período não só a pintura e a escultura, mas também a música e a
poesia. De acordo com GAUER & POZENATO (1996: p. 33), “A música não utilizava [...]
nenhum instrumento musical, porque os instrumentos estavam, no conceito cristão, ligados
às orgias romanas. Os cantos realizados nos cultos eram [...] a uma só voz (monódicos), de
estrutura musical simples e austera”.

i. Arquitectura Catacumbária
Na arquitectura, destaca-se a construção de catacumbas – uma espécie de cemitério
subterrâneo utilizadas, para sepultamento dos mártires e dos fiéis comuns. As catacumbas
eram construções muito simples edificadas sob Roma. Hoje as catacumbas são espaços
turísticos muito visitados onde se pode conhecer muito das primeiras comunidades cristãs.

Existem 40 catacumbas ao redor de Roma com centenas de quilômetros de galerias e dezenas


de milhares de sepulturas. Mas também é possível encontra-las em Paris, Nápoles, na Sicília
oriental e no Norte da África. É provável que tenham existido vários centros artísticos com
estilos artísticos próprios, como Alexandria e Antióquia.

As catacumbas de Santa Priscila, Santa Domitila e São Calisto são as mais conhecidas. São
Calisto é provavelmente a mais visitada dentre tantas outras que estão abertas a visitação.
Localizada na região central de Roma, Itália, composto de cinco andares e mais de 20 km de
corredores que levam a inúmeros túmulos. Acredita-se de vinte mil pessoas foram enterradas
nesse local entre elas pessoas contemporâneas a Jesus Cristo.

Fig. 1: Nichos na catacumba de Calisto onde os corpos eram sepultados


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Catacombe.jpg
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ii. Pintura Catacumbária


A pintura era de acordo com GAUER & POZENATO (1996: p. 32) “[...] mural, ornamental
e figurativa, em afresco. [...] A escultura, mais rara do que a pintura, aparece em túmulos e
sarcófagos, quase sempre em baixo-relevo [...]”.

A pintura mural é muito comum nas catacumbas. As pinturas são encontradas nas paredes e
possui uma técnica semelhante as pinturas romanas do seu último estilo. Porém mais simples
pois são efetuadas por “artistas” menos experientes. As passagens bíblicas com intuito de
apresentar o Evangelho os símbolos cristãos predominam. Normalmente os primeiros cristãos
representavam o corpo humano de maneira proporcional e bidimensional, por vezes
adaptando elementos da arte pagã.

Fig. 2: Catacumba de Santa Priscila Fig. 3: Catacumba de São Calisto

A pintura cristã, especialmente na primeira época, limitava-se à representação de símbolos


utilizados, como numa espécie de código secreto, pelos primeiros cristãos.
 A cruz – símbolo do sacrifício de Cristo;
 A palmeira – símbolo do martírio;
 A âncora – símbolo da salvação;
 O peixe – símbolo que representava Jesus

Com o tempo, a pintura cristã começou a incorporar cenas do Antigo e Novo Testamento,
tendo, porém, como tema preferido, a representação de Jesus Cristo como Bom Pastor Jesus
era representado como um jovem, sem barba e com cabelos curtos, vestido em trajes simples
de clara influência romana. A mãe do Cristo era representada em maneira diferente da actual,
sua aparência lembrava a de uma matrona romana vestida de maneira simples. O véu e
9

auréola (elementos simbólicos que remetem à castidade e à santidade) serão introduzidos mais
tarde. Outros temas eram as passagens da Bíblia também ali simbolizadas, por exemplo: Arca
de Noé; Jonas engolido pelo peixe e Daniel na cova dos leões.

iii. Escultura Catacumbária


As esculturas nos dois primeiros séculos são raras pois são mais caras e mais difíceis de
executar. A partir do século III irã aparecer com mais frequência.

Relevos – os relevos são escavados na rocha e funcionam muito bem pois podem ser
acoplados às paredes das catacumbas. Os dípticos, relevos com dois lados, são bastante
comuns. Utilizados para decorar as catacumbas, expressam como na pintura os símbolos, a
história dos grandes mártires e passagens bíblicas. O sarcófago, um caixão de pedra ou
mármore, também ornado normalmente com esculturas em relevo ou com inscrições.

Fig. 4: “Representação de Cristo como o Bom Pastor” – século IV – Museu de Epigrafia,


Roma
Fonte: www.educarbrasil.org.br
Escultura de Vulto redondo - Existem poucas estátuas e quase sempre representavam o Bom
Pastor.
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Fig. 5: Baixo relevo de uma homem em oração – Basílica de Sant' Eustorgio


Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/61/IMG_6423_-_MI_-_Sant
%27Eustorgio_-_Cimitero_paleocristiano_-_Foto_Giovanni_Dall%27Orto_-_1-Mar-2007.jpg

A escultura e a pintura – mais essa que aquela – eram mais largamente utilizadas. Serviram,
inicialmente, para adornar os sepulcros exclusivos aos mártires da religião, estendendo-se
depois para os demais túmulos cristãos.

iv. Iluminuras Catacumbárias


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Com a invenção do pergaminho no século II surgem os primeiros livros com rica


encadernação. A religião cristã é muito baseada na palavra, o conteúdo de seus textos
sagrados é fundamental para compreensão dos ensinamentos. Nesse caso os manuscritos terão
fundamental importância para difusão da fé cristã.

As iluminuras são textos que contêm ilustrações. Poucas iluminuras, especialmente da


primeira fase da Arte Paleocristã, sobreviveram. As poucas conhecidas são do século V. No
entanto, esse tipo de manuscrito será extremamente popular até a invenção da imprensa no
século XV.

Fig.6: Iluminura de início de século VI d.C. pertencente ao Livro do Génesis, o mais antigo
códice bíblico conhecido.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:ViennGenFol12vJacob.jpg

2.5.1.2. Disciplina do Arcano e Simbolismo


Além das já expostas peculiaridades da arte cristã inicial, de técnica, de aplicação, de local, de
produtores e alvos da arte, etc; o contexto do Império Romano e das condições de vida dos
primeiros cristãos contribuiu para que um novo elemento surgisse: a Disciplina do Arcano.

Segundo MONTERADO (1968: p. 65), “No primeiro século, os sepulcros são ainda
particulares, privados, e a decoração é geométrica, enriquecendo-se com elementos tirados
da flora e da fauna, segundo o tipo pagão”.
12

A influência do paganismo5, neste início, é tida como inevitável, visto que era esta a idéia
arraigada na consciência coletiva, incluindo-se aí os cristãos. Também, é preciso dizer,
algumas obras eram executadas por “pessoas de fora” (pagãos), e os temas do paganismo
apareciam para evitar que recaíssem suspeitas sobre aqueles que solicitavam o serviço.

Segundo MAHLER; UPJOHN & WINGERT (1974: p. 92), “os artistas recorriam [...] a
motivos pagãos, dando-lhes, no entanto, uma interpretação cristã”. Conforme se vê, o
cristianismo foi (e ainda é) “[...] uma religião que conseguiu incorporar elementos oriundos
de uma variedade de fontes [...]” (BATTISTONI FILHO, 1989, p. 43).

“No segundo século, quando as catacumbas se tornam cemitérios comuns, entra o


simbolismo, prevalecendo a disciplina do arcano que proibia, rigorosamente, representar os
mistérios da religião, por medo de profanação” (MONTERADO, 1968, p. 65 – Grifo do
autor).

A partir do segundo século, portanto, a arte cristã passou a ser composta, principalmente, por
simbolismo. Em síntese, tornou-se uma arte semântica.

O surgimento da Disciplina do Arcano – regra não expressa, mas difundida de não retratar,
explicitamente, mistérios da religião para evitar reconhecimento pelos leigos – refletia o
contexto das seguidas perseguições aos cristãos: era preciso que a religião não ficasse
discriminável nas obras, que estas só pudessem ser percebidas e interpretadas por iniciados,
por integrantes da religião.

Assim, a arte cristã voltou-se para a representação de símbolos. Até mesmo as simples
estruturas geométricas, mais largamente utilizadas no século I, foram reinterpretadas a fim de
cumprir um novo papel.

O simbolismo deu, logicamente, grande força ao Cristianismo. Ao mesmo tempo em que


protegia os cultos e a expressãodos fiéis, auxiliava na representação e na compreensão de
conceitos religiosos: “A idéia de Deus não pode ser expressa por um quadro; não pode ser
plenamente expressa nem mesmo em palavras; o símbolo é um meio de transmitir uma idéia
5
Conjunto dos que não foram baptizados
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demasiado tremenda para a expressão humana” (ANSON & CONALY, 1969, p. 1104).
“Um dos aspectos mais importantes dessa iconografia diz respeito aos fenômenos sincréticos
de transposição de temas não-cristãos em temas cristãos.” (ALET, 1994, p. 51)

Houve, então, um processo de mistura de elementos diversos e de variadas fontes. Imagens


simples que muitas vezes somente adornavam obras foram re-significadas, bem como
imagens dos cultos pagãos e outras imagens de elementos simples da vida cotidiana.

Contrariamente à arte usual (e ao conceito que se faz desta), a arte cristã do período das
perseguições passou a ser criada a fim de ter conceitos embutidos, significado interno de
coisas e/ou idéias exteriores.

Assim, por exemplo, a simples forma geométrica do círculo passou a representar Jesus Cristo,
e quando vinha este símbolo sobre uma cruz, significava a crucificação (considerado o fato de
que as cruzes eram, geralmente, evitadas, por serem um símbolo bem óbvio da perseguida
religião), e, nesse caso, nota-se o sincretismo simbólico com o Deus-sol do paganismo; ou o
mesmo símbolo podia servir para representar a eternidade de Deus.

Muitos outros símbolos foram sendo criados, como o peixe, que representava, também, Jesus.
Este símbolo foi escolhido porque, em grego, a palavra peixe forma um acróstico das iniciais
de “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”, também em grego. O símbolo do peixe também
era utilizado para reconhecimento mútuo entre os cristãos. A renovação da força do
Cristianismo propiciada pelo simbolismo nascente foi um dos elementos constituintes das
bases que asseguraram o triunfo da religião pós-Constantino.

As catacumbas deixaram de ser usadas somente no século V, ainda que já houvesse liberdade
de culto no Império, extensiva ao Cristianismo, bem como esta religião já fosse estatal. Já o
simbolismo não foi totalmente suprimido, embora tenha perdido a força que o fez nascer por
conta da liberdade de culto e tenha diminuído em muito, dando lugar às representações menos
misteriosas, geralmente de passagens bíblicas.

2.5.2. Arte Basilical – fim da perseguição


Os cristãos foram perseguidos por três séculos, até que em 313 d.C. o Imperador Constantino
se converteu à religião, legalizando o cristianismo, permitindo deste modo que ela fosse
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professada, dando início à 2ª fase da arte paleocristã: a fase basilical. A partir de então os
primeiros templos começavam a surgir com o nome de basílica, muitas vezes nos lugares
onde antes eram templos pagãos romanos.

Em 391, no governo do Imperador romano Teodósio torna o cristianismo foi como a religião
oficial do império. Nesse momento tanto a arte quanto a vida romana mudam
significativamente e essa mudança irá marcar a arte por vários séculos. Como religião oficial
do império, estratégia política uma vez que o império romano sofria uma crise, muito pelo
facto da expansão do Cristianismo, arte pelos 10 séculos posteriores passará por vários estilos
mas quase que exclusivamente com temática cristã.

Com a oficialização da religião cristã começaram a surgir os primeiros templos cristãos. Esses
templos conservaram por fora as características das construções romanas destinadas à
administração e à justiça, mas, internamente, abrigavam espaços amplos e paredes
ornamentadas com pinturas e mosaicos que retratavam os mistérios da fé aos novos cristãos.
Surgiram desta maneira, as basílicas construídas com elementos arquitetônicos fruto da
herança grega e romana, como o arco, as colunas de ordens diferentes, o altar e o abside.

Fig. 7: Basílica de Santa Sabina em Roma Fig. 8: Interior da Basílica de Santa


Sabina em Roma

“A primitiva arte cristã, durante os primeiros dois ou três séculos de sua


existência, foi mero prolongamento ou mesmo uma variante da arte romana
tardia. Tão grande é a semelhança entre a obra pagã tardia e a obra cristã
primitiva, que a mudança decisiva de estilo deve ter ocorrido entre a era
clássica e pós-clássica, não entre as idades pagã e cristã. Nas obras do
período final do Império, sobretudo as do período de Constantino, as
características essenciais da primitiva arte cristã já se deixam prenunciar – o
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impulso para a espiritualização e abstração, a preferência por formas planas,


incorpóreas, diáfanas, a exigência de frontalidade, solenidade hierarquia a
indiferença pela vida orgânica de carne e sangue, a falta de interesse pelo
característico, pelo individual, pela espécie. Em suma há a mesma vontade
não-clássica de representar mais o espiritual do que o sensível , tal como se
encontra nas pinturas das catacumbas, nos mosaicos das igrejas romanas e
nos mais antigos manuscritos clássicos. O curso de desenvolvimento vai
desde ilustrações circunstanciais de uma situação nos últimos tempos
clássicos até um conciso registro de fatos dos últimos tempos pagãos e,
finalmente a símbolos esquemáticos como o de um selo, na primitiva arte
cristã.” (HAUSER, 2003: 125)

2.5.2.1. A Arte da Cruz


A cruz é o principal símbolo cristão. Remete diretamente à Jesus Cristo, sua crucificação e o
sofrimento para libertação do povo judeu. No entanto a cruz não é apenas um símbolo cristão.
Pode-se encontrar cruzes em culturas tão distintas como a fenícia, a persa, a etrusca, a grega, a
escandinava, a celta, a africana, a australiana, a chinesa, a tibetana, a asteca, a maia, a inca,
entre outras. Mesmo que a cruz tenha um traçado muito simples está, na realidade, carregado
de densa complexidade. Buscar todos os sentidos que possui uma cruz pode ser bastante
complicado pois seu significado flutua em três níveis: místico, filosófico e sociológico.

Fig. Lápide Funerária Basílica de Sant'Eustorgio


Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:IMG_6433_-_MI_-_Sant%27Eustorgio_-
_Sotterraneo_-_Bartolo_de_Marino_1302_-_Foto_Giovanni_Dall%27Orto_-_1-Mar-
2007.jpg
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Segue abaixo algumas cruzes e seus possíveis significados. Essas são apenas algumas dentre
as mais famosas:

 Cruz Grega: Um antigo tipo de cruz com braços de igual longitude. Dela
e da cruz latina derivam a maioria das utilizadas em heráldica;

 Cruz Latina ou Cruz Cristã: Os romanos a utilizavam para executar


criminosos. Por conta disso, ela nos remete ao sacrifício que Jesus Cristo ofereceu
pelos pecados das pessoas. Além da crucificação, ela representa a ressurreição e a vida
eterna;

 Cruz de Santo André: De acordo com a tradição, Santo André sentiu-se


indigno de ser crucificado como o seu Senhor. Desta forma, ele suplicou que a sua
cruz fosse diferente. Ela é um símbolo da humildade e do sofrimento;

 Cruz de São Pedro: Segundo a Tradição, o apóstolo Pedro teria sido


crucificado de cabeça para baixo, numa cruz como esta;

 Cruz Tau ou Cruz de Santo Antônio: Recebeu esse nome por reproduzir a
letra grega Tau. É considerada por muitos, como a cruz da profecia e do Antigo
Testamento. Dentre suas muitas representações estão o martelo de duas cabeças, como
sinal daquele que faz cumprir a lei divina, encontrado na cultura egípcia, e a
representação da haste utilizada por Moisés para levantar a serpente no deserto. São
Francisco de Assis a utilizou como assinatura;
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 Cruz Ansata: Um dos mais importantes símbolos da cultura egípcia. A Cruz


Ansata consistia em um hieróglifo representando a regeneração e a vida eterna;

 CRUZ GAMADA (SUÁSTICA OU ESVÁSTICA): Em inglês como em


alemão, a palavra "esvástica" deriva do sâscrito: svatikah e significa boa sorte,
afortunado. A primeira parte da palavra SVASTI pode ser dividida em duas partes: SU
= (bom, bem), e ASTI = (é). A parte ASTIKAH somente, quer dizer SER. Na Índia,
esta palavra é associada a coisas favoráveis - porque significa "favorável". Lá, o giro
das esvásticas em sentido horário ou anti-horário tem diferentes significados. Devido a
sua simplicidade, a esvática tem sido usada quase sempre de modo independente por
muitas sociedades humanas. A suástica representa a energia do cosmo em movimento,
o que lhe confere dois sentidos distintos: o destrógiro, onde seus “braços” movem-se
para a direita e representam o movimento evolutivo do universo, e o sinistrógiro, onde
ao mover-se para a esquerda nos remete a uma dinâmica involutiva. No século
passado, essa cruz adquiriu má reputação ao ser associada ao movimento político-
ideológico do nazismo;

 Cruz Ancorada: Simboliza que a esperança dos cristãos está em Cristo.


Esta cruz também foi símbolo de São Clemente, Bispo de Roma que, de acordo com a
Tradição, foi amarado à uma âncora e lançado ao mar por ordem do imperador
Trajano;

 Cruz Patriarcal: também conhecida como Cruz de Lorena e Cruz de


Caravaca possui um “braço” menor que representa a inscrição colocada pelos romanos
na cruz de Jesus. Foi muito utilizada por bispos e príncipes da igreja cristã antiga e por
jesuítas nas missões no sul do Brasil;
18

 Cruz Papal: É o emblema oficial papal;

 Cruz de Anu: Utilizada tanto por assírios como caldeus para representar
seu deus Anu, esse símbolo sugere a irradiação da divindade em todas as direções do
espaço;

 Cruz de Jerusalém: Formada por um conjunto de cruzes, possui uma


cruz principal ao centro, representando a lei do Antigo Testamento, e quatro menores
dispostas em cantos distintos, representando o cumprimento desta lei no evangelho de
Cristo. Tal cruz foi adotada pelos cruzados graças a Godofredo de Bulhão, primeiro rei
cristão a pisar em Jerusalém, representando a expansão do evangelho pelos quatro
cantos da terra;

 Emblema dos Cavaleiros de São João, que foram levados pelos turcos
para a ilha de Malta. A força de seu significado vem de suas oito pontas, que
expressam as forças centrípetas do espírito e a regeneração. Até hoje a Cruz de Malta
é muito utilizada em condecorações militares.
19

CONCLUSÃO

Como se pode notar, a perseguição aos cristãos fez nascer uma das armas utilizadas por eles
para propagação da fé. A Disciplina do Arcano deu origem ao simbolismo da religião cristã, o
qual é utilizado até os dias atuais.

O estudo da arte deste período permite observar o dinamismo da Igreja, quando ainda
embriônica, e a capacidade de adaptação, não só da instituição em si, mas também dos fiéis.

As apropriações e re-significações de temas pagãos e laicos são provas disso, bem como a
capacidade criativa de escapar da perseguição ao culto quando ainda se mantinha à margem
da sociedade romana.

Todo esse cenário que permitiu o aparecimento da Disciplina do Arcano e do consequente e


inevitável simbolismo cristão foram, sem dúvida, fundamentais na história da Igreja, para que
esta pudesse se tornar uma das instituições mais bem sucedidas na história da humanidade.
A força de comunicação dos símbolos é inquestionável e adaptou-se muito bem à linguagem
religiosa (ou esta adaptou-se muito bem à linguagem dos símbolos), e a junção das duas
permitiu, em aliança com outros fatores, a construção da base de uma das instituições mais
bem sucedidas na história da humanidade.
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BIBLIOGRAFIA

ALET, Xavier Barral I. História da arte. 2 ed. Campinas: Papirus, 1994.

ANSON, Peter F. & CONALY, Iris. A arte na igreja. Rio de Janeiro: Renes, 1969.

BATTISTONI FILHO, Duílio. Pequena história da arte. 9 ed. São Paulo: Papirus, 1989.

GAUER, Mauriem & POZENATO, Kenia. Introdução à história da arte. 3 ed. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1998.

JANSON, Anthony F. & JANSON, H. W. Iniciação à história da arte. 2 ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1996.

JOHNSON, Paul. História do cristianismo. Rio de Janeiro: Imago, 2001.

MAHLER, Jane Gaston; UPJOHN, Everard M. & WINGERT, Paul S. História mundial da
arte: dos etruscos ao fim da idade média. v. 2. São Paulo: Difel; Círculo do Livro, 1974.

MONTERADO, Lucas de. História da arte. São Paulo: São Paulo, 1968.

PROENÇA, Graça. História da arte. São Paulo: Ática, 1999.

ROUGIER, Louis. O conflito entre o cristianismo primitivo e a civilização antiga. Lisboa:


Vega, 1995.

Referências eletrônicas

Arte Cristã Primitiva. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historiag/arte-


crista.htm>. Acesso em: 29 out. 2007.

Símbolos litúrgicos. Disponível em: <http://www.ielb.org.br/recursos/rec_liturgia/Simbolos>.


Acesso em: 29 out. 2007.

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