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:\fINISTÉRIO DA FAZENDA
tando os interêsses das partes e res- nas investigaQÕes, tendo amplo conheci-
guardando os da Fazenda Nacional. mento do trabalho a realizar e da lniha
O Ministério da Fazenda, na Exposi- demarcanda, de modo que possa apre-
ção de Motivos n. o 915, de 4 de junho sentar os seus recursos em tempo há-
de 1941, ao justificar o então projeto, bil.
posteriormente converti·jo em lei, es- O convite de que trata o art. 11 do
clareceu que no art. 29 haviam sido Decreto-lei n. o 9.760 será feito, ou por
prescritas as normas do processo para edital ou pessoalmente. O convite pes-
a fixação da posição da linha do prea- soal, que deverá ser comprovado, será
mar médio do ano de 1831, dt! capital sempre conveniente quanto aos interes-
importância, segundo o critério adtodo sados que tenham residência notOria-
pela comissão incumbiáa de elaborá-lo. mente conhecida na localidade, indepen-
Esclarecendo ser certo que, na quase to- dentemente de convite porventura feito
talidade da costa bra»ileira, não se por edital (O. S. n.o 2, do S.P.U., de
apresentam sequer vestígios daquela li- 1948) .
nha, entendeu a Comissão: "Que o pro-
O Serviço do Patrimônio da União,
cesso dessa fixação tem semelhança, até
pelo seu Chefe do órgão local, está in-
certa altura, com a antiga ação fint~
vestido da competência de fixar a linha
ra regundlfrum, isto é, com a ação ju-
do preamar médio di! 1831 e conseqüente
diciária divisória, cujos vestígios hou-
delimitação dos terrenos e acrescidos de
vessem desaparecido, seja por fato do
marinha.
homem ou da natureza. Torna-se, pois,
imprescindível que as partes interessa- É admitido recurso para o próprio
das sejam ouvidas, garantindo-se-Ihes a chefe, a seguir para o Diretor do Servi-
defesa que naquelas ações compete aos ço (art. 13, parágrafo único) e, final-
confrontantes". mente, em última instância, na esfera
A propósito ainda do Decreto-lei n. o administrativa, para o Conselho de Ter-
3.438, o Dr. Agripino Gomes Veado, ras da União (art. 14), seja aquêle
então Procurador da Diretoria do Do- fundado em erros cometidos na demar-
mínio da União e integrante da cita- cação ou preterição de formalidades le-
da Comissão, salientou que a determi- gais.
nação da posição da linha do preamar Segundo os antecedentes históricos,
médio é a questão que mais interessa, observa-se que o legislador ou os atos
suscitando dúvidas e discussões que aca- do executivo tiveram sempre em vista
bavam, não raro, nos pretórios, porém, tomar como ponto de partida, para me-
em face do disposto no art. 29 >da nova dição das 15 braças craveiras (33 me-
lei e seus parágrafos, tudo se resolve- tros) um certo ponto atingido pelas
ria da melhor maneira possível. águas, um certo ponu> até onde chega
"A parte interessada colabora com a um preamar, a princípio um preamar
União nas investigações a respeito des- máximo e, a partir de 1932, um prea-
sa determinação. Esta há-de resultar mar médio (Instruções de 14 de novem-
de documentos, plantas de autenticida- bro), sendo estabelecido que nas medi-
de irrecusável relativas àquele ano ou, ções dos terrenos de marinha devia ser
quando não obtidos, de época que do observada:
mesmo mais se aproxime, o que lrigni- a) "a maior e menor enchente da
fica que, dada a inexistência dêsses maré de uma lunação e tomado o ponto
documentos, a posição daquela linha médio dêle, contar-se as 15 braças"
será a do atual preamar médio" (Jor- (Ordem de 12 de julho de 1833);
do Brasil de 22 de julho de 1941). b) .. na falta de mal'és regulares que
Instituiu a lei, assim, um processo produzam o preamar médio dentro de
em virtude do qual a parte interessa- uma lu nação" .,. "os pontos onde che-
da, se lhe convier, colabora com a União gam as águas na sua elevação média,
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porém, que a "influência das marés é cada ao serviço que se tinha em vista
caracterizada pela oscilação periódica executar, processo êsse consubstanciado
de 5 (cinco) centímetros, pelo menos, no Aviso n.o 155, de 14 de setembro
do nível das águas, que ocorra em qual- de 1903, dirigido pelo Ministro orla Fa-
quer época do ano" (parágrafo único zenda ao Engenheiro Teodósio Silveira
do art. 2. 0 ). da Mota.
Convém salientar, a propósito, que o A Municipalidade da Capital Federal,
Decreto-Iei n.o 2.490, de 1940, declara- que tinha a faculdade de aforar os
ra, ainda, que "a União não reconhece terrenos 'de marinha mediante aprova-
e tem por insubsistentes e nulas quais- ção do Ministério da Fazenda, obser-
quer pretensões sôbre o domínio dos vava, na determinação da linha do prea-
terrenos de marinha", ao passo que o mar médio a já citada Ordem de 12
Decreto-Iei n.o 9.760, de 1946, repetin- de julho de 1833.
do idêntica disposição, veio prescrever:
Após a expedição do citado Aviso
"A União tem por insubsistentes e
ministerial, foi, no ano de 1904, solici-
nulas quaisquer pretensões sôbre o do-
tado o Conselho Diretor do Clube de
mínio pleno dos terrenos de marinha e
Engenharia a se pronunciar sôbre o as-
seus acrescidos, salvo quando origina-
sunto, sendo o mesmo longamente dis-
dos em títulos por ela outorgados na
cutido pelas nossas maiores autorida-
forma do presente decreto-lei".
des técnicas.
Consoante as "instruções" de 14 de
novembro de 1832 pretendia o Govêr- Estas definiram o preamar médio e
indicaram o processo científico mais
no se procedesse à medição e demar-
prático para determiná-lo com a neces-
cação dos terrenos de marinha, existen-
sária exatidão, que constituiria em ob-
tes no país, quer na capital, quer nas
servar os preamares consecutivos du-
demais cidades e vilas das Províncias
rante uma lunação, pelo menos, tôdas
do Império, levantando-se plantas ge-
as vêzes que o mar estiver em "condi-
rais orlos trabalhos, para por elas, de
ções normais" mediante estacas gradua-
então em diante, se fazerem as conces-
das ou marégrafos, conforme o caso.
sões.
A suspensão dêsses trabalhos e o A linha ou orla arenosa que as águas
abandono dêsse processo demarcatório do mar deixam asinaladas nl:'. praia,
na sistemática do Decreto n.o 4.105, de ou melhor ainda, em listas nos roche-
1868, deram já à época origem a difi- dos, constituiria o melhor critério para
culdades para que pudesse ser assina- avaliar orlo grau de rigor das observa-
lada a linha do preamar médio que cor- ções levadas a efeito pelo processo pre-
respondesse ao estado do lugar, no tem- conizado, tanto mais quanto o preamar
po da execução da lei de 15 de novem- méd;o é tanto mais provável de ser a
bro de 1831. média dos valores dos preamares, quan-
Ora, não se dispunha, então, não só to mais próxima fôr dos preamares co-
de registros e observações maregráfi- muns" (Terrenos de Marinha, M. Ma-
cas regulares, como também de plantas druga, págs. ns. 506-575).
daquela época em que fôsse indicado Não foi, porém, indicado, à época,
o estado do local, com detalhes de relê- processo para fixação da linha do prea-
vo topográfico e configuração do li- mar médio de 1831, quando existissem
toral. aterros naturais ou artificais.
Na impossibilidade de determinar-se Sàmente em 2 de maio de 1933, a Di-
o preamar médio em qualque!" lugar, retoria do Domínio da União veio in-
sem uma longa série de observações, dicar normas a respeito da fixação da
foi forçoso estabelecer, na época, um linha do preamar médio de 1831, ao
processo que satisfizesse não só as exi- expedir a circular n. o 2 -- Instruções
gências legais, como as da técnica apli- para os serivços técnicos de Diretoria.
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altura" dos val'!OS preamares de todo E isso porque não está o c:lefe do
o ano de 1831), com a superfície do ter- órgão regional adstrito à aceitação
reno que existia naquela época no lo- pura e simples do indicado em planta,
cal (in Revista de Direito Administra- porquanto, pela obtenção dêsses e de
tivo, junho de H145, pág. 291 (parecer "outros documentos", que se esforçará
do Diretor da DCR-DDU, Engenheiro por conseguir, determinará a posição da
Armando Godói Filho). citada linha (Decreto-lei n.O 9.760, cit.,
O intuito do Ministério da Fazenda no seu art. 13).
foi sempre de encontrar uma linha tan- f; com êsse sentido, entendo, terem
to quanto possível próxima da reco- sido emanadas as determinações ou pro-
mendada pelas leis, e harmonizar, sen- nunciamentos do órgão ou de seus téc-
satamente, as recomendações da lei com nicos.
a realidade numa matéria que, pela sua Para a utilização de plantas antigas,
natureza, não pooe comportar soluções de épocas próximas do ano de 1831,
rígidas (víde parecer cit.). que façam referência ao contôrno ma-
Os documentos constituídos por me- rítimo do litoral dêss3 tempo e, como
mórias, monografias e eSCrIturas rela- tal, possam servir de compl"ovação da
tivas ao ano de 1831, ou que do mes- formação de acrescidos, a partir dessa
mo se aproximem, quando obtidos, são, época, devem ser atendidas as seguin-
em geral, imprecisos. Subsídios valio- tes condições, consoante instruções já
sos, como cartas de aforamento de ter- citadas:
renos de marinha, outorgados no tem- a) pela redução ou ampliação des-
po do Império, são encontrados com re- sas plantas para a escala padrão dese-
lativa facilidade apenas nas Capitais nhadas em papel vegetal, e superposi-
ou grandes cidades litorâneas. ção respectiva de plantas modernas,
tecnicamente perfeitas, da mesma re-
As plantas relativas ao ano de 1831,
gião, desenhadas nessa escala, devem os
ou que do mesmo se aproximem, pas-
pontos fixos do terreno, nelas repre-
sam a constituir, em geral, a documen-
sentados (pontos êsses que, indiscuti-
tação "básica" para a fixação da li-
velmente, não possam ter sofrido alte-
nha do preamar médio daquele ano,
rações de posição durante o tempo de-
Ora, naquele tempo poucos e defi- corrido entre os levantamentos que ser-
cientes eram os levantamentos do lito- viram de base, respectivamente, à pre-
ral, feitos por processos expeditos, pou- paração dessas plantas) coincidir, exa-
co precisos e desenhados em pequena ta ou aproximadamente, com uma mar-
escala, com o fim especial de navega- gem de tolerância de 1/20 da distância
ção, indicando tão-somente o contôrno entre êles, tendo-se em vista, por ana-
do litoral, sem levantamento hipsomé- logia, o que estabelece o parágrafo
trico e, por outro lado, a superfície do único do art. 1.136 do Código Civil;
litoral vem sofrendo contínuas transfor- b) reconhecida a validade dessas
mações, alterando completamente o re- plantas antigas, por êsse processo, deve
lêvo topográfico. o contôrno do litoral que elas indica-
Assim, a orla marítima indicada em rem, devidamente amarrado aos pontos
plantas antigas ou modernas pode não fixos já referidos, ser tecnicamente
corresponder à do preamar médio re- t"ansferiojo para as plantas recentes,
lativo ao ano de sua feitura, mas po- ela mesma região, elaboraras pela re-
derá, no entanto, como ob3ervado ini- partiç20 ou por outro órgão, desde que
cialmente, a vír representar, em últi- merecedores de confiança quanto aos
ma hipótese, a linha do preamar médio rcc;uisitos técnicos;
de 1831 quando esta por prova técnica c) essa linha do litoral, assim tra-
ou documental não po~sa ser restabele- çada, desde que, em relação à situação
ci·da. 2tual do preamar médio e do terreno
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matéria traçadas pelo Serviço do Patri- tido desta nossa justificação de voto.
mônio da União, qual se infere do sen- Francisco Behrensdorf Júnior.
PRESID~NCIA DA REPúBLICA