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TRIBUNAIS DE CONTAS

CONCESSÃO DE ESTRADA DE FERRO - REGISTRO - RE-


VERSÃO DE BENS - EXPLORAÇÃO DE MANGANÊS NO
AMAPÁ
Votos proferidos pelos Ministros Rogério de Freitas
e Silvestn Péricles.

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO

PROCESSO N.o 8.888-53

* DECISÃO juízo do Govêrno federal, contratado


com entidades particulares ou de eco-
No julgamento do processo n. o 8.888- nomia mista, assegurando pelo art. 5.0
'53, relativo ao contrato de 28 de mar- ao Território Federal do Amapá, parti-
ço de 1953, celebrado, ex-vi do Decreto cipação direta nos proventos auferidos
n. o 32.451, de 20 de março, citado, com com a exploração do minério de man-
a Indústria e Comércio de Minérios So- ganês.
ciedade Anônima (INCOMI), para cons- O Govêrno federal, tendo em vista
trução, uso e gôzo, de uma estrada de o disposto no art. 4.° do Decreto-lei n. o
Ferro industrial no Território do Ama- 9.868, baixou o Decreto n. o 23.162, de
pá, ligando o Pôrto de Santana à mar- 31 de maio de 1950, autorizando o Go-
gem esquerda do Canal Norte do Rio vêrno do Território Federal do Amapá
Amazonas às jazidas da Serra do Na- a convencionar, com a Indústria e Co-
vio, o Sr. Ministro Rogério de Freitas, mércio de Minérios S.A. - INCOMI, a
relator, proferiu o seguinte voto: revisão do contrato para estudos e apro-
"O Decreto-lei n.o 9.868, de 13 de veitamento das jazidas de minério de
setembro de 1946, determinou que as manganês, existentes na região do rio
jazidas de minério de manganês, exis- Amapari, no mesmo Território, contrato
tentes no Território Federal do Amapá, êsse celebrado em 6 de dezembro de
ficassem constituindo reserva nacional, 1947, na conformidade do previsto no
mandando proceder imediatamente ao Decreto n. O 24.156, de 4 de dezembro
estudo do seu aproveitamento, por in- de 1947, obedecidas as cláusulas e têr-
termédio do Govêrno do referido Ter- mos constantes da minuta aprovada
ritório, com a colaboração da Adminis- pelo Conselho Nacional de Minas e Me-
tração pública. talurgia, que vai publicada anexo (D.
Permitiu ainda o referido diploma O. de 1-6-1950, pág. 8.330 e seg.).
legal, no seu art. 4.°, que o aproveita- De acôrdo com essa autorização legal,
mento dessas jazidas, pudesse ser, a e de conformidade com as cláusulas

* NOTA DA RED.: Sôbre o registro do contrato de ccncessão de estrada de ferro


e exploração de manganês no Território do Amapá, firmado com a emprêsa ICOM!.
ver a decisão do Tribunal de Contas da União publica~ .. na Revist.] de Direito Admi-
nistrativo, vol. 39, págs. 265-278.
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constantes da minuta aprovada pelo de outro, proporcionam à Emprêsa con-


C.N.M.M., foi assinado em 6 de ju- tratante condições consideradas funda-
nho de 1950, entre o Govêrno do Terri- mentais para o êxito do vultoso em-
tório Federal do Amapá e a Indústria preendimento que vem realizando, o Go-
e Comércio de Minérios S.A. - ICO- vêrno do Território do Amapá, delegado
MI, a competente escritura pública (D. da União, adianu somente denominado
O. de 13 de junho de 1950, pág. 9.018). Territ6rio, nos têrmos da autorização
O processo deu entrada no Tribunal, contida no Decreto n.O 28.162, de 3
em 26 de junho de 1950, recebendo o de maio de 1950, resolve convencionar,
n.o 16.097-50. como de fato convencionado tem, pelo
Em data de 17 de junho foi presente presente instrumento com a "Indústria
ao Tribunal, onde recebeu o n.o 19.130- e Comércio de Minérios S.A. - ICO-
50, um requerimento, acompanhado de MI", Sociedade em que se transformou
documentos referentes à contratante a "Indústria e Comércio de Minérios
"ICOMI". Ltda.", com sede em' Belo Horizonte,
Em 3 de novembro de 1951, o Tribu- adiante somente denominada Emprêsa,
nal, depois de um pedido de vista for- a revisão do já aludido contrato "para
mulado a 11 de outubro, resolveu con- estudos e aproveitamento de jazidas de
verter o julgamento do contrato em di- minérios de manganês", celebrado a 6
ligência: de dezembro de 1946, a fls. 72 e seguin-
a) para que lhe fôsse presente o tes do Livro n. o 1.066, no 5.0 Ofício de
contrato anterior; Notas do Rio de Janeiro, contrato êsse
b) para que fôsse junto ao proces- que passa a reger-se pelas cláusulas e
so cópia da Resolução de 21 de junho condições que se seguem, cujo texto
p. passado, a que alude o final da pe- substitui integralmente o contrato pri-
tição de fls. 38, bem assim a fôlha do mitivo ora retificado e ratificado ex-
jornal em que a mesma foi publicada. pressamente por ambas as partes con-
Em 14 de novembro de 1950, foi san- tratantes".
donada a Lei n. o 1.235, que autorizou Reservas de minério e estrada de
o Poder Executivo a dar a garantia do ferro:
Tesouro Nacional a empréstimo a ser "Cláusula 7. a - Uma vez que a Em-
contraído pela Emprêsa "Indústria e prêsa notifique o Território de que
Comércio de Minérios S.A. -- INCOMI", construirá a estrada de ferro, ficará
eujo art. 6.° determinou expressamente exonerada da obrigação de realizar ou
~ue: custear novas pesquisas exigidas pelo
"Para firmeza do empréstimo de que Território, ainda que subsistam diver-
trata esta lei fica plenamente ratifica- gências acêrca das quantidades encon-
da, para todos os efeitos e direitos, a tradas.
revisão do contrato referido no art. Cláusula l1. a - Em igualdade de
2.°". condições com qualquer outro meio de
Cumprida a diligência, voltou o pro- transporte, a Emprêsa dará preferência
-eesso ao Tribunal que houve por bem à construção de uma via férrea, pela in-
ordenar em sessão de 19 de janeiro, o fluência que o empreendimento terá sô-
Tegistro da escritura de 6 de junho de bre o progresso da região.
1950, à vista do que constava do pro- Cláusula 12. a - Tendo em vista o
eesso e dos têrmos da Lei n.o 1.235, de elevado montante dos investimentos e
14 de novembro de 1950. despesas a serem feitos com a constru-
Além das cláusulas abaixo transcri- ção de uma via férrea, a Emprêsa con-
"tas que ora solicitamos, consta da in- sidera que, para que se justifique tal
trodução da escritura, o seguinte: construção, será necessário constatar a
"Considerando que os resultados dês- existência de uma reserva mínima de
ses exames, estudos e entendimentos dez milhões (10.000.000) de toneladas
sintetizados na aludida minuta, aten- de minério de manganês de alto teor,
dem ao interêsse público, de um lado, e, econômicamente exportável.
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Cláusula 13. a - Uma vez co.mpro.va- público.s e particulares, deverá ser ra-
da, na base de dado.s técnico.s devida- zo.ável e que po.r o.utro. lado., êsse trá-
mente do.cumentado.s, a existência da fego. não. será de caráter o.nero.so. para
reserva mineral mínima prevista na a Emprêsa e não. virá prejudicar o. em-
cláusula anterio.r, e, uma vez que a co.ns- preendimento. que é o.bjeto dêste co.n-
trução. de uma via férrea se apresente trato., isto. é, a pro.dução. do. minério. de
co.mo. a so.lução. mais eco.nômica, e ao. manganês".
mesmo. tempo. tecnicamente a mais indi- Mínimo. expo.rtável:
cada para o. transpo.rte do. minério., a "Cláusula 20. a - Caso. seja ado.tada a
Emprêsa so.licitará ao. Go.vêrno. federal so.lução. de uma estrada de ferro., êsse
co.ncessão. para co.nstruir e o.perar a via mínimo. co.meçará a vigo.rar no. ano. se-
férrea. guinte à co.nclusão. da estrada, sem pre-
Cláusula 14.a - Tôdas as despesas de juízo. do. pagamento. previsto. nas cláu-
co.nstrução. da estrada, aquisição. de ma.- sulas 32. a e 33. a .
terial ro.dante e qualquer o.utro. equipa- Cláusula 21. a - Se, preenchidas as·
mento. indispensável à o.peração. da mes- condições da cláusula 19.a , isto. é, co.m-
ma, co.rrerão. por conta da Emprêsa. pro.vada a existência de uma reserva
Cláusula 15. a - Dentro de quatro mínima de cinco. milhões de to.neladas
(4) anos, a co.ntar de 31 de dezembro. de minério de manganês de alto. teor
àe 1951, ou, se a cOlice,,:;ào amda n[;o econômicamente expo.rtável e a existên-
tiver sido expedida, da data do Decreto cia de mercado. franco. a preço.s co.mpen-
~.:J Govê!rno iederal dando. à Emprêsa sado.res para a expo.rtação. de cinqüenta
a concessão. para a co.nstrução. da via mil (50.000) to.neladas de minério po.r
férrea, a Emprêsa terminará a sua ano., e, se dentro. do. prazo. previsto. na
co.nstrução. e iniciará a sua o.peração. Cláusula anterio.r, a Emprêsa por defi-
para o. transpo.rte de minério. e para ciência de o.utro.s meio.s de transpo.rte
uso. público., o.bedecendo. a tudo. que fôr não. co.nseguir realizar a exportação.
estipulado. no. Decreto. de co.ncessão.. anual do. mínimo de cinqüenta mil to.ne-
Cláusula 16.a - Findo. o. prazo fixado. ladas, neste caso. ficará a Emprêsa o.bri-
na Cláusula 15. a e ainda não. esgo.tado. gada a levar avante a co.nstrução. da
o. que para tal fôr estipulado. no. de- via férrea prevista na Cláusula 13.a~
creto de concessão. da estrada, se esta estabelecendo-se, então., co.ndições co.n-
não. estiver co.ncluída, será co.ncedido. à dizentes co.m as to.nelagens a serem
Emprêsa prazo. de to.lerância para fa- transpo.rtadas.
zê-Io.; isso. dependerá, entretanto, de ve- Cláusula 30. a - Se, desco.bertas o.u-
rificar-se que as obras estejam então tras jazidas de minério. de manganês,
bastante adiantadas e de que o. atraso. além das mencionadas na cláusula 27. a •
constatado. não derive de pro.telação. ma- cujo aproveitamento depende da utili-
liciosa o.u de desídia da Emprêsa, mas zação. do.s serviços da estrada de ferro
deco.rra de fatôres estranhos, que a ou do. pôrto., co.nstruídos pela Emprêsa,
Emprêsa não. tenha po.dido. remo.ver ou em região. tributária dessa via férrea,
superar, po.r mo.tivos alheios à sua in- compromete-se o. Território. a dar à Em-
fluência o.u po.r exigirem sacrifício.s in- prêsa prioridade de avaliação, estudo.s
co.mpol'táveis. e pesquisas, bem como. para o apro.vei-
Cláusula 17. a - A Emprêsa reserva- tamento dessas jazidas, em igualdade
rá para uso público. uma capacidade de de co.ndições com o.utros co.nco.rrentes".
tráfego até 200.000 to.neladas anuais, Rescisão:
distribuídas metade no. sentido. das jazi- "Cláusula 40,a - a) se, preenchidas
das e metade no. sentido. do pôrto., me- as co.ndições estipuladas nas Cláusulas
diante tarifas fixadas de acôrdo. co.m a 13.a e 14.a , a Emprêsa deixar de cons-
legislação. brasileira. Fica entendido truir a estrada de ferro. prevista".
que o. o.bjetivo. primordial da estrada de Favores co.ncedido.s pelo. Território.:
ferro. consistirá no. transpo.rte do. miné- "Cláusula 44. a - O Território. auxi-
rio. de manganês da Emprêsa, e que seu liará a Emprêsa nas diversas fases do.
uso., co.mo. meio. de transpo.rte para fins seu trabalho no. Território Federal d<J
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Amapá, nas questões que surgirem con- o disposto no Decreto-lei n. o 9.858, de


tra a sua ação, permitindo-lhe utilizar- 13 de setembro de 1946, e ainda o que
se, a juízo do Território, dos recursos estatui a Lei n. o 1.235, de 14 de setem-
naturaÍ8 da região, como terras, águas, bro de 1950, que ratificou o contrato
madeiras, lenha, etc., que constituam autorizado pelo Decreto n. o 28.162, de
servidões e utilidades necessárias ao 31 de maio de 1950, decreta:
aproveitamento das jazida.s e à explo- Art. 1.0 Fica outorgada à Indús-
ração das mesmas, da estrada de Ifn"ro tria e Comércio de Minério S. A. -
e das instalações portuárias e que se en- INCOMI, sociedade anônima brasileira,
contrem em terras devolutas. Com a de- com sede em Belo Horizonte, concessão
vida consideração pelo interêsse público para construção, uso e gôzo, sem ônus
e sob a fiscalização das autoridades para a União, de:
competentes, a Emprêsa poderá dragar a) uma estrada de ferro industrial,
rios, fazer barragens, cortes e aterros e destinada, principalmente, ao transpor-
realizar quaisquer outras obras úteis à te de minério de manganês, entre Pôrto
exploração das jazidas e ao transporte de Santana, situado a montante da ci-
do minério. dade de Macapá, na margem esquerda
Cláusula 45. a - Obedecidas as for- do Canal Norte do Rio Amazonas, e as
malidades legais aplicáveis, o Territó- jazidas de manganês da Serra do Navio,
rio tomará providências para que seja situadas nos vales dos rios Araguari e
transferida à Emprêsa a propriedade Amapari, no Território Federal do
das terras devolutas necessárias à es- Amapá;
trada de ferro, e às instalações por- b) dos ramais que forem necessá-
tuárias. rios para que a estrada atenda aos seus
Cláusula 47. a - Uma vez decidida a objetivos.
construção da estrada de ferro, o Ter- Art. 2. 0 Esta concessão é outor-
ritório transferirá à Emprêsa, sob con- gada nos têrmos das cláusulas que com
dição resolutiva, obedecidas as formali- êste baixam, assinadas pelo Ministro da
dades legais aplicáveis, o domínio do Viação e Obras Públicas, para os efei-
solo das áreas demarcadas na forma da tos do que dispõem as cláusulas 13. a ,
Cláusula 27. a . Essas áreas reverterão 14. a e 17. a do contrato firmado entre o
ao domínio público, automàticamente, Govêrno do Território Federal do Ama-
findo o arrendamento objeto dêste con- pá, representante da União Federal, e
trato". a Indústria e Comércio de Minérios S.A.
Usando da atribuição constitucional - INCO:"vIl, em 6 de junho de 1950,
(art. 87, n. O I, da Constituição federal), contrato êsse autorizado pelo Decreto
o Sr. Presidente da República, com fun- n. O 28.162, de 31 de maio de 1950, ra-
damento no Decreto-lei n. o 9.858, de 13 tificado pelo art. 6. 0 da Lei n. o 1. 235,
de setembro de 1946, tendo em vista o de 14 de novembro de 1950 e registrado
estatuído na Lei n. o 1.235, de 14 de no- pelo Tribunal de Contas, em sessão de
vembro de 1950, que ratificou o contra- 19 de janeiro de 1951.
to de 6 de junho de 1950, baixou, em Art. 3.0 11:ste decreto entrará em
20 de março de 1953, o Decreto n. o vigor na data de sua publicação.
32.451, a seguir transcrito: Art. 4. 0 Revogam-se as disposições
"Aprova as Cláusulas para a conces- em contrário.
são de uma estrada de ferro industrial Rio de Janeiro, em 20 de março de
no Território Federal do Amapá, ligan- 1953; 132. 0 da Independência e 65. 0 da
do Pôrto de Santana, à margem esquer- República. - Getúlio Vargas - Alvaro
da do Canal Norte do Rio Amazonas, de· Sousa Lima."
às jazidas de manganês da Serra do Os têrmos do citado Decreto n.e>
Navio. 32.451, são claros, dêles se concluindo
O Presidente da República, usando insofismàvelmente, que o Govêrno fe-
da atribuição que lhe confere o art. 87, deral outorgou à Indústria e Comércio
n. o I, da Constituição e tendo em vista de Minérios S.A. - INCOMI, concessão
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para construção, uso e gôzo, sem ônus É lógico, portanto, que a estrada de
para a União, de uma estrada de ferro ferro a ser construída, de acôrdo com a
industrial destinada, principalmente, ao concessão que lhe foi feita, não poderia
transporte de minério de manganês, en- deixar de ficar intimamente ligada à
tre Pôrto de Santana, situado a montan- exploração de minério de manganês,
te da cidade de Macapá, na margem es- objetivo principal de todo o empreen-
querda do canal norte do rio Amazo- dimento.
nas, e as jazidas de manganês da Serra Do contrário, se fôsse permitido ao
do Navio, situadas nos vales dos rios concessionário da estrada de ferro es-
Araguari e Amapari, no Território Fe- tabelecer o traçado que bem entendes-
deral do Amapá. se, ou atender a outros objetivos que
Concedeu ainda o Govêrno, à mesma não a exploração e transporte do mi-
Emprêsa, autorização para a construção nério de manganês, tôda a riqueza de-
dos ramais necessáriQS para que a es- corrente da exploração resultaria em
trada atendesse aos seus objetivos. inomináveis prejuízos para a região e
Estabeleceu desde logo o citado de- para a nação.
creto as cláusulas reguladoras da con- Daí, o cuidado do Govêrno em esta-
cessão, conforme se pode verificar de belecer na concessão a estrita observân-
seu art. 2. 0 • cia das cláusulas do contrato de explo-
Vê-se, pois, claramente, que a conces- ração de minério de manganês.
são foi outorgada com o objetivo prin- Assim procedendo, agiu sábia e pa-
cipal de atender ao transporte de mi- trioticamente.
nério de manganês da região. Trâmites do processo no Tribunal de
Assim, sendo, entendeu o Govêrno de Contas:
estabelecer desde logo as cláusulas a O presente contrato deu entrada no
serem observadas, para os efeitos do Tribunal em 8 de abril dêste ano, en-
que dispõem as cláusulas 13. a , 14. a , 15. a caminhado com o Aviso n.o 435, do Sr.
e 17.[>. do contrato firmado entre o Go- Ministro da Viação, da mesma data,
vêrno do Território Federal do Amapá recebendo o n.O 8.888-53.
e a Indústria e Comércio de Minérios O exame do processo pela diretoria
S.A. - I~CO:\II, em 6-6-1fl50, contrato competente, concluiu pela regularidade
êsse ratificado pelo art. 6. 0 da Lei n.o do mesmo, observadas como foram, as
1.235, de 14 de novembro de 1950 e re- formalidades legais atinentes à espécie.
gistrado pelo Tribunal de Contas, em (fls. 21).
sessão de 19 de janeiro de 1951. O Dl'. Procurador Geral a 20 de abril
Em outras palavras, tendo em vista de 1953, opinava pelo registro (fls. 21).
a imuortância das jazidas de minério Distribuído o processo em 22 de abril
de m·anganês, existentes no Território de 1953, a 28 do mesmo mês foi pelo
Federal do Amapá, e o indiscutível inte- relator solicitado novo parecer do Dl'.
rêsse público de que se reveste o seu Procurador, que, em 4 de maio, ofereceu
aproveitamento, o Govêrno federal, au- o 2.0 parecer, concluindo por uma dili-
torizou nelo Decreto n.o 28.162, de 31
gência no sentido de ser ouvido sôbre a
de maio' de 1950, o Govêrno daquele
concessão o Conselho de Segurança N a-
Território a convencionar a revisão do
contrato para estudos e aproveitamento cionaI (fls. 22-45).
de jazidas de minérios de manganês, A 8 de maio, solicitamos vista do
existentes no mesmo Território. processo (fls. 45), cuja devolução fize-
O decreto referido estabeleceu as cláu- mos na sessão seguinte, 12 de maio,
sulas indispensáveis ao bom êxito do quando foi oferecido pelo Dl'. Procura-
empreendimento. Entre as cláusulas dor o seu 3.° parecer (fls. 46-47), rea-
constantes do contrato de 6 de junho de firmando seu parecer anterior.
1950 várias se referem à concessão à O Tribunal, em sessão de 12 de maio
emp;êsa contratante, para construção, de 1953, converteu o julgamento em
uso e gôzo de uma estrada de ferro. diligência, para que fôsse solicitada ao
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Conselho de Segurança Nacional certi- A instrução do processo, agora na


dão da Ata contendo o assentimento à fase de recurso, depois de salientar a
concessão, na forma do art. 180 da sua tempestividade, manifesta-se pelo
Constituição federal (fls. 88). seu conhecimento para o fim de orde-
Datado de 11 de junho de 1953, foi nar que, mediante têrmo aditivo, sejam
remetido ao Tribunal, onde deu entrada satisfeitas as irregularidades que estri-
a 12 o Ofício n. O 380, assinado pelo baram a decisão recorrida (fls. 194).
Secretário Geral do Conselho Nacional O Dr. Procurador ofereceu, em 31 de
de Segurança, General de Divisão Agui- agôsto de 1953, o parecer de fls. 195-
naldo Caiado de Castro, transmitindo, 202, opinando pelo conhecimento do re-
de ordem do Sr. Presidente da Repú- curso dando-se-lhe provimento para re-
blica, o parecer do Conselho, constante gistrar o contrato.
da exposição de motivos n.o 367 (fls. Coube-nos a tarefa de relator do pro-
91-99) . cesso nesta fase, conforme distribuição
A Diretoria, em nova instrução, ma- feita em 1.0 de setembro de 1953.
nifestou-se pelo registro, considerando Nessa mesma data, quando submetido
plenamente satisfeita a eXlgencia que à deliberação do Tribunal, foi seu jul-
deu lugar à diligência anteriormente gamento sobrestado pelo pedido de vista
ordenada (fls. 101). formulado por um dos Srs. Ministros.
Encaminhando novamente o processo A devolução foi feita em sessão de 11
ao Ministro relator foi apresentado em do corrente, às 15 horas e 50 minutos.
sessão de 17 de julho de 1950, quando Às 17 horas e vinte minutos, quando
foi solicitada vista do mesmo, por um nos coube a vez de relatar os contratos,
dos Srs. Ministros (fls. 107). de acôrdo com a pauta estabelecida, de-
Devolvido o processo, foi submetido a claramos ao Tribunal que deixamos de
julgamento em sessão de 25 de julho o fazer naquele momento, dada a im-
de 1953 tendo o Tribunal recusado re- portância do processo, o adiantado da
gistro ao contrato pelos seguintes fun- hora - o Tribunal encerra normalmen-
damentos: te suas sessões às 18 horas - e a ne-
1.0 ) - porque a reversão da Estrada cessidade de confrontarmos as notas
de Ferro deveria ser em benefício da que anteriormente havíamos tomado,
União, que é a concedente, e não em com os elementos constantes do proces-
favor do Território do Amapá que, à so, o que era materialmente impossível
época em que tal fato ocorreria, poderia fazer naquela oportunidade, dada a in-
se encontrar transformado em Estado suficiência de tempo.
da Federação;
2.0 ) - porque, devendo a Estrada de Do Conselho de Segurança Nacional:
Ferro se destinar, principalmente, ao
transporte de minérios, a concessão não Por ocasião da decisão de 12 de maio
poderia estar vinculada apenas a um de 1953, quando o Tribunal decidiu
dos contratos de mineração, mas a to- solicitar a audiência da Conselho de Se-
dos os instrumentos em vigor; gurança Nacional, divergimos da maio-
3.0 ) - porque não foi consignada, ria, por entendermos que estando as
de forma expressa, a data limite para jazidas de minério de manganês e a
a reversão da concessão (fls. 137). zona em que foi traçada a estrada de
O Sr. Ministro da Viação, pelo Aviso ferro localizadas fora da faixa de 150
D. o 448, G. M. de 24 de agôsto de 1953, quilômetros ao longo da fronteira, não
recebido no Tribunal na mesma data, se justificava a intervenção do Conse-
solicitou, nos têrmos do art. 57, da Lei lho de Segurança Nacional.
D. o 830, de 23 de setembro de 1949, re- Êsse assunto, entretanto, não com-
consideração da decisão recusatória de porta mais qualquer discussão, diante
registro, que lhe foi comunicada pelo da manifestação unânime dos membros
ofício n.O 1.396-53, de 17 de agôsto, ci- do Conselho, conforme consta de fls.
tedo. 91-99.
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Exame do Contrato sob o aspecto de (M. Vasconcelos, Direito Administrati-


sua legalidade: vo, 1937, vol. II, n. o 16, págs. 103 e
Trata o presente contrato da conces- segs.) .
são pelo Govêrno federal, à Indústria A primeira lei que no Brasil tratou
e Comércio de Minérios SI A - IN COMI de concessão de estradas de ferro tomou
- para construção, uso e gôzo de uma o n. o 101, de 31 de outubro de 1835,
estrada de ferro industrial, no Territó- autorizando o Govêrno a conceder a
rio do Amapá. uma ou mais companhias que fizessem
Preliminarmente, cumpre-nos exami- uma estrada de ferro da Capital do
nar se a concessão, objeto dêste con- Império para as Minas Gerais, Rio
trato, foi outorgada por autoridade Grande do Sul e Bahia, o privilégio ex-
competente. clusivo por espaço de 40 anos, para
Dois são os aspectos sob os quais tem uso de carros para transporte de gê-
de ser examinada a questão: o primei- neros e passageiros sob as condições
ro quanto à competência da União para que foram estabelecidas cujas princi-
a concessão em exame e o segundo re- pais são as seguintes:
lativo à forma dessa concessão, me- Art. 1.0 Privilégio exclusivo por es-
diante os requisitos e formalidades le- paço de 40 anos;
gais. Art. 3.° Privilégios dos artigos 5.0,
Competência da União: 6.0, 8.0, 9.0 e 13.0 do Decreto n. o 24,
de 17-10-1935, em tudo quanto fôr apli-
De acôrdo com o art. 5.0 da Cons-
cado.
tituição de 1946, compete à União:
Decreto n.o 24, de 17 de setembro de
"XII - explorar, diretamente ou me-
1835: Art. 5.0 Serão livres do recruta-
diante autorização ou concessão, os ser- mento de mar e terra por espaço de
viços de telégrafos, de radiocomunica- 5 anos os brasileiros empregados no
ção, de radiodifusão, de telefones in- serviço da companhia, menos no caso
terestaduais e de vias férreas que li- de guerra;
gam portos marítimos a fronteiras na- Art. 6.° Isenção de quaisquer di-
cionais ou transponham os limites de reitos de importação para máquinas,
um Estado"; instrumentos e outros artefatos de fer-
As constituições anteriores de 1934 e ro ou qualquer metal;
1937 continham idêntico preceito. Art. 8.° Os terrenos se devolutos
A Constituição federal de 24 de fe- serão cedidos gratuitamente. Se parti-
vereiro de 1891, a êsse respeito, ape- culares - desapropriados;
nas consignava no art. 13, o seguinte: Art. 13.° Liberdade por parte da
"O direito da União e dos Estados Companhia de fixar ° frete, pedágio
de legislarem sôbre a viação férrea e ou direito de passagem que julgar con-
navegação interior, será regulado por veniente.
lei federal." Entretanto, a lei que primeiro tra-
Entre nós as estradas de ferro são tou, de modo geral, das concessões foi
classificadas: a de n.o 641, de 26-6-1852. Pela mes-
a) - segundo o critério específico, ma, ficou ° Govêrno autorizado a con-
em estradas de propriedade ou conces- ceder a uma ou mais companhias a
são federal, em estradas de proprie- construção total ou parcial de um ca-
dade ou concessão estadual e estradas minho de ferro que, partindo do Mu-
de propriedade ou concessão municipal; nicípio da Côrte, vá terminar nos pon-
b) - Sob o ponto de vista regional tos das Províncias de Minas Gerais e
- classificação da Inspetoria Federal São Paulo, que mais conveniente forem.
de Estradas - em estradas da Região As condições principais estabelecidas
Norte, da Região Nordeste, da Região nessa lei foram, as seguintes:
Sudeste e da Região Sul: Art. 1.0 Privilégio do caminho de
c) - sob o critério econômico - em ferro pelo prazo de 90 anos a contar
estradas de 1. a , 2. a e 3. a categorias da data da incorporação da companhia.
- 327

§ 1.0 Direito de desapropriação de Veio depois o Decreto Legislativo


terreno de domínio particular e cessão n.o 2.450, de 24-10-1873, concedendo
gratuita de terrenos devolutos. subvenção quilométrica ou garantia de
§ 2. 0 Permissão para uso de ma- juros às companhias que construirem
deiras e outros materiais existentes nos estradas de ferro na conformidade da
terrenos devolutos. Lei n.o 641, de 26-6-1852.
§ 3.° Isenção de direitos de impor- Dispôs êste Decreto Legislativo n. o
tação sôbre os trilhos, máquinas, ins- 2.450:
trumentos e mais objetos destinados à "Art. 1.0 A Lei n.O 641, de 26 de ju-
construção de caminhos de ferro, bem nho de 1852, será d'ora em diante obser-
como, durante um prazo determinado, vada com as seguintes alterações:
a dos direitos de carvão de pedra que § 1.0 As companhias que, na con-
consumir a companhia nas suas ofici- formidade do art. 2.° da referida Lei,
nas e custeio da estrada. se propuserem a construir vias férreas
§ 4. 0 Proibição durante o tempo do demonstrando com seus planos e dados
privilégio para a construção de outros estatísticos que estas podem dar de ren-
caminhos de ferro que lhe fiquem den- da líquida 4 '70 fica o Govêrno autori-
tro da distància de 5 leguas, tanto de zado para conceder uma subvenção qui-
um como de outro lado e na mesma di- lométrica ou garantir juros, que não
excedam de 7 '70 correspondente ao ca-
reção dês te, salvo acôrdo com a com-
pital empregado e pelo prazo de 30
panhia. anos".
§ 5.0 Direito à percepção durante o A Lei n.o 641, que autorizava o Go-
privilégio dos prêços de transportes vêrno a dar concessão de novas estra-
que forem aprovados pelo Govêrno em das de ferro a serem construídas em
uma tabela organizada de acôrdo com qualquer ponto do país com privilégio
a companhia. de zona, garantia de juros, subordina-
§ 6.0 Faculdade ao Govêrno de res- va, pelo seu art. 2.°, a aprovação do
gatar a concessão do caminho de ferro respectivo contrato pelo Corpo Legisla-
se o julgar conveniente, convencionan- tivo.
do-se com a companhia sôbre época e O Decreto Legislativo n.O 2.450, po-
maneira de o realizar. rém, revogando expressamente a restri-
Art. 2. 0 Se aparecerem companhias ção da segunda parte do dispositivo aci-
que se proponham a construir caminhos ma citado, quanto à exigência da apro-
de ferro em quaisquer outros portos vação, pelo Corpo Legislativo, dos con-
do Império, poderá o Govêrno igual- tratos, deu ampla autorização ao Go-
mente contratar com elas sob as mes- vêrno, para dar novas concessões de
mas bases declaradas no artigo antece- estradas de ferro, com privilégio de zo-
dente. nas, subvenção quilométrica ou garan-
N este caso, porém, serão os respec- tia de juros, com a condição apenas de
tivos contratos submetidos à aprovação que, pelos planos e dados estatísticos
do Corpo Legislativo, a fim de resolver apresentados pelas companhias que pro-
sôbre a conveniência das linhas proje- pusessem a construir estradas de ferro
tadas, a oportunidade da Emprêsa e a em qualquer ponto do país, ficasse cons-
responsabilidade do Tesouro. tat.ado que as mesmas poderiam dar
Assim, pelo art. 2.° da Lei n.o 641, renda líquida de 4 0/0.
ficou o Govêrno expressamente auto- Decreto n.o 5.561:
rizado pela Assembléia Geral Legisla- Em 23-2-1874, foi expedido do De-
tiva a dar concessão às companhias que creto n.o 5.561, que aprovou o regula-
He propusessem a construir caminhos mento para boa interpretação dos De-
rle ferro em qualquer ponto do país, cretos Legislativos ns. 641, de 26 de
nas mesmas bases constantes do art. 1.0, junho de 1852 e 2.450, de 24 de outu-
sujeitando, porém à aprovação do Cor- bro de 1875, relativos à concessão de
po Legislativo os respectivos contratos. estradas de ferro.
-.328

Regulamento a que se refere o De- § 3.0 Direito de desapropriar na


creto desta data para execução dos de forma do Decreto n.o 816, de 10-7-19,
ns. 641, de 26-6-1852 e 2.450, de 24 de os terrenos de domínio particular, pré-
outubro de 1873: dios e benfeitorias, que forem precisos
"Art. 1.0 Compete ao Govêrno Ge- para as de que trata o parágrafo an-
ral a conce-ssão de estradas de ferro: tecedente.
§ 1.0 Que liguem duas ou mais Pro- § 4. 0 Uso de madeiras e outros ma-
víncias, a Côrte com as Províncias, e teriais, existentes nos terrenos devolu-
o Império com os Estados limítrofes. tos e nacionais, indispensáveis para a
§ 2. 0 Que sejam especialmente des- construção da estrada.
tinadas ao serviço da Administração § 5.° Isenção de direitos de impor-
Geral do Estado, ainda que circunscri- tação sôbre trilhos, máquinas, instru-
tas nos limites do território Provincial. mentos e mais objetos destinados à cons-
§ 3.0 Que constituam prolongamen- trução; bem como durante o prazo que
to das estradas atuais pertencentes ao fôr determinado no contrato, dos di-
Estado ou por êle decretadas. reitos do carvão de pedra indispensá-
Art. 5. 0 A concessão de estradas vel para as oficinas e custeio da es-
de ferro da competência do Govêrno trada.
Geral, far-se-á mediante concorrência § 6.° ............................ .
ou independente dêste meio à compa- Preferência em igualdade de circuns-
nhia que ofereça garantia suficiente tâncias para lavra de minas na zona
sob as condições gerais expressas no privilegiada
presente Regulamento e outras espe- § 7.0 Preferência de terrenos devo-
ciais que se julguem necessárias, e que lutos existentes à margem da estrada.
serão publicadas no caso de concor- efetuando-se a venda pelo prêço míni-
rência. mo da lei de 18-9-1850 se a Companhia
Art. 6. 0 Terão preferência para con- empresária distribuí-los por imigrantes
cessão dada igualdade de condições ou colonos que importar e estabelecer
quanto à idoneidade, tempo de privilé- não podendo, porém, vendê-los a êstes,
gio, extensão de zona privilegiada, e devidamente medidos e demarcados, por
responsabilidade do Tesouro ... " preços excedentes ao que fôr autoriza-
Do n.o 1 ao n. o 5 dêsse artigo cons- do pelo Govêrno.
tam as condições para a preferência a Art. 10. Além dos favores já men-
que o mesmo se refere. cionados poderá o Govêrno conceder
"Art. 9.° O Govêrno poderá, segun- garantia de juros, até o maximo de 70/0.
do as circunstâncias, conceder às com- sôbre o capital despendido "bona lidei"
panhias que propuserem a construção e às companhias que se propuserem a
custeio de estradas de ferro, de confor- construir estradas de ferro da compe-
midade com êste Regulamento todos ou tência da Administração Geral, ou de-
a~ns dos favores seguintes: cretadas pelas Assembléias Legislativas
§ 1.0 Privilégio até 90 anos con- provinciais, que sirvam de principal
tados da incorporação da Companhia. comunicação entre os centros produto-
Não podendo durante êsse tempo ser res e os de exportação das províncias.
concedidas outras estradas de ferro A concessão desta garantia ficará de-
dentro da mesma zona de 30 km. de pendente da apresentação de planos de-
um e de outro lado e na mesma direção, finitivos e dados estatísticos com os
salvo se houver acôrdo com a Emprêsa quais se demonstre, que a Emprêsa po-
privilegiada. derá ter, pelo menos, 4 % de renda lí-
§ 2.° Cessão gratuita de terrenos quda.
devolutos e nacionais e bem assim dos Art. 11. Em vez de garantia de
compreendidos nas sesmarias e posses, juro, poderá o Govêrno conceder às
exceto as indenizações que forem de di- Companhias empresárias de estradas de
reito, para o leito da estrada, estações, ferro, que estejam nas condições do
etc .••• art. 10, subvenção não excedente do ca-
--- 329

pital orçado para a construção das mes- Essa era a legislação em vigor, a 15
mas estradas. Esta subvenção far-se-á de novembro de 1889, por ocasião da
efetiva à proporção que cada Km, fôr proclamação da República.
sendo construído. Em 26 de junho de 1890, o Govêrno
Poderá igualmente tomar ações das Provisório expediu o Decreto n. o 524,
referidas Emprêsas até o máximo aci- modificando as normas reguladoras da
ma indicado, não recebendo dividendos competência para as concessões de es-
senão quando a renda líquida da es- tradas de ferro.
trada atingir, em relação ao capital dos ~ste Decreto, considerando que o de-
outros acionistas, o juro de 7 0/0. senvolvimento da viação férrea de todo
Art. 21. Nas concessões de estra- o território da República exigia, que
das de ferro pelo Govêrno, além das sôbre as respectivas concessões fôsse
cláusulas que forem convenientes, em claramente discriminada a competência
referência a cada uma, serão expressas do Govêrno federal da dos Governos
as seguintes: dos Estados; considerando ainda que as
§ 1.0 Não poderão começar os tra- exposições da circular n. o 2, de 16-1-1873
balhos de construção sem que tenham e as do Regulamento que baixou com
sido previamente submetidos à aprecia- o Decreto n. o 5.561, de 26-2-1874, re-
ção do Govêrno o plano definitivo e o gulando esta matéria deviam ser modi-
orçamento das despesas, bem como o ficadas, não só para atender aos in-
relatório geral demonstrativo das obras convenientes que na prática se mani-
projetadas" . festaram, mas também, para serem
Do n. o 1 ao n. o 8 dêste parágrafo adaptadas à organização atual do país,
constam os detalhes dêsse plano. decretou uma série de medidas no sen-
"§ 6. 0 Findo o prazo da concessão, tido de discriminar perfeitamente a
e não havendo expressa estipulação em competência entre o Govêrno da União
contrário, reverterão para o Estado tô- e os Governos dos Estados.
das as obras da estrada, bem como o Diante do exposto, verifica-se que a
respectivo material rodante, sem inde- concessão outorgada pelo Govêrno fe-
nização alguma. deral a favor da Indústria e Comércio
§ 9.0 O Estado terá o direito de de Minérios S.A. - INCOMI, pelo De-
desapropriar a estrada passado o pra- creto n. o 28.162, de 31 de maio de
zo de 15 anos; sendo o preço da de- 1953, decorreu da expressa competência
sapropriação regulado, em falta de que lhe é atribuída, legal e constitucio-
acôrdo, pelo têrmo médio do rendimen- nalmente.
to líquido do último qüinqüênio". Nada mais lógico. Tratando-se de um
O Decreto n.o 6.995, de 10-8-1878, Território Federal, sob a jurisdição da
estabeleceu bases gerais para a con- União, não seria concebível que outro
cessão de estradas de ferro com fian- fôsse o poder concedente.
ça ou garantia de juros do Estado, Regulada como está em nosso siste-
nos têrmos dos Decretos ns. 641 e 2.450, ma jurídico a competência para tais
aprovando as cláusulas que deveriam concessões, qualquer violação dos pre-
ser observadas nos contratos celebra- ceitos legais, esbarraria diante dos prin-
dos com os respectivos concessionários. cípios da autonomia dos Estados, essen-
O Decreto n. O 7.959, de 29-12-1880, cial ao regime federativo.
no intuito de uniformizar os têrmos O art. 7. 0 da Constituição republi-
das concessões das estradas de ferro cana dispunha de modo mais explícito,
gerais do Império, aprovou as cláusu- ao declarar no seu § 6. 0 que o Govêrno
las que daquela data em diante deve- federal não poderia intervir em negó-
riam regular as mesmas concessões. cios peculiares aos Estados.
O Decreto n.o 7.960, de 29-12-1880, Cada Estado se regerá pela Cons-
alterou as cláusulas do Decreto n. o tituição e pelas leis que adotar obser-
6.995, de 10-8-1878, de conformidade vados os princípios estabelecidos na
com as que pelo mesmo foram baixadas. Constituição federal (art. 18).
- 330

Somente por se tratar de um Terri- 1.a - porque a reversão da Estra-


tório Federal, sob a Administração da da de Ferro, deveria ser em benefício
União, exercida por um Delegado de da União que é a concedente, e não
sua escolha, é que a concessão foi ou- em favor do Território do Amapá, que,
torgada pelo Presidente da República, à época em que tal fato ocorreria, po-
autoridade competente, nos têrmos da deria se encontrar transformado em
legislação em vigor. Estado da Federação.
Esclarecida a questão, quanto à com- Um exame mais detido que se fizer
petência da União, e da autoridade que sôbre o assunto em confronto com os
expediu o Ato, examinemos a seguir, princípios jurídicos adotados pela nos-
o contrato sob o seu aspecto legal. sa legislação, relativamente às conces-
O têrmo assinado entre o Govêrno sões de estradas de ferro, demonstrará,
Federal e a Indústria e Comércio de estou certo, a inconsistência dêsse pri-
Minérios S. A. - INCOMI, em 28 de meiro fundamento invocado.
março de 1953, obedeceu integralmente O simples fato de ser a União a con-
as cláusulas a priori aprovadas pelo cedente não importa em reconhecer em
Decreto n. o 32.451, de 20 de março de seu benefício, o direito à reversão de
1953. todo o acervo da estrada, uma vez fin-
Assim é que, de acôrdo com o artIgo da a concessão.
1. 0 do referido Decreto, foi expressa- O fato de ser a União a concedente,
mente declarado, no contrato, que fi- repetimos, decorre exclusivamente da
cava outorgada a "INCOMI", sociedade competência constitucional, para outor-
anônima brasileira com sede em Belo gar a concessão; é somente, por se
Horizonte, Estado de Minas Gerais, tratar de uma estrada de ferro circuns-
concessão para construção, uso e gôzo crita aos limites de um Território Fe-
sem ônu3 para a União de uma estrada deral, sob a jurisdição da própria União,
de ferro industrial destinada, principal- de livre escolha do Presidente da Re-
mente, ao transporte de minérios de pública, que a competência da União se
manganês. manifesta, pela forma regulada em lei.
Foi igualmente resguardado o obje- Não encontramos razões ponderosas
tivo da concessão cuja finalidade prin- para aceitar como decisivo na solução
cipal é dar escoamento ao produto da da questão o fato de poder o Territó-
exploração das jazidas de minério de rio, na época em que se verificar a
manganês do Território Federal do reversão, se encontrar transformado em
Amapá. Estado.
Diversas cláusulas contratuais conce- Sôbre êsse ponto, estamos convenci-
deram a I~COMI diversos favores ge- dos, que nenhuma dúvida pode pairar,
ralmente concedidos a emprêsas congê- porque a Constituição de 1946, previu
neres. no art. 3.0 'essa hipótese, determinando
Outras cláusulas contém dispositivos que "Os Territórios poderão, mediante
de caráter técnico, medidas de ordem lei especial, constituir-se em Estados,
econômica, disposições sôbre a fiscaliza- subdividir-se . .. "
ção por intermédio do Departamento Por enquanto, a organização admi-
Nacional de Estradas de Ferro, regi- nistrativa e a judiciária dos Territó-
me de tarifas, sistema de tráfego, ho- rios é regulada por lei federal.
rário, etc. O Decreto-lei n.o 812, de 13 de setem-
A cláusula 13. a dispõe sôbre a vi- bro de 1943, que criou os Territórios
gência do contrato e sôbre a reversão do Amapá e outros, dispôs em seu ar-
de todo o acervo da estrada para o tigo 2. 0 : "Passam para o domínio da
Território. União os bens que pertencendo aos Es-
Conforme consta de fls. 137, a de- tados ou Municípios na forma das leis
cisão do Tribunal recusando registro ao em vigor, se acham situados nos Ter-
contrato, adotou os três fundamentos ritórios delimitados no artigo prece-
seguintes, que passamos a analisar. dente".
331 -

Quando fôr votada e sancionada a 1950, pela simples razão de ser o único
lei especial, o problema será natural- vigente nesta data.
mente resolvido. Antes disso, não há O têrmo de 29 de abril de 1953, além
..que cogitar-se do mesmo por in opor- de não se referir direta ou indireta-
-tuno. mente à estrada de ferro, não existia
Além do mais, não existe somente na ocasião, sendo assim impossível qual-
.êsse problema a resolver, futuramente, quer vinculação ao mesmo.
quando ocorrer a hipótese prevista no A concessão outorgada para a cons-
art. 3.° da Constituição. Todos os de- trução, uso e gôzo da estrada de ferro,
mais assuntos da mesma relevância, objeto dêste contrato só poderia obe-
]lara os quais a união tem concorrido decer ao que havia sido estipulado a
respeito, em obrigação anteriormente
com vultosas verbas, - no caso a União
estabelecida - contrato de 6 de junho
não concorre com a mínima parcela dos
de 1950 - , à lei n.o 1.235, de 14 de
recursos previstos - deverão ser igual- novembro de 1950, que houve por bem
mente tratados. retificá-lo e às cláusulas aprovadas pelo
"Dentro da Organização Federal, o próprio Decreto que outorgou a con-
Território na estrutura política do Bra- cessão.
sil é entidade constitutiva do Estado 3.° - porque não foi consignada, de
Federal, pertencendo à União sua base forma expressa, a data limite para a
física que se integra ao Território Fe- reversão da concessão.
deral, como entidade administrada di-
Em primeiro lugar, quer nos parecer
retamente pela União, sendo a sua ad- que na redação ao 3.° fundamento da
ministração regulada por lei especial decisão do Tribunal, houve manifesto
(Decreto-lei n.o 839, de 21 de setem- equívoco; pOl:que, ali se refere à re-
bro de 1943). versão da concessão, quando o que re-
Constitui, assim, uma unidade de as- verte não é a concessão mas sim o acer-
sociação, a base física, o Govêrno e a vo da estrada.
administração exercida por prepostos A cláusula décima terceira, dispondo
da União, representando a entidade sôbre a vigência do contrato, estabele-
Território Federal com Instituto de Di- ceu o seguinte:
-reito Público Interno". (Océlio Medeiros "A vigência dêste contrato começará
- Territórios Federais). na data do seu registro pelo Tribunal
Além do mais, o contrato deveria de Contas e terminará simultâneamente
obedecer, estritamente, às cláusulas com a exploração das jazidas de miné-
.aprovadas pelo Decreto que outorga a rio de manganês, de que a estrada con-
concessão, o que não aconteceria se ou- cedida é acessório, mediante notifica-
tra fôsse a estipulação nesse sentido. ção da INCOMI ao Govêrno de que com-
Finalmente, porque o Poder compe- pletou a exploração a que tem direito
tente para outorgar a concessão, isto ou no caso de caducidade ou encampa-
é, a União concedente, assim determi- ção da concessão. Expirada a conces-
.fiOU pela sua le.gítima autoridade. são todo o acervo da estrada reverterá
2.0 - porque a Estrada de Ferro se para o Território, independentemente
destinar, principalmente, ao transporte de qualquer indenização".
de minérios, a sua concessão não pode- Determina expressamente a cláusula
ria estar vinculada apenas a um dos acima, que a vigência do contrato co-
contratos de mineração, mas a todos os meçará da data do seu registro pelo
instrumentos em vigor. Tribunal de Contas e terminará simul-
A nosso ver, a concessão, outorgada tâneamente com a exploração das jazi-
pelo Decreto n.o 32.451, de 20 de mar- das de minério de manganês, de que a
ço de 1953, cujo têrmo foi assinado a estrada concedida é acessório.
28 do mesmo mês e ano, só poderia Quando termina a exploração das ja-
-estar vinculada ao contrato de explo- zidas? Pelo contrato em vigor cláusu-
ração do minério, de 6 de junho de la 29. 8 , o prazo de exploração é de 50
- 332-

anos, a partir da data em que a Em- truída, especialmente para o transpor-


prêsa comunicar ao Território que de- te do minério.
cidiu realizar o aproveitamento das ja- Uma das condições essenciais à va-
zidas, desde que o faça até 31 de de- lidade dos contratos, reside no seu ob-
zembro de 1953. jeto que deve ser claramente estipula-
Do processo consta, a fls. 178, a co- do. No caso, êsse ponto foi devidamente
municação a INCOMI, de 2 de maio de apreciado e a Administração teve o cui-
1953, de que decidiram realizar o apro- dado ao outorgar a concessão ora em
veitamento das jazidas de manganês, exame, de vinculá-la de tal modo à
nos têrmos da cláusula 29. a , conforme exploração de minério de manganês,
expediente remetido pelo Govêrno do principal objetivo do Govêrno, de for-
Território. ma a evitar o seu desvirtuamento.
Assim, o prazo para exploração do Estão, a nosso ver, dissipadas as dú-
minério, de acôrdo com a referida cláu- vidas, que ocorreram por ocasião da
sula, começa a correr, a partir de 2 decisão do Tribunal, de 20 de julho de
de maio de 1953, e terminará em 2 de 1953.
maio de 2003. Do demorado estudo que fizemos d()
Dêsse modo, é fora de dúvida que processo, e do confronto indispensável
o contrato para construção, uso e gôzo que procedemos das cláusulas do atual
a estrada de ferro como acessório que contrato da concessão da estrada de
é do contrato, a exploração terá sua vi- ferro, com os têrmos do contrato para
exploração do minério de manganês, já
gência a partir da data de seu regis-
registrado pelo Tribunal desde 19 de
tro pelo Tribunal de Contas e termi-
janeiro de 1951, do qual aquêle é aces-
nará simultâneamente com o contrato sório, verificamos o seguinte:
para exploração do minérIo, salvo qual- a) que o contrato para a explora-
quer outro motivo superveniente, pre- ção do minério de manganês, nos tê r-
visto no próprio contrato, em 2 de maio mos da autorização contida no Decre-
do ano 2003. to n. o 28.162, de 31 de maio de 1950,
De acôrdo com o art. 766 do Regu- com sua perfeição assegurada pelo re-
lamento Geral de Contabilidade Públi- gistro do Tribunal, já está em plena
ca, os contratos administrativos regu- vigência, dêle usufruindo a contratante
lam-se pelos mesmos princípios gerais tôdas as vantagens decorrentes de suas
que regem os contratos de direito co- cláusulas;
mum, no que concerne ao acôrdo de b) que, pela cláusula 10.a do con-
vontades e ao objeto observadas, po- trato para exploração de minério de-
rém, quanto à sua estipulação, apro- manganês ficou a critério da Emprêsa
vação e execução, as normas previstas contratante, de acôrdo com o resultado
no capítulo atinente à espécie. dos estudos feitos, em função da quan-
O art. 775 do R. G. C. P. estabelece tidade de minério constatada, a esco-
as cláusulas essenciais que devem ser lha do meio de transporte mais indi-
estipuladas nos contratos. Entre elas a cado e mais econômico para a remo-
referente ao prazo de vigência. ção do minério das jazidas até o pôrto
A cláusula 13. a do contrato estabe- de embarque;
leceu que a vigência do contrato terá c) que, em igualdade de condições
início, após o seu registro pelo Tribu- com qualquer outro meio de transpor-
nal de Contas, e terminará simultânea- te, a Emprêsa daria preferência à cons-
mente com a exploração das jazidas de trução de uma via férrea, pela influên-
minério de manganês. cia que tal empreendimento te?·á sô--
Está assim expressamente fixado o bre o progresso da região (cláusu-
prazo da concessão. A sua fixação não la H.a);
foi feita arbitràriamente; ela decorreu d) que, tendo em vista o elevad<>-
do próprio objetivo da concessão, que montante dos investimentos e despesas
destinou a- estrada de ferro a ser cons- a serem feitos com a construção de uma
- 333

"Yia férrea, a Emprêsa considera que, i) que, qualquer que seja o pronun-
para que se justifique tal construção, ciamento do Tribunal, registrando ou
será necessário constatar a existência recusando registro ao contrato, nenhum
~e uma reserva mínima de dez milhões prejuízo acarretará à contratante, que
(10 000 000), de toneladas de minério poderá adotar outro meio de trans-
de manganês de alto teor, econômica- porte que atenda exclusivamente aos
mente exportável (cláusula 12.a ); seus interêsses, evitando a inversão de
e) que comprovada, na base de da- vultoso capital, na construção de uma
~os técnicos, a existência dessa reser- estrada de ferro que, futuramente de-
va, e, uma vez que a construção de verá reverter, sem indenização de qual-
uma via férrea se apresente como a quer espécie ao Território, com mani-
solução mais econômica, e, ao mesmo festo desprêzo ao desenvolvimento da
tempo técnicamente a mais indicada região, que dificilmente poderia contar
para o transporte do minério a Em- com outra oportunidade tão favorável
prêsa solicitará ao Govêrno federal, como se apresenta, neste momento, para
concessão para construir e operar dita a construção de uma via férrea, meio
via férrea (cláusula 13.a ); de transporte tão oneroso como ates-
f) que tôdas as despesas com a tam, com raríssimas excessões, as es-
construção da estrada, material rodan- tradas de ferro do país.
te e quaisquer outras indispensáveis à Do acôrdo com o exposto, e, tendo
operação da mesma, correrão por con- em vista que o contrato em discussão,
ta da Emprêsa contratante (cláusu- obedeceu, em suas linhas gerais, aos
la 14.a ); dispositivos legais aplicáveis à espécie,
g) que, pelas cláusulas 19.a e 22. a com observância dos princípios jurídi-
se os estudos previstos apresentarem cos especialmente estabelecidos para os
como conclusão a inexistência da reser- contratos dessa natureza, e consideran-
va mínima de minério de manganês, de do ainda, que todos os demais requisi-
alto teor econômicamente exportável, a tos e condições essenciais à sua vali-
Emprêsa poderá, se assim o entender, dade foram devidamente cumpridos,
depois de aceita a conclusão pelo Ter- voto para que se tome conhecimento do
ritório, utilizar de outro meio de trans- recurso, pela sua tempestividade, a fim
porte, que julgar técnica e econômica- de ser registrado o contrato de 23 de
março de 1953, reconsiderando-se, as-
mente mais indicado;
sim, a decisão de 24 de julho de 1953.
h) que no exame das cláusulas re-
Sala das Sessões, 9 de outubro de
feridas, transparece, de um lado, o 1953. - Rogério de Freitas.
interêsse e o cuidado do Govêrno do
Território, em zelar pelo desenvolvi- *
mento econômico da região, fim primor- Pelo Sr. Ministro Silvestre Péricles,
dial de todo o empreendimento, e de foi emitido o seguinte voto, no julga-
outro a cautela da Emprêsa contratan- mento, pelo Tribunal, do Processo n.o
te, na escolha do meio de transporte 8.888-53 relativo ao contrato de 28 de
março de 1953, celebrado, ex-vi do De-
mais indicado, atendendo ao mesmo tem-
creto n.O 32.451, de 20 de março citado,
po aos interêsses do Território, sem
com a Indústria e Comércio de Minérios
prejuízo dos resultados econômicos da Sociedade Anônima (lNCOMI), para
exploração de minério, cujas condições construção, uso e gôzo de uma estrada
têm de ser cumpridas, nos têrmos do de ferro industrial no Território do
contrato em vigor. Entre tais condições Amapá, ligando o Pôrto de Santana à
existe a obrigação de exportar anual- margem esquerda do Canal Norte do
mente uma quantidade mínima, sôbre Rio Amazonas às jazidas da Serra do
a qual deverá passar ao Território, Navio:
uma taxa de 4 % por tonelada métri- "Enlaçado a três outros contratos -
ca exportada, mais 5 0/0, sôbre o que () primitivo, o principal e o aditivo - o
exceder a 500.000 toneladas anuais; presente contrato de concessão de uma
- 334-

estrada de ferro industrial reclama a e deliberou "sôbre as medidas conse-


narração de alguns acontecimentos, que qüentes e correlatas".
o esclarecem e completam. 5. Apesar disso, a 19 de janeiro de
E a nota pode ser sumariada com os 1951, o contrato principal, revi sionista,
dados que seguem: obteve a seguinte decisão: "O Tribunal
1. O Decreto-lei n. ° 9.858, de 13 de ordenou o registro da escritura de 6
setembro de 1946, declarou que consti- de junho de 1950, à vista do que consta
tuiriam "reserva nacional as jazidas de do processo e dos têrmos da Lei n.o
minério de manganês existentes no Ter- 1.235, de 14 de novembro de 1950". Essa
ritório Federal do Amapá". lei autorizara o Poder Executivo a dar
2. Em 6 de dezembro de 1947 lavrou- a garantia do Tesouro Nacional a um
se um contrato - o primitivo - entre empréstimo, até o montante principal de
o Govêrno do Território Federal do trinta e cinco milhões de dólares ameri-
Amapá, conforme autorização do De- canos, ou seu equivalente em outras
creto n.o 24.156, de 4 de dezembro do moedas, a ser contraído pela emprêsa
mesmo ano, e a sociedade por cotas brasileira de mineração Indústria e Co-
de responsabilidade limitada Indústria mércio de Minérios S.A. - INCOMI ..
e Comércio de Minérios Limitada, para com o International Bank for Recon-
estudos e aproveitamento de minério de struction and Devellopment".
manganês naquele Território. Nessa Conforme êle mesmo declarou, o pre-
ocasião foi afirmada, com tôdas as le- claro Dr. Procurador não teve audiên-
tras "a importância dessas jazidas e cia no mérito dêsse contrato, transgre-
sua posição estratégica". Mas não se dindo-se assim a obrigatoriedade a que
subordinou êsse contrato a julgamento alude o art. 32, parágrafo único, n. o I.
do Tribunal de Contas, e, por contra- da Lei n.o 830, de 23 de setembro de
riar expresso mandamento da Consti- 1949.
tuição, tornou-se evidentemente nulo. 6. Em 25 de março do corrente ano,
3. Por outro lado, observe-se que, a o então Ministro da Fazenda comunicou,
14 de julho de 1948, a referida socieda- pelo Aviso n. o 98, que o Presidente da
de se transformou em sociedade anôni- República, diante de uma representação
ma, sob a denominação de Indústria e do governador do Território Federal d()
Comércio de Minérios S.A. (lNCOMI- Amapá, em face do contrato com a Em-
S. A. ), com o mesmo capital de dois prêsa Indústria e Comércio de Minérios
milhões de cruzeiros. S. A. INCOMI, "aprovou e deferiu ()
4. Em 6 de junho de 1950, em "es- pedido da aludida emprêsa solicitando
critura de revisão de contrato" - o pri- providências e garantias para a reali-
mitivo - lavrou-se outro contrato - o zação de um empréstimo no Export-
principal - entre o Govêrno do citado Import Bank of Washington, destinado
Território, à vista da autorização do ao financiamento das obras que deverá
realizar em virtude do dito contrato",
Decreto n.o 28.162, de 31 de maio de
além de outras medidas constantes do
1950, e a citada sociedade anônima,
mencionado aviso.
também para estudos e aproveitamento Datada de 14 de julho do corrente
de jazidas de minério de manganês na- ano, proferiu-se a seguinte decisão: "O
quele Território. Note-se que êsse con- Tribunal deixa de anotar o disposto no
trato principal, revisionista, se estribou Aviso n.o 78, de 25 de março de 1953
no contrato primitivo, que, como ficou (fls. 1-2), visto que não constitui ins-
dito, estava nulo. Note-se ainda que, trumento hábil para alterar cláusulas
alguns dias depois, a referida sociedade contratuais".
anônima verificou "o cumprimento das 7. Em 29 de abril do corrente ano
formalidades relativas à elevação do ca- celebrou-se nova convenção - o aditi-
pital" (de dois milhões para vinte mi- vo - ao contrato de 6 de junho de
lhões de cruzeiros), aprovou "em defi- 1950. Para essa celebração, o governa-
nitivo a alteração dos estatutos sociais" dor do Território foi autorizado por-
- 335-

portaria do ex-Ministro da Fazenda, Corporation, Bethlehem Mines Corpora-


tendo em consideração um despacho do tion, Bethlehem Transportation Corpo-
Presidente da República e o disposto no ration e Bethlehem Supply Company.
art. 4.0 do Decreto-lei n. o 9.858, de 13 Assinale-se ainda que, na mesma data
de setembro de 1946. de 26 de junho de 1952, a INCOMI não
~sse aditivo trouxe várias alterações só aumentou o seu capital social para
ao contrato principal, além de outras: trinta e nove milhões e duzentos mil
a) permitindo "que a IN COMI contrate cruzeiros, senão também reformou os
no exterior, com o Expurt-Import Bank seus estatutos, em que se encontra esta
of Washington, o fornecimento de um disposição: "nos poderes da Diretoria
empréstimo cuja importância não exce- se incluem os de adquirir, alienar ou
derá a sessenta e sete milhões e qui- gravar bens móveis ou imóveis".
nhentos mil dólares - empréstimo êsse 11. O Ministro da Viação e Obras
destinado ao financiamento das vultosas Públicas, ainda na mesma data, assim
obras necessárias ao aproveitamento das terminou o citado pedido de reconside-
jazidas de manganês da Serra do Na- ração: "Embora a Emprêsa concessio-
vio, situadas no Território Federal do nária tenha se declarado disposta a sa-
Amapá, de cujo arrendamento a refe- nar, mediante têrmo aditivo, as arguí-
rida IN COMI é concessionária, ex-vi do das irregularidades, parecendo-me, en-
já mencionado contrato de 6 de junho tretanto, procedentes os argumentos ex-
de 1950, que ora é aditado"; b) regen- pedidos pela concessionária e pelo go-
do-se o aditamento por cláusulas, entre vernador do Território do Amapa, soli-
as quais ficou "assegurado à IN COMI o cito se digne Vossa Excelência de
direito de exportar as quantidades de submeter, novamente, o assunto à es-
minério de manganês que lhe forem ne- clarecida consideração dos eminentes
cessárias ao pagamento integral das Ministro dêsse egrégio Tribunal, no
prestações programadas do serviço do escopo visado, de reforma da decisão
empréstimo acima referido. tsse direito tomada na sessão de 4 (sic) de julho
importa em que tais quantidades pode- próximo passado e conseqüente regis-
rão exceder, até o ano de 1965, inclu- tro do contrato em aprêço".
sive, e enquanto não estiver integral- 12. Em face dessa constante coinci-
mente liquidado o empréstimo, ao mí- dência de data, convém transcrever a
nimo de quinhentas mil toneladas cópia da carta da emprêsa, que êles
anuais, previsto na cláusula 31. a do chamam autêntica, com as firmas do
contrato de arrendamento de 6 de junho diretor-presidente e do diretor-secretá-
de 1950, já referido, contanto que não rio, reconhecidas ainda na mesma data
ultrapasse a um milhão de toneladas em de 24 de agôsto findo, no cartório do
cada período anual, a partir do início 11.0 ofício de notas: "Exmo. Sr. Te-
regular das exportações". nente-coronel Janary Gentil Nunes, M.
O aditivo foi mandado registrar pelo D. Governador do Território Federal do
Tribunal, por maioria de votos, em 14 Amapá. Senhor Governador. Temos a
de julho do corrente ano, após uma dili- honra de acusar e agradecer o recebi-
gência junto ao Conselho de Segurança mento do ofício de 20 de abril de 1953,
Nacional, nos mesmos têrmos da dili- no qual V. Exa. nos comunica medidas
gência, que adiante se indica, sôbre a tomadas pelo Govêrno federal e o de
concessão da ferrovia industrial. V. Exa., relativas à representação que
As!'inale-se que o referido aditivo só a 10 de setembro de 1952 dirigimos ao
foi cl)ntratado depois que se associaram Govêrno do Território Federal do Ama-
à IN COMI, segundo consta dos atos de pá. Tendo no devido aprêço aquelas me-
26 de junho de 1952, o cidadão norte- didas, pelo apoio que trazem à exe-
americano Warren M. Driver e as so- cução do nosso programa, comunicamos
ciedades norteamericanas Bethlehem a V. Exa., para os efeitos da cláusula
Steel Company, Bethlehem Brazilian 29. a do contrato de arrendamento de 6
Corporation, Bethlehem Steel Export de junho de 1950, dentro do prazo que
- 336-

ela nos concede para essa deliberação, o então Ministro da Viação e Obras
que decidimos, nesta data, realizar o Públicas, por parte do Govêrno federal
aproveitamento das jazidas de manga- da República, outorgou concessão à In-
nês da Serra do Navio. Rio de Janeiro, dústria e Comércio de Minérios S. A.,
2 de maio de 1953. Indústria e Comér- INCOMI "para construção, uso e gôzo,
cio de Minérios S.A. - INCOMI - sem ônus para a União, de uma estra-
Augusto Trajano de Azevedo Antunes, da de ferro industrial, destinada, prin-
diretor-presidente. - Francisco de Pau- cipalmente, ao transporte de minérios
la da Costa Carvalho, diretor-secre- de manganês, entre Pôrto de Santana,
tário". situado à montante da cidade de Ma-
13. A cláusula 29. a está assim redi- capá, na margem esquerda do Canal do
gida: "O arrendamento de que trata a Norte do Rio Amazonas, e as jazidas
cláusula anterior dêste contrato será de manganês da Serra do Navio, situa-
pelo prazo de cinqüenta anos e come- das nos vales dos rios Araguari e Ama-
çará a vigorar automàticamente, inde- pari, no Território Federal do Amapá,
pendentemente de novo contrato, na e dos ramais que forem necessários para
data em que a Emprêsa comunicar ao que a estrada atenda aos seus objeti-
Território que decidiu realizar o apro- vos", com observância das cláusulas que
veitamento das jazidas, desde que o se firmaram no contrato.
faça até 31 de dezembro de 1953". Por decisão de 22 de maio do corren-
Mas a verdade é que autêntica seria te ano, o Tribunal converteu o julga-
a carta enviada ao Governador do Ter- mento em diligência, para que fôsse
ritório, ou uma cópia dela, se revestida "solicitada ao Conselho de Segurança
das formalidades legais, e não a cópia Nacional certidão da ata contendo o
de uma cópia de urna suposta carta assentimento à concessão, na forma do
apres",ntada pelo próprio interessado, a art. 180 da Constituição federal". Essa
INCO~II. Nada mais é preciso aduzir, certidão não foi enviada ao Tribunal,
com a esquisita coincidência de data. e, em sua substituição, completamente
14. A propósito, convém acentuar ineficaz, remeteu-se uma cópia da Ex-
que tanto o contrato principal como o posição de Motivos n. o 367, de junho
seu nditivo não consignam a cláusula findo, da Secretaria-Geral do referido
salutar de que só terão vigor depois do Conselho, feita ao Presidente da Repú-
reg'i~tJ·o pelo Tribunal, transgredindo- blica, a qual assim concluiu: "todos os
se nssim a sua constante jurisprudên- membros do Conselho de Segurança Na-
cia. cional manifestaram-se pela aprovação
15. Afigura-se desnecessário acres- dos contratos, caso não seja adotada
centar na argumentação para a man- por Vossa Excelência a preliminar de
tença, nos seus estritos têrmos, da de- não interferência do Conselho de Segu-
cisão de 24 de julho: concordo integral- rança Nacional por não se encontrarem
mente com as palavras e fundamentos os objetivos a que se reportam os con-
dos preclaros Ministros dêste Tribunal, tratos dentro dos 150 quilômetros ao
na conformidade das provas dos autos. longo das fronteiras terrestres. Em 11
Mas, com o meu voto, venho talvez do mesmo mês, o Presidente da Repú-
focalizar outros aspectos da matéria, blica despachou: "Transmita-se o pa-
lesivos da Constituição e dos interêsses recer".
vitais do povo brasileiro. E decidiu-se, em 24 de julho do cor-
Se a finalidade principal do Tribunal rente ano, com o voto de desempate do
de Contas consiste em resguardar a ri- Presidente do Tribunal: "O Tribunal
queza pública e impor a honestidade na de Contas nega registro ao contrato
Administração, não se pode reconside- pelos seguintes fundamentos: 1.0 _
rar a decisão recorrida sem ferir fron- porque a reversão da estrada de ferro
talmente essa finalidade. deveria ser em benefício da União, que
8. Em 28 de março do corrente ano, é concedente, e não em favor do Terri-
na conformidade do Decreto n. o 32.451, tório do Amapá, que à época em que
.- 337

tal fato ocorreria poderia encontrar·se os lucros auferidos pelos plutocratas e


transformado em Estado da Federação; monopolistas alienígenas (art. 180, n. O
2. 0 - porque, devendo a Estrada desti- IH, § 1.0, e art. 148 da Constituição).
nar-se, principalmente, ao transporte Braceja no extremo oriente um país
de minérios, a sua concessão não pode- rico e atormentado, há vários anos re-
ria estar vinculada a um dos contratos volvido em sangue: a China das rivali-
de mineração, mas a todos os instru- dades nacionais, a China da ganância
mentos em vigor; 3. 0 - porque não foi estrangeira, a China das concessões. É
consignada de forma expressa, a data um exemplo eloqüente.
limite para a reversão da concessão". 16. Quem se der ao trabalho de com-
9. Feito êste substrato histórico, pulsar os anais da Constituinte de 1946,
-cumpre-me dizer, desde já, que não verificará que funcionei como um dos
participei do julgamento do contrato membros da sub-comissão que elaborou
principal, revi sionista, e fui voto ven- o Título VII - Das Fôrças Armadas.
cido no registro do seu aditivo. Vence- Já naquele momento se compreendeu
dor, na sessão de 24 de julho do cor- que era obsoleto, inadequado, o conceito
rente ano, na qual se recusou registro de faixas de fronteira, e daí o emprêgo
ao presente contrato de concessão de da expressão "zonas indispensáveis à
uma ferrovia à INCOMI, êste meu voto, segurança nacional".
que foi então vencido ulteriormente, na Revela-se, pois, inaceitável a alegação
sessão de 9 de outubro, reúne, agora, dos 150 quilômetros da faixa de fron-
por escrito, os apontamentos que li nes- teira do Amapá: a guerra das armas
ta última sessão, e, bem assim, as ci- atômicas repele êsse anacronismo.
tações, argumentos e transcrições que É de notar ainda que o Tribunal di-
pude conservar, à vista dos autos. ligenciou para que viesse às suas mãos
Da decisão de 24 de julho houve pedi- a certidão da ata contendo o assenti-
do de reconsideração e o presente voto mento à concessão na forma do art. 180
foi dado durante o julgamento dêsse da Constituição federal, o que vale di-
pedido. zer - o parecer prévio do Conselho de
10. Visando a êsse pedido ao Tribu- Segurança Nacional. A diligência, en-
nal, a INCOMI, em requerimento de 24 tretanto, teve como resultado um pare-
de agôsto findo, dirigiu-se ao governa- cer posterior, e, conseqüentemente, ine-
dor do Território do Amapá, que, por ficaz.
sua vez, com êsse requerimento, oficiou, Assim, não houve o assentimento pré-
na mesma data, ao titular da pasta da vio, constitucionalmente exigido.
Viação e Obras Públicas, anexando ao 17. Entreligados os contratos, como
()fício cópias de uma carta da emprêsa estão - o primitivo, o principal, o adi-
e do parecer ineficaz do Conselho de tivo e o da estrada de ferro - os ví-
Segurança Nacional, o mesmo da dili- cios de uns contaminam os demais, mà-
gência ordenada pelo Tribunal. ximamente quando a viciação se realiza
Reconheceu-se, oficialmente, desde o em linha subordinada e contínua. Trata-
início, que constituem reserva nacional se do princípio de que um ato acarreta
as jazidas de manganês do Amapá, de- a nulidade dos atos sucessivos àêle de-
clarou-se a sua importância, firmou-se pendentes.
a sua posição estratégica, e, todavia, Ora, o contrato primitivo não foi sub-
entregou-se tudo isso, ainda com uma metido ao julgamento do Tribunal. Nulo
estrada de ferro, a uma emprêsa iluso- por essa razão constitucional, nêle não
riamente brasileira, movida por capitais se podia fundamentar o contrato prin-
estrangeiros. cipal, sob pena de nulidade.
Os trabalhadores serão brasileiros, E, como o aditivo e o da ferrovia se
reduzidos à condição de servos da gleba, basearam naqueles, é claro que também
enquanto que haverá predominância do se manifestam nulos de pleno direito.
capital estrangeiro, por empréstimo leo- Considere-se ainda que o contrato
nino, em que os preços serão fixados e principal e o seu aditivo não contêm
- 338-
a cláusula salutar de que só começam ticas de Euclides da Cunha: "A expan-
a vigorar depois do registro do Tribu- são imperialista das grandes potências
nal, além de que, no primeiro, quanto é um fato de crescimento, o transbor-
ao mérito, não foi ouvido o preclaro dar naturalíssimo de um excesso de vi-
dr. Procurador. das e de uma sobra de riquezas, em
Foram violados, portanto, o art. 77, que a conquista dos povos se torna sim-
n. O IH e § 1.0, da Constituição e o art. ples variante da conquista de merca-
32, parágrafo único, da Lei n. o 830. dos". E mais adiante, referindo-se ao
18. Pràticamente, a União, ou me- nosso país: "Não há exemplo mais tí-
lhor, o Govêrno do Território do Ama- pico de um progresso às recuadas. Va-
pá, receberá da emprêsa, pela entrega mos para o futuro sacrificando o fu-
das jazidas de manganês, apenas qua- turo, como se andássemos nas vésperas
tro por cento do valor do minério e um do dilúvio".
adicional de cinco por cento, em cada 20. O prazo dos contratos será de
tonelada que exceder de quinhentas mil. cinqüenta llnos, perdurando, portanto,
E isso mesmo ocorrerá depois do paga- até o ano d '2.003. Parece que se pen-
mento do empréstimo ao estrangeiro, na sou como no século passado, quando a
importància de sessenta e sete milhões e era atômica, que presentemente inquie-
quinhentos mil dólares, indenizado com ta o mundo, se encurtou as distâncias,
o minério explorado, ao preço que os também diminuiu a idéia de tempo.
próprios monopolistas alienígenas esta- Uma semana da atualidade representa,
belecerem. talvez, um ano de outrora.
N em mesmo no Brasil colonial, em Haverá, pois, uma espécie de domí-
benefício do português e do nativo, se nio estranho na região em que se acham
encontra tamanho absurdo. A permis- as jazidas de manganês e outras que ali
são de explorar as minas estava adstri- se descobrirem. A ferrovia e seus ra-
ta ao quinto real, além de que "08 mais traduziriam o coroamento dêsse
quintos representavam apenas uma par- domínio.
te do regime fiscal; havia mais os dí- Mas restará uma derradeira esperan-
zimos, os direitos das entradas, as pas- ça: a aplicação do disposto no § 2. 0 do
sagens dos rios". art. 180 da Constituição, porque as au-
Daí o motivo preponderante de que torizações "poderão, em qualquer tempo.
a estrada de ferro, objeto do pedido de ser modificadas ou cassadas pelo Conse-
reconsideração em exame, se fôsse fe- lho de Segurança Nacional".
deral e não da emprêsa, seria um freio Em face do exposto, lógico e inevitá-
imprescindível a êsse absurdo. vel é concluir que, preliminarmente,
19. No livro "Brasil" 1948, do Mi- julgo nulo o contrato em exame, e quan-
nistério do Exterior, à pág. 341, depa- to ao mérito, mantenho a decisão re-
ra-se-me esta indicação: "A Serra do corrida, que lhes recusou registro.
Navio, no Amapá, recentemente desco- E reproduz o, por fim, estas memorá-
berta, tem valor ainda ignorado. O mi- veis expressões de Rui Barbosa: "Uma
nério é excelente, desempenhará notável das influências mais escandalosas nesse
papel no futuro, pois dista apenas três podredoiro é a execução dos orçamen-
mil milhas dos grandes mercados ame- tos, a distribuição das graças pecuniá-
ricanos". rias, a outorga das concessões, a cele-
~sse "notável papel no futuro" foi a
bração dos contratos administrativos.
entrega, pura e simples, das nossas ja- Contra êsse mal corroedor, a que tão
zidas aos sabidinhos, que nos acenam ocasionadas são as democracias, e que
em troca, com o desenvolvimento dos as ditaduras levam ao seu extremo,
'recursos naturais daquela região ... criou a Constituição da República um
para êles. Tribunal: o Tribunal de Contas. Êsse
Contratos exclusivamente lucrativos Tribunal tem cumprido o seu dever".
para uma das partes, e, ainda por
cima, com expressões líricas para a ou- Rio, 9 de outubro de 1953. - Silves-
tra. E repito agora as palavras profé- tre Péricles".

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