Você está na página 1de 11

Procede igualmente a segunda preten- percentual de 10% sobre o valor da conde-

são do recurso, pelo dissídio jurisprudencial nação.


demonstrado. Com efeito, nos termos do en- Por todo o exposto, conheço do recurso
tendimento desta Corte colhe cumular os ju- em parte e lhe dou provimento, para aten-
ros compensatórios de 12% ao ano, a par- der ao pedido, excluídos, porém, por não
tir da ocupação do imóvel, que já foram demonstrados, os encargos trabalhistas. Por-
concedidos, com os juros moratórios a contar tanto, para que se concedam, em acréscimo,
do trânsito em julgado da sentença conde- as verbas contempladas em meu voto, nes
natória, que se devem conceder, pelo provi- ses mesmos termos dou provimento.
mento.
Finalmente, estou de acordo em que a ne· EXTRATO DA ATA
gativa de honorários de advogado, na hipó-
tese, como a presente, em que igualmente se RE n9 96.823-7 - SP - ReI.: Min. Ra-
trata de justa indenização na desapropriação, fael Mayer. Recte.: Indústrias Zanaga Ltda.
conflita com a tese que se estabelece no RE (Advs.: Miguel Alfredo Malufe Neto, Edisio
n 9 81.873, da Segunda Turma, de que Rela- Gomes de Matos e outro). Recda.: Prefeitu-
tor o eminente Ministro Leitão de Abreu ra Municipal de Americana. (Adv. Erkh
(RTf, 89/531), trazido pela recorrente. Se a Hetzl Júnior).
verba honorária que é irrisória afronta ao Decisão: conheceu-se do recurso extraor-
princípio da justa indenização, a fortiori a dinário em parte e nesta parte se lhe deu
que se nega. Conheço, também, nesse ponto, provimento. Decisão unânime. Falou pelo
pelo dissídio, e ao julgar - pois nem se tra- recorrente o Dr. Edisio Gomes de Matos.
ta propriamente de ação expropriatória nem, 1~ Turma, 14.9.82.
conseqüentemente, de aplicar-se o art. 27, Presidência do Sr. Ministro Soares Muiíoz.
§ 19, da lei específica. Devo aplicar, por Presentes à sessão os Srs. Ministros Rafael
adequado, o art. 20, § 49 , do CPC, conde- Mayer, Néri da Silveira, Alfredo Buzaid e
nando a sucumbente, aliás na medida em Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral da Re-
que o é, ao pagamento de honorários no pública, Dr. Francisco de Assis Toledo.

MOINHOS DE TRIGO - CAPACIDADE MOAGEIRA - INSPEÇÃO


- A jurisprudência do STP firmou-se no sentido de que, em face
do art. 15, § 19 do Decreto-lei rfl 210/67, deveriam estar os moinhos
em condições de se submeterem à prova física para aferição da
capacidade real de moagem.
- Nega vigência ao preceito a decisão que determina outra prova
física de verificação.
- A realização de novas inspeções a outros moinhos não asse-
gura igual concessão ao impetrante.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Sunab versus Cooperativa Agrícola Santa Tereza Ltda. e outros
Recurso Extraordinário n9 95.113 - Relator: Sr. Ministro
MOREIRA ALVES

ACÓRDÃO ficas, por unanimidade de votos, conhecer


Vistos, relatados e discutidos estes autos, do recurso e dar-lhe provimento.
acordam os Ministros da Segunda Turma do Brasília - DF, 6 de agosto de 1982. -
Supremo Tribunal Federal, na conformidade Djaci Falcão, Presidente. Moreira Alves,
da ata do julgamento e das notas taquigrá· Relator.

134
RELATÓRIO ma transcrito, não têm caráter de penalida-
de, mas decorreram de perda de requisito.
o Sr. Ministro Moreira Alves: E este o Apurado pelas Comissões de Revisão que
teor do acórdão recorrido (fls. 591-603): 'a situação totalmente irregular de suas ins-
talações, carentes do mínimo exigível de
"VOTO (PRELIMINAR) condições técnicas para a realização de pro-
va física de moagem' (fls. 25).
o Exmo. Sr. Ministro Carlos Madeira (Re- Foram cancelados os registros das impe-
lator): Como noticia a contestação (fls. 80- trantes porque
94), a questão sub-examen já foi objeto de 'não tendo sido realizada a prova física de
sentença em mandado de segurança proferi- moagem preconizada no art. 15 do Decreto-
da pelo Juiz Federal da 2~ Vara do então lei n9 210/67, perderam elas, automatica-
estado da Guanabara, em 14 de abril de mente, sua conceituação de unidade moagei-
1969. ra, definidas no art. 12 do retromencionado
Nessa sentença, o Juiz Jorge Lafayette diploma legal, combinado com o art. 79 , da
Guimarães, depois ilustre Ministro desta Cor- Portaria Super n 9 137/67' (fls. 25).
te, apreciou o mérito da questão, qual seja, Este o fundamento do ato impugnado
a legalidade do ato de cancelamento do re- através do writ impetrado, e na realidade,
gistro dos moinhos das autoras. Do relatório não tendo sido possível a realização da pro-
da sentença, cuja cópia foi juntada pela ré va física de moagem, pela falta do mínimo
às fls. 103-112, dessume-se que os fundamen- exigível quanto às condições técnicas para
tos do pedido foram os mesmos aduzidos na esta prova - e assim não comprovada dita
inicial da presente ação, sendo também idên- capacidade - não poderia subsistir o regis-
tica às da contestação as razões contidas nas tro das impetrantes, sendo inadmissível a
informações então prestadas. existência de moinho sem uma capacidade
Lê-se na sentença: de moagem reconhecida.
'IV - Sustentam as impetrantes que o E o que resulta, inclusive, dos termos do
art. 29 , VII, b, do Decreto n 9 56.452, de Decreto-lei n 9 210, de 1967, notadamente
1965, mencionado expressamente nos ofícios dos seus arts. 99 , 10, 12 a 16 e 19, entre os
de fls. 16 e 17, confere, apenas, competência quais é de destacar o art. 12, onde se de-
ao Departamento de Trigo, para sugerir ao clara:
Superintendente da Sunab o cancelamento 'Entende-se por moinho para os efeitos des-
de autorizações para funcionamento de moi- te decreto-lei, a unidade moageira detentora
nhos, o que não dispensa a autoridade de de registro da Sunab, com capacidade de
indicar qual o dispositivo legal em que en- moagem reconhecida e homologada por
contra fundamento a penalidade imposta, e aquele órgão e que possui atividade técnico-
que, estando a legislação anterior revogada industrial autônoma aplicada na industriali-
pelo Decreto-lei n 9 210, de 1967, neste di- zação de trigo em grão.'
ploma somente se prevê o cancelamento dos Não tendo as impetrantes capacidade de
registros (art. 23), moagem reconhecida, já que não foi possí-
vel, por falta do mínimo das condições técni-
'aos moinhos que se apropriaram indebi-
cas necessárias, a realização da prova física
tamente do trigo pertencente ao Governo
de moagem, desapareceu um dos requisitos
Federal ou que permaneceram inativos, com-
essenciais, não mais podendo subsistir o re-
provadamente, por mais de doze (12) meses.'
gistro das mesmas, como moinhos, conforme
As teses defendidas pelas impetrantes são decorre do art. 12, supratranscrito, não sen-
verdadeiras, mas inaplicáveis à espécie. do admissível moinho sem uma capacidade
V - Realmente, os cancelamentos efetua- de moagem.
dos, como resulta das informações da auto- VI - A circunstância a que se apegam
ridade coatora, sobretudo do trecho já aci- as impetrantes, de não haver a Sunab inicia-

135
do a reVlsao, determinada pelo Decreto-lei Por esse motivo, deixo de conhecer de
n 9 210, de 1967, não lhes aproveita. ofício da coisa julgada, nos termos do pa-
Dito prazo envolvia, sem dúvida, uma rágrafo 39 do art. 267 do CPC.
obrigação para as autoridades, mas a sua Conheço dos recursos.
inobservância não afasta a possibilidade de
serem promovidas ou iniciadas as revisões VOTO (PRELIMINAR)
posteriormente, principalmente diante do art.
19 do aludido Decreto-lei, onde se preceitua: O Sr. Ministro Evandro Gueiros Leite
'Sempre que julgar oportuno e convenien- (Revisor): Sr. Presidente, voto acompanhan-
te a Sunab vistoriará qualquer moinho que do o eminente Ministro Relator, no tocante
participe de distribuição do trigo destinado ao não acolhimento por apreciação ex-olfieia
ao abastecimento do País, utilizando a prova da prejudicial da coisa julgada, tanto mais
física de moagem e com a aplicação dos que, pelo que examinei dos autos, a matéria
critérios descritos nos parágrafos 29, 39, 49 da ação se desdobrou em provas periciais
e 59 do art. 15 deste Decreto-lei.' cuidadosas, acerca da situação dos moinhos
Do mesmo modo, não beneficia às impe- dos interessados nestes autos. Por certo, as-
trantes a circunstância de haverem requeri- sim, além do que decidiu o eminente Minis-
do, quando as Comissões de Revisão chega- tro e antigo Juiz Dr. Jorge Lafayette, há re-
ram às suas instalações (fls. 4), prorrogação síduos a se apreciar nesta, resíduos estes que
de prazo, por estarem as suas máquinas des- foram, na verdade, bem apreciados pelo Dr.
montadas, em decorrência de reformas em Juiz, quando da sua sentença de mérito.
realização.
Houve, inegavelmente, falta de cautela da VOTO (MÉRITO)
parte das impetrantes, que sobretudo antes
de findo o prazo fixado para as revisões, EMENTA
pelo Decreto-lei n9 210, de 1967, não deve-
riam desmontar suas máquinas nem iniciar Sunab - Moinhos de Trigo - Revisão da
reforma de suas instalações, sem autorização capacidade moageira.
da Sunab. O fato de se encontrar o equipamento do
O requerimento feito deveria anteceder a moinho momentaneamente desmontado não
tais fatos" (fls. 108-112). o reduz a um amontoado de máquinas sem
O douto juiz denegou a segurança. destinação técnico-industrial. Também não
Neste processo, entretanto, além dos fun- importa em cessação de atividade a breve
damentos já deduzidos na ação mandamen- interrupção da atividade moageira.
tal, trazem as autoras matérias ali não deci- Estando o moinho em reparos, cabia a
dida, qual seja a relativa à conduta da ré, designação de nova vistoria, em igualdade
em relação a outros moinhos, admitindo no- de condições com outros moinhos, também
va visita da Comissão Revisora. paralisados na ocasião da vistoria e revi sita-
Tem a jurisprudência entendido que, se a dos um ano depois.
sentença denegatória do mandado de segu- O Exmo. Sr. Ministro Carlos Madeira (Re-
rança aprecia o mérito do pedido, faz coisa lator): A preliminar de nulidade do processo,
julgada material, não podendo a controvér- em virtude de irregularidades havidas na pe-
sia ser reaberta na via ordinária (REs n.OS rícia, não tem cabimento. Foi ela realizada
69.912, RTf, 58/735, 71. 789, RTf, 60/516, entre janeiro e agosto de 1971, manifestan-
75.520, RTf, 67/573). do-se a ré a propósito às fls. 333-343, sem
No caso presente, porém, cabe a aprecia- argüir nulidades. A matéria ficou, desse mo-
ção do tratamento administrativo dispensado do, preclusa, não podendo ser suscitada em
às autoras, em desarmonia com o que foi sede recursal.
dispensado a outros moinhos do mesmo es- O que se há de examinar é se o procedi-
tado. mento da Sunab, ao cancelar o registro dos

136
moinhos das autoras, ainda no curso de 1967, nico-industrial autônoma aplicada na indus-
inadmitindo a nova vistoria requerida, é ou trialização de trigo em grão.'
não contrária a direito. Entende a apelante que, em se tratando de
A própria ré afirma enfaticamente que a 'conjunto de instalações para a moagem, sem
vistoria tinha prazo por todo o ano de aplicação ou sem atividade aplicada na in-
1967. dustrialização do trigo em grão, não é moi-
Ao chegar aos moinhos das autoras, a Co- nho, na acepção legal'. Ainda uma vez,
missão Revisora diz ter encontrado um amon- ocorre confusão entre existência e funciona-
toado de máquinas sem a destinação técnica mento, entre o ser e o fazer.
de moagem de trigo, e a inexistência de Não há negar que os moinhos das auto-
qualquer unidade moageira, de direito. Tal ras tinham registro na Sunab, tanto que fo-
assertiva, porém, ao que se extrai da prova ram visitados para a revisão. Tinham tam-
pericial e dos demais elementos dos autos, bém capacidade moageira reconhecida e ho-
não condiz com os fatos. mologada por aquele órgão. A propósito, o
Realmente, confessam as autoras que as perito da ré esclarece em seu lado, às fls.
suas máquinas estavam desmontadas para 292, que a revisão de 1967 não foi determi-
reparo. Não se tratava de substituição de nada pelo Departamento de Trigo da Sunab,
máquinas, mas de serviço normal de manu- mas pelo Decreto-Iei nQ 210/67, o que sig-
tenção delas, que não era vedado pelo De- nifica que a revisão não se destinou a ho-
creto-lei nl? 210/67. mologar capacidades de moagem, mas a cer-
Ora, máquinas desmontadas não perdem tificar a exatidão delas.
sua destinação técnica. Basta um breve exa· Esses requisitos se completam com a ati-
me de pessoa habilitada para identificar vidade do conjunto técnico-industrial. E é
'num amontoado de máquinas', qual a sua óbvio que a interrupção dessa atividade, por
destinação, qual a sua aplicação. E mais: motivo de reparos das máquinas ou das ins-
poderia a perícia identificar se se tratava talações elétricas, não importa em paralisa-
então de equipamento já usado ou novo, de ção definitiva em cessação do funcionamento
modo a constatar se estava ou não sendo da unidade moageira. As autoras apresenta·
infringido o disposto no art. 17 do Decreto- ram razões técnicas plenamente plausíveis
lei nQ 210/67. para a paralisação dos moinhos na oportuni-
Não há, portanto, como negar a existên- dade da vistoria.
cia técnica do moinho apenas porque não A ré, porém, não as aceitou porque, dian-
estava totalmente montado e funcionando, te das máquinas desmontadas, suspeitou da
no momento da vistoria. Não é apenas pelo existência dos moinhos.
funcionamento que se pode identificar um No entanto, a Comissão Revisora deixou
conjunto técnico-industrial, mas também pe- de vistoriar quatro moinhos, por falta de
lo tipo de suas máquinas, pela estrutura, por estoque de trigo em grão, voltando a visto-
todo um conjunto de bens que serve à fina- riá-los em dezembro de 1967. Foram eles:
lidade industrial. E o perito da ré constatou Anselmo Trevisão & Filhos, Comércio e In-
que esse conjunto existia, tanto que relacio- dústria Brochman S. A., Cooperativa Mista
nado no laudo de 28 _12.60, emitido pelo Flor da Serra Ltda. e Moinho União Ltda.;
antigo Serviço de Expansão do Trigo. outro moinho da Comércio e Indústria
Quanto à existência jurídica dos moinhos, Brochman S. A. também só foi vistoriado
lê-se no art. 12 do Decreto-Iei nQ 210/67: em dezembro de 1967, por estar sendo regu-
'Entende-se por moinho, para os efeitos larizada a sua aquisição.
deste Decreto-Iei, a unidade moageira de- O moinho da Tecnosul S. A. - Indústria
tentora de registro da Sunab, com capacida- e Comércio, removido de Ijuí para Porto Ale-
de de moagem reconhecida e homologada gre, não foi vistoriado em agosto de 1967,
por aquele órgão e que possua atividade téc- por não estarem terminadas suas instalações.

137
A nova vistoria realizou-se em 21 de agosto se claro o extremo rigor com que se aplicou
de 1968. a lei às autoras, tornando inúteis os seus
Dois outros moinhos tiveram suas visto- conjuntos técnico-industriais, não sem pre-
rias adiadas de agosto de 1967 para agosto juízo para interesses da indústria nacional
de 1968, por se encontrarem paralisados na do trigo.
época da visita da Comissão Revisora, em A via ordinária, que ensejou o exame dos
virtude de inventário de bens, à causa da fatos, foi, assim, além da simples razão d~
morte de seus proprietários. São eles Irmãos direito apreciada em mandado de segurança,
Franciosi & Cia. e Vva. Carmelina Alberton colocando em realce o prejuízo causado às
e Filhos Ltda. autoras.
Por fim, o Moinho Matense S. A., visita- Confirmo a sentença de primeiro grau,
do pela Comissão Revisora em 13.9.67, es- quanto ao mérito.
tava fechado e parado, em virtude de litígio
Reformo-a, porém, no tocante à verba ho-
judicial entre seus acionistas. Foi revisitado
norária, para fixá-la em 10%.
e vistoriado em 23.8.68.
É de salientar-se que a Comissão Revisora
VOTO (MÉRITo)
só visitou os moinhos das autoras uma úni-
ca vez, 'tendo em vista a não existência de
motivos que determinassem a sua volta' se-
o Sr. Ministro Evandro Gueiros Leite
(Revisor): Confiro a prova dos autos e ve-
gundo esclarece o perito da ré.
rifico que os autores têm direito ao que pe-
Ora, se a paralisação dos moinhos em vir- dem, levando-se em conta as conclusões do
tude de inventário de bens com que morre- laudo do próprio perito da Sunab e que o
ram seus sócios, ou em virtude de litígio ju- dr. Juiz a quo houve por bem acolher na
dicial entre acionistas, foi relevada, porque sua respeitável sentença.
não o foi a dos moinhos das autoras, que ti-
Estou convencido de que não poderiam
nham registro e capacidade homologada, e
servir de fundamento aos atos impugnados
apresentaram um motivo mais técnico, para
as simples suspeitas do órgão fiscalizador.
não se submeterem à vistoria? Também em
partindo do argumento de que a revisão dos
inatividade estava o moinho cujos sócios li-
moinhos das autoras teria ultrapassado os
tigavam na Justiça, o que foi relevado pela
prazos normais, com a finalidade de acober-
ré. Igualmente desmontado estava o moinho
tar intuitos inconfessáveis.
da Tecnosul e nele não viu a Comissão um
simples amontoado de máquinas. Vale salientar que, em prol do comporta-
mento das autoras, depõem as comunicações
É evidente que o critério adotado pela
feitas pelas mesmas ao Departamento de
ré, em relação às autoras, foi discriminatório.
Trigo da Sunab, com dilatação de prazo para
Reconheceu ela, em outros moinhos parados,
complemento dos trabalhos.
por razões que em nada deveriam interferir
na sua atividade industrial, que havia moi- Destaco na sentença o trecho em que o
nho na acepção legal. Reconheceu também ilustre juiz sentenciante, após apreciar as
no moinho ainda em fase de montagem, um questões de fato, examina a exorbitância das
conjunto técnico-industrial perfeitamente en- sanções aplicadas às autoras.
quadrável na lei. Mas não viu nos moinhos É ler-se:
em reparo das autoras tal conjunto. Tal pro- (fls. 474 a 477, conforme assinalado).
cedimento é contrário a direito. Sem causa para anular o processo por-
Os fatos retiram, aos argumentos com que quanto reputo válida a perícia dentro de
foi negada a segunda vistoria dos moinhos, suas finalidades, contudo afasto-me da sen-
qualquer validade. Basta um breve exame tença, mas tão-somente no tocante à verba
dos motivos justificadores dessa negativa e de honorários advocatícios, que reduzo de
os do provimento dos recursos dos demais 20% para 10%, a teor da jurisprudência da
moinhos no Rio Grande do Sul, para tornar- Turma.

138
Dou provimento parcial ao recurso da Entendem as autoras que o cancelamento
Sunab para esse fim, sem causa para a re- é arbitrário, pois sem fundamento na lei.
messa necessária, da qual não conheço_ O art. 23 do Dec.-lei nl? 210/67 prevê tal
E o meu voto." sanção apenas em casos de apropriação in-
Interposto recurso extraordinário, não foi débita de trigo pertencente ao Governo Fe-
ele admitido pelo seguinte despacho (fls. deral ou inativação comprovada do moinho
630/635): por mais de 12 meses. Nenhuma dessas in-
.. A Cooperativa Agrícola Santa Tereza frações foi cometida pelas autoras e a Sunab
Ltda., de Bento Gonçalves, e Cooperativa decidiu com base ao art. 19 da Portaria Su-
Veranense de Cereais Ltda., de Veran6polis, per n9 137, que dispõe sobre a recorribili-
ambas estabelecidas com moinhos de trigo da de dos seus atos atinentes ao cálculo de
no estado do Rio Grande do Sul, ajuizaram capacidade de moagens.
ação ordinária contra a Superintendência O cancelamento trouxe prejuízos irrepará-
Nacional do Abastecimento (Sunab), visando veis para mais de 1.800 cooperados, deixan-
o restabelecimento de seus registros com as do ocioso um parque industrial de grande
capacidades industriais respectivas, e a en- utilidade."
trega de todas as quotas de trigo que dei· A decisão de primeiro grau que deu pela
xaram de receber desde 1968. procedência da ação, para anular o cancela-
Na inicial relatam as autoras que se de- mento dos registros dos moinhos das autoras,
dicam à moagem e comercialização de trigo; restabelecendo-os com a capacidade reconhe-
que em 1967, através do Decreto-lei nl? 210, cida pelo perito da Sunab, com as reduções
foi determinada a revisão geral da capaci- legais, devendo a autarquia entregar, ainda,
dade de moagem dos moinhos do país; que as quotas devidas desde 1968, e continuar
segundo norma da Superintendência Nacio- a distribuí-las normalmente, foi parcialmen-
nal do Abastecimento, tal operação teria iní- te reformada por Turma julgadora deste Tri-
cio a 28 de abril e encerramento a 31 de bunal, tão-somente quanto aos honorários de
dezémbro do mesmo ano (1967). advogado que, no caso, foram reduzidos de
Ocorreu que, continuam os suplicantes; 20% para 10%.
'Como demorassem a chegar as Comissões O ac6rdão está assim ementado:
Gerais de Revisão Física dos moinhos, e ten- 'Sunab - Moinhos de Trigo - Revisão
do ambas necessidade de reformar suas má- de capacidade moageira. O fato de se en-
quinas, deram início a esse serviço. contrar o equipamento do moinho momenta-
Desse modo, quando as Comissões chega- neamente desmontado não o reduz a um
ram, em outubro de 1967, estavam aquelas amontoado de máquinas, sem destinação téc-
máquinas desmontadas. nico-idustriaI. Também não importa em ces-
A primeira autora comunicou imediata- sação de atividade a breve interrupção da
mente ao Departamento de Trigo da Sunab atividade moageira.
que estava com suas máquinas em reforma, Estando o moinho em reparos, cabia a
solicitando, em 9.10.67, prazo de 90 dias designação de nova vistoria, em igualdade
para colocá-las em ordem a serem vistoria- de condições com outros moinhos, também
das. paralisados na ocasião da vistoria e revisita-
A segunda autora, na oportunidade da vis- dos um ano depois.'
toria, fazia reparo nas suas instalações elé- Dessa decisão recorre extraordinariamente
tricas. a Sunab, invocando amparo nas letras a e d
O pedido de nova revisão foi indeferido da norma constitucional autorizadora, aos
pela Sunab, sendo cancelados definitivamen- argumentos de que o aresto impugnado ne-
te os registros das autoras, e suas cotas de gou vigência ao Decreto-lei n9 210, de 1967,
trigo, a partir de 1968. As comunicações do bem como divergiu de Julgados do STF, que
cancelamento são datadas de 31.10.68 e indica: RE nl? 71.469-DF, RE nl? 74. 165-DF
4.11.68. e RE nl? 70.800-DF.

139
Estendo que razão desassiste à recorrente. 'Entende-se por moinho, para os efeitos
Com efeito, o Ministro Carlos Madeira, deste Decreto-Iei, a unidade moageira deten-
Relator do feito, em seu voto, com acerto, tora de registro da Sunab, com capacidade
proclamou: de moagem reconhecida e homologada por
aquele órgão e que possua atividade técnico-
'0 que se há de examinar é se o procedi-
industrial autônoma aplicada na industriali-
mento da Sunab, ao cancelar o registro dos
zação de trigo em grão.'
moinhos das autoras, ainda no curso de
1967, inadmitindo a nova vistoria requerida, Entende a apelante que, em se tratando
é ou não contrário a direito. de 'conjunto de instalações para a moagem,
sem aplicação ou sem atividade aplicada na
A própria ré afirma enfaticamente que a industrialização do trigo em grão, não é moi-
vistoria tinha prazo por todo o ano de 1967. nho, na acepção legal'. Ainda uma vez, ocor-
Ao chegar aos moinhos das autoras, a Co- re confusão entre existência e funcionamen-
missão Revisora diz ter encontrado um amon- to, entre o ser e o fazer.
toado de máquinas sem a destinação técni- Não há negar que os moinhos das autoras
ca de moagem de trigo, e a inexistência de tinham registro na Sunab, tanto que foram
qualquer unidade moageira, de direito. Tal visitadas para a revisão. Tinham também
assertiva, porém, ao que se extrai da prova capacidade moageira reconhecida e homolo-
pericial e dos demais elementos dos autos, gada por aquele órgão. A propósito, o peri-
não condiz com os fatos. to da ré esclarece em seu laudo, às fls. 292,
Realmente, confessam as autoras que suas que a revisão de 1967 não foi determinada
máquinas estavam desmontadas para reparo. pelo Departamento de Trigo da Sunab, mas
Não se tratava de substituição de máquinas. pelo Decreto-Iei nl? 210/67, o que significa
mas de serviço normal de manutenção delas, que a revisão não se destinou a homologar
que não era vedado pelo Decreto-Iei nl? 210/ capacidade de moagem, mas a certificar a
67. exatidão delas.
Ora, máquinas desmontadas não perdem Esses requisitos se completam com a ati-
sua destinação técnica. Basta um breve exa- vidade do conjunto técnico-industrial. E é
me de pessoa habilitada para identificar óbvio que a interrupção dessa atividade, por
'num amontoado de máquinas', qual a sua motivo de reparos das máquinas ou das ins-
destinação, qual a sua aplicação. E mais: talações elétricas, não importa em paralisa-
poderia a perícia identificar se se tratava ção definitiva em cessação do funcionamen-
então de equipamento já usado ou novo, de to da unidade moageira. As autoras apresen-
modo a constatar se estava ou não sendo taram razões técnicas plenamente plausíveis
infringido o disposto no art. 17 do Decreto- para a paralisação dos moinhos na oportuni-
lei n9 210/67. dade da vistoria.
Não há, portanto, como negar a existên- A ré, porém, não as aceitou porque, dian-
cia técnica do moinho apenas porque não te das máquinas desmontadas, suspeitou da
estava totalmente montado e funcionando, existência dos moinhos.
no momento da vistoria. Não é apenas pelo No entanto, a Comissão Revisora deixou
funcionamento que se pode identificar um de vistoriar quatro moinhos, por falta de
conjunto técnico-industrial, mas também pelo estoque de trigo em grão, voltando a visto-
tipo de suas máquinas, pela estrutura, por riá-los em dezembro de 1967. Foram eles:
todo um conjunto de bens que serve à fina- Anselmo Trevisão & Filhos, Comércio e In-
lidade industrial. E o perito da ré constatou dústria Brochman S. A., Cooperativa Mista
que esse conjunto existia, tanto que relacio- Flor da Serra Ltda. e Moinho União Ltda.;
nado no laudo de 28.12.60, emitido pelo outro moinho da Comércio e Indústria Broch·
antigo Serviço de Expansão do Trigo.' man S. A. também só foi vistoriado em de-
Quanto à existência jurídica dos moinhos, zembro de 1967, por estar sendo regularizada
lê-se no art. 12 do Decreto-lei nl? 210/67: a sua aquisição.

140
o moinho da Tecnosul S. A. - Indústria Os fatos retiram aos argumentos com que
e Comércio, removido de Ijuí para Porto foi negada a segunda vistoria dos moinhos
Alegre, não foi vistoriado em agosto de 1967, qualquer validade. Basta um breve exame
por não estarem terminadas suas instalações. dos motivos justificadores dessa negativa e
A nova vistoria realizou-se em 21 de agosto os do provimento dos recursos dos demais
de 1968. moinhos no Rio Grande do Sul, para tomar·
se claro o extremo rigor com que se aplicou
Dois outros moinhos tiveram suas vistorias
a lei às autoras, tomando inúteis os seus
adiadas de agosto de 1967 para agosto de
conjuntos técnico-industriais, não sem pre·
1968, por se encontrarem paralisados na épo-
juízo para interesses da indústria nacional do
ca da visita da Comissão Revisora, em vir-
trigo.'
tude de inventário de bens, a causa da morte
de seus proprietários. São eles: Irmãos Como se vê, ante as judiciosas considera-
Franciosi & Cia. e Vva. Carmelina Alberton ções expendidas, tenho como de todo correta
e Filhos Ltda. a interpretação oferecida às normas que dis-
ciplinam a espécie (Súmula n9 400).
Por fim, o Moinho Matense S. A., visitado
Quanto à letra d, os acórdãos apontados
pela Comissão Revisora em 13.9.67, estava
para confronto, por não versarem sobre hi-
fechado e parado, em virtude de litígio judi-
pótese idêntica à discutida nos presentes au·
cial entre seus acionistas. Foi revisitado e
tos, não servem para demonstrar dissenso
vistoriado em 23.8. 68. ~ de salientar-se que
pretoriano (Súmula n9 291).
a Comissão Revisora só visitou os moinhos
das autoras uma única vez, 'tendo em vista Do exposto, nego provimento ao recurso.
a não existência de motivos que determinas· Publique-se."
sem a sua volta', segundo esclarece o perito Os autos, porém, subiram a esta Corte,
da ré. em virtude do provimento de agravo.
Ora, se a paralisação dos moinhos em vir· A fls. 677-682, assim se manifesta a Pro·
tude de inventário de bens com que morre- curadoria-Geral da República, em parecer
ram seus sócios, ou em virtude de litígio ju- do Dr. Mauro Leite Soares:
dicial entre acionistas, foi relevada, porque "Conforme comprovado pela recorrente,
não o foi a dos moinhos das autoras, que de maneira inequívoca, trata-se de matéria
tinham registro e capacidade homologada, e anteriormente apreciada pelo Supremo Tri-
apresentaram um motivo mais técnico, para bunal, através do egrégio Tribunal Pleno.
não se submeterem à vistoria? Assim, do RE n9 74.165, Relator Ministro
Também em inatividade estava o moinho Thompson Flores, RTf, 62/270, temos a se·
cujos sócios litigavam na Justiça, o que foi guinte ementa:
relevado pela ré. Igualmente desmontado 'Cotas de trigo atribuídas aos moinhos.
estava o moinho da Tecnosul e nele não viu Prova física para aferição da capacidade
a Comissão um simples amontoado de má- real de moagem dos estabelecimentos.
quinas. Mandado de segurança concedido pela re-
~ evidente que o critério adotado pela ré,
petição da prova em questão.
em relação às autoras, foi discriminatório. 11. Recurso extraordinário provido, para
Reconheceu ela, em outros moinhos parados, cassar a segurança. ~ que o julgado recor-
por razões que em nada deveriam interferir rido, sob pretexto de fazer cumprir o art. 15,
na sua atividade industrial, que havia moi- e seu § 19 , do Decreto-Iei n9 210/67, c.c. a
nho na acepção legal. Reconheceu também Portaria n9 137/67, art. 24, c, negou-lhes,
no moinho ainda em fase de montagem um em verdade, aplicação. Motivação.
conjunto técnico-industrial perfeitamente en- Recurso provido.'
quadrável na lei. Mas não viu nos moinhos E o acórdão proferido no RE n9 71.469,
em reparo das autoras tal conjunto. Tal pro- relator Ministro Luiz GaIlotti, RTf, 64/142,
cedimento é contrário a direito. igualmente invocado pela recorrente, não

141
discrepa do entendimento anterior, como sin- mesmos não se poderia adjudicar-lhes quais-
tetizado em sua ementa: quer quotas, que são próprias dos moinhos,
'Moinho de trigo. como conceitudo legalmente, e cuja ativida-
Prova física para aferição de sua capaci- de tivesse sido homologada pela revisão pro-
dade real de moagem. cedida em tempo hábil.
Art. 15, § 19 , do Decreto-Iei n9 210, de O que se deu, em conseqüência dessa ve-
1967. rificação, foi o natural cancelamento dos
Portaria n 9 137, de 1967, art. 24, c. respectivos registros, já que dispondo a lei
Desde 29.4. 67, deveria o recorrido estar que só podem ter registros os moinhos como
com suas instalações em condições de se o define a própria lei, e, verificando a au-
submeterem àquela prova. toridade que as requerentes não eram pro-
Recursos extraordinários conhecidos e pro- prietárias de moinhos, mas sim de um aglo-
vidos, para cassar a segurança.' merado desordenado de máquinas, sem a des-
A matéria focalizada nestes autos foi as- tinação técnica industrial autônoma aplica-
sim esclarecida pela ora recorrente Sunab, da na industrialização do trigo em grão, ou-
em sua contestação, fls. 84: tra medida não poderia tomar que aquela de
'Em outubro de 1967 - rigorosamente cancelar definitivamente os registros de trigo.
dentro do curso do ano de 1967 como pre· A sentença inicial de fls. 465, no entanto.
ceituava o parágrafo único do art. 15 do De- e embora conhecedora do acórdão proferido
creto-lei n9 210 de 1967 - chegaram as co- no RE n 9 71.469, conforme fls. 487, con-
missões revisoras para procederem à revi- cluiu pela procedência da ação, à considera-
são geral da capacidade de moagem dos moi- ção de não identidade ou semelhança entre
nhos de trigo no Rio Grande do Sul, e den- os casos, decisão essa mantida pelo Tribu-
tre eles os moinhos dos suplicantes, consta· nal Federal de Recursos, salientando este
tando as comissões de revisão que, com re- que o critério adotado pela ora recorrente
lação a esses moinhos: foi discriminatório, verbis, fls. 597:
, a situação totalmente irregular de suas 'O fato de se encontrar o equipamento do
instalações, carentes no mínimo exigível de moinho momentaneamente desmontado não
condições técnicas para a realização de pro· o reduz a um amontoado de máquinas sem
va física de moagem.' destinação técnico-industrial. Também não
O que se constata, pois, é que realizada a importa em cessação de atividade a breve
vistoria revisora o que apurou a suplicante interrupção da atividade moageira.
foi a inexistência de moinhos, de fato, pois Estando o moinho em reparos, cabia a
que o que havia era um amontoado de má- designação de nova vistoria, em igualdade
quinas sem a destinação técnica de moagem de condições com outros moinhos, também
de trigo, e a inexistência de qualquer unida- paralisados na ocasião da vistoria e revisita-
de moageira, de direito, consoante a defini. dos um ano depois.'
ção legal contida no art. 12 do Decreto nQ Ora, os acórdãos proferidos pelo egrégio
210, de 1967, que é aquela pela qual: Tribunal Pleno nos REs n.OS 74.165 e 71.469
'Entende-se por moinhos, para os efeitos são incisivos e, ao que nos parece, não ad·
deste Decreto-lei, a unidade moageira deten- mitem fundamentação ensejadora de conclu-
tora do registro da Sunab, com a capacidade são diferente à que eles chegaram, isto é,
de moagem reconhecida e homolo~ada por os moinhos teriam que estar aptos à prova
aquele órgão e que possua atividade técnico- física a partir de 29.4.67_
industrial autônoma aplicada na industriali- As alegações de injustiça e discriminação
zação do trigo em grão.' não propiciam a negativa da lei federal e
E o que constatou a vistoria foi exata- acaso tenha a recorrente procedido de ma-
mente o contrário, não havia moinho algum neira diferente em relação a outros moinhos,
em funcionamento, razão por que não se o que admitimos somente para fins de ar-
podendo aferir capacidade de trabalho dos gumentação, não seria tal procedimento ou

142
a fundamentação constante do acórdão recor- prova física pelo fato de, na primeira, não
rido que sustariam a aplicação da lei, con- se terem encontrado os moinhos em condi·
soante o determinado pelo egrégio Supremo ções de a ela se sujeitarem.
Tribunal nos invocados precedentes. 2. Nesse mesmo sentido, aliás, se mani·
A matéria é exclusivamente de direito e, festou, quando Juiz Federal, o eminente Mi·
conforme salientamos, os acórdãos dos egré- nistro Jorge Lafayette, ao denegar mandado
gio Supremo Tribunal referentes à legalida- de segurança impetrado pela ora recorrida
de da prova física realizada pela Sunab, no contra a ora recorrente, examinando o mé·
decorrer do ano de 1967 e em obediência rito da questão.
ao disposto no Decreto-Iei nl? 210/67, não 3. O acórdão recorrido, no entanto, ten·
ensejam interpretação diversa e nem propi- do em vista que, em outros casos, a ora re·
ciam fundamentação conduzente à própria corrente deixou de vistoriar outros moinhos
negativa da lei, isto é, tornar sem efeito a para voltar a fazê-lo no final de 1967 e no
prova física em questão, mormente quando curso de 1968, entendeu que haveria trata-
no caso presente não se alegou irregulari- mento discriminatório e, com base nisso,
dade a prova em si mesma e nem o acórdão afastou a coisa julgada (seria fato posterior
recorrido assim também entendem. Circuns- a ela) e manteve a procedência da ação.
tâncias estranhas à prova física realizada 4. No tocante à coisa julgada, não foi
continuam estranhas à legalidade da própria essa matéria objeto do presente recurso ex-
prova física. Caso contrário, todas as pro- traordinário, que, no entanto, atacou a de·
vas físicas realizadas pela recorrente esta- cisão ora recorrida, alegando negativa de
riam sob o crivo do Poder Judiciário, não vigência do art. 15, § lI?, do Decreto-Iei nl?
sob o seu aspecto de legalidade intrínseca, 210/67 e dissídio com os acórdãos desta
que é o caso presente, mas sob os aspectos Corte a que me referi no início deste voto.
de oportunidade e conveniência para os esta-
E tem razão a recorrente quanto à nega-
belecimentos vistoriados em 1967.
tiva de vigência do art. 15, § lI?, do Decreto-
A lei federal foi negada e os acórdãos lei nl? 210/67, uma vez que, decidindo como
confrontados não deixam margem a dúvidas decidiu, o acórdão recorrido deixou de apli-
quanto ao dissídio, enfrentado que foi o en- cá-lo, e não poderia fazê-lo sequer com a ale-
tendimento do egrégio Supremo Tribunal a gação de que a recorrente não lhe dera exato
respeito da matéria. cumprimento com relação a outros moinhos.
Somos pelo conhecimento e provimento do Ainda que não se levasse em conta a ciro
recurso extraordinário, por ambos os per- cunstância de que as novas vistorias só ocor-
missivos constitucionais." reram porque os moinhos obtiveram na épo-
e o relatório. ca apropriada provimento de seus recursos
nesse sentido, o que não se verificou com
VOTO relação às ora recorridas, o que é certo é
que um erro - se é que houve, não entro
o Sr. Ministro Moreira Alves (Relator): nesse aspecto por não interessar ao deslinde
1. Esta Corte, ao julgar o RE nl? 74.165 da questão jurídica presente - não justifica·
(RTf, 62/270 e segs.) e o RE nl? 71.469 ria outro, até porque o entendimento do
(RTf, 64/142 e segs.), firmou, por seu Plená- acórdão recorrido leva ao absurdo de que a
rio, jurisprudência no sentido de que, em obrigatoriedade da lei dependeria do com-
face do disposto no art. 15, § lI?, do Decre- portamento da ora recorrente, bastando, pa·
to-Iei nl? 210, de 1967, desde 29.4.69 deve- ra isso, que esta deixasse de aplicá-la uma
riam estar os moinhos em condições de se vez.
submeterem à prova física para aferição de 5. Em face do exposto, e tendo em vista
sua capacidade real de moagem, razão por os precedentes desta Corte, conheço do pre-
que negam vigência àquele dispositivo de- sente recurso pela letra a do inciso 111 do
cisões que determinam a realização de outra art. 119 da Constituição Federal, e lhe dou

143
provimento para julgar improcedente a ação, outros). Recdas.: Cooperativa Agrícola Sano
condenadas as recorridas nas custas, com ta Tereza Ltda. e outras. (Advs.: Victório
a correção monetária (decorrente da Lei nQ Paludo, Cesar Arlei Paludo e outros).
6.899/81), e em honorários de advogado Decisão: Conhecido e provido nos termos
que fixo em 20% sobre o valor atribuído à do voto do Ministro Relator. Unânime. Fa-
causa, atento às circunstâncias aludidas no lou pelo Recte.: o Dr. José Mesquita Sano
§ 4Q do art. 20 do Código de Processo Cio tos. Falou pelas Recdas.: o Dr. Cesar Arlei
vil. Paludo. Falou pelo Ministério Público Fe-
deral o Dr. Mauro Leite Soares. 2~ Turma,
EXTRATO DA ATA 6.8.82.
Presidência do Sr. Ministro Djaci Falcão.
RE nQ 95.113-0 - RS - ReI.: Min. Mo- Presentes à sessão os Senhores Ministros Cor-
reira Alves. Recte.: Superintendência Nacio- deiro Guerra, Moreira Alves e Decio Miran-
nal do Abastecimento - Sunab. (Adv.: Mau- da. Subprocurador-Geral da República, Dr.
ro Barcellos Filho, José Mesquita Santos e Mauro Leite Soares.

SUNAB - COTAS DE TRIGO - PROVA FISICA

- Constitucionalidade do Decreto-lei nl} 210, de 1967, que auto-


riza a Sunab a proceder à verificação da capacidade de moagem
dos moinhos.
- Não há direito adquirido à cota anteriormente fixada se ela
não corresponder à capacidade do moinho.
- Prova física administrativa não pode ser substituída por pe-
rícia judicial.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


Sunab versus Indústrias Reunidas São Jorge S. A.
Recurso Extraordinário nQ 95.573 - Relator: Sr. Ministro
SoARES MUNoz

ACÓRDÃO Federal de Recursos, no despacho em que


inadmitiu os recursos extraordinários, ex·
Vistos, pôs a espécie, verbis:
Acordam os Ministros do Supremo Tribu- "Indústrias Reunidas São Jorge S. A. pro-
nal Federal, em Primeira Turma, por maio- pôs ação ordinária contra a Superintendên-
ria de votos e na conformdiade das notas cia Nacional do Abastecimento (Sunab) por
taquigráficas, conhecer do recurso e dar·lhe haver reduzido sua cota de moagem de tri-
provimento. go correspondente a 4.485.370 kg para
1.593.000 kg em 24 horas, ap6s vistoria que
Brasília, 3 de setembro de 1982. - Soares reputou unilateral e arbitrária, vez que já
Mufioz, Presidente e Relator. dispunha de um direito reconhecido pela
Administração que tornava defeso à autar-
RELATÓRIO quia-ré proceder a uma revisão na capacida-
de física de moagem da empresa.
o Sr. Ministro Soares Mufioz: O eminen- Após a contestação, diversas empresas se-
te Vice·Presidente Jarbas Nobre, do Tribunal diadas nos estados de São Paulo e Paraná

144

Você também pode gostar