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e Inclusão Social
FABAPAR
F A C U L D A D E S B A T I S TA D O P A R A N Á
Alan de Macedo Simões
Curitiba
2021
© Os direitos de autoria e patrimônio são reservados ao(s) autor(es) da obra e às Faculdades
Batista do Paraná (FABAPAR). É expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta
obra sem autorização da FABAPAR.
1.2 O Liceu......................................................................................................................... 12
1.3 Morte............................................................................................................................ 13
Síntese do Capítulo...........................................................................15
2. François Marie Arouet – Voltaire.................................................17
2.1 Iluminismo.................................................................................................................. 18
3. Olympe de Gouges........................................................................28
3.1 Olympe na Política................................................................................................... 30
Síntese do Capítulo...........................................................................38
4. As Ações Sociais na Prática, no Estado Moderno......................41
4.1 Otto Von Bismarck e a Previdência Social......................................................41
7. Ulysses Guimarães.......................................................................73
7.1 Regime Militar........................................................................................................... 74
Síntese do Capítulo...........................................................................90
Referências........................................................................................91
1. Introdução – O Surgimento do
Pensamento Social
1. Introdução – O Surgimento do
Pensamento Social
A Disciplina de Cidadania e Inclusão Social tem o foco em
compreender o processo moderno de valorização do cidadão. Na
elaboração deste estudo, foi realizado um recorte histórico e de conteúdo.
Dessa forma, a ideia aqui não é esgotar toda a compreensão, mas trazer-
lhe, dentro dos limites de tempo e espaço, daquilo que se compreende ser
o básico necessário sobre o tema.
Ao estudar as disciplinas de introdução ao conhecimento e as
disciplinas básicas de filosofia, bem como os conteúdos de história,
sociologia e filosofia do Ensino Médio, a Grécia Clássica sempre é evocada.
Não será diferente aqui.
Mas, antes, faz-se necessário explanar a metodologia proposta
para esta disciplina. Uma disciplina que foca no cidadão não poderia estar
centrada em outro foco que não o indivíduo.
Por isso, a metodologia adotada aqui será um tanto distinta das
demais disciplinas. Como as pessoas são diferentes e aprendem de um
modo diferente. Você não deixará de ver os conteúdos da disciplina, mas
passará pela biografia de pessoas icônicas nos temas abordados.
Por isso, a cada um dos seis capítulos deste livro, será trazida a
biografia de um ou mais personagens e, a partir dela, exposto o conteúdo
que se pretende abordar.
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FIGURA 1 – Busto de Aristóteles
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Dica
Sustenta, a respeito do homem, que sua busca seria pela felicidade. Tal
virtude seria alcançada, tão somente, por fazer o bem a outrem. É em
função desse desejo de felicidade, que passa pela necessária presença
do outro, que o homem aceitaria ser um ser social. Como todos estão
nessa corrida atrás da felicidade e ela depende do outro, a Ética e a
Política são naturais elementos reguladores do convívio. O Estado tem a
função de agir como um indivíduo, ou seja, de proporcionar a felicidade
ao próximo. Essa é a razão pela qual Aristóteles é veemente ao condenar
os regimes ditatoriais, pois considera-os como sendo a manifestação
da felicidade do indivíduo dominante e não o olhar à necessidade do
próximo. Do mesmo modo, a forma de governo mais adequada é a que
“permite a cada homem exercitar sua melhor habilidade e viver o mais
agradavelmente seus dias”.
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em relação ao Estado e seus ideais de justiça. Na mesma época, o Império
Persa invade a região, Herminias é crucificado e Aristóteles volta ao status
de estrangeiro.
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1.2 O Liceu
Já que ser estrangeiro foi o grande empecilho em sua vida, Aristóteles
retorna para Atenas. Lá, junto a Licio (templo dedicado ao deus Apolo),
Aristóteles funda uma escola, que, pela localização, passa a se chamar
Liceu. Além dos cursos estruturados, para os discípulos, Aristóteles fazia
palestras, aulas públicas para o povo em geral, o que gerava afluxo de
pessoas ao Liceu.
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1.3 Morte
Assim como sua vida, a morte de Aristóteles foi um tanto conturbada.
Alexandre, o Grande morre e começa uma grande perseguição à corte de
Alexandre e a seus apoiadores começa a ocorrer.
A cidadania está diretamente ligada à “vida boa”, uma vez que, como
Aristóteles afirma, apenas pode ser cidadão o ser humano virtuoso (Pol.,
III, I, 1276b) e aí se estabelece uma dialética, porque Aristóteles reconhece
que somente o humano virtuoso deveria ser livre, mas sabe que nem
todos na cidade são virtuosos, portanto, nem todos seriam merecedores
dessa liberdade.
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E aqui é interessante parar, antes de dar o passo para a definição de
cidadão, compreender o processo de criação de uma lei. Toda lei surge
(ou deveria surgir) a partir de um costume, sobre o qual a maioria das
pessoas pratica. A partir do momento em que cada um dos cidadãos
internaliza o costume, naturalmente o cidadão (aqui como sinônimo de
homem público), normatiza esse costume, impondo as penalizações
e respostas coercitivas ao que não respeita determinado costume.
Evidentemente, alguns costumes não são regulamentados, o hábito de
esperar em uma fila, por exemplo, não tem lei que a determine, mas é
uma norma socialmente acatada. Outras, como a sinalização de trânsito,
ainda que possa se chamar de modo diferente, (sinal, sinaleiro, semáforo,
sinaleira ou farol ou ainda outro regionalismo qualquer), todos sabem o
que deve ser feito na luz vermelha, na amarela e na verde. No Brasil, diz-se
que há leis que pegam e outras que não pegam, essa é a razão, quando
há a criação de imposições legais que não refletem o costume e não
conseguem criar um novo costume, o desrespeito à norma imposta é tão
genérico que a lei perde sua efetividade.
Saiba Mais
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Essa é a razão pela qual Aristóteles, estrangeiro na terra de Platão,
não ensinava em sala de aula (seria inaceitável um estrangeiro ensinar).
Aristóteles ministrava no operipatos (passeio em grego), um pátio
interno e, em função disso, seus ensinamentos ficam conhecidos como
peripatética.
Síntese do Capítulo
Neste capítulo vimos a importância de Aristóteles na História, assim
como as relações e relevância de seus escritos e obras. Ele fundou sua
própria escola, chamando-a “Liceu”, e sua figura é ainda relevante para
os dias atuais diante de suas obras, conceitos e escritos sobre política,
cidadania e poder público.
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2. François Marie Arouet – Voltaire
2. François Marie Arouet – Voltaire
FIGURA 4 – Élémens da Filosofia de Neuton
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instituições de ensino da França, instituição essa que funciona até hoje,
na 123 Rue Saint-Jacques. Por mais que tenha iniciado, não chegou a
terminar o curso de Direito.
2.1 Iluminismo
Voltaire frequentou a Société du Temple, clube que reunia libertinos
e livres pensadores. Nessa época, os avanços na área da economia,
cultural e ciência levaram à crença de que o destino da humanidade era
o progresso e que a revolução estava muito além da retirada do poder
das mãos do monarca. Essa fase sedimentou uma expressão do que se
chamou de Ancien Régime. Esse termo tem sua utilização na Revolução
Francesa e o responsável pela sedimentação da expressão foi Alexis
de Tocqueville, autor do ensaio O Antigo Regime e a Revolução. Dessa
obra, surge o trecho: "a Revolução Francesa batizou aquilo que aboliu" (la
Révolution française a baptisé ce qu'elle a aboli). (TOCQUEVILLE, 1856).
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político da igreja. Evidentemente há pensadores iluministas ateus, alguns
combatentes do cristianismo e da fé, mas há também defensores da
fé, como Diderot. Em suma, o iluminismo não tem a fé como base de
sua doutrina e, suas proximidades e afastamentos são tão-somente,
manifestações pessoais de cada pensador.
Frase de Voltaire: Escrevo-vos uma longa carta porque não tenho tempo
de a escrever breve.
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Sua obra Édipo demonstrava que Voltaire condenava o Absolutismo.
Passou a defender a ideia de que a Monarquia deveria ser assessorada por
filósofos, e juntos eles deveriam realizar reformas seguindo os interesses
da sociedade. Embora afirmasse que “todo homem tem o direito de
acreditar ser igual aos outros homens”.
Saiba Mais
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FIGURA 6 – Túmulo de Voltaire
Legenda: Túmulo de Voltaire, no Pantheón de Paris,
datando do ano 1791. Artista autor da escultura
desconhecido. Imagem disponível em: <https://www.
viajoteca.com/uma-visita-ao-pantheon-em-paris/>
21
para que este não morra de fome. A política assistencialista romana ficou
conhecida como Panem et circenses (Pão e circo). Há, inclusive, uma
frase que é atribuída à Maria Antonieta, na autobiografia de Rousseau.
Saiba Mais
22
Evidentemente, a assistência social é um passo para a cidadania
e, em uma sociedade em que nada disso for oferecido, é melhor a
assistência que nada. Mas o pleno exercício da cidadania não se encerra aí.
É justamente na busca desse protagonismo do indivíduo que os recortes
foram estabelecidos e as personalidades aqui apresentadas mostram
esses pontos. Perceba que a história não se constrói sozinho, por isso,
sempre haverá outros personagens dos mesmos momentos históricos
e também podem haver outros lugares e fatos que corroborarão ao seu
estudo. Dentro do Iluminismo, de forma muito genérica, pode-se destacar:
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legitima o governo que tem por função única regular essas tensões e
manter a igualdade e a liberdade que a natureza fornece ao homem.
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Isso demonstra que a Assembleia sabia da necessidade dessa
declaração e que este texto entraria para a história. Segundo Georges
Lefebvre (1958) apud Bobbio (1992, p. 85): “proclamando a liberdade, a
igualdade e a soberania popular, a Declaração foi o atestado de óbito do
Antigo Regime, destruído pela Revolução”.
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são ameaçados, ou seja, quando surge uma ameaça ou sinais de violação
à liberdade, propriedade ou à segurança, que são direitos primários.
As ideias de Rosseau sobre a propriedade privada não prosperam e
o texto acaba firmando a ideia dos demais contratualistas, já que o texto
considera a propriedade como sendo um “direito inviolável e sagrado,
ninguém pode ser dela privado, a menos que seja de utilidade pública
legalmente constatada e sob condição de justa e prévia indenização”.
Sobre a Declaração, em seu livro, Noberto Bobbio descreve que:
A Declaração, desde então até hoje, foi submetida a duas críticas
recorrentes e opostas: foi acusada de excessiva abstratividade
pelos reacionários e conservadores em geral; e de excessiva
ligação com os interesses de uma classe particular, por Marx e
pela esquerda em geral. (BOBIO, 1992, p. 97)
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3. Olympe de Gouges
3. Olympe de Gouges
Olympe de Gouges é o pseudônimo de Marie Gouze, nascida em
1748, em Montauban, no sul da França. Seu pai era um açougueiro e sua
mãe serviçal. Em que pese ter uma origem extremamente humilde e sem
nenhuma ligação com a nobreza, ela se torna uma das personagens mais
importantes da Revolução Francesa. Casa-se cedo, aos 16 anos, com
Louis Aubry, com quem teve um único filho, Pierre. Após apenas um ano
de casada, seu marido morre e em 1770, Marie Gouze muda-se para Paris
com o filho pequeno para viver junto da irmã mais velha. A mãe idosa
permanece vivendo em Montauban e Marie constantemente enviada um
suporte financeiro à ela. Foi em 1773, residindo já em Paris, que adotou o
pseudônimo Olympe de Gouges, mesmo tendo publicado alguns escritos
com assinatura “Marie-Olympe”.
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sistematicamente. Ela nunca foi oficialmente reconhecida por ele, fato que
pode ter inspirado alguns de seus ideais políticos, uma vez que também
lutava pelos direitos dos filhos ilegítimos, sustentando que eles teriam
os mesmos direitos que filhos legítimos e reconhecidos. Seus escritos
eram controversos à época, já que defendiam relações sexuais fora do
casamento e o divórcio.
Curiosidade
Por ser voz em um tempo em que esses temas não eram debatidos
e a sociedade era extremamente patriarcal e conservadora, o pensamento
de Olympe de Gouges toma ressonância como inovador e é considerado
relevante até hoje, na história da França e principalmente, do feminismo.
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3.1 Olympe na Política
Em uma tentativa de manutenção da monarquia, houve a
convocação da Assembleia dos Estados Gerais, em que nobres, membros
do clero e do terceiro estado receberam o convite para realizarem parte
das reformas governamentais, com vista a acalmar as revoltas ocorrentes
em todo o país e estabelecer um governo fixo, ainda que com a cessão de
alguns poderes, tal qual a Revolução Gloriosa, na Inglaterra.
30
Sua forte influência política, proximidade com os Girondinos e sua
obra Les trois urnes ou le salut de la patrie causaram sua prisão em 1793,
momento em que os Jacobinos dominavam a França e buscavam eliminar
seus antigos apoiadores. Ideologicamente não coadunava das mesmas
ideias de igualdade e liberdade defendida pelos Girondinos, mas estes
a permitiam falar. Os Girondinos defendiam uma igualdade literalmente
entre os homens, excluindo o sexo feminino, o que para ela não constituía
uma igualdade real. Foi por esta razão que seus manifestos passaram a
favorecer a inclusão feminina na Revolução, até mesmo com armas, na
construção de um novo governo.
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révolutionnaire e Une patriote persécutée), de maneira clandestina, para
fora da prisão. Nos dois textos, exerce sua defesa das acusações postas.
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O nome de Olympe de Gouge foi levantado, considerando seus
esforços pelos direitos das mulheres, dos filhos ilegítimos e dos negros.
Porém, não foi escolhida, e as razões para isso acredita-se que sejam por
suas obras defenderem princípios que vão de encontro ao que defende o
forte movimento de costumes patriarcais. Assim, para evitar uma reação
popular conservadora no momento de instabilidade que vivia a França,
considerou-se que suas obras eram contrárias a todos os costumes
patriarcais tanto de seu século quanto do século XXI. E, ainda que seu
nome fosse, aprovado, o enterro seria cerimonial apenas, considerando
que é desconhecido o paradeiro de seus restos mortais.
Para fugir da guilhotina, seu filho Pierre Aubry a renegou. Por esta razão
não pôde reclamar o corpo de sua mãe, que deve ter sido destinado à uma vala
comum, juntamente com grande parte das vítimas de guilhotina da época.
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A igualdade pleiteada por Olympe é, justamente, nesse sentido, de
que todos sejam tratados em igualdade, inclusive as mulheres. É preciso
notar que seus manifestos buscavam a plena igualdade, respeitadas
as particularidades de cada um. Olympe está em um campo fértil, uma
sociedade que está se reinventando, saindo do ancien regime. Para
compreender sua obra, é preciso compreender sua contemporaneidade
com Voltaire (capítulo anterior). Não é um juízo de ponderação um ser
melhor que o outro, mas de perceber o valor dado a um discurso e a outro,
qual foi tomado em consideração e qual não.
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A luta pela igualdade da mulher encontra sérias resistências,
especialmente dos poderes institucionalizados e que, em verdade,
assume dois pontos que precisam ser distintos. A luta pela inclusão
social e igualdade de tratamento deve ser respeitada e incentivada, a
face combativa, de exaltação de um lado em detrimento de outro deve
ser evitada (seja a exaltação do dominante ou a exaltação do dominado).
Portanto, é preciso olhar exatamente mais de perto para as tentativas de
integrar e enfraquecer as reivindicações das mulheres como a de uma
sociedade inclusiva, onde as pessoas, e especialmente as mulheres,
podem falar o que pensam e viver as suas escolhas.
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A situação indigna pela qual as mulheres do século XVIII eram
submetidas pode ser vista em diversos trechos de A Vindication of the Rights
of Woman, Wollstonecraft. O texto critica pesadamente o pensamento de
Jean-Jacques Rousseau. Tem-se em Emílio ou Da Educação uma proposta
de uma maneira radical de educação, em que Emílio seria um ser puro,
bom naturalmente e capaz de sobrepor adversidades, mantendo a fé em
seus instintos. Mas esse processo educacional é completamente distinto
do proposto para a futura esposa de Emílio, Sophie. Rousseau sugeria que
Sophie, para ser uma boa esposa, deveria ser treinada, quase adestrada,
para controlar seus impulsos. Sustenta que a boa esposa mantém um
estado permanente de dependência do marido, apresentando-se sempre
altiva, recatada, disposta a atender o marido e contida no seu trato. O
autor escreve em Emílio:
A coisa mais desejada em uma mulher é a delicadeza; formada
para obedecer a uma criatura tão imperfeita quanto o homem
(...) ela deve aprender desde cedo a se submeter à injustiça e a
sofrer os erros impostos a ela pelo seu marido sem reclamar.”
(ROUSSEAU, 2004, p. 76).
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A defesa de Rousseau, então, era a de que as mulheres deveriam
receber uma educação que as tornassem em serviçais, sendo delicadas,
e agradáveis, subservientes e dedicadas a servir seu marido, já que o
homem estaria ocupado com os afazeres racionais.
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mais igualdade de gêneros. No século XVIII, com autores como William
Alexander, Mary Astell, Catharine Macaulay e a própria Mary Wollstonecraft,
finalmente as mulheres começariam a levantar tais questionamentos.
Síntese do Capítulo
Até este momento, foram vistos ideários e visionários. Os pensadores
apontados não conseguiram plenamente efetuar políticas ou medidas de
implementação. Ou seja, Aristóteles, Voltaire e Olympe de Gouges tem seu
valor inequívoco. Mas não conseguiram uma efetividade em tornar seus
ideais em verdade.
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Aristóteles sustentou que a vida em sociedade demandava atitudes
políticas, na essência, de pólis mesmo. Ou seja, para viver em sociedade
é preciso pensar na sociedade e no papel individual contributivo da
sociedade, já que ela é a força-motriz de nosso arranjo, crescimento e
força. A coletividade se torna mais importante que o indivíduo, porque
uma sociedade forte protege o indivíduo.
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4. As Ações Sociais na Prática,
no Estado Moderno
4. As Ações Sociais na Prática, no Estado
Moderno
Até este momento, temos vistos ideários e visionários. Os
pensadores apontados não conseguiram plenamente efetuar políticas
ou medidas de implementação. Ou seja, Aristóteles, Voltaire e Olympe de
Gouges tem seu valor inequívoco. Mas não conseguiram uma efetividade
em tornar seus ideais em verdade.
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FIGURA 8 – Otto Von Bismarck
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Bismarck desconfiava das ideias liberais do seu tempo como
sufrágio universal, maior poder de decisões ao Parlamento e liberdade de
imprensa. Por isso, praticava o que se denominou Realpolitik. Uma das
frases que sintetiza bem sua personalidade política é “A liberdade é um
luxo a que nem todos se podem permitir.” Desta maneira, ao ser nomeado
primeiro-ministro, Bismarck dissolve o Parlamento, decreta censura aos
jornais e começa a promover a unificação alemã a “ferro e sangue”.
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FIGURA 9 – Mapa da Confederação Alemã 1815-1866
4.1.2 Guerras
Para convencer os estados alemães a se juntar ao projeto prussiano,
Bismarck recorre à propaganda política de caráter bélico. Sempre insistia
nos “valores militares” alemães em detrimento dos valores artísticos ou
humanísticos, por exemplo. Desta maneira, provoca sucessivamente
guerras com a Dinamarca, a Áustria e a França. Estes conflitos
desenvolvem a crescente indústria pesada alemã transformando-a na
melhor do mundo.
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recebeu grandes investimentos para desenvolver novas armas e melhorar os
demais equipamentos utilizados pela infantaria. A Prússia estava preparada
para levar a cabo a sua estratégia de pressionar o Império Austríaco e os
demais Estados menores de cultura germânica a cederem à unificação.
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a França condenada a pagar indenizações e entregar importantes regiões
ricas em carvão.
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de regulador. Esse modelo excluía grande parte da população ao acesso
à proteção social pois quem não contribuía não tinha direito a nenhum
benefício. Sua função era indenizatória compensava parcialmente o
indivíduo em caso de desemprego e redução de salário. Esse sistema
abrangia os riscos sociais tais como: seguro doença, proteção contra
acidentes, seguro contra invalidez e velhice.
Verdade que tal medida era uma medida foi bastante inovadora e
trouxe à Bismarck muita popularidade e aceitação da população, ainda
que tenha tido pouca efetividade. E a pouca efetividade se deve porque
a aposentadoria seria concedida aos 65 anos, mas a expectativa de vida
da população era de 45, semelhante a lei abolicionista do sexagenário,
no Brasil. Essa é, historicamente, a medida consagrada como início do
sistema de previdência social.
No campo da previdência privada, há relatos que a American Express
já oferecia planos desde 1875. Consta também que em 1882, a Ferrovia
Baltimore e Ohio introduzira seu primeiro plano de aposentadoria, financiado
com contribuições de empregadores e dos próprios trabalhadores. Fico
com o pioneirismo alemão por sua abrangência e pelo maior número de
relatos referindo Bismarck como precursor moderno da aposentadoria.
Bismarck também sistematiza um sistema de aposentadoria dos
oficiais do exército e da marinha (a força aérea alemã foi criada apenas
em 1910). Contudo, o oficialato era ocupado, quase em sua totalidade, por
membros das famílias mais abastadas e tradicionais.
“Aqueles que estão incapacitados para trabalhar por idade ou
invalidez têm o direito de serem cuidados pelo Estado”, disse Bismarck
em discurso na ocasião. Seus críticos lhe indicaram que a medida era
“socialista”. O nobre prussiano retrucou: “Pode chamar de socialista ou do
nome que quiser. Não estou nem aí”.
Bismarck, conhecido como “o chanceler de ferro”, não era um
filantropo, nem estava preocupado com o bem-estar de seus cidadãos.
Mas temia as revoltas sociais que afetavam a Europa. Dessa forma,
tomou a medida, inédita na época. Essa foi a primeira vez na história do
planeta que um Estado determinou que pagaria uma mensalidade para as
pessoas que vivessem acima de determinada faixa etária.
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Até esse momento as pessoas precisavam trabalhar até morrer. Não
se aposentavam. Os que haviam tido uma série de circunstâncias favoráveis,
conseguiam juntar dinheiro e com isso sobreviviam até falecer. Os demais
precisavam ser sustentados por seus filhos (se os tivessem) ou parentes.
Essa é a razão pela qual, inclusive, tradicionalmente as famílias possuíam
uma elevada prole. Ter muitos filhos nessa época trazia duas possibilidades,
a primeira era que aumentavam as probabilidades de mais de um filho chegar
à idade adulta e a segunda, o “custo” de sustento dos pais poderia ser dividido
e assim garantir uma vida um pouco mais digna a todos.
É a partir de tal iniciativa que outros países também adotam como
política de Estado a preocupação de criação de um sistema que seja
solidário e contributivo, ou seja, que as pessoas economicamente ativas
contribuam em um sistema que assista a sociedade como um todo e,
também, garanta-lhes a assistência no futuro.
48
5. Epitácio Pessoa
5. Epitácio Pessoa
Epitácio Pessoa (1865-1942) foi um político brasileiro, Presidente da
República do Brasil entre 28 de julho de 1919 e 15 de novembro de 1922.
5.1 Formação
Epitácio Pessoa estudou no Ginásio Pernambucano e diplomou-se
em Direito pela Faculdade de Direito do Recife em 1886, esta faculdade,
juntamente com a do Largo São Francisco em São Paulo, é a mais antiga
e mais tradicional do Brasil, sendo fundada pelo próprio Imperador Dom
50
Pedro I. Com apenas um ano de graduado, foi nomeado promotor público
na cidade do Cabo. Decidido a exercer a promotoria em Minas Gerais
ou em São Paulo, em 1889, pediu demissão e solicitou, através de seu
tio, uma audiência com o Imperador Dom Pedro II. Partiu para o Rio de
Janeiro, chegando dois dias antes da Proclamação da República.
51
FIGURA 11 – Conferência de Paz em Versalhes – França
Legenda: ORPEN, William. The Signing of Peace in The Hall of Mirrors. 1919. 1 Óleo
sobre tela. Colorido, 1524mm x 1270mm, Versailles – França, Coleção do museu IWM
London. Disponível em: https://www.iwm.org.uk/collections/item/object/20780. Acesso
em: 03 de ago. 2020.
52
5.3 Presidente da República
Em 1918, Rodrigues Alves foi eleito, pela segunda vez, Presidente da
República, mas não pôde assumir o cargo, pois adoeceu e faleceu em 18 de
janeiro de 1919. Ele falece de uma anemia decorrente da gripe espanhola.
Seu Vice-Presidente, Delfim Moreira, assume o mandato e, como previa a
Constituição da época e de hoje, o presidente em exercício deveria convocar
novas eleições. Epitácio ainda se encontrava em Paris, por ocasião do
Tratado de Versalhes, mesmo assim seu nome entra na disputa.
53
oposição, Epitácio Pessoa assinou a “lei da repressão ao anarquismo”,
conseguindo reprimir as revoltas operárias que proliferavam pelo mundo
todo, inflamados pela Revolução Russa, de 1917.
Curiosidade
54
FIGURA 12 – Tenentes em marcha
55
5.6 Epitácio Pessoa e a Atenção Social
A grande e relevante participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial,
com os pracinhas da Força Aérea Brasileira e da Força Expedicionária
Brasileira, é inegável. Os brasileiros conseguiram feitos na Itália que outros
exércitos maiores e mais equipados não lograram. Mas, o Tratado de
Versalhes é o tratado assinado para e pelo fim da Primeira Guerra.
56
FIGURA 13 – Manchete do jornal “A Época”
#Pracegover: Foto do jornal “A Época” do ano 1917 com título “O Brasil na Grande Guerra”.
57
Sobre o projeto de previdência, o que havia era o Plano dos Oficiais
da Armada (Marinha), criada em 1793 por Dom João VI, que garantia
aos oficiais da Marinha, quando mortos em combate, uma pensão e um
enterro custeado pela Força.
A população que tivesse condições poderia, desde 1830, contratar
empresas privadas, como a Sociedade Animadora da Corporação dos
Ourives. Basicamente essas empresas forneciam o que hoje é conhecido
como os Planos de Previdência. Em 1835, uma empresa chamada de
Montepio da Economia dos Servidores do Estado, que hoje ainda atua e
se chama Mongeral, faz o primeiro plano de previdência.
É por ocasião do cumprimento do tratado de Versalhes que o Estado
brasileiro começa a, efetivamente, implementar um plano de previdência
e proteção social e de respeito às leis trabalhistas. O primeiro plano
estado era de aposentadoria e pensões dos ferroviários. A segunda lei
era para a marinha mercante e para os marinheiros fluviais. Os planos
eram comuns, um desconto de 3% do salário dos servidores, 1% da renda
bruta dessas empresas e 1% que era repassado pelo governo sobre o que
essas empresas recolhiam a título de impostos. Perceba que até esse
ponto, o trabalhador assistido era o que deixava a sua casa (ferroviários,
marinheiros civis e militares).
Em 1928, cria-se o plano para os comerciários e, com a chegada
da década de 1930 e o processo de industrialização de Getúlio Vargas,
com a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, é reunida
a grande variedade de leis trabalhistas (por isso que a reunião das leis
trabalhistas de clamada da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). É
assim que se consolidam as leis trabalhistas e sistemas de assistência
social, em que não apenas as pensões e aposentadorias eram regidas,
mas todo o sistema de assistência social. Primeiro reunido em torno do
INPS, depois INAMPS e atualmente o INSS.
É dessa forma que se estabelecem as primeiras políticas públicas
de assistência à população brasileira que estejam além do fisiologismo.
O sistema é pensado, assim, de forma mista, envolvendo o custeio
pela população (pessoas físicas), pela iniciativa privada (empresas e
companhias) e pelo poder público (pelo estado que repassa recursos
arrecadados em impostos e tributos).
58
Todo esse grupo de ações, principiada pelo atendimento social,
passando ao Sistema de Previdência Social e demais ações são chamadas
de Ações Afirmativas. O debate público a respeito das ações afirmativas
no Brasil tem sido marcado por cinco dilemas e tensões.
Curiosidade
59
“raça/etnia”. Aqui a tensão envolve, de um lado, o branco pobre, e, de
outro, o afrodescendente de classe média. Ora, a complexa realidade
brasileira vê-se marcada por um alarmante quadro de exclusão social e
discriminação como termos interligados a compor um ciclo vicioso, em
que a exclusão implica discriminação e a discriminação implica exclusão.
Outra tensão diz respeito ao argumento de que as ações afirmativas
gerariam a “racialização” da sociedade brasileira, com a separação
crescente entre brancos e afrodescendentes, acirrando as hostilidades
raciais. Quanto a esse argumento, cabe ponderar que, se “raça” e “etnia”
sempre foram critérios utilizados para exclusão de afrodescendentes no
Brasil, sejam agora utilizados, ao revés, para a sua necessária inclusão.
Um quinto dilema, especificamente no que se refere às cotas para
afrodescendentes em universidades, atém-se à autonomia universitária e à
meritocracia, que restariam ameaçadas pela imposição de cotas. Contudo,
o impacto das cotas não seria apenas reduzido ao binômio inclusão/
exclusão, mas também permitiria o alcance de um objetivo louvável e
legítimo no plano acadêmico – que é a riqueza decorrente da diversidade.
As cotas fariam com que as universidades brasileiras deixassem de ser
territórios brancos, com a crescente inserção de afrodescendentes, com
suas crenças e culturas, o que em muito contribuiria para uma formação
discente aberta à diversidade e pluralidade.
Curiosidade
Em 2007, os irmãos gêmeos Alex e Alan prestaram vestibular na
Universidade de Brasília (UnB). Ambos optaram pelo sistema de cotas
raciais que reservava, à época, 20% de suas vagas a afrodescendentes e
pardos. Ambos tiraram foto no mesmo dia e local. Alan foi considerado
pardo, portanto, com direito à cota, Alex foi considerado branco, sem
direito à cota. Eles são gêmeos idênticos, ou seja, univitelinos, fruto
do mesmo óvulo e do mesmo espermatozoide que, no processo
de gestação, dividiu-se em dois fetos. Portanto, são geneticamente
idênticos. São filhos de um homem negro e de uma mulher branca.
Essa questão, que se pode notar, repercutiu significativamente na mídia
e demonstra a necessidade de estabelecimento de regras mais claras
para a implantação de tais políticas.
60
Dados do IPEA revelam que menos de 2% dos estudantes
afrodescendentes estão em universidades públicas ou privadas. Isso faz com
que as universidades sejam territórios brancos. A universidade é um espaço
de poder, já que o diploma pode ser um passaporte para ascensão social.
É fundamental democratizar o poder e, para isso, há que se democratizar o
acesso ao poder, vale dizer, o acesso ao passaporte universitário.
1 “Ipea afirma que racismo só será combatido com política específica”, Folha de S.
Paulo, p. A6, 8 jul. 2001.
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urgente a aplicação de medidas eficazes para romper com o legado
histórico de exclusão étnico-racial e com as desigualdades estruturantes
que compõem a realidade brasileira.
62
6. Martin Luther King
6. Martin Luther King
Martin Luther King Jr. (1929-1968) foi um pastor batista americano.
Ficou conhecido por ser um dos principais líderes negros na luta contra a
discriminação racial nos Estados Unidos. Sua ênfase era na obtenção de
salários dignos e mais postos de trabalho para a população negra. Além
disso, defendeu os direitos das mulheres e foi contra a Guerra do Vietnã.
Morre assassinado em meio a esta luta.
Legenda: CRAVENS, Don. King descreve estratégias para o boicote aos ônibus em
Montgomery, no Alabama. Disponível em: https://edition.cnn.com/interactive/2018/04/
us/martin-luther-king-jr-cnnphotos/. Acesso em: 03 de ago. 2020.
64
6.1 Biografia de Martin Luther King
Martin Luther King Jr. nasceu em Atlanta, que é a capital do estado
da Geórgia. A cidade fica localizada no principal centro cultural, econômico
e político do país e é a nona zona mais populosa. É nesse contexto que
Dr. King cresce, é educado. Tanto seu avô como seu pai eram pastores da
igreja batista, e Martin resolveu seguir por este caminho. Graduou-se em
sociologia na “Morehouse College”, em 1948, Martin Luther King continuou
seus estudos no Seminário Teológico Crozer, em 1951. Posteriormente,
em 1955, fez doutorado em Teologia Sistemática pela Universidade de
Boston, cidade ao norte e ocasião na qual conheceu sua futura esposa,
Coretta Scott King, com quem teve quatro filhos.
Após seus estudos teológicos, King serviu como pastor numa igreja
em Montgomery, no estado de Alabama. Integrou a “Associação Nacional
para o Progresso das Pessoas de Cor” (NAACP, na sigla em inglês). É
preciso perceber que o Dr. King cresceu e conviveu em um ambiente de
profunda segregação, o sul americano, mas começa sua atividade de
modo significativo quando vai ao norte, a Boston, cuja cultura era distinta.
Evidentemente não há como afirmar se a luta é resultado de uma consciência
que se adquiriu apenas ao conhecer a situação ao norte ou se sua ida ao
norte motivou a ver um mundo mais igualitário. Evidentemente, não havia
um ambiente perfeito ao norte, mas era, indubitavelmente mais brando.
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Frase de Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o
silêncio dos bons.”
públicos. Durante este tempo, King foi preso, sua casa bombardeada e
sofreu diversos atentados. Este não foi o seu único ato, Dr. King foi um
dos fundadores da “Conferência da Liderança Cristã do Sul” (SCLC, na
sigla em inglês), de 1957, sendo seu primeiro presidente, mantendo-
se na presidência até sua morte. A princípio, a CLCS era integrada por
comunidades negras ligadas às igrejas batistas.
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das autoridades e grupos racistas como a Ku Klux Klan, que atacavam com
violência seus partidários e o próprio King. Também encontrou resistência
entre outros grupos de ativistas negros que usavam métodos e/ou
discursos violentos como os “Panteras Negras” e o muçulmano Malcon-X.
Dica
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Tenho um sonho, hoje. Tenho um sonho que um dia o estado
de Alabama, com os seus racistas malignos, cujos lábios do
governador atualmente pronunciam palavras de recusa, seja
transformado numa condição onde pequenos rapazes negros, e
moças negras, possam dar-se as mãos com outros pequenos
rapazes brancos, e moças brancas, caminhando juntos, lado a
lado, como irmãos e irmãs. (NSC TOTAL, 2013, SP).
Em que pese a disciplina estar caminhando para compreender o
sistema brasileiro, a biografia do Pr. Martin Luther King não poderia passar
incólume. Sua luta é recente e ainda há pontos a serem conquistados
nos Estado Unidos. Evidentemente, a luta americana possui similitudes e
distanciamentos da cultura brasileira.
Curiosidade
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sistema emana da Federação, da União Federal. No caso estadunidense,
não é assim. Um exemplo simples, há estados em que há pena de
morte, outros não (com uma variação de aplicação das mais variadas).
Há estados em que há restrições quanto à bebida alcoólica, outros não.
Em Utah, estado de origem e de grande presença e influência mórmon, é
proibido o consumo de bebidas alcoólicas em qualquer lugar que não na
própria residência. Na Flórida, seu consumo na rua é permitido.
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As políticas de ação afirmativa vão provocar muita resistência,
vez que se inserem, exatamente, no sistema estabelecido contestando
conflitam não apenas a meritocracia. Elas provocam a reflexão sobre o
valor de povo com famílias completamente miscigenadas convive sob uma
aparente harmonia racial e com um sistema legal que não faz qualquer
discriminação racial. As leis de segregação no Brasil são, todas, extintas a
mais de um século e não há oficialmente, nenhum brasileiro vivo que seja
anterior à Lei Áurea (1888). Dessa forma, aparentemente, todos estariam em
pé de igualdade no país. Bem como, de modo genérico, todos os brasileiros
tem algum parente, ascendente ou colateral, miscigenado. Não é incomum
ouvir que todo brasileiro tem um “pé na senzala”. Essa expressão vem da
obra, Casa-grande e senzala, de Gilberto Freyre e influenciou essa imagem
positiva do brasileiro sem uma raça específica. A essência da sua reflexão
era tentar responder uma questão central: Como poderiam existir diferentes
raças em um país tão densamente miscigenado?
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visão, carregaria apenas as desvantagens, porque ele tem um pouco do
dominante, não podendo se valer da posição de subjugado, mas ele não é
tão puro quanto a elite.
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7. Ulysses Guimarães
7. Ulysses Guimarães
Ulysses Silveira Guimarães (1916-1992), muito conhecido
como Dr. Ulysses, foi um político brasileiro, um dos protagonistas da
redemocratização do Brasil. Mais de uma vez foi candidato à presidência,
todavia, nunca foi eleito. Foi presidente do MDB, que posteriormente
passou a se chamar PMDB (único partido de oposição durante o Regime
Militar) e foi o presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1988.
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Em 1961, ocorreu a renúncia do presidente Jânio Quadros, com,
então, apenas oito meses de mandato. À época, os vice-presidentes eram
eleitos em voto separado do presidente. O mundo vivia em plena Guerra
Fria e o vice-presidente eleito era João Goulart, que tinha explícitas relações
com os países não alinhados, comunistas. Em função disso, instalou-se
uma grave crise no Brasil. O congresso exige uma declaração de João
Goulart (que estava na China no dia da renúncia de Jânio Quadros) em que
se oporia ao comunismo, o que é recusado por ele. Diante da crise, Ulysses
Guimarães votou a favor da Emenda Constitucional nº 4 que instituiu o
parlamentarismo no país. O novo sistema garantiu a posse do vice João
Goulart na presidência, tendo Tancredo Neves como primeiro-ministro.
Durante o governo de João Goulart, foi Ministro da Indústria e Comércio, no
gabinete do primeiro ministro Tancredo Neves. Em 1962, com a remoção
de Tancredo Neves da posição de Primeiro Ministro, exonerou-se do cargo,
junto com todo o gabinete e retornou à Câmara Federal.
74
sétima vez consecutiva. O MDB elegeu 15 senadores nas 21 vagas e 165
vagas entre os 364 deputados federais, dessa forma, eram a maioria em
todo o congresso.
Curiosidade
75
FIGURA 15 – Ulysses Guimarães foi ameaçado com armas e cachorros
#Pracegover: Soldado fazendo sinal para Ulysses Guimarães parar, com demais soldados
em volta.
7.2 Diretas Já
Em 1982, o movimento pelo voto direto começa a tomar força.
Começam a surgir em uma série de cidades comícios e passeatas com o
slogan “diretas já”, Curitiba é considerado o palco inicial desse movimento.
Ulysses Guimarães, presidente do PMDB convocou uma reunião com
todos os presidentes estaduais do partido. Alvaro Dias, presidente no
Paraná, organizou, em 12 de janeiro de 1984. Cerca de quarenta mil
pessoas se reuniram na Boca Maldita (região central da cidade) em um
grande comício. O então prefeito Maurício Fruet declarou que essa foi “a
maior concentração política da história da cidade”.
76
Essa proposta de Emenda, que seria a grandiosidade da virada do Sistema,
foi rejeitada. Então, em 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves foi eleito
presidente pelo Congresso Nacional. Em que pese ser um avanço, não foi.
Esperado porque foi eleito por voto indireto.
Sua posse estava marcada para o dia 15 de março, mas na noite do dia
14, Tancredo foi internado às pressas em um hospital em Brasília. Sarney foi
empossado interinamente na presidência. Uma série de boletins médicos
desencontrados são publicados e, em 21 de abril de 1985, Tancredo morre,
oficialmente de uma hemorragia oriunda de uma diverticulite.
77
Curiosidade
78
Curiosidade
79
7.3 A Promulgação da Carta Magna
A fim de apresentar o momento e a emoção do Dr Ulysses na
Promulgação da Constituição, aqui há trechos do discurso do pai da
Constituição no momento do nascimento dela. Ulysses Guimarães
externou o recebimento do novo Brasil nos termos de um discurso
inflamado; pensado, preciso e assertivo; mas tomado de emoção.
80
Num país de 30 milhões, 401 mil analfabetos, afrontosos 25 por
cento da população, cabe advertir a cidadania começa com o
alfabeto. Chegamos, esperamos a Constituição como um vigia
espera a aurora.
Não roubar, não deixar roubar, por na cadeia quem roube, eis o
primeiro mandamento da moral pública. Não é a Constituição
perfeita. Se fosse perfeita seria irreformável.
81
Ela própria com humildade e realismo admite ser emendada
dentro de cinco anos. (CÂMARA DOS DEPUTADOS, S/D, sem
paginação).
82
FIGURA 16 – Foto da sessão solene de promulgação da Constituição,
em 05 de outubro de 1988
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Uma série de mudanças ocorreram. No caso da separação de
poderes, formalmente, ela se manteve. A teoria da Separação dos Poderes,
desenvolvida por Montesquieu, traz a autonomia de cada Poder, sendo que,
entre eles, a existência deve ser respeitada por cada um dos outros poderes
e exercida com independência, mas sem sobrepor as competências do
outro. Ao mesmo tempo, em que há uma interdependência para que
um controle o outro e, dentro desta caminhada, a harmonia do Poder
Executivo, Legislativo e Judiciário são de igual valor e controlado pelos
outros poderes, sendo, assim, autônomos e complementares.
Saiba Mais
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7.5 Divisão dos Poderes (Sistema de Freios e
Contrapesos)
Essa coexistência autônoma e complementar, é explicada pela
Teoria da Divisão de Poderes, também conhecida como Sistema de Freios
e Contrapesos. Ela foi consagrada pelo pensador francês Montesquieu na
obra O Espírito das leis, baseado nas obras Política, do filósofo Aristóteles, e
Segundo tratado do governo civil, de John Locke. Mas quem dá seu formato
no estado moderno é Hans Kelsen, aliançada com o sistema principiológico.
85
FIGURA 17 – Ilustração da interação entre os poderes
FREIOS E CONTRAPESOS
Da expressão em inglês “checks and balances”. É o sistema em que o Executivo,
o Legislativo e o Judiciário se controlam mutuamente para evitar abusos de poder.
EXECUTIVO
O presidente da República
tem o poder de vetar os
projetos de lei
JUDICIÁRIO LEGISLATIVO
Pode anular atos dos Julga o presidente da
demais poderes em casos de República e os ministros
inconstitucionalidade ou de do STF nos crimes de
ilegalidade responsabilidade
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Essa divisão é amplamente adotada no mundo. Sua configuração
é o que caracteriza o conhecido “Estado Moderno de Direito”. Está
consolidada no artigo 16 da Declaração Francesa dos Direitos do Homem
e do Cidadão de 1789 e na Constituição da República Brasileira, no artigo
2º. A Constituição, inclusive traz todo o sistema de freios e contrapesos
em seu texto, ao determinar os deveres típicos e atípicos de cada Poder.
87
FIGURA 18 – Hans Kelsen
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instruções normativas, decisões administrativas, decisões judiciais,
sentenças, acórdãos, súmulas e qualquer outra norma, no sentido mais
amplo possível, abarcando, até mesmo, as decisões internas tomadas
em assembleia de uma igreja). Qualquer medida que fira a Constituição
nacional é natimorta, não devendo produzir qualquer efeito, e, quando
aplicada, seus efeitos devem ser revertidos; não bastasse isso, caso seja
impossível reverter o fato praticado amparado em norma inconstitucional,
deve-se indenizar o lesado.
CONSTITUIÇÃO
FEDERAL
EMENDAS
CONSTITUCIONAIS;
TRATADOS
INTERNACIONAIS
SOBRE DIREITOS
HUMANOS
LEIS COMPLEMENTARES;
LEIS ORDINÁRIAS;
LEIS DELEGADAS;
DECRETOS LEGISLATIVOS;
RESOLUÇÕES;
MEDIDAS PROVISÓRIAS.
DECRETOS REGULARES
PORTARIAS
NORMAS INDIVIDUAIS
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Síntese do Capítulo
As três primeiras biografias vieram com o propósito do ideário, de
apresentar ideias que representariam formas mais justas de governar,
quer seja sobre um ponto (a questão da mulher, para Olympe de Gouges),
sobre mais de um ponto, como o cidadão e o trabalhador para Voltaire
e da sociedade como um todo. Na segunda parte da disciplina, as
biografias e os fatos escolhidos basearam-se não necessariamente na
originalidade do pensamento, mas da efetividade do pensamento. Ou seja,
a primeira preocupação era de trazer o pensamento. Na segunda parte
era demonstrar aqueles que conseguiram trazer à prática, à realidade,
algumas dessas ideias.
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Referências
ARISTÓTELES. A Política. Brasília: Editora UNB, 1988.
BEZERRA, Juliana. Martin Luther King. SL, 2019. Disponível em: https://
www.todamateria.com.br/martin-luther-king/. Acesso em: 27 de jul. 2020.
CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito Geral e do Brasil. 5. ed. São
Paulo; Editora Lumen Juris, 2007.
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D’ADESKY, J. Pluralismo étnico e multiculturalismo: racismo e
anti-racismos no Brasil. 1996. Tese (doutorado) – Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, São Paulo.
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MAGGIE, Y.; GONÇALVES, M.A. Pessoas fora do lugar: a produção da
diferença no Brasil. In: GONÇALVES, M.A.; VILLAS BOAS, G. (Org.). O Brasil
na virada do século. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1995.
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ROSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou da educação. São Paulo: Martins
Fontes, 2004.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 27. ed.
São Paulo: Malheiros, 2006.
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