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Homilética

FABAPAR
F A C U L D A D E S B A T I S TA D O P A R A N Á
Paschoal Piragine Jr.

Homilética
1a ed.

Curitiba
2020
© Os direitos de autoria e patrimônio são reservados ao(s) autor(es) da obra e às Faculdades
Batista do Paraná (FABAPAR). É expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta
obra sem autorização da FABAPAR.

FACULDADES BATISTA DO PARANÁ


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Gerência Acadêmica – Jaziel Guerreiro Martins
Gerência Administrativa – Jader Menezes Teruel
Coordenação dos Bacharelados em Teologia – Margareth Souza da Silva
Coordenação Adjunta do Bacharelado em Teologia EAD – Janete Maria de Oliveira
Autoria do Material – Paschoal Piragine Jr.

Coordenação Editorial – Thiago Alves Faria


Coordenação de Produção – Murilo de Oliveira Rufino
Núcleo de Inovação e Desenvolvimento Educacional – Elen Priscila Ribeiro Barbosa
Revisão – Edilene Honorato da Silva Arnas
Design Instrucional – Adrielly Renata dos Anjos
Design Gráfico e Diagramação – Thiago Alves Faria
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Sumário
Introdução ........................................................................................7
1. A História da Pregação na Bíblia.................................................11
1.1 O Desenvolvimento Histórico da Pregação....................................................14

1.2 Pregação e Comunicação..................................................................................... 18

1.3 Comunicação como Meio de Controle............................................................22

2. Estruturas de Sermões.................................................................26
2.1 Sermões Tópicos ou Temáticos......................................................................... 26

2.2 Sermões Textuais ................................................................................................... 27

2.3 Sermões Expositivos.............................................................................................. 28

3. O Texto ..........................................................................................31
3.1 A Escolha do Texto.................................................................................................. 31

3.2 O Texto e a Ideia do Sermão................................................................................ 32

3.3 A Pregação Planejada............................................................................................. 34

3.4 A Interpretação do Texto ...................................................................................... 35

3.5 O Texto e seu Fundo Histórico............................................................................ 35

3.6 O Texto e seu Contexto.......................................................................................... 38

3.7 O Texto e sua Análise.............................................................................................. 39

3.8 O Texto e suas Verdades....................................................................................... 40


3.9 O Texto e seu Estudo.............................................................................................. 40
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4. O Assunto e o Título do Sermão..................................................42


Introdução ......................................................................................................................... 42

4.1. O Título do Sermão................................................................................................. 43

5. A Estrutura do Sermão ................................................................48


5.1 Características de uma Boa Introdução..........................................................50

5.2 Conselhos Práticos ................................................................................................ 52

5.3 A Explicação .............................................................................................................. 53

As Divisões .......................................................................................54
Tipos de divisões ............................................................................................................ 55

Ilustração............................................................................................................................ 61

Peroração – Conclusão................................................................................................ 63

Sermões Especiais...........................................................................65
Sermões funerais............................................................................................................ 65

Sermão de casamento.................................................................................................. 66

Aniversários....................................................................................................................... 66

Discursos oficiais ou sermões oficiais....................................................................67

Sermões para crianças................................................................................................. 67

Sermões ilustrados......................................................................................................... 68

Enunciação do Sermão.....................................................................68
Preparação para Enunciação...........................................................70
O Tempo Destinado a Enunciação...................................................71
A Voz Do Pregador............................................................................71
A Movimentação do Pregador.........................................................72
Pregação e Comunicação................................................................73
Referências........................................................................................81
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Introdução
A pregação tem sido ao longo dos séculos um dos momentos
mais destacados das celebrações públicas, por isso a maneira como
se prega pode ajudar ou atrapalhar a rotina de uma igreja. Assim se faz
necessário cuidar tanto do conteúdo quanto da forma de estruturar uma
pregação, especialmente em tempos em que a comunicação é um dos
elementos mais avançados da atual civilização. O objetivo neste curso é
apresentar alguns recursos básicos que possam auxiliar a preparar e a
pregar sermões.

Há vários termos que ao longo dos anos estão conectados com


a palavra homilética. Os gregos davam o nome de homília à expressão
“conversa” e os romanos a chamavam de sermonis, ambas raízes das
palavras homilética e sermão. Assim, a primeira forma da pregação era
um diálogo entre mestre e seus alunos, mas com o tempo estes termos
passaram a representar estilos diferentes de fala religiosa em que sermão
era um discurso popular sobre uma verdade religiosa contida nas Sagradas
Escrituras e elaborado convenientemente com o propósito de levar o
auditório à persuasão. Conforme Vinet, “Sermão é o discurso incorporado
ao culto público. Destinado a conduzir a verdade religiosa, alguém que
ainda não creia, e explicá-la e aplicá-la àqueles que a admitem.” (VINET;
SKINNER, 1853, p. 28).

Homília é o comentário sequencial de um texto relativamente longo,


muito usado pelos líderes católicos. Enquanto que conversa é um diálogo
em que o interlocutor tem uma participação direta e real, o discurso é
um diálogo em que essa participação é direta, mas imaginariamente. No
discurso, a pessoa que fala imagina que está trocando ideias com os seus
ouvintes e espectadores (SILVA, 1982, p. 16).

A diferença entre sermão e discurso é a presença do fator religioso,


portanto um discurso religioso é um sermão. Entre os tipos de estruturas
de um sermão estão a Alocução; a Retórica; a Oratória; a Homilética;
a Palestra; a Lição; a Paráfrase; a Exortação e o Encorajamento; o
Testemunho e a Pregação.

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A alocução é um discurso breve proferido em ocasião solene, usado


em funerais, aniversários, casamentos etc. A retórica surgiu na Grécia
como o estudo do discurso, diante da democracia e da necessidade de
defender ideologias perante os cidadãos. A palavra retórica é grega e
deriva de rêtos, palavra falada. “O rétor era um orador de uma assembleia.
Atualmente a palavra retor tem o significado de ‘mestre de oratória’ e
‘retórico’” (SILVA, 1983, p. 13).

O primeiro homem a traçar as normas de um discurso retórico foi


Córax, um sofista, da cidade de Siracusa, na Grécia, em 500 anos antes de
Cristo. Córax ensinava que o discurso deveria ter a seguinte disposição:
Proêmio (introdução), narração, argumento, observações adicionais
e peroração (conclusão) (SILVA, 1982, p. 17). Sócrates, no entanto, deu
uma importante contribuição que foi incorporada ao cristianismo por
Agostinho e que faz parte dos estudos modernos de comunicação ao
definir os propósitos de um discurso, que são: ensinar, deleitar e mover
(GUINDA, 2003, p. 16).

Os romanos assimilaram a retórica grega com o nome de oratória


(de oris boca). Entre eles, dois nomes se despontam, Cícero e Quintiliano,
que escreveu a maior obra sobre oratória da Antiguidade (SILVA , 1982,
p. 18). A “homilética, é a arte de preparar e pregar a Palavra de Deus”.
Como já se viu, deriva do grego “homiléo”, conversa familiar. Com o
tempo, a pregação cristã foi agregando os subsídios da retórica e da
oratória profana, surgindo assim o discurso religioso, ou seja, a pregação,
a prédica. (MARTINS, 2008, p. 3). A finalidade da Homilética, como a da
Retórica ou Oratória, é levar o ouvinte a concordar com o pregador ou
orador. É convencer o ouvinte, é persuadi-lo. Palestra, por sua vez, é uma
discussão ligeira sobre assunto científico, literário, religioso ou de outra
natureza. A lição, é uma exposição,' oral de qualquer matéria feita pelo
professor aos alunos, prática comum nas casses bíblicas. A paráfrase
é a reescrita de um texto com palavras próprias de quem reescreve. A
exortação é uma palavra de encorajamento e esperança que procura
fortalecer a fé e levar pessoas a superar o momento que estão vivendo.
Fala ao coração por meio de exemplos e demonstrações de razões. Tem
um estilo familiar. Não se trata de maltratar o ouvinte (At 2.40; At 14.22).
Já o testemunho é de um depoimento ou declaração de alguém presente
em algum acontecimento, usado para comprovar a veracidade de um fato.

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O testemunho religioso dedica-se a tratar sobre as experiências


espirituais de um indivíduo e sua relação com o ser divindade a quem é
devotado. As igrejas têm desperdiçado essa ferramenta. Há, também,
certos perigos na prática de testemunhos, como o número excessivo de
testemunhos em um único culto, relatos irrelevantes ou forjados, ou que se
tornem um campo para orgulho espiritual diante da congregação, ao invés
de um meio para ensinar a necessidade da humildade, louvor da glória de
Deus e incentivo para amadurecimento espiritual. Uma postura que líderes e
pastores devem tomar para prevenir a igreja de quaisquer danos por causa
de um testemunho é ouvir o testemunho antes de comunicá-lo à igreja e
estabelecer tempo de fala, ou gravar e exibir durante o culto. Pregação é
a exposição de uma verdade bíblica que é entregue de modo a levar o seu
ouvinte a uma decisão e uma ação (GAGE, 2007, p. 4). Vamos encontrar
exemplos de sua aplicação em toda a Bíblia, e como é relevante até os dias
de hoje, mas é preciso compreender a maneira como se apresenta.

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1. A História da Pregação na Bíblia
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1. A História da Pregação na Bíblia


A expressão pregador (do latim prae, antes e dicare, dizer), significa
aquele que prediz o futuro. O termo, por ter a significação exata da palavra
profeta (do grego pró, antes e phetes, do verbo phemi, dizer), deveria
ser usada como tradução natural desta, mas ocorreu um fenômeno
linguístico, em que os latinos transliteraram a palavra grega “propheta”
e relegaram sua correspondente “praedicator” a outro significado. Por
isso, pregador passou a significar apenas orador ou arauto. O mesmo
ocorreu com a palavra pregação, que deixou de ser a proclamação de
uma mensagem profética, uma predição, para ser apenas um discurso.
Assim, o pregador tornou-se um kéryx, arauto e a pregação um kêrygma,
mensagem (SILVA, 1982, p. 21).

No Antigo Testamento, um dos primeiros pregadores citados na


Bíblia foi Enoque (Jd 1:14), depois encontramos Noé como pregador da
Justiça (2Pe 2:5). Na era patriarcal, os chefes das famílias tinham a missão
de ensinar a fé aos seus descendentes e, atuando como sacerdote dessas
famílias, construíam altares. Moisés, Arão e Josué, geralmente em frente
ao tabernáculo, reuniam assembleias solenes e pregavam poderosamente
diante do povo. Posteriormente, os sacerdotes e os Levitas que habitavam
nas cidades se tornaram os pregadores formais do Antigo Testamento. Já
nos livros de Samuel e Reis encontra-se a Casa dos profetas como o lugar
em que os discípulos dos profetas se reuniam (1 Sm 10:5-6; 1Sm 19:18-
19, 22-23; 20:1; 2 Rs 2:3,5; 2 Rs 4:38) (PORTER, 1835, p. 8-10). Outra classe
de pregadores que veio a surgir no contexto do Antigo Testamento foi a
dos sábios, especialmente nos livros de Provérbios e Eclesiastes (Ec 1.1;
12.9-11). Após o cativeiro babilônico, surgiu a figura dos escribas, pessoas
com alto nível de estudo para acessar o hebraico já esquecido e explicar o
texto sagrado ao povo. Um dos maiores exemplos da ação dos escribas se
encontra em Nm 8:1-12. Após o cativeiro, surgiram também as sinagogas,
que tinham uma liturgia própria que envolvia orações, leitura das Escrituras,
explicações das Escrituras e exortações (PORTER, 1835, p. 10-11).

No Novo Testamento, a pregação surge com o enigmático


personagem João Batista, com um estilo profético à semelhança do

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ministério de Elias. Pode-se perceber na sua pregação algumas boas


lições. O “novo Elias” foi destemido ao declarar Herodias uma adúltera,
embora conhecesse seu caráter e previsse sua ira implacável. (BROADUS,
1876, p. 19). João Batista foi humilde, sempre desviando a atenção de
si mesmo para aquele que viria, testificando-o em todas as ocasiões,
disposto a diminuir para que ele pudesse aumentar. (BROADUS, 1876, p.
19-20). Outra boa lição obtida era a praticidade em suas pregações, “O reino
dos céus chegou perto, portanto arrependam-se”. Em Lucas 3, notam-se
aplicações práticas do significado de aceitar a sua mensagem para os
publicanos, soldados e o povo em geral (BROADUS, 1876, p. 20). Por meio
de suas posturas e palavras, via-se a exigência por atitudes imediatas,
em que ele disse arrependam-se agora, confessem agora e mostrem
isso daqui em diante, com frutos dignos de arrependimento (BROADUS,
1876, p. 20). João usava uma cerimônia solene e impressionante para
reforçar a sua pregação, em que seus espectadores representavam um
sinal visível do arrependimento e do desejo de serem súditos do Reino de
Deus (BROADUS, 1876, p. 20-21).

Jesus, enquanto pregador, pregou o evangelho do reino de Deus


com simplicidade, utilizando principalmente parábolas (Mt 13.34s.; Mc
4.10-12, 33, 34) e aplicando textos do Antigo Testamento à Sua própria
vida (Lc 4.16-22) (REIFLER, 1993, p. 7). Umas das marcas características
da sua pregação era a sua autoridade, reconhecida e comparada pelos
seus ouvintes com os mestres da lei do seu tempo. Isto inspira os demais
pregadores a buscarem a autoridade do Espírito Santo para produzir e
proclamar a mensagem de Deus. Outra marca da pregação de Jesus era
a sua originalidade, sabia usar parábolas, crianças, sementes, situações
do momento; usando cada nova oportunidade para comunicar o Reino
de Deus. Tal postura incentiva a comunicação por meio da criatividade.
Jesus tinha capacidade de falar com propriedade e inteligibilidade à mente
do homem comum. Sua fala era tomada de simplicidade e linguagem
comum, tão acessível que podia ser entendida e que chegava aos
corações. O que inspira os pregadores a comunicarem de modo que todos
possam compreender, desde uma criança até um ancião, e ao mesmo
tempo ser relevante aos anseios do coração humano. Muitas vezes, foi
controverso e polêmico, isto ocorria quando apontava para algum erro ou
prática maligna existente entre seus ouvintes, como visto no sermão da

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montanha ao tratar sobre riqueza e pobreza. Seu procedimento encoraja


a coragem de abordar e combater questões que impedem as pessoas de
caminharem nos propósitos de Deus, sabendo que muitas vezes isto pode
gerar retaliações contra a mensagem e ao ministério.

Jesus sabia que as grandes lições da fé precisavam ser repetidas


várias vezes para que as pessoas pudessem fixá-las e identificá-las como
princípios norteadores da fé (Mt 18.11 e Lc 19.10, sobre buscar e salvar o
perdido; Mt 17.20, Mt 21.21, Lc 17.5, sobre a fé ser semelhante ao grão de
mostarda). Essa postura leva à compreensão de que o mais importante
precisa reafirmado e relembrado.

Jesus não era apenas criativo, aplicando uma variedade de


métodos de ensino de acordo com o lugar e o público (sinagoga, templo,
casas de discípulos, multidões, desertos, montanhas, no barco), sabia
adaptar os seus sermões tanto ao lugar quanto ao público, para que suas
mensagens fossem mais relevantes a cada nova ocasião. Talvez este seja
o grande desafio de todo pregador, saber adaptar a mensagem ao lugar e
à audiência para comunicar a fé e deixar por onde passa o bom perfume
de Jesus (BROADUS, 1876, p. 22-36).

Uma análise do livro de Atos revela que o conhecido “Kerígma”


(pregação, proclamação ou mensagem) proclamado pelos apóstolos era
composto de cinco elementos básicos comuns: o Messias prometido no
Antigo Testamento; a morte expiatória de Jesus Cristo; Sua ressurreição
pelo poder do Espírito Santo; a gloriosa volta de Cristo; e o apelo ao ouvinte
para que se arrependesse e cresse no evangelho (REIFLER, 1993, p. 7).

Acerca da pregação dos apóstolos direcionada aos gentios, a


diferença de auditório determinou também a escolha de outros meios
para que a mensagem do evangelho pudesse ser melhor entendida por
aqueles que não tinham proximidade com o pensamento judeu. Por isso,
podemos ver em Paulo pregando em Listra (At 14:15-17) e Atenas (At
17:22-31) que ele não se preocupa em comprovar escrituristicamente que
Jesus era o messias prometido, mas ao invés disto procurou mostrar a
doutrina de Deus em confronto com a falsa concepção de Deus que eles
possuíam (GUINDA, 2003, p. 15).

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Muitos estudiosos creem que as epístolas trocadas entre as igrejas


eram, na sua maior parte, sermões que deveriam ser lidos em público para
toda a igreja, com o fim de edificá-la, doutriná-la etc. Ainda hoje sermões
escritos e adaptados da fala para a forma escrita têm impactado a muitos
(BROADUS, 1876, p. 36-43).

1.1 O Desenvolvimento Histórico da Pregação


A Era Patrística (70-430 d.C.) foi uma doutrina filosófica cristã
que surgiu no século IV, desenvolvida por diversos teólogos da Igreja
conhecidos por “Pais da Igreja”.
A principal característica da fase Patrística era a expansão do
Cristianismo na Europa e o combate às heresias. Os ensinos da Era
Patrística foram responsáveis por iniciar a construção da teologia cristã.
Na Era Patrística foi assumido o modelo de culto das sinagogas na igreja.
A maioria dos cristãos antigos seguiu o exemplo da sinagoga, lendo e
explicando de modo simples e popular as Escrituras do Antigo Testamento
e do Novo. Não se percebe muito esforço em estruturar um esboço
homilético ou um tema organizador. A forma da pregação era homilia cristã
apenas, que consiste em uma explicação do texto seguindo a sua ordem
natural, visando meramente ressaltar, mediante a elaboração e aplicação,
as sucessivas partes da passagem (REIFLER, 1993, p. 7). Além disso, os
ouvintes formulavam questões e os pregadores as respondiam, fazendo da
pregação uma conversação que é o verdadeiro sentido da palavra homilia
(BROADUS, 1876, p. 46). É importante lembrar que a igreja não se reunia
em templos, mas em casas e, às vezes, em alguns lugares neutros, onde
pudessem permanecer escondidos da perseguição. A pregação feita por
leigos não era a exceção na igreja primitiva, mas sim a regra.

Nada na história dos três primeiros séculos do cristianismo é mais


notável do que a defesa e formulação gradual da doutrina cristã. Já nos
tempos apostólicos as heresias gnósticas estavam começando a aparecer
e os ensinamentos do evangelho tiveram que ser guardados das formas
corruptas de fé que se professavam como cristãs (DARGAN, 1905, p. 33).
Entretanto, no final deste primeiro período houve um declínio na pregação.

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Em Orígenes encontra-se a transição do antigo para o novo modelo


de pregação da Igreja. Ele dignificou e justificou a alegorização que tiveram
a sua origem em Filo (mestre judeu do primeiro século). Sua teoria se
baseava em um pensamento tricotomista, em que o homem é composto
de corpo, alma e espírito, por isso as Escrituras têm um sentido triplo: o
gramatical, o moral e o espiritual. Também espiritualizou grande parte do
Antigo e Novo Testamentos, com extrema ingenuidade. Desta forma, ele
feriu a pregação (BROADUS, 1876, p. 53).

As primeiras teorias homiléticas encontram-se nos escritos de


Crisóstomo (345-407 A.D.), o mais famoso pregador da igreja primitiva
(REIFLER ,1993, p. 7). A primeira homilética foi escrita por Agostinho, em
“De Doctrina Christiana”. Agostinho dividiu-a em: inveniende e proferendo.
Defendia que o pregador deve ser preparado acima de tudo pela oração.
Foi fortemente influenciado pelo orador romano Cícero e pelas teorias de
oratória de Aristóteles ao defender que a tarefa do pregador é ensinar,
deleitar e mover (GUINDA, 2003, p. 16).

A Era Medieval, conhecida também como a Idade das Trevas, foi o


período de domínio exercido pela Igreja Católica sobre todos os âmbitos
da sociedade, quer seja religioso, político, econômico, científico e cultural,
na Europa, entre o século V ao XV.

Com o declínio da civilização romana na Idade das Trevas (430-1095


d.C.), o zelo (por parte do pregador), e automaticamente a qualidade
da pregação, também decaiu, frequentemente assumindo a forma de
repetições mecânicas de sermões antigos (QUICKE, 2009, p. 76).

Anos depois, a pregação clássica reconquistou o prestígio e passou


a ser considerada importante na função educacional.
Na Idade Média (1100-1500 d.C.), a pregação clássica reviveu
as universidades, redescobriram o papel educacional dos
sermões e criaram muitos auxílios para o ensino. Ordens de
frades pregadores, como os dominicanos e os franciscanos,
também tiveram grande impacto desenvolvendo sermões com
um único versículo da Bíblia, com três pontos e subpontos,

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frequentemente chamado de o método escolástico1. Pregadores


discordantes como John Wyclif (1330-1384) reagiram a esse
método e pregaram de improviso versículo por versículo. A
pregação também foi impactada pela necessidade de motivar
voluntários para as cruzadas contra o Islã. Tal pregação era uma
forma incomum e controversa de pregação indutiva e seu mais
famoso exemplo é Bernardo de Claraval (1090-1153). (QUICKE,
2009, p. 76).

A Reforma Protestante foi um movimento cristão do século XVI


liderado por Martinho Lutero contra as posturas do catolicismo que
resultou, mesmo sem sua aprovação, na separação de credos e dividindo
a Igreja entre Católica e Protestante, assim como proporcionando a
liberdade de culto e pensamento entre os diferentes dogmas e doutrinas
que cada igreja optaria por defender. A Reforma foi representada pela
publicação das 95 Teses em crítica à Igreja Católica, pregada na porta da
Igreja do Castelo de Wittenberg em 31 de outubro de 1517. Entretanto,
tal avivamento foi iniciado anos antes da chamada Reforma Protestante,
por diversos outros reformadores que antecederam Lutero. Destacam-se
além de Lutero e Calvino, Zwinglio e João Knox.

Entre as mudanças sociais e religiosas, assim como o


enfraquecimento da Igreja Católica na época, a Reforma trouxe uma
grande inovação para o meio cristão: O reavivamento da Pregação. A
partir daquele momento, a Bíblia se tornaria o centro pregação. Até hoje,
uma pregação cristã não centralizada na Bíblia é tida como uma pregação
herege e desnecessária.
Os discursos éticos e litúrgicos foram substituídos pela
pregação evangélica das grandes verdades bíblicas, com
destaque a doutrina da salvação, ainda que tivessem o cuidado
de expor a palavra versículo por versículo. Martinho Lutero e
João Calvino expuseram quase todos os livros da Bíblia em

1 Por volta do final do século XII, o método escolástico de ensino deixou sua marca
na pregação. A lógica e a dialética das escolas foram aplicadas ao tópico do sermão.
O pregador anunciava seu tema, da mesma maneira que um escolástico declararia sua
tese, e então passava a definição, divisão, subdivisão e distinção citando numerosas
passagens da Escritura e dos pais e concluía adicionando argumentos da razão para
provar seu ponto. Tais sermões foram pregados a professores e alunos principalmente
nas cidades universitárias como Paris, Oxford e Cambridge (DRESSLER , 1967, p. 41).

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forma de comentários que, ainda hoje, possuem vasta aceitação


acadêmica e espiritual. (QUICKE, 2009).
Enquanto Lutero enfatizava o conteúdo da pregação do
evangelho (a justificação pela fé), Melanchthon ressaltava o
método e a forma da pregação, escrevendo, em 1519, a primeira
retórica evangélica, seguida de duas publicações homiléticas,
em 1528 e 1535, respectivamente. Melanchthon sugeriu
enfatizar a unidade através de um centro organizador, um
pensamento principal para o texto a ser pregado e a pregação
deveria incluir: introdução, tema, disposição, exposição do texto
e conclusão. (REIFLER , 1993, p. 7-8).

Na Era Moderna (1572-1700), o período entre a Idade Média e a


Idade Contemporânea, em que surgiram as bases sociais e econômicas
da sociedade atual, houve um declínio na pregação em todo o mundo
cristão, exceto na França e na Inglaterra.

Na França, destacaram-se os pregadores católicos Bossuet,


Bourdalone, Fénelon e Massilon. Na Inglaterra, destacaram-se os pregadores
protestantes Richard Baxter, Jonh Bunyan, Jeremias Taylor e John Donne.
Em Portugal, havia os padres Antônio Vieira e Manoel Bernardes.

O século XVIII foi uma época de avivamento na Inglaterra e nos


Estados Unidos da América com João e Carlos Wesley, George Whitefield,
Jonathan Edwards. Na Suíça de fala francesa, destacou-se Alexandre
Vinet. O século XIX foi a época áurea do púlpito, com Charles Finney,
Horácio Bushnel, Henry Ward Beecher, Philip Brooks, Thomas De Witt
Talmage, Dwigt L. Moody, Tomas Chalmers, F. W. Robertson, Charles H.
Spurgeon e Alexander Maclaren. No século XX, Walter Rauschenbusch,
Billy Graam, Nilson Fanini, Luis Palau, Rex Humbard, Paul Yong Choo, e
muitos outros.

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1.2 Pregação e Comunicação


O estudo da comunicação é moderno, e seus princípios se aplicam
também à pregação do Evangelho. Daí a necessidade de a teoria da
comunicação ser estudada pelos pregadores. A pregação é o anúncio da
mensagem de Deus. Geralmente a pregação está relacionada ao sermão,
que por sua vez é entendido como: um discurso popular sobre uma
verdade religiosa contida na Bíblia e elaborado convenientemente com
o propósito de levar o auditório à persuasão. Enquanto a comunicação
é a transmissão de uma informação de “fontes” para “receptores” e de
“receptores” para “fontes” (THOMPSON, 1977, p. 11).

A comunicação envolve um processo mental e emocional; constitui


uma experiência de interação social na qual se compartilham ideias,
atitudes e sentimentos com outras pessoas, com o fim de modificar
ou influir sobre sua conduta (COSTAS, 1989, p. 33). Ou ainda, como
várias espécies de comportamentos que têm lugar entre sujeitos e que
modificam o comportamento tanto dos sujeitos que lhes dão origem
quanto dos receptores (THOMPSON, 1977, p. 12).

A comunicação não é um processo linear; é cíclico. A informação


passa da fonte por meio do receptor, voltando então para a fonte em
forma alterada, completando assim um ciclo (THOMPSON, 1977, p. 11).
A comunicação revela apenas um terço de si mesma, que será
acessível à manipulação, observação e mensuração de qualidade.
Cerca de dois terços do acervo das comunicações estão abaixo
da consciência integral e é chamada de comunicação não
verbal que se dão pelo olhar, tato, postura e sem número de
outras formas sutis em que as pessoas se comunicam entre si
(THOMPSON, 1977, p. 13).

Os elementos de uma comunicação efetiva é a fonte, o receptor,


a mensagem, o veículo, o feedback e os ruídos. A fonte é a nascente de
mensagem e a iniciadora do ciclo de comunicação (MATOS, 2009, p. 5).
Ele o faz a partir de um repertório de informações previamente arquivado
e organizado de uma forma única e pessoal por meio de comunicações
anteriores e que foram sintonizadas com maior ênfase e valor a determinadas
áreas pela cultura e experiência (THOMPSON, 1977, p. 14-15).

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Comunicamos de forma a controlar, influenciar ou mudar o nosso


meio e até certo ponto ser mudados por ele. Esta é a finalidade de toda a
comunicação.

O receptor é o intérprete das mensagens, mede-se a eficiência da


comunicação pelas espécies de decisões tomadas pelo receptor e sua
maneira de mudar de atitude.

Os significados não estão nas mensagens, mas nos receptores, que


são a fonte dos significados (THOMPSON, 1977, p. 16). Os significados
residem, assim, definitivamente na pessoa, não em palavras, gestos ou
expressões. O receptor põe em ordem dados novos recebidos de modo
que possam ser classificados de acordo com dados que já possui.

Onde a escolha é possível, focalizará a sua atenção somente nas


fontes e partes que tendam a reforçar seu presente equilíbrio (seletividade
do receptor).

Quando a informação incomoda suas convicções, o receptor pode


distorcê-la, selecionando e interpretando dados de modo a manter intacta a
sua estrutura pessoal. O receptor pode aprender, pode modificar-se, apesar
de ter a tendência de resistir à mudança, mas aceita a informação e realiza
a mudança quando estas o conduzem a uma organização mais estável dos
dados existentes. Aí, a repensa da mudança supera a inibição da mesma.
A mudança ocorre quando a recompensa é maior que o medo de mudar.

Na ausência de recompensa conveniente, o receptor inclina-se a


entender apenas aquelas mensagens que requeiram menor esforço a ser
dispendido na modificação de sua estrutura. A recompensa é determinada
não pela fonte, mas pelo receptor.

Equação do Menor Esforço


Expectativa de Recompensa
= Fração de Seleção
Esforço Requerido

19
< voltar

Visto que os significados residem nos receptores e não na


mensagem, não se pode falar de uma mensagem, mas de mensagens,
tantas quantas forem os receptores. Enquanto um pregador estiver
ministrando sobre salvação, por exemplo, talvez alguém esteja somente
vendo sua roupa ou seus gestos, e essas características também
compõem a mensagem. A fonte manda um grupo de mensagens, do
qual cada receptor seleciona a mensagem ou parte dela que mantenha
e realce a sua própria estrutura organizacional (THOMPSON, 1977, p. 19).

A mensagem, consequentemente, pode ser definida como um


conjunto ordenado de símbolos cujo significado fica claro apenas por
meio do comportamento de cada receptor (THOMPSON, 1977, p. 19).

20
< voltar

A informação a ser transmitida precisa ser primeiro “codificada”


pela fonte. Código são símbolos que têm sentido tanto para a fonte como
para o receptor.

Uma vez codificada, a mensagem precisa competir para atrair a


atenção, com outras mensagens do próprio meio. (Ruídos de comunicação).
Como fazê-lo? Ilustrando, desenhando, repetindo, emocionando etc.

O veículo é o canal ou cadeia de canais que ligam a fonte ao receptor.


Os veículos moldam a mensagem à sua própria imagem. Ex.: ler um livro
ou ver o filme?

Cada veículo tem as suas peculiaridades ou influências sobre a


mensagem. Veículo e mensagens são inseparáveis. O emissor escolhe o
veículo mais apropriado à transmissão da mensagem.

O processo de comunicação é cíclico: há canais de retorno ou de


realimentação do receptor para a fonte. A realimentação, ou feedback,
ajuda a fonte a apurar a eficácia de sua transmissão original, assim pode
modificar mensagens subsequentes. O pregador recebe constantes
realimentações de seus ouvintes, como: expressões faciais, movimentos
de corpo, resposta ao apelo etc. O pregador deve ser sábio para modificar
a maneira de transmitir à luz da realimentação.

Os ruídos são fatores dentro de um canal de comunicação


que interferem com a mensagem. É qualquer coisa que prejudique a
transmissão da mensagem. O próprio pregador pode ser a fonte deste
ruído. O ruído tem intensidade diferente de acordo com cada receptor.

Um nível excessivamente alto de ruídos leva à desorganização,


na qual não há comunicação, mas irritação. A ambiguidade ou entropia
sempre existe na comunicação, e para reduzi-la é necessário reduzir o
número de escolhas oferecidas, recorrer a um canal menos ruidoso,
apresentar uma mensagem mais pertinente ao receptor e apresentar um
conteúdo com um mínimo de confusão. A mensagem perfeita é aquela
que não permite outra escolha, a não ser o significado da fonte.

21
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1.3 Comunicação como Meio de Controle


A comunicação não é um fim em si mesma, é um meio. O produto
final da comunicação é o controle de algum ou alguns aspectos do
ambiente. Ou seja, influenciar as pessoas. Nada há de pernicioso nisto;
é a razão da comunicação. Por isso, todo comunicador é um agente de
mudança. Assim como produzir mudanças espirituais na vida dos seus
ouvintes é a tarefa do pregador.

A grande preocupação não é para com a mensagem proferida, mas


como ela será recebida, que impacto terá. Dessa maneira, no processo de
realimentação o pregador também precisa mudar. Sua eficiência deve ser
medida pela qualidade e quantidade de mudanças que, de fato produz
(THOMPSON, 1977, p. 25-26).

Para pregar é preciso conseguir atenção. De tempos em tempos


(atualmente de 3 em 3 minutos) é preciso quebrar a homogeneidade da
comunicação introduzindo algo novo.

Pregar é manejar a informação, aplicá-la e ilustrá-la de modo a gerar


o desejo de mudança no ouvinte.

Pregar é uma atividade dinâmica e uma experiência de interação


social que afeta e é afetada pelo corpo, sentidos, pensamentos, palavras,
sentimentos, atitudes, movimentos, atenção e entendimento tanto do
pregador como da congregação (COSTAS, 1989, p. 34). A pregação deve
ser uma resposta às necessidades específicas da congregação, trazendo
as respostas de Deus para demandas de um tempo e um povo.

O pregador deve não somente saber como preparar sermões,


mas também como ministrá-los. E para isto, deve se atentar para a
circunstância em que pregará, para o ambiente; para as particularidades do
público; quais são os grupos de pessoas e posturas admiradas pelos seus
ouvintes; as ilustrações que farão contato com esse público, as normas
de conduta e crenças que predominam o pensamento dessa audiência,
as necessidades e o contexto social e intelectual dos ouvintes. Observe
o denominador comum que possa conduzir a mensagem ao coração de
toda a audiência, apesar das diferenças entre cada um deles.

22
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Aquele que ministra a palavra de Deus tem a responsabilidade


enquanto a ponte que, com o auxílio do Espírito Santo, ajuda a conduzir a
um encontro entre Cristo e a cultura daquele povo.
A exposição de uma mensagem é uma experiência dialogal com
o pregador, e frequentemente os ouvintes fazem questionamentos e
dialogam internamente durante a pregação, e se faz necessário ao
pregador buscar antecipar essas dúvidas e promover uma pregação
completa de respostas sobre o tema em questão. Não se deve esperar
que os ouvintes venham ao seu campo de conforto, mas que se leve a
mensagem de Deus no campo deles, na linguagem deles, nas questões
que eles buscam resposta, e, dessa forma, comunicar diretamente com
as interrogações dos ouvintes e não apenas apresentar o seu raciocínio.
A autoridade da Palavra de Deus é inquestionável, mas a amabilidade
e paixão do mensageiro reflete diretamente no êxito da comunicação de
uma mensagem. As pessoas primeiro se convertem ao pregador para
depois converterem-se à mensagem.
Mesmo durante o preparo de uma pregação, o objetivo final da
mensagem deve ser traçado e respeitado durante toda a fala, a ponto
de realizar uma explanação que direcione o público a tomar a atitude
esperada. Para isso, deve-se escolher atentamente os melhores canais de
comunicação para chegar ao objetivo e melhor transmitir a mensagem,
desde o cenário, o tom de voz, interações visuais e musicais etc.
Durante a exposição de uma mensagem, a linguagem é um dos
fatores de grande impacto. Os tipos de linguagem comumente usados
na comunicação de um sermão são expressões literárias, vocabulário
erudito, termos técnicos, citações de grego e hebraico.
Faz-se necessário evitar expressões apelativas, como gírias,
construções erradas ou palavrões. O ideal é manter uma linguagem
simples, porém correta, e ter cuidado com o “evangeliquês”.

Glossário

Vocabulário que faz referência a termos bíblicos ou contexto eclesiástico,


normalmente de compreensão de quem já esteja familiarizado com o
meio evangélico, o que exclui o leigo.

23
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Outro fator de importância é o uso da Bíblia na linguagem de hoje.


A tradução antiga da Bíblia usa termos por vezes incompreensíveis, como
“aguilhão”, “prepúcio”, “efa”, “chocarrices” e “circuncisão”. É importante
proporcionar um conteúdo e uma linguagem acessível para que todos os
públicos entendam com clareza.

24
2. Estruturas de Sermões
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2. Estruturas de Sermões
Dominar os diferentes estilos e estruturas dos esboços de sermões
auxilia no momento de adaptar uma mensagem ao público e ocasião
adequada, o que o torna mais eficaz e permite ao pregador uma gestão
mais eficiente de seu tempo de fala durante a pregação. Um sermão pode
ter três tipos de divisões, mas com um tema que sempre deve derivar do
texto bíblico, os três tipos são:

• Tópicos ou temáticos – as divisões se derivam do tema.


• Textuais – texto pequeno, um ou dois versículos, do qual são
tiradas as divisões.
• Expositivo – texto mais longo.

2.1 Sermões Tópicos ou Temáticos


O Sermão em tópicos ou sermão temático é um sermão construído
em torno de um assunto. Consiste em uma divisão feita de acordo com
um tema definido, em que há uma diversidade de textos bíblicos citados
sobre um mesmo assunto, diferente do sermão textual ou expositivo que
normalmente se atém a uma só passagem ou perícope bíblica. O tema
de uma pregação deve ser derivado do texto bíblico, mas não as divisões.
Elas [as divisões] são fruto da nossa criatividade e devem se basear nos
ensinos gerais das Escrituras (CRANE, 2003, p. 122-123).

A estrutura em tópicos traz algumas vantagens: oportuniza o


aperfeiçoamento retórico; é um método utilizado pelos grandes oradores;
tem uma ordem lógica; agrada aos pragmáticos; oferece uma perspectiva
global do assunto; permite maior criatividade; permite uma ampla
abordagem de um determinado assunto e propicia a discussão de qualquer
assunto que se julgar necessário. Contudo, são necessários tomar alguns
cuidados: o tema deve ser claro e específico e os argumentos devem ser
dispostos em ordem progressiva. A falta de atenção a esses cuidados
tende a resultar em uma postura de negligência com a Palavra de Deus,
omissão acerca da exegese de qualidade, à ministração de um conteúdo
enfraquecido, podendo levar à repetição, à distração da congregação e à
secularização da prédica.

26
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EXEMPLOS:
COISAS A ESQUECER
Texto: Filipenses 3.13
Filipenses 3:13 (Nova Almeida Atualizada 2017)
13 Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado, mas
uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficam para
trás e avançando para as que estão diante de mim.
I. Vitórias
II. Derrotas
Ill. Pecados
IV. Rixas
V. Sofrimentos

É BOM PERDOAR
Texto: Efésios 4.32
Efésios 4:32 (Nova Almeida Atualizada 2017) 32 Pelo
contrário, sejam bondosos e compassivos uns para com os
outros, perdoando uns aos outros, como também Deus, em
Cristo, perdoou vocês.
I. É bom para o ofendido
II. É bom para o ofensor
Ill. É bom para os outros:
1. Família
2. Igreja
3. Sociedade

2.2 Sermões Textuais


Os sermões textuais, ou sermões de texto pequeno, são construídos
em torno de uma passagem mais breve da Bíblia, normalmente apenas um
ou dois versículos. O tema e as divisões desse sermão são derivados do
próprio texto bíblico, em que se questiona ao texto enquanto o lê: “Qual é
a ideia central?”. E é ele quem sugere as próprias divisões. As divisões não
devem ser forçadas. Exige-se perspicácia, perícia e paciência para extrair
do texto essa informação. Permite-se a transposição, se necessário.
Pode-se classificar esse sermão em duas categorias: literal e livre. No
sermão textual literal, as divisões são retiradas do texto bíblico; no sermão
textual livre, as divisões podem ser expressas em termos diferentes do
que é apresentado no texto bíblico.

27
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A estrutura textual traz algumas vantagens: é a explicação direta


da Palavra de Deus e permite profundidade no conteúdo da mensagem
bíblica. Porém, tal estrutura também traz algumas desvantagens: não
permite o tratamento completo dos assuntos e são poucos os textos
indicados a esse tipo de mensagem.

2.3 Sermões Expositivos


Os sermões expositivos são a explicação ou exposição com unidade
e ordem (integrada e ordenada) de um trecho mais ou menos extenso
(mais de três versículos) das Escrituras Sagradas. Trata-se, portanto,
de uma porção relativamente extensa da Escritura, e é interpretada em
relação a um tema ou assunto que provém do próprio texto.

A maior parte do material deste tipo de sermão provém diretamente


da passagem, e o esboço consiste em uma série de ideias progressivas
que giram em torno de uma ideia principal.

O sermão expositivo não é um mero comentário de textos bíblicos.


As principais diferenças de sermão expositivo para o sermão textual é o
tratamento de um texto mais longo, de dois ou mais versículos; e maior
dificuldade de preparo em relação ao textual.

A estrutura expositiva traz algumas vantagens: o sermão passa a


ser um processo de interpretação e aplicação do texto; por exigir estudo
sério da Palavra de Deus, redunda em bênção para o pregador e bênção
para a igreja; obriga o pregador a tratar de assuntos que de outra forma
ficariam esquecidos e permite a formulação de séries de sermões.
Entretanto também apresenta suas limitações: é difícil manter a unidade,
a concatenação, pois exige a delimitação do texto à luz do assunto
unificador do parágrafo, e os assuntos nem sempre são tratados de um
modo completo e lógico.

28
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O preparo do esboço de uma pregação expositiva requer algumas


exigências: delimitar o texto (os parágrafos); dedicar-se à exegese do
texto; descobrir o assunto principal ou lição central (a unidade); atentar
se as divisões estão relacionadas com o tema central; cuidar para não se
perder na multiplicação de minúcias; não perder muito tempo explicando
pontos difíceis e não multiplicar a citação de passagens paralelas.

OS PASSOS DE UMA CONVERSÃO


Texto: Atos 8.26-40
I. Contato com a Palavra de Deus – v. 28
II. Atuação do Espírito Santo – v. 29-30
III. A transmissão da mensagem
IV. A aceitação da mensagem
V. Colocar o aprendido em prática

29
3. O Texto
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3. O Texto
Um texto é o conjunto de palavras ou frases articuladas e escritas
que possibilitam a interpretação e comunicam uma mensagem, ou a
redação de uma obra escrita. O texto bíblico é a passagem da bíblia que
serve de base para o preparo e ministração de um sermão.

Se faz necessário usar o texto bíblico para a ministração de uma


pregação, uma vez que a natureza da pregação é ensinar a Palavra de
Deus. Se basear em um texto bíblico para preparar um sermão, gera a
dependência de Deus em oração; propicia autoridade ao pregador; permite
a abordagem de uma variedade de assuntos, especialmente quando se
segue a ordem bíblica em um determinado livro, e auxilia na determinação
da estruturação do sermão.

3.1 A Escolha do Texto


Na escolha de um texto bíblico, o pregador deve dar preferência a um
texto que tenha feito bem à sua própria alma, e ministrar por meio da
sabedoria que Deus o permitiu obter daquele texto e de sua experiência
particular. É indispensável delimitar o texto de forma que contenha uma
unidade completa de pensamento.

Um fator que colabora para com a vivência social e eclesiástica da


igreja é seguir o calendário cristão durante as pregações na medida
do possível, reafirmando os princípios e momentos históricos que são
pilares da fé cristã. Se faz necessário evitar o uso de textos obscuros ou
controvertidos, optando por textos claros e simples. Não evitar um texto
só porque é muito conhecido. Ex. João 3.16; Rm 3.16; I Co 13; João 14.1-6;
Mt 5.1-12.

É muito importante ter sempre em mente as necessidades dos


ouvintes. Usar textos de todos os livros da Bíblia. Priorizar o uso de um ou
poucos textos para cada sermão, todavia é possível pregar sermões de
textos múltiplos. Veja alguns exemplos:

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Lidando com as cargas


I. Cada um deve levar a sua própria carga. Gl 6.5
Gálatas 6:5 (NVI-PT) 5 pois cada um deverá levar
a própria carga.

II. Cada um deve levar a carga dos outros. Gl 6.2


Gálatas 6:2 (Nova Almeida Atualizada 2017)
2 Levem as cargas uns dos outros e, assim,
estarão cumprindo a lei de Cristo.

III. Mas Deus leva a carga de todos. Sl 55.22


Sl 55.22 (JFA) lança o teu fardo sobre o Senhor,
e ele te susterá Ferramentas para este tipo
de sermão são as concordâncias temáticas
e as concordâncias comuns.

3.2 O Texto e a Ideia do Sermão


Depois de escolhido o texto, é necessário procurar expressar o
pensamento dele em uma sentença clara e concisa. Para isto se pode
recorrer ao uso de praticamente as mesmas palavras do texto, ou mesmo
fazer inferências. Outra prática que esclarece o texto e auxilia o pregador
durante a explanação, é o uso de Analogias, que seria a explicação por
meio de comparações, onde se ressalta semelhanças entre elementos ou
situações distintas.

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Glossário

Inferência é uma dedução feita com base em informações ou um


raciocínio que usa dados disponíveis para se chegar a uma conclusão.

Inferir é deduzir um resultado, por lógica, com base na interpretação


de outras informações. Inferir também pode significar chegar a uma
conclusão a partir de outras percepções ou da análise de um ou mais
argumentos. https://www.significados.com.br/inferencia/ acessado
em 15/02/2019.

Glossário

Analogia é uma relação de semelhança estabelecida entre duas


ou mais entidades distintas. O termo tem origem na palavra grega
“analogía” que significa “proporção”.

Pode ser feita uma analogia, por exemplo, entre cabeça e corpo e entre
capitão e soldados. Cabeça (cérebro) e capitão são duas entidades
análogas. Possuem função semelhante que, neste caso, é comandar,
dar ordens. De igual forma, corpo e soldados exercem a mesma função
que é obedecer às ordens. https://www.significados.com.br/analogia/
acessado em 15/02/2019

33
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Serão usados alguns textos para definir por inferência que tipo de
Diversões pode-se ou deve-se praticar. Veja um exemplo.

1 Coríntios 10:23-33 (Nova Almeida Atualizada 2017)

Diversões
I. Convém ou edifica? v. 23
II. Essa diversão glorifica a Deus? v. 31

III. Essa diversão escandaliza? v. 32


IV. A consciência acusa?

Romanos 14:22-23 (NTLH) 22

V. Pode ser motivo de ação de Graças?

1 Timóteo 4:4-5 (NVI-PT)


VI. Paulo ou Cristo Fariam isto?

1 Coríntios 11:1 (NVI-PT) 1 Tornem-se meus


imitadores, como eu o sou de Cristo.

3.3 A Pregação Planejada


Na rotina eclesiástica, ou na rotina pastoral individual, a organização
de uma agenda de pregações tende a ser uma grande facilitadora
diante dos compromissos e objetivos pastorais sobre o ministério. O
planejamento de uma pregação deve ser feito em oração e sob a direção
do Espírito Santo, podendo ser mensal, trimestral ou anual. Acompanha-
se o calendário cristão: ano novo, paixão, ressurreição, dia das mães, e o
calendário da igreja local ou da denominação.

Esse planejamento pode ser organizado dentro de uma série de


sermões sobre um assunto, ou seguindo um livro específico da Bíblia. O
pregador pode receber sugestões dos membros da igreja, ou da equipe de
planejamento de culto. Deve haver flexibilidade. Ter em mente, em cada
sermão, os objetivos; e considerar a situação da comunidade e do mundo.

34
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3.4 A Interpretação do Texto


A interpretação é o efeito de esclarecer o sentido e a finalidade da
ideia principal de um discurso ou texto. A interpretação do texto bíblico,
tem por objetivo esclarecer o significado da mensagem direcionada aos
ouvintes originais, considerando o contexto histórico, contexto social e
público a quem foi primeiramente endereçado, e esclarecer, como também
aplicar a mensagem, ao contexto histórico, contexto social e público atual.
A “Interpretação é o esforço de uma mente [aquele que interpreta] em
seguir os processos mentais de outra mente [o autor, ou comunicador,
original] por meio de símbolos que chamamos de linguagem” (DANA;
GLAZE,Jr 1936, p. 70).

Os passos a serem dados na interpretação de um texto são


mencionados em seguida.

3.5 O Texto e seu Fundo Histórico


Ao preparar o sermão baseado em um texto ou história bíblica, é
importante dominar algumas informações. Para isso, se faz necessário
se aprofundar em uma pesquisa histórica e cultural acerca do que cercava
o texto citado, recorrendo a própria Bíblia, livros de história, mapas
geográficos, pesquisas, e demais ferramentas de estudo que descrevam
o fundo histórico em que tal texto foi datado.

Para uma pesquisa de resultados satisfatórios, tem de se fazer


questionamentos plausíveis ao próprio texto bíblico ou aos dados
informativos encontrados: Quem foi o autor e sua situação; os leitores e
seu ambiente; ocasião e o propósito da escrita, e as condições geográficas,
políticas, econômicas e sociais.

35
< voltar

Veja um exemplo de pesquisa sobre contextualização.

ROTEIRO PARA A PESQUISA HISTÓRICA E CULTURAL

I. O Autor do livro

a. Quem é o autor (o significado do seu nome)?


b. Há provas internas ou externas de autoria (veja I Co
16.21)?
c. Quais os outros livros que ele escreveu?
d. Quais os outros livros que mencionam seu nome ou
feitos?
e. Qual a sua profissão?
f. Que tipo de pessoa ele era (veja Jeremias 1.6)?
II. Os destinatários do livro

g. A que grupo racial o livro se dirige (iudeus, gentios)?


h. Qual a perspectiva religiosa deles?
i. Que palavra(s) é(são) usada(s) para caracterizá-los?
j. Qual era a posição social deles (pobreza, nobreza)?
k. Quem eram seus líderes?
l. De que eles viviam (agricultura, comércio)?
III. Data e a época do livro

m. Em que ano o livro foi escrito?


Que guerra, ação inimiga ou catástrofe natural ameaçava ou
aconteceu?

Que líder secular dominava o cenário político?

36
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IV O contexto geográfico do livro

n. Quais países e cidades se destacam no livro? Que locais


específicos são enfatizados?
o. Que rio(s), montanha(s) ou planície(s) forma(m) o palco
onde Deus atua para se revelar?
V. As confirmações arqueológicas do livro

p. Quais objetos ou inscrições arqueológicas confirmam os


eventos elou personagens do livro?
VI. O cenário cultural do livro

q. Quais superstições, tabus ou elementos de magia


aparecem?
r. Qual o valor conferido à família?
s. Quais costumes aparecem quanto a alimentação,
vestuário, comércio, guerra, religião, idioma etc..?
t. Qual o código ético/moral demonstrado?
u. VII. O tema teológico do livro
v. Qual o assunto geral do livro (salvação, santificação,
julgamento)?
w. Que frase ou combinação de palavras se repete? Que
tema isto sugere para o livro?
x. Segundo os livros técnicos, qual seu tema?
VIII. Informaçõs interessantes

1. Que outras descobertas interessantes a sua pesquisa


revelou sobre o cenário por de trás do texto?

37
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3.6 O Texto e seu Contexto


Contexto é a relação entre o texto e o conjunto de circunstâncias
que ocorrem dentro do texto, portanto, elementos que acompanham e
caracterizam a comunicação das ideias expressas pelo texto. O contexto
diz respeito ao espaço, situação, condição; e considera a história, a
sociedade, a cultura e a relação familiar presente direta ou indiretamente
no discurso.

Pode haver o contexto próximo, também conhecido por imediato,


ou o remoto. O contexto imediato trata-se de elementos ou expressões
presentes nos versículos próximos à informação que se procura
compreender, trazendo a compreensão mais direta. Já o contexto remoto
tende a esclarecer o material bíblico nos capítulos ao redor e mais
distantes. Ao tratar a contextualização de um texto bíblico, também se
deve levar em conta o princípio da revelação progressiva.

Para testar os limites de uma maneira mais objetiva é tentar


observar repetições de substantivos, ou locuções verbais semelhantes
e depois comparar com o que vem antes e depois do nosso texto. Use o
seguinte formulário:

Glossário

O princípio de Revelação Progressiva refere-se a compreensão de que


Deus revelou vários aspectos sobre si mesmo e sobre seu plano geral
e de salvação, para a humanidade em diferentes períodos de tempo,
períodos esses conhecidos como “dispensações”. O próprio termo
Revelação Progressiva esclarece a ideia de que a revelação não fora
plenamente comunicada em um momento de dispensação, mas
paulatinamente e a cada dispensação, a nova revelação se desenvolvia
sobre a dada anteriormente, progredindo desta forma. Portanto, a
compreensão que se tinha de quem era Deus e seus planos em Gênesis
eram limitados, se comparados ao desenvolvimento de revelação que
se tinha nos Evangelhos. Isso não significa que um livro bíblico tenha
mais informação do que o outro, e sim que cada um representa uma
revelação específica dada, que pode ser a progressão de uma anterior.

38
< voltar

Leia o que vem antes e o que vem depois deste texto e tente marcar
os seus limites através de um senso natural dos argumentos.

Cuidado! Alguns autores bíblicos tem o costume de fazer parênteses,


quando incluem um novo assunto no meio de outro e depois voltam ao
assunto principal. Veja algumas dicas de como executar este trabalho:

Texto Bíblico Palavras Letra e número de Assunto principal


Versículo à ou frases repetições (algumas vezes
versículo. semelhantes podemos ter diferentes (Este teste nos
palavras ou frases semel- ajuda a verificar se o
hantes elas são representa- assunto que escol-
das pelas letras e o número hemos é mesmo
a seguir representa a o que o autor está
quantidade de vezes que foi discorrendo ou se ele
repetida até aquele momen- mudou de assunto)
to. Exemplo A1, A2 ou B3)

3.7 O Texto e sua Análise


A análise de um texto consiste, primeiramente, em uma leitura
atenta e no processo de decomposição do texto em partes, a fim de se
compreender detalhadamente a visão geral do texto, e que posteriormente
resultará na interpretação textual, que seria o reconhecimento do seu
contexto e seu sentido. Na análise é feito um estudo minucioso sobre
determinado tema, entendendo todas as especificidades que compõem
cada parte do todo. Ao passo que a análise é responsável por organizar,
separar e examinar os elementos do texto, a interpretação busca pelo
significado deste. É preciso conhecer o sentido das linguagens, se é
linguagem figurada ou linguagem literal; o gênero literário, a quem foi
direcionado, o tema e o contexto da fala, os ideais comunicados, etc.

Uma das regras do estudo da Hermenêutica para análise e


interpretação de um texto bíblico, é a necessidade de examinar as
passagens paralelas. Passagens paralelas são as passagens bíblicas que
fazem referência uma a outra, sendo correlatas por alguma característica
ou por tratarem do mesmo assunto.

39
< voltar

3.8 O Texto e suas Verdades


Ao estruturar um sermão, o pregador deve enunciar a verdade
central do texto trabalhado, em uma declaração clara e concisa. Propor
uma listagem das verdades significativas do texto, podendo conduzir a
pregação através dessas afirmativas, e por fim aplicar estas verdades às
necessidades dos ouvintes.

3.9 O Texto e seu Estudo


No preparo de um estudo coerente e aprofundado de uma
mensagem, o pregador deve se ater no estudo do texto em várias versões
das traduções existentes em português, além de, se possível, se dedicar ao
estudo das versões originais. Indica-se que durante o estudo, o pregador leia
com atenção várias vezes e, de preferência em várias versões, o texto que
se pretende estudar, para se obter a compreensão do que o autor original
pretendia ensinar. Buscando descobrir qual era o assunto principal do texto.

O acesso às várias versões de traduções da Bíblia também auxilia


na percepção de como os tradutores entenderam o texto e tentaram
torná-lo mais compreensível para os leitores. Quando as diferenças entre
as versões são muito divergentes, se requer uma pesquisa mais profunda
das palavras chaves, da teologia do texto ou, se possível, das línguas
originais, para esclarecer as dúvidas porventura provocadas.

Outra técnica que tende a ser muito vantajosa, é o de examinar


traduções da Bíblia em diferentes línguas; examinar o grego e o hebraico;
examinar os comentários bíblicos e outros recursos de pesquisa.

40
4. O Assunto e o Título do Sermão
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4. O Assunto e o Título do Sermão

Introdução
As fontes que podem ser recorrentes para colher dados para se definir
e dominar um assunto para um sermão é uma leitura frequente e dedicada
das Escrituras Sagradas, e um estudo que permita o conhecimento das
verdades bíblicas, e leva ao pregador a ter uma perspectiva madura e
ampla de verdades bíblicas. Essa leitura diligente das Escrituras deve ser
habitual, aplicada e pode ser feita durante a leitura devocional diária.

Durante o estudo específico, direcionado para o preparo de um


sermão, os textos procurados devem servir de base para fundamentar
o assunto previamente escolhido, e se deve considerar a experiência do
povo e do pregador, como os problemas humanos concretos que surgem
do contato pastoral com as ovelhas e que pedem um posicionamento
bíblico; o momento histórico - Fatos de relevo acontecidos no mundo e
na comunidade social e religiosa. Para isso, o pregador precisa se manter
atento e atualizado ao ministério e a sociedade, lendo jornais, revistas e
portais de notícias; lendo livros, artigos e sermões de outros pregadores;
respeitando também uma possível inspiração momentânea sobre
uma ilustração, um ponto do sermão ou mesmo a estrutura base para
complementar todo o estudo até ali feito.

O assunto tema de um sermão deve ser escolhido com sabedoria, e


se requer ainda mais prudência ao estuda-lo e estrutura-lo. Considerando
que o pregador tenha certa intimidade com os textos bíblicos e irá saber
fazer um primeiro esboço com facilidade somente por meio de inspiração
momentânea, diante de uma leitura rápida e superficial do texto, não se
pode desconsiderar a importância de continuar se dedicando tanto a
estrutura geral do sermão, como da fala em cada ponto. O pregador não
deve ter a prepotência em pensar que seu primeiro entendimento a partir
de uma interpretação básica do texto já seja suficiente para concluir a
escrita final de um sermão. Assim como jamais deve considerar uma
inspiração momentânea como autoridade na construção do esboço

42
< voltar

definitivo, o preparo de uma mensagem é um processo árduo que


demanda tempo, reflexão, pesquisa e temor do Senhor; não confie toda
essa responsabilidade a somente uma inspiração.

Há teólogos homiletas que defendem que o assunto de um sermão


não deve ser previamente escolhido pelo pregador ou administração
eclesiástica, defendendo que, se assim feito, o pregador impõe um tema
sobre o texto bíblico e que com isso se corre o risco de invalidar ou
descontextualizar a verdade bíblica original pretendida pelo texto. Alegam
que o ideal seria ir ao texto e dele tirar o tema do sermão, e não ir até
o texto com uma ideia previa. Realmente, a prática de definir o assunto
previamente requer uma pesquisa mais dedicada e uma visão muito
cautelosa sobre o texto bíblico, considerando que as Sagradas Escrituras
são a autoridade máxima sobre o pregador e igreja, e jamais o contrário.
Se faz necessário sujeitar-se a possibilidade de precisar abandonar um
texto durante o estudo deste e recorrer a outro texto para usar como base,
buscando manter a fidelidade da ideia central do texto bíblico, ou mesmo
adaptar o próprio tema escolhido para que ele caiba ao texto.

Entretanto, por mais que a escolha de definir o assunto previamente


exija um estudo mais árduo e talvez longo, definir o tema anteriormente
pode ser um recurso eficiente em situações especificas, além de ser uma
ação prudente se unida ao fato de que o pastor conhece o histórico de
pastoreio da igreja e se dedica diariamente a Palavra para saber julgar se
determinado texto bíblico cabe ou não ao assunto que pretende abordar.

4.1. O Título do Sermão


O título é o sermão condensado, transmitindo o enfoque do
discurso de modo mais sintético. Enquanto que o tema, trata do assunto
a ser abordado ao longo no discurso de forma ampla. Ambos servem
para orientar o pensamento na preparação do sermão, assim como
para esclarecer a construção do pensamento exposto e para auxiliar a
congregação a entender o propósito do pregador. Para que seja feita uma
boa ministração de uma mensagem, é preciso apontar (indicar o assunto)
e dividir (esclarecer o assunto).

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Glossário

Conteúdo pelo qual se desenvolve e discorre um texto.

Um bom tema deve ter clareza; especificidade; brevidade, o ideal é


ter entre duas a sete palavras; deve ser adequado ao púlpito; ser relevante,
sendo vital, ter relação com a vida do povo; e originalidade, mas sem
sensacionalismo, irreverência ou vulgaridade.

Para expor um tema em um sermão, é necessário ter em mente


que o tema vai ser “dividido” em tópicos, também chamado de “pontos do
sermão”. Para isso, deve haver um elemento “divisível” no texto escolhido,
por meio da palavra chave. Veja alguns exemplos:

Bênçãos

I. Da plenitude dos Tempos Gl 4:1-11


II. Da unidade na salvação Ef 2: 11-22
III. Do Deus todo poderoso Gn 17
IV. Do Reino messiânico Is 11:1-9

Caminhos

V. Para morte Pv 14: 12


VI. Para Deus

Características do Verdadeiro Cristão 1 Pe 1:1-2


Certezas As certezas do crente 1 Jo 5:13-20
Como? Descobrir a minha vocação
Conseqüências da Justificação Rm 5:1-5

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No preparo de sermões, é preciso variar sempre na escolha dos


seus temas. Entre as tantas opções há os temas interrogativos, onde o
pregador pode iniciar sua fala fazendo uma pergunta, por exemplo, “Quem
matou Jesus?”. Nesse caso, as divisões do sermão são as respostas
para a pergunta tema; os temas imperativos, emitem uma verdade
inquestionável ou uma ordem expressa baseada na verdade bíblica.
Tomando como exemplo o texto de 1 Timóteo 4:16, o título poderia ser
“Cuide de você mesmo e de seu ensino”, e a divisão de tópicos baseada em
direcionar o cumprimento desta ordem expressa: Estudando, repartindo
e vivendo. Para esclarecer um tema imperativo pode-se direcionar o
sermão respondendo a três questões: Por que, Quando, e Como; os temas
declarativos, referem-se objetivamente a um fato sem omitir a opinião.
Por exemplo, no texto de Mateus 7.2 um título possível seria “A vida é um
eco”, e os tópicos seriam: de nossos critérios e Julgamentos; os temas
históricos, é quando se toma um fato histórico da bíblia e o aplica a
uma realidade atual. No caso de Marcos 2.1-11, um tema provável seria
“modelo para o evangelista pessoal”.

Saiba Mais

O tema pode ser anunciado tanto antes como após a introdução do


sermão, mas nunca deixe de anunciá-lo e tenha certeza de que os
ouvintes sabem sobre o que você vai falar.

Algumas ferramentas podem auxiliar a definir o título de um


sermão, entre elas estão o dicionário de sinônimos, a lista de palavras-
chaves e muito bom senso, considerando o perfil eclesiástico da igreja,
mas também sendo cauteloso e acolhedor com possíveis visitantes,
cristãos de outras denominações ou de linha teológica diferente da sua
ou mesmo descrentes, não deixando de ser fiel ao conteúdo bíblico.

A escolha do título é uma parte muito significativa do sermão, se


fazendo necessário ser atual, esclarecedor e respeitável. O título de um
sermão tem o poder de causar o impacto necessário para chamar a
atenção e despertar a curiosidade do ouvinte, que manterá o interesse até

45
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a conclusão da exposição, mas também se corre o risco de condenar todo


o sermão, provocando o desinteresse e a desatenção de alguns ouvintes,
portanto seja o mais simplista e abrangente possível. Lembrando que até
o fim da explanação do sermão, o ouvinte deve ter em mente o significado
do título e dominar a proposta do tema, ou seja, ter compreendido
plenamente a mensagem da pregação.

46
5. A Estrutura do Sermão
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5. A Estrutura do Sermão
Qualquer estilo de sermão deve ser pregado de maneira lógica e
organizada, e para isto se faz necessário saber estruturar o discurso da
pregação e do esboço.

O esboço de um sermão é um resumo com as noções gerais


da pregação a ser ministrada. Basicamente um roteiro de tudo que foi
estudado pelo pregador acerca de determinada mensagem. Uma estrutura
deve ser organizada com título, tema, versículo chave, pontos de divisão
com seus subtítulos e versículos, conclusão e apelo, anotados de forma
que sirva para direcionar o pensamento do pregador. O esboço é usado
para relembrar ao pregador da vasta pesquisa feita por ele, desta forma, é
necessário que o pregador domine o conteúdo para interpretar o esboço
de maneira eficiente. O esboço é somente um recurso de estrutura da
mensagem, para facilitar a memorização, trazendo mais confiança e o
mantendo o pregador mais centrado na fala.

Estruturar um sermão é também uma questão de aptidão, porém


pode-se desenvolver a partir da instrução, prática e imaginação.

A estrutura é de extrema importância para o próprio pregador, pois


assim ele pode colocar os seus pensamentos em ordem. Com a falta
de estrutura, a possibilidade de haver digressões é ainda maior. O maior
problema da falta de preparo é a obscuridade. Já para os ouvintes, a
estrutura ajuda a compreensão e na retenção do conteúdo.

As características de uma boa estrutura são Unidade; Ordem, em


que as ideias tenham uma sequência lógica; Equilíbrio, tendo proporção
ou simetria e Progresso, havendo movimento em direção ao clímax. Cada
pregador deve desenvolver a sua própria maneira de estruturar os sermões.

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Os elementos da estrutura devem seguir a seguinte ordem:


Introdução (em alguns livros também é chamado de exórdio); Explicação
sobre o assunto ou o texto; Proposição; Divisões; Recapitulação; Aplicação;
Conclusão (em alguns livros é também chamada de peroração) e Apelo.

TEXTO

TÍTULO
Tema
INTRODUÇÃO Proposição
EXPLICAÇÃO

I
DIVISÕES II
III
Recapitulação CONCLUSÃO
Aplicação

APELO

FONTE: o autor, 2020.

A partir daqui, iremos apresentar as partes do sermão, suas


características e dicas de como colocar em prática os ensinamentos
passados até aqui.

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5.1 Características de uma Boa Introdução

A
A. Objetivos da introdução
I. Preparar o ouvinte para receber a mensagem

i. Ganhar a simpatia

ii. Ganhar a atenção

II. Preparar o ouvinte para entender o assunto e o propósito do


sermão

III. Criar uma atmosfera de empatia e amizade

B
B. Para tanto ela deve ser :
I. Interessante

II. Breve

III. Apropriada

IV. Cordial

V. Clara

VI. Modesta não prometer mais do que pode oferecer e não


ser rebuscada demais.

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C
C. Tipos de introdução
I. Textual Apenas a repetição do texto

II. Contextual Explicação do contexto e pano de fundo

III. Descritivo Dramatização do texto

IV. Delineamento do assunto Uma explanação inicial do


assunto

V. Problematização Muito usada na chamada “Life situation


preaching”, também conhecida como pregação pastoral ou
psicológica, desenvolvida por Fosdick, ele afirmava que toda
pregação deve ter como objetivo a solução de um problema
humano vital e importante.

VI. Objetivo Mostrar qual é o objetivo da mensagem.

VII. Citação Uma citação notável

VIII. Ilustração As vezes com humor

IX. Manchete Uma afirmação que desperte o interesse, ou


um fato dos jornais da semana.

X. Ocasião Especial Uma descrição do momento especial.

XI. Experiência pode ser de outra pessoa.

XII. Perguntas que você deseja responder na mensagem.

XIII. Lição objetiva veja um exemplo a seguir (retirado


da revista “O Evangelista de crianças, ano 42, volume 173,
out/nov/dez/1998).

XIV. Estatísticas

XV. Declaração geral é o pior de todos.

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5.2 Conselhos Práticos


A. Não peça desculpas, a não ser excepcionalmente
A. Não procure ser engraçado:
i. Se não é natural para você

ii. Se for varie de vez em quando

B. Não agradeça as apresentações


C. Não comece em tom fortíssimo
D. Não comece sempre da mesma forma
E. Gaste tempo na preparação de sua introdução, só assim você
deixará de ser repetitivo.

F. Deixe a forma final da introdução para o final da preparação do


sermão

G. Seja breve ao referir-se ao prazer de estar aqui...


H. Se achar que deve comece com uma oração breve.

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I. Evite a introdução de declaração geral


J. Cuide bem da primeira sentença da introdução. Cuidado com a
primeira impressão.

K. Ao concluir a introdução diga com clareza o tema ou a proposição.


L. Não discuta na introdução o assunto do Sermão.

5.3 A Explicação
Nem todo sermão precisa de explicação, porém, às vezes é
necessário dar explicações relativas ao contexto, a história, a geografia,
ou ainda, definir rapidamente alguns termos chaves.

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As Divisões
a. Vantagens
I. Assegura a unidade do sermão
II. Assegura a clareza da discussão
III. Auxilia no movimento progressivo da discussão
IV. Mantém o interesse dos ouvintes
V. Auxilia os ouvintes a memorizarem o ensino

b. Cuidados
VI. As divisões devem relacionar-se com o tema
VII. Cuidado com o excesso de subdivisões
VIII. Quanto ao número de divisões, isto dependerá do tempo que
você tem para falar, por isso a maioria dos pastores usam 3
divisões para um sermão de 30 minutos.
IX. Breves exortações dispensam divisões. (são como aplicações
ou parêntesis)
X. Expressar cada divisão
a. Com Clareza
b. Concisão
c. E Uniformidade
XI. Lembrar que uma divisão é uma das partes do assunto e não
o todo.
XII. Cada divisão deve ser distinta das outras cuidado, pois às
vezes escrevemos divisões cujo conteúdo será o mesmo.
XIII. Deve haver certo equilíbrio na quantidade de matéria em cada
divisão.
XIV. Coloque as divisões em ordem progressiva para levar as
pessoas ao clímax.

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XV. Anunciar de modo claro, porém que de a ideia de progressão as


transições entre as divisões
XVI. Excepcionalmente, anuncie todas as divisões de uma vez, porque
geralmente isto diminui a sensação de que a pessoa está sendo
conduzida ao clímax. Alguns autores veem isto como dizer
quem é o assassino, no começo de um filme de investigação
criminal, onde quem assiste está tentando descobrir junto com
o avançar do enredo. (LOWRY, 1980, p. 22–25)

Tipos de divisões
A. Causas (CRANE, 2003, p. 143)
Marcos 14:66-72 (Nova Almeida Atualizada 2017)

66 Estando Pedro embaixo no pátio, veio uma das empregadas


do sumo sacerdote

67 e, vendo Pedro, que se aquecia, fixou os olhos nele e disse: —


Você também estava com Jesus, o Nazareno.

68 Mas ele negou, dizendo: — Não o conheço, nem compreendo


o que você está falando. E saiu para o pórtico. E o galo cantou.

69 E a empregada, vendo-o, tornou a dizer aos que estavam ali:


— Este é um deles.

70 Mas ele negou outra vez. E, pouco depois, os que estavam


ali disseram outra vez a Pedro: — Com certeza você é um deles,
porque também é galileu.

71 Ele, porém, começou a praguejar e a jurar: — Não conheço


esse homem de quem vocês estão falando!

72 E no mesmo instante o galo cantou pela segunda vez. Então


Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe tinha dito: “Antes que
o galo cante duas vezes, você me negará três vezes.” E, caindo
em si, começou a chorar.

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Tema: Por que Pedro Negou a Jesus?

I. Por excesso de autoconfiança


II. Por Descuido na oração
III. Por usar as armas da carne na luta espiritual
IV. Por tentar seguir Jesus de Longe

B. Efeitos (CRANE, 2003, p. 144)


Números 14:1-11 (Nova Almeida Atualizada 2017)

1 Então toda a congregação se levantou e gritou em alta voz; e o


povo chorou aquela noite.

2 Todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e contra


Arão; e toda a congregação lhes disse: — Quem dera tivéssemos
morrido na terra do Egito ou mesmo neste deserto! 3 E por que
o Senhor nos traz a esta terra, para cairmos à espada e para que
nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não seria
melhor voltarmos para o Egito?

4 E diziam uns aos outros: — Vamos escolher um chefe e


voltemos para o Egito.

5 Então Moisés e Arão caíram sobre o seu rosto diante da


congregação dos filhos de Israel.

6 E Josué, filho de Num, e Calebe, filho de Jefoné, que eram


daqueles que espiaram a terra, rasgaram as suas roupas

7 e falaram a toda a congregação dos filhos de Israel, dizendo: —


A terra pela qual passamos para espiar é terra muitíssimo boa.

8 Se o Senhor se agradar de nós, então nos fará entrar e nos dará


essa terra, que é uma terra que mana leite e mel.

9 Tão somente não sejam rebeldes contra o Senhor e não


tenham medo do povo dessa terra, porque, como pão, os
podemos devorar; a proteção que eles tinham se foi. O Senhor
está conosco; não tenham medo deles.

10 Apesar disso, toda a congregação disse que Josué e Calebe


deviam ser apedrejados; porém a glória do Senhor apareceu na
tenda do encontro a todos os filhos de Israel.

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11 O Senhor disse a Moisés: — Até quando este povo me


provocará e até quando não crerá em mim, apesar de todos os
sinais que fiz no meio dele?

Tema: O que produz a Incredulidade?

I. Denigre o caráter de Deus


a. O faz parecer mau
b. O faz parecer fraco
II. Envilece o caráter do homem
a. O faz covarde
b. O faz rebelde
III. Atrapalha a obra de Deus
a. Desanima os crentes
b. Faz os incrédulos zombarem
IV. Provoca a Ira de Deus
a. Na retenção das bênçãos oferecidas
b. Na aplicação do seu castigo

C. Razões que apoiam uma tese (CRANE, 2003, p. 145)


Tema: Faça-se a vontade do Senhor

a. Atos 21:14 (Nova Almeida Atualizada 2017)


b. 14 Como Paulo não se deixou persuadir, conformados, dissemos:
— Seja feita a vontade do Senhor!
Proposição:

A. Afirmação teológica: O Cristão sempre deve ser caracterizado


por uma atitude de submissão a soberana vontade de Deus.
B. Sentença de Transição: Consideremos as razões que
demonstram quão razoável é esta atitude.

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I. Esta atitude honra ao Senhor


a) Esta atitude reconhece o direito de Deus de fazer o que ele
quiser com o que é seu.
b) Esta atitude reconhece a sabedoria dele em dirigir a sua obra
c) Reconhece o seu poder para controlar todas as coisas
II. Esta atitude abençoa os seus filhos
a) Isenta-nos de responsabilidades
b) Coloca-nos em condições de orar com autoridade espiritual.
c) Coloca-nos em posição para sermos iluminados
d) Coloca-nos em posição de experimentarmos o seu poder

D. Meios para alcançar um fim (CRANE, 2003, p. 146)


Romanos 7:11 (Nova Almeida Atualizada 2017)

11 Porque o pecado, aproveitando a ocasião dada pelo


mandamento, me enganou e, por meio do mandamento, me
matou.

Tema: Como o pecado engana aos homens?

Proposição: (AT) O Domínio universal do pecado se deve, ao menos


em parte, por sua extrema habilidade de enganar.

A. (ST) Isto nos faz perguntar: como o pecado engana aos homens?
I. O pecado engana ao homem mediante a glorificação de seus
supostos benefícios
II. O pecado engana ao homem mediante o descrédito da doutrina
do castigo
III. O pecado engana ao homem mediante a apresentação de
falsos caminhos de salvação
Obs: A palavra-chave aqui é “Como?” e a resposta é indicada pela
expressão “mediante”.

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E. Caracterização e significado das características


(CRANE, 2003, p. 147)
F. Perguntas – Quem, Como, Onde, Por quê, etc.
(CRANE, 2003, p. 147)
G. Justa posição de dois conceitos contrastados ou
complementários (CRANE, 2003, p. 149)
Existem vários pares de conceitos que são de tal maneira inseparáveis
que quando um deles é mencionado os outros nos são sugeridos quase
automaticamente. Ex (positivo e negativo, sujeito e objeto, divino e
humano, o temporal e o eterno, o material e o espiritual, etc...) Este tipo de
divisão é apropriado quando o texto apresenta contrastes.
Atos 16:25-34 (Nova Almeida Atualizada 2017)

25 Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam


louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam.

26 De repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os


alicerces da prisão; todas as portas se abriram e as correntes de
todos os presos se soltaram.

27 O carcereiro despertou do sono e, vendo abertas as portas


da prisão, puxando da espada, ia suicidar-se, pois pensou que os
presos tinham fugido.

28 Mas Paulo gritou bem alto: — Não faça nenhum mal a si


mesmo! Estamos todos aqui.

29 Então o carcereiro, tendo pedido uma luz, entrou correndo e,


trêmulo, prostrou-se diante de Paulo e Silas.

30 Depois, trazendo-os para fora, disse: — Senhores, que devo


fazer para que seja salvo?

31 Eles responderam:— Creia no Senhor Jesus e você será salvo


— você e toda a sua casa.

32 E pregaram a palavra de Deus ao carcereiro e a todos os que


faziam parte da casa dele.

59
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33 Naquela mesma hora da noite, cuidando deles, lavou-lhes as


feridas dos açoites. Logo a seguir, ele e todos os membros da
casa dele foram batizados.

34 Então, levando-os para a sua própria casa, deu-lhes de comer;


e, com todos os seus, manifestava grande alegria por ter crido
em Deus.

Tema: Uma pergunta importante e uma resposta adequada.

Proposição: Nosso texto nos apresenta uma pergunta importante


que recebeu uma resposta adequada.

a. A pergunta: O que preciso fazer para ser salvo?


I. Nesta pergunta vemos uma consciência de pecado e de perdição
II. Nesta pergunta vemos um anelo de pureza e perdão
III. Porém nesta pergunta vemos um erro e uma confusão
b. A resposta acertada foi: Crê no Senhor Jesus Cristo e será salvo.
I. Esta resposta foi acertada porque indicou o único que é poderoso
para salvar.
II. Esta resposta foi acertada porque indicou a única condição pela
qual podemos ser salvos.

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Ilustração
Ilustrar é “lançar luz sobre”. São como janelas nas casas. Os
grandes pregadores foram bons no uso de ilustrações.

A. Necessidade de ilustração.
I. Meio pedagógico e eficiente
II. Auxilia a memória
III. O método de Jesus era de ilustrações.
IV. As ilustrações ajudam a convencer.
V. A ilustração desperta a reação, emotiva.
B. Tipos de Ilustrações. “São imagens mentais”
I. Linguagem pictórica – metáforas. Jeremias Cap. 2 – Poesia.
II. Estórias, narrativas ou histórias.
III. Poemas.
IV. Frases notáveis.
C. Fontes
I. Bíblia material abundante com autoridade.
II. Literatura
a. Biografias e autobiografias,
b. Às vezes ficção,
c. Dramas,
d. Crônicas.
III. Experiências pessoais do pregador.
IV. A história
a. Secular.
b. Eclesiástica.
c. História contemporânea.

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V. Jornais e revistas,
VI. A ciência,
VII. As artes,
a. Música,
b. Pintura,
c. Artes sacras – Christ and the fine Arts.
d. Filmes.
e. Peças.
f. Teatrais.
VIII. Livros de sermões.
IX. Livros de ilustrações.
X. O arquivo. Falar sobre a montagem do arquivo do pregador.
XI. A imaginação do pregador.
B. Qualidades de uma boa ilustração.
I. Facilmente compreendida.
II. Pertinente ou apropriada.
III. Atual.
IV. Deve ser crível.
V. Digna – condizente com o púlpito.
VI. Interessante.
VII. Breve.
C. Nove sugestões práticas para ilustrações.
I. Não usar número demasiado de ilustrações.
II. Preparar as ilustrações com cuidado.
III. Variar a natureza das ilustrações.
IV. Cultivar a arte de contar estórias.

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V. Ser preciso nos dados mencionados.


VI. Não exagerar.
VII. Não abusar das ilustrações de casa.
VIII. Evitar piadas a não ser em casos excepcionais.
IX. Nas experiências pessoais o pastor nunca é o herói.
D. Sugestões de Leitura:
a. El Arte de Ilustrar Sermones. THOMPSON (2001).
b. Varão de Dores RIZZO (1963)

Peroração – Conclusão
A. Cuidados com a conclusão (Peroração)
I. Não negligenciar – isto é preparar cuidadosamente.
II. Não enganar o povo – “vou concluir” – conclua.
III. Evite bater no ar de todos os lados – divagar.
IV. O tempo será de mais ou menos 10% do tempo do sermão.
V. Não acrescentar matéria nova na conclusão.
VI. Não pedir desculpas.
VII. Na conclusão não usar anedotas. Você está levando as
pessoas a uma decisão.
VIII. Não fazer gestos que distraia a atenção do povo.
IX. Não concluir sempre do mesmo jeito.
B. Qualidades de uma boa conclusão.
I. Deve ter unidade.
II. Clareza.
III. Deve ser breve.
IV. Deve ser pessoal.

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V. Deve ser específica.


VI. Geralmente positiva.
VII. Vigorosa.
VIII. Amorosa.
C. A estrutura da conclusão.
Normalmente 3 elementos:

a. Sumário do sermão.
b. Aplicação – relacionamento da verdade com a vida dos ouvintes.
c. Apelo.
D. Variações
I. Uma ilustração – Veja o exemplo: corações tranquilos.

FONTE: KASCHEL (1959, p. 11)

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II. Poesia ou hino (Letra) (KASCHEL, 1959, p. 57)


III. Apelar à imaginação.
IV. Podemos terminar com oração.
V. Demonstração.
VI. Terminar com perguntas.
VII. Repetição do texto.

Sermões Especiais
Sermões funerais
A. Propósitos
I. Conforto para a família
II. Apresentação do plano de Salvação
III. Panegírico1 , Discurso laudatório
B. Sugestões
I. Breve
II. Ter cuidado se o falecido não era crente
III. Se houver necessidade de falar no cemitério seja brevíssimo.
IV. Talvez uma parte com testemunhos.
V. Sempre começar com tempo suficiente para sair na hora certa.
VI. A Igreja romana adota uma posição drástica para com os
suicidas, mas não podemos, sem dúvidas realizar o culto. Pois
não sabemos o que se passava na mente do mesmo.
I. Alguns textos: Jó 11; Sl 116; Ap 14:13, IISm 12; Jo 1 e 2, Jó
19:25; I Rs 2:2; Rm 8; I Co 15; Ec 7; Ec 12:12.

1 Discurso de exaltação feito publicamente em louvor de alguém ou de uma entidade


abstrata https://www.dicio.com.br/panegirico/ acessado em 20/05/19

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Sermão de casamento
Também atinge muita gente.

A. Propósitos
I. Esclarecer a verdadeira natureza do casamento.
II. Aconselhar os nubentes.
III. Brevidade – relativo aos noivos – a combinar.
IV. Um casamento não deve ser igual ao outro.
V. Hinos, alianças, votos.
VI. Deve haver um jenuflexório.
VII. Haverá cumprimentos.
VIII. Se vocês quiserem usar beca.
IX. Orientar os casais quanto ao fotógrafo.
X. Textos. Gn 2.18-24, comentário de Cântico dos Cânticos, Jo 2;
Ef 5.22-23, I Co 13.

Aniversários
Propósito – Não é laudatório, é apenas uma reunião de agradecimento
a Deus pela preservação da vida.

a. Uma palavra de ânimo, de coragem.


b. Uma palavra de evangelização meio disfarçada.
c. Sugestões:
I. Que a mensagem seja adequada ao momento.
II. Deve ser breve, 10 a 15 min
III. Os presentes devem participar
IV. Recitar versículos.
V. Salmos 90, 23, 71, 1.

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Discursos oficiais ou sermões oficiais


Propósitos – inspirar e desafiar as pessoas.

Deve haver um preparo cuidadoso no caso de formaturas ou


convenções, deve ser escrito e digitado.

A. Tenha um assunto para o sermão oficial.

Sermões para crianças.


As crianças frequentemente não estão no culto.

Existe normalmente culto para as crianças?

Seria válido?

A. Planos
I. Culto das crianças. Só funcionam em igrejas grandes. Pois é
necessário um local e pessoas especializadas para isto.
II. A partir de 9 anos devem participar do culto normal.
III. A mensagem para as crianças dentro do culto.
B. Variações
I. Cada 3 meses um sermão longo para crianças.
II. Um sermãozinho curtinho para as crianças todos os dias.
III. As vezes uma palavra no meio do sermão?
IV. O culto regular deve ser conduzido de tal forma que as crianças
possam entender.
C. Sugestões
I. Faça com que as crianças participem (repetir versículo, ler um
texto).
II. Faça que as crianças cantem.
III. Use linguagem adequada.

67
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IV. Fale de fatos e não de raciocínios.


V. Use a imaginação.
VI. Apele para o amor e não para o medo.
VII. Não faz mal pregar bom humor.

Sermões ilustrados
A. Vantagens
I. Ajudam na compreensão. Compreendemos melhor, gravamos
melhor.
B. Tipos
I. Quadro negro com esboço.
II. Projetor ou retroprojetor.
III. Desenhos – pincel atômico.
IV. Levar objetos.
V. Participação de grupos.
VI. Mágicas.
VII. Ventríloquos.
VIII. Fantoches.

Enunciação do Sermão
É o ato de apresentação do sermão ao povo.

Há 3 métodos de enunciação que variam de pregador para pregador


ou mesmo do próprio pregador.

A. TIPOS
I. Sermões lidos
a. Vantagens:

68
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i. Deixam o pregador descansado e a vontade.


ii. Evitam excessos e arrombos perigosos e até certos erros.
iii. Permitem menos burilamento2 da linguagem.
iv. Evitam a prolixidade.
b. Desvantagens:
v. Dificultam a inteiração do pregador com a congregação.
vi. Dificultam a inspiração do momento.
vii. Podem levar a monotonia.
viii. Amarra a gesticulação.
II. Sermões decorados e recitados
a. Vantagens:
i. Facilitam a comunicação.
ii. Mantem a premissa em forma.
b. Desvantagens:
i. Surgem problemas quando surgem pensamentos na hora.
ii. Gasta-se muito tempo na preparação.
iii. O medo de esquecer.
III. Sermões extemporâneos
Houve preparação, mas a linguagem e a forma são do momento.

a. Vantagens:
i. Estes sermões obrigam a pregar com rapidez.
ii. Requerem menos tempo de preparo do que os anteriores.
iii. Permitem o aproveitamento de ideias do momento.
iv. Permitem arrombos de emoção.

2 Retratar, estampar com buril; gravar: burilar uma lâmina de cobre. Tornar algo mais
requintado, fino: burilar textos. (Disponível em: https://www.dicio.com.br/burilado/)

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v. Permitem mais contato e interação do pregador com a


congregação.
b. Desvantagens
i. Podem levar o pregador ao descuido com o preparo.
ii. Omitem-se elementos de valor na hora da enunciação.
iii. Tornam o pregador preguiçoso pelo hábito de escrever.
iv. Prejudicam o estilo e a precisão.
v. Trazem o perigo de erros e gafes.
vi. Dependem para alcançar sucesso, do estado do pregador na
ocasião.
c. Cada um use o método que se adapta mais a sua pessoa.

Preparação para Enunciação


A. Se o sermão for lido, leia-se várias vezes e seja escrito em linhas com
espaçamento 3 e no estilo pontos marciais.
B. Se a pregação é com esboço, prepare-se os esquemas só para arquivo
e estudo e outro resumido condensado para o púlpito.
I. O texto deve ser digitado.
II. A introdução e a conclusão e passagens paralelas.
C. Subir ao púlpito com o corpo descansado e com o físico em forma.
Evitar fadiga nos dias anteriores.
D. Manter-se espiritualmente preparado, “unção”. (O diabo bate à porta
do pastor no domingo pela manhã).
E. Antes de pregar reunir-se com homens e mulheres espirituais para orar.

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O Tempo Destinado a Enunciação


A. Normalmente, em um culto de 1 hora, o sermão pode durar em torno
de 25 minutos.
B. Excepcionalmente, um sermão mais longo.
C. Planejar as partes do culto de modo a fazer tudo dentro de 1 hora.

A Voz Do Pregador
Depende:

A. Da saúde do pregador.
I. Potência da voz.
II. Tonalidade da voz.
III. O pregador é mordomo do seu corpo.
B. Em grande parte da posição do seu corpo.
C. Aprender a cantar.
D. Praticar leitura em voz alta.
E. Falar com a boca aberta.
F. Não começar o sermão com tom alto.
G. Cuidado com pregação ao ar livre.
H. Não gritar na pregação.
I. Aprender a respirar.
J. Variar o tom, a velocidade e a força.
K. Não falar quando estiver rouco.
Fonte: CRANE, 2003, p. 273.

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Num ninho de mafagafos

Cinco mafagafinhos há.

Quem os desmafagafizar

Bom desmafagafizador será.

É muito socó pra socó só coçá.

A. Ter consciência da importância da sua voz.


B. Exercitar a voz através do gravador – gravar o seu sermão.
(BLACKWOOD, 1985, p. 228)

A Movimentação do Pregador
A. A posição ereta é a mais comum. Firme com os dois pés no chão.
B. Defeito gravíssimo: Não ficar sempre pra frente, debruçado sobre o
púlpito.
C. Não falar com a mão na boca.
D. Adequar os gestos e emoções.
E. Não andar para o lado a todo instante.
F. Evitar gestos que distraiam a atenção do povo.
G. Mostrar os sentimentos pelas expressões do rosto.
H. Evitar ação retardada ou adiantada dos gestos.
I. Não se agarrar ao púlpito.
J. Nunca enfiar as mãos no bolso.
K. Não esmurrar o púlpito.

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Pregação e Comunicação
Indicação de leitura: A técnica da comunicação humana, de José R.
Whitaker Penteado (Editora: Cengage, 1964)

1. O estudo da comunicação é novo. Seus princípios se aplicam


à pregação do evangelho. Daí a necessidade de ser estudada
pelos pregadores.
2. A homilética, nós aprendemos, é parte da retórica. E a retórica
sagrada.
Não seria melhor classificar a homilética como parte da
comunicação?

A. O QUE É PREGAÇÃO
I. Pregação é o anúncio da mensagem de Deus.
II. Geralmente a pregação tem referência ao sermão.
III. Sermão é um discurso popular sobre uma verdade religiosa
contida nas Escrituras Sagradas e elaborada convenientemente
com o propósito de levar o auditório à persuasão.
Nesta preleção tomo por base o livro Anatomia da Comunicação, de
James J. Thompson (Editora: Bloch, 1969).

A. O QUE É COMUNICAÇÃO
IV. É a transmissão de uma informação de “fontes” para “receptores”
e de “receptores” para “fontes” (THOMPSON, 1969, p.11).
V. A comunicação não é um processo linear; é circular ou cíclico. A
informação passa da fonte através do receptor, voltando então
para a fonte em forma alterada, completando assim um ciclo.
Ex. “Você vai fazer este trabalho sozinho…” (THOMPSON, 1969,
p.11 in fine).

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A. OS QUATRO COMPONENTES DA COMUNICAÇÃO

fórmula

EMISSOR codifica

transmite
VIA
MENSAGEM VEÍCULO

VEÍCULO MENSAGEM

transmite
interpreta RECEPTOR

decodifica

FONTE: THOMPSON, 1969, p.13.

B. A REALIMENTAÇÃO OU FEEDBACK
I. O processo de comunicação é cíclico: há canais de retorno
ou de realimentação (feedback) de volta do receptor para a
fonte.
II. A realimentação ajuda a fonte a apurar a eficácia de sua
transmissão original. A fonte pode modificar mensagens
subsequentes. O teste é uma forma de realimentação.
O professor (pregador) recebe constante realimentação
dos ouvintes: expressões faciais, movimentos do corpo. O
professor (pregador) deve ser sábio na maneira de modificar
a sua maneira de ensinar, à luz da realimentação.
C. OS RUÍDOS
Ruídos são fatores dentro de um canal que interferem com a
mensagem. Ex. Uma dor de cabeça pode introduzir “ruído” no canal
visual. Não é som, necessariamente: é qualquer coisa que prejudique a
transmissão da mensagem.

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III. O professor (pregador) pode ser a fonte de ruído.


IV. Um nível excessivamente alto de ruídos leva à desorganização.
V. A ambiguidade ou entropia sempre existe na comunicação.
Ex. Chiclete no ouvido, no avião. As mensagens devem levar
ao receptor um mínimo se confusão. A mensagem perfeita
não permite escolha alguma, a não ser a mensagem com o
significado da fonte.
F. PREGAÇÃO E COMUNICAÇÃO (baseado em THOMPSON, 1969,
cap. 2)
A. O ato de pregar (ensinar) assemelha-se ao processo de
comunicação em muitos aspectos.
B. A pregação (ensino) é transmissão de informações ou de perícias
e modificação ou controle do comportamento. Todo pregador
(professor) é um agente de mudança.
VI. Pregar (ensinar) é provocar mudança. Pregar é influenciar
ou persuadir outra pessoa a mudar. A preocupação não é a
mensagem, mas a maneira em que a mensagem será recebida.
O ouvinte precisa mudar, e o pregador também. O ciclo pregação-
aceitação precisa ser complete.
VII. Pregar (ensinar) é conseguir atenção. É preciso introduzir, na
série de afirmativas, a novidade. Ex. Phil Harris.
VIII. Pregar (ensinar) é manejar a informação. O material teológico-
exegético-prático é imenso hoje, em inglês, português e espanhol.
A necessidade de ler revistas especializadas e de estar a par das
novidades bibliográficas.
IX. Pregar (ensinar) é interpretar o feedback (realimentação). O
pregador é um avaliador. O processo é circular. O pregador
aprende com os seus ouvintes. Aprende, entre outras coisas, se
sua pregação é eficaz ou não. O pregador instrui, e também é
instruído. O pregador deve aprender a mudar suas estratégias
e procedimentos face à resposta da congregação. A pergunta
é parte deste processo, do ouvinte – pregador. A falta de
flexibilidade da fonte diminui a eficiência do Sistema.

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1. A Fonte – é a nascente de mensagens e a iniciadora do ciclo de


comunicação.
2. O Receptor – é o intérprete de mensagens.
A. Mede-se a eficiência da comunicação pelas espécies de
decisão tomadas pelo receptor e sua maneira de mudar de
atitude.
B. Os significados não estão na mensagem, mas nos receptores
(princípio básico da comunicação). Ex. Os receptores (alunos
e professores) já haviam “arquivado” os significados de
princípio de incêndio, o alarme de incêndio, saída do prédio.
C. O receptor põe em ordem dados novos recebidos de modo
a que possam ser classificados de acordo com dados que já
possui.
D. O receptor atribui significação a fatos de modo a que
perpetuem a estrutura existente de sua organização
informativa. Ex. O conservador: jornais, livros, amigos,
conceitos conservadores.
E. Quando a exposição à informação desfavorável a pontos
de vista atuais é inevitável, o receptor pode distorcê-la,
selecionado e interpretando os dados de modo a manter
intacta a sua estrutura pessoal.
F. O receptor pode aprender, pode modificar-se. A criatura
humana tem a tendência inata de resistir a mudanças, mas
aceita informação e realiza mudanças quando tais mudanças
conduzem a uma organização mais estável dos dados
existentes. Aí a recompense da mudança supera a inibição
da mudança.
G. Na ausência de recompense conveniente, o receptor inclina-
se a entender apenas aquelas mensagens que requeiram
menor esforço a ser dispendido na modificação de sua
estrutura.

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3. A Mensagem
A. Visto que os significados residem nos receptores e não nas
mensagens, não podemos falar de uma mensagem, mas
de mensagens; tantas quantas forem os receptores. Ex. O
professor fala sobre Tiradentes. Um aluno observa a cor da
gravata do professor; outro as mãos que gesticulam, outro a
sua voz.
B. A informação a ser transmitida precisa ser primeiro “codificada”
pela fonte. O “código” são os símbolos que têm sentido para a
fonte e para o receptor. O código mais comum para nós é a
língua, falada ou escrita.
C. Uma vez codificado, a mensagem precisa competir; para atrair
a atenção, com outras mensagens do próprio meio. Ex. O calor;
tráfego na rua; conversas; devaneios, etc. Como competir?
Usando, por exemplo, a redundância ou repetição. Repetir
palavras chaves. Escrever no quadro.
4. O Veículo – é o canal ou cadeia de canais que liga a fonte ao
receptor.
A. Os veículos moldam a mensagem à sua própria imagem. Ex. Ler
um livro ou ver um filme. Cada veículo tem suas peculiaridades
ou influências sobre a mensagem. Veículo e mensagem são
inseparáveis.
B. O emissor escolhe o veículo mais apropriado à transmissão da
mensagem:
I. A voz – preleção, pregação.
II. Material escrito – folheto, porção, livro, provérbios, salmos,
NT, Bíblia, desenhos e gráficos.
III. Dispositivos.
IV. Filmes.
V. Fita, etc.

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G. APLICAÇÕES PRÁTICAS
O princípio básico da comunicação (III.2.(2)): Os significados
não estão na mensagem, mas nos receptores. Como são os nossos
receptores? Os níveis de linguagem.

SUPERPOSIÇÃO DOS DIALETOS ALTO E BAIXO


(Wonderly, Traducciones, p. 10)

Expressões literárias: vocabulário


A erudito, termos técnicos, retórica etc.

Dialeto sócio-educacional
alto (linguagem educada)
Zona de Superposição: linguagem
não elaborada, comum aos dois níveis
B sócio-educacionais.
Dialeto sócio-educacional
baixo (linguagem
não-educada)

Expressões não aceitas no nível alto:


C construções erradas, gíria etc.

FONTE: WONDERLY, 1968, p. 10 (renderizado).

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1. Que texto usar no culto e na pregação?


I. O texto de Almeida é de “legibilidade” muito difícil Ex. Dt. 32.32
II. A maioria do povo é analfabeta, e muitos semialfabetizados. Ex.
Os doentes – Pr. O. Alves / O porteiro – Dagmar B. Vidal
III. Pr. Pedro Vovchenco – lia primeiro Almeida, e depois, para o
povo entender lia a NTLH
IV. Habacuque 2.1-4 (NTLH, tradução provisória):
1. Eu vou subir à minha torre de guarda.
Ali vou esperar para ver o que Deus
vai me mandar dizer. E saberei também
que resposta ele dará à minha queixa.
2. O Deus Eterno me deu a seguinte resposta:
-- Escreva com clareza em tábuas de barro aquilo
que vou revelar a você, para que possa ser lido
com rapidez e facilidade.
3. Escreva, porque ainda não é tempo de
acontecerem essas coisas. Mas o tempo está
chegando depressa, e o que eu vou lhe mostrar
vai acontecer. Pode parecer que vai demorar,
mas espere. Acontecerá de fato, e não vai demorar.
4. E a mensagem é esta: “Os que são maus não
ficarão vivos, mas aqueles que são justos viverão
porque são fiéis a Deus.”
V. Leituras responsivas – Salmos na linguagem de hoje. 23/09/79
– Igreja Carandiru – Sl 127
1. Que nível de linguagem usar na pregação?
Edmundo Spicker, em O Evangelho pelo rádio (mi.., p.6) “As
explicações que se relacionam com fatos espirituais devem ser tão claras
e compreensíveis que mesmo uma criança de doze anos de idade possa
compreender.”

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If. P.7 “O pregador deve falar de maneira tal que todos compreendam,
e sobretudo evitar vocábulos estranhos ao linguajar do público ouvinte.”
Ex. A pregação incompreensível: Seu Domingos não entendeu o sermão.
Que orador notável!? Que Deus maravilhoso” Que mensagem de conforto”

2. Que fazer com o “dialeto” bíblico?


E. Spieker, p.7: “Muitas expressões são realmente bíblicas, mas
exatamente por isso de difícil compreensão a ouvintes não evangélicos.”
“Conceitos bíblicos como arrependimento, conversão, renascimento,
santificação, etc., necessitam geralmente de explicação. Muitas das frases
como “olha para a cruz”, “entrega-te a Jesus”, ou “deixa-te lavar e purificar
no sangue do Cordeiro” necessitam de uma clara e concisa interpretação
para levar ao ouvinte desejado.”

Id p.9? “Nós evitamos qualquer dos chamados “chavões cristãos”, pois


uma pessoa alheia ao meio evangélico não nos entenderia.” “Nós definimos
conceitos bíblicos como arrependimento, renascimento, santificação, isto
porque nosso ouvinte poderia interpretá-los erroneamente.”

Exemplos na NTLH:

3. Que podemos fazer atualizarmos, como pregadores no


conhecimento da natureza e dos processos da comunicação?
I. Incluir a matéria nos cursos de seminários e faculdades de
teologia.
II. Comprar livros, estudar e aplicar.

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Referências
BROADUS, J. A. The Preparation and Delivery of Sermons. Disponível
em: Texas: Baptistbasics.Org, [2003]. < https://www.wrs.edu/assets/
docs/Courses/Homiletics-general/Broadus%20Outline%20Syllabus.pdf>
Acesso em: 13 out. 2020.

COSTAS, O. E. Liberating News: A Theology of Contextual Evangelization.


Michigan: Eerdmans, 1989.

CRANE, J. D. El Sermon Eficaz. s.l. Mundo Hispano, 2003.

DARGAN, E. C. A History of Preaching. Nova York: Hodder & Stoughton, 1905.

GAGE, M. B. Homiletics 101: an introduction to preaching lecture notes.


Texas: Baptistbasics.Org, [20--]. Disponível em: https://www.baptistbasics.org/
wp-content/uploads/2019/06/homiletics.pdf. Acesso em: 10 ago. 2019.

GUINDA, F. J. C. Sapientia Fidei: Serie De Manuales De Teologia: Homiletica.


Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 2003. ISBN 978-84-7914-635-1

MARTINS, J. G. Manual de Celebrações. Curitiba: A.D. Santos, 2008.

PORTER, S. E. Dictionary of biblical criticism and interpretation. Nova


York: Routledge, 2007.

REIFLER, H. U. Pregação Ao Alcance De Todos. São Paulo: Vida Nova, 1936

ROBINSON, H.; LARSON, C. B. A arte e o Ofício da pregação Bíblica. São


Paulo: Sheed, 2009.

SILVA, P. M. da. Homilética: A arte de pregar o evangelho. São Paulo:


Abecar, 1982.

THOMPSON, J. J. Anatomia da Comunicação. Rio de Janeiro: Blosh, 1977.

VINET, A. Pastoral Theology. Tradutor e editor: SINNER, T. Nova York:


Haper & Brothers, 1853.

WONDERLY, W. L. Bible Translations for Popular Use. United Bible Societies,


Helps for Translators, Vol. 7 (1968), x, 216 pp. Disponível em: <http://www.
bible-researcher.com/wonderly1.html>. Acesso em: 23 out. 2020.

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