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FABAPAR
F A C U L D A D E S B A T I S TA D O P A R A N Á
Luiz Tarquínio Pontes
Teologia e Filosofia
1a ed.
Curitiba
2020
© Os direitos de autoria e patrimônio são reservados ao(s) autor(es) da obra e às Faculdades
Batista do Paraná (FABAPAR). É expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta
obra sem autorização da FABAPAR.
Atenção:
Sempre que você vir uma palavra colorida no meio do texto, clique sobre ela!
Sumário
Introdução.......................................................................................7
1. O Que é Filosofia.........................................................................13
1.1 Etimologia e Origem................................................................................................ 15
Síntese do Capítulo.........................................................................30
2. Os Clássicos................................................................................32
Introdução.......................................................................................................................... 32
Síntese do Capítulo.........................................................................48
3. A Relação entre a Filosofia e a Teologia....................................50
Introdução.......................................................................................................................... 50
4. O Teólogo-Filósofo.....................................................................76
Introdução.......................................................................................................................... 76
4.2 Desafios....................................................................................................................... 84
Síntese do Capítulo.........................................................................97
Referências......................................................................................98
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Introdução
O capítulo de abertura pretende lançar as primeiras luzes acerca do
que seja filosofia. É muito comum, no dizer cotidiano, ouvir questionamentos
a respeito da utilidade prática da filosofia. Alguns pensam que “filosofia
não serve para nada”, outros que “é coisa para quem não possui outras
ocupações”. Contudo, a filosofia oferece subsídios para outras áreas do
conhecimento, inclusive para as ciências”, pois, no seu bojo, são forjadas
as premissas fundamentais para o progresso, haja vista seu papel analítico,
sistematizador e inquiridor. Interessante é o excerto a seguir:
Verdade, pensamento racional, procedimentos especiais para
conhecer fatos, aplicação prática de conhecimentos teóricos,
correção e acúmulo de saberes: esses propósitos das ciências
não são científicos, são filosóficos e dependem de questões
filosóficas. O cientista parte deles como questões já respondidas,
mas é a filosofia que as formula e busca respostas para eles.
Assim o trabalho das ciências pressupõe, como condição, o
trabalho da filosofia, mesmo que o cientista não seja filósofo. No
entanto, como apenas os cientistas e os filósofos sabem disso,
a maioria das pessoas continua afirmando que a filosofia não
serve para nada. (CHAUÍ, p. 20-21, 2012).
Saiba Mais
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Glossário
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Por meio da revelação geral, isto é, por meio do que Deus revelara
por meio da natureza e dos conteúdos contidos no espírito humano, que
não perdeu completamente a imagem e semelhança do Criador, filósofos,
pensadores e cientistas trazem à baila princípios verdadeiros, mas que,
não raras vezes, encontram-se misturados a conceitos equivocados, por
não se pautarem na verdade revelada nas Escrituras, a revelação especial
de Deus, que pormenoriza e profere detalhamentos acerca d’Ele.
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1. O Que é Filosofia
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1. O Que é Filosofia
“A filosofia é arte de formar, de inventar, de fabricar conceitos”
(DELUZES, p. 10, 1992). É a tentativa humana de descortinar o mundo e a
vida. Para a realização de tal objetivo, os seres humanos servem-se de sua
capacidade cognitiva e percepções. O filósofo é alguém que coloca todas
as coisas entre parênteses, isto é, o aguçado espírito crítico é uma de suas
características mais particulares. Nada está alheio às suas interrogações.
Não faz isso, no entanto, pelo amor à polêmica ou ao contraditório, mas
por prezar a verdade.
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9 Suposição de algo que pode acontecer, com base na realidade atual; prognóstico.
(Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 2009.6).
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1.4.2 Os Pré-Socráticos
Homero juntamente com seu contemporâneo Hesíodo forneceram
as bases para as especulações cosmogônicas e teogônicas, declamando
de que forma teve início a vida dos deuses e do mundo. “A teogonia é
também uma cosmogonia, na medida em que narra como todas as coisas
surgiram do caos para compor a ordem do Cosmo.” (ARANHA; MARTINS,
2009, p. 32). Essa tendência de pensamento ofertou a matéria-prima
fundamental, de onde os primeiros filósofos propriamente ditos partiram
a fim de pautar suas atenções.
Glossário
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Para Tales de Mileto, a arkhé era a água. Pitágoras, por sua vez, cria
que o número era a essência fundante de todas as coisas. Discordando
dele, estava Anaximandro, para quem o fundamento dos seres era uma
matéria indeterminada (apeiron). Para Anaxímenes, era o ar, que pela
rarefação e condensação transforma todas as coisas. Anaxágoras
advogava a tese de que as sementes de todas as coisas foram ordenadas
por uma mente inteligente e cósmicas, chamada nous. Já os filósofos
Leucipo e Demócrito trouxeram pela primeira vez na história a ideia
de átomos, defendendo que estes seriam os elementos primordiais e
indivisíveis. (ARANHA; MARTINS, 2009, p. 41)
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Saiba Mais
Tal termo tem sua origem no grego aristós, que significa “excelente”,
“mais preparados”.
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Dica
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13 Que existe ou ocorre atualmente; atual, moderno, dos dias de hoje. (Dicionário
eletrônico Houaiss da língua portuguesa 2009.6).
14 Que ou aquele que segue, que acompanha; que ou aquele que professa as ideias
de um filósofo, as crenças de uma religião. (Dicionário eletrônico Houaiss da língua
portuguesa 2009.6).
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Síntese do Capítulo
Neste capítulo, foi apresentada uma introdução à filosofia, indicando
o que seja essa área do conhecimento humano, pontuando acerca do
nascimento do termo filosofia, que, como visto, indica alguém que procura
o conhecimento, a sabedoria. Percorreu-se, ainda, os mais expressivos
períodos tradicionalmente existentes na filosofia, que pode ser partida em
filosofia antiga (pré-socráticos até o período helenístico); filosofia patrística
(Novo Testamento e sua interpretação pelos pais da Igreja); filosofia do
medievo; filosofia renascentista (redescobrimento de obra dos clássico);
filosofia iluminista (excessivo prezo pela razão e autonomia humana) e
filosofia contemporânea (inicia-se no período mil-oitocentista). Discorreu-
se, outrossim, sobre o início da filosofia a partir dos pré-socráticos e
sua busca pelo arkhé que tomaram emprestadas as estruturas literárias
dos mitos homéricos e hesiodenos para proceder a elaboração de seus
pensamentos. Após o que, foram expostas as paideias gregas existentes:
a homérica (marcada principalmente pelo conceito de kalokhagatia);
a hesiodiana (direcionada para a competência humana); a socrático-
platônica (fundamentada na virtude política) e a aristotélica (prática da
phronesis, isto é, do exercício da prudência e da moderação). Por fim,
foi sublinhada a relação da filosofia com outras áreas do conhecimento
humano: filosofia e mito, filosofia e ciência, filosofia e religião.
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2. Os Clássicos
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2. Os Clássicos
Introdução
Nesta etapa do estudo, o aluno terá acesso aos pensamentos dos
filósofos chamados “clássicos”: Sócrates, Platão e Aristóteles. Sócrates
foi o filósofo que procedeu significativa virada no pensamento humano,
deixando de focar na physis para pensar acerca do homo. Já foi visto
que os pré-socráticos – filósofos que precederam a Sócrates – tinham
por objeto destrinchar o mundo natural criado, analisando suas origens
e causas. Platão foi quem fez Sócrates conhecido para o mundo, haja
vista este pensador não ter o costume de escrever suas elucubrações e
pensamentos. Porém, para Platão, isso não foi suficiente, agregou ainda
conceitos importantes para o pensamento filosófico, tal como a categoria
do “ideal”. Por fim, o último dos filósofos clássicos foi Aristóteles, também
conhecido como o estagirita, natural de uma cidade na antiga Macedônia.
Distintamente de Platão, Aristóteles reputava grande importância à
empiria, isto é, à experiência do mundo concreto para a obtenção do
conhecimento. Para ele, o conhecimento advém do que é posto e não
do ideal como propugnava Platão. Aristóteles é também conhecido por
sistematizar o conhecimento, dividindo-o em áreas.
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Mas como toda mudança gera inicialmente espanto, não foi outra
coisa que aconteceu em relação a Sócrates, que fora acusado de corromper
a juventude e não acreditar nos deuses. Muitas das perseguições movidas
contra o filósofo eram fruto de inveja em relação às atenções sociais que
despertara, sendo frequentemente convidado para celebrações públicas e
eventos festivos particulares.
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18 Que ou aquele que segue, que acompanha; que ou aquele que professa as ideias
de um filósofo, as crenças de uma religião. (Dicionário eletrônico Houaiss da língua
portuguesa 2009.6).
19 Escorreito: que não tem defeito, falha ou lesão. (Dicionário eletrônico Houaiss da
língua portuguesa 2009.6).
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Legenda: SANZIO, Rafael. A Escola de Atenas, Afresco. Stanza della Segnatura, Vaticano.
#pracegover: representação de um prédio grandioso, com arquitetura grega clássica,
repleto dos filósofos e pensadores mais relevantes na História até aquele momento,
reunidos em grupos, conversando entre si.
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Ele costumava afirmar que era amigo de Platão, mas ainda mais
afeiçoado à verdade. Após a morte de Platão, em 347 a.C., viajou por
diversas regiões, tendo sido contratado para dar aulas para Alexandre,
Magno, filho de Felipe da Macedônia, futuro conquistador que disseminou
a cultura grega por todo o mundo conhecido até o momento. Quando
regressou a Atenas, fundou o Liceu, uma espécie de escola filosófica que
ficava ao lado do templo de Apolo Lício, de onde surgiu o nome do instituto.
O método de estudos praticado no liceu é chamado de peripatético (do
grego peri, “à volta de” e patéo “caminhar”), devido ao fato de os estudantes
caminharem enquanto estudavam. (ARANHA; MARTINS, 2009, p. 157)
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Sócrates é um homem;
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Síntese do Capítulo
Neste capítulo, foi visto a história e as ideias principais dos três
filósofos mais importantes do período clássico, quais sejam: Sócrates,
Platão e Aristóteles. Em relação a Sócrates, estudou-se acerca da virada
de uma escola filosófica que tinha como objeto a natureza para outra cujo
objeto era o próprio homem, bem como a estrutura metódica aplicada pelo
filósofo e sua distinção em comparação aos sofistas. No que diz respeito
a Platão, teceu-se comentário acerca de sua academia e conceitos
que tomavam por base o mundo das ideias, além de aduzir pontos de
encontro e contraste em relação ao cristianismo. Já no que respeita ao
filósofo estagirita, foi tratado sobre as distinções de sua filosofia com
aquela defendida por seu mentor, Platão, bem como sua importância para
o desenvolvimento da lógica.
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3. A Relação entre a Filosofia
e a Teologia
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Introdução
A relação entre teologia e a filosofia esteve pareada desde os
inaugurais do conhecimento. Em verdade, a própria filosofia, nalguma
dimensão é filha da teologia admitida lato senso, haja vista os pré-socráticas
partirem das cosmogonias e teogonias dos épicos fantásticos dos poetas
gregos, principalmente Homero e Hesíodo.
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estar perto, quem fala a mesma língua, que vive no mesmo lugar, tendo um
sotaque parecido. Quando Deus quis impedir um determinado projeto, fez
com que línguas distintas surgissem. Por isso o projeto da Torre de Babel
não sucedeu satisfatoriamente. Mas quando falou ao mundo por Jesus, de
uma maneira que o povo entendesse, o sucesso foi certo.
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fato. Por exemplo, quando alguém informa acerca de algum fato antigo
ou novo que ainda não foi visto, há duas opções, acreditar ou duvidar.
Se os cientistas informassem que acabaram de descobrir um novo
planeta, apesar de ninguém tê-lo visto, sequer um vez, o fato de acreditar
nesta informação importa na efetivação de uma posição de fé naquilo
que os cientistas estão afirmando. Ou quando um médico receita um
medicamento, se está crendo que, mesmo sem conhecer os ingredientes
químicos do mesmo, ainda que não se saiba quais suas ações específicas
e como ele age, ao se consumir o medicamento, se está tendo fé nas
palavras do técnico.
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3.1.3 O desafio da fé
A fé não é exatamente como um salto no escuro, como alguns já
defenderam. Um salto no escuro, ao modo kierkegaardiano, soa como um
exercício de imprudência, muito mais do que uma operação de fé, algo
que gera medo, sem segurança ou estabilidade. Saltar no escuro não tem
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qualquer relação com a fé, a não ser que este pulo tenha sido fruto de
uma orientação divina. Ai sim, tal conceito poderia se aproximar de uma
fé verdadeira. Caso contrário, poderia ser considerado parecido com a
proposta de Satanás, que desafiou Jesus a se lançar do pináculo do templo.
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Por outro lado, Deus poderia muito bem ter formado criaturas
sem estender a elas o privilégio de conhecê-lo, como aquele que pinta
um quadro, mas não está muito preocupado em que a obra venha a
discernir ou ter compreensão acerca do artista. Mas que lições podem
ser absorvidas a partir da ideia de Deus ter feito seus filhos, permitindo
que o compreendessem? Será que existe alguma razão nisso? Seria sinal
para os homens?
Sem dúvida, a arte criada por Deus – o ser humano – era distinta
de qualquer outra forjada. Para aqueles que fez a partir de sua imagem e
semelhança, o criador concebeu atributos semelhantes ao que Ele próprio
possuía, tais como inteligência, pessoalidade, individualidade, liberdade
etc. Sendo uma pequena cópia de Deus, os seres humanos tiveram acesso
às suas características, dentre as quais o conhecimento.
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Tudo isso faz perceber que o ser-humano não iniciou seu processo
cognitivo anteriormente ao pecado, mas no momento em que fora criado.
O que o pecado fez foi deformar o entendimento e a liberdade humana. O
que deveria ser claro para o homem, tornou-se embaçado a começar com
a figura de Deus, que poderia ser visto na viração do dia, mas, depois do
pecado, permaneceu à revelia das vistas humanas. O pecado transformou
aquilo que Deus tinha feito “muito bom” em “mais ou menos”. O pecado, na
verdade, misturou pitadas de sujeira na massa pura produzida por Deus.
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Contudo, isso não é impeditivo para que, sob a graça e poder de Deus,
os cristãos se esforcem ao máximo para desvendar os mistérios divinos
proclamados por meio do mundo criado, até porque o próprio entendimento
da revelação especial perpassa pela mesma dificuldade, haja vista ser o
exegeta o mesmo homem caído, que não raras vezes infere e conceitua
princípios menos corretos por intermédio da mediação escriturística.
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Diante desta perspectiva, calhou a Deus proferir, por meio das Escrituras
sagradas, movimentos para construção de uma porção de sua biografia
que pudesse ser compreendida pelos discípulos. Isso porque tudo que se
possa apreender de Deus será sempre parcial. Integralmente, somente Ele
se conhece e pode fazê-lo. Por meio da revelação geral, Deus demonstra sua
grandeza, por intermédio da especial ele toma seus filhos no colo.
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C.S Lewis ensina que não poderia haver um tipo de culinária cristã,
no sentido, por exemplo, de uma forma adequada de fritar um ovo de
acordo com o correto conteúdo bíblico (LEWIS, 2019, p. 22). Para fritá-
lo, deve-se tomar o próprio ovo, algumas colheres de óleo ou manteiga,
uma frigideira e fogo. Pronto. Esta é a forma para cristãos e pagãos. Da
mesma maneira, acontece com a hermenêutica. Deve-se analisar os
textos literários canônicos da mesma maneira que se analise outros textos
literários. Precisa-se perquirir o contexto histórico, analisar as figuras de
linguagem, os tipos literários específicos: narrativas, histórias, poesias,
sapiência, os destinatários, a cultura da época etc.
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Glossário
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Ou seja, o filho de Deus é a Palavra, pois era Ele quem estava com
Deus no princípio, tendo participado da criação de todas as coisas.
Mas, ainda assim, alguém poderia questionar se esta palavra que está
consignada no texto acima seria mesmo Jesus Cristo, pois não declara
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Inclusive, este texto escrito por Moisés foi colocado dentro da Arca
da Aliança, que simbolizava a presença de Deus. Isso reflete a íntima
relação existente entre a presença de Deus e sua palavra. A Palavra de
Deus é a maneira por meio da qual os homens o conhecem. Ao retirar e
reduzir sua importância é ao próprio Deus que se está desonrando. Ora,
para se conhecer alguém é necessário que Ele se comunique. Portanto,
sem a comunicação de Deus não se pode conhecê-lo.
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Síntese do Capítulo
Neste capítulo, foi visto acerca da relação entre a filosofia e a teologia,
imbricamento sempre presente, mas que precisa ser balanceado a fim de
não apagar a revelação de Deus, colocando em seu lugar as ideias dos
homens. A teologia deve se valer da filosofia, como instrumento para a
melhor percepção da fé, uma vez que Deus fez o homem racional, ansioso
por compreender cada vez mais questões relacionadas à fé. A filosofia
é instrumento valioso para a compreensão teológica, mas pode lhe
prestar um desserviço na medida em que se tornar um fim em si mesma,
desprezando a revelação de Deus e a fé.
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4. O Teólogo-Filósofo
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4. O Teólogo-Filósofo
Introdução
Já foi demonstrado ao longo deste estudo, o íntimo relacionamento
entre teologia e filosofia, tendo esta, inclusive, derivado daquela, uma
vez que o piso comum, o gérmen da filosofia inicial se deu a partir das
tentativas de racionalizar os mitos. A partir dos pré-socráticos, passou-se a
buscar a arkhé, a substância primeiro donde teria derivado todas as outras,
o que remonta, também, a busca pela essência primeira, o Uno, gerador da
multiplicidade, que não está à margem dos pensamentos teológicos.
O termo teologia, que significa discurso sobre Deus, não tem sua
criação consignada nas escrituras sagradas. Desde a Antiguidade, foi
usado basicamente com três sentidos: a) mitológico, como nos discursos
homéricos, no qual se fala dos deuses; b) filosófico-cosmológico, passando
a ser usado como equivalente à “filosofia primeira” ou metafísica; c) cultual
público, no sentido do que se diz dos deuses públicos e oficiais. Devido à
origem pagã do termo, os primeiros discípulos não homiziaram sua aberta
utilização, passando, ulteriormente, a ser adotado por Justino, Clemente e
Orígenes, entre outros, tornando-se de uso corrente a partir do século IV para
determinar a doutrina sobre o Deus uno e trino. Na Idade Média, passou a
ter o significado de explicação da revelação divina (ZILLES, p. 107, 2013).
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4.1 Motivações
As escrituras sagradas animam os cristãos a procederem a
construção de pontes entre a fé e a razão. Os seres humanos são por
inerência seres racionais, distintos das plantas e dos animais. Os homens
e mulheres foram criados como imagem e semelhança de um Deus que
raciocina. Portanto, o relacionamento entre Deus e os homens não pode
estar à margem dos signos de racionalidade. Isso pode acontecer, talvez,
no relacionamento entre Deus e os animais ou entre Deus e os outros
seres vivos, se é que essa relação existe de alguma forma. O que está
claro é que Deus cuida e protege de todo ecossistema.
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possui pontos fortes mas também áreas recheadas de fragilidade. Verá que
muitos filósofos se contradisseram e que as muitas novidades filosóficas
não passam de um conteúdo semelhantes em novas cores.
Glossário
Isso não importa afirmar que não haja espaço para a utilização da
filosofia no âmbito teológico, muito pelo contrário. Como matéria que
anela buscar a verdade, muitos insumos poderão fornecer ao estudo
teológico. A partir de seus conceitos e ideias, a filosofia pode até mesmo
elucidar ou retificar pontos que pareciam completamente resolvidos na
teologia. Mas, para isso, estas ideias precisam estar em harmonia com as
escrituras, e muitas vezes estão, mas os pressupostos que foram sendo
construídos pela teologia normal, isto é, a tradicional, ofuscou a verdade,
agora elucidada corajosamente pela filosofia.
O estudante também verá que muitas ideias presentes na filosofia
apoiam a existência de um Deus maior e até mesmo do Deus cristão,
além de perceber que muitas visões filosóficas contrárias ao que advoga
o cristianismo foram eficazmente contestadas por outros filósofos. Isso,
por outro lado, não importa afirmar que o teólogo terá respostas claras
para todas as questões ou poderá elucidar definitivamente cada debate,
pois muitas vezes deverá ter a humildade necessária para afirmar “não
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Glossário
Todas estas questões irão lançar o teólogo para mais perto de Deus,
fazendo-o crer de maneira mais consistente naquilo que a Bíblia afirma. É
lançando o guerreiro no combate que ele sairá mais forte e preparado. A
filosofia é um instrumento que pode ser muito útil para o desenvolvimento
da fé, pois, teoricamente, seu objeto é a verdade. Essa parceria pode
muito bem dar certo se houver divisões corretas de competências entre
os objetos sobre os quais tem responsabilidade de falar com autoridade.
4.2 Desafios
Não se pode ser ingênuo a ponto de acreditar que a relação da
teologia com a filosofia não pode ser nalgumas situações bastante
complicada, como já visto anteriormente. Mas não é por isso que seja
inviabilizada. O mundo é recheado de complexidades e paradoxos. A
existência de desafios não torna um empreendimento impossível. Fosse
assim nada poderia ser feito na vida, pois em todas as matérias humanas
os pontos mais comuns são os dilemas e as dificuldades.
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Glossário
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pela inteligência humana, mas pela graça do Estudado, que permite aos
homens diagnosticar tópicos a seu respeito.
Glossário
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Por outro lado, num rápido vislumbre inicial, parece que o apóstolo
Paulo deprecia o cabedal teórico da filosofia em alguns de seus textos.
Observe-se, por exemplo, o trexo a seguir exposto:
Pois a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo,
mas para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus.
Pois está escrito: “Destruirei a sabedoria dos sábios e rejeitarei
a inteligência dos inteligentes”. Onde está o sábio? Onde está o
erudito? Onde está o questionador desta era? Acaso não tornou
Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto que, na sabedoria de
Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana,
agradou a Deus salvar aqueles que crêem por meio da loucura
da pregação. Os judeus pedem sinais miraculosos, e os gregos
procuram sabedoria; nós, porém, pregamos a Cristo crucificado,
o qual, de fato, é escândalo para os judeus e loucura para os
gentios (1 Cor. 1:18-23)
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4.3 Devoção
Com o termo devoção quer-se afirmar acerca das práticas e
exercícios espirituais que fomentam o relacionamento dos homens com
Deus. Se o teólogo se faz disposto a estudar questões concernentes a
Deus, esse desafio excepcional somente será bem-sucedido se houver
o apoio do próprio Criador para que o projeto prospere. A grandiosidade
do empreendimento requer auxílio constante do Espírito Santo para que
possa ser levado a cabo.
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Paulo solicita que os irmãos orassem em seu favor a fim de que seu
ministério pudesse produzir mais frutos. Em Efésio 6.18-20, afirma:
Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração e súplica;
tendo isso em mente, estejam atentos e perseverem na oração por
todos os santos. Orem também por mim, para que, quando eu falar,
seja-me dada a mensagem a fim de que, destemidamente, torne
conhecido o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador
preso em correntes. Orem para que, permanecendo nele, eu fale
com coragem, como me cumpre fazer.
Figura 4 – Oração
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Síntese do Capítulo
Ao longo deste estudo, foi demonstrado o relacionamento imbricado
entre teologia e filosofia. O próprio termo, “teologia”, discurso sobre Deus,
não deve sua criação às escrituras sagradas, mas na própria filosofia. Era
utilizado desde a antiguidade. O casamento entre teologia e filosofia não
é contrato moderno, mas muito antigo. Neste capítulo, resta esclarecido
que a fé é fundamental, mas a razão é também por demais necessária.
Glossário
Evade vem do verbo evadir. O mesmo que: escapa. Pode ser relacionado
a fugir de uma situação.
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Referências
Agostinho. A cidade de Deus. Volume I. 2. ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian.,
1996.
DELEUZE, Gilles; GUATARRI, Felix. O que é filosofia? São Paulo: Ed. 34, 1992.
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ROMIO, Jocimar. Jesus nasceu e morreu: nada maior nem mais justo pode
ser pensado: a cristologia de anselmo de aosta: Dissertação (mestrado
em Teologia) - Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul. Porto Alegre 2016.
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