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Observação: Para a resolução dos exercícios vamos considerar a seguinte notação: mJ (E) é a medida

de Jordan de um conjunto E que é Jordan mensurável.


Exercício 1. Prove que a medida elementar é monótona e sub-aditiva. Em outras palavras, mostre que a
função m : E(Rd ) −→ R satifaz:
1. Dados conjuntos elementares E e F , se E ⊂ F então m(E) ≤ m(F ).
2. Para E e F conjuntos elementares tem-se m(E ∪ F ) ≤ m(E) + m(F ).
Explique o porquê de tais propriedades serem válidas para a medida de Jordan.

Solução 1. Vamos provar cada item separadamente. Primeiro, para a medida elementar.
1. Sejam E, F conjuntos elementares tais que E ⊂ F . Podemos obter F = E ∪ (F \ E), como união
disjunta. Aplicando a medida elementar m, e usando a propriedade aditiva, obtemos:
m(F ) = m(E ∪ (F \ E))
= m(E) + m(F \ E)
Como m(F \ E) ≥ 0, segue-se que: m(F ) ≥ m(E), e portanto,
m(E) ≤ m(F ).

2. Podemos obter o conjunto E ∪ F de modo que a interseção (se houver) esteja "incluída apenas uma
vez", tornando a união disjunta:
E ∪ F = (E \ (E ∩ F )) ∪ (F \ (E ∩ F )) ∪ (E ∩ F )
Desse forma garantimos uma união disjunta e podemos utilizar a propriedade aditiva da medida ele-
mentar para obtermos que:
m(E ∪ F ) = m((E \ (E ∩ F )) ∪ (F \ (E ∩ F )) ∪ (E ∩ F ))

= m(E \ (E ∩ F )) + m(F \ (E ∩ F )) + m(E ∩ F )

= m(E) − m(E ∩ F ) + m(F ) − m(E ∩ F ) + m(E ∩ F )

= m(E) + m(F ) − m(E ∩ F )


Novamente, como m(E ∩ F ) ≥ 0, segue-se que:
m(E ∪ F ) ≤ m(E) + m(F )
como queríamos.
Agora vamos provar estas mesmas propriedades para a medida de Jordan:
1. Suponha que E, F sejam conjuntos jordan mensuráveis tais que E ⊂ F . Pela definição temos que:
m∗,j (E) = sup{m(A) : A ⊂ E elementar}
m∗,j (F ) = sup{m(B) : B ⊂ F elementar}

Fixe A ∈ {m(A) : A ⊂ E elementar}. Assim, A ⊂ E ⊂ F . Agora, considerando a definição de sup, os


itens provados anteriormente, e que em particular, a medida de Jordan também é um valor de medida
elementar, obtemos as seguintes desigualdades:

m(A) ≤ m∗,J (E) = mJ (E) ≤ m(F ) ≤ m∗,J (F ) = mJ (F )


Logo, mJ (E) ≤ mJ (F ).

1
2. Para provar este último item, o raciocínio é análogo. De fato, dado A ⊂ (E ∪ F ), segue-se que:

m(A) ≤ m∗,J (E ∪ F ) = mJ (E ∪ F ) ≤ m(E) + m(F ) ≤ m∗,J (E) + m∗,J (F ) = mJ (E) + mJ (F )

Portanto, mJ (E ∪ F ) ≤ mJ (E) + mJ (F ), como queríamos.

Exercício 2. Prove que se E e F são conjuntos Jordan mensuráveis, então E ∩ F , E \ F e E∆F também
são Jordan mensuráveis.

Solução 2. Mostraremos cada item separadamente.

1. Vamos mostrar que se E, F são Jordan mensuráveis, então E ∩ F também é. De fato, dado ε > 0,
existem conjuntos elementares A, B tais que A ⊂ E ⊂ B com m(B \ A) < ε/2. E, de forma análoga,
existem conjuntos elementares C, D tais que C ⊂ F ⊂ D com m(D \ C) < ε/2.
Precisamos mostrar que, para o ε > 0 fixado, existem conjuntos G, H elementares tais que G ⊂
(E ∩ F ) ⊂ H com m(H \ G) < ε. Considere G = A ∩ C e H = B ∩ D. Vale então que:

H \ (A ∩ C) = (H \ A) ∪ (H \ C) ⊂ (B \ A) ∪ (D \ C)

Daí, aplicando a medida elementar e usando a propriedade sub-aditiva que provamos no exercício
anterior, segue-se que: m(H \ G) = m(H \ (A ∩ C)) ≤ m(B \ A) + m(D \ C) < ε/2 + ε/2 = ε Logo,
m(H \ G) < ε, e portanto, E ∩ F é Jordan mensurável.
2. Provaremos agora que E \ F é Jordan mensurável. O raciocínio é análogo.
Novamente, fixe ε > 0. Pelo Teorema estudado em aula, existem conjuntos elementares A, B, C e D
tais que A ⊂ E ⊂ B e C ⊂ F ⊂ D, com m(B \ A) < ε/2, m(D \ C) < ε/2. Vamos mostrar que, para o
ε > 0 fixado, existem conjuntos elementares X, Y tais que X ⊂ (E \ F ) ⊂ Y . De fato, tome X = A \ D
e Y = B \ C. Como A ⊂ E ⊂ B e C ⊂ F ⊂ D, teremos que (A \ D) ⊂ (E \ F ) ⊂ (B \ C). Logo,
m(X \ Y ) = m(B \ C) − m(A \ D)
= m(B) − m(C) − m(A) + m(D)
= m(B \ A) + m(D \ C)
< ε/2 + ε/2
= ε

Logo, m(X \ Y ) < ε, e portanto, E \ F é Jordan mensurável.


3. Antes de provarmos que E∆F é Jordan mensurável, vamos provar que E ∪ F é Jordan mensurável.
Fixado ε > 0, existem conjuntos elementares A, B, C e D tais que A ⊂ E ⊂ B e C ⊂ F ⊂ D com
m(B \ A) < ε/2 e m(D \ C) < ε/2. Novamente, precisamos exibir X, Y conjuntos elementares tais
que X ⊂ (E ∪ F ) ⊂ Y , com m(Y \ X) < ε. De fato, tome X = A ∪ C e Y = B ∪ D. Logo, vale que
X = (A ∪ C) ⊂ (E ⊂ F ) ⊂ (B ∪ D) = Y .
Agora, usando as propriedades da medida elementar, temos:
m((D ∪ B) \ (A ∪ C)) = m(D ∪ B) − m(A ∪ C)
≤ m(D) + m(B) − m(A) − m(C)
= m(B \ A) + m(D \ C)
< ε/2 + ε/2
= ε

Logo, m((D ∪ B) \ (A ∪ C)) < ε, e portanto, E \ F é Jordan mensurável.


Finalmente, como E∆D = (E \ F ) ∪ (F \ E), basta usar o que provamos anteriormente. De fato,
pelo item (2), complementar de conjuntos Jordan mensuráveis, também é Jordan mensurável, e pelo
que provamos agora, o resultado também vale para união. Portanto, segue-se que E∆F é Jordan
mensurável, como queríamos.

2

Exercício 3. Seja E ⊂ Rd um conjunto limitado. Prove que as seguintes afirmações são equivalentes:
1. E é Jordan mensurável.

2. E é "quase elementar"no sentido de que: para todo ε > 0, existe um conjunto elementar B tal que
E ⊂ B e m∗,J (B \ E) < ε.
3. Para todo ε > 0 existe um conjunto elementar A satisfazendo m∗,J (E∆A) < ε.

Solução 3. (1) =⇒ (2) : Dado ε > 0, como E é Jordan mensurável, então existem conjuntos elementares A,
B tais que A ⊂ E ⊂ B com m(B \ A) < ε. Como B ⊃ E, temos que B∆E = (B \ E). Agora, considerando
a definição da medida exterior de Jordan m∗,J (B \ E) = inf{m(X); X ⊃ B \ E elementar}, segue-se que:

m∗,J (E∆B) = m∗,J (B \ E) ≤ m(B \ A) < ε

Logo, m∗,J (B \ E) < ε.


(2) =⇒ (3): Dado ε > 0, existe conjunto elementar B tal que E ⊂ B e m∗,J (B \ E) < ε. Precisamos
mostrar que existe conjunto elementar A tal que m∗,J (E∆A) < ε.
De fato, tome A = B. Daí, E∆A = (E \ A) ∪ (A \ E) = A \ E, pois A ⊃ E. Assim, temos que

m∗,J (E∆A) = m∗,J (A \ E) = m∗,J (B \ E) < ϵ

Portanto, concluímos que m∗,J (A∆A) < ε, como queríamos.


(3) =⇒ (1): Dado ε > 0, existe conjunto A elementar tal que m∗,J (E∆A) < ε. Vamos mostrar que E é
Jordan mensurável. Para isso, vamos mostrar que

0 ≤ m∗,J (E) − m∗,J (E) < ε

Pela definição de m∗,J (E∆A) = inf{m(X); X ⊃ E∆A elementar}, existe X elementar tal que m(E∆A)+
ε/2 > m(x), isto é
ε/2 > m∗,J (E∆A) > m(X) − ε/2
Como X ⊃ E∆A, podemos considerar A \ X = A ∩ X c . Afirmamos que A ∩ X c ⊂ E ∩ A. De forma
intuitiva, basta notar que X c é obtido por "tudo"que não pertence a E∆A, isto é, a interseção E ∩ A e o
"todo"que não pertence nem a A e nem a E. Assim, A ∩ X c ⊂ E ∩ A.
Daí, como A \ X é um conjunto elementar e A \ X ⊂ (E ∩ A) ⊂ E, temos que m(A \ X) ≤ m∗,J (E), o
que é equivalente a −m∗,J (E) ≤ −m(A \ X).
Agora, observe que (A∪X) ⊃ E, pois X ⊃ (E∆A), e A∪X é elementar (união de conjuntos elementares).
Isto implica que m∗,J (E) ≤ m(A ∪ X) e daí m∗,J (E) − m∗,J (E) ≤ m(A ∪ X) − m(A \ X).
Observe ainda que A ∪ X = X ∪ (A \ X), que é uma união disjunta, e daí, o lado direito da última
desigualdade se reduz a m(A ∪ X) − m(A \ X) = m(X ∪ (A \ X) − m(A \ X) = m(X) + m(A) − m(X) −
m(A) + m(X) = m(X) < ε.
Logo, temos que 0 < m∗,J (E) − m∗,J (E) < ε, e assim, da arbitrariedade de ε, temos que m∗,J (E) =
m∗,J (E). Portanto, E é Jordan mensurável.

3
Exercício 4. Mostre que uma região determinada por um triângulo é Jordan mensurável em R2 e prove a
fórmula para calcular a área do triângulo que você aprendeu no jardim de infância.

Solução 4. Seja T um triângulo qualquer. Para provar que T é Jordan mensurável, vamos utilizar um fato
conhecido da Geometria Plana, que afirma o seguinte: Todo triângulo T pode ser obtido como complementar
de um retângulo R em relação a uma união finita de i triangulos retângulos T , isto é
n
[
T =R\ Ti
i=1

Assim, é suficiente provamos que para um i fixado, o triângulo retângulo Ti é Jordan mensurável. Pois pelo
n
[
exercício 2 seguirá que T = R \ Ti é Jordan mensurável.
i=1
Seja Ti um triângulo retângulo qualquer, para um certo i fixado. Vamos mostrar que Ti é Jordan
mensurável, e para isso, vamos mostrar que para todo ε > 0, existem conjuntos A, B elementares tais que
A ⊂ Ti ⊂ B com m(B) − m(A) < ε. Podemos supor, sem perda de generalidade, que o lado horizontal de Ti
está apoiado sobre o eixo x e o lado vertical é paralelo ao eixo y, de modo que a hipotenusa seja a semi-reta
contida na reta de inclinação positiva dada pela função afim f .
Fixado ε > 0, suponha que a base de Ti seja b = |c − d| (medida do intervalo [c, d]) e sua altura
h = |f (c) − f (d)| (medida do intervalo [f (c) − f (d)]).
Defina B1 como sendo a menor caixa retangular que contenha Ti e A1 = ∅. Temos que m(B1 ) = b · h e
m(A1 ) = 0. Agora vamos particionar o intervalo [c, d] em dois intervalos disjuntos I1 e I2 tais que |I1 | = |I2 |
e I1 ∪ I2 = [c, d]. Podemos supor que esta partição do intervalo [c, d] deu origem a 3 novas caixas retangulares
C1 , C2 e D1 , conforme a figura abaixo:

Figura 1: Triângulo Ti com intervalo [c, d] particionado.


 
2
[
Agora, defina B2 =  Cj  ∪ D1 e A2 = D1 conforme a Figura 1.
j=1
Note que, como cada uma das novas caixas são disjuntas, então temos:

m(B2 ) = m(C1 ) + m(C2 ) + m(D1 )

|I1 | h |I2 | h |I2 | h


= · + · + ·
2 2 2 2 2 2
b h b h b h
= · + · + ·
2 2 2 2 2 2
3bh
=
4
bh
E A2 = .
4

4
Agora, vamos refinar esta partição feita, de modo que obtenhamos uma nova partição de [c, d] com o
dobro de intervalos: I1 , I2 , I3 e I4 tais que |I1 | = |I2 | = |I3 | = |I4 | e I1 ∪ I2 ∪ I3 ∪ I4 = [c, d] união disjunta.
Com esse raciocínio, obtemos uma imagem conforme a figura abaixo:

Figura 2: Triângulo Ti com partição do intervalo [c, d] mais refinada.


  ! !
4
[ 6
[ 6
[
Através desta nova partição, podemos definir agora B3 =  Cj  ∪ Dk e A3 = Dk .
j=1 k=1 k=1
Além disso, as medidas de B3 e A3 são dadas por:
4
X 6
X
m(B3 ) = m(Cj ) + m(Dk )
j=1 k=1

h h h 3h
= 4 · |I1 | + |I2 | · + |I3 | · + |I4 | ·
4 4 2 4
10
= · bh
16
6
X
m(A3 ) = m(Dk )
k=1

h h 3h
= |I2 | · + |I3 | · + |I4 | ·
4 2 4
6
= · bh
16
n−1
2X
Prosseguindo indutivamente com este mesmo raciocínio, obtemos Bn como a união de k caixas, e An
k=1
2n−1
X−1 b h
como a união de k, onde cada caixa possui medida · . Assim, para cada n ∈ N tem-se:
2n−1 2n−1
k=1
 n−1

2X
b h
m(Bn ) =  k ·
2n−1 2n−1
k=1

2n−1 (1 + 2n−1 ) b h
= · n−1 · n−1
2 2 2

(1 + 2n−1 ) · bh
=
2n

5
 
2n−1
X−1 b h
m(An ) =  k ·
2n−1 2n−1
k=1

(2n−1 − 1)(2n−1 ) b h
= · n−1 · n−1
2 2 2

(2n−1 − 1) · bh
=
2n
Observe que por construção, temos que An ⊂ Ti ⊂ Bn , ∀n ∈ N. Daí, segue-se que:

(1 + 2n−1 ) · bh (1 + 2n−1 ) · bh bh + 2n−1 bh − 2n−1 bh + bh bh


m(Bn ) − m(An ) = − = = n−1 .
2n 2n 2n 2
Agora, tomando-se An = A e Bn = B, temos que por construção, A ⊂ Ti ⊂ B. Além disso, como b e h são
bh
valores fixos, é claro que a sequência n−1 converge. Isto significa que, para o ε > 0 fixado anteriormente,
2
podemos obter n ∈ N suficientemente grande, tal que:
bh
m(Bn ) − m(An ) = <ε
2n−1
Logo, Ti é Jordan mensurável, e portanto, T também é Jordan mensurável.
(2n−1 − 1)bh bh bh bh (1 + 2n−1 )bh bh
Finalmente, temos que m(An ) = n
= n
= − n
e que m(Bn ) = n
= n =
2 2 2 2 2 2
bh bh bh bh
+ n . E assim, lim m(An ) = lim m(Bn ) = . Logo, concluímos que m(T ) = , e portanto, a área
2 2 n→∞ n→∞ 2 2
bh
do triângulo T é dada por , como queríamos.
2

6
Exercício 5. Mostre que a união enumerável de conjuntos Jordan mensuráveis pode não ser Jordan men-
surável. Então mostre que a interseção enumerável de conjuntos Jordan mensuráveis pode não ser Jordan
mensurável.
Solução 5. Sabemos que intervalos abertos (n, n + 1), n ∈ N são Jordan mensuráveis. Considere então
[
A= (n, n + 1) = (R≥0 ) \ (N ∪ {0})
n∈N∪{0}

Temos que A não é Jordan mensurável, pois A não é um conjunto limitado. Portanto, a união enumerável
de conjuntos Jordan mensuráveis, não é Jordan mensurável.
Sabemos que Q é enumerável, e em particular, Q ∩ [0, 1] também é enumerável. Considere então N =
{r1 , r2 , · · · rn , · · · } uma enumeração para Q ∩ [0, 1]. Seja
\
B= [0, 1] \ {rn } = [0, 1] ∩ (R \ Q)
n∈N

Temos que para todo n ∈ N o conjunto [0, 1] \ {rn } é Jordan mensurável, com medida 1, pois como já
vimos em aula, retirar 1 ponto de um conjunto não altera sua medida. Mas B não é Jordan mensurável.
De fato, se fosse, então [0, 1] ∩ (R \ Q) também seria. Mas [0, 1] ∩ (R \ Q) = [0, 1], e m∗,J ([0, 1] ∩ (R \ Q)) =
◦ ◦
m∗,J ([0, 1] ∩ (R \ Q)) = 1, e ([0, 1] ∩ (R \ Q)) = ∅, e m∗,J ([0, 1] ∩ (R \ Q)) = m∗,J ([0, 1] ∩ (R \ Q)) = 0. Como
as medidas exterior e interior são diferentes, segue-se que B não é Jordan mensurável, como queríamos.

Exercício 6. Seja E ⊂ Rd um conjunto limitado. Prove o seguinte:
1. m∗,J (E) = m∗,J (E), onde E denota o fecho de E.
◦ ◦
2. m∗,J (E) = m∗,J (E), onde E denota o interior de E.
3. E é Jordan mensurável se, e somente se, m∗,J (∂E) = 0, onde ∂E denota o bordo de E.
Solução 6. Provaremos cada item separadamente.
1. Primeiro, como E ⊂ E, segue-se que m∗,J (E) ≤ m∗,J (E).
Sabemos que, por definição, que m∗,J (E) = inf{m(B); B ⊃ E elementar}. Logo, existe B ⊃ E
[n
elementar, com B = Bi uniões disjuntas, onde cada Bi é uma caixa. Fixado i ∈ {1, · · · , n},
i=1
k
◦ Y
afirmamos que |Bi | = |B| = |B|. De fato, como Bi = Ij com Ij intervalo, sabemos que para
j=1
qualquer intervalo da reta, temos

m((a, b)) = m((a, b)) = m((a, b)) = m([a, b]) = b − a
Isto é, acrescentar ou retirar os extremos do intervalo não faz diferença em sua medida.
k
Y k
Y
Podemos generalizar este falo para Ij = Bi , e assim segue-se que Bi = Ij , e portanto
j=1 j=1


m(Bi ) = m(Bi ) = m(B)
n
[
Isto significa dizer que B = Bi tem a mesma medida exterior de Jordan que B. Além disso, como
i=1
E ⊂ B então E ⊂ B. Assim, vale que:
m∗,J (E) ≤ m∗,J (B) = m(B)

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Um resultado básico de Topologia Geral garante que o fecho de um conjunto é o menor conjunto que
o contém. Daí, temos que B ⊃ B ⊃ E ⊃ E. Assim, fixado ε > 0, pelas propriedades de medida e pela
definição de medida exterio, obtemos:

m∗,J (E) ≤ m∗,J (E) ≤ m(B) < m∗,J (E) + ε < m∗,J (E) + ε
| {z }
definição

O que implica em
−ε < 0 < m∗,J (E) − m∗,J (E) < ε
e portanto
|m∗,J (E) − m∗,J (E)| < ε

Logo, da arbitrariedade de ε, concluímos que m∗,J (E) = m∗,J (E) como queríamos.


◦ ◦
2. A prova deste item é análoga à do item anterior. Como E ⊂ E, segue-se que m∗,J (E) ≤ m∗,J (E). Por
definição, m∗,J (E) = sup{m(A); A ⊂ E elementar}. Assim, existe A elementar tal que A ⊂ E, onde
n
[
podemos obter A = Ai união disjunta de caixas Ai .
i=1
Um resultado de Topologia Geral garante que o interior de um conjunto é o maior conjunto contido
◦ ◦
neste, isto é, A ⊂ A ⊂ E ⊂ E. Agora, fixe ε > 0. Pela definição de medida interior de Jordan, e pelas
propriedades de medida, temos:
◦ ◦
m∗,J (E) ≥ m∗,J (E) ≥ m(A) > m∗,J (E) − ε ≥ m∗,J (E) − ε
| {z }
definição

O que implica em
◦ ◦
m∗,J (E) − m∗,J (E) > −ε =⇒ m∗,J (E) − m∗,J (E) < ε
e portanto

|m∗,J (E) − m∗,J (E)| < ε

Logo, da arbitrariedade de ε, concluímos que m∗,J (E) = m∗,J (E), como queriamos.

3. Suponha que E seja Jordan mensurável. Vamos provar que m∗,J (∂(E)) = 0. Dado ε > 0 fixado,
n
[
existem conjuntos elementares A, B tais que A ⊂ E ⊂ B com m(A \ B) < ε. Temos que A = Ai e
i=1
m
[
B= Bj , com Ai e Bj caixas. Logo,
j=1

n n m m
[ ◦ [ [ [
Ai ⊂ Ai = A ⊂ E ⊂ B = Bj ⊂ Bi
i=1 i=1 j=1 j=1

n m
◦ [ ◦ [ ◦ ◦
Para facilitar a notação, considere A = Ai e B = Bj . Como A ⊂ E, então E c ⊂ (A)c , e
i=1 j=1
◦ ◦ ◦
portanto, E c ⊂ (A)c e como (A)c é fechado, segue-se que E c ⊂ (A)c .

8
◦ ◦ ◦ ◦ ◦
Como ∂(E) = E \ E = E ∩ (E)c = E ∩ B ⊂ B ∩ (A)c = B \ A =⇒ ∂(E) ⊂ B \ A, então

0 ≤ m∗,J (∂(E)) ≤ m∗,J (B \ A) = m∗,J (B \ A) < ε

Isto é, m(∂(E)) < ε. Da arbitrariedade de ε, segue-se que m∗,J (∂(E)) = 0.


Reciprocamente, suponha que m∗,J (∂(E)) = 0. Dado ε > 0, existe conjunto D elementar com D ⊃
∂(E) e m(D) < m∗,J (∂(E)) + ε =⇒ m(D) < ε.
Podemos supor que o conjunto elementar D é aberto. De fato, como ∂(E) é fechado e também limitado
(E é limitado), temos que ∂(E) é compacto. Assim, dada uma cobertura de ∂(E) por caixas abertas,
podemos escolher D como subcobertura finita de ∂(E), donde D é aberto.
Como D é aberto, então E \ D é fechado. Além disso, como E é limitado, temos E \ D limitado, e
portanto, compacto.
◦ ◦
Afirmamos que (E \ D) ⊂ E. De fato, dado x ∈ E \ D, temos x ∈ E e x ∈
/ D. Ora, como E = E ∪ ∂(E),
◦ ◦ ◦
então x ∈ ∂(E) ou x ∈ E. Mas como x ∈
/ D, temos que x ∈
/ ∂(E), e portanto, x ∈ E. Logo, (E\D ⊂ E).
Tomemos B como uma cobertura de caixas abertas de E \D (pois E \D é compacto) que esteja contida
◦ ◦ ◦
em E (pois E é aberto). Temos então que (E \ D) ⊂ B ⊂ E, e assim obtemos E ⊂ (B ∪ D). Como B
e D são elementares, então B ∪ D também é. Segue-se então que
◦ ◦
0 ≤ m∗,J (E) ≤ m(B ∪ D) ≤ m(B) + m(D) ≤ m∗,J (E) + m(D) < m∗,J (E) + ε
◦ ◦
Isto é, 0 ≤ m∗,J (E) ≤ m∗,J (E) + ε =⇒ 0 ≤ m∗,J (E) − m∗,J (E) ≤ ε. Logo, da arbitrariedade de

ε, concluímos que m∗,J (E) = m∗,J (E). Mas pelos itens anteriores, temos que m∗,J (E) = m∗,J (E) e

m∗,J (E = m∗,J (E). Assim, obtemos que m∗,J (E) = m∗,J (E), e portanto, E é Jordan mensurável,
como queríamos.

Exercício 7. Prove que se f e g são funções Darboux integráveis em [a, b], então f + g também é Darboux
integral e temos
Z b Z b Z b
(f + g) = f+ g
a a a

Solução 7. Sejam f e g funções Darboux integráveis em [a, b]. Dado ε > 0 fixado, existem funções escadas
Z b Z b
ε ε
s1 , s2 , σ1 e σ2 tais que s1 ≤ f ≤ σ1 e s2 ≤ g ≤ σ2 , com (σ1 − s1 ) < , e (σ2 − s2 ) < .
a 2 a 2
Vamos mostrar primeiro que f +g é Darboux integral. De fato, como s1 ≤ f ≤ σ1 e s2 ≤ g ≤ σ2 , obtemos
que s1 + s2 ≤ f + g ≤ σ1 + σ2 , onde s1 + s2 e σ1 + σ2 também são funções escada (soma de funções escada
também é função escada). Assim, temos que:
Z b Z b Z b Z b
ε ε
[(σ1 + σ2 ) − (s2 + s1 )] = (σ1 + σ2 − s2 − s1 ) = (σ2 − s2 ) + (σ1 − s1 ) < + =ε
a a a a 2 2

Isso mostra que f + g é Darboux integrável.


Vamos mostrar agora que:
Z b Z b Z b
f +g = f+ g
a a a
Novamente, como f e g são funções Darboux integrável, temos que para ε > 0 fixado, existem funções
Z b Z b
ε ε
escadas s1 , s2 , σ1 , σ2 tais que s1 ≤ f ≤ σ1 e s2 ≤ g ≤ σ2 com σ1 − s1 < , e σ2 − s2 < . Além
a 2 a 2

9
Z b Z b Z b Z b Z b Z b
disso, temos que s1 ≤ f≤ σ1 e s2 ≤ g≤ σ2 . Isto nos permite concluir que:
a a a a a a
Z b Z b Z b Z b Z b Z b Z b Z b
s1 + s2 = s1 + s2 ≤ f+ g≤ σ1 + σ2 = σ1 + σ2
a a a a a a a a

Por outro lado,


Z b Z b Z b
s1 + s2 ≤ f +g ≤ σ1 + σ2
a a a
Logo, !
Z b Z b Z b Z b Z b
f +g− f+ g ≤ σ1 + σ2 − s1 + s2
a a a a a

Z b Z b
= σ1 + σ2 − s1 + s2
a a

Z b Z b Z b Z b
= σ1 + σ2 − s1 − s2
a a a a

Z b Z b
= σ1 − s1 + σ2 − s2
a a

ε ε
< +
2 2

= ε
Isto é, !
Z b Z b Z b
f +g− f+ g ≤ε
a a a
Z b Z b Z b
e portanto, concluímos que f +g = f+ g, como queríamos.
a a a

Exercício 8. Obtenha uma função f : [a, b] → R que possua um conjunto de descontinuidades não enume-
rável, mas que ainda seja integrável.

Solução 8. Seja K ⊂ [0, 1] o conjunto de Cantor. Defina:

f: [0, 1] −→ ( R
1; se x ∈
/K
x 7−→
0; se x ∈ K

Afirmamos que f é descontínua em K. De fato, como K possui interior vazio, então dado x ∈ K, qualquer
intervalo centrado em x contém pontos y ∈ / K. Assim, escolhendo ε = 1/2, qualquer que seja δ > 0 tal que
|x−y| < δ, temos |f (x)−f (y)| = 1 > 1/2. Logo, f é descontínua em todo x ∈ K. Como K é não enumerável,
mostramos que f é descontínua num conjunto não enumerável.
Mostraremos agora que f é integrável. Fixe σ : [0, 1] → R função escada tal que f ≤ σ. Pela construção
da f , temos que σ(x) ≥ 1, ∀x ∈ [0, 1]. Sabemos que σ é combinçação de funções indicadoras definidas em
intervalos Ij ⊂ [0, 1], isto é,
Xn
σ= cj · 1Ij
j=1

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sendo assim, cada intervalo Ij contém pontos xj ∈ [0, 1] \ K, tais que f (xj ) = 1, pois [0, 1] \ K é denso em
[0, 1]. Como σ é constante em cada intervalo Ij , temos que σ(x) = σ(xj ) ≥ 1, ∀x ∈ Ij , e ∀j ∈ {1, · · · , n}.
Isto nos permite concluir que σ(x) ≥ 1.
Observe que, como a função constante σ = 1 é tal que f ≤ σ, ela é a menor função com esta propriedade.
Além disso,
Z 1 Z 1
f= σ=1
0 0
Z 1
Agora, fixe ε > 0. Mostraremos que existe uma função escada s tal que s ≤ f e que σ − s < ε. Vamos
0
construir s de forma indutiva, em que o n-ésimo passo feito é correspondente ao n-ésimo passo da construção
de K. Defina a função escada s1 (x) = 1, ∀x ∈ (1/3, 2/3) (primeiro terço médio retirado de [0, 1] e s1 (x) = 0,
se x ∈
/ (1/3, 2/3).
Defina a função escada s2 (x) = 1, se x ∈ (1/9, 2/9) ∪ (1/3, 2/3) ∪ (7/9, 8/9) e s2 (x) = 0, caso contrário.
Agora, de forma indutiva, na n-ésima etapa da construção do conjunto de Cantor, em que são retirados
os intervalos restantes da etapa anterior, defina a função escada sn (x) = 1, se x pertence a algum desses
intervalos retirados e sn (x) = 0 caso contrário.
Observe que, por construção, sn ≤ sm quando n ≤ m, e além disso, como s e σ são funções escadas,
temos que: Z 1  n
2
σ − sn =
0 3
Para n suficientemente grande, defina s = sn , e daí,
Z 1  n
2
σ−s= <ε
0 3

Portanto, f é uma função integrável, como queríamos.

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