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PUTA!

Chico Nascimentos Magonleji

SINOPSE

Uma mulher conta a sua história de vida e desprezo de um


homem que ela assassinou para permanecer viva.

Disseram-me puta, eu não quis ser puta. Perguntara-me, o que é


ser puta? Respondi diretamente a ele, ser puta é adotar os
valores morais dos homens. Recebi um tapa no rosto, dei um
tapa no rosto, ele perguntou se eu não tinha medo de morrer,
disse-lhe com voz firme, nunca tive medo de morrer, porque eu
também aprendi a matar sem remorsos. Ele parou, assustou-se,
ninguém nunca tinha enfrentado a sua tirania de homem que
bate em mulher e todas as outras baixavam a cabeça ou fugiam.
Comigo é diferente, eu disse três vezes, antes de tocar a mão
em mim, pense duzentas vezes. Ele perguntou-me de novo, o
que é ser puta? Repeti a mesma resposta. Ele insistiu, quer
dizer que mulher tem que fazer as mesmas coisas que homens
fazem? Eu insisti, exatamente, direitos iguais e
comportamentos iguais. Ele retrucou, mulher que bate na cara
de homem vai pro cemitério mais cedo. Confirmei, concordo
com você, quanto mais cedo enterrar o marido, mas cedo se
esquece a viuvez... O quê? Tem coragem de repetir, perguntou-
me. Sim, quem gosta de bater e de matar, um dia apanha e
morre também. Acreditou na minha fragilidade e insistiu, como
você me mataria? Respondi impávida, não se ensina ao mal
feitor as estratégias de sobrevivência. Revoltado, isso é uma
ameaça? Respondi com ar de religiosa, não, é uma promessa!
Ele assustou-se, ficou ali circulando por um tempo, olhou-me
dos pés a cabeça e prometeu, na hora que você deitar comigo,
você aprende a respeitar homem valente. Não contei conversa,
homem valente morre antes que a ameaça torne-se fato. Ainda
assim, ele tentou me intimidar, você sabe que eu tenho uma
arma de fogo, não sabe? Respondi com olhos fixos nos dele,
você sabe que eu tenho o fogo de todas as armas e te digo
macho, a partir de hoje você não toca mais a mão em mim, essa
foi a primeira e a última vez. Ele valente, não vou esquecer que
você me deu um tapa no rosto. Eu disse com a calma de um
lago sereno, na próxima tentativa da sua mão tocar em mim, ela
nem vai conseguir fugir, você perderá a mão e o desprezo que
tem por mulheres, isso é misoginia, você sabe, não é?
Disfarçando, não entendo esse linguajar moderno, mas sei que a
sua hora vai chegar, respondi decidida, a sua hora já chegou,
puxei a arma da cintura dele, numa rapidez de gato, disparei
cinco tiros, ele caiu com os olhos arregalados no chão, joguei a
arma ao lado do corpo, dei as costas e saí como se estivesse
num desfile de modas, tudo ficou gravado nas câmeras da rua,
ninguém me denunciou, mesmo assim, esperei passar o
flagrante, procurei as autoridades e contei tudo, não escondi
nenhum detalhe. A Delegada me disse que se eu não me
defendesse, seria a sexta mulher que seguiria para o mundo da
invisibilidade machista, não me glorifico por isso, nem quero
que o meu exemplo sirva de modelo para ninguém, mas agora
preciso ir embora, esse não é o meu lugar...

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