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Introdução
Partindo destas reflexões nossa análise vai mostrar como o Estado e o capital
elaboram e efetuam a representação do espaço e como este movimento alcança a vida
cotidiana e o papel da diferença na produção de adversidades. Para tal, tomamos como
objeto a industrialização da cidade de Catalão no interior de Goiás e as transformações e
persistências, principalmente na vida cotidiana das trabalhadoras de empresas
prestadoras de serviços, entendendo o feminino como diferença.
- Industrialização e terceirização.
De acordo com Harvey (1992) o mundo do capital atravessa uma crise no ano de
1973 que leva a uma reestruturação da produção e das relações de trabalho. De acordo
com o autor “Havia problemas de rigidez nos mercados, na alocação e nos contratos de
trabalho.” (1992:135) Uma das estratégias adotadas para superar a crise é a
desconcentração industrial em busca de novos nichos de mercado onde a força de
trabalho estivesse menos organizada e fosse mais barata, mesmo que menos qualificada.
As inovações comerciais, tecnológicas e organizacionais são elementos de
fundamental importância em um momento em que as relações precisam se flexibilizar,
inclusive espacialmente, procurando, assim saída para as crises. É importante lembrar
que o desenvolvimento tecnológico teve um importante papel neste processo permitindo
a fragmentação e articulação destes novos espaços de produção.
Um exemplo é a desconcentração industrial, que no Brasil alcança territórios
como o Estado de Goiás, que adotou políticas de estímulo à formação de mão de obra
(em parceria com o capital privado através do Sistema SESI e SENAI), construção de
distritos industriais com terrenos amplos e baratos em praticamente todas as cidades
goianas, adoção de incentivos fiscais as indústrias que se estabelecem nestas cidades,
construção de casas populares em grande número e a baixo custo para trabalhadores
(sobre isso ver: COSTA, 1998), investimentos em infraestrutura como rodovias, entre
outras ações. Harvey argumenta que:
Ainda de acordo com dados do IPEA a grande maioria das mulheres no Brasil
está empregada nos ramos de serviços domésticos – sendo que cerca de 70% destas não
possuem carteira assinada e os direitos garantidos -, comércio, educação, saúde e
serviços sociais. É grande também o número de mulheres e travestis na prostituição,
mercado que movimenta muito dinheiro, principalmente no setor de turismo.
De acordo com o estudo Igualdade de gênero e raça no trabalho, publicado pela
OIT em 2010, após 2008 se intensificou a desvantagem das mulheres em relação aos
homens no que ser refere ao acesso a empregos formais, uso e controle dos recursos,
taxas de rendimentos e proteção social em todo o mundo. Ainda segundo a OIT, no
Brasil, essa precarização evidenciou-se no aumento do número de mulheres que
trabalham sem remuneração e sem carteira assinada, apesar do crescimento da
formalização do trabalho no país. Esta realidade precariza a vida das trabalhadoras,
levando-nos a questionar sobre a emancipação feminina pelo trabalho.
Nos dias atuais ainda são muitos os desafios na luta pelo direito à diferença e o
respeito à diversidade, também no mundo do trabalho. Hirata (2011) em estudo
realizado sobre as condições da trabalhadora na sociedade atual no Brasil, na França e
no Japão, ressalta que ainda, as mulheres, ganham menos que os homens, trabalham em
cargos com pouco reconhecimento, sem muitas expectativas de ascensão profissional e
sem o respeito aos direitos conquistados. A autora argumenta, ainda, que quando
cruzamos estes dados com os dados referentes a renda e etnia observamos que a maioria
de mulheres pobres são negras e chefes de família.
Neste sentido, observamos que, mesmo após anos de luta pela emancipação e
pelo direito à inserção no mercado de trabalho, estes elementos tornam-se centrais no
movimento de precarização cuja uma das dimensões é a feminização do mundo do
trabalho, colocando milhares de mulheres em todo o mundo em situação de miséria, de
abandono, de sem teto, de chefe de famílias sem emprego ou em empregos parciais,
ainda mais precarizados.
- Considerações Finais
Neste sentido entendemos que a luta deve basear-se na denúncia das condições
em que estas trabalhadoras são inseridas no mundo do trabalho – sem o direito à
diferença – que possibilite pensar políticas públicas que atendam às suas
especificidades, como creches em horários mais flexíveis, mas vagas em escolas de
tempo integral, mas transporte de qualidade para as mulheres que têm um percurso
diferente a ser percorrido nas cidades, mas educação, mais condições dignas de
trabalho, ou seja, uma luta que alcança todas as identidades de gênero, portanto uma
luta social válida e não apenas discurso de minoria. A luta pelo urbano. É necessária a
construção de um projeto que perpasse pela produção de um urbano onde estas
diferenças sejam elementos de construção de igualdade e não de desigualdades, como
vem acontecendo.
O lugar da mulher – e de outras identidades - no urbano e no mundo do trabalho
precisa, então de mais pesquisas, de mais elaboração e acreditamos que a diferença
entendida como o resíduo, o que permanece, o que não foi totalmente cooptado na vida
cotidiana é fonte de elementos que nos auxiliem na construção deste projeto. Faz-se
necessário, também, (re)pensarmos as relações de gênero diante da nova realidade de
trabalhadoras que alcançam a “emancipação” através da inserção no mundo do trabalho
no espaço público e privado, as novas necessidades impostas e as novas lutas a serem
travadas na busca de um espaço que contemple diferentes necessidades.
- Referências Bibliográficas