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QUALIDADE DA ILUMINAÇÃO E RITMO CIRCADIANO: AVALIAÇÃO

DOS EFEITOS NÃO-VISUAIS DA ILUMINAÇÃO POR MEIO DE


SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS
Ana Carolina Oliveira Melo (1), Cláudia Naves David Amorim (2), João Francisco Walter Costa (3)
(1) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, 160156459@aluno.unb.br, Universidade de Brasília,
(2) Professora doutora, clamorim@unb.br, Universidade de Brasília
(3) Doutorando em Arquitetura e Urbanismo, joao.walter@aluno.unb.br, Universidade de Brasília

RESUMO

A luz natural produz efeitos visuais e não visuais no corpo humano. Os efeitos visuais são mais
conhecidos e são percebidos pela luz refletida nas superfícies, o que permite a formação da imagem. Os efeitos
não visuais, menos conhecidos, são a influência da luz no ciclo circadiano, na qualidade do sono, nos níveis
de vitamina D no organismo, funções endócrinas, entre outros. Neste contexto, o aproveitamento inadequado
da luz natural no ambiente não só causa o desconforto visual, mas pode prejudicar a saúde também. Dessa
forma, o objetivo do trabalho é explorar uma ferramenta que quantifica os efeitos não visuais da luz no
ambiente construído, a fim de apresentar uma alternativa eficaz para o auxílio do estudo da luz natural no
processo de projeto, para que os ambientes construídos proporcionem luz circadiana. O plugin estudado foi o
ALFA (Adaptive Lighting for Alertness), usado no software Rhinoceros 3D, que mede os efeitos não visuais
da luz, calculando a quantidade de luz absorvida pelos fotorreceptores do usuário medida em unidades de Lux
Melanópico Equivalente (EML ou eq.m.lux). Por fim, foi elaborado o passo a passo para sua utilização,
mostrando os parâmetros utilizados pelo software, utilizando um estudo de caso hipotético, para análise do
desempenho da luz natural no ambiente, do ponto de vista dos efeitos não visuais.

Palavras-chave: Iluminação Natural e Ciclo Circadiano, Simulação Computacional, Efeitos Não-Visuais da


Luz, Melanopsina e o Olho Humano

ABSTRACT

Natural light produces both visual and non-visual effects on the human body. The visual effects are
better known and are perceived by the light reflected on the surfaces. It is a process that allows the formation
of the image. The non-visual effects, less known, are the influence of light on the circadian cycle, sleep quality,
vitamin D levels in the body, endocrine functions, among others physiological effects. In this context, the
inadequate use of natural light in the environment not only causes visual discomfort, but affects health as well.
In this regard, the objective of this work is to explore a tool that calculates non-visual effects of light in the
built environment in order to present an effective alternative to aid the study of natural light in the design
process, so that built environments provide circadian lighting. The plugin studied was ALFA (Adaptive
Lighting for Alertness), used in Rhinoceros 3D, which measures the non-visual effects of light, calculating the
amount of light absorbed by the user's photoreceptors measured in units of equivalent melanopic lux (EML or
eq.m.lux). Finally, the step by step of its use was elaborated, showing the parameters used by the software,
using a hypothetical case study, to analyze the performance of natural light in the environment, from the point
of view of non-visual effects.

Keywords: Natural Lighting and Circadian Cycle, Computer Simulation, Non-Visual Light Effects,
Melanopsin and the Human Eye.
1. INTRODUÇÃO
A luz é uma radiação eletromagnética que produz sensações visuais. Segundo Lamberts, Dutra e
Pereira (2014), a iluminação influencia a habilidade das pessoas em desempenhar atividades visuais cotidianas,
como leitura, manufatura entre outros. A iluminação natural é proveniente da luz solar, que possui dois
componentes, sendo um deles a luz do sol (que chega diretamente) e o outro suas frações que são difundidas
pela atmosfera (chamada comumente de “luz do dia”). Essa iluminação natural é bem aproveitada quando
permite que os usuários do ambiente consigam desenvolver suas atividades visuais de maneira eficiente, ou
seja, com o menor esforço e maior discernimento do espaço ao redor.

1.1. Iluminação e efeitos não visuais


A importância da iluminação natural adequada nos edifícios vai além da redução do consumo de
energia. É comprovado que a luz influencia o sono, os níveis de vitamina D, o ritmo circadiano, o estado de
alerta, fadiga, temperatura do corpo, stress, funções neuroendócrinas, respostas neurocognitivas, pressão
arterial e até mesmo o humor (BOUBEKRI et al, 2020). De acordo com Houser et al. (2021) a iluminação
centrada no usuário é a solução para um projeto integrado e utiliza a iluminação como mediador das respostas
visuais, biológicas e comportamentais em humanos. Essas respostas podem ser imediatas, como a dilatação da
pupila e percepção de ofuscamento, enquanto outras, como humor, respostas psicológicas e fisiológicas podem
ser adiadas por horas e talvez não sejam evidentes por anos. O ritmo ou ciclo circadiano pode ser definido
como nosso relógio biológico, que pode ser estimulado pela intensidade luminosa e menos intensamente por
meio do espectro. Profissionais relacionados ao projeto de edificações estão tentando integrar esse
conhecimento de maneira a afetar positivamente os usuários. Exposição inadequada à luz pode causar uma
disfunção no ritmo circadiano, o que está atrelado ao aumento de risco de alguns tipos de cânceres sensíveis a
hormônios, doenças metabólicas e cardiovasculares e mortalidade (VETTER et al, 2021). Esta função da luz
é chamada de efeitos não visuais, visto que não estão associados à formação da imagem (AL ENEZI, 2011).
Os efeitos fisiológicos da luz se dão através dos olhos. A luz estimula os fotorreceptores da retina,
chamados de intrinsically photosensitive retinal ganglion cells (ipRGCs) ou células ganglionares retinais
intrinsecamente fotossensíveis (tradução livre). Estes fotorreceptores possuem um fotopigmento chamado
melanopsina, que transforma a informação fótica em sinais neurais, que são transmitidos para diversas regiões
do cérebro pelas células ganglionares (HOUSER et al., 2021). Em relação ao ambiente de trabalho, usuários
que ficam mais expostos à incidência de luz solar, além de todos os benefícios apontados, estão mais propensos
a ter maiores níveis de satisfação e um aumento na produtividade em cerca de 15% (DAY et al, 2019). Portanto,
percebe-se a importância do profissional de arquitetura ter esses conhecimentos para que os projetos
arquitetônicos aproveitem de maneira adequada a luz solar no ambiente.
Estudos relacionados a efeitos não visuais da luz são incipientes e muito recentes. Dúvidas surgem
sobre como o ambiente construído, em especial os ambientes internos podem contribuir para proporcionar a
luz circadiana. Dessa forma, o foco deste trabalho é entender a aplicação de simulações computacionais como
ferramenta para quantificar os efeitos não-visuais da luz natural em ambientes não residenciais em Brasília,
apresentando ferramenta para propor melhorias dos espaços e consequentemente para seus usuários, de forma
a melhorar o desempenho em relação à luz circadiana.

1.2. Simulações computacionais para mensuração de efeitos não visuais da luz


A simulação computacional para mensurar os efeitos não visuais da luz ajuda os profissionais de
arquitetura a perceber a atuação da luz nos ambientes em seus processos de projeto. Nesse ponto, a alternativa
a ser avaliada será o plugin ALFA, por meio de simulação computacional no software Rhinoceros 3D.O
Adaptive Lighting for Alertness (ALFA) é um plugin que mede os efeitos não visuais da luz, calculando a
quantidade de luz absorvida pelos fotorreceptores do usuário usando o pigmento melanopsina. O software leva
em consideração as características do ambiente como tipo de céu, horário do dia, orientação e também a direção
do campo de visão da pessoa. A quantidade de luz medida é chamada Equivalent Melanopic Lux – Melanópico
Lux equivalente (EML). Como resultado desses cálculos espectrais, o ALFA dispõe de ferramenta de
renderização interativa em 360°, onde o usuário pode passar o mouse por cima da imagem e girando a câmera,
é possível identificar os diferentes espectros de luz e EML, ou ver a potência espectral de qualquer parte do
ambiente. O software vem com uma biblioteca de luminárias e acompanha também uma biblioteca de
transferência radiativa da classe, libRadtran, onde podem ser definidos vários tipos de céus de qualquer parte
do planeta – claro e encoberto. Os materiais com seus dados de refletância e transmissão luminosa das
superfícies estão em um catálogo com mais de 500 materiais espectrais medidos, com base em medições
espectrofotométricas de objetos arquitetônicos reais. Além disso, o ALFA é compatível com o International
Glazing Database – Banco de Dados de Janelas Internacional (IGDB), que permite a importação de produtos
de janelas, o que inclui vidros, sistemas de janelas etc. medidos a partir das características espectrais do IGDB.
Todo esse conjunto de informações são usadas pelo software nos cálculos de EML.1

O ALFA proporciona dados para a comparação dos diversos tipos de vidros, materiais opacos
(paredes, teto e piso), sistemas de sombreamento e suas capacidades de transmitir ao corpo iluminação natural
para estímulos do sistema circadiano além de sistemas de iluminação elétrica para a definição de quais são
mais eficazes na atuação no sistema circadiano. Com esses resultados obtidos, é possível estudar como a
iluminação natural e/ou artificial atua nas funções biológicas, no conforto visual e no bem-estar do usuário
daquele espaço projetado (SAIEDLUE et al., 2019; PARSAEE et al, 2020; SAFREANEK; COLLIER DAVIS,
2020).

1.3. Estímulos visuais e o papel do ALFA


Os comprimentos de onda são absorvidos pela retina e transformados em sinais neurais. De acordo
com Lucas et al (2014), esses parâmetros podem ser calculados em novas unidades fotométricas equivalentes
α-opic lux, para que sejam adaptados ao contexto mais usual no meio científico, que é o lux. Isso permite que
a sensibilidade de cada canal de fotopigmento seja endereçada independentemente, o que resulta em 5 saídas
de medição de valores, correspondendo ao complemento fotorreceptor da retina humana (tradução livre).
Neste exemplo a melanopsina é estimulada quando se tem um comprimento de onda (λ) de 480nm,
que tem seu valor de iluminância (α-opic) de 124 EML. Ou seja, a partir de 124 EML, a melanopsina é ativada,
como demonstrado na Figura 01. A nível de comparação, os comprimentos de ondas visíveis, responsáveis
pelas cores primárias vermelho, verde e azul são 558 nm, 530 nm e 419 nm, respectivamente. Por esta razão o
estímulo é classificado como não visual, já que não está associado a uma cor de luz específica, apesar de se
aproximar mais da cor azul, sendo este estímulo recebido pelo fotorreceptor melanopsina.

Figura 01 – Iluminância fotópica e iluminância equivalente para bastonetes, cones e receptores iPRGCs
FONTE: INTERNATIONAL… , 2021

Neste sentido, o ALFA trabalha com resultados em unidades fotométricas propostas por Lucas
ToolBox, ou seja, α-opic (lux). Em cada ponto de análise, para cada hora e data definida, é possível mensurar
quantos lux são recebidos, sendo possível a análise e comparação com os outros pontos do mesmo ambiente e

1
Saiba mais em: https://www.solemma.com/alfa/#ALFAvideo
https://www.zgf.com/news_post/circadian-light-analysis-design-tools-to-support-a-new-lighting-design-
paradigm/ . Acesso em: 14 mai, 2021.
em diferentes horas, dias e condições do céu. Além disso o plugin também analisa diferentes materiais (opacos
ou translúcidos) e apresenta imagens renderizadas dos pontos medidos, permitindo a análise dos espectros de
luz que chegam ao olho humano.
Percebendo a importância da luz natural e os impactos na saúde humana, fica evidente a necessidade
desse conhecimento mais aprofundado por parte dos profissionais da área de arquitetura, para que os projetos
tenham um aproveitamento adequado da luz natural, resultando não só em conforto para o usuário do espaço,
mas uma melhora na qualidade da saúde do indivíduo. Portanto, o trabalho apresenta uma forma de calcular
os estímulos não visuais da luz dentro do ambiente, o que proporciona aos profissionais uma ferramenta para
analisar a qualidade da iluminação em seus projetos.

2. OBJETIVO
O objetivo geral da pesquisa é entender uma ferramenta de cálculo dos efeitos não-visuais da luz
natural, elaborando um tutorial para uso.
Como objetivos específicos, pretende-se:
● Entender e apreender o funcionamento do software ALFA - Adaptive Lighting for Alertness,
ferramenta para cálculo dos efeitos não-visuais da luz
● Avaliar a aplicação de simulações computacionais para avaliação de efeitos não visuais da luz
natural no ambiente para o clima de Brasília/DF.
● Descrever potencialidades e dificuldades no uso do software em relação à análise dos efeitos
não-visuais da luz

3. MÉTODO
3.1. Propósito e formato do tutorial
O tutorial tem como objetivo facilitar a simulação computacional e cálculos do ALFA no programa
Rhinoceros. O tutorial, descrito no item 3.3 do método, e no item 4, resultados, foi apresentado descrevendo
passo a passo dos processos e mostrando como inserir os dados de cálculo na interface do plugin, tendo como
exemplo um modelo geométrico simples. As etapas descritas são as configurações de localização do projeto,
de materiais construtivos do ambiente e as configurações da malha de cálculo do programa, que são necessários
para a base de cálculos. É necessário pontuar que o objetivo foi analisar exclusivamente a iluminação natural,
e por essa razão não foi usado a etapa de configurações de luminárias do ambiente.
O formato será em forma de texto explicando os itens de configuração do plugin com auxílio de figuras
ilustrativas mostrando as interfaces do programa.

3.2. Simulação computacional


Após o período de levantamento bibliográfico sobre os efeitos não visuais da luz e tipos de softwares
que simulam estes efeitos, foi escolhido o software ALFA, por ser uma ferramenta bastante visual, com uma
interface didática e intuitiva. Além disso, possui um banco de dados amplo e atualizado.
Em seguida iniciou-se o processo de simulação computacional. O primeiro passo foi identificar e
selecionar as variáveis a serem consideradas no estudo: dimensões do ambiente (largura, comprimento e pé
direito), janelas (posição, dimensão e forma), refletância das superfícies (piso, teto e parede), tipo de vidro e
fatores climáticos e implantação (latitude, longitude e orientação da abertura), dia do mês e condições do céu
(claro ou encoberto).
As simulações para a iluminação natural e conforto visual são realizadas a fim de aprofundar
parâmetros como Iluminância média, Distribuição, Autonomia de Luz Natural, Vista Exterior, Estímulo
circadiano (CS) ou unidade de Lux Melanópico Equivalente (EML). A investigação foi feita por meio de
simulação computacional apoiada no ecossistema de algoritmos do Grasshopper, e modelados no ambiente
Rhinoceros 3D utilizando o plugin ALFA (Adaptive Lighting for Alertness), da Solemma.
3.2.1. Dimensões gerais do ambiente e aberturas
Baseado em valores adotados em outros estudos e levando em conta a necessidade de analisar os
efeitos da luz ao longo do ambiente, foi definido os valores de 5 m de largura, 20 m de comprimento e pé
direito de 2,70 m. Foi definida uma janela de 4 m de largura e 1m de altura, com 1,20 m de altura do peitoril
e sem proteção solar. Cada componente da estrutura modelada foi separado em diferentes camadas (layers) de
desenho, para que posteriormente sejam definidos os materiais utilizados em cada superfície contidas dentro
da camada. É importante criar uma superfície para que sirva como a malha de simulação do ALFA, e localizá-
la na altura de medição desejada, que geralmente será na altura do plano de trabalho do usuário. A Figura 02
mostra o resultado final do ambiente modelado no software Rhinoceros com janela voltada para norte.

Figura 02 – Ambiente modelado com a abertura da janela voltada para o norte.

3.2.2. Fatores climáticos e localização


Após o processo de modelagem, os próximos parâmetros já são definidos dentro da interface do
ALFA. A localização selecionada foi Brasília/DF (15°46’ Sul/48°8’ Oeste). Os parâmetros de data, horário e
condições do céu foram definidos de acordo com os dados do Arquivo Climático de Brasília, fornecidos pelo
INMET (2018) e tratados pelo programa Climate Consultant, v. 6.0 (UNIVERSITY OF CALIFORNIA).
Devido o propósito de analisar os resultados da iluminação natural, foi determinado dia 21 de junho, dia de
solstício de inverno, e o horário das 12h, onde a iluminância global horizontal é alta e o índice de nebulosidade
baixo. Os gráficos 01 e 02 apresentados abaixo mostram a iluminância global horizontal na data e hora referida
é de cerca de 85.000 lux e o índice de nebulosidade é de 30%, sendo assim, considerado céu claro, sem
nebulosidade.

Gráfico 01 – Iluminância Global Horizontal em Brasília/DF no dia 21 de junho de 2018.


Gráfico 02 – Índice de Nebulosidade em Brasília/DF no dia 21 de junho de 2018.

3.2.3. Características dos materiais


As refletâncias das superfícies foram escolhidas de acordo com os valores médios indicados pela NBR
8995 - Iluminação para ambientes de trabalho, para piso, teto e parede (ASSOCIAÇÃO…, 2013). Sendo assim,
o teto com alta refletância - 82,2%, ou cor clara, em termos mais usuais; as paredes com média refletância -
52% e o piso com baixa refletância - 38,7%, ou seja, uma cor mais escura. Para as características do vidro da
janela foi usado o International Glazing Database que está contido no próprio banco de dados do ALFA. O
vidro escolhido foi o simples de 6mm e com transmissão luminosa de 88%.

DIMENSÕES GERAIS E ABERTURAS

Largura 5m

Comprimento 20 m

Pé direito 2,70 m

Janela 4mx1m

Peitoril 1,20 m

FATORES CLIMÁTICOS E LOCALIZAÇÃO

Localização Brasília/DF

Data 21/06

Hora 12h

Condições do céu Claro

REFLETÂNCIA DOS MATERIAIS

Piso 38,7%
Parede 52%

Teto 82,2%

TRANSMISSÃO LUMINOSA DO VIDRO

Vidro simples 6mm 88%

Tabela 01 – Resumo dos parâmetros de cálculo adotados

3.2.4. Referências de comparação para análise dos resultados de simulação


Os resultados obtidos com as simulações foram comparados com o relatório/protocolo da Agência
Internacional de Energia (INTERNATIONAL…, 2021) que apresenta alguns limiares para valores de EML
no projeto de iluminação circadiana, propostos, dentre outros, pela Certificação Well, que determina que o
tempo de duração da exposição é de no mínimo 4h, com mínimo de 120 lux para o estímulo circadiano. Dessa
forma, o ideal é que seja feita mais de uma simulação, com horários diferentes, no mesmo ambiente, para
verificar se os níveis de estímulo circadiano se mantém durante um período de no mínimo 4h, para que atenda
à Certificação e às recomendações descritas pela Comissão Internacional de Iluminação - CIE
(COMMISSION…, 2018). No estudo de caso foi realizada apenas uma simulação, pois o objetivo do tutorial
foi ensinar como se usa o plugin ALFA por meio do tutorial.

4. RESULTADOS
Com base no modelo simulado descrito no item anterior, o passo a passo da configuração e simulação
no plug-in Alfa dos efeitos não visuais da luz são descritos a seguir.
4.1. Passo 1: Configuração da localização, data, hora e condição de céu
Com o modelo do ambiente já pronto, o primeiro passo é digitar a palavra ALFA no campo de busca
do Rhinoceros que o plugin abrirá a interface, demonstrada na Figura 03, abaixo. Na parte inferior, denominada
“display” aparecerá a planta do ambiente modelado e os pontos de cálculo estabelecidos. Ao lado, na aba
location, serão definidos os parâmetros de cidade, onde ao selecionar, os campos latitude, longitude e elevação
serão preenchidos automaticamente. O importante é conferir se as informações estão corretas. Mais abaixo,
estão respectivamente os campos de mês, dia, hora, condições do céu e espectro terrestre (que considera as
condições de luz solar).

Figura 03 – Interface inicial do ALFA e aba Location - Localização


4.2. Passo 2: Configuração dos materiais
A segunda aba é a de materiais, onde foram definidos as refletâncias das superfícies internas
modeladas. Pode-se selecionar cada layer (camada) modelada previamente no Rhinoceros e atribuir o
respectivo material do catálogo do programa, clicando em “change material”. Essa aba mostrará todos os
materiais do extenso catálogo do banco de dados do ALFA, com suas características de cor, com diversos
valores de refletância (alta, média e baixa) para materiais opacos, e diversos vidros (simples, refletivos, com
mais de uma camada e vidros eletrocrômicos). Entre elas, se encontra o Photopic Reflectance, que é o
parâmetro de refletância que utilizamos para o chamado efeito visual da luz, e o parâmetro Melanopic
Reflectance é o utilizado para o efeito não visual da luz. As superfícies deverão ser classificadas como Opaque
Materials (materiais opacos) e apenas o vidro como Glazing Materials (materiais de vidro). Deve-se selecionar
o material desejado e clicar em update material para salvar as configurações. No caso deste objeto de estudo,
a camada denominada “malha de simulação” permaneceu sem uma refletância definida, mas pode-se
determinar um material com valor próximo a cor das superfícies da mesa de trabalho, por exemplo. As Figuras
04 e 05 mostram a aba geral de materiais e a aba select materials que define cada material individualmente.

Figuras 04 e 05 – Aba “materials” e aba de seleção dos materiais, respectivamente

4.3. Passo 3: Inserção de luminárias e quantificação dos efeitos não visuais da luz
Como dito anteriormente, a aba “luminaires” (luminárias) não foi configurada porque o objetivo
específico é estudar os efeitos não visuais da luz natural. Portanto, a próxima aba a ser analisada é a aba “grids”.
Logo na parte superior, deve-se definir o espaçamento entre os pontos de análise, que são circulares, a
quantidade de direções da vista de cada ponto, a rotação (onde se define a posição das direções de cada ponto)
e o raio de cada circunferência. Após essas configurações, irá aparecer a quantidade de pontos de medição e a
quantidade de medições que serão realizadas.
A segunda parte dessa aba é a escolha dos tipos de cálculo. Nesse caso foi escolhido o Melanopic Lux
e determinada a faixa de cálculo entre zero e 120 eq.m.lux (EML), onde o valor de 120 eq.m.lux é o mínimo
para se ter um estímulo circadiano. As seções “visual comfort” e workplane iluminance” foram definidos com
500 EML, que são os valores padrões para escritórios, com atividades de escrever, teclar, ler e processar dados,
de acordo com a norma NBR 8995 - Iluminação para ambientes de trabalho (ASSOCIAÇÃO…, 2013).
Figuras 06 e 07 – Aba “grids” partes 1 e 2, respectivamente

4.4. Passo 4: Formato dos números e cálculos da simulação

Na aba de configurações mantiveram-se os valores de radiação padrão do software. E após a conclusão


das configurações dos parâmetros, o modelo está pronto para as simulações. Portanto, é só clicar no botão
“start simulation” e aguardar o tempo de finalização da simulação, que varia de acordo com a quantidade de
pontos de medição, a quantidade de direções e a complexidade da geometria do ambiente.

Uma precaução que se deve tomar é com os símbolos de unidades decimais do computador. O ALFA
atualmente só trabalha com divisão decimal por meio de ponto (.), e não por vírgula (,). Dessa forma, é
necessário alinhar os parâmetros do computador, por meio do atalho: tecla com o logotipo do windows + R >
digitar “intl.cpl” no campo “abrir” > clicar em configurações adicionais e alterar o símbolo decimal para ponto
e símbolo de agrupamento para vírgula.2

Ao finalizar as simulações, aparecerá a mensagem “complete” na barra superior e então a simulação


poderá ser salva em formato .CSV que pode ser aberto no Excel para tratamento dos dados, poderá ser
descartada ou poderá ser salva na memória do próprio programa, que permite você reabri-la em outros
momentos. Cada direção do ponto de análise pode gerar uma imagem renderizada, clicando em cima do ponto
e depois clicando no ícone da câmera. Isso permite uma percepção mais realista do ambiente modelado.

4.5. Resultado da simulação e análise dos dados


Após a finalização das simulações, os pontos deixarão de ter a cor cinza e terão cores que representam
os valores definidos no Melanopic Lux, como mostra a imagem da Figura 08. Para analisar se cada ponto de
simulação está atendendo aos valores de referência para o estímulo circadiano, basta clicar em cada direção
do ponto e analisar o resultado na linha “Melanopic Lux” ao lado do gráfico. No caso do ponto selecionado, o
resultado foi 121 EML, mostrando que nesse ponto há o estímulo do ciclo circadiano, pois alcançou o valor
mínimo de 120 EML.

2
Saiba mais em: https://www.softwareok.com/?seite=faq-Windows-10&faq=146. Acesso em: 25 jul, 2022.
Figura 08 – Resultado das simulações

Ao analisar pontos distintos dentro do ambiente, percebe-se a diferença de estímulos não visuais que
pessoas em diferentes distâncias da janela terão. No caso mostrado na Figura 09, um ponto foi selecionado
logo à frente da janela. e a quantidade de EML ultrapassa muito o mínimo exigido, chegando ao valor de 9.053,
enquanto um ponto mais afastado da janela (Figura 10), o EML atinge somente o valor de 15, o que significa
que naquele ponto não há estímulo circadiano.

Figura 09 – Ponto medido a frente da janela


Figura 10 – Ponto medido distante da janela

Com base na simulação executada percebe-se, portanto, que no caso do exemplo estudado, o estímulo
circadiano adequado foi atingido até cerca de metade do ambiente, provando que uma janela apenas não é o
suficiente no horário simulado, 21 de junho às 12h sob céu claro. Para melhor interpretar o ambiente, a análise
deve ser estendida para mais horas e dias em diferentes estações do ano.3

5. CONCLUSÕES

O trabalho oferece uma alternativa para análise e estudo da influência da luz solar nos ambientes,
através das simulações no ALFA, que mostrou ser uma potente ferramenta para medir o estímulo não visual
da luz. Como pontos positivos, ressalta-se que o plugin calcula a energia espectral da luz em qualquer ponto
do ambiente e em qualquer direção. Outras variantes que o plugin consegue abranger são o dia, a hora, o local,
o tipo de céu, além dos materiais, sejam eles opacos ou translúcidos, além da iluminação artificial. Os
resultados apresentados podem ser interpretados através de valores em unidades fotométricas (EML), gráficos
e imagens renderizadas de cada ponto medido. Uma das questões que merecem atenção durante o processo de
simulação, que foi uma dificuldade enfrentada, é a simbologia das unidades decimais do computador, pois o
atualmente só trabalha com divisão decimal por meio de ponto (.), e não por vírgula (,). Caso os símbolos
estejam invertidos, o programa não consegue reconhecer os valores dos parâmetros, o que resulta em erro nas
simulações.
O potencial do plugin ALFA se dá pela possibilidade de poder ser testado para diversas localidades e
com diferentes materiais (opacos, translúcidos) e diferentes horários e dias. Além disso, pode ser simulado
tanto em projetos reais de edifícios, para testar a cor das superfícies (tons neutros, cores quentes, frias), os tipos
de vidros das aberturas (simples, duplos, com diferentes valores de transmissão luminosa) e auxiliar as decisões
projetuais.
Por fim, este trabalho alcançou o intuito de oferecer uma ferramenta para auxiliar na tomada de
decisões projetuais, apresentando um método de cálculo dos estímulos não visuais. Sugere-se como trabalhos
futuros o aprofundamento do uso do plugin e a testagem em outros tipos de geometrias, localidades, materiais,
dias e horas.

AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente ao Deus Altíssimo, pelas infinitas bênçãos. Agradeço à minha orientadora,
professora Cláudia Amorim e ao João Walter Costa, pela disponibilidade, prontidão em ajudar e por
compartilharem sua imensa sabedoria comigo, me ajudando não só a desenvolver esse trabalho, mas a crescer

3
Para métricas estáticas, sob determinada condição de céu, hora e dia específicos as medições/simulações devem ser
feitas idealmente em solstícios e equinócios com intervalo de uma semana (INTERNATIONAL…,2021).
profissionalmente. Agradeço também ao suporte dado pela empresa SOLEMMA, que prontamente tirou
minhas dúvidas sempre que precisei. E por fim, agradeço ao CNPQ, pela bolsa disponibilizada, e espero que
esta contribuição seja relevante ao mundo acadêmico e à sociedade. Muito obrigada.

REFERÊNCIAS

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