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ARTIGO: JUVENTUDE E CRIMINALIDADE SOB A PERSPECTIVA DA ESCOLA

DE CHICAGO.
AUTORES: Marconi do Ó Catão e Mariana Cavalcanti Pereira

O processo de industrialização, a partir do século XVIII, provoca grande


transformação social, trazendo diversos problemas para a sociedade devido ao
desenvolvimento econômico desigual. Além disso houve grande fluxo migratório
para os centros urbanos industrializados, criando lugares desestruturados,
desorganizados tanto no viés social, quanto urbano.

Nesta nova conjuntura, a raiz da criminalidade não poderia ser explicada


apenas por meio de elementos psicogenéticos, pois desconsiderava outros
aspectos, como o cultural, tinha que ser mais dinâmico, incluindo-se outro elemento,
o social.

A partir desse novo pensamento surge a Escola de Chicago voltada para os


fenômenos urbanos, inaugurando a chamada Sociologia Urbana, realizando
pesquisas por meio de abordagens formais, sistemáticas, em especial, o trabalho de
campo, o estudo empírico e a observação direta dos fatos.

Tal corrente sociológica preocupa-se principalmente com questões


relacionadas a urbanização, o crime, a juventude e a família e para formular suas
teorias a cerca desses objetos bebeu na fonte de três ramos da sociologia: I –
Formalismo, estuda os fatores que dão base as relações sociais, de modo a produzir
uma equação da vida social; II – Pragmatismo, norteia-se através da filosofia da
ação ou da intervenção, negando as grandes verdades absolutas que imperam
sobre tudo; II – Reforma Social, buscava incidir sobre os vínculos sociais entre os
indivíduos desmotivados, assim como o seu bem estar.

Os estudiosos de Chicago observavam a cidade como um grande laboratório,


um superorganismo, no qual se insere a relação entre população, meio ambiente e
organização, sendo o comportamento humano resultado desse vetor socioambiental,
e a desorganização social faz com que esse comportamento seja desviante, não
apenas os fatores psicogenéticos.

Uma teoria importante que surge na Escola de Chicago é a Teoria das Zonas
Concêntricas, desenvolvida por Burgess, que tinha por objetivo comprovar que a
estrutura urbana influencia na vida das pessoas e conclui que muitos problemas
sociais não vêm da desorganização individual das pessoas, mas social.

Essa desorganização social acontece pelo processo acelerado de


urbanização e da acentuada desigualdade social, o que enfraquece os valores
coletivos da comunidade. A desigualdade no acesso a bens materiais e simbólicos
acarreta na exclusão e marginalização de certo indivíduos menos favorecidos. A
exclusão desses indivíduos se dar por vários fatores: culturais, econômicos e
sociais.

As áreas degradadas são os espaços habitados suscetíveis a criminalidade,


violência devido à falta de infraestrutura, saneamento, transporte público e outros
serviços básicos, além de espaços de lazer.

A teoria da ecologia humana preconiza que o ambiente na qual o sujeito está


inserido tem influência no comportamento humano, levando em consideração
elementos sociais, econômicos, culturais, político, entre outros. Como já
mencionado, várias áreas da cidade se tornam degradadas, devido ao intenso
processo de crescimento, o que propicia a desorganização urbana e social, fazendo
com que direito básicos sejam negligenciados e consequentemente uma crise nos
mecanismos de controlo social, o que acaba por influências na criminalidade e nos
comportamentos dos indivíduos.

Um dos principais fatores que a Escola de Chicago acreditava era na força da


comunidade se auto organizar (controle social informal) e resolver seus problemas,
assim sendo, com a desorganização urbana e social, essa força acaba por
enfraquecer e assim os indivíduos daquela comunidade acabam por ficarem
suscetíveis a criminalidade, fazendo surgir grupos desviantes.

As constatações feitas pela Escola de Chicago dão conta que com o


fortalecimento do controle social informal, temos o retorno dos laços comunitários e
assim combatendo comportamentos desviantes.

Os jovens acabam por estarem mais suscetíveis a essa violência estrutural,


devido a escassez de estruturas e programas que garantem uma maior
sociabilização, fazendo com que muitos ingressem no crime por meio das gangues
onde irão encontrar um maior laço social.
Gangues são novos grupos sociais, no qual um grupo de jovens,
regularmente, praticam desde pequenas contravenções penais até crimes de maior
potencial ofensivo. Por diversas vezes as gangues passam a ser uma alternativa a
sociedade que os excluí e também como meio de sobrevivência naquele local
marcado por supressão de direitos fundamentais e que não oferecem o mínimo
existencial.

Além disso, a violência também pode ser usada como forma de manter um
status social, uma autoimagem, pois acaba encontrando nesses grupos desviantes
apoio e proteção.

Desta forma, os autores chamam atenção para a importância que a Escola de


Chicago deu para o fortalecimento da família, da comunidade, da escola, para
combater os comportamentos desviantes, para isso é necessário que haja políticas
públicas que enfrentem a desorganização urbana e social.

REFERÊNCIA

CATÃO, Marconi Ó; PEREIRA, Mariana Cavalcanti. JUVENTUDE E


CRIMINALIDADE SOB A PERSPECTIVA DA ESCOLA DE CHICAGO. Rfd- Revista
da Faculdade de Direito da Uerj, [S.L.], n. 28, p. 131-156, 23 dez. 2015.
Universidade de Estado do Rio de Janeiro.
http://dx.doi.org/10.12957/rfd.2015.10401. Disponível em: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/rfduerj/article/view/10401. Acesso em: 03 out. 2022.

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