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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA ALBERTO CHIPANDE

(DELEGAÇÃO DE MAPUTO)

Licenciatura em Ciência Jurídicas e Investigação Criminal

4° Ano Laboral

Disciplina: Sociologia Criminal

ESCOLA DE CHICAGO: UM NOVO OLHAR EM TORNO DA PROBLEMÁTICA DA


CRIMINALIDADE

Discentes: Docente:

Msc. Costa Ivo


 Alsa Alexandre Mabube;

 Candida Sanção Xirinda;

 Dércio Armando Bila;

 Hália Francisco Jafete Lambo;

 Joaquim Moisés Maundze;

 Latifo Manuel Felisberto Roda;

 Manuel Tomas Zaba;

 Salvador Gabriel Jango;

 Suzana Júlio Augusto.


Maputo, Março 2020

2
Alsa Alexandre Mabube

Candida Sanção Xirinda

Dércio Armando Bila

Hália Francisco Jafete Lambo

Joaquim Moisés Maundze

Latifo Manuel Felisberto Roda

Manuel Tomas Zaba

Salvador Gabriel Jango

Suzana Júlio Augusto

ESCOLA DE CHICAGO: UM NOVO OLHAR EM TORNO DA PROBLEMÁTICA DA


CRIMINALIDADE

Maputo, Março 2020


A minha segurança face ao estrangeiro: é Papel da Defesa
Nacional. A minha segurança face a delinquência: é papel
da polícia. A minha segurança face aos vizinhos: é papel da
justiça.

(Vladimi
r Valkoff)
Índice

1. Introdução...............................................................................................................................1

2. Contexto Sócio-Histórico do Desenvolvimento da Escola De Chicago.................................2

2. 1. A Cidade Como Objecto de Estudo....................................................................................3

2. 2. A Delinquência nas Cidades...............................................................................................4

2. 3. Controle Social Informal.....................................................................................................4

3. As Contribuições da Escola de Chicago Para as Ciências Criminais: O Desenvolvimento de


Uma Nova Teoria do Delito........................................................................................................5

3. 1. Ecologia Criminal...............................................................................................................5

3. 2. Desorganização Social........................................................................................................7

3. 3. Áreas de Delinquência - Gradiente Tendency....................................................................7

3. 4. Propostas Para as Áreas de Criminalidade..........................................................................8

4. Críticas....................................................................................................................................9

5. Conclusão..............................................................................................................................10

6. Referências Bibliográficas....................................................................................................11
1. Introdução

O presente trabalho, surge em virtude de pesquisa em grupo com o carácter avaliativo na disciplina de
Sociologia Criminal, ele tem como tema: Escola de Chicago: um novo olhar em torno da
problemática da criminalidade. O mesmo, objectiva estudar as contribuições importantes à
criminologia, trazidas a partir da Escola de Chicago, resultando este trabalho de um amplo
levantamento bibliográfico relativo à matéria em apreço.

Com tudo, esperamos com este trabalho, deixar o leitor apar do delineamento e o contexto sócio-
histórico do surgimento da abordagem criminológica da Escola de Chicago; assim como explicar a
ideia do crime como um produto da urbanização; identificar os principais vectores que caracterizam a
abordagem da Escola de Chicago e muito mais conhecimentos relacionados com a Escola de Chicago
no que diz respeito a problemática da criminalidade.

Para a concretização do presente trabalho, foi de indispensável importância a pesquisa bibliográfica


que de acordo com Lakatos e Marconi (2003), trata-se do levantamento, selecção e documentação da
bibliografia já publicada sobre o assunto que está sendo pesquisado, em livros, revistas, jornais,
boletins, monografias, teses, dissertações, com o objectivo de colocar o pesquisador em contacto
directo com todo o material já escrito sobre o mesmo assunto. E após o contacto com o material o grupo
efectuou assim a leitura analítica, que recorrendo ainda a citação acima, a leitura analítica implica
sistematização e reprodução de ideias e conceitos a partir do apreendido.

Quanto ao material, está disponível em varias plataformas tecnológicas, quanto em doutrinas


encontradas em montões de bibliotecas e, portanto, a pesquisa se deu de forma essencialmente
bibliográfica, baseado em posicionamentos de autores e profissionais formados na área do Sociologia
Criminal, em que tiveram artigos e outros materiais didácticos publicados.

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2. Contexto Sócio-Histórico do Desenvolvimento da Escola De Chicago

Segundo Machado (2008), a denominada “Escola de Chicago” vigorou nos anos 20 e 30 do século XX
e trouxe contribuições importantes à criminologia, destacando-se as teorias da Ecologia Humana (de
Robert Park) e das Zonas Concêntricas (de Ernest Burgess).

Machado (2008), nos explica que o contexto sócio-histórico que envolveu o desenvolvimento desta
corrente de pensamento sobre o crime radica na expansão das cidades, sobretudo a partir da segunda
metade do século XIX. Neste período e sob o efeito da industrialização, tornam-se visíveis novos
fenómenos sociais, de ordem económica, demográfica e espacial, que se reflectem nas grandes Cidades
e são acompanhados por alterações de valores, costumes e novas formas de interacção e controlo
social. Assiste-se a uma crescente complexidade dos processos de mobilidade e estratificação social, à
diversificação cultural e, sobretudo, à predominância das relações sociais secundárias e consequente
quebra da solidariedade e coesão social tradicional.

Para enfatizar as explicações de Machado, citamos Furquim (s/d), que conta que no início do século
XX, a Europa já não era a terra da prosperidade. Havia uma grande tensão sobre questões territoriais e
financeiras, que mais tarde acarretariam na Primeira Guerra Mundial. Ante a esses motivos, houve
grande fluxo de imigrantes para toda a América (italianos, alemães, poloneses e irlandeses).

Enfatiza Furquim (s/d), que influenciado pelas correntes migratórias, o crescimento das Cidades
americanas foi muito rápido. Chicago cresceu vertiginosamente devido a muitas pessoas que
migravam do campo para a cidade, além dos imigrantes que buscavam nos EUA melhores condições
de vida.

Em seu trabalho monográfico, Furquim (s/d) apresenta números que demostram o crescimento das
idades em 1840 Chicago contava com 4 mil habitantes, número esse que em 1860 vira a subir para 110
mil; em 1870, 300 mil; em 1890, a cifra era de 800 mil; em 1910, já contava 2 milhões; e, em 1920,
um terço dos seus 2,7 milhões eram estrangeiros. Acrescenta Furquim (s/d) que:

A expansão da cidade não foi planejada; a explosão demográfica ampliava em


círculos, do centro para a periferia, ocasionando graves problemas sociais,
familiares, morais e culturais, traduzindo-se no fermento para a criminalidade.
De tal forma, a questão criminológica tornou-se objecto de estudo via expansão
urbana e ocupação de espaços urbanos.

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Viana (2015) arremata que:

O poderoso processo de industrialização do século XX promoveu o quadro de


explosão demográfica retratado acima, transformando a Cidade de Chicago, já
naquela época, em uma Cidade cosmopolita, um caldeirão de etnias, culturas e
religiões aglomeradas em guetos, regiões, pois, marcadas pela desordem e
conflito. Não bastasse a desordem típica desta nova grande Cidade, também
houve o êxodo rural, Cidades com economias de estrutura agrícola perdiam
população para os grandes centros industriais.

Machado (2008), afirma que a Universidade de Chicago foi criada neste contexto de crescimento
urbano e torna-se a primeira universidade americana a ter um departamento de Sociologia (criado em
1892). A obra da Escola de Chicago tornou-se respeitada e conhecida em virtude dos trabalhos que
estabeleceram a relacção entre a organização do espaço e a criminalidade. A partir daí, o crime
começou a ser entendido como um produto da urbanização, configurando-se um novo enfoque de
análise ao nível da Sociologia do Crime, que aos olhos dos sociólogos da Escola de Chicago converteu
a “Cidade” num “Laboratório Social”.

2. 1. A Cidade Como Objecto de Estudo

O conceito de cidade vem da Idade Média. A Cidade era um pequeno espaço para produção e trocas de
alimentos, utensílios e armas, impulsionado por uma economia monetária. Naquela época, a
organização social era garantida por meio de muralhas que impediam a entrada de invasores.

Pelletier e Delfante apud Furquim (s/d), conceituam como Cidade um ambiente que concentre no
mínimo 2 mil pessoas, atendendo um critério funcional, que deve apresentar um número mínimo de
funções – chamadas funções de relacção – de prestação de serviços como: bancos, escritórios,
administrações, equipamentos de saúde, espetáculos e atividades lúdicas. Já David Harvey define
cidade como uma forma de organização do espaço pelo homem, “expressão concreta de processos
sociais, na forma de um ambiente físico construído sobre o espaço geográfico”.

Furquim (s/d) citando Robert Park, “a cidade é um estado de espírito, um corpo de costumes e
tradições e dos sentimentos e atitudes organizados, inerentes a esses costumes e transmitidos por
tradições”. E ainda, a cidade não é um mero ambiente geográfico, mas sim um organismo onde se
encontram áreas naturais habitadas por tipos humanos diferentes e distintos modos de vida.

Segundo Freitas apud Machado (2008), pode-se sintetizar três principais vertentes dos estudos levados
a cabo pelos sociólogos da Escola de Chicago como:

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1. O trabalho de campo e forte empiricismo;

2. O estudo da cidade, em particular problemas relacionados com a imigração, o crime e o desvio;

3. Uma forma característica de Psicologia Social, oriunda, principalmente, do trabalho de George


Herbert Mead e que veio a ser denominada interacionismo simbólico.

2. 2. A Delinquência nas Cidades

Segundo Furquim (s/d), a passagem para a vida na urbe tenta uma complexa adaptação às normas de
convívio, distintas de uma cidade ou de um bairro para o outro. Cada mudança ocasiona um novo
ajustamento para os habitantes daquele lugar. Todavia, as mudanças constantes podem levar os novos
habitantes ao anonimato: as frequentes alterações de ambiente geram ausência de laços com a
vizinhança e falta de integração com a comunidade local. Para esse pensamento criminológico
centrado no estudo das cidades, a mobilidade propícia o anonimato que leva à maior isolamento e à
possibilidade de que os actos desses novos habitantes não sejam notados, já que não há um controle
social informal da mobilidade.

A Escola de Chicago dá ênfase à necessidade de maior actuação do “controle social informal”


(vizinhança, família, escola e igreja), pois funcionava como uma espécie de polícia natural que
restringia as primeiras práticas de crimes e integrava a pessoa à comunidade.

Com base no controle informal, a imensa maioria da população não delinque, pois sucumbe às
barreiras desse controle. O sistema informal vai socializando a pessoa desde a sua infância (a exemplo
do âmbito familiar); e é mais ágil na resolução dos conflitos do que os mecanismos públicos. O
desprezo social e a vergonha (a exemplo da punição informal, com o afastamento de amizades ou de
alguns membros da própria família) são sanções que, para a grande maioria, podem inibir a prática de
um crime.

2. 3. Controle Social Informal

Para Cliford apud Carvalho (1988), no que se refere ao Controle informal, os valores sociais presentes
em indivíduos são produtos de controle social informal, exercido implicitamente por uma sociedade
através de determinados costumes, normas e condutas. Indivíduos internalizam os valores de sua
sociedade, seja consciente ou não da doutrinação.

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A sociedade tradicional se baseia principalmente no controle social informal incorporado em sua
cultura habitual de socializar seus membros. Sanções informais podem incluir vergonha,
ridicularização, sarcasmo, crítica e desaprovação, o que pode fazer uma pessoa a se desviar para as
normas sociais da sociedade. Em casos extremos, as sanções podem incluir a discriminação e exclusão
social. Controle social informal geralmente tem mais efeito sobre os indivíduos, porque os valores
sociais tornam-se internalizados, tornando-se, assim, um aspecto da personalidade do indivíduo 1.
Sanções informais verificam o comportamento “desviante”.

Em um grupo criminoso, uma sanção mais forte se aplica no caso de alguém ameaçando informar à
polícia a actividade ilegal.

De tal modo, Park apud Furquim (s/d), entendia que o pobre, o viciado e o delinquente vão sempre se
aproximar um do outro, em uma intimidade mútua e contagiosa.

Segundo Mowrer apud Furquim (s/d), as pesquisas etnográficas constataram que os bairros pobres,
com baixas condições socioeconômicas, além de apresentarem maiores índices de criminalidade,
possuíam índices maiores de distúrbios mentais. Eram determinados pelas más condições de moradia,
falta de tratamento adequado (falta de atendimento e hospitais) e também pelo conflito mental, ou a
desorganização pessoal, causado pela modificação cultural que a mobilidade trouxe.

Os reflexos da desorganização social e da criminalidade estão presentes até mesmo na actual


arquitetura urbana das grandes cidades.

3. As Contribuições da Escola de Chicago Para as Ciências Criminais: O Desenvolvimento de


Uma Nova Teoria do Delito

Com o objetivo de desenvolver teses pretensamente capazes de explicar o aumento da criminalidade,


vivenciada pelas grandes cidades norte-americanas, a ecologia criminal produziu duas correntes
denominadas por desorganização social e áreas de delinquência.

3. 1. Ecologia Criminal

Segundo Machado (2008), Robert Park (1864-1944) foi fundador da Escola de Chicago e criador da
teoria da Ecologia Humana e do método da observação participante em contexto urbano e industrial.
Esta teoria entende o crime como algo não determinado pelas pessoas, mas sim pelo grupo a que

1
Gouveia, H. C. (2018). Sociologia do Crime. Salvador.

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pertencem, pressupondo que o comportamento humano é modelado e limitado pelas condições sociais
presentes no meio físico e social.

Machado (2008) citando Park, diz que o crime deve ser estudado como um fenómeno ambiental, que
comporta aspectos físicos, sociais e culturais. Como reconhecia a importância de um determinismo
ambiental, Park via nas políticas repressivas, nomeadamente a aplicação de penas, uma imposição do
meio físico e social. Nesse sentido, defendia que somente a intervenção por via de políticas públicas
preventivas poderia diminuir a criminalidade, mediante a consolidação do controlo social nas áreas
ecológicas mais pobres e degradadas.

Robert Park aponta como causa principal da ocorrência de crime, a quebra dos processos de
socialização primária, sob influência do ambiente urbano, sugerindo como solução para a prevenção da
criminalidade o desenvolvimento de acções organizadas de tipo comunicacional, criadas pelo controlo
público e formando “regiões morais”.

Por seu turno, para Viana (2015), o termo “ecologia”, remete às relacções dos seres vivos com o
ambiente. Ecologia Criminal, a partir da incorporação do conceito anterior, tem como objecto de
estudo os delitos praticados na cidade em sua relacção com o ambiente onde são praticados. Estudam-
se determinados factores físicos e sociais onde vive o agente, cuja conduta criminal é analisada
também por sua relacção com esse meio em que vive.

Explica Viana (2015), que o problema central de Chicago, como já visto, era o crescimento
populacional desenfreado, que tinha como consequência factores como pobreza, falta de educação,
carência de atenção à saúde e isolamento dos imigrantes, que eram mal vistos pela sociedade. O índice
de criminalidade entre os imigrantes também disparou, sobretudo entre os imigrantes poloneses, que
eram vistos como criminosos natos pela sociedade local, teoria que seguia o modelo lombrosiano. A
fim de investigar o fenômeno criminal entre os imigrantes, o pesquisador William Thomas viajou
muitas vezes até a Polônia. A pesquisa se dedicou a investigar os pais, avôs e outros parentes desses
ditos criminosos para descobrir se eles também tinham um passado de delinquência.

Todavia, chegaram à conclusão de que os familiares dos imigrantes criminosos eram pessoas simples
do campo, respeitadas pela sociedade local, não havendo qualquer indício do conceito de activismo de
Lombroso. O marco desse estudo foi o relatório chamado: O camponês polonês na Europa e na
América, de 1918, de Thomas e Znaniecki.

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Como dizíamos anteriormente, a fim de elucidar melhor a delinquência e o crescimento populacional,
a Escola de Chicago pautou-se em dois conceitos que nos propomos a descrever: desorganização social
e áreas de delinquência:

3. 2. Desorganização Social

Para os sociólogos Horton e Hunt apud Viana (2015), a desorganização social é uma perturbação da
cultura resultante de uma mudaça social, reflexo de falha dos controles sociais tradicionais, confusões
de papel, códigos morais conflitantes e pouca confiança nas instituições. Trata-se de uma perda de
influência das regras sociais de conduta sobre os membros do grupo. Nessas comunidades, o controle
social informal é quase nulo.

Guimarães (2011), explica que a desorganização social de Chicago incidia nos bairros pobres, onde
residia a maior parte dos imigrantes. Nesses bairros, as condições de vida eram péssimas, as pessoas
viviam próximas às indústrias, convivendo com mau cheiro, lixo e degradação, o que gerava condições
favoráveis para o cometimento de actos delituosos.

A desorganização social, para Merton apud Filho e Rovani (2019), é traduzida no conceito de anomia,
como um generalizado estado de desregramento constituído pela perda de autoridade das regras
tradicionais, conforme Durkheim, de tal forma que, ultrapassados certos limites, o fim útil da
existência da delinquência se perde, dando lugar ao seu aspecto negativo, marcado pelo exagero no
índice de delinquência. Ou seja, a delinquência não é só normal a toda e qualquer estrutura social,
como também tem seu fim útil.

3. 3. Áreas de Delinquência - Gradiente Tendency

A teoria das zonas concêntricas elaborada por Ernest Burgess e apresentada pela primeira vez em 1925
na obra The City, em co-autoria com Robert Park e Roderick Mackenzie, segundo esse conceito, uma
cidade se desenvolve em diferentes áreas, de acordo com as classes sociais que as ocupam. Em cada
área da cidade há um padrão homogêneo de situações socioeconômicas. Para Park, Burgess e
McKenzie citados por Guimarães (2011), as grandes cidades se desenvolvem por meio de um conjunto
de zonas, ou anéis, a partir do centro, na chamada teoria dos círculos concêntricos.

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A ideia de áreas de delinquência foi produzida por Ernest Burgess e consiste em uma divisão
geográfica da cidade em cinco zonas concêntricas. Como forma de ilustração no presente trabalho,
usaremos a cidade de Maputo como exemplo do funcionamento da teoria dos círculos concêntricos
mas dividindo as áreas em quatro, fugindo assim da divisão feita pelo autor acima refenciado:

Zona I: Área central da cidade, zona de intensa actividade comercial, predominância de escritórios e
comércio. Exemplo: Baixa da Cidade de Maputo.

Zona II: Geralmente a parte mais degradada da cidade; deste local, os moradores procuram
frequentemente se mudar. Comumente encontram-se ali fábricas antigas, cortiços, imóveis
abandonados e invadidos. São locais onde vivem as classes mais pobres e os imigrantes. Ali o grau de
deterioração do ambiente é elevado. Exemplos: os bairros de Maxaquene e Chamanculo.

Zona IV: São zonas residenciais da classe alta, geralmente ocupada pelas pessoas de melhor padrão
social e compostos por imóveis de valor alto. Exemplos: Polana Cimento e bairro central A, B e C

Zona V: Compreende as áreas fora da cidade e suas cidades satélites, local onde vive a classe mais
rica, em condomínios fechados. Exemplos:. Sommerchild 1 e 2 .

Divididas as áreas conforme sua estrutura física, a gradiente tendency identifica quem frequenta e
quem reside em cada uma das áreas e quais são as áreas mais e menos afectadas pela criminalidade,
seja ela entendida como a quebra dos laços comunitários e consequente desorganização social.

3. 4. Propostas Para as Áreas de Criminalidade

Segundo Furquim (s/d), em decorrência desse estudo, Shaw e McKay desenvolveram um estudo que
analisa os pormenores da ecologia criminal e procura entender a delinquência nas grandes cidades.
Segundo os autores, nenhuma redução contra a criminalidade é possível se não houver mudanças
significativas nas condições sociais e econômicas. Nos anos 20, a Escola de Chicago já propunha a
prevenção da criminalidade por meio de:

 Intervenção social do Estado –construção de escolas, creches, hospitais, parques, áreas de lazer etc.
– nas comunidades degradadas;

 Incentivo a maior influência das instituições locais como Igreja, Escola, associações de bairro,
grupos de jovens, com o objetivo de reconstruir a solidariedade social, aproximar as pessoas umas
das outras e funcionar como freio à criminalidade;

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 Criação de comitês e entidades de bairro: para envolver desempregados nas actividades
comunitárias e promover a redução do desemprego;

 Criação de actividades comunitárias para os jovens: efetivação de grupos de escoteiros (para os


jovens que migraram do campo para a cidade, como forma de resgatar as actividades do campo e
os valores da natureza); fóruns artesanais, viagens culturais e excursões (para os jovens de classe
baixa poder adquirir conhecimento e cultura por meio das viagens e do lazer); desporto (fomento as
várias práticas de desporto para os jovens). A ideia era ocupar os mais jovens com lazer, cultura,
conhecimento e educação, dando a eles oportunidades de emancipação.

 Melhoria das moradias e da infraestrutura: assim como melhores moradias, a qualidade de vida do
bairro também refletiria na organização social da comunidade, tornando uma comunidade mais
digna.

Essas propostas faziam parte de um programa chamado Área de Chicago (Chicago Area Project) de
Shaw e McKay. As premissas consistiam em minimizar o controle social formal trabalhando quase que
exclusivamente com o controle social informal, a partir das seguintes ações:

 Os residentes criariam grupos locais;

 Seriam dirigidos pelos próprios membros da comunidade;

 O combate à desorganização social se daria por meio da organização de actividades desportivas,


oferta de colônias de férias aos jovens; mutirão para a redução da degradação física do bairro
(reforma de casas, etc.); apoio dos grupos aos jovens que se envolvessem com a justiça criminal;
aconselhamento dos residentes que tivessem problemas judiciais e familiares.

4. Críticas

Das críticas assinadas por Viana (2015), a primeira reflexão crítica que se tem em relacção aos estudos
apresentados, como também em relacção às conclusões a que chegaram alguns membros da Escola de
Chicago, é a limitação da própria investigação. Em particular, em relacção a algumas conclusões de
Shaw, por exemplo, fica evidente que ele se preocupou em estudar as áreas da residência dos
delinquentes e não as áreas onde os crimes ocorriam. E isto, inequivocamente, compromete a “pureza”
dos dados estatísticos.

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Viana (2015), arremata ainda que parte da doutrina põe objeções no que se refere ao desenvolvimento
radial das cidades. Com efeito, a teoria das zonas concêntricas não representava a maioria das cidades
americanas; pelo contrário, o desenvolvimento das cidades polarizava-se em torno das principais ruas e
não a partir do centro.

Finalmente, o autor opõe-se a metodologia. De facto, efectivamente, ao considerar apenas as cifras


oficiais, as conclusões tornam-se altamente questionáveis, eis que a actuação das agências de controle
social formal é discriminatória e com alvos bem definidos; a vigilância é muito mais ostensiva em
determinados bairros.

5. Conclusão

Para terminar é de salientar em linhas gerais do estudo aqui presente analisando em perpectiva de
Furquim, a divisão das zonas concêntricas traz como consequência o elevado índices de criminalidade
com destaque a zona II. Essa zona de trânsito é altamente deteriorada, com péssimas condições de vida
e infraestrutura; e é onde residem as classes sociais que mais entram em conflito com a lei. Como
vimos naquele estudo feito por Furquim, em 1926 em Chicago, 37% dos crimes praticados por jovens
foram cometidos próximos às áreas da Zona II, o mesmo estudo ficou evidente que os crimes tinham
motivação socioeconômica, pois as péssimas condições de vida levavam à desorganização social,
descaracterizando o que poderia ser atribuído ao determinismo biológico da teoria de Lombroso.

Um dos factores também levado em consideração foi o tipo de relacções humanas das cidades grandes,
muito diverso daquele das cidades menores. Park, Burgess e McKenzie argumentam que um dos
motivos para as cidades menores terem menores índices de criminalidade é a solidariedade e os valores
morais que se estabelecem entre as pessoas, ou seja, a força do controle social informal.
Diferentemente do que ocorre na urbe, onde o anonimato “cria uma impessoalidade nas relações
humanas, um culto à liberdade exacerbada, traduzindo-se em uma vida de aparências como meio de
incremento de desviações nas normas de condutas éticas e na prática das atitudes sociais”.

Embora o grupo não se fazer ao terreno para fazer um estudo de caso, mas das várias experiências que
vivemos nos nossos bairros, nos leva a concluir que em Moçambique, a desorganização social ainda
impera. Nas periferias, essas mesmas condições de insegurança e vulnerabilidade social se repetem,
com o agravante da ausência completa do Estado –faltam hospitais, creches, escolas, parques,

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iluminação, vias de acesso etc. elevando assim o índice de criminalidade na nossa sociedade. A
delinquência é produto dessa desorganização que fragiliza os laços comunitários.

6. Referências Bibliográficas

Filho, E. V. S. & Carlos, A. R. (2019). A introdução da sociologia na criminologia pelas contribuições


da Escola de Chicago: o surgimento da retórica da política criminal da tolerância zero e a
difusão de suas críticas. Revista Duc In Altum. Vol. 1. Minas Gerais.

Freitas, W. C. P. (2003). O retorno da cidade como objecto de estudo da sociologia criminal: espaço
urbano e criminalidade-lições da Escola de Chicago. Resenha. Porto Alegre.

Furquim, S. R. (s/d). A Escola de Chicago e o pensamento criminológico como um fenômeno social:


os contributos dos ideais de bem-estar social nas políticas criminais. Trabalho monográfico.
(s/l).

Gouveia, H. C. (2018). Sociologia do Crime. Salvador.

Guimarães R. E. M. (2011). A Escola de Chicago e a Sociologia no Brasil:A passagem de Donald


Pierson pela Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo. Araraquara.

Lakatos, E. M. & Marconi, Marina de Andrade; (2003). Fundamentos de Metodologia Científica. (59ª
ed). São Paulo.

Machado, H. (2008). Manual de Sociologia do Crime. Versão editada. Porto: Afrontamento

Viana, E. (2015). Criminologia. Revista, ampla e actualizada (3ª ed.). Rio de Janeiro: Editora Jus
Podivim.

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