Você está na página 1de 17

Política Nacional do Meio Ambiente

A Política Nacional do Meio Ambiente foi estabelecida em 1.981 mediante a edição da Lei 6.938/81, criando
o SISAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente). Seu objetivo é o estabelecimento de padrões que tornem
possível o desenvolvimento sustentável, através de mecanismos e instrumentos capazes de conferir ao meio
ambiente uma maior proteção.
As diretrizes desta política são elaboradas através de normas e planos destinados a orientar os entes públicos
da federação, em conformidade com os princípios elencados no Art. 2º da Lei 6.938/81.
Já os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, distintos dos instrumentos materiais noticiados
pela Constituição, dos instrumentos processuais, legislativos e administrativos são apresentados pelo Art. 9º
da Lei 6.938/81.
Estrutura Básica do SISAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente)
O Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISAMA, congrega os órgãos e instituições ambientais da União,
dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, cuja finalidade primordial é dar cumprimento aos
princípios constitucionalmente previstos e nas normas instituídas, apresentando a seguinte estrutura:

CONSELHO DE GOVERNO: Órgão superior de assessoria ao Presidente da República na formulação


das diretrizes e política nacional do meio ambiente.CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE
(CONAMA): Órgão consultivo e deliberativo. Assessora o Governo e delibera sobre normas e padrões
compatíveis com o meio ambiente, estabelecendo normas e padrões federais que deverão ser observados
pelos Estados e Municípios, os quais possuem liberdade para estabelecer critérios de acordo com suas
realidades, desde que não sejam mais permissivos.MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA):
Planeja, coordena, controla e supervisiona a política nacional e as diretrizes estabelecidas para o meio
ambiente, executando a tarefa de congregar os vários órgãos e entidades que compõem o
SISAMA.INSTITUTO BRASILEIRO DE MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS (IBAMA): É vinculado ao MMA. Formula, coordena, fiscaliza, controla, fomenta, executa
e faz executar a política nacional do meio ambiente e da preservação e conservação dos recursos
naturais.ÓRGÃOS SECCIONAIS: São os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de
programas, projetos, controle e fiscalização das atividades degradadoras do meio ambiente.

ÓRGÃOS LOCAIS: Órgãos municipais responsáveis pelo controle e fiscalização de atividades


degradadoras.Zoneamento Ambiental

O zoneamento possui conceitos jurídicos e técnicos diferentes, mas um fim específico: delimitar
geograficamente áreas territoriais com o objetivo de estabelecer regimes especiais de uso, gozo e
fruição da propriedade.

Delimitação? Isto mesmo, o proprietário só poderá usar sua terra da maneira que lhe convier, desde
que respeite os interesses coletivos, como a função social e a conservação do meio ambiente. Trata-se
de controle estatal capaz de ordenar o interesse privado e a evolução econômica com os interesses e
direitos ambientais e sociais, possibilitando o alcance do tão almejado crescimento sustentável.

Tal é a importância deste instrumento que diversas áreas do conhecimento humano trabalham com o
conceito de zoneamento. Em 1988, a Constituição Federal ressaltou a proteção ambiental salientando
que o zoneamento ambiental é um instrumento da política nacional do meio ambiente.
Dentro da área econômica e social, o zoneamento é uma intervenção estatal baseada no poder-dever
da união de articular o complexo geoeconômico e social, desenvolvendo as regiões e reduzindo
desigualdades sociais e econômicas. Já na área urbanística, o zoneamento permite ao Estado a
instituição de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e micro-regiões.

Esta é a mágica do poder diretivo e harmonioso contido no zoneamento. Por outro lado, os critérios a
serem utilizados para o zoneamento não podem ser fixados arbitrariamente pela Administração
Pública, uma vez que os princípios inerentes a validade dos atos administrativos devem ser
observados, como a legalidade, a publicidade e o interesse público.

Deve-se ressaltar que, uma vez estabelecidas, toda e qualquer atividade a ser exercida na região
submetida a uma norma de zoneamento passa a ser vinculada, ou seja, não poderão ser admitidas
atividades que contrariem as normas de Zoneamento.

No interior destas diversas facetas, o zoneamento ambiental urbano se tornou em instrumento de


fundamental importância dentro dos planos pilotos das grandes metrópoles. Podemos encontrar
quatro principais divisões conceituais e técnicas do zoneamento ambiental urbano:

Zonas de Uso Industrial (ZUI)

Zona de Uso Estritamente Industrial (ZEI)

Zona de Uso Predominantemente Industrial (ZUPI)

Zona de Uso Diversificado (ZUD)

Além do Zoneamento Ambiental Urbano, ainda encontramos o Zoneamento Costeiro, tutelando e


protegendo a costa brasileira.

Esta proteção especial é embasada na grande extensão territorial da costa nacional, vem como na
enorme diversidade de ecossistemas nela encontrados.

Assim, os recursos naturais, praias, recifes, ilhas, restingas, mangues, sítios ecológicos, monumentos,
baías, grutas e todo o ecossistema localizado dentro dos estimados 7.367 km da costa brasileira são
tutelados pela legislação constitucional e infra-constitucional ambiental pátria.

Vale ressaltar ainda o ZONEAMENTO AGRÍCOLA, estampado na função social da terra.

Por fim, face à necessidade de se promover uma harmoniosa integração entre os interesses
econômicos, ambientais e sociais, o conceito de zoneamento se ampliou ainda mais, surgindo assim o
ZEE – ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO

Este novo conceito começa a ser idealizado pela Secretaria de Coordenação da Amazônia do
Ministério do Meio Ambiente (MMA), para sua futura utilização na Amazônia.

Portanto, o zoneamento ambiental incorporou o conceito de crescimento sustentável, conceito este


crucial para o futuro do desenvolvimento econômico, ambiental e social do País.
O Zoneamento Ambiental, ou Zoneamento Ecológico – Econômico (ZEE), é uma ferramenta da Política
Nacional de Meio Ambiente (inciso II, artigo 9º, Lei n.º 6.938/81) e que tem como principal função o
planejamento do uso do solo baseado nas características de cada localidade e de forma a mapear o potencial
de cada região, definindo os usos possíveis sem comprometer seus recursos naturais e o meio ambiente.

O ZEE é um meio de restringir o uso do solo, uma vez que define quais atividades podem ou não ser
executadas em cada região delimitada. Essa restrição visa garantir o uso adequado e sustentável em longo
prazo, obedecendo a uma análise minuciosa e integrada de todas as variáveis envolvidas na questão da
influência antrópica na região versus a capacidade suporte.
O Decreto n.º 4.297 de 10/07/02 estabelece critérios para o Zoneamento Ecológico – Econômico no Brasil,
regulamentando o disposto na Lei n.º 6.938. Entretanto, antes mesmo de haver este decreto algumas formas
de ZEE já haviam sido feitas pelo país, porém elas eram esparsas e utilizavam metodologias diferentes e,
muitas vezes, conflitantes, dificultando o processo de interpretação.
Segundo o Artigo 2º do Decreto o ZEE é definido como um “… instrumento de organização do território…”
que “… estabelece medidas e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental,
dos recursos hídricos e do solo e a conservação da biodiversidade, garantindo o desenvolvimento sustentável
e a melhoria das condições de vida da população.”.
Segundo o mesmo artigo do decreto em questão o ZEE é obrigatório para a “… implantação de planos,
obras e atividades públicas e privadas…”. Mesmo que haja a necessidade de realocar determinadas
atividades consideradas incompatíveis com os objetivos do ZEE.
Outro decreto, o n.º 99.540 de 28/12/01, estabelece a Comissão Coordenadora do Zoneamento Ecológico –
Econômico do Território Nacional responsável por: planejar, coordenar, acompanhar e avaliar a execução
dos ZEEs apoiando os Estados em seus trabalhos; e o Grupo de Trabalho Permanente para a Execução do
ZEE, responsável por: assessorar a Comissão e os Estados da Federação, executar trabalhos de ZEE e
elaborar metodologias e orientar a elaboração do termo de referência do ZEE.
Em seu Artigo 8º o decreto que estabelece as diretrizes para o ZEE lista alguns pontos importantes do ZEE,
o que nos dá uma boa idéia do que consiste um ZEE. Segundo o referido artigo os “… executores de ZEE
deverão apresentar:” termo de referência detalhado, equipe de coordenação habilitada, produtos gerados por
GIS (Sistemas de Informações Geográficas – exemplo: mapas), projeto específico de mobilização social e
envolvimento de grupos sociais interessados, e outras considerações.
Foi criado também, o Programa de Zoneamento Ecológico – Econômico do Brasil, ou ZEE – Brasil, com o
intuito de proporcionar uma base e apoio técnico-científico e operacional para as iniciativas de ZEE em todo
território nacional.

1Política nacional de recursos hídricos e sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos


Desligar o modo marca-texto
Elaborado em 03.2003.
Silviana Lúcia Henkes
advogada em Santa Catarina, especialista pela UFPEl, mestre e doutoranda pela UFSC e bolsista do CNPQ.

Sumário:1. Introdução; 2. Fundamentos da PNRH; 3. Objetivos e diretrizes da PNRH;


4.Instrumentos da PNRH; 5.Infrações e penalidades da PNRH; 6.Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos; 7 Agência Nacional de Águas. 8. Conclusões

1.INTRODUÇÃO

A Lei 9.433, de 08 de janeiro de 1997, instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos -


PNRH e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos – SNGRH. Nas
palavras de FREITAS (2000, p.66): "a Lei 9.433, configura um marco que reflete uma profunda
mudança valorativa no que se refere aos usos múltiplos da água, às prioridades desses usos, ao
seu valor econômico, à sua finitude e à participação popular na sua gestão".
Antes da edição da referida lei, outras normas legislaram sobre os recursos hídricos, ou seja:
Código Civil de 1916, Código de Águas, constituições brasileiras, resoluções do CONAMA.
Importante salientar que, o Código de Águas, editado em 1934, através do Decreto 24.643, foi
o primeiro diploma legal que criou instrumentos destinados à gestão dos recursos hídricos.
Todavia, os dispositivos legais não foram regulamentados e conseqüentemente os instrumentos
não foram implementados.
A exemplo do Código de Águas a maioria das normas hídricas vigentes restaram inócuas,
principalmente porque a estrutura institucional hídrica quando não inexistente, mostrava-se
ineficaz. Razão pela qual, durante décadas os recursos hídricos foram utilizados
insustentavelmente, ou melhor, sem qualquer planejamento. Tal fato, deu-se principalmente, a
partir da década de 50, época que, o Brasil buscava seu desenvolvimento, através da
industrialização "a qualquer custo".
Deste modo, os litígios envolvendo a qualidade e quantidade dos recursos hídricos não
tardaram aparecer. Foi então que, lentamente, deu-se início a elaboração das políticas estaduais
e nacional de recursos hídricos, bem como do sistema nacional de gerenciamento dos recursos
hídricos.
Foram realizadas várias tentativas visando a formulação de uma política nacional de recursos
hídricos e de um modelo mais adequado de gestão da água, quais sejam: Seminário
Internacional sobre a Gestão de Recursos Hídricos, realizado em Brasília, em março de 1983
(GRANZIERA, 2001); a Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara dos Deputados que de
setembro de 1983 a outubro de 1984, examinou "a utilização dos recursos hídricos no Brasil"
(BOHN, datilografia); os encontros nacionais realizados em 1987, 1989 e 1991 pela Associação
Brasileira de Recursos Hídricos – ABRH nas seguintes cidades, respectivamente: Salvador –
BA, Foz do Iguaçu - PR e Rio de Janeiro – RJ (SETTI, LIMA, CHAVES, PEREIRA, 2001).
O Seminário Internacional sobre a Gestão dos Recursos Hídricos, realizado em Brasília, contou
com a participação de representantes da França, Inglaterra e Alemanha que apresentaram os
sistemas de gestão hídrica dos seus países. Neste encontro foram debatidos diversos temas, tais
como: sistema de informações, gestão integrada de bacias hidrográficas, o princípio poluidor-
pagador e cobrança pelo uso da água. Este evento é considerado um dos grandes marcos da
modernização do sistema brasileiro de recursos hídricos, posto que provocou a evolução das
ações que culminaram nas edições das políticas estaduais e nacional de recursos hídricos, como
também a inserção do artigo 21, inciso XIX, na Constituição Federal de 1988 que determina
competir à União instituir o sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir
critérios de outorga (GRANZIERA, 2001; SETTI, LIMA, CHAVES, PEREIRA, 2001;
LANNA, 1995).
O presente artigo tem por escopo elucidar a política nacional de recursos hídricos e o sistema
nacional de recursos hídricos, haja vista a relevância do tema e o desconhecimento por grande
parte da sociedade brasileira dos instrumentos, objetivos, enfim da estrutura da gestão hídrica
brasileira à luz da Lei 9.433/97.
Foram utilizadas fontes documentais indiretas secundárias, ou seja, livros, revistas, jornais,
artigos científicos e vasta documentação oficial (leis, decretos, resoluções).

2. FUNDAMENTOS DA PNRH

A Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei 9.433/97, rege-se pelos seguintes fundamentos,
ao teor do artigo 1º:
I - a água é um bem de domínio público; II - a água é um recurso natural limitado, dotado de
valor econômico; III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o
consumo humano e a dessedentação de animais; IV - a gestão dos recursos hídricos deve
sempre proporcionar o uso múltiplo das águas; V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial
para a implementação da PNRH e atuação do SNGRH; VI - a gestão dos recursos hídricos deve
ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das
comunidades;
A CF/88 já havia classificado a água e os demais recursos naturais existentes no território
nacional, como BENS DE USO COMUM DO POVO, posto que, essenciais à sadia qualidade
de vida. FIORILLO (apud FREITAS, 2000) esclarece que, o bem de uso comum do povo é o
bem que pode ser desfrutado por toda e qualquer pessoa dentro dos limites constitucionais. Para
PETRELLA (2002, p. 87) "o acesso básico à água deve ser considerado um direito fundamental
político, econômico e social para indivíduos e coletividades, já que a segurança biológica,
econômica e social de todos os seres humanos e de todas as comunidades humanas depende do
gozo desse direito".
Importante salientar que, desde a promulgação da CF/88 inexiste no Brasil a propriedade
privada de recursos naturais. Neste sentido, a Lei 9.433/97, não só ratificou o dispositivo
constitucional como estabeleceu a publicização das águas como um dos seus fundamentos, ao
teor do artigo 1º, I, retrocitado.
MACHADO (2002, p.25) esclarece que:
o domínio público da água não transforma o Poder Público Federal e Estadual em proprietário
da água, mas o torna gestor desse bem, no interesse de todos. O ente público não é proprietário,
senão no sentido formal ( tem poder de autotutela do bem), na substância é um simples gestor
do bem de uso coletivo.
MACHADO (2002, p. 25) ainda arrola algumas conseqüências ante a aplicabilidade do
fundamento de que a água é um bem de uso comum do povo, quais sejam:
o uso da água não pode ser apropriado por uma só pessoa, física ou jurídica, com exclusão
absoluta dos outros usuários em potencial; o uso da água não pode significar a poluição ou
agressão desse bem; o uso da não pode esgotar o próprio bem utilizado;e a concessão ou a
autorização (ou qualquer tipo de outorga) do uso da água deve ser motivada ou fundamentada
pelo gestor público.
Embora seja um recurso natural renovável, a ÁGUA É UM RECURSO FINITO, posto que
não atenderá perpetuamente a ilimitada e crescente necessidade humana. Ou seja, sua renovação
cíclica não acompanha a crescente utilização da água pelo ser humano.
O Brasil possui aproximadamente 12% da água doce disponível, em nível mundial e 53% da
água doce do continente Sul Americano. Mesmo assim, apresenta sérios problemas de baixa
disponibilidade de água em alguns estados, quais sejam: Pernambuco, D. Federal, Paraíba,
Sergipe, Alagoas e Rio Grande do Norte. O quadro apresentado por estes estados não configura
"estresse hídrico" que ocorre quando a disponibilidade de água por habitante ao ano é inferior a
1.000 e superior a 500 m3/habitante/ano ou escassez de água que ocorre quando a
disponibilidade habitante ano é inferior a 500 m3/habitante/ano.
Tendo em vista a escassez em nível mundial a água tornou-se RECURSO NATURAL
DOTADO DE VALOR ECONÔMICO, portanto, passível de cobrança. A valorização
econômica da água deve levar em conta o preço da conservação, da recuperação e da melhor
distribuição desse bem. A cobrança objetiva reconhecer a água como um bem econômico e dar
ao usuário uma indicação de seu real valor, conforme dispõe o artigo 19, I, da Lei 9.433/97.
Embora a utilização da água seja objeto de cobrança, a Lei, isenta de pagamento determinados
usuários, ou seja: pequenos núcleos rurais, derivações, captações e acumulações de água e ainda
lançamento de efluentes considerados insignificantes, de acordo com o artigo 12, § 1º. A
utilização de água para satisfazer as necessidades básicas da vida, ou melhor, dessedentação,
higiene e cozimento dos alimentos também é isenta de pagamento, desde que, a pessoa vá
abastecer-se diretamente à fonte (MACHADO, 2002).
A água é essencial ao ser humano e a toda atividade antrópica quer seja comercial, industrial,
agrícola, recreativa, esportiva. Em decorrência, um dos pilares da PNRH é a GESTÃO DOS
RECURSOS HÍDRICOS VISANDO OS USOS MÚLTIPLOS, ou seja, uso urbano,
industrial, geração de energia elétrica, navegação, lazer e irrigação. Ao contrário da PNRH, o
Código de Águas conferia prioridade à produção energética em detrimento dos demais usos.
É imprescindível que a gestão viabilize os usos múltiplos, haja vista, a complexa e infinita
cadeia de usuários e necessidades. Da mesma forma é imprescindível que a gestão tenha por
fundamento a sustentabilidade, para assegurar `a atual e futuras gerações, a necessária
disponibilidade de água.
Assim sendo, o Poder Público responsável pela concessão de outorgas está proibido de
conceder outorgas que favoreçam um uso em detrimento dos demais. Pois as outorgas
concedidas em oposição ao interesse público estão sujeitas à anulação ou administrativa, pois
ofendem o princípio da gestão visando os usos múltiplos adotado pela PNRH.
Em casos de escassez, o CONSUMO HUMANO E A DESSEDENTAÇÃO DE ANIMAIS
DEVEM SER PRIORIZADOS. Entende-se por consumo humano a satisfação das primeiras
necessidades da vida, tais como: água para beber (dessedentação), preparo de alimentos e
higienização. Presente a escassez, cumpre ao órgão público responsável pela outorga dos
direitos de uso da água, suspender parcial ou totalmente as outorgas que prejudiquem o
consumo humano e a dessedentação de animais, de acordo com o artigo15, V, da Lei 9.433/97.
O Brasil seguiu a tendência mundial adotando a BACIA HIDROGRÁFICA COMO
UNIDADE DE PLANEJAMENTO E IMPLANTAÇÃO DA PNRH. Assim sendo a gestão
terá como âmbito territorial a bacia hidrográfica e não as fronteiras administrativas e políticas
dos entes federados. Entende-se por bacia hidrográfica "uma área com um único exutório
comum para o escoamento de suas águas" (Glossário de Termos Hidrológicos, in
GRANZIEIRA, 2001,p. 37). Hodiernamente, a maioria das políticas públicas ambientais adota
a bacia hidrográfica como unidade territorial de planejamento e implantação.
Para o sucesso de uma política hídrica ou de qualquer política ambiental é imprescindível a
participação popular. Assim sendo, a PNRH adotou como um de seus fundamentos a GESTÃO
DESCENTRALIZADA E PARTICIPATIVA.
A gestão é descentralizada porque realizada em nível de bacia hidrográfica, através dos comitês
de bacia, ou seja, a gestão não é realizada em nível estadual ou federal. É participativa, posto
que a Lei prevê que a gestão não se realizará somente por órgãos públicos, mas também pelos
usuários e organizações civis.
O artigo 39, da Lei 9.433/97, que disciplina a composição dos comitês prescreve que:
Os comitês de bacia hidrográfica são compostos por representantes:
I- da União; II- dos Estados e do Distrito Federal cujos territórios se situem, ainda que
parcialmente, em suas respectivas áreas de atuação; III- dos Municípios situados, no todo ou em
parte, em sua área de atuação; IV- dos usuários das águas de sua área de atuação; V- das
entidades Civis com atuação comprovada na bacia.
Segundo a Resolução CNRH 05/00, em seu artigo 14 e incisos, os usuários dos recursos
hídricos são:
os setores de abastecimento urbano, inclusive diluição dos efluentes urbanos; indústria,
captação e diluição de efluentes industriais; irrigação e uso agropecuário; hidroeletricidade;
hidroviário; pesca, turismo, lazer e outros usos não consuntivos.
Para MACHADO (2001, p. 480) a PNRH, são "usuários os que se enquadram no artigo 12 e
incisos, como também os do §1º desse artigo", ou seja:
Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recursos hídricos:
I – derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo
final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;
II - extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo
produtivo;
III - lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados
ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;
IV – aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;
V - outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um
corpo de água;
1º - Independem de outorga pelo poder Público, conforme definido em regulamento:
I – o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos
populacionais, distribuídos no meio rural;
II – as derivações, captações e lançamentos considerados insignificates;
III – as acumulações de volumes de água consideradas insignificantes;
Constituem organizações civis para os efeitos da lei 9.433/97, ao teor do artigo 47:
I- consórcios e associações intermunicipais de bacias hidrográficas; II- associações regionais,
locais ou setoriais de usuários de recursos hídricos; III- organizações técnicas e de ensino e
pesquisa com interesse na área de recursos hídricos; IV- organizações não-governamentais com
objetivos de defesa de interesses difusos e coletivos da sociedade; V-outras organizações
reconhecidas pelo Conselho Nacional ou pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos.
A Lei 9.433/97, estabelece que, o número dos representantes de cada um dos setores
supramencionados, bem como os critérios para sua indicação serão estabelecidos nos
regimentos dos respectivos comitês. A Resolução CNRH 05/00, que disciplina a formação e
funcionamento dos comitês, leciona em seu artigo 8º e incisos que:
Deverá constar nos regimentos dos Comitês de Bacia Hidrográfica, o seguinte:
I – número de votos dos representantes dos poderes executivos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, obedecido o limite de quarenta por cento do total de votos;
II – número de representantes de entidades civis, proporcional à população residente no
território de cada Estado e do Distrito Federal, com pelo menos, vinte por cento do total de
votos;
III – número de representantes dos usuários dos recursos hídricos, cujos usos dependem de
outorga, obedecido quarenta por cento do total de votos;
Ou seja, os comitês serão formados por 40% de representantes da União, Estados e Distrito
Federal e Municípios; 20% de representantes das entidades civis e 40% de representantes dos
usuários.
Os comitês são órgãos colegiados com atribuições normativas, deliberativas e consultivas a
serem exercidas na bacia hidrográfica de sua jurisdição. As principais atribuições dos comitês,
conforme o artigo 37, da Lei 9.433/97, e artigo 7º, da Resolução CNRH 05/00, são:
promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a atuação da
entidades intervenientes; arbitrar em primeira instância os conflitos relacionados aos recursos
hídricos, aprovar e acompanhar a execução do plano de recursos hídricos da bacia, estabelecer
mecanismos de cobrança e sugerir os valores a serem cobrados, dentre outras.
O termo jurisdição significa área de atuação e segundo a Lei 9.433/97, em seu artigo 37, e
artigo 1º, §1º, da Resolução CNRH 05/00, pode ser:
I) a totalidade de uma bacia hidrográfica; II) uma sub-bacia hidrográfica formada por um
afluente do rio principal ou por um afluente de um afluente do rio principal ou ainda, por um
grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas.
Os comitês de bacia não têm personalidade jurídica. DINIZ (1995, p.85) ministra que
"personalidade jurídica é a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações", ou
seja, os comitês não podem adquirir direitos e contrair obrigações. Assim sendo, as legislações
hídricas criaram a figura das Agências de Água ou também denominadas de Agências de Bacia.
Compete aos comitês a tarefa normativa – legislativa, enquanto que as agências de águas
exercem a função executiva que consiste em executar a cobrança pelo uso dos recursos hídricos
e fornecer apoio técnico, financeiro e administrativo. De acordo com a Lei 9.433/97, artigo 44,
suas principais atribuições são:
manter o balanço atualizado da disponibilidade hídrica e do cadastro de usuários, efetuar a
cobrança pelo uso dos recursos hídricos, analisar e emitir pareceres sobre os projetos e obras a
serem financiados com recursos gerados pela cobrança pelo uso de Recursos Hídricos e
encaminhá-los à instituição financeira responsável pela administração destes recursos,
acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados, elaborar o plano de recursos
hídricos e a proposta orçamentária submetendo-os a apreciação do comitê, propor o
enquadramento dos corpos de água nas classes de uso.
A Lei 9.433/97, condicionou a existência das Agências de Água a dois fatores, quais sejam: I)
existência prévia de um comitê; II) viabilidade financeira assegurada pela cobrança. Não
obstante, nada menciona sobre o procedimento de criação das agências, dispondo somente que,
no prazo de 120 dias, após a vigência da PNRH, o Poder Executivo encaminhará ao Congresso
Nacional projeto de lei dispondo sobre a referida criação, ao teor do artigo 53, PNRH. O
referido projeto encontra-se tramitando pelo Congresso Nacional.
A inexistência no sistema normativo brasileiro, de norma que estabeleça o procedimento de
criação das agências de água, não foi óbice para que o Comitê do Itajaí, criasse sua Agência de
Água. Mas para tanto, realizou uma necessitou uma parceria com a German Water (organização
alemã que congrega 72 empresas e associações alemães atuantes no gerenciamento hídrico) e
através desta, obteve a cooperação da Agência das Bacias do rio Lippe e do rio Emscher, através
do consultor BERT BOSSELER. Assim sendo, em 31/10/2001, foi criada a primeira e única
agência de água do Brasil, até o presente momento.

3. OBJETIVOS E DIRETRIZES DA PNRH

A PNRH tem por objetivo promover a utilização sustentável dos recursos hídricos e a
prevenção contra os eventos hidrológicos nocivos, assim dispondo:
Artigo 2º - São objetivos da PNRH:
I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de
qualidade adequados aos respectivos usos; II- a utilização racional e integrada dos recursos
hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável; III- a
prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do
uso inadequado dos recursos naturais.
Almejando a SUSTENTABILIDADE HÍDRICA, a referida Lei, ao teor do artigo 2º, incisos I
e II, tornou imprescindível a obtenção de outorga. A outorga somente será concedida pelo poder
público aos usuários se a utilização almejada for compatível com o plano da bacia hidrográfica.
Portanto, a outorga é um importante instrumento de planejamento, monitoramento e
fiscalização dos recursos hídricos.
Outro objetivo da PNRH é a PREVENÇÃO E DEFESA CONTRA OS EVENTOS
HIDROLÓGICOS NOCIVOS, tais como: inundações, enchentes e desmoronamentos. Grande
parte destes eventos são previsíveis e evitáveis, pois são decorrentes da ação humana: ocupação
desordenada do solo, poluição e devastação da mata ciliar.
A PNRH em seu artigo 3º, traça as diretrizes gerais de ação da gestão hídrica que têm por
finalidade INTEGRAR E ARTICULAR A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS COM
A GESTÃO DOS DEMAIS RECURSOS NATURAIS E DO MEIO AMBIENTE.
Em linhas gerais, as diretrizes estabelecem que a gestão hídrica deve estar integrada e articulada
com a gestão ambiental, gestão do uso do solo, gestão dos sistemas estuarinos e zonas costeiras
e também com os planejamentos estadual, regional, nacional e dos setores usuários.
Estabelecendo ainda, que a gestão hídrica deve ser realizada sem dissociação dos aspectos
quantitativos e qualitativos, haja vista que o uso dos recursos hídricos afeta ambos os padrões.

4.INSTRUMENTOS DA PNRH

Os instrumentos das PNRH, ao teor do artigo 5º, da Lei 9.433/97, são : os planos de recursos
hídricos (planos de bacia hidrográfica, planos estaduais de recursos hídricos e o plano nacional
de recursos hídricos), o enquadramento dos corpos de água em classes segundo os usos
preponderantes, a outorga dos direitos de uso dos recursos hídricos, a cobrança pelo uso dos
recursos hídricos e o sistema de informações sobre recursos hídricos.
O primeiro instrumento é o PLANO DE RECURSOS HÍDRICOS e segundo a Lei 9.433/97,
em seu artigo 6º, "os planos de recursos hídricos são planos diretores que visam fundamentar e
orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos
recursos hídricos".
Os planos têm por função orientar, articular, controlar e racionalizar a utilização dos recursos
hídricos. Assim sendo, também podemos defini-los como, instrumentos preventivos e
conciliadores dos conflitos entre os setores usuários e usuários.
A confecção do plano é atribuição da agência de água e sua aprovação compete ao comitê de
bacia. É de louvável valor que antes dos planos serem apreciados e submetidos a votação pelos
Comitês de bacia, os mesmos fossem amplamente publicados para que a comunidade pudesse
tomar ciência de seu conteúdo e manifestar suas intenções e assim, de uma forma indireta
estaria comprometendo-se com o seu cumprimento. Poder-se-ia publicar os planos na imprensa
local: jornais, folhetins, informes municipais ou ainda, através da realização de audiências
públicas. O ideal é que assim funcionasse e se isto ocorresse poderíamos dizer que os planos
seriam resultado de um acordo social representando o desejo da população, dos usuários e do
poder público acerca do futuro das águas e do meio ambiente.
O artigo 7º, da Lei 9.433/97, dispõe sobre o conteúdo mínimo dos planos. Importante ressaltar
que, o conteúdo dos planos é de ordem pública e assim sendo este "conteúdo" é indispensável.
Destarte, todos os planos de recursos hídricos deverão obrigatoriamente conter o prescrito nos
incisos que seguem:
Os planos de recursos hídricos são planos de longo prazo, com horizonte de planejamento
compatível com o período de implantação de seus programas e projetos e terão o seguinte
conteúdo mínimo: I – diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos; II - análise de
alternativas de crescimento demográfico, de evolução das atividades produtivas e de
modificações dos padrões de ocupação do solo; III - balanço entre disponibilidades e demandas
futuras dos recursos hídricos, em quantidade e qualidade, com identificação de conflitos
potenciais; IV – metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da
qualidade dos recursos hídricos disponíveis; V - medidas a serem tomadas, programas a serem
desenvolvidos e projetos a serem implantados, para o atendimento das metas previstas; VI -
vetado ;VII – vetado; VIII - prioridade para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos; IX
– diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos; X –propostas para à
criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos;
Os planos de recursos hídricos serão elaborados por bacia, por estado e para o país. No entanto,
é fundamental o plano de bacia, haja vista que a partir deste será elaborado o estadual, e da
articulação dos planos estaduais será criado o plano nacional.
O Plano Estadual não irá planejar somente para os limites políticos do Estado, mas para a
realidade de todas as suas bacias e sub-bacias hidrográficas, levando em conta suas relações
hídricas com outros estados brasileiros e até com os países vizinhos, se for o caso. Deste plano
caminha-se para o Plano Nacional de Recursos Hídricos. Este, além das necessidades hídricas
nacionais das presentes e futuras gerações, irá ponderar os dados e as necessidades
transnacionais, em relação aos rios transfronteiriços.
MACHADO (2002, p.46) declara que:
haverá inicialmente, dificuldades para a implementação dessa metodologia descentralizadora,
porque temos um passado de centralização e de hegemonia de determinados pólos regionais.
Contudo, a partir do gerenciamento por bacia hidrográfica, sem isolacionismos, do ponto de
vista nacional e da comunidade do MERCOSUL e da comunidade Amazônica, vantagens
ambientais, na perspectiva do desenvolvimento sustentável, hão de ser alcançadas".
O próximo instrumento a ser analisado é o ENQUADRAMENTO DOS CORPOS DE ÁGUA
EM CLASSES SEGUNDO OS USOS PREPONDERANTES que tem como norma
disciplinadora a Resolução CNRH 12/2000. Esta resolução em seu artigo 1º, inciso I, define
enquadramento como "o estabelecimento do nível de qualidade(classe) a ser alcançado e/ou
mantido em um dado segmento do corpo de água ao longo do tempo". Ou seja, enquadrar um
corpo d’água não significa identificar sua classe atual e sim propor que, o corpo adquira ou
mantenha um nível de qualidade (classe) em determinado período, de acordo com os usos a que
se destina.
Os objetivos principais do enquadramento são: "assegurar a qualidade da água compatível com
os usos mais exigentes a que se destinam e diminuir os custos do combate à poluição mediante
adoção de ações preventivas permanentes", de acordo com o artigo 9º, da Lei 9.433/97.
O procedimento para a realização do enquadramento deverá seguir 4 etapas, conforme
estabelece a Resolução CNRH 12/2000, em seu artigo 4º, quais sejam:
1ª - diagnóstico do uso e da ocupação do solo e dos recursos hídricos na bacia hidrográfica; 2ª -
prognóstico do uso e da ocupação do solo e dos recursos hídricos na bacia hidrográfica; 3ª -
elaboração da proposta de enquadramento; e 4ª - aprovação da proposta de enquadramento e
respectivos atos jurídicos;
A classes de uso das águas brasileiras está disciplinado pela Resolução do CONAMA 20, de
18/06/1986, que dispõe sobre a classificação e enquadramento das águas. De acordo com a
referida resolução classificar é "estabelecer níveis de qualidade para a água e fixar os usos
compatíveis com tais níveis" e enquadrar é "estabelecer o nível de qualidade apresentado por
um segmento de corpo d’água ao longo do tempo".
Assim sendo, a água pertencerá a determinada classe conforme o uso a que for destinada. Já, o
enquadramento, baseia-se não no seu estado atual, mas no nível de qualidade que a água deveria
apresentar para atender às necessidades a que é destinada. A finalidade destes institutos é
assegurar a qualidade das águas compatível com os usos a que forem destinadas.
A Resolução do CONAMA 20/86 e também a Resolução CNRH 12, classificam as águas
doces, salobras e salinas em nove classes, de acordo com os usos preponderantes. As águas
doces estão classificadas nas classes: especial, 1, 2, 3 e 4. As águas salinas pertencem às classes
5 e 6 e as salobras às classes 7 e 8.
O artigo 2º, alínea "e", da Resolução CONAMA 20/86 lembra que a diferença entre as águas
doces, salobras e salinas é o índice de salinidade apresentado, ou seja, "as águas doces são as
que apresentam salinidade igual ou menor que 0,5%, as salobras variam de 0,5 % a 30% e nas
salinas o índice é superior a 30%". Para melhor compreensão analise o quadro abaixo.
Classes de uso preponderante das águas brasileiras, de acordo com a Resolução
CONAMA 20/86
USOS PREPONDERANTESTIPO DE ÁGUAdocessalinasalobraE12345678ABASTECIMENTO
DOMÉSTICOsem prévia ou com simples desinfecção após tratamento simplificado após
tratamento convencional PRESERVAÇÃO DO EQUILÍBRIO NATURAL DAS COMUNIDADES
AQUÁTICAS PROTEÇÃO ÁS COMUNIDADES AQUÁTICAS HARMONIA
PAISAGÍSTICA RECREAÇÃOde contato primário (natação mergulho) de contato
secundário IRRIGAÇÃOde hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvem rentes
ao solo e que sejam ingerid

2.2as cruas sem remoção de oelículas de hortaliças e plantas frutíferasde culturas arbóreas,
cerealíferas e forrageiras CRIAÇÃO NATURAL E/OU INTENSIVA (AQUICULTURA)
DE ESPÉCIES DESTINADA À ALIMENTAÇÃO
HUMANA NAVEGAÇÃO Comercial USOS MENOS EXIGENTES Fonte:
LANNA (1995, p.130)

A competência para propor o enquadramento aos comitês de bacia é das agências de água. Após
a aprovação dos comitês, estes encaminharão a proposta para referendum do Conselho Estadual
ou Federal de recursos hídricos, conforme o domínio do respectivo curso ou corpo d’água.
Bom lembrar que, são rios de domínio da União, segundo o artigo 20, I e II, da CF/88:
os lagos, rios, quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de
um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou deles
provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais.
Aos estados, pertencem as águas que não pertencerem à União por exclusão além das "as águas
superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na
forma da lei, as decorrentes de obras da União" conforme prescreve o artigo 26, I, da CF/88
(GRANZIEIRA, 2001).
Aos referidos conselhos compete concordar com a atual classificação das águas ou com as
proposições de novos níveis de qualidade a serem alcançados. Portanto, não lhes compete
discordar do enquadramento proposto ou efetuar uma nova classificação (GRANZIEIRA, 2001;
MACHADO, 2002).
As alternativas de enquadramento e de seus benefícios sócio-econômicos e ambientais, bem
como, os custos e prazos, além de serem divulgados amplamente, serão apresentados em
audiências públicas, conforme dispõe o artigo 8º, § 2º, da Resolução CNRH 12/2000.
Após, a aprovação e adoção do enquadramento, compete aos órgãos públicos gestores dos
recursos hídricos fiscalizar, monitorar e controlar os corpos d’água para verificar se as metas
estão sendo cumpridas. A cada dois anos estes órgãos deverão encaminhar aos Conselhos
Estadual ou Federal relatórios indicando os corpos que ainda não atingiram as metas
estabelecidas, com as respectivas justificativas. Caberá então a estes conselhos determinar as
providências e intervenções a fim de que as metas sejam satisfeitas.
O terceiro instrumento a ser analisado é a OUTORGA DE DIREITOS DO USO DA ÁGUA
que tem como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e
garantir o direito de acesso à água, conforme dispõe o artigo 11, da Lei 9.433/97.
A outorga é o ato administrativo pelo qual a autoridade outorgante concede ao outorgado o
direito de uso dos recursos hídricos, por prazo determinado e de acordo com os termos e
condições preestabelecidas. Assim sendo, a outorga não representa alienação (venda) das águas,
posto que são inalienáveis.
Segundo KELMAM ( apud MACHADO, 2001, p.439) a outorga visa:
dar garantia quanto `a disponibilidade de água, assumida como insumo básico de processo
produtivo. Salienta também que a outorga tem valor econômico para quem a recebe, na medida
em que oferece garantia de acesso a um bem escasso.
Para GRANZIEIRA (2001, p. 181):
à medida que, o recurso hídrico deixa de ser entendido como um bem infinito, e passa a ser
considerado escasso e de valor econômico, o controle sob seu uso assume contornos de garantia
de sobrevivência. E é justamente neste quadro que vislumbro, hoje, a outorga de direito de uso
da água, assim como os demais instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos.
Considerando que, a gestão hídrica deve proporcionar os usos múltiplos e que a disponibilidade
de água é insuficiente para atender a demanda, torna-se imprescindível a adoção da outorga.
Esta constitui-se num eficiente instrumento de controle, fiscalização e também de promoção da
sustentabilidade das águas. Segundo as diretrizes que fundamentam a outorga, somente a
obterão os usos que estiverem de acordo com as prioridades estabelecidas nos planos de uso de
recursos hídricos que por sua vez foram elaborados com a participação popular.
De acordo com o artigo 12, da Lei 9.433/97 estão sujeitos à outorga os seguintes usos:
I – derivação e captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo final,
inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo; II - extração de água de
aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo; III - lançamento em
corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de
sua diluição, transporte ou disposição final; IV - aproveitamento de potenciais hidrelétricos; V –
outros usos que alterem o regime, a quantidade e qualidade das água existente em um corpo de
água.
Conforme visto, estão sujeitos à outorga não somente os usos decorrentes da extração e
derivação da água, mas também os decorrentes da utilização dos cursos e corpos d’água como
assimiladores de efluentes. A citada lei, em seu artigo 12, §1º, também enumera os usos que não
dependem de outorga, quais sejam: os que se destinam ao abastecimento de pequenos núcleos
rurais, as derivações, captações e acumulações de água, como também os lançamentos de
efluentes considerados insignificantes.
A Lei 9.984/00, em seus artigos 6º e 7º, criou a outorga preventiva que tem a finalidade de
declarar a disponibilidade de água para os usos requeridos, ou seja, reservar determinada vazão
e assim estabelecer uma relação preferencial, ante os que não a obtiveram. Importante consignar
que, a outorga preventiva não confere o direito de uso ao tempo da concessão, como também
não assegura a concessão da outorga de direito de uso. O requerente tem o prazo máximo de até
3 anos para utilizar da outorga preventiva recebida, conforme dispõe o artigo 6º, §2º, da Lei
9.984/00.
Importante salientar que, a outorga é um ato administrativo precário, ou seja, pode ser suspensa
total ou parcialmente, em definitivo ou por prazo determinado, nas situações mencionadas na
legislação, tais como: em casos de calamidade pública, para reversão e prevenção de danos
ambientais ou ainda, em caso de não cumprimento dos termos da outorga. A suspensão da
outorga não gera direito à indenização aos outorgados e seu prazo máximo de concessão de
outorga é de 35 anos, porém passível de renovação.
Antes do órgão público responsável conceder a outorga deverá averiguar se foi ou não exigido o
estudo de impacto ambiental. Se o estudo não foi exigido, mas é exigível a outorga não deverá
ser concedida até que o mesmo seja realizado (MACHADO, 2002).
Outro instrumento a ser analisado, talvez o mais importante, é a COBRANÇA PELO USO DA
ÁGUA. Primeiramente, é necessário deixar claro que a cobrança não é uma tarifa, imposto ou
taxa, é definida como um preço público, ou seja, é uma retribuição que o usuário faz à
sociedade por utilizar privativamente um bem que é de uso comum (GRANZIEIRA, 2001).
Atualmente, são pagos os serviços de tratamento e captação da água e não a utilização do bem
ambiental, água.
A cobrança pelo uso da água, bem como dos demais recursos naturais é a forma adotada para
internalização dos custos da proteção do meio ambiente, levando-se em consideração que, em
princípio o poluidor deverá assumir o custo da sua poluição, tendo em vista o interesse público.
Caso contrário, teremos a internalização dos lucros e externalização dos custos, usual na
sociedade contemporânea.
Segundo o artigo 19, da PNRH, a cobrança objetiva:
I - reconhecer a água como um bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real
valor; II- incentivar a racionalização do uso da água; III- obter recursos financeiros para o
financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos.
Para a cobrança são imprescindíveis dois requisitos, quais sejam: outorga e a utilização da água.
Deste modo, todos os usos passíveis de outorga são conseqüentemente passíveis de cobrança. A
cobrança será realizada pelas agências de água que são os órgãos executivos das bacias
hidrográficas, conforme já mencionado.
Estabelece o artigo 21, da Lei 9.433/97 que, na fixação dos valores a serem cobrados pelo uso
dos recursos hídricos devem ser observados, dentre outros:
I- nas derivações, captações e extrações de água, o volume retirado e seu regime de variação;II-
nos lançamentos de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, o volume lançado e seu
regime de variação e as características físico-químicas, biológicas e de toxidade do afluente.
Os valores arrecadados com a cobrança serão aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica
onde foram gerados e segundo a lei serão utilizados no financiamento de estudos, programas e
obras previstas nos planos de bacia. Importante relembrar que, a cobrança vem prevista pela
legislação brasileira, desde a década de 30, com o Código de Águas, mas somente a partir da
vigência das atuais políticas estaduais e nacional é que a mesma é alvo de ações concretas
visando sua implementação.
ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL(EIA) /RELATÓRIO DE IMPACTO
AMBIENTAL (RIMA)
O QUE É EIA/RIMA
É um dos instrumentos da política Nacional do Meio Ambiente e foi
instituído pela RESOLUÇÃO CONAMA N.º 001/86, de 23/01/1986.
Atividades utilizadoras de Recursos Ambientais consideradas de significativo
potencial de degradação ou poluição dependerão do Estudo Prévio de Impacto Ambiental
(EIA) e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para seu licenciamento
ambiental.
Neste caso o licenciamento ambiental apresenta uma série de procedimentos
específicos, inclusive realização de audiência pública, e envolve diversos segmentos da
população interessada ou afetada pelo empreendimento.
O EIA e RIMA ficam à disposição do público que se interessar, na Biblioteca da
FEPAM, respeitada a matéria versante sobre sigilo industrial, conforme estabelecido no
CÓDIGO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE.
O EIA/RIMA deverá ser apresentado de acordo com o Termo de Referência , que
constitui um documento de orientação quanto aos procedimentos a serem seguidos na
elaboração do mesmo, previamente acordado entre a FEPAM e a equipe contratada pelo
empreendedor para a elaboração deste.
ATIVIDADES SUJEITAS A LICENCIAMENTO COM APRESENTAÇÃO DE
EIA/RIMA
Depende de elaboração de EIA/RIMA o licenciamento de atividades modificadoras
do meio ambiente, tais como:
- estradas de rodagem com 2 (duas) ou mais faixas de rolamento;
- ferrovias;
- portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;
- aeroportos, conforme definidos pelo inciso I, artigo 48, do Decreto-Lei n.º 32,
de 18 de novembro de 1966;
- oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos
sanitários;
- linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230 KW;
- obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: abertura
de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d’água,
abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques;
- extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);
- extração de minério, inclusive os da classe II, definidos no CÓDIGO DE
MINERAÇÃO;
- aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou
perigosos;
- usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária,
acima de 10 MW;
EIA/RIMA
Versão abril/2002
- complexos e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos,
siderúrgicos, destilarias e álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos);
- distritos industriais e Zonas Estritamente Industriais - ZEI;
- exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 há (cem
hectares) ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de
importância do ponto de vista ambiental;
- projetos urbanísticos, acima de 100 há (cem hectares) ou em áreas consideradas
de relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais
competentes;
- qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a 10t
(dez toneladas) por dias.
Obs.: Poderá ser exigida a apresentação de EIA/RIMA de outros ramos além dos
acima especificados, a critério do órgão ambiental
No caso de aterros de resíduos sólidos urbanos e industriais, aplicam-se as
determinações das PORTARIA N.º 10/96-SSMA e PORTARIA N.º 12/95-SSMA.
De acordo com o CÓDIGO ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE, o licenciamento
para a construção, instalação, ampliação, alteração e operação de empreendimentos ou
atividades utilizadoras de recursos ambientais considerados de significativo potencial de
degradação ou poluição, dependerá da apresentação do Estudo Prévio de Impacto
Ambiental (EIA) e do respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA).
Ressalta-se ainda que, de acordo com o CÓDIGO FLORESTAL ESTADUAL, é
proibida a supressão parcial ou total das matas ciliares e das vegetações de preservação
permanente definida em lei e reserva florestal do artigo 9º desta Lei, salvo quando
necessário à execução de obras, planos ou projetos de utilidade pública ou interesse social,
mediante a elaboração prévia do EIA-RIMA e licenciamento do órgão competente e Lei
própria.
ORIENTAÇÕES GERAIS
O licenciamento tem seu inicio na FEPAM com a apresentação da documentação
constante no item “DOCUMENTAÇÃO NECESSARIA” das “INSTRUÇÕES PARA
SOLICITAÇÃO DE DOCUMENTOS”, ressaltando-se que após a análise desta
documentação é que a FEPAM se manifestará pela necessidade ou não da apresentação do
referido estudo.
Após ter sido comprovado se tratar de empreendimento sujeito a apresentação de
EIA/RIMA, a FEPAM constitui uma equipe técnica multidisciplinar para análise de cada
Estudo/Relatório apresentado à instituição. Esta equipe fixa as informações a constar no
Termo de Referência.
De acordo com a legislação em vigor:
EIA/RIMA
Versão abril/2002
- depois de notificado pela FEPAM de que se trata de licenciamento com
apresentação de EIA/RIMA, o empreendedor deverá publicar a solicitação de
licenciamento, conforme a RESOLUÇÃO CONAMA Nº 006/86, e,
oportunamente apresentar comprovação da publicação;
- o Termo de Referência para a apresentação do EIA/RIMA deverá estar de
acordo com as orientações da equipe técnica multidisciplinar;
- A FEPAM colocará à disposição dos interessados o RIMA, em sua Biblioteca e
determinará prazo, de no mínimo 45 (quarenta e cinco) dias para recebimento de
comentários a serem feitos;
- A FEPAM convocará audiência pública, através de edital assinado por seu
Diretor-Presidente, mediante petição apresentada por no mínimo 1 (uma)
entidade legalmente constituída, governamental ou não, por 50 (cinqüenta)
pessoas ou pelo ministério público, conforme estabelecido no CÓDIGO
ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE, sendo que a divulgação da convocação se
fará com uma antecedência mínima de 30 (trinta) dias.
- A FEPAM poderá deliberar pela convocação de audiência pública, mediante
apreciação da equipe multidisciplinar, mesmo sem haver a solicitação popular
para a realização da mesma, com vistas à obtenção de subsídios para emissão do
parecer técnico final.
- A FEPAM, durante a análise técnica, poderá solicitar complementações do
EIA/RIMA.
- Após a análise técnica a FEPAM se manifestará aprovando ou invalidando o
EIA/RIMA, através da emissão do documento correspondente, licenciando ou
indeferindo a solicitação de licenciamento ambiental.
- O recebimento da licença também deverá ser tornado público pelo
empreendedor.

Quadro1 –
Terminologias utilizadas na classificação dos mapas em cartografia sistemática e temática
AutorCartografia sistemáticaCartografia temáticaRaisz (1969)Mapas geraisMapas especiaisRobinson
apud Barbosa (1967)Mapas topográficosMapas de compilaçãoBarbosa (1967)Mapas topográficosMapas
especiais e Mapas temáticosDeetz (1948)Mapas topográficos oficiaisMapas de fins especiaisSanchez (1973 e
1981)Mapas de base ou de referência geralMapas temáticosSimielli 1986Mapas topográficosMapas
temáticosRosa (1994)Mapas de baseMapas temáticosOrganização: Rosely Sampaio Archela, 1999

O campo da cartografia sistemática é bem definido pois por razões históricas, constitui-se segundo Rosa
(1996), na ciência responsável pela representação genérica da superfície tridimensional da Terra no plano.
Utiliza convenções e escalas padrão, contemplando à execução dos mapeamentos básicos que buscam o
equilíbrio da representação altimétrica e planimétrica dos acidentes naturais e culturais, visando a melhor
percepção das feições gerais da superfície representada. Sua preocupação central está na localização precisa
dos fatos, na implantação e manutenção das redes de apoio geodésico, na execução dos recobrimentos
aerofotogramétricos e na elaboração e atualização dos mapeamentos básicos. Seus mapas podem ser
classificados nas três categorias a seguir:
1) Escala grande - mapas urbanos em 1:500, 1:1.000, 1:2.000 e 1:5.000;
2) Escala média - mapas topográficos em 1: 25.000, 1:50.000, 1:100.000 e 1:250.000;
3) Escala pequena - mapas geográficos em escalas 1:500.000 e menores.
De acordo com as normas da legislação cartográfica em vigor, estabelecidos no decreto-lei n.º 243/67, que
regulamenta as Diretrizes e Bases da Cartografia e da Política Cartográfica Nacional, a cartografia
sistemática tem por fim a representação do espaço territorial brasileiro por meio de cartas, elaboradas
seletiva e progressivamente, consoante prioridades conjunturais, segundo os padrões cartográficos
terrestre, náutico e aeronáutico.
A discussão sobre a definição e o campo da cartografia temática é relativamente longa e teve início por volta
dos anos trinta. Quanto à terminologia, o assunto é polêmico, pois o que é tema para um determinado campo
do conhecimento científico, pode não ser para outro. Além disso, os procedimentos de levantamento,
redação e comunicação também são diferentes, bem como a formação e especialização dos cartógrafos.
A cartografia temática aborda a Cartografia como um instrumento de expressão dos resultados adquiridos
pela Geografia e pelas demais ciências que têm necessidade de se expressar na forma gráfica. Rosa (1996)
ressalta que a cartografia temática tem como preocupação básica a elaboração e o uso dos mapeamentos
temáticos, abrangendo a coleta, a análise, a interpretação e a representação das informações sobre uma carta
base. Importa-se mais com o conteúdo que vai ser representado no mapa do que com a precisão dos
contornos ou da rede de paralelos e meridianos.
Os temas analíticos podem ser obtidos por correlação entre vários temas elementares ou entre séries
estatísticas. São representados a partir da utilização da técnica mais conveniente, objetivando a melhor
visualização, incluindo, além de mapas, outras formas de representação como gráficos, blocos diagramas e
croquis.
Sobre a caracterização destes dois campos da Cartografia contemporânea, podemos destacar outros autores
como Raisz (1969) por exemplo, que classificou os mapas em gerais e especiais. Os primeiros seriam
exclusivamente de representação da superfície da Terra, com os acidentes geográficos, planimétricos e
topográficos, independentemente da escala.
Os mapas especiais seriam os políticos, urbanos, de comunicações científicas, econômicos, artísticos, de
propaganda, de navegação aérea e marítima e os mapas cadastrais. Robinson apud Barbosa (1967),
subdividiu a Cartografia em dois ramos: a que elabora mapas topográficos de grandes escalas, a partir de
levantamentos topográficos e a que elabora os mapas de compilação derivados dos mapas topográficos.
Nesta última categoria incluiu os mapas de climas, agrícolas, circulação, população, tráfego, políticos e
outros. Porém, tanto Raisz quanto Robinson classificaram, no primeiro grupo, os mapas que representam
somente os aspectos concretos da paisagem e, no segundo grupo, os mapas que representam as demais
informações, ou seja, as temáticas.
Segundo Barbosa (1967), os mapas com os mais variados temas são chamados de mapas temáticos. Ele
sugere até uma nova divisão dos campos da cartografia temática, devido às várias terminologias e
classificações dos produtos. Comenta que os mapas de clima, cartas náuticas e cartas oceanográficas, mapas
turísticos, de comunicações, geológicos, de cobertura vegetal, morfológicos, econômicos, entre outros, são
chamados de mapas especiais ou temáticos. Mas, salienta que raramente é encontrada a expressão temática
para as cartas aeronáuticas, de previsão do tempo, náuticas e turísticas. Para estas, considerou que a
terminologia mais adequada, seria mesmo a de mapas especiais.
Mesmo considerando essa diferença básica entre os dois campos da Cartografia, Sanchez (1981) afirmou ser
impossível estabelecer uma linha divisória entre a cartografia sistemática e a temática pois, em muitos casos,
as diferenças são sutis. Existem áreas de interpretações nas quais a superposição de mapas temáticos e
mapas de base são inevitáveis.
Na tentativa de caracterizar a cartografia temática diferenciando-a da sistemática, apresentamos o quadro 2,
baseado em Sanchez (1981).
Quadro 2 -
Principais diferenças entre cartografia sistemática e cartografia temática
Cartografia sistemáticaCartografia temáticaMapas topográficos com a representação do terrenoMapas
temáticos que representam qualquer tema Atendem a uma ampla diversidade de propósitosAtendem usuários
específicosPodem ser utilizados por muito tempo Geralmente os dados são superados com rapidezNão
requerem conhecimento específico para sua compreensão. Leitura simplesRequerem conhecimento
específico para sua compreensão. Interpretação complexa.Elaborados por pessoas especializadas em
cartografia Geralmente elaborados por pessoas não especializadas em cartografia.Utilizam cores de acordo
com a convenção estabelecida para mapas topográficosUtiliza cores de acordo com as relações entre os
dados que apresentaUso generalizado de palavras e números para mostrar os fatosUso de símbolos gráficos,
especialmente planejados para facilitar a compreensão de diferenças quantitativas e qualitativasSempre
servem de base para outras representações.Raramente servem de base para outras representações.Fonte:
Baseado em Sanchez, 1981

As informações desse quadro, evidenciam que a fronteira entre cartografia temática e sistemática não é tão
bem definida. Dependendo da situação, um mapa pode ser classificado como temático ou sistemático.
Entretanto, Joly (1990) elucida esta questão ao afirmar que se convencionou internacionalmente, adotar o
termo cartografia temática para designar todos os mapas que tratam de outro assunto além da simples
representação do terreno.
Rosa (1996) ressalta que em qualquer um dos campos da Cartografia, a coleta, o registro, a análise e a
edição dos dados em formato gráfico são operações tradicionais e rotineiras. Embora haja uma estreita
dependência da cartografia temática em relação à sistemática - uma vez que esta fornece a base para todos os
tipos de mapas, há uma grande diferença quanto aos métodos utilizados, que sofreram alterações profundas
com o advento das novas tecnologias.
Atualmente, mesmo considerando que a cartografia temática está muito mais ligada à Geografia do que a
cartografia sistemática, e que não é exclusiva da Geografia, ela é reconhecida como a Cartografia da
Geografia, como escreveu Lacoste (1988). Ele deixou claro que não é possível relacionar à Geografia a
elaboração de cada um dos diferentes tipos de mapas resultantes de pesquisas realizadas por geólogos,
botânicos e climatólogos entre outros. Por outro lado, ressaltou que se considerarmos conjuntamente os
diferentes tipos de mapas temáticos que representam um mesmo território, parece legítimo, considerá-los
como objetos geográficos.
Neste trabalho, Lacoste levanta a seguinte questão sobre os mapas:
· Por que é necessário procurar considerar conjuntamente as representações espaciais
estabelecidas pelas diferentes disciplinas científicas?
E responde, enfatizando a relação da Geografia com a Cartografia :
· Porque a ação, seja ela do tipo econômico ou militar por exemplo, não se aplica, na
realidade, sobre um espaço abstrato cuja diferenciação resulta da análise de uma só
disciplina, mas sobre um território concreto cuja diversidade e complexidade só podem
ser extraídas por uma visão global.

Você também pode gostar