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- O Pai. Segundo a tradição perene da de que ela anunciasse o reino, contin fiin
igreja, a eucologia sempre se dirige ao Pai hoje da igreja, que é a celebração e na ua no
invocando-o com termos que têm suas raí- própria igreja se realiza como comunidi~ª
zes no uso veterotestamentário e neotesta- culto. Pelo poder do Espírito realizou- e e
mentário. Deus é o omnipotens, e o miseri- primeira vinda de Cristo; pelo seu poder.~ª
cors, o Domine Deus noster. A realidade divi- liza-se o mistério da celebração (cf. a epi~l~
na é vista na sua dupla e inseparável dimen- de consagração na oração eucarística); é pelo
são: criadora e eterna; Deus é aquele que do- seu poder que o homem se insere progressj.
mina e cria o mundo e o homem e, conco- vamente no mistério salvífico até a volta de
mitantemente com este dado, transcende o Cristo. Devemos, a propósito, observaca,ter-
tempo e o espaço por ele criados segundo a minologia que Paulo usa ao apresentar J
medida do homem; é aquele que se manifesta realidade da nova criação como união cada
fiel às promessas, realizando-as progressiva- vez mais íntima e perfeita com Cristo; união
mente no tempo do homem, como sua progressiva que só a celebração litúrgica es,
epifania. De tudo isto a igreja faz experiência pecificamente-nos seus diversos momentos
vital quando se reúne para celebrar os mis- anamnéticos - pode realizar, e que pode ser
térios da salvação. assim esquematicamente resumida: com
- O Filho. A igreja, na riqueza da sua !ex Cristo, o fiel é co-so&-edor: Rm 8, 17; co-cru-
orandi, não se expressa por meio de categorias cificado: 6,6; co-morto: 6,8; con-sepultadOi
sistemáticas, mas, recorrendo à sapientíssima 6,4; syn-phytos: 6,5; syn-koinonós: 11,17; co-
pedagogia, típica da história da salvação em ressuscitado: Ef 2,6; co-vivificado: 2,5; co-
que Deus se revelou progressivamente, fazen- vivcnte: Rm 6,8; co-glorificado: 8,17; co-ner-
do-se presente na vida e nos acontecimentos deiro: 8,17; co-cidadão: Ef 2,19; co~sentado:
do povo da antiga aliança, reconhece, crê, 2,6; co-reinante: 2Tm 2,12. 1
· 1.'
invoca e celebra os mistérios do Filho, segundo b. A celebração como 'actio' - "Sit nobis,
a visão econômico-soteriológica que lhe é Domine, repara tio mentis et corporis caeleste
própria. Cristo celebrou como verdadeiro mysterium, et cuius exequimur actioneI?J
homem e como verdadeiro Deus, que, na sua sentiamus effectum": é o texto de uma oratta
existência simultaneamente histórica e trans- post communionem (n. 580) incluída no
cendente, operousemel pro semper a salvação. Sacramentarium Veronense e em muitas ou-
A conotação mais profunda e completa tras fontes litúrgicas antigas. O texto é
encontramo-la no Christus Dominus: confis- extremo interesse para os fins da nossa ~e
;eJ"
são litúrgica da igreja primitiva (cf. At 2,36) e xão, já que põe em evidência - por meio ª
das igrejas de todos os tempos e lugares, que voz da própria /ex orandi - a essência da ce·
no per Christum Dominum nostrum de todas
CELEBRAÇÃO
f
ac1 ontemplação e a celebração do mistério
~s actio para a vida da igreja, e até 'a' actio
templo vivo; autêntico locus em que ocorre
encontro com Deus. , . , R tomando
é, Pºd~compõ~ e refrat~ a luz do !11istério c. A celebração como vida :--:. e demos
qt.1~ na pluriforme variedade de ritos e de uma vez mais a voz da tradiçao,. pod
ól1 1c0
refletir sobre esta última parte insplra os em
ulas que revelat? a t~malidade específica
outro texto do Sacramentarium Ve~ot~s%'::
fór~emorial que a igreJa celebra em deter-
'º
d~ do período ou momento doanni circulus.
J1'11~~tio fundamental da igreja é fazer anam-
quenoúltimoformuláriodomensezu
"... supplices, Domine, te rogamus, ut quo~
mysterii tribuis esse consortes, eosde~ dign
e
t~;t:
..
daopus salutis que, realizada uma vez na efficias" (n. 669). O esse consors tantt _m_y l~~
5
11~5t~ria de Cristo, continua na igreja e para a
para o fiel é realidade que surge da participa~
~i:eja ou seja, na celebração que é anúncio e na actio que justamente toma prese~te rrus:
O
ig )iz~ção simultaneamente. Trata-se de uma tério; mas é também programa de V1da, _e ate
~~ertação' q1;1e o po~o d_e Deus continuamen-
1tePtiga
de ao Pai; e, mais amda do que o povo da
e aliança, a igreJa
· · experimenta
·
'motivo' de vida: a igreja vive porque, mediante
a celebração ' imerge no mistério.
a própria bl ,. ovo
Quem celebra é uma assem eia, o n
anão divina na libertação de tudo o que a liga povo de Deus, que têm suas raízes no santo
J1'lsituações de mal, de pecado: é a liberdade
resto de Israel, nos homens sem nome e nas
ªova anunciada e realizada por Cristo, que multidões sem qualificativos qu; crera!"° sem
nermite, à assembléia dos que crêem sem ter haver visto; o povo que sabe ser propneda~e
~isto, descobrir a própria identidade sacerdo- particular" (cf. Ex 19,5), e que a eu':ologia
tal régia e profética. identifica e personaliza com uma nque~
Tudo isto que a liturgia anuncia na cele- terminológica impressionante: nos, famuli,
bração, ela também o realiza: todo anúncio e
realização; somente na celebração e mediante plebs, populus, fideles, ecclesia, gre.x·:· d"
Na sua caminhada usque ad plenitu znem
a celebração, que é plenitude do tempo da Christi, os fiéis têm consciência de que so:
igreja, Cristo continua presente - pelo poder
do Espírito - no meio do seu povo, e o Pai -
mente pela clemência e pela bondade ?º
~a1
poderão ser postos em condições de atmg1r a
em Cristo - continua estabelecendo a sua fisionomia da plena maturidade. E a assem-
tenda no meio dos seus até cumprir-se ple- bléia celebrante encontra o ápice da sua vida
namente a espera, em cujas fases de realiza- exatamente no servire Domino, categoria
ção a assembléia que celebra60 se insere cúltica fundamental da igreja, que pela cele-
constantemente. bração e na celebração se reconhece e se
Por conseguinte, o dinamismo e os con- realiza como tal. É assim que se realiza o
teúdos da oração da igreja revelam ser a reino de Deus que cada um é chamado a
celebração em si o locus em que Deus se co- construir, o reino de Deus já entre nós e que
munica ao seu povo e pelo seu povo - na na celebração está em ação.
celebração - aguarda a resposta; o locus em Na celebração, que é histórica e escatológica
que e através do qual o Espírito 'age' na ao mesmo tempo, emerge a globalidade, a
comunidade eclesial reunida para prestar inteireza do mistério pascal que, iniciado
culto; o momento sempre presente (o hodie) com a encarnação do Filho do homem, en-
desta história de salvação em ação. Assim, contrará seu cumprimento na segunda vinda
nestaactio, torna-se presente o acontecimen- de Cristo. Esta dimensão escatológica é
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to Cristo e realiza-se em cada indivíduo o que própria da vida da igreja que, chamada a ser
Cristo realizou para todos sentei pro semper. o novo reino de Deus, espera os novos céus e
Assim, também, realiza-se o homem novo na a nova terra. O fiel, assim, vive e antecipa o
actio celebrativa, que põe em contato a rea- éschaton apoiado na realidade existencial que
lidade e as experiências de cada fiel e de todos o hic et nunc celebrativo projeta no dinamis-
os fiéis com a força renovadora e sempre nova
que brota da própria celebração. mo do transcendente 62 •
A participação no mistério, a comunhão
com a divindade, é a aspiração profunda e VI. Problemática pastoral
constante do homem de todos os tempos e
lug~, e é Cristo quem a torna possível e As implicações e as conseqüências relativas
realizavel. Durante o ano litúrgico a actio, com à praxe pastoral que surgem de tal discurso
as conotações próprias do tempo, leva a as- sobre a celebração são numerosas e de cali-
sembléia a se conformar, cada vez mais pie- bres diferentes. Não é possível nem oportuno