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MARKETING
José Augusto Guagliardi - Pós Doutoramento University Of Texas At Austin, Livre Docente
na Disciplina Marketing Global FEA/USP, jaguar@usp.br
Mario Nei Pacanhan – Doutorando FEA/USP - Docente da FACCAR , Universidade São
Judas Tadeu SP e Faculdades Metropolitana de Londrina Pr marionei@usp.br
Cláudio Luiz Chiusoli – Doutorando FEA/USP – Docente da FIAP – SP e Faculdades
Metropolitana de Londrina Pr chiusoli@usp.br
Fabiane de Carvalho e Silva - Graduada em Administração pela UEL, Pós-graduação:
MBA em Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela FGV-SP,
fabiane_carvalho@hotmail.com
Resumo
Esse estudo leva em conta o comportamento do consumidor e o considerável impacto do
aspecto cultural sob o mesmo. A variável cultural impacta a decisão de incorporação e seleção
de produtos para consumo e deve ser considerada pelas empresas, em especial aquelas que
atuam no comércio exterior. O objeto desse estudo é o setor moveleiro de Arapongas,
identificando como as suas indústrias exportadoras constatam a influência da cultura sobre
suas atividades internacionais, os principais impactos advindos da interação empresa e
elementos culturais e as providências adotadas pelas empresas a partir dessa constatação. Esse
estudo exploratório contou com a coleta de dados primários, obtidos por meio de entrevistas
semi-estruturadas dirigidas aos executivos ligados à área de exportação das indústrias
moveleiras de Arapongas. Os resultados apontam que as indústrias procuram agir
adequadamente com a influência da cultura, mas há outras que negligenciam essa variável.
O comportamento do consumidor e a variável cultural: um estudo exploratório de sua
relevância no caso da indústria moveleira em seu objetivo de internacionalização.
1. INTRODUÇÃO
A atuação em âmbito internacional apresenta desafios que não estão somente
relacionados à prática de preços competitivos, ou condições cambiais e econômicas
favoráveis para se exportar, mas sim ao esforço de adquirir novas habilidades que ajudem a
empresa a pensar e agir globalmente e a construir relações seguras com os mercados
estrangeiros. Entretanto, “por trás das grandes oportunidades muitas vezes se escondem
também grandes riscos que, no ânimo de querer aumentar as exportações, às vezes acabam
também por ser negligenciados” (SCHNEIDER, 2002; p. 28). “Portanto, a conquista do
mercado internacional, de forma sustentada em longo prazo é o resultado de um trabalho
sistemático e consistente de planejamento e implementação criteriosa e disciplinada”
(SCHNEIDER, 2002). Nesse planejamento exige-se a disposição da empresa para realizar
uma pesquisa aprofundada do mercado para o qual se pretende exportar, sendo que além de
obter dados objetivos, é imprescindível que se faça um levantamento de aspectos subjetivos
do país, especialmente daqueles que têm o potencial de influenciar o comportamento de
decisão e compra do consumidor estrangeiro. “O processo de decisão e compra do
consumidor não pode ser explicado única e exclusivamente em termos de estímulo e resposta,
de recompensa e castigo, deixas e impulsos”. (BENNETT, 1975; P. 16) Dentro da descrição
do comportamento do consumidor não se pode ignorar fatores como motivação, valores,
personalidade, família, cultura, entre outros itens, pois há, sem dúvida, aspectos enraizados no
comportamento de compra que influenciam sobremaneira a forma do cliente pensar, avaliar e
agir. Dentre os diversos aspectos que podem interferir no comportamento do consumidor
destaca-se o fator cultural. A cultura, ‘programação da mente’ de uma sociedade, tem
influência difusa e modificadora sobre cada ambiente de mercado nacional” (KEEGAN &
GREEN, 2000; p. 118) e engloba um conjunto de elementos psicológicos, idéias, crenças,
valores, costumes e símbolos que permitem o ser humano adaptar-se ao mundo e seu grupo e,
de certa forma, regulariza convivência com as pessoas do ambiente em que vive. Por
conseguinte, sua influência modela os modos de vida e conduta de uma sociedade e tem uma
influência determinante sobre a decisão e comportamento de compra do consumidor, bem
como nas formas de uso dos produtos. Os erros culturais podem gerar embaraços, perda de
consumidores, problemas legais, perda de oportunidades, reparação de danos, entre outros.
Descuidar-se das forças culturais que agem sobre os consumidores, especialmente quando
estes são estrangeiros, é dar chances para um o provável comprometimento do negócio.
Assim, a compreensão desse determinismo cultural no estilo de vida do ser
humano é crucial para a área empresarial, especialmente àquela que tem pretensões de atuar
em diferentes regiões do mundo. Conhecer ou ter em mente os aspectos culturais que
interagem no comportamento do consumidor estrangeiro é imprescindível para que as ações
empresariais de conquista de novos mercados não fiquem abaixo do seu potencial. No que
concerne ao processo de internacionalização do setor moveleiro, de acordo com Schneider
(2002), o processo de inserção nos mercados internacionais, apesar de lento, já está em pleno
andamento. As perspectivas para o crescimento das exportações de móveis são grandes,
principalmente porque o setor está investindo em programas que objetivam viabilizar uma
maior participação das empresas moveleiras no mercado externo. No entanto, a potencialidade
de exportação do setor moveleiro pode ser prejudicada ou inibida caso as empresas
negligenciem a necessidade de investigar, sensibilizar-se e se adaptar aos costumes, hábitos e
atitudes determinados pela cultura do mercado de atuação. Diante do exposto, questiona-se
como as empresas do pólo moveleiro de Arapongas lidam com a interferência cultural, fator
que interfere no comportamento dos consumidores de seus atuais e futuros mercados
estrangeiros. Assim, esse artigo teve como objetivo principal averiguar como as empresas
exportadoras do pólo moveleiro de Arapongas lidam com a interferência dos aspectos
culturais no processo de internacionalização de seus negócios, e em seguida como objetivos
secundários identificar os principais mercados internacionais a que se destinam os produtos
do parque moveleiro de Arapongas; assim como as empresas constatam a influência da
cultura em seus processos de exportação e contatos com os países com os quais mantém ou
pretendem manter relações comerciais; descobrindo os principais impactos advindos da
interação da empresa com os elementos culturais em seus processos de exportação.
2. METODOLOGIA DA PESQUISA
O universo da pesquisa envolve as indústrias moveleiras localizadas em
Arapongas, cadastradas no SIMA (Sindicato das Indústrias Moveleiras de Arapongas), que já
tiveram alguma experiência em exportação. A amostra foi composta por todas as empresas
que mantém operações de exportação freqüentemente, ou, que tenha realizado operações ao
longo dos últimos 2 anos. De acordo com os registros do SIMA, o universo a ser pesquisado
abrange 24 (vinte e quatro) empresas, sendo que, segundo classificação do SEBRAE1: 2
(duas) são de grande porte, 11 (onze) de médio porte e 11 (onze) de pequeno porte. Para a
coleta de dados primários junto às indústrias, foi utilizado questionário mediante “entrevista
estruturada” composto por questões abertas e fechadas, as quais foram respondidas pelo
executivo responsável pelo departamento de comércio exterior da empresa. Foram realizadas
18 (dezoito), cuja amostragem foi não probabilística por conveniência.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1
Segundo a classificação do SEBRAE, o porte das empresas é definido de acordo com o número de
funcionários. Assim, as empresas são classificadas em: microempresa – de 0 até 19 funcionários; pequena
empresa – de 20 até 99 funcionários; média empresa- de 100 até 499 funcionários e grande empresa – acima de
500 funcionários
De acordo com dados e classificação da ABIMÓVEL2 (Associação Brasileira de
Indústria de Móveis), a indústria brasileira de móveis é formada por 13.500 micro, pequenas e
médias empresas, de capital nacional na sua maioria. As empresas estão assim distribuídas da
seguinte forma: 10.000 micro, 3.000 pequenas e 500 médias. Essas empresas constituem em
verdadeiros centros de disseminação de tecnologia e tendências. As principais áreas que
concentram as indústrias moveleriras nacionais são: Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul;
São Bento do Sul, em Santa Catarina; Arapongas no Paraná; Mirassol e Votuporanga no
interior de São Paulo; Ubá em Minas Gerais e Linhares no Espírito Santo.
O Brasil é apontado como um país com grande potencial para exportar móveis.
Segundo Gorini (2001; p.10), o setor moveleiro nacional obteve grandes avanços na década
de 90 resultando em uma produtividade, em alguns segmentos, próximos aos níveis
internacionais, o que possibilitou um grande salto exportador na mesma década. As
exportações do setor saltou de U$ 40 milhões em 1990 para U$ 391 milhões em 1997, o que
fomentou o desenvolvimento da sua capacidade de produção e apurou significativamente a
qualidade dos seus produtos, uma vez que investiram na atualização de seu parque fabril
adquirindo maquinários modernos de última geração e incorporando tecnologias disponíveis
nos países de primeiro mundo. O setor moveleiro conta para o incremento das suas
exportações com programas de incentivo como PROMÓVEL (Programa Nacional de
Exportação de Móveis), o qual estabeleceu como meta elevar as exportações brasileiras para
US$ 2,5 bilhões até 2004. Criado em 1998, o PROMÓVEL busca a estruturação e
profissionalização das empresas e o desenvolvimento de uma cultura exportadora entre seus
integrantes.
3.5 CULTURA
Talcott Parsons (1951) considera a cultura um mapa cognitivo orientador da ação
social argumentando que “os elementos culturais são elementos de ordem padronizadas que
medeiam e regulam a comunicação e os outros aspectos da mutualidade de orientação nos
processos de interação. Existe sempre, /.../,um aspecto normativo na relação da cultura com os
componentes motivacionais da ação; a cultura proporciona ‘standards’ de orientação e
ordenação seletivas.” (apud KEESING, 1972; p.185). A cultura é um elemento desenvolvido
pelo homem, varia de grupo para grupo, oferece instrumentos psicológicos – padrões de
comportamento, costumes, hábitos, moral, entre outros – que permitem o ser humano adaptar-
se ao mundo e ao seu grupo e, de certa forma, regulariza a convivência com as pessoas do
ambiente em que vive. Por conseguinte, o conjunto desses instrumentos formaliza a cultura e
modela os modos de vida e comportamento de uma sociedade. A cultura reúne tudo isso
proporcionando assim ao homem o meio de adaptar-se às complexidades do mundo em que
nasceu, dando-lhe o sentido, e, às vezes, a realidade de ser criador desse mundo e ao mesmo
tempo criatura dele. (HERSKOVITS, 1960; p.31). Além disso, os antropólogos concordam
em afirmar que a cultura obtém-se de um aprendizado sutil e inconsciente, mediante a
habituação e imitação; e consciente, quando o indivíduo demonstra que sabe condicionar-se
“corretamente” em um ambiente de padrões diferenciados. Esse processo de integração de um
indivíduo em uma sociedade chama-se “socialização”. Todas culturas nacionais, consideradas
objetivamente, possuem aspectos que a compõem. A expressão formal à instituição da
família, o controle legal, o sistema religioso, contos, fábulas, formas de expressar a arte,
preferência estética, sistemas de metas e sanções, comportamento nos negócios são alguns dos
muitos exemplos dos atributos culturais que dão significado à vida dos grupos humanos, onde
quer que vivam. De uma maneira geral, a cultura é “grandemente variável; que se manifesta
em instituições, padrões de pensamento e objetos materiais”.Nesse sentido, “é essencial que
se compreenda primeiro a estrutura de uma cultura se queremos perceber as razões pelas quais
um povo se comporta de uma determinada maneira; tal comportamento só terá sentido se
considerar plenamente a estrutura dos costumes.”(HERSKOVITS, 1960; p.31 a 36)
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No intuito de averiguar como as empresas moveleiras de Arapongas lidam com a
variável cultural potencialmente capaz de interferir no processo de internacionalização de seus
negócios, uma vez que ela se manifesta do comportamento do consumidor estrangeiro de
diferentes formas, a pesquisa recolheu um conjunto de informações úteis para fundamentar as
análises e comentários realizados. Assim, no que concerne às indústrias moveleiras, embora
estas estejam cientes da importância de se dedicar atenção especial aos aspectos culturais dos
seus mercados internacionais, os dados levantados permitiram inferir que essas empresas
adotam uma postura reativa quando lidam com as interferências da cultura no processo de
internacionalização dos seus negócios. Tal situação ocorre porque, ao delegarem a um
intermediário a responsabilidade de investigação das peculiaridades do mercado ou esperarem
que os clientes solicitem as alterações necessárias para atingir eficazmente o consumidor
local, o papel da empresa nessa questão se resume somente a adaptar o produto e realizar
pequenas alterações em catálogos, folhetos, entre outros elementos. Ainda no que se refere ao
comportamento das indústrias frente às interferências da variável cultural, concluiu-se que
dificilmente as empresas atentam-se para as ações da cultura sobre decisões de preço,
distribuição e promoção. As empresas limitam-se a informações que a permitam saber quais
as adaptações necessárias no produto, em detrimento dos outros elementos de marketing.
As posturas reativas das empresas as distanciam das características do mercado
consumidor mesmo que essa situação não venha a comprometer os negócios, ela pode
eventualmente encobrir grandes oportunidades a serem exploradas. Na busca por melhor
conhecer o comportamento do consumidor, é possível que sejam feitas novas considerações
sobre o mercado, uma vez que é possível descobrir características de consumo e tendências
que demandem diferentes modalidades de móveis ou novas adaptações que valorizem o seu
produto frente aos demais. Sem o contato direto com seus mercados internacionais torna-se
mais difícil para a empresa compreender e incorporar as diferenças culturais, de modo que
todas estratégias e programas sejam adaptados de forma coerente. A dedicação de
considerável esforço e interpretação do comportamento do consumidor pode permitir a
organização melhor conhecer seu público alvo e ofertar seus produtos e serviços da maneira
mais apropriada.
Uma sugestão viável para as empresas seria a contratação de um profissional ou
empresa especializada que pudesse orientar as ações prospectivas de negócios levando em
consideração o impacto das variáveis culturais. Vale a pena citar ainda e como detectado nas
entrevistas, o fato das empresas não lançarem mão da pesquisa de marketing como elemento
de apoio a tomada de decisão nos processos de internacionalização, aumenta as chances de
equívocos. O conhecimento ou desconhecimento das características dessas forças culturais,
como se manifestam e quais suas tendências afetam a capacidade da empresa de desenvolver
e compreender a conduta do consumidor e manter bons relacionamentos com seus
consumidores. Convém mencionar que não basta saber relacionar as diferenças culturais dos
países, mas sim sensibilizar as formas de pensar e agir, procurando livrar-se de suposições
culturais, esteriótipos, valores etnocêntricos e respeitar comportamentos que parecem
anormais a nossa percepção.
Assim, diante dessas inferências, será que as empresas, com um comportamento
pró-ativo, procurando detectar novas tendências de ordem cultural não teriam suas
exportações incrementadas? Esta questão bastante pontual nesse contexto pode ser o ponto de
partida para outras investigações a serem realizadas nesse segmento. Ademais, a pesquisa
representa um referencial para reflexão acerca do relacionamento entre organizações e forças
culturais no âmbito do comércio internacional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENNETT, Peter D. e KASSARJIAN, Harold H.. O Comportamento do Consumidor. São
Paulo: Atlas, 1975.
BOONE, Louis E.; KURTZ, David L. Marketing contemporâneo. Rio de Janeiro: Editora
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HERSKOVITS, Melviele J.. Antropologia Cultural. 2ed. São Paulo: Mestre Jou, 1973.
KEEGAN, Warren J.; GREEN, Mark C. Princípios de Marketing Global. São Paulo:
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KEESING, Felix M.. Antropologia Cultural. 2 ed. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1972.
MOWEN, I.C.; MINOR, M.S . Comportamento do consumidor. São Paulo: Prentice Hall,
2003.
SCHNEIDER, Johann Wolfgang. Móveis de Valor. Indústria. Oportunidades e riscos em
novos mercados. Ano 1. nº 1 Abril, 2002.