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A Fox in Raven's Clothing

Posted originally on the Archive of Our Own at http://archiveofourown.org/works/51072817.

Rating: Mature
Archive Warnings: Rape/Non-Con, Graphic Depictions Of Violence
Categories: M/M, F/F
Fandom: All For The Game - Nora Sakavic
Relationships: Neil Josten/Andrew Minyard, Kevin Day & Neil Josten, Neil Josten &
Jean Moreau, Neil Josten & Andrew Minyard, Allison Reynolds/Renee
Walker (All For The Game)
Characters: Andrew Minyard, Neil Josten, Kevin Day, Jean Moreau, Renee Walker
(All For The Game), Allison Reynolds (All For The Game), Katelyn (All
For The Game), Seth Gordon, Danielle "Dan" Wilds, Matt Boyd, Nicky
Hemmick, Aaron Minyard
Additional Tags: Neil Josten as Nathaniel Wesninski, Andrew Minyard Has Feelings, Hurt
Neil Josten, Raven Neil, Hurt Andrew Minyard, POV Andrew Minyard,
POV Neil Josten, Andrew Minyard Loves Neil Josten, Neil Josten Loves
Andrew Minyard, Kevin Day precisa de um abraço, Andrew Minyard
tem olhos de águia, Neil Josten é uma bandeira vermelha ambulante, dor
- Freeform, mas vai dar tudo certo em algum momento, Eles trocam
mensagens como namoradinhos a distância, Fofo em certos aspectos
Language: Português brasileiro
Stats: Published: 2023-10-24 Updated: 2024-01-22 Words: 8,551 Chapters: 3/?
A Fox in Raven's Clothing
by Ch012an

Summary

Andrew teve um sonho em que era uma Raposa, mas tinha os olhos rápidos e espertos de
uma águia. Em seu sonho, viu pelo canto do olho um pequeno Corvo se aproximando
lentamente, suas grasiosas penas negras e brilhantes batendo em direção a ele, garras afiadas
afundando na neve branca que cobria todo chão da floresta onde estavam. Andrew assumiu
uma postura de ataque, pois sua toca estava bem ali e aquele maldito Corvo ousou se
aproximar do que era dele.
O Corvo, então, notando toda sua agressividade, mostrou para ele um montinho encaracolado
de encantadores cabelos ruivos e um par de intensos olhos azuis que de maneira nenhuma
podiam pertencem a tal ser, então Andrew percebeu — aquilo na frente dele era nada mais do
que uma Raposa em pele de Corvo.

Ou,

Onde Mary Hatford nunca conseguiu fugir e Nathaniel Wesninski viveu a vida que seu pai
sempre planejou para ele, tendo a natureza de um Corvo enfiada em si até os ossos. Nathaniel
tinha certeza de que nunca escaparia de seu destino prescrito, então tentou tirar outros do
barco e afundar sozinho — e era pra ter afundado, mas Andrew Minyard apareceu e de
repente ele quis nadar contra a correnteza.

Notes
See the end of the work for notes
Uma briga entre lobos — ou melhor, entre raposas e corvos.
Chapter Notes

Todo escritor do fandom de Aftg meio que passa pela fase de escrever sua Raven!Neil,
né? A minha, feliz ou infelizmente, chegou. Depois de ler tantas fanfics incríveis e
passar a noite em claro chorando por elas estarem incompletas, decidi escrever a minha
própria — coisa que muito provavelmente vai me dar muita dor de cabeça e tem grandes
chances de eu chorar escrevendo. Deus me proteja.

See the end of the chapter for more notes

Capítulo um — Andrew.

Foi decidido em julho, por meio de um sorteio, que a Universidade Blackwell seria a anfitriã
do banquete de outono. Foi um golpe de sorte para as Raposas, já que estavam a quatro horas
de distância de lá, mas nenhum deles se sentia particularmente empolgado sobre isso quando
subiram no ônibus no sábado. O banquete seria um evento de dois dias para justificar os
custos e o tempo de viagem para os outros times, mas todas as Raposas concordaram em ir
embora no sábado à noite. Passar seis horas socializando com equipes que viviam sacaneando
eles nos noticiários era mais do que suficiente.

Andrew sentou-se confortável no último banco do fundo do ônibus das Raposas, ao lado da
janela. Kevin afundou ao seu lado como um saco de cimento e não moveu um músculo até
todas as doze pessoas estarem a bordo: as oito Raposas, os dois funcionários e os
acompanhantes de Aaron e Nicky – um cara esquisito que Andrew nunca tinha visto antes e a
tal garota, Katelyn.

Andrew não olhou para ela. Estava drogado o suficiente para fingir que ela não existia,
olhando acima de seus ombros em todas as poucas ocasiões em que seus olhos correram na
direção de seu gêmeo e ele estava babando feito um idiota por causa daquele cabelo ruivo e
olhos azuis.

A tal garota até tentou cumprimentá-lo – corajosa, Andrew teve que admitir, mesmo que ela
estivesse tremendo dos pés a cabeça como um galho seco –, estendendo a mão para ele pouco
antes de subirem no ônibus. Andrew notou, pelo canto do olho, seu gêmeo roendo as unhas
da mão em um ato de pura ansiedade.

— Oi, — ela disse. — Eu sou…


Andrew passou direto por ela e entrou no ônibus. "Não fale comigo, você nem existe", ele
cantarolou em sua mente, e ouviu o suspiro cansado de Aaron do lado de fora.

Tudo bem. Não vai demorar muito para que Aaron fique cansado dessa merda toda – por que
é claro que Aaron vai se cansar dessa garota em algum momento – e tudo volte a ser como
antes. Andrew só tem que esperar e ignorar porque, sinceramente, ele tem outros problemas
mais importantes para lidar e, no momento, o maior de todos eles estava quase tendo um
ataque de pânico ao seu lado.

Quando o ônibus das Raposas finalmente deu o primeiro solavanco para sair rumo a
Universidade Blackwell, Kevin começou a respirar pesado, puxando o ar com força e
soltando em chiados que mais pareciam grunhidos.

Andrew permaneceu em silêncio no lugar, mas manteve seus olhos atentos em Kevin. Ele
parecia prestes a quebrar.

Andrew sabia que ver Riko era uma merda para a mente fudida de Kevin, mas não era só
isso. Não era só Riko que compareceria ao banquete, eram também todos os outros corvos
pomposos e irritantes que Kevin considerava antigos companheiros de time, além do
treinador, Tetsuji Moriyama, que acolheu Kevin quando a mãe dele morreu. Olhando desse
jeito, Kevin tinha uma lista quase que interminável de motivos para ter um ataque de pânico
– e assim que a primeira placa indicando o caminho para a Universidade Blackwell apareceu
na estrada, foi exatamente isso que ele fez.

Andrew notou o exato momento em que o moreno prendeu o ar com força e não soltou mais.
Em um minuto ele estava jogado na cadeira como um cadáver, sem qualquer movimento ou
reação, e no outro estava se escolhendo em uma bola de nervoso e pânico, agarrando as
pernas e escondendo o rosto entre os joelhos. Ele estava tremendo e rangendo os dentes.
Antes que Kevin começasse a desmoronar, Andrew deu um pulo e ficou de pé na frente dele
com os braços cruzados.

— Ei, Kevin, você vai acabar chorando se continuar assim — riu, mas Kevin sequer se
mexeu.

O ônibus balançou. Kevin fungou baixinho.

— Olha pra mim — disse Andrew. — Vai ficar tudo bem. Você acredita em mim, né?

Falar parecia um esforco tremendo para Kevin, mas ele ainda assim respondeu, em um tom
abafado:

— Eu acredito em você.

Andrew riu outra vez.

— Mentiroso.

O ônibus parou. Wymack tirou a chave da ignição e as portas se abriram em um rangido


barulhento.

— Chegamos, — disse o treinador — saiam agora!

Kevin estava tão trêmulo que suas pernas pareciam serem feitas de gelatina. Todos estavam
de pé e saiam do ônibus em uma fila organizada, mas o moreno continuou sentado no lugar.
Andrew abriu a boca para fazer uma piada sobre suas diferenças de altura não impedi-lo de
carregar Kevin no colo como uma princesa se ele quisesse, mas Wymack rapidamente se
aproximou deles com uma garrafa de vodka lacrada e a jogou nos braços de Kevin.

— Você tem dez segundos para beber o máximo que conseguir. Eu estou cronometrando,
então anda logo.

Andrew ignorou a voz sóbria na sua cabeça que dizia o quão idiota era dar álcool para
acalmar os ânimos de um cara com problemas de pânico, apenas observando o quão
desesperado Kevin parecia para beber o máximo que ele conseguisse. Sua mente drogada
achou engraçado.

Quando o tempo terminou, Wymack arrancou a garrafa das mãos de um Kevin com
bochechas um pouco avermelhadas e chutou os dois para fora do ônibus.

— Abby vai pegar a mala de vocês no bagageiro. Se troquem rápido!

Andrew pegou sua própria mala e esperou Kevin pegar a dele, então todos foram até o
vestiário dos visitantes. Quando todos já estavam vestidos com suas roupas novas e chiques,
Kevin já estava mais relaxado – bêbado –, e andava vagarosamente atrás de Andrew como
um bicho preguiça. Aquela serenidade era passageira, Andrew sabia, pois Kevin com certeza
voltaria a surtar assim que colocasse seus olhos em um rosto pálido com uma tatuagem
ridícula de número um na bochecha ou em qualquer outro corvo desgraçado com nariz
empinado.
As Raposas saíram da sala e um cara anunciou a entrada deles no salão de festas com um
megafone. Algumas conversas pararam quase que imediatamente, e de uma hora para a outra,
dezenas de idiotas pareciam muito interessados em vê-los entrando na quadra.

— Aí, meu Deus… — Nicky sussurrou. — se eu tropeçar na frente dessa gente, vou ter
pesadelos pelo resto do ano.

— Pesadelos? — Alisson soava divertida. — Eu provavelmente me mataria.

— Sabe, eu gosto de pensar que eles estão chocados com a minha beleza — Dan deu de
ombros.

Todos estavam lutando para não atingir seus limites, mas ao olharem ao redor procurando por
suas cadeiras, um clima pesado caiu sobre as Raposas.

— Ah, fala sério… — Nicky murmurou, revirando os olhos.

Quão chamativas poderiam ser dez cadeiras arrumadas bem no centro do salão com duas
grossas faixas, uma laranja e outra branca, rodeando a mesa como se fosse uma caixa de
presente brega? A pior parte, claro, era o símbolo tão incrivelmente discreto de uma pata de
raposa bem no meio das faixas, como uma cereja no topo de um bolo.

Era tudo tão exageradamente chamativo que Andrew revirou os olhos. Ele não precisou olhar
ao redor para saber que a mesa das Raposa era a única arrumada daquele jeito ridículo.

"Alguém está preparando uma atração de circo?", ele pensou e, dando alguns passos para
perto das cadeiras, riu alto sem se importar com os olhares tortos que recebeu. Pelos céus,
isso tudo era tão fudidamente óbvio.

— Escolha aleatória de mesas, né? — Dan riu. — Não fode.

Na mesa ao lado da sua, é claro, estavam os Corvos de Edgar Allan. E não era preciso ser
muito inteligente para saber que isso não foi um acidente — era Riko quem estava
preparando uma atração, é claro!

— Puta que pariu — Kevin xingou assim que percebeu.


Andrew diminuiu a velocidade dos seus passos para acompanhar Kevin, ficando ao lado dele
como uma muralha.

— Ah, que clichê — comentou Andrew. — Não sei como eu já não estava esperando por
algo assim. Talvez isso seja divertido, no fim das contas. Vamos, Kevin. Não podemos deixar
as pessoas esperando.

Kevin parecia mais um zumbi do que qualquer outra coisa. Pelo visto, o susto de ver os
Corvos logo de cara foi suficiente para evaporar boa parte do álcool em seu cérebro.

— Riko — Dan cumprimentou quando chegaram perto o suficiente, puxando a cadeira


diretamente oposta à dele. — Dan Wilds.

Riko ofereceu a mão num cumprimento que fez Andrew levantar uma sobrancelha: o braço
pálido reto, o pulso frouxo, agindo como a porra de lorde esperando um súdito beijar sua
mão. Andrew tinha certeza que Dan iria ignorá-lo, mas a mulher enfiou a mão na dele e
apertou. Dan puxou a mão e Riko sorriu.

Andrew sorriu como uma criança travessa ao ver Wilds discretamente limpar a mão no
vestido.

— Eu sei quem você é — comentou Riko. — Quem é que não sabe? Você é a mulher que
comanda uma equipe de primeira divisão. Devo admitir que faz um excelente trabalho, apesar
de todas as desvantagens.

— Que desvantagens?

— Precisa mesmo que eu faça uma lista? — provocou Riko. — Esse evento só dura dois
dias, Hennessey.

Matt fechou as mãos em punhos e puxou o ar com força. Ele parecia ter o dobro do tamanho
quando ficava irritado daquele jeito.

— Cuidado com as palavras, Riko.

Dan gentilmente segurou o braço do namorado, murmurando um "Deixa pra lá", e então
todos começaram a pegar seus lugares. Os veteranos se sentaram juntos – primeiro Renee,
depois Alisson, Matt e por último Dan – e o grupo de Andrew seguiu a mesma ordem de
sempre – Nicky, Kevin, Andrew e Aaron –, dessa vez com os acompanhantes de Aaron e
Nicky nas pontas.
Antes de se sentar, Andrew fez questão de puxar as faixas chamativas e deixá-las cair no
chão. Na posição onde estava, podia olhar diretamente para Riko se virasse o corpo um pouco
para o lado, já que ele estava sentado a uma cadeira de distância, enquanto Kevin estava
suficientemente escondido pela sombra de Nicky e seu acompanhente para se considerar
seguro dos olhos do Moriyama.

Riko daria um jeito, é claro. Ele sempre dava um jeito.

Assim que todos se sentaram, dois dos Corvos que estavam distantes se levantaram como
robôs sincronizados e caminharam para perto de Riko. Um deles, o mais alto e mais magro,
deu um toque no ombro de uma das únicas garotas dos Corvos e tanto ela quanto o garoto ao
lado dela rapidamente ficaram de pé, dando espaço para os dois rapazes ocuparem as cadeiras
recém disponíveis. O mais alto era ruivo – ou seria loiro avermelhado? –, mais velho e
pálido, com uma expressão dura de arrogância e superioridade que fazia o número 4 tatuado
em seu rosto parecer ainda mais estúpido, enquanto o mais baixo, também ruivo – algo entre
castanho e a cor da lava –, era claramente mais novo, tinha mais músculos, uma pele morena
e nenhuma expressão realmente perceptível em seus olhos azuis, um número 3 destacando-se
nas bochechas magras.

Ele parecia muito mais novo que todos os outros Corvos, talvez um ou dois anos mais novo
que o próprio Andrew, e estava escondendo todas as suas expressões tão bem que Andrew fez
uma nota mental para tomar bastante cuidado com ele. O alto se sentou às costas de Kevin,
enquanto o mais baixo se sentou as costas do próprio Andrew.

O garoto olhou diretamente para ele, fuzilado-o, e se ele tinha ou não qualquer sentimento
negativo contra Andrew, não deixou transparecer em seus olhos azuis. Ele estava apenas
olhando.

Analisando, talvez. Investigando, com certeza.


Andrew juntou as sobrancelhas e pensou: "Interessante".

— Kevin — disse o ruivo mais alto, atraindo rapidamente a atenção de Andrew.

— Jean — Kevin fez uma careta. Ele parecia prestes a vomitar.

Andrew esticou-se na cadeira como se fosse derrubá-la, estendendo uma mão para Jean.

— Jean — chamou ele. — Ei, Jean. Oi. Oi, Jean. Ei. Ei. Ei. Ei.
Se um olhar pudesse matar, Andrew agora estaria agonizando no chão depois de ser atingido
por aquele par de olhos verdes que mais pareciam duas esmeraldas frias. Ele estendeu a mão
para pegar a sua, mas outra pessoa rapidamente tomou lugar e apertou os dedos de Andrew
com força.

— Nathaniel Wesninski — disse o outro ruivo, sorrindo ladino. – Prazer em conhecer.

O sorriso de Andrew aumentou.

— Eu não estava falando com você.

— Mesmo? Achei que todos estávamos nos cumprimentando.

Andrew apertou a mão do outro com tanta força que as pontas de seus dedos ficaram brancas.
Nathaniel não expressou nenhuma reação além de um aumento em seu sorriso. Quando
Andrew soltou sua mão, o garoto deixou seu braço deslizar pelo encosto da cadeira em uma
postura relaxada.

— Você é Andrew Minyard, não é? — ele sorriu educado antes de elegantemente cruzar as
pernas em uma postura perfeita. Coreografada. Provavelmente treinada algumas centenas de
vezes para ser tão estupidamente parecida com a postura de Riko.

Andrew retribuiu o sorriso. Não tão educado, é claro, mas tão agressivo quanto.

— E você é um fantasma.

— Oh — Riko exclamou. — É verdade, vocês ainda não sabem nada sobre o Natty, certo?

O apelido deixou seus lábios de uma maneira açucarada. Foi como ouvir um homem falando
de seu animal de estimação favorito.

— Nosso pequeno Corvo ainda não está na escala oficial porque acabou de fazer dezoito
anos, mas vai jogar como titular esse ano.

Ao lado de Andrew, Kevin estava tentando desaparecer na cadeira. Ao ouvir Riko falar sobre
Nathaniel como um jogador titular, foi como se ele finalmente tivesse chegado ao seu limite.
— O que? — Kevin se engasgou. — Nathaniel vai jogar como titular?

— Foi o que eu disse — Riko o encarou com um notável brilho de diversão. Ele estava
jogando com Kevin. — Não está feliz por ele, irmão?

Kevin agarrou a barra da blusa e torceu, torceu e torceu, enrolando o dedo com as mãos
nervosas.

— Isso… Ah, bem, — Ele gaguejou. — Feliz…

A palavra deixou seus lábios como se fosse veneno. Ele tentou encontrar algo para dizer, mas
nada saiu. Quando Kevin não conseguiu formar nenhuma frase certa, Nathaniel girou na
cadeira para encará-lo e só então Andrew sentiu os olhos dele saírem de cima de si.

— Ei, Kevin, já faz um tempo – disse. — Você parece uma merda.

— Bom ver você também, Nathaniel.

— Eu não disse que era bom ver você — suspirou. — Sabe, se eu pudesse escolher entre
treinar até cair morto ou vir aqui e ter que ver a sua cara, eu escolheria o treino.

Aaron zombou em sua cadeira.

— Que linda relação de amizade entre antigos companheiros de time.

Katelyn, nervosa como um coelho no meio de uma briga entre lobos — ou melhor, entre
raposas e corvos —, arregalou os olhos e encarou Aaron em pânico para mandá-lo calar a
boca.

Nathaniel virou-se para o lado oposto, esticando-se na cadeira sem realmente se levantar,
encarando Aaron nos olhos.

— Desculpe, quem é você? — piscou, inocência e ingenuidade assumindo seu rosto


indiferente.

Seu gêmeo não era burro. Ele sabia que isso era claramente uma provocação, então ficou em
silêncio. Quando Aaron não respondeu, Jean aproximou-se para olhar o rosto dele e disse:

— Aaron Minyard, número 5. Defensor.

— Ah, sim! — Nathaniel ergueu as sobrancelhas como se dissesse Oh, minha nossa! — O
Defensor que mal consegue impedir uma única bola de chegar ao gol. O irmão gêmeo do
Goleiro que não se importa em, pasmem, — ele riu — defender o gol.

Os Corvos, exceto Riko e Jean, riram em uníssono. Era como se todos fossem um bando de
crianças intimidando outras crianças no corredor da escola – algo como Ei Nerd, seu cabelo
parece um monte de merda! Hahahaha.

— Ei, você está falando sobre mim? – Andrew se esticou para perto dele, enfiando o rosto na
frente do de Nathaniel, impedindo-o de olhar para Aaron. – Nossa, parece que você está
falando sobre mim! Você está?

Nathaniel voltou a olhar para ele. De perto, Andrew notou que seus olhos eram tão azuis que
pareciam gelo seco. Duros e penetrantes.

— Dificilmente eu poderia falar sobre outro Goleiro com um estilo de jogo tão medíocre. Me
diz, Minyard, você ao menos se importa com Exy? Você não é tão ruim quanto a outra
Goleira das Raposas, mas o mínimo que um Goleiro tem que fazer é se importar em defender
a bola. Ela — ele apontou para Renee — é péssima, mas ainda é melhor que você.

— Desculpe, você veio aqui para me dar conselhos de jogo? Não sabia que o treinador
Wymack estava contratando assistentes.

Um dos Corvos, um cara alto e loiro que Andrew não sabia o nome, riu debochado.

— Acho que nem mesmo os conselhos incríveis de Natty poderiam melhorar você ou
qualquer um do seu time. Vocês, Raposas, não tem salvação.

Outra vez, os Corvos riram. Jean concordou com a cabeça.

— As Raposas como um todo são uma vergonha para a primeira divisão do Exy, mas a sua
existência por si só é uma coisa que não dá pra perdoar. Um goleiro que não liga se leva ou
não um gol? Você não tem direito nem de tocar numa raquete. Você devia ter ficado nos
bastidores, como o golpe de publicidade que é.
Andrew ouviu o maxilar de Renee ranger. Ela provavelmente estava morrendo a língua esse
tempo todo.

— Agora você passou do limite, não acha? — perguntou Renee.

Uma das garotas dos Corvos – negra, alta e bonita, cabelos cacheados caindo até pouco
depois dos ombros – deu uma gargalhada alta.

— Se alguém como esse aí conseguiu te substituir no gol, Natty deve estar errado em dizer
que você é melhor. Não são vocês dois igualmente ruins? Não vejo a hora de assistir a uma
partida de vocês, Raposas. Acho que vai ser bem interessante. Até daria pra fazer um
joguinho de bebida, mas ninguém aqui quer morrer de coma alcoólico.

— É, — Dan sorriu — seria uma pena se isso acontecesse.

Renee respirou fundo.

— É a primeira vez que nossas equipes se encontram. Precisamos mesmo começar isso de
um jeito tão ruim?

— Por que não? Vocês já são ruins mesmo em tudo que fazem — rebateu a garota. — Fala
sério, é divertido ser tão ruim assim?

Andrew deu o suspiro mais alto que conseguiu.

— Que conversa chata — disse. — Parece que eu estou falando com um monte de crianças.
Natty isso, Natty aquilo. Vocês são ruins e bla, bla, bla. Isso é a única coisa que vocês,
Corvos, sabem repetir? Por favor, me divirtam um pouco. Desse jeito eu posso morrer de
tédio.

Jean estalou a língua no céu da boca.

— Diversão é coisa de criança.

Dan tomou a dianteira da situação antes que a bomba explodisse na cara de todos:
— Diga para seus Corvos pararem de hostilizar minha equipe, Riko. Aqui não é lugar pra
isso.
Riko, que estava quieto até então, ergueu uma sobrancelha.

— Só estávamos sendo educados — rebateu. — Você ainda não viu nenhum de nós sendo
hostil.

— Sinceramente, – falou novamente a garota Corvo — vocês são tão burros que nem
conseguem diferenciar gentileza de hostilidade? Vocês são tão ridículos que nem deveriam
ter o direito de jogar contra a gente.

— Então vocês não deviam ter mudado de região — retrucou Matt. — Ninguém quer vocês
aqui.

Nathaniel abriu a boca depois de muito tempo. Andrew ajeitou a postura.

— Vocês roubaram algo que não pertence a vocês — ele disse, e finalmente Andrew notou
algo diferente em seu tom: raiva. Andrew não soube dizer, no entanto, se a emoção era
verdadeira. Tudo sobre esse pequeno Corvo parecia uma grande peça de teatro. — A
humilhação que vão sofrer esse ano é unicamente culpa de vocês.

— Nós não roubamos nada — retrucou Dan. — Kevin quer estar com a gente.

— O que é estranho, tenho que dizer. — Allison Reynolds exclamou, abrindo a boca pela
primeira vez desde o início da conversa. — Como assim ele não quis ficar com vocês,
Corvos, e esse clima tão lindo de amizade e compaixão? Estou tão confusa. Vocês são quase
uma família!
Assim que a palavra família saiu dos lábios de Reynolds, Jean rangeu os dentes.

— Não fale o que não sabe – ele cuspiu e ameaçou ficar de pé, mas Nathaniel se moveu e
colocou a mão em seu ombro com força, mantendo-o no lugar.

O Corvo loiro falou outra vez:

— Não venha me dizer que você acredita pra valer nisso? Kevin está com vocês porque
alguém precisava ensinar a sua equipe lixo como realmente se joga Exy! — ele riu. — Escute
minhas palavras: Kevin não vai ficar muito tempo com vocês.
— Isso é óbvio — Riko murmurou, confiante como se fosse a porra de um Deus, e esticou-se
para falar com Kevin. — Devia pensar melhor na nossa oferta antes da gente desistir, Kevin.
Encare os fatos. Seu bichinho de estimação é e sempre vai ser um peso morto. É hora de…

— O quê? — Andrew exclamou, os olhos arregalados. — Kevin, você tem um bicho de


estimação e nunca nos contou?

Riko o encarou, irritado.

— Não me interrompa, De Tal.

Nicky engasgou com a bebida e tossiu como um cachorro doente. Aaron levantou-se, punhos
fechados, olhos vendo vermelho.

— Que caralho você falou? — exigiu seu gêmeo. Assim como Nathaniel tinha feito com
Jean, Andrew empurrou Aaron para baixo. Aaron se sentou a contragosto, respirando pesado
e rápido. Andrew sorriu para Riko.

— Ah, parabéns por tentar, mas pode desistir. Só vou te dar uma dica, beleza? Não dá pra
salvar alguém que já está na merda. Você só vai desperdiçar o seu tempo e o meu também.
Que tal ocupar esse tempo gasto em algo mais útil, como terapia? Você parece estar
precisando de alguém que te dê atenção. Vai ver isso te ajude a curar essa sua dependência
emocional em Kevin.

Kevin soltou um grunindo que mais pareceu um lamento de morte. Dan escondeu o rosto
entre as mãos, ombros tensos e pernas batendo no chão. Ela iria surtar se essa noite
continuasse nesse ritmo...

— Matt — a capitã chamou em um chiado. — Matt, por favor, vá chamar o treinador.

Matt levantou-se tropeçando nos próximos pés e saiu correndo o mais rápido que conseguiu.
Riko se curvou, vendo vermelho, e a sincronização dos Corvos foi quebrada. Sua expressão
de superioridade desapareceu por um único segundo e a testa dele se franziu em uma
carranca.

— Você não deveria falar comigo desse jeito — ele sorriu, mas não havia qualquer sinal de
diversão em suas feições.
— Oh, céus, você tem toda razão. O que eu faço se acidentalmente ativar um gatilho seu? A
última coisa que eu quero para hoje é reviver o terrível trauma de infância que moldou a
personalidade merda de Riko Moriyama.

Sentadas em suas cadeiras, a maioria das Raposas estavam paralisadas de choque. Alisson
tentava não rir, Dan estava tremendo de raiva e Kevin provavelmente estava pensando se
conseguiria cortar os pulsos com a faca de plástico do buffet.

— Você não deveria falar essas coisas... — Jean Moreau estava tremendo como um coelho
encurralado.

Ao lado dele, no entanto, Andrew notou o pequeno sorriso divertido que passou tão rápido
quando um foguete pelo rosto bonito de Nathaniel Wesninski. Nenhuma das outras Raposas
ou Corvos notou — nem mesmo Riko, que estava tão perto, mas Andrew sim.

— Que porra é essa? — Wymack xingou assim que chegou perto. — Todos, de pé agora
mesmo! Estamos trocando de lugar, não vamos aturar essa merda.

Todos ficaram de pé e Riko cruzou as pernas, sua postura de elegância e superioridade


voltando como se nada tivesse acontecido. Ele encarou Andrew antes que ele pudesse sumir
no meio da multidão e, mesmo que Andrew estivesse longe demais para ouvir, conseguiu ler
o que os lábios do Moriyama estavam dizendo.

Isso não vão ficar assim.

Andrew levantou o dedo do meio para ele.

——————

Festas são um inferno. Fora a comida e a bebida, não tem absolutamente nada de bom em se
enfiar numa multidão e ficar se esfregando em um monte de pessoas desconhecidas.
Infelizmente, Andrew gostava de beber.

Não havia nada alcoólico na mesa de buffet, mas as bebidas eram doces e saborosas. Quando
toda a socialização obrigatória terminou e todas as mesas foram retiradas do salão para abrir
espaço para uma pista de dança improvisada, Andrew puxou Kevin para a mesa de comidas e
não saiu de perto dos corpos decorados desde então.

Andrew estava brincando com o guarda-chuva em seu quinto copo vazio quando notou a
multidão se movendo de maneira estranha. Os Corvos estavam caminhando em direção a eles
como um bando, vinham em formato de V — tão estúpidos e ignorantes —, com Riko no
centro. Andrew notou a ausência de uma cabeleira ruiva e olhos azuis. Ele soltou o copo e
assumiu lugar na frente de Kevin.
— O que? — Kevin perguntou, totalmente alheio a aproximação indesejada. Andrew apontou
com o queixo para o grupo a pouquíssimos passos de distância e o moreno soltou um
grunhido doloroso.

Renee surgiu ao lado de Andrew como uma sombra, assumindo lugar na muralha de proteção
que, aos poucos, se formava. Matt veio logo depois e, por mais estranho que pudesse parecer,
Allison Reynolds veio a tiracolo. Quando os Corvos chegaram, Kevin estava escondido pelas
sombras das quatro Raposas.

— Riko! — Andrew comprimentou. — Nós nos vimos novamente. Que droga.

Ao mesmo tempo, Renee sorriu para o ruivo alto parado ao lado de Riko.

— Jean, não é? É um prazer conhecer. — Esticou a mão. — Eu sou Renee Walker. Acho que
não tivemos a chance de conversar antes?

Jean arregalou os olhos, bochechas surpreendentemente ficando vermelhas. Provavelmente


não esperava que alguém falasse com ele, ainda mais em um tom tão amigável e gentil, então
deixou sua máscara de arrogância Corvo cair. Ele tossiu, recuperando sua expressão
indiferente, e aceitou a mão estendida.

— Jean Moreau.

Renee assentiu, se virando para Riko com a mão estendida. O capitão dos Corvos a encarou
como se ela fosse uma ferida aberta. Renee abaixou a mão, mas não perdeu o sorriso.

— Precisam de alguma coisa?

— Quero falar com Kevin.

— Isso, infelizmente, não será possível. Kevin não está se sentindo bem.

Riko ergueu uma sobrancelha, olhando para cima dos ombros de Renee, encarando Kevin.

— Ele parece bem para mim.


— Oh, não, ele não está — disse Renee, e se virou para Kevin, que tossiu da maneira mais
falsa possível. Renee virou-se novamente para Riko — Viu só?

Riko abriu a boca para falar outra vez, mas Dan surgiu no meio da multidão com o treinador
Wymack e Abby a tiracolo. Kevin jogou-se nos braços da médica como se sua vida
dependesse disso e Andrew o observou sumir com ela na direção da saída.

— Vocês não podem escondê-lo para sempre — Riko fez uma careta. — Sabem disso, não
sabem?

Renee sorriu docemente.

— Não sei do que está falando.

Andrew riu. Renee Walker é taaão divertida! Ela não era sua única amiga atoa.

Com Kevin fora da vista de Riko, Andrew relaxou os ombros e deixou que Renee lidasse
com os Corvos. Dan estava lá também, então dificilmente algo aconteceria. Virou-se outra
vez para a mesa de buffet, deixando claro que não responderia se falassem com ele, e pegou
seu sexto copo de bebida colorida.

— Andrew Minyard — uma voz soou às suas costas.

Andrew congelou e apertou o copo com força. Seu corpo reagiu imediatamente, punho livre
fechado com o máximo de força que conseguia, e ele socou. Seu punho foi segurado por uma
mão tensa.

Nathaniel Wesninski estava parado à sua frente. "Foda-se, porra", ele xingou mentalmente.
Quando, exatamente, esse desgraçado rastejou feito uma cobra pelas costas de Andrew?

— Que porra você quer? – xingou, puxando o pulso.

Kevin não era o alvo desde cara, Andrew sabia. Ele estava de olho em Andrew desde o
início.

— Que tal uma conversa a sós?


O Minyard ergueu uma sobrancelha.

Olhando de maneira sóbria, a lista de motivos para dizer Não era quase infinita: Nathaniel era
um Corvo, e como se isso só já não fosse uma grande bandeira vermelha, ele era o Número
Três na corte perfeita de Riko, ou seja, uma gigantesca bandeira vermelha. Quase
interminável! E haviam também suas intenções ocultas que Andrew não conseguia ler
totalmente. Não importa de qual jeito você olhe para isso, Nathaniel era alguém suspeito
demais para simplesmente ir conversar sozinho em um canto.

Entretanto, Andrew não estava sóbrio.

Chapter End Notes

E foi isso.

A maior parte do capítulo vem do próprio livro em inglês e eu tambem misturei com a
versão traduzida da Galera Record — o Doe virou De Tal, por exemplo.

Reservei as notas finais para dar alguns avisos!

1 — Eu nunca escrevi nem planejei uma história tão longa quanto essa provavelmente
vai ser, então eu posso cometer muitos erros e me perder em algumas coisas, me
desculpem.

2 — Também sobre erros, eu não tenho uma pessoa para me Betar nem nada, então é
meio que certeza que eu vou deixar um ou dois erros passarem, me desculpem desde já!

3 — Eu gosto muito de metáforas e de comparar as coisas (os olhos verdes de Jean


como esmeraldas, por exemplo!), mas já recebi comentários dizendo que isso era
chato/confuso, então venho me desculpando logo no começo por esse vício de escrita.
Vou tentar melhorar e diminuir essas comparações o máximo que eu puder, mas vou
manter as que são importantes para a história (Andrew com olhos de águia, porque ele
realmente tem olhos muito bons!).

4 — Andrew pode ter uma personalidade mais ooc nessa fanfic. Neil está fora das
Raposas e eu preciso de alguém para provocar Riko com sua boca de sacola maldita,
então tornei Andrew um personagem muito mais falente do que o normal. Ele ainda é o
mesmo em todo resto.

5 — Os capítulos não vão ser sempre grandes como esse. Tenho um capítulo de 900
palavras já escrito e ele é só isso. Espero que vocês não se incomodem.
6 — Por enquanto, eu não tenho data pra postar. Pretendo lançar esse primeiro capítulo e
o segundo, depois fazer uma pausa e só lançar o terceiro quando terminar de escrever o
5, no qual eu estou agora, e ir seguindo essa regra de escrever um capítulo, postar um
capítulo, escrever, postar... Mas, como meu jeito de escrever é confuso e desorganizado
igual a minha vida, não posso prometer nada em nenhuma data fixa. Eu vivo assim, na
incerteza...

7 — Essa fanfic vai abordar os temas pesados do livro e mais alguns outros tão pesados
quanto. Se eu escrever algo que você não gostarem por achem ofensivo, que tenha
passado dos limites, se tornado problemático ou qualquer coisa negativa desse tipo, por
favor, me avisem! Sou um ser humano e estou propenso a cometer erros. Não me
crucifiquem antes de me dar a chance de aprender com meus erros.

E é isso! Até o próximo capítulo.


Um Corvo em pele de Raposa
Chapter Notes

Então, temos aqui o segundo capítulo! Esse segue o pov do Neil e eu vou tentar fazer a
fanfic desse jeito: um capítulo pov Andrew, outro Neil, depois Andrew de novo e assim
se segue!

See the end of the chapter for more notes

Capítulo Dois — Neil.

Depois de checar todas as cabines para garantir que não tinha ninguém ouvindo, o ruivo
encostou-se em uma das pias do banheiro masculino e esperou Andrew trancar a porta. Feito
isso, Andrew encostou-se na porta com os braços cruzados.

Sozinhos, Nathaniel deixou-se encarar o loiro mais diretamente. Antes, com todas as raposas
reunidas na mesa, Andrew assumiu uma clara postura de proteção: se sentou bem perto de
Riko, a mais clara ameaça, e manteve as costas firmes e corpo pronto para receber qualquer
que fosse o ataque direto ou indireto. Agora, no entanto, ele estava em uma postura de
ataque: braços cruzados para esconder os punhos fechados, pés firmes no chão para manter o
equilíbrio e ter uma reação rápida.

Menos de dez palavras trocadas e ele ja leu Nathaniel como uma ameaça. Rápido e esperto.

"Isso porque ele está drogado", Nathaniel pensou.

— Sendo sincero, eu achei que você não ia vir.

— Se você me chamou para dar alguma mensagem idiota de Riko, saia agora e não me faça
perder mais tempo.

— Eu não falo por ele.

Andrew ergueu uma sobrancelha.

— É mesmo? Você parecia muito disposto a falar por ele mais cedo.

— Eu não queria dizer a maioria daquelas coisas — negou com a cabeça. — Bom, pelo
menos não daquele jeito. Apenas uma ou duas verdades misturadas com agressividade para
agradar Riko. Espero não ter ofendido você.

Por mais arrogante que pudesse soar, Nathaniel não estava mentindo. Andrew notaria se
estivesse e provavelmente viraria as costas sem pensar duas vezes, então precisava ser o mais
sincero possível.
Se Andrew se ofendeu ou não, ele não deixou transparecer em seu rosto. Não importa para
onde Nathaniel olhasse, tudo era apenas uma pura e limpa expressão de desinteresse —
mesmo quando ele sorria, não havia qualquer diversão notável lá.

— Não me ofendeu — disse Andrew. — Mas, se você enrolar muito para falar o que quer,
vou ficar entediado.

— Direito ao ponto, então?

A única resposta que recebeu foi um leve aceno de cabeça. Nathaniel fez um certo esforço
para engolir o nó que se formou em sua garganta.

— Kevin confia em você — ele disse. — Não faz muito tempo que vocês se conhecem e ele
não costuma confiar nas pessoas tão rápido, mas confia em você.

— E?

— E ter a confiança de Kevin diz muito sobre você — pontuou. — Eu, sinceramente, não sei
o que ele viu, Minyard. Para mim você parece só um cara que não entende sobre a situação
em que se meteu e por isso continua brigando com Riko sem medo das consequências. Acho
que Kevin não tinha outras opções e você estava disponível, por isso acabaram como estão.

Andrew não pareceu se abalar com as palavras de Nathaniel, então ele continuou:

— Mas, ainda assim, não posso negar que Kevin escolheu confiar em você.

— Você fala bastante sobre Kevin — Andrew apontou. — Não me diga que todos os Corvos
são pequenas cópias da dependência emocional de Riko?

— O que eu quero dizer — Nathaniel o ignorou totalmente — é que Kevin não confiaria em
você sem nenhuma garantia. Você provavelmente é bom.

Andrew se afastou da porta, braços cruzados e queixo erguido. Ele encarou Nathaniel por
alguns segundos, mas foi como estar na mira de um falcão.

— Você fala muito. Tem algo que você quer de mim, não é? — ele perguntou, mas soava
como uma certeza. — Diga de uma vez.

Se Nathaniel não fosse tão bom em esconder suas emoções, ele teria arregalado os olhos.
Andrew Minyard realmente tinha os olhos de uma águia.

— Você está certo — Nathaniel disse. — Te chamei aqui porque quero fazer um acordo com
você.

— Um acordo?

— Você protege Kevin de Riko porque vocês fizeram um acordo, certo?

Os ombros do loiro ficaram tensos.


— Como você sabe disso?

— Kevin me contou.

— Mentiroso — ele cuspiu.

— Kevin e eu temos uma relação complicada. Não importa o quanto eu tente te explicar,
você não entenderia e nós só perderíamos tempo. Saiba que não temos segredos entre nós,
mesmo que ele não seja mais um Corvo.

O loiro não disse mais nada. Com seus fuzilantes pares de olhos castanhos-claros — era um
pouco de verde que Nathaniel estava vendo perdido lá? —, Andrew tirou seu tempo para
examiná-lo assim como o próprio Nathaniel já havia feito. Seja lá o que ele encontrou ou
deixou de encontrar, seus ombros relaxaram de repente e sua postura voltou ao estado
despreocupado de antes.

— E o que você quer exatamente, pequeno Corvo? — zombou, repetindo o apelido do


mesmo jeito ridículo que Riko.

Nathaniel soltou o ar. Ele nem notou que tinha prendido a respiração.

— Quero que você adicione outra pessoa no seu pacote de proteção.

— Deixa eu adivinhar: Jean Moreau?

Nathaniel sorriu nervoso.

— Como você sabia?

— Difícil não notar quando você fica planando ao redor dele o tempo inteiro como um
cachorro na coleira — deu de ombros.

Pelo visto os olhos de Andrew eram mais competentes do que Nathaniel achava que eram.
Ele tinha tentado ser discreto sobre sua relação com Jean, mas Andrew pegou as migalhas de
seu quebra cabeças impossível e juntou com muitíssima facilidade.

Nathaniel fez uma lista mental para tomar mais cuidado com Andrew Minyard.

— Bingo — estalou a língua no céu da boca.

— Eu não sei você, mas não tenho o super poder de me transformar em uma mosca e passar o
dia inteiro voando na merda do Moreau. Kevin está sempre comigo porque é uma Raposa.
Jean é um Corvo. Como exatamente você espera que eu o proteja?

— Jean não vai ser um Corvo por muito tempo — garantiu. — Três meses e ele estará fora.
Vou fazer com que ele saia. Você tem que convencer seu treinador a aceitá-lo nas Raposas.

Andrew franziu o cento e semicerrou os olhos, encarando Nathaniel como se ele fosse um
idiota.
Nathaniel entendia sua confusão. Jean era o número quatro da corte perfeita e Riko não tinha
motivos para deixá-lo sair tão cedo. Andrew provavelmente achava que ele estava mentindo e
planejando alguma coisa a mando de Riko, então Nathaniel apressou-se em explicar:

— Confie em mim, eu tenho alguns privilégios dentro do Ninho. Vou tirar Jean de lá e Riko
não vai fazer nada sobre isso.

— De qualquer forma, mesmo que isso fosse verdade, o que te faz pensar que seu Corvo se
encaixaria?

— Jean nunca foi um Corvo de verdade.

Não, Jean não era um Corvo. Ele era algo. Uma moeda de troca. Um item que pertencia aos
Moriyama e, por escolha deles, foi forçado a ser um Corvo. Jean não nasceu preso no Ninho
como Nathaniel e Kevin. E ele não merecia morrer lá dentro.

— Tenho certeza que ele vai se adaptar depois de um tempo — o ruivo garantiu. — Confie
em mim, eu sei o que estou dizendo. Jean e Kevin não são tão diferentes, então ele não vai te
dar trabalho.

— Difícil confiar em um Corvo.

Os ombros de Nathaniel tremeram.

— Eu dou minha palavra que vou cuidar de tudo. Você só tem que aceitar o acordo.

— Sua palavra e um saco de lixo são o mesmo pra mim.

Nathaniel inspirou fundo, prendendo o ar, depois expirou lentamente. Ele não podia perder a
compostura. Não na frente dessa Raposa astuta.

— Então, te dou algo em troca.

— O que?

— Qualquer coisa que você quiser. Pode pedir. Diga qualquer coisa e, se estiver ao meu
alcance, será sua… Não, mesmo que não esteja ao meu alcance, se me der um pouco de
tempo, será sua.

Andrew cantarolou e levou uma mão ao queixo, fingindo pensar. Nathaniel mal inspiro
novamente, prendeu o ar, e expirou. "Mantenha a calma", ele pensou.

— Um favor.

O ruivo piscou.

— O que?

— Você vai ficar me devendo um favor. Que tal?


O Corvo fez uma careta. Você tinha que ser muito ingênuo para simplesmente aceitar dever
um favor a Andrew Minyard, o goleiro drogado das Raposas fudidas de Palmetto. O cara que
passou três anos em um reformatório e recusou-se entrar em Edgar Allan mesmo Kevin e
Riko tendo ido convidá-lo pessoalmente.

Pensando bem, não era ingenuidade: era idiotice.

— Tudo bem — concordou, porque Nathaniel Wesninski sempre foi conhecido por ser o mais
idiota de todos. — O que você quer?

Andrew sorriu.

— Vou cobrar isso quando eu quiser, Corvo.

——————

Nathaniel saiu do banheiro cinco minutos depois de Andrew, voltando para o salão e
ocupando seu lugar ao lado dos Corvos como se nunca tivesse saído de lá. Nenhum dos
veteranos realmente notou sua ausência, exceto Jean, que deu-lhe uma cotovelada assim que
chegou perto.

— Onde você se meteu?

— Banheiro — Nathaniel deu de ombros.

— Com o Goleiro das Raposas?

Nathaniel estalou o pescoço. Jean não era tão competente quanto Andrew, que o leu como um
livro aberto, mas também notava todos os seus passos.

— Apenas conversando.

— Com o Goleiro das Raposas? — repetiu, o tom de voz mais baixo e mais tenso.

— Só batemos um papo rápido — deu de ombros. Jean claramente não estava acreditando,
então o garoto se apressou em mudar de assunto. — Como Kevin parecia para você?

— O de sempre — disse. — Quer dizer, ele não parecia realmente uma merda como você
falou, mas não estava na melhor. Ele ainda parecia um Corvo pra mim.

— Um Corvo em pele de Raposa — Nathaniel brincou. Jean fez uma careta pela péssima
piada. — É compreensível, já que não faz muito tempo que ele saiu do Ninho. Ainda assim,
não parecia que ele estava se adaptando bem ao novo time?

Jean semicerrou os olhos para ele.


— Não, — cuspiu, como um padre ouvindo uma blasfêmia. — do que você está falando?
Kevin é um Corvo assim como você e eu.

— O contrato dele com a Universidade de Palmetto State diz outra coisa.

— De que importa o contrato? Um Corvo é um Corvo e ponto final.

Nathaniel sorriu com tristeza.

— Você soa como Riko.

Jean travou. Ele abriu a boca para contestar, mas nada saiu. Mesmo que doesse, era verdade.

— Eu não quis soar assim. É só a verdade, você sabe tanto quanto eu.

— Jean, — chamou, tocando seu ombro com gentileza. — Pense bem, se você pudesse
escolher entre ser ou não um Corvo, o que você escolheria?

— Você fala como se eu pudesse ser qualquer outra coisa… Um Corvo é tudo que eu sei ser.

— Kevin me disse a mesma coisa e veja só.

Jean encolheu os ombros. Nathaniel sabia o que estava pensando — na verdade, quase podia
ouvir as peças do seu cérebro girando e girando, vários E se surgindo em meio a névoa dos
diversos Nunca que foram enfiados na sua cabeça desde que entrou no Ninho. Os "Eu nunca
poderia deixar de ser um Corvo" e "Eu nunca poderia ser nada além de um Corvo", de
repente estavam se tornando "mas e se eu deixasse de ser?" e "mas e se eu pudesse?".

Nathaniel sorriu e deu um tapa no ombro de Jean, puxando-o de volta para a realidade.

— Vou te dar um presente daqui três meses.

— O que? — Jean franziu as sobrancelhas, sua linha de pensamentos interrompida de


repente, depois bufou como um touro. — Cara, porque você continua mudando de assunto do
nada?

Nathaniel riu.

Chapter End Notes

Só Deus sabe a dureza que é escrever um Pov do Neil, principalmente como um Corvo...
eu sempre sinto que ele está sendo ooc! Até o final dessa fanfics eu já vou ter sofrido
tanto que terei pago todos os meus pecados de todas as vidas e vou poder ascender aos
céus como um Deus da pureza.
Emoji sorridente
Chapter Notes

Oi, oi. Eu voltei.


E eu ainda não tenho Beta. Corrigi o capítulo, mas sempre deixo algo passar, então
desde já me perdoem por qualquer erro de digitação e tals...

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Capítulo três — Andrew.

Andrew saiu do banheiro e caminhou diretamente para a saída, ignorando todas as poucas
pessoas que se aproximaram dele com mãos estendidas e sorrisos falsos. Quando finalmente
saiu do salão de festas e deixou pra trás todo barulho chato de vozes e música, enfiou uma
mão no bolso da calça e tirou de lá um pequeno pedaço de papel com um número e um nome.
Andrew encarou as letras bonitas antes de amassar o papel em uma pequena bola, jogando-o
de uma mão à outra.

O número de um pequeno Corvo interessante. Andrew tinha muitos motivos pra


simplesmente arremessar a bola de papel na primeira lata de lixo que encontrasse — afinal,
ele não deu seu número ao Corvo, então o que ele poderia fazer? —, mas esse pequeno
pedaço de papel poderia ser a carta na manga que definiria a vitória ou a derrota de Andrew
nesse jogo contra Riko. E, já que Kevin está enfiado até o pescoço em toda merda de Riko,
quanto mais cartas Andrew tiver contra os Corvos e os Moriyama, melhor.

Andrew guardou o papel no bolso e caminhou de volta para o vestiário das Raposas, onde
Abby e Kavin provavelmente estavam.

Andrew passou pela porta e Kevin Day deu um pulo, assustado, se virando rapidamente para
encarar a porta, ombros tensos e olhos arregalados. Ele suspirou aliviado ao ver que era
Andrew e não qualquer outro fantasma que ele estivesse esperando ver.

— Você demorou.

Andrew cruzou os braços e o encarou, olhando Kevin de cima a baixo. Ele e o outro tinham
muito o que conversar, mas não era preciso olhar duas vezes para dizer que o álcool ainda
estava fazendo efeito no corpo do moreno. Agora não era o melhor momento para perguntar a
Kevin sobre qualquer coisa. Amanhã, sim, quando ele estiver sóbrio e não tropeçando nos
próprios pés.

E sua paciência também não estava tão nas alturas assim. Andrew só queria tomar um banho
gelado e deitar em sua cama quentinha.

— Onde está Abby?


— Ela foi buscar os outros. Wymack disse que já tivemos bastante merda por hoje, estão
estamos indo mais cedo – Kevin trocou o peso de uma perna para a outra. – O que aconteceu
depois que eu saí?

Andrew deu de ombros.

— Renee cuidou de tudo – E apontou para a porta de saída. – Vamos embora. Eu ja tive o
suficiente de socialização por hoje. Eu e você vamos ter uma conversa super divertida
amanhã.

Kevin juntou as sombrancelhas, confuso e ansioso.

— O que eu fiz de errado?

Andrew bufou, murmurando:

— Conversamos amanhã. Vamos logo. Tente não cair de cara no chão.

Kevin puxou o ar, enchendo o peito.

— Eu não estou bêbado.

— Sim, sim. Claro que não.

Como se para provar seu ponto, Kevin deu passos firmes até a porta com o queixo erguido e,
mesmo andando um pouco torto, ele não caiu. Andrew revirou os olhos quando Day passou
por ele e fez uma expressão que só poderia ser lida como "Viu só?".

Eles voltaram para o ônibus. Alguns minutos depois, Abby e as outras Raposas também
estavam ocupando seus assentos vazios, Wymack estava girando a chave na ignição e o
ônibus estava, finalmente, saindo de volta para a Universidade de Palmetto State.

Ninguém notou o jeito que Kevin tombou para o lado no assento vazio, pegando no sono
quase que imediatamente e dormindo a viagem inteira.

Quando o ônibus parou, Andrew puxou tanto sua mochila quanto a bolsa de Kevin, jogando
uma em cada ombro. Kevin estava esperando por Andrew encostado no ônibus e, seja pelo
ônibus sacolejando durante todo percurso, os acontecimentos da festa ou a quantidade
considerável de álcool correndo por seu cérebro, ele parecia prestes a vomitar.

Andrew não o ajudou a subir as escadas e também não andou mais devagar para esperar por
ele, deixando Kevin seguir no próprio ritmo. Quando o moreno abriu a porta do dormitório,
Andrew já estava com os cabelos pingando, uma toalha molhada em uma mãos e uma bola de
roupas amassadas na outra.

— Não vomite no tapete – disse, jogando a bola de roupas na cara de Kevin. – Tome um
banho frio e durma. Se precisar de um remédio pra enjoou ou dor de cabeça, chame por
Aaron. Absolutamente não me acorde, ou eu vou te matar. Sua ressaca de amanhã vai ser
horrível e meu humor, pior ainda.
Andrew se virou, entrou no próprio quarto e fechou a porta. Antes de se deitar para dormir,
no entanto, enfiou a mão no bolso da calça e puxou uma pequena bola de papel amassado,
pegou o celular e discou uma mensagem.

A.M:

Andrew deixou o celular no silencioso e enfiou a cara no travesseiro. Recebesse ou não uma
resposta, sua cabeça já estava começando a doer, então por hoje ele já atingiu o limite.

——————

Andrew acordou com Kevin batendo na porta como o desgraçado que ele era. Se levantou
com uma carranca de poucos amigos, viu que o céu lá fora ainda estava escuro e teve o
pequeno impulso de abrir a porta do quarto só para estrangular Kevin Day até a morte. Talvez
ele conseguisse fugir e virasse um foragido, talvez ele fosse preso de novo. De qualquer
forma, valeria a pena.

Aaron se remexeu na cama de cima quando Andrew se levantou, revirando de um lado para o
outro e transformando-se em uma bola de lençol com cabeça e cabelos loiros bagunçados
caindo no travesseiro. Andrew estava morrendo de inveja, porque ao invés de agir como uma
pessoa normal com ressaca e se enfiar debaixo dos lençóis o dia inteiro, os malditos hábitos
de Corvo obrigavam Kevin Day a levantar primeiro que a porra do Sol, correr direto para o
estádio e treinar até a dor de cabeça obrigá-lo a parar.

E isso, obviamente, significa que Andrew tinha que acordar e dar carona pra ele.

— Viciado de merda — Andrew xingou antes de bufar e caminhar em direção ao banheiro.

Pelo menos, sua dor de cabeça passou. Um banho gelado para acordar seu corpo preguiçoso e
ele estava pronto paa sair. Antes, enfiou a mão debaixo do travesseiro e puxou o celular,
pronto para enfiá-lo direto no bolso até ver a notificação brilhando na tela. A mensagem tinha
vindo ontem a noite, e dizia:

N.W:

Um ponto? Jeito idiota de começar uma conversa.

Andrew de repente sentiu sua dor de cabeça voltando. Ele digitou uma resposta curta:

A.M:

Foda-se.
A tela do celular brilhou novamente. Foi estranhamente rápido — Quase que no mesmo
minuto que Andrew apertou o botão de enviar, Nathaniel já estava digitando. Não como se
ele apenas estivesse com o celular na mão, mas sim como se ele estivesse com sua sessão de
mensagens aberta, apenas esperando pela resposta de Andrew.

N.W:

Bom dia pra você também, Minyard.

Andrew fingiu não ver pelo bem do seu já péssimo humor matinal, pois a última coisa que ele
precisava era de outro idiota com personalidade de Corvo perturbando seu juízo durante a
manhã, e bloqueou o celular, colocando-o no bolso. Kevin estava esperando por ele na frente
da porta, encostado na parede com as mãos dentro dos bolsos da jaqueta e os ombros
encolhidos. Quase dava pra ver a dor de cabeça dele correndo e pulando pelo corredor. O
Minyard bateu a porta do quarto com força de propósito e Kevin se encolheu, fazendo uma
careta e resmungando um palavrão.

— Vai se fuder, Andrew! — era a voz abafada de Aaron vindo de dentro do quarto.

Andrew pegou as chaves do carro no chaveiro de parede e saiu, Kevin caminhando as suas
costas. Fez questão de bater a porta do carro com força e ligar o rádio em volume alto.

— Você é tão babaca – Kevin resmungou, se afundando no branco do passageiro como se


isso fosse ajudar a abafar o som alto.

Andrew tamborilou os dedos no volante.

— Sim, você não sabia? Pensei que fosse óbvio.

— Sabia, sim. As vezes eu apenas me esqueço.

— Erro seu.

— Totalmente minha culpa. Agora você pode, por gentileza, abaixar o volume?

Andrew aumentou ainda mais, deixando no máximo. Kevin teve de gritar acima das vozes e
instrumental estridente do Day6 em Shoot Me, soando quase choroso:

— Jesus Cristo, Andrew! — Ele levantou as duas mãos e tentou tapar as orelhas, travando a
mandíbula. — Qual o seu problema?!

Andrew pisou no freio com tanta força que o carro balançou. Kevin, como um idiota que
nunca usa cinto de segurança, voou para frente e quase bateu o rosto no painel, olhando para
Andrew com uma expressão horrorizada. Atrás deles, vários carros estavam buzinando
agressivamente. Kevin até ouviu alguém xingar alto.

— Meu problema? — Andrew falou calmamente, tirando as mãos do volante pra cruzar os
braços e fingir pensar. — Ah, sim. Acho que eu tenho alguns problemas. E você, Kevin, com
certeza é um deles. O pior, se paro para pensar. Em uma escala de “Pessoas que mais fodem
com a vida do Andrew”, você ficaria com o próprio lugar.
— O que? — Agora, Kevin estava tenso. — Do que você está falando?

— E você ainda se faz de bobo — Andrew riu alto, girando a chave na ignição e desligando o
carro. — Estou falando sobre seu querido amigo Corvo, Nathaniel Wesninski, ou você achou
que podia esconder sua amizade com o fantasma da corte perfeita até a morte, Kevin?

Kevin arregalou os olhos, surpreso, e quando falou, sua voz soava tensa.

— Nathaniel falou com você?

— Trocamos algumas palavras no banquete.

— Eu… — Ele gaguejou. — Não é que eu estivesse escondendo isso. Eu não posso te contar
nada sobre ele sem permissão.

Andrew riu. Kevin não pode contar nada sobre Nathaniel para ele, mas pode falar sobre ele
com Nathaniel?

— Temos um maldito acordo, Kevin. Sem mentiras e sem segredos.

— Eu sei disso — ele suspirou. — Mas isso é difícil. Nathaniel… Ele não é apenas um
Corvo.

Como uma mosca zumbido em seus ouvidos, uma vozinha maluca criada pela ausência dos
remédios sussurrou que Kevin nunca mais falaria nenhuma merda se Andrew apenas jogasse
o carro para fora da estrada na próxima curva.

Andrew apertou o volante com tanta força que seus dedos ficaram brancos.

— Você não vai mais esconder coisas de mim, entendeu?

Kevin assentiu freneticamente. Andrew ligou o carro e seguiu seu destino. Os ombros do
príncipe do Exy ainda estavam tremendo um pouco quando Andrew estacionou em frente ao
estádio das Raposas e disse:

— Vá em frente e treine até cair morto. Quando terminar, vamos conversar sobre Nathaniel
Wesninski.

— Eu já disse que não posso…

— Foda-se, Kevin.

Como se esperando por uma deixa, seu celular vibrou no bolso. Andrew lembrou-se de tirá-lo
do silencioso antes de sair.

— Pode ir — disse para Kevin, que não hesitou em descer sem esperar por ele, caminhando
em direção ao estadio com o rosto pálido e os ombros caídos em antecipação pela conversa
que teriam mais tarde.
Andrew esperou Kevin passar pelas portas antes de desbloquear o celular. Na tela, sem
nenhuma surpresa, estava uma mensagem de Nathaniel.

N.W:

E Kevin?

A.M:

Treinando, graças aos hábitos malditos

da sua seita desgraçada.

Nathaniel enviou um emoji sorrindo. Andew o achava tão malditamente insuportável que se
viu obrigado a responder com outro emoji: uma mãozinha amarela mostrando o dedo do
meio.

N.W:

Vou perguntar de novo a noite.

A.M:

Não pense que vou responder todas as suas

mensagens como se fossemos amiguinhos.

N.W:

Vou perguntar mesmo assim.

Andrew revirou os olhos antes de bloquear o celular e sair do carro, entrando no estádio e
caminhando direto para as arquibancadas, apoiando o quiexo na palma da mão e encarando
com desinteresse o pequeno pontinho moreno que era a cabeleira de Kevin Day no meio do
estádio laranja e branco das Raposas.

Seu celular vibrou outra vez.

N.W:

Está sendo muito difícil pra ele?


Andrew subiu os olhos da tela para o estádio. Kevin, com a raquete na mão direita, fez um
movimento básico de jogar a bola na parede e rebater quando ela recocheteasse, mas a bola
quicou para longe do seu alcance. Ele bateu o pé e se virou para buscá-la, tentando de novo.
A bola quicou para longe de novo. Ele a buscou outra vez, e outra, e outra, até finalmente
conseguir rebater a bola.

A.M:

Ele vai ficar bem.

N.W:

Ótimo.

E saiu da conversa. Nenhuma outra mensagem veio até Kevin já estar caído no chão,
completamente exausto, e o Sol estar brilhando forte acima de suas cabeças. Andrew não
queria parecer interessado, então esperou alguns minutos antes de desbloquear o celular e
visualizar as mensagens.

N.W:

O que você vai pedir?

Digo, como seu favor.

A.M:

Preocupado?

N.W:

Eu deveria estar?

A.M:

Bastante.

Nathaniel enviou outro emoji sorridente.

Chapter End Notes

1 — A Tag "Kevin Day precisa de um abraço" não está lá atoa, sabe...


2 — Andrew Minyard é kpoper, obviamente. Olhem para esse cara e me digam que ele
não toma banho ao som de She's In The Rain do The Rose, então eu vou dizer que você
tá mentindo.
End Notes

É basicamente All For The Game com algumas peças mudadas de lugar. No começo vai
parecer que não mudou nada e realmente não, mas a ausência do Neil nas Raposas faz muita
diferença a longo prazo. Espero que vocês gostem.
> Fanfic postada também no Watppad no perfil @CH012AN, se você gosta de ler por lá fique
a vontade.

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