Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a
transmissão total ou parcial, sob qualquer forma. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. Querido leitor,
Foi muito divertido escrever a história de Edward e Vicky. O romance
que eles vivem também representa uma oportunidade de mudar várias concepções, e sem dúvidas, ambos precisarão repensar algumas coisas para que possam encontrar um belo final feliz. Desejo-lhe uma ótima leitura! Com carinho, Jhonatas Nilson. Capítulo 1 Victoria Andrews Gutiérrez sabia que ele era proibido. Sabia que entregar-se aos seus encantos significava trair a própria família. Mas o ato de desejá-lo simplesmente movia os seus instintos. A noite estava agradável. Era possível ver ao menos uma centena de rostos conhecidos que iam desde empresários à especialistas da área de marketing e administração. Vicky fora convidada para representar as empresas da família Andrews. Sendo a única herdeira de todo o império, era o seu dever estar presentes em eventos como aquele. Eventos em que era possível aumentar a rede de networking e fortalecer parcerias. No entanto, ela não esperava encontrá-lo entre todos aqueles rostos. Não esperava e não queria, pois sabia que Edward Reid era proibido. Para sempre seria. A verdade era que os Andrews e os Reids eram inimigos há décadas. Todos no mundo dos negócios sabiam, de forma muito clara, que uma família odiava a outra, e que pareciam sempre estar enfrentando algum tipo de batalha comercial. Tudo começara cerca de oitenta anos antes, quando o patriarca do império Andrews se negara a aceitar uma parceria no ramo do petróleo com os Reids. Aquilo desencadeara uma série de embates desde então, e com o passar dos anos e das gerações, a competividade apenas aumentava. O grande problema era que Vicky se perguntava como seria tê-lo em sua cama sempre que o via nos meios midiáticos. De forma secreta, detinha o desejo de conhecer mais sobre aquele homem, ainda que ele fosse proibido. Portanto, por serem inimigos de sangue, ela acreditara que nunca teria a oportunidade de tê-lo para si. Mas tudo mudou no instante em que, segurando duas taças de champanhe, Edward caminhou em sua direção como se fossem velhos amigos. — A mais irresponsável dos Andrews decidiu fingir um pouco de interesse com os negócios da família? — Com um sorriso ameaçador e cínico, ele levantou uma das taças, oferecendo-a em silêncio. Edward tinha os olhos cinza que lembravam uma tempestade ao anoitecer. Seus cabelos, negros, eram cortados ao estilo militar, e a barba parecia perfeitamente feita. Na mão esquerda havia um tigre tatuado que cobria toda a pele. O animal representava o símbolo do império da família. Naquela noite, ele trajava um black-tie com aparência cara, e os sapatos sociais completavam o traje. — Suponho que você não me conheça para afirmar coisas assim. — Como se para desafiá-lo, ela aceitou a taça de champanhe com um sorriso tão cínico quanto o dele. —Devo admitir que você é bonita. — O comentário soou ridículo aos ouvidos dela. — Está solteira, Victoria? Ela bebericou um pouco do champanhe e ficou em silêncio por alguns segundos. Trajava um vestido longo e negro com alguns detalhes brilhantes. Seu braço esquerdo era coberto por tatuagens, dando-lhe um ar rebelde e desafiador. Os olhos, sedutores e extremamente atentos, eram em tons de musgo. Tudo nela remetia à rebeldia. Sua aparência era selvagem e sedutora, parecendo sempre chamar para a luxúria. Pura e simplesmente por causa da sua aparência, Vicky passara a ser julgada como uma rebelde sem causa e uma ninfomaníaca irresponsável e sem controle. O que a mídia, e as pessoas, não costumavam compreender, de fato, era que Vicky enxergava o próprio corpo como algo que somente ela detinha poder. Ninguém tinha o direito de opinar em suas escolhas, ou julgar suas tatuagens. — Eu estou solteira, Edward. — Ela levantou o queixo. — E você? Está solteiro? — É claro que sim. Dando de ombros, Vicky caminhou por entre as pessoas, esperando que ele a seguisse. Seguiram até chegar ao jardim. O ar era fresco e um pouco frio. — Está fugindo? — Não quero ser vista com alguém como você. — Ela sabia que as pessoas certamente comentariam. E tudo o que ela menos desejava era que surgissem polêmicas ao seu respeito. Agora que estava atuando ativamente em algumas das empresas da família, sabia que cuidar da própria imagem era extremamente necessário. Imprescindível. — Alguém como eu? — Ele a tocou no braço. —As brigas das nossas famílias não necessariamente impedem que tenhamos algo. Ouvir aquilo fez com que o coração dela retumbasse. De repente, suor surgiu nas palmas das suas mãos e a garganta ficou seca. Sim, ela o desejava. Desde o primeiro momento, quando o vira em uma entrevista anos antes, soubera que desejava prová-lo. Nem que fosse apenas por uma noite. Mas ceder representava correr riscos. Representava trair a própria família em nome da luxúria. Sucumbir era o mesmo que reafirmar todas as falsas crenças acerca dela. Por isso, Vicky tinha medo. Medo dos julgamentos e das consequências futuras de tudo aquilo. — Acha realmente que eu aceitaria sair com você? — Ela revirou os olhos, fingindo impaciência. — Na verdade, você é o último homem na terra com quem eu aceitaria sair algum dia. — Toda essa aversão exacerbada está relacionada à briga estúpida que nossas famílias têm há décadas? — Ele terminou de beber o champanhe. — Ou há alguma razão mais específica? — Eu não o conheço. —Talvez seja hora de conhecer.
Quando a avistara, Edward soubera que se tratava de uma Andrews.
Soubera que evitá-la era a melhor escolha. Mas de repente, como se para desafiar a si mesmo, o enorme desejo de tentá-la surgiu em sua mente. Não era difícil afirmar que Victoria Andrews era a mulher mais bela de todo o evento. Com seu corpo curvilíneo e aparência selvagem, tornava-se praticamente impossível simplesmente não olhar. Não admirar. — Não quero conhecê-lo. — Apesar de dar o melhor de si para parecer decidida, Vicky percebeu que sua voz soou quebradiça. — Se me permite, talvez seja hora de encerrarmos esta conversa. Falando isso, Vicky deu-lhe as costas e caminhou pelo jardim, adentrando os corredores da grande construção antiga que mais parecia um castelo. Seus saltos estalavam de encontro ao piso enquanto ela caminhava rapidamente. — Um beijo. — Ele a segurou no braço mais uma vez. —Se for capaz de resistir ao meu beijo, certamente deixarei de importuná-la. Vicky sentiu um arrepio percorrer seu corpo. De repente, algo entre as suas pernas pareceu latejar um pouco, como se sofresse em antecipação. A voz de Edward era rouca, intensa, e parecia chegar ao mais íntimo. A proposta de um beijo, apenas um beijo, parecia deliciosa demais para negar. — Eu nunca seria capaz de imaginar que Edward Reid clamaria por um beijo meu. — Ela riu com falso escárnio. — Não estou clamando. — Levando-a para a parte obscura de um dos corredores, ele a pressionou contra a parede. —Este é um jogo que certamente você é incapaz de vencer. Um jogo. Vicky definitivamente adorava desafios. E não podia negar que Edward parecia ser um desafio deliciosamente atraente. — Você sabe que se algum fotógrafo nos flagrar aqui, sozinhos e juntos, uma polêmica explodirá nos jornais do país inteiro, não sabe? —Ela afastou uma das mãos dele, que estava pressionando a sua cintura. — Eu pagarei o preço. Os homens sempre saem ilesos de tudo isso. Certamente, você será visto como o garanhão incontrolável, o CEO sedutor. E eu? Eu serei a puta, a vagabunda e vadia que traiu a família por uma noite de sexo com o inimigo. — Ninguém irá nos flagrar. Vicky nascera na Santo Domingo, capital da República Dominicana, e somente aos dezessete anos fora trazida para viver, em definitivo, nos Estados Unidos. Por isso, seu sotaque espanhol enquanto falava inglês era acentuado. E tal detalhe parecia sexy aos ouvidos de Edward. — Como pode ter tanta certeza? Ele sorriu e passou lentamente um dos dedos por entre os longos cabelos negros e brilhantes que cobriam um dos olhos de Vicky. — Eu simplesmente sei das coisas. — Ele se aproximou um pouco mais, roubando todo o fôlego dela. Vicky tinha a pele morena. Seus olhos cor de musgo pareciam encantadores, e os lábios, cheios, chamavam para um beijo. — Você é um idiota. — Ela o empurrou, afastando-se. — Idiota assim como todos os Reids que conheci. —Conheceu? — Ele riu, irônico. — Eu não me lembro de ter visto você acompanhada de ninguém da minha família antes. — Nem quero. — Com passadas largas, ela se enredou por entre os corredores escuros e abriu uma das portas, encontrando um pequeno depósito de bebidas. Ela entrou e fechou a porta atrás de si, dizendo para si mesma que não queria que ele viesse atrás dela. Mas a verdade? A verdade era que Vicky queria, com todas as forças, que Edward compreendesse o recado e abrisse a porta. Queria que, com aquela voz sedutora, ele insistisse um pouco mais. Desejá-lo era um erro. Um pecado. Mas aquela oportunidade era um sonho antigo. E, mesmo que as consequências pudessem ser perigosas, Vicky começava a dizer para si mesma que apenas uma noite era o bastante. Poucos segundos depois, a porta do depósito se abriu e se fechou. Passadas lentas quebraram o silêncio. Vicky estava de costas, com as duas mãos na cintura. A luz, de uma lâmpada antiga, era fraca. — Não negue o seu desejo. — Ele se aproximou um pouco mais. — Posso sentir na sua respiração a falha tentativa de manter o controle. — Pode? — Ela se virou, olhando fixamente nos olhos dele. — Perca o controle comigo esta noite. Ela sorriu. —Faça com que eu me perca. Edward a empurrou contra a parede e obedeceu. Capítulo 2 As polêmicas acerca de Vicky começaram anos antes quando vazaram um suposto vídeo íntimo de uma mulher muito parecida com ela. Desde então, jornais e revistas de fofoca buscavam, a todo custo, destruir a pouca reputação que ela tinha. Por isso, Vicky nunca se relacionara, profundamente, com um homem. Por isso, tratara de estudar e se aperfeiçoar, lutando contra o machismo e enfrentando as falsas acusações que giravam ao redor do seu nome. No entanto, mesmo sendo formada em administração pela Harvard e tendo um MBA em gestão de pessoas, sendo reconhecida com honrarias pela universidade como uma aluna destaque, a mídia procurava sempre focar na sua aparência, no seu corpo e no falso vídeo íntimo que vazaram tanto tempo atrás. As tatuagens que preenchiam seu braço e a sensualidade exacerbada advindas do seu sangue latino pareciam ser muito mais importantes do que a sua inteligência e esforço. E aquilo, sem dúvidas, frustrava Victoria. Quando Edward pressionou seu corpo contra o dela e a beijou, uma mistura de emoções tomou seu corpo. Medo. Ela estava com medo. Depois de ser julgada por tanto tempo, era simplesmente impossível não temer beijar o inimigo. E se ele estivesse com algum tipo de plano mirabolante para suborná- la? E se planejasse revelar tudo aquilo às revistas de fofoca? Desde que recebera a autorização para atuar nas empresas da família, a mídia começara a respeitar Vicky um pouco mais. Eram passos lentos e extremamente demorados. Ela certamente não queria perder seu avanço. Sem pensar duas vezes, ela passou as mãos pelo corpo masculino, buscando algum tipo de gravador. Não encontrou. Mesmo assim, ainda beijando-o, agarrou o celular no bolso da calça e o empurrou logo em seguida. — O que diabos você está fazendo? — Perguntou ele, soando frustrado e até mesmo um pouco surpreso. Com mãos trêmulas, ela ativou a tela do celular e percebeu que o gravador não estava ativado. Por segurança, desligou o aparelho. — Prefiro não correr riscos. — Ela voltou a colocar o celular no bolso dele. —Você é paranoica. — Ele passou uma das mãos nos cabelos, claramente alterado pelo desejo. — Sou cuidadosa, é diferente. Estou construindo uma carreira. Pessoas já tentaram sujar o meu nome antes. E eu sei que também já tentaram sujar o seu, o mundo dos negócios é complicado. Não posso simplesmente confiar. Você é meu inimigo. A sua família sempre tentou prejudicar a minha. Ele colocou as duas mãos no bolso e balançou a cabeça em negativa. — Eu não estou disposto a perpetuar essa ideia de inimizade. Não tenho nada a ver com que o meu tataravô, ou sei lá quem, fez milhares de anos atrás. — Ele soltou o ar dos pulmões. — Pelo amor de Deus, Victoria. Você sequer me conhece e me odeia simplesmente porque sabe que o meu sobrenome é Reid. Qual o sentido de tudo isso? Edward assumira o controle das empresas da família cerca de dez anos antes. Agora, aos trinta e cinco, parecia cada vez mais seguro de que manter uma briga entre impérios simplesmente por tradição era patético e completamente improdutivo. Ela ficou em silêncio por alguns segundos, pensativa. — E por que diabos você está tão interessado em mim? — Vicky era extremamente desconfiada e cuidadosa. — Existem uma centena de mulheres lá fora. E muitas delas certamente ficariam muito felizes em dormir com você. — Nenhuma delas me chamou tanto a atenção. — Ele se aproximou um pouco mais. —Foda-se o seu sobrenome. Foda-se o que as pessoas pensam. Estamos só nos dois aqui, e eu quero você. Agora. Edward nunca era rejeitado. Estava acostumado a dar ordens e a ser obedecido. Por isso, a relutância de Vicky fazia com que ele interpretasse tudo aquilo como um jogo. Um jogo que ele queria ganhar, afinal perder nunca fora uma opção. — Eu não sou um objeto, Reid. Não sou um brinquedo que você pode decidir comprar agora e jogar fora depois. Se eu beijei você, foi porque eu quis. E se eu não quiser passar disso, você não poderá fazer nada para mudar a minha escolha. — Ela pressionou o indicador no peito dele. —Não sou qualquer uma. —Pelo que li nos jornais, você é, sim, qualquer uma. Já vazaram vídeos seus. Realmente acha que pode se fazer de difícil? Naquele instante, ódio pareceu borbulhar dentro dela. Em um só golpe, ela lançou um tapa contra o rosto de Edward, fazendo-o dar dois passos para trás. — Mesmo que eu tivesse dormido com mil homens, ainda sim você não teria o direito de me desrespeitar. — Olhe bem para a forma com que você se veste... — Com uma das mãos na bochecha vermelha, ele abriu um sorrisinho de desprezo. — Mulheres como você servem apenas para diversão. Ela levantou a mão para lançar outro tapa, mas dessa vez ele segurou- lhe o braço. — Mulheres com vestidos longos, mulheres com decote, mulheres com saias curtas. Mulheres nuas. Prostitutas, empresárias, religiosas e ateias, sexualmente ativas ou não, intelectuais e camponesas — Vicky sequer conseguia controlar a própria respiração, tamanha era a sua raiva. — Todas, Edward, todas merecem respeito. E se você não é capaz de me respeitar, então sequer merece estar em minha presença. — Só posso fornecer respeito a quem age e se veste de forma respeitável. — Ele a pressionou contra a parede. — Ah, sim? — Ela o empurrou, mudando de lugar e fazendo com que ele ficasse contra a parede. — E certamente você está agindo de forma respeitável, certo? Correndo atrás de mim como um cachorrinho no cio. Olhe bem para você, Edward. Patético. Simplesmente patético. Quantos anos você tem? Cinco? Não conseguiu o brinquedinho, então agora vai fazer birra. Ela se aproximou o suficiente. Os lábios estavam muito próximos. Era possível sentir a respiração descontrolada dele. — Eu sou homem. — E eu sou mulher. — Ela pousou a mão em sua nuca. — E tudo o que eu fizer a partir de agora, é porque eu quero fazer. Porque o corpo é meu. E se você acha que eu sou puta por aceitar dormir com você, então saiba que eu considero você uma puta por aceitar dormir comigo. Ele ficou completamente em silêncio, atônito. Nunca fora tão insultado e desafiado. E mesmo assim, mesmo com palavras tão cortantes e diretas, Edward sentiu como se tudo aquilo servisse apenas para que a atração ficasse ainda mais forte. Incontrolável. — Eu sou o que você quiser. Apenas cale-se. Ela sorriu, observando o desejo crescer dentro dele. Lentamente, levantou a cabeça e voltou a beijá-lo. Aquela era a primeira vez em mais de cinco anos que Vicky beijava um homem. Era a primeira vez que se permitia perder o controle. Talvez se arrependesse depois. Talvez tudo aquilo tivesse resultados horríveis. Ou talvez, aquela fosse apenas uma noite de sexo sem compromisso e nada mais. — Primeiro me insulta e em seguida espera que eu siga as suas ordens. — Ela interrompeu o beijo. Queria parecer forte, mas era simplesmente impossível. O desejo que sentia por Edward era antigo e avassalador. Por isso, sua voz soava frágil demais, um tanto insegura. — Eu fui ensinado a dar ordens. — Ele respondeu, pressionando uma das mãos na cintura dela, puxando-a para si. Ela sentiu a ereção dele pulsar por trás do tecido da calça. — E não estou acostumado a ser desobedecido. — Olhe só que ironia do destino... — Ela sorriu, olhando fixamente na direção dele. — Os meus pais me ensinaram a quebrar a cara de homens como você. Ele levantou a mão e segurou os cabelos negros, puxando para trás, fazendo com que Vicky levantasse o queixo. Lentamente, passou a língua pelo pescoço, mordiscando a pele, sentindo a pulsação descontrolada. Preguiçosamente, ele abaixou o tecido do vestido, tocando os detalhes do sutiã, indo cada vez mais longe. — Quero você na minha cama. — Ele ordenou. — Quero possuir você. Hoje. Agora. Ela voltou a abaixar a cabeça e sorriu. — Eu também quero você. — Na verdade, ela queria Edward há anos. Mas isso, obviamente, nunca seria dito em voz alta. — Eu definitivamente quero você. — Vamos para o meu apartamento? — Ele passou a língua entre os lábios. Gostoso, pensou ela. Edward era, sem dúvidas, um homem gostoso. — Sim, vamos. — Ela voltou a subir o tecido do vestido, tentando fazê-lo voltar ao normal. — Você sai primeiro e em seguida eu saio. Não quero ser vista com um homem como você. — Um homem como eu? — Sim. Na verdade, eu sequer sabia que ainda existiam homens das cavernas. — Ela lançou uma piscadela na direção dele, sarcástica. — Vamos de uma vez. Vicky tinha força, percebeu ele. Era admirável. E, aparentemente, por cima daquela roupa sensual e por trás das tatuagens que lhe cobriam o braço, havia uma mulher cheia de surpresas. De repente, mesmo sem nenhuma pretensão, percebeu que queria conhecê-la melhor. Queria muito mais do que apenas uma noite de sexo. — Sim, vamos de uma vez. — Ela voltou a pegar o celular no bolso dele e salvou o próprio contato. — Me envie o endereço do seu apartamento por mensagem. Agora, pode sair primeiro. Sem esperar, ele deu as costas e se encaminhou na direção da porta. — Reid? Ele parou de caminhar e olhou para trás. — Existe um pequeno detalhe que você precisa saber sobre mim. — Ela passou uma das mãos pelos cabelos. — Segundo você, eu não mereço respeito por aparentemente ser fácil, correto? Ele ficou em silêncio, agora se sentindo um pouco envergonhado pelas próprias palavras. — Eu sou virgem, Reid. — Ela colocou as duas mãos na cintura em tom de desafio. —Agora vá e reflita sobre essa informação. Vejo você mais tarde. Capítulo 3 Quando Edward por fim conseguiu sair do evento, caminhou na direção do estacionamento e adentrou no Lamborghini preto brilhante. A voz de Victoria ainda ecoava em sua cabeça, quase como um feitiço que servira para domá-lo por completo. Eu sou virgem. Ele definitivamente nunca seria capaz de imaginar tal fato. Victoria tinha, de maneira quase palpável, a sensualidade exacerbada, e o olhar sedutor sempre seria algo capaz de capturar qualquer homem. Portanto, era impossível sequer supor que uma mulher como ela seria virgem. De alguma forma, sentia-se estúpido pelas palavras grosseiras que falara momentos antes. Talvez, apenas talvez, ela não merecesse todo o preconceito que girava ao seu redor. Dando partida no carro desportivo, Edward cortou as ruas de Nova York. Morava no East Side, em um apartamento que tomava dois andares inteiros. Não que ele precisasse de tamanho espaço. Vivia sozinho e como viajava constantemente entre uma reunião e outra, dificilmente dormia em casa. Mas, mesmo assim, um Reid precisava manter as aparências, e certamente um apartamento luxuoso era essencial para a demonstração de poder na realidade em que ele precisava viver. Ao chegar, puxou a gravata e abriu os botões da camisa. Um pouco impaciente, tirou uma garrafa de vinho tinto da pequena adega e separou duas taças. Victoria era virgem, pensou repetidamente. Ele nunca estivera com uma virgem antes, nunca sequer quisera ter tal experiência. Mulheres virgens usualmente esperavam pelo homem certo. E definitivamente, ele não era o homem certo. As pessoas certas não existiam. A vida era tão cheia de caminhos, erros e acertos, que a possibilidade da existência de uma pessoa certa, para ele, em algum lugar do mundo parecia extremamente surreal e improvável. Conseguir encontrar a pessoa certa era como tentar contar todas as estrelas do céu. Impossível. Edward não era um homem dado aos relacionamentos. Não tinha tempo para amenidades, e romances, para ele, não passavam de uma grande perda de tempo. Durante a sua infância, pudera ver de perto as consequências de um casamento. Seu pai, Charles Reid, se casara com Violet Reid ainda muito cedo. No início, pelo que diziam, estiveram imensamente apaixonados um pelo outro. Mas depois, tudo mudou. Violet tinha vinte e cinco anos quando engravidou. Sentira-se, de fato, muito feliz com a chegada de Edward. Tanto que sua atenção era dedicada apenas ao bebê, e Charles apenas aproveitou-se da situação para buscar outras mulheres que esquentassem a sua cama. Quando descobrira a primeira traição através de um paparazzi que cobrara uma fortuna para não divulgar as fotos, Violet ficara literalmente destruída. Perdera peso, quase nunca saía e parecia haver envelhecido uma década em apenas alguns meses. Mas mesmo com tamanha tristeza e decepção, nunca deixava de cuidar do pequeno Edward, dedicando todo o seu amor e carinho ao filho. Com o passar dos anos, as traições tornaram-se cada vez mais e mais comuns. Violet já não comentava coisa alguma, mantendo o casamento apenas para evitar um tremendo escândalo no mundo comercial. Dez anos após a primeira traição, Violet, Charles e o pequeno Edward estavam de férias, aproveitando o verão em um rancho luxuoso no interior do estado de Montana. Charles desaparecera por horas, e Violet decidira, ao lado de Edward, buscá-lo montada em um cavalo. Demoraram vários minutos e, por fim, o encontraram com uma linda e jovem funcionária, beijando-se apaixonadamente ao ar livre entre algumas árvores. Edward ainda podia lembrar, de forma muito clara, o olhar decepcionado de Violet. A dor. Naquele dia, pela primeira vez, compreendera que o ato de amar machucava. Trazia fraqueza. E por isso, nunca amaria alguém. Nunca se entregaria tanto quanto Violet fizera por Charles. Naquela mesmo dia, ao anoitecer, Edward encontrara Violet morta dentro da banheira, com um pote vazio de calmantes atirado ao chão e uma garrafa de uísque quebrada. Sendo apenas um garoto, Edward inicialmente simplesmente não soubera o que fazer. Gritara, clamando que sua mãe acordasse, mas nada fora o suficiente. Nenhuma oração, nenhuma lágrima fora capaz de trazê-la de volta. Com os olhos vermelhos, buscara a recepção e pedira ajuda. E Charles só chegara horas depois, bêbado e com uma mancha de batom no colarinho branco. Por isso, Edward nunca prometia mais do que podia dar. Era um bom amante, sabia disso. Fazia sexo como poucos. Mas ao amanhecer, partia sem olhar para trás e dispensava todas as mulheres que passavam por sua vida. Amar era perigoso. Por isso, não queria correr o risco de se enxergar tão frágil, cego por um sentimento estúpido. E tampouco permitia que as mulheres que passavam por sua cama se apaixonassem. Durante as horas de prazer, Edward era um amante quente e extremamente atencioso. Mas quando a luxúria terminava e a realidade regressava com os raios de sol, ele se tornava um homem frio e distante. Impiedoso. Nenhuma mulher se apaixonara por ele até agora. E certamente ele nunca se apaixonara por ninguém. Por isso, a visão que formara de Victoria durante a festa parecera perfeita. Ela aparentava ser uma mulher bem resolvida, fácil e sem grandes complicações. Aparentava ter exatamente o necessário para uma noite de sexo quente. Mas então, sem mais nem menos, ela decidira anunciar a própria virgindade. Quem, pelos céus, poderia ser virgem na idade dela? Eu sou virgem, Reid. Quando ouvira as palavras, pensara em desistir. Em simplesmente ir embora e buscar alguém com mais experiência. Ele não quisera ser o homem que iniciaria a vida sexual de Victoria Andrews, mas ao mesmo tempo, desejá-la parecia algo quase inevitável. Por isso, ele estava disposto a qualquer coisa para tê-la em sua cama. Até mesmo tirar sua maldita virgindade.
Vicky decidiu esperar um bom tempo antes de ir embora do evento.
Sozinha, tomou mais três taças de champanhe e comeu alguns aperitivos. Como já não tinha muito o que fazer, também posou para algumas fotos e deu algumas entrevistas para repórteres autorizados pelos organizadores. Mesmo que fosse difícil admitir, a verdade era que ela estava nervosa. Saber que Edward estava esperando pacientemente fazia com que o sentimento de insegurança crescesse, trazendo certo enjoo. Talvez bebera champanhe demais, mentiu para si mesma. Ninguém duvidava do fato de que ela era uma mulher segura de si. Tanto a aparência selvagem quanto a beleza encantadora formavam um ar de total poder ao redor da sua personalidade. No entanto, o que ninguém sabia, era que Vicky tinha muito medo de dar passos errados quando o assunto estava relacionado à sua sexualidade. Mercedes Gutiérrez, sua mãe, sempre tratara de ensinar que homens podiam ser perigosos. E que nem todos eram tão honrados quanto Logan Andrews, o pai de Vicky. A história da família dela era quase como um verdadeiro conto de fadas. Mercedes literalmente fugira da República Dominicana quando tinha apenas dezoito anos. Filha de um homem extremamente violento e de uma mãe relapsa, decidira que precisava começar a vida em um lugar longe dos próprios pais. A oportunidade chegara através de Dolores, tia de Mercedes. Vivendo em Nova York, Dolores decidira ajudar a sobrinha, trazendo-a para viver ao seu lado. Assim que chegou, Mercedes passou a trabalhar com os Andrews. Logan tinha cerca de vinte e sete anos quando conhecera Mercedes, e se apaixonara com o primeiro olhar. Desde então, tratara de fazê-la sentir-se uma mulher especial. Se casaram um ano depois, indo de encontro à todas as probabilidades. Logan era tão apaixonado pela esposa, que quando ela pedira para voltar a viver na República Dominicana, ele decidira acompanhá-la. Na verdade, Logan seria capaz de acompanhar Mercedes para qualquer lugar que ela desejasse. De volta ao país natal, Mercedes engravidou e Vicky nasceu e cresceu como uma verdadeira latina. Aprendera a valorizar a própria cultura e tivera a melhor educação que o país podia oferecer. Mas quando Vicky completou dezessete anos, tanto Logan quanto Mercedes decidiram voltar a viver fixamente em Nova York. Apesar de amar a esposa, Logan nunca se sentiu verdadeiramente confortável na República Dominicana e ficou realmente satisfeito em poder voltar a fixar raízes nos Estados Unidos. Dali, era muito mais fácil controlar os negócios e, com o passar dos anos, as longas viagens tornavam-se cada vez mais desgastantes, por isso, o melhor era evitá-las. Agora, Vicky tinha vinte e nove anos. E continuava sendo virgem. Tudo porque fora ensinada a não confiar em ninguém, muito menos nos homens. Mercedes crescera com um pai violento e nunca esquecera do trauma. Mesmo tendo Logan ao seu lado, continuou repetindo vez após vez que os homens quase sempre eram sorrateiros e maldosos. Portanto, quando os falsos vídeos íntimos surgiram na internet, Vicky se fechou ainda mais, sem nunca esquecer dos conselhos da mãe. Mas naquela noite, ela estava disposta a esquecer tudo. A se entregar por completo. E mesmo que estivesse sentindo seu coração acelerado e as mãos suadas em antecipação, sabia que desejava fazer aquilo. Sabia que não queria perder a oportunidade de descobrir tudo o que Edward tinha a oferecer. Certamente, na manhã seguinte, tudo seria esquecido. Ela despertaria, voltaria aos próprios afazeres e nunca mais mencionaria a noite ao lado dele. Ninguém precisava saber. Quando por fim decidiu ir embora da festa, ela entrou na SUV preta e dirigiu lentamente, tentando ganhar tempo enquanto os pensamentos giravam em sua cabeça. Ao chegar no endereço indicado, estacionou o carro e esperou até receber a autorização para entrar no prédio. Tudo foi muito rápido. Em um segundo, estava entrando na área do prédio, no outro, pegou-se dentro do elevador, indo de encontro à Edward. As portas do elevador se abriram e deram para um apartamento imenso. Com passadas lentas, quase preguiçosas, ele surgiu com um sorrisinho nos lábios. Edward era lindo, pensou ela. O único homem capaz de fazê-la perder o controle sem nem mesmo tocá-la. — Pensei que havia desistido. — Disse ele, estendendo a mão. Ela segurou-lhe a palma e sentiu um choque percorrer o seu corpo. Desejo. — Eu não costumo desistir daquilo o que quero. — Ela saiu do elevador e, ao lado dele, caminhou pelo apartamento. — Aparentemente, você tem bom gosto. — Por ter escolhido você entre todas as mulheres do evento? Ela sorriu e revirou os olhos. — Não, querido. Se eu estou aqui, é porque eu escolhi estar com você. — Ela relanceou o olhar pelo ambiente. —Estava me referindo à decoração. — Entendi. — Ele parou de caminhar e colocou-se de frente para ela. Com mãos ousadas, passou dois dedos pela pele macia da bochecha. — Acredito que não estamos aqui para falar sobre a decoração do meu apartamento. — Suponho que não. — Ela deu dois passinhos para frente, ficando cada vez mais perto dele. — Mostre-me do que você é capaz, Reid. Ao falar isso, Vicky sentiu todo o corpo estremecer. E quando ele a puxou para si e, juntos, caíram em um dos sofás da sala de estar, ela soube que estava perdida. E se perder ao lado de Edward era exatamente o que ela desejava fazer naquela noite. Capítulo 4 O corpo dele pressionava contra o dela no espaço limitado do sofá. Lentamente, ele pousou os lábios no pescoço feminino, passando a língua lentamente pela pele que parecia tão macia e suave. Sem saber muito o que fazer, ela passou os dedos nas costas dele. Sua respiração estava descontrolada. Queria mais, precisava de mais. — Relaxe, Victoria. — Ele levantou a cabeça, olhando-a nos olhos. —Você pode me chamar de Vicky. E eu estou relaxada. Ele pousou um dos dedos nos lábios dela e sorriu. — Você está pensando demais. — Com um movimento lento, ele puxou o tecido do vestido para cima, revelando cada vez mais. — E se você está pensando tanto, então devo estar fazendo algo errado. — Eu nunca paro de pensar, Reid. — Está me desafiando? O olhar dele levava certo arrepio à pele dela. Lentamente, ele abriu os botões da própria camisa, um por um, revelando o corpo forte, bem definido. No tórax, os pelos negros eram aparados. E, perto do umbigo, havia um caminho de pelinhos que davam na direção do... — Você malha? — Ela perguntou, um pouco tonta. Era difícil saber o que fazer, saber o que falar. Nunca estivera tão perto de um homem antes. Apesar de Edward Reid ser o inimigo da sua família e aparentemente ser um verdadeiro ogro, ele a fazia sentir-se confortável. Era estranho, afinal, sentir-se confortável com o inimigo podia ser perigoso. E Vicky estava adorando a sensação de perigo. A adrenalina corria em suas veias com intensidade cada vez que seu cérebro mandava uma mensagem, avisando que tudo aquilo precisaria ser secreto e esquecido na manhã seguinte. Para sempre. — Sim, eu malho. — Com um sorriso, ele abaixou a calça e em seguida a cueca boxer. Sem perceber, Vicky passou a língua entre os lábios. Edward era... grande. — Reid... — Mesmo que não quisesse parecer tão impressionada, ela estava. O corpo masculino parecia esculpido em mármore. A pele e os pelos eram deliciosos, pareciam chamar ao toque. Vicky queria senti-lo, queria colocar aquele membro rígido e longo na boca. Chupá-lo por inteiro até fazê- lo gozar e gritar de prazer. Gritar seu nome. Mas ela era inexperiente. Temia fazer a coisa errada. — Você continua pensando demais, Vicky. — Quase como se fossem amigos de longa data, ele sentou ao lado dela e passou uma das mãos em seus cabelos. Parecia completamente confortável com a própria nudez. — Nunca estive com uma virgem antes, então espero fazer a coisa certa. — Eu não estou nervosa e não estou pensando demais. — Ela respondeu, na defensiva. Mas sim, ela estava nervosa. E não conseguia parar nem por um segundo. — Vire-se de costas para mim. — Ele voltou a ficar de pé. Sabendo que não tinha muito o que fazer além de obedecer, Vicky se levantou e ficou de costas para ele. Lentamente, Edward abriu o zíper do vestido negro. Aquele gesto pareceu extremamente íntimo para ela. E, estranhamente, ele estava sendo gentil, claramente preocupado com o seu bem-estar. — O tesão de uma mulher começa... — Ele pressionou o pênis duro e latejante contra a bunda dela. — Quando seus pensamentos cessam. O vestido negro caiu ao chão. Vicky se sentiu um pouco exposta, envergonhada. Onde estava a mulher empoderada e cheia de força que ela sempre demonstrara ser? Naquele instante, Vicky era apenas uma versão inexperiente de si mesma. Alguém que decidira confiar no próprio inimigo, doando seu corpo em nome do prazer. Do próprio prazer. — Nesta noite, somos amantes, Vicky... — Ele sussurrou ao ouvido dela, quase como se pudesse ler seus pensamentos. — Não somos inimigos, não somos empresários. Somos apenas amantes. E ver o prazer no seu rosto será o meu prazer. — Me dar prazer é importante para você, Reid? Ele a virou de frente, para que olhassem fixamente um para o outro. Ela abaixou a cabeça apenas para mover os pés rapidamente, empurrando o vestido para longe. — Dar prazer para você é o mais importante esta noite. — Ele a acariciou gentilmente. — Quero que você goze enquanto grita o meu nome... De repente, Edward quis que Vicky fosse sua. Permanentemente sua. Desejou que aquele corpo fosse só seu. Que aquele olhar repleto de força pudesse enxergar apenas ele como homem. Era um desejo insano, ele bem sabia. Ridículo. — Essa noite você é minha, Vicky. — Apenas por essa noite, repetiu para si mesmo. — Por essa noite, eu sou sua. Ele a pegou nos braços e caminhou pelo apartamento imenso. Ao chegar na suíte principal, a pousou na cama com cuidado. O quarto era grande e completamente decorado em tons de cinza e metais prateados. Tinha certo ar futurista, mas, mesmo assim, era impossível reconhecer a personalidade de Edward naquele lugar. Tudo parecia muito impessoal, muito frio, quase que sem vida. Sem permitir que ela continuasse pensando, ele se aproximou e tirou- lhe a calcinha lentamente, jogando-a ao lado da cama. Como se para seguir o processo, ela tratou de tirar o sutiã. Agora, estava completamente nua na frente dele. Completamente exposta. E, perdendo-se por completo, Vicky fechou os olhos quando ele se aproximou e pousou os lábios, levemente, em sua barriga. Os beijos eram lentos, a língua transcorria sua pele, descendo, descobrindo. Vicky sentiu todo o seu corpo reagir no instante em que Edward chegou à sua região sul. Com destreza, ele rodopiava a língua em sua vagina úmida, acariciando com um dedo e em seguida com dois. — Continue... — Ela pousou as duas mãos na cabeça dele, direcionando-o. — Por favor, continue... Vicky tinha a sensação de ir cada vez mais rápido, subindo e subindo. Já não pensava em nada, já não temia nada. Se um dia fora inimiga de Edward, já não lembrava. Quando ela sentiu que estava prestes a despencar das alturas, ele parou, fazendo-a estremecer de desejo, querendo mais. Necessitando. — Reid! — Ela gritou em frustração. — Continue, por favor! Ele voltou-se para ela e a beijou. Era possível sentir o próprio sabor na língua dele. — Você está indo rápido demais, querida... — Enquanto olhava para ela, ele acariciou a entrada úmida com três dedos, rodopiando, tocando-a como nenhum homem fora capaz de fazê-lo. — Eu preciso... — Ela precisava... O quê? Sequer sabia do que precisava. Tudo o que sabia era que seu coração batia de forma acelerada, seu fôlego estava descontrolado e todo o seu corpo parecia estar extremamente sensível. — Quero que você me peça... — Ele sorriu de forma cínica. — Quero que você clame pelo que deseja. — Eu não... — Ela fechou os olhos quando ele fez um movimento brusco que levou uma onda de prazer por todo o seu corpo. — Eu não vou clamar por coisa alguma. Ele estalou a língua. — Ah, não vai? — Ele colocou ambas as mãos dela coladas à cama e em seguida dedicou-se aos seios volumosos. Com intensidade, chupou os mamilos com força, fazendo-a gritar de prazer. — Você é muito sensível, minha querida. Tem certeza que quer resistir? Eu poderia passar a noite toda assim... Ele voltou a chupá-la, passando a língua lentamente e em seguida mordiscando. Para Vicky, aquilo era quase como uma tortura prazerosa. — Por favor, Reid... — Ela clamou, pois já não tinha forças para suportar tamanho desejo. Tamanha necessidade. — Por favor, Reid, eu preciso... — Boa garota. — Ele voltou a descer, rodopiando a língua contra a vagina que parecia cada vez mais úmida e sensível. Vicky era linda, pensou ele. Perfeita. Com destreza, tocava-lhe vez com dois dedos, vez com três. E a cada toque, Vicky gritava. Foram necessários apenas alguns minutos para que ela sentisse como se já não suportasse subir. E de uma hora para outra, caiu, atirando-se em um abismo de prazer. Gritando o nome de Edward enquanto seu corpo estremecia. Ter um orgasmo era como explodir em um milhão de pedaços, se perdendo sem desejar voltar a se encontrar. — Oh, Reid... — Ela se contorceu. Seu corpo já estava suado. Observá-la tão entregue e perdida levou uma onda de desejo crescente aos hormônios de Edward. — Você é uma mulher linda, Vicky. — Ele sussurrou de forma carinhosa, passando as mãos na barriga suada. Surpreendendo-o, ela se levantou, ainda meio frágil e sensível. — Agora é a minha vez. — De repente, a insegurança já não existia. Eles estavam ali com o intuito de um dar prazer ao outro. E, sem dúvidas, ela queria ouvi-lo clamar seu nome também. As inseguranças podiam surgir depois, mas não agora. Tomando o poder, ela o empurrou na cama e parou apenas alguns segundos para observá-lo. O corpo forte, os pelinhos aparados, os olhos selvagens que esboçavam desejo. Tudo em Edward Reid parecia perfeito. Os braços eram fortes, e por alguns instantes Vicky se perguntou como seria perder-se em seu abraço. Mas logo tratou de dissipar aquilo. Não fazia sentido. Não eram amigos, nunca seriam. Na manhã seguinte, tudo aquilo terminaria. Portanto, tinha que aproveitar a noite até que tudo acabasse por completo. Ela passou as mãos pelo corpo também suado, sentindo os mamilos masculinos duros de tesão. — Você pensou que eu seria a única que clamaria, não é? — Ela sorriu e segurou o pênis duro e pesado. Ele definitivamente era um homem grande em cada significado da palavra. — Você não vai me fazer clamar por coisa alguma, Vicky. — Mulher alguma tentara tomar o poder durante o sexo. Por isso, ele estava com ainda mais tesão. A imagem daquela mulher deliciosa segurando seu pênis, prestes a chupá-lo com tamanho anseio fazia com que ele quisesse possuí-la por completo. Naquele instante e por toda a noite. — Acho que nós dois amamos o poder. — Ela fez movimentos de vai e vem, masturbando-o lentamente. — Você já teve os seus momentos de poder. Agora é a minha vez. Ele balançou a cabeça em afirmativa e decidiu apenas deixar-se levar. — O poder é seu. Faça o que quiser comigo. Capítulo 5 Victoria se sentia liberta. Pela primeira vez em muitos anos, era como se enfim pudesse ser ela mesma, descobrindo a própria sexualidade sem que se sentisse culpada. Sem que precisasse reprimir os próprios desejos para não ser julgada. Tudo aquilo parecia muito irônico, afinal o homem desnudo com quem estava dividindo a cama era Edward. O mesmo Edward que demonstrara ser um machista arrogante e preconceituoso. Como era possível sentir-se liberta ao lado de um homem como aquele? Simplesmente não conseguia entender, mas naquele instante, ele não lembrava em nada o Edward que conhecera na festa. No entanto, ao receber total poder de controlar a situação, pensamentos surgiram em sua mente. Como poderia ter o controle, o poder, se sequer sabia o que estava fazendo? —Nunca fiz isso antes. — Admitiu ela, parando de masturbá-lo e afastando-se um pouco. Sentiu-se um pouco patética por não ter experiência alguma, enquanto ele, parecia muito certo acerca de tudo o que estava fazendo. — O quão inexperiente você é, Vicky? — Percebendo a insegurança dela, ele se sentou na cama. — Sou totalmente inexperiente. — Ela deu de ombros. — Nunca sequer passei dos beijos com homem algum. — Me parece impossível que uma mulher tão segura e sensual como você simplesmente não tenha se relacionado sexualmente com ninguém. Vicky suspirou e, aproveitando que estavam em um momento de pura sinceridade, decidiu dizer a verdade. — Como mulher, tenho total noção de que sou eu quem dito as regras acerca do meu corpo. E quando decido não ter sexo, essa também é uma escolha minha. Uma regra criada por mim. — Ela passou os dedos em uma das pernas dele, sentindo a pele quente. — Às vezes, por defender o ideal de que as mulheres merecem e devem ter o controle acerca do próprio corpo, os homens pensam que isso significa que eu faço sexo com qualquer um. Que eu sou fácil. Mas na verdade, esse controle acerca do próprio corpo está muito mais relacionado às coisas que elas querem ou não fazer, no momento que lhes convém. As mulheres não devem se casar virgens caso não queiram. Mas, também, caso queiram, essa é uma escolha íntima e muito pessoal. Você consegue me entender? — Para você, mulheres que fazem sexo com qualquer um não são fáceis? — Não existe mulher fácil, Edward. Existe a mulher que quer ou não fazer sexo. — Ela fez uma pequena pausa e olhou diretamente para ele. — Chamar uma mulher de fácil por ela fazer sexo quando sente vontade é completamente injusto. Talvez aquele não fosse o momento para tal debate, mas, mesmo assim, pareceu-lhe adequado. Edward tinha a expressão um tanto surpresa, como se nunca houvesse pensado através daquele viés. — Faz sentido. — Comentou ele. — Eu fui um babaca com você, não fui? — Sim, foi. — Desculpe. — Tudo bem, Edward. Mas saiba que muitas das suas ideias devem mudar. Nós, mulheres, não precisamos esperar pela autorização dos homens para fazer sexo. Na verdade, já não precisamos de autorização para coisa alguma. — Mas por que você decidiu esperar por tanto tempo? Não faz sentido. — Por respeito. — Ela abaixou um pouco o olhar. — Por muitos anos, sofri preconceito. Por ser latina. Sendo mulher, a mídia sempre tentou mostrar o meu lado sensual, se esquecendo de todo o resto. Se eu não transei, foi por respeito à minha família, por ter medo de fazer algo errado e manchar o sobrenome dos meus pais. As pessoas são más, Edward. Inventam coisas, sufocam. Eu sempre tive muito medo de decepcionar os meus pais. Podia parecer até um pouco engraçado que poucos minutos atrás ambos estavam perdidos entre o desejo e o prazer. Agora, desnudos e confortáveis, conversavam sobre assuntos quase intocáveis. — Quando eu assumi as empresas da família, os jornais disseram que eu não seria capaz de suportar a pressão. Segundo eles, eu tive apenas sorte. — Edward fez uma expressão de escárnio. — É sempre muito fácil criticar, Vicky. Mas não devemos deixar de fazer o que sonhamos. — Eu sei. Por isso estou aqui, com você. De alguma forma, senti que queria que você fosse o meu primeiro, mesmo que você seja um idiota arrogante. — Obrigado por confiar em mim. Ela balançou a cabeça. — Mas eu não confio em você, Reid. — Colocou alguns fios de cabelo atrás da orelha. — Estou aqui, mas temo me arrepender amanhã ao acordar. — Preciso que você compreenda uma coisa sobre mim — Ele ficou de joelhos na cama, de frente para ela. Lentamente, se aproximou até que os lábios ficassem muito próximos. — Eu sou amante de apenas uma noite. O que acontece nesse quarto, fica nesse quarto. Amanhã, quando o sol nascer, você será apenas mais uma. Esquecida, um número. Vicky não queria se importar com aquilo, afinal não sentia nada por ele. Mas mesmo assim, ouvir aquelas palavras fez com que algo dentro dela se entristecesse um pouco. Ela era apenas um número. Seria esquecida. Enquanto ele, seria o seu primeiro. O homem que ficaria gravado para sempre em sua memória. — Ótimo. — Mentiu ela, engolindo em seco. — Não quero que o maior inimigo da minha família se apaixone por mim. — Eu me apaixonar por você? — Ele estalou a língua e riu. Levantou uma das mãos e a pousou no peito de Vicky, sentindo as batidas aceleradas do coração. — Talvez seja melhor que você tome cuidado. — Realmente se acha tão apaixonante, Reid? — Sem dúvidas. Ela o empurrou, fazendo-o cair entre os travesseiros. — Você é apenas um machista babaca. — Então o que você está fazendo na minha cama? Busque um homem melhor. — Ele tinha a expressão de desafio na face. Vicky passou as unhas no peito dele, e em seguida desceu, até voltar a segurar o pênis, que aos poucos começava a endurecer novamente. — Infelizmente, você é um machista babaca muito, muito gostoso. E eu não quero perder a chance de te ensinar algumas coisas esta noite. — Ah, sim? Me ensine. Estou esperando. Sem quebrar o contato visual, ela inseriu o membro duro na boca, rodopiando a língua, chupando-o com vontade. Era difícil tê-lo por inteiro, pois o membro era grande e grosso. Surpreendendo-a, ele a segurou pelos cabelos, forçando-a a ir cada vez mais fundo, chegando muito perto da base por vários segundos até que ela perdeu o fôlego e se afastou, sugando o ar dos pulmões. — Tem certeza de que nunca fez isso antes? Ela sorriu e voltou a masturbá-lo. Seu olhar era sexy, sempre muito convidativo. — Às vezes, já nascemos com alguns talentos. Talvez esse seja um deles. — Ela o chupou novamente, masturbando a base, lambendo a glande. Os movimentos iam cada vez mais rápidos, até o momento em que ele soltou um gemido de prazer. — Estou quase gozando, pare... — Você me deu o poder, Reid. — Ela voltou a chupá-lo, acariciando os testículos com uma mão enquanto com a outra fincava as unhas na coxa. — Vicky... Sabendo que ele estava muito perto de perder o controle, parou. Em seguida, o beijou com força e sussurrou. — Quero que você me possua. Agora. Edward se levantou e Vicky deitou entre os travesseiros. Ele se afastou apenas para pegar uma camisinha dentro da carteira e voltou rapidamente. Abriu o pacote e vestiu-se. —Quero que você continue assim, calma. — Ele se posicionou entre as pernas dela. — Apenas relaxe. Isso vai doer um pouco. Ela fechou os olhos e tentou controlar a respiração, sentindo seu coração acelerar quando Edward se posicionou entre as pernas dela. Lentamente, ele inseriu centímetro por centímetro. E, de fato, aquilo machucava. Muito. Mesmo com tanto cuidado, o membro de Edward era grosso e a entrada dela não estava acostumada com a invasão. — Mais devagar. — Ela fincou as unhas nos lençóis. De repente, lágrimas de dor surgiram em seus olhos. — Por favor, mais devagar. Preocupado com o bem-estar dela, ele diminuiu ainda mais a velocidade dos movimentos. Tudo acontecia muito lentamente. — Olhe para mim, Vicky. Você está ficando tensa outra vez. Ela abriu os olhos. A visão daquele homem, tão forte e delicioso, causou algo dentro dela. Desejo. — Tão apertada... — Ele passou dois dedos perto da entrada, acariciando. — Você está molhada, Vicky. Você quer isso. Eu sei que quer. — Sim, eu quero. Sim, ela queria. Queria muito. Os minutos se passaram e lentamente a dor foi se misturando ao prazer. Logo, apesar do desconforto, ela começou a gostar. Começou a querer um pouco mais. Sempre mais. — Continue... E ele continuou, aumentando um pouco os movimentos. Sem que nem mesmo ela pudesse perceber o que estava acontecendo, minutos mais tarde, seu corpo estremeceu outra vez em um orgasmo ainda mais intenso que o primeiro. Ela gemeu o nome dele e fechou as pernas ao seu redor, fazendo-o ir cada vez mais fundo dentro dela. E, com os sons guturais de prazer, ele também chegou ao ápice, entregando-se. Completamente perdido. Ele deitou ao lado dela, virando para o lado contrário, completamente sem fôlego. De costas, falou com a respiração entrecortada. — Não queria machucar você. — Você não fez nada de errado. — Ela também se virou para o outro lado. Ambos ficaram de costas um para o outro. — Obrigado pela noite, Vicky. — Obrigado por ter sido um bom amante, Edward. Após isso, horas mais tarde, entregaram-se ao prazer mais duas vezes e, pouco depois das três da manhã, dormiram completamente afastados um do outro. Não podiam criar vínculos. Tudo acabaria com o nascer do sol. Capítulo 6 Vicky despertou na manhã seguinte quando os raios de sol começaram a ficar fortes demais, adentrando levemente por entre as persianas do quarto. Ela abriu os olhos e ficou imóvel por um longo tempo, perdida por alguns instantes, perguntando-se onde estava. E então, a realidade chegou à sua mente como um raio. Havia feito sexo com Edward Reid. Na verdade, havia feito sexo mais de uma vez com Edward Reid. Dormira com ele, em sua cama, e permitira-se simplesmente se entregar ao inimigo. A ressaca moral assolou seus pensamentos, fazendo-a sentir-se culpada. Desrespeitara a própria família, pensou. Ignorara as possíveis consequências e seguira em frente como se nada importasse, apenas o prazer. Lentamente, movimentou-se na cama e olhou para o lado. Reid estava ali, dormindo confortavelmente, completamente nu. Nada cobria a sua masculinidade. O corpo forte e um tanto musculoso coberto por pelinhos negros. A barba que agora estava por fazer. A expressão relaxada no rosto adormecido. E... o pênis duro, que latejava como sinal de uma ereção matinal. Tudo naquele homem parecia delicioso e atrativo. Algo dentro dela retumbou. Desejo. Envergonhada, Vicky se levantou da cama tentando não fazer barulho algum. Pegou o vestido, os sapatos e tratou de sumir daquele lugar o quanto antes. No entanto, quando ela terminou de se vestir e chegou à sala de estar passando uma das mãos na tentativa de arrumar os cabelos bagunçados, sentiu uma pontada em seu coração. Não queria partir. Se fosse sincera consigo mesma, admitiria que, na verdade, gostaria de conhecer um pouco mais acerca de Edward Reid. Entender mais daquele homem e descobrir o que estava por trás do empresário. Como amante, ele fora carinhoso e sedutor, demonstrara completa preocupação com os desejos dela, sempre preocupado em fazê-la se perder no prazer. Aquilo tinha que significar alguma coisa. Certamente, Edward não era totalmente ruim, pois enquanto estiveram juntos naquela cama, ela pôde enxergar uma visão dele que até então sequer imaginara existir. Mas mesmo que não quisesse partir, Vicky sabia que precisava tomar uma atitude. Ele fora bem claro que nada daquilo poderia seguir adiante. Ela não passava de um número. Respirando fundo, seguiu em frente, colocando os sapatos e caminhando pela sala de estar. Chamou o elevador e entrou. Olhou uma última vez para a área do apartamento que agora parecia muito maior com a luz do dia. As portas se fecharam. E Victoria partiu, deixando Edward dormindo. Sabia que estava fazendo um favor para ambos. Não precisariam ter conversas desconfortáveis, não voltariam a se ver. Tudo estava terminado, e certamente ninguém saberia. Agora, tinham um segredo juntos. Mas se partir era a escolha certa, então por que ela sentia algo dentro dela doer? Por que ela sentia que tentar estreitar a amizade talvez fosse uma melhor opção? Não sabia. E provavelmente nunca saberia. Edward tivera a melhor noite de sexo da sua vida. Ainda podia se lembrar da forma inocente e sedutora com que Vicky agia, fazendo-o perder o controle. Fazendo-o querer ser controlado por ela. Ainda com os olhos fechados e com um sorriso de relaxamento nos lábios, passou levemente a mão no espaço ao seu lado, tentando encontrá-la, mas a palma perpassou entre os lençóis. O espaço estava vazio. Ele abriu os olhos e, comprovando o fato, deu-se conta de que Vicky já não estava ao seu lado. Maldita. Furioso, levantou-se da cama e procurou no banheiro, na cozinha e em todo o resto. Vicky não estava em lugar algum. Ela o abandonara. Mesmo que negasse, não era difícil admitir que aquela era uma atitude esperada. Vicky era claramente uma mulher muito segura das próprias atitudes e certamente não estava disposta a enfrentar o próprio inimigo quando, na verdade, podia facilmente partir sem olhar para trás. Talvez, Edward não devesse sentir a fúria que crescia dentro dele naquele momento. Talvez estivesse exagerando. Mas mesmo assim, agora trajando apenas uma cueca boxer branca, sentou-se no sofá da sala de estar e pegou o celular. Digitou e apagou, digitou e apagou, digitou e apagou. Por fim, escreveu a mensagem e enviou de uma vez. Despertar e partir antes do dono da casa é extremamente grosseiro. Enviou a mensagem e se arrependeu no mesmo instante. O que estava pensando? Victoria Andrews era apenas mais uma das mulheres que haviam passado por sua cama, mas com a pequena diferença de que fora ela quem decidira partir ao amanhecer, deixando-o sozinho. Sem sequer se despedir. Bom dia, Edward Reid. Espero que tenha dormido bem. Ainda tem o meu número e se lembra do meu nome? Devo admitir que estou surpresa. Quase posso ouvir as suas palavras da noite anterior ao dizer que eu era apenas mais um número e que na manhã seguinte eu seria esquecida. PS: Já passa das doze. Realmente acordou só agora? Estava cansado, não? Beijos haha Ele ficou boquiaberto com a ousadia dela. Com a audácia. É trabalhoso dar prazer à uma virgem. Ela demorou alguns minutos para responder. Hm haha Não transe com uma virgem na próxima vez. Beijos. Edward sabia que ela o estava desafiando. Sabia que queria testá-lo. O grande problema era que ele odiava que se desfizessem dele. Ele detinha o controle. Sempre era ele quem partia. Pensativo, decidiu já não responder coisa alguma. Trataria de esquecê-la e seguiria em frente. Certamente, com o passar das semanas, ela sentiria falta do seu toque, da sua maneira de fazer sexo, e o buscaria. Quando o buscasse, Edward estaria pronto para fazê-la gritar seu nome outra vez. Estaria pronto para deixar muito claro que fora ela quem viera buscá-lo. Com isso em mente, largou o celular em cima do sofá e partiu para o banheiro, tomando uma ducha rápida. Mal podia esperar para vê-la rastejando aos seus pés. As mulheres sempre rastejavam após uma noite com ele. Capítulo 7 Vicky buscou Edward cerca de seis semanas após a noite que tiveram. Fato surpreendente, afinal ela não pretendia, de forma alguma, reencontrá-lo algum dia. Trajando um terninho da Dior negro com detalhes brancos, saltos também negros e com uma pequena bolsa Chanel, ela adentrou no prédio de uma das empresas controladas pela família Reid. Não tinha certeza se ele estaria lá, mas esperava, verdadeiramente, que tivesse sorte o suficiente de encontrá-lo. As temperaturas estavam elevadas naquela manhã e Vicky começava a se sentir um pouco arrependida de haver decidido deixar os cabelos soltos. Fazia calor e sentia-se um pouco desconfortável. Pegou o elevador e subiu até o andar principal. Tudo naquele lugar representava elegância. A marca Reid em formato metálico estava em uma das paredes e os tons do ambiente pareciam tão imparciais quanto as do apartamento de Edward. Aproximando-se de uma das secretárias, Vicky notou o olhar surpreso da mulher loira de peitos avantajados e olhos azuis. — Bom dia, senhorita Andrews. — Disse a secretária, incapaz de ocultar a surpresa. Parecia impossível, para qualquer pessoa que trabalhasse no ramo, avistar uma Andrews visitando um dos aglomerados comerciais dos Reids. — Bom dia. Gostaria de encontrar-me com Edward Reid. — A voz de Vicky era firme, deixando de forma muito clara que aquele não era um pedido, mas uma ordem. — Temo que o senhor Reid esteja em reunião... — Diga que Victoria Andrews o espera, por favor. Ou melhor, diga que Victoria Andrews o espera agora. E que não posso esperar muito. — Não acha melhor marcar um horário, senhorita? Suponho que o senhor Reid ficará um pouco irritado com a interrupção... — Ele está na sala de reuniões? — Vicky soltou o ar que sequer sabia estar segurando. — Sim, senhorita. Ele está em reunião com alguns funcionários e... — Ótimo, obrigada e tenha um bom dia. — Vicky deu as costas e, estalando os saltos no piso brilhante, saiu caminhando pelos corredores da empresa, em busca da sala de reuniões. A secretária loira praticamente pulou por cima do balcão na tentativa de alcançá-la, mas não conseguiu interrompê-la. De forma abrupta, Vicky abriu com as duas mãos a porta dupla da sala de reuniões. Quatro cabeças, incluindo a de Edward Reid, viraram em sua direção. — Olá, senhores. Preciso conversar com o chefe de vocês. — Ela fez um sinal para a saída. — Odeio interrompê-los, mas quero que saiam. Agora. Naquele instante, ela notou que Edward ficou vermelho, tamanha era a sua fúria. Ele sabia que ela voltaria. Todas sempre tentavam voltar. E ele sempre recusava, afinal uma noite sempre seria apenas uma noite, nada mais do que isso. Apesar de que com Vicky seria diferente. No entanto, nunca seria capaz de imaginar que ela voltaria assim, de forma tão ousada e estupidamente grosseira. — O que diabos pensa que está fazendo? — Edward se levantou da cadeira em que estava sentado, jogando em cima da mesa a pasta de documentos que segurava. Com um olhar ameaçador, caminhou na direção dela, as mãos cerradas tamanha era a sua irritação. Ao se aproximar o suficiente, ele a segurou pelo braço, puxando-a para fora da sala. — Tire as mãos de mim ou eu vou te dar um soco e quebrar o seu nariz. — Ela falou de forma sussurrada, de uma maneira que somente ele escutaria. — Quem deixou você entrar? — Ele a soltou e olhou para o lado. A secretária parecia trêmula e assustada, com medo de ser demitida. — Eu disse que estava em reunião, não disse, Beatrice? — Mas senhor, ela... — Não brigue com a sua secretária. Fui em quem entrei sem autorização. — E quem você pensa que é para entrar dessa forma e interromper a minha reunião? — Eu precisava falar com você e a sua secretária estava tentando me impedir. Você sabe o que eu faço com quem tenta me impedir de fazer alguma coisa? Eu passo por cima, Reid. — Pode voltar para o seu posto, Beatrice. Está tudo bem. — Ele balançou a cabeça de forma positiva para a secretária, acalmando-a. — Eu sabia que você voltaria. Nenhuma resiste. O tom de voz dele soou baixo, para que ninguém ouvisse. — Você realmente acredita que o seu pênis tem algum tipo de doce, não é? Pelo amor de Deus, Reid. Volte para a realidade. Você não é o único homem da terra. — Ela se aproximou um pouco mais. — Diga aos seus funcionários que a reunião está temporariamente cancelada. — Vicky, mulher nenhuma me dá ordens. — Eu estou dando. Ele literalmente ficou boquiaberto. E furioso. — Sente-se e espere. Irei atendê-la quando terminar a minha reunião. — Ele se virou, dando-lhe as costas. Entrou na sala de reuniões e fechou a porta atrás de si, trancando-a logo em seguida. — Desculpem, senhores. Algumas mulheres são simplesmente malucas. No lado de fora, Vicky precisou respirar fundo ao menos umas dez vezes para não chutar a porta e dar um soco bem no nariz de Edward Reid. Aquele homem era uma arrogante, um homem das cavernas grosseiro e extremamente desrespeitoso. Ela o odiava. Simplesmente o odiava. Mas mesmo assim, mesmo tão furiosa, não pôde deixar de perceber a reação que seu corpo tinha com a simples presença dele. Aquilo a enlouquecia. Naquela manhã em especial, a barba dele parecia mais cheia, os olhos mais faiscantes. O cabelo parecia um pouco mais longo e os lábios chamavam para o beijo. E, droga, vê-lo em seu habitat, em um lugar onde suas ordens eram uma verdadeira lei, fazia com que ela simplesmente quisesse tê-lo outra vez. Várias vezes. Como resistir? Impossível. Tentando se acalmar e controlar os próprios nervos, ela se afastou da sala de reuniões e caminhou pelos corredores, esperando pacientemente. Os minutos se passaram lentamente e cerca de quarenta minutos depois, a porta da sala de reuniões voltou a se abrir e os funcionários saíram conversando. Naquele momento, o coração de Vicky retumbou, acelerando. — Entre. — Edward parecia um maldito anjo caído, tamanha era a sua beleza. Ao mesmo tempo, ele estava claramente cansado. — Eu não estou acreditando que você me fez esperar quarenta minutos. — Na verdade, eu deveria ter feito você esperar mais para que aprenda a melhorar essa sua péssima educação. — Ele lançou um olhar de escárnio na direção dela. — O que você quer? Ela se sentou em uma das cadeiras confortáveis e colocou os cabelos para trás. — Você nunca vai aprender a tratar uma mulher, vai? — Não tenho tempo para jogos. — Nem eu. — Ela relanceou o olhar na direção de uma das cadeiras. — Sente-se. Precisamos conversar. Capítulo 8 Edward quase decidira buscá-la alguns dias antes. Quase. Mas, sendo quem era, seu orgulho simplesmente não permitira que corresse atrás de uma mulher que simplesmente sequer demonstrara interesse em vê-lo outra vez. Mas, de fato, ele a entendia, afinal haviam decidido que teriam apenas uma noite juntos. Apenas uma noite. E fora ele quem ditara as regras. Portanto, esperar que ela ignorasse o combinado e voltasse, seria um pouco tolo da parte dele. No entanto, como todas faziam, Vicky voltou. De uma forma exagerada, inesperada e grosseira, de fato, mas voltou. Enquanto estava sentada à mesa de reuniões com um terninho preto com detalhes brancos, cabelos negros soltos e olhos avassaladores, ele teve a total certeza de que ela pediria para que tivessem mais uma noite juntos. E ele aceitaria, com total prazer. — Apesar da entrada desnecessária na minha sala, devo confessar que senti falta dessa sua personalidade beligerante. — Ele sorriu ao sentar-se ao lado dela, em uma das cadeiras confortáveis. — Ah, sim? — Vicky levantou uma das sobrancelhas e cruzou as pernas. — Se sentiu falta, então por que não me ligou? — Não me esqueci da nossa regra de uma noite só. E não queria quebrá-la. Vicky ficou pensativa por algum tempo, sem saber exatamente o que dizer. Ele sentira sua falta. E ela, bem, tivera que controlar a si mesma para não enviar uma mensagem. Parecia-lhe estranha a forma com que a mente funcionava às vezes. Vicky sabia que ele era proibido, sabia que nunca teriam algo sério e, em hipótese alguma, podiam ser amigos. E mesmo assim, indo contra todas as probabilidades, não conseguia deixar de pensar nele. De desejar tê-lo em sua cama, e muito mais além disso, de tê-lo em sua vida. Para conhecer o homem que estava por trás da armadura de gelo insuportável que ele parecia sustentar. — Realmente sentiu a minha falta? — A voz dela fraquejou um pouco. Talvez, aquele era o único sinal que ela dera acerca da sua inexperiência e inocência. — Sim. — Ele desviou o olhar, sentindo-se envergonhado. — É bom ser desafiado às vezes. — Nós arriscamos muita coisa naquela noite, Reid. — Ela suspirou lentamente, como se estivesse relembrando cada detalhe. — De fato, sim, arriscamos. Apesar das nossas famílias serem inimigas, você precisa aprender a confiar um pouquinho mais em mim, Vicky. — Ele pegou uma das canetas que estava em cima da mesa e a girou entre os dedos. — Posso ter muitos defeitos, mas não sou um traidor. — Como eu posso ter certeza disso? Não conheço você. Ele a olhou fixamente por alguns segundos e enfim percebeu que havia algo estranho. Ela parecia abalada, um tanto triste. Apesar da beleza estar ali, também havia algo mais. Certo ar obscuro que até então ele não havia percebido. E, definitivamente, aquela era a primeira vez em que Edward Reid olhava para uma ex-amante tentando enxergar mais do que a sua beleza. Com Vicky, ele queria ser capaz de ver o que estava nas entrelinhas, compreender o que ela dizia e também tudo o que ela ocultava. Por algum motivo, que nem mesmo ele sabia, fazer Vicky sorrir fazia com que algo dentro dele crescesse, como se uma pontada de alegria surgisse. E aquela sensação era estranha, afinal ele quase nunca se sentia verdadeiramente feliz. Ser responsável pelo império da própria família tinha um preço alto. Ele sabia disso. Já não tinha tempo para aproveitar coisas simples, os amigos da época da escola e da faculdade estavam casados há muito tempo, e sequer mantinham contato. Edward Reid era um homem solitário, sem amizades verdadeiras, constantemente pressionado a dar resultados e parecia não ter pessoa alguma em sua vida que estivesse disposta a ouvi-lo. A fazê-lo sorrir. Talvez por isso, por estar tão saturado de tudo, estivesse ponderando coisas acerca de Vicky que simplesmente não deveriam sequer existir. — Talvez devêssemos nos conhecer melhor. — Ele abaixou a cabeça, envergonhado. Nunca fora ensinado a demonstrar sentimentos. Aprendera a escondê-los. Sentimentos machucavam. Proximidade machucava. Por isso, afastara praticamente todas as pessoas, afinal precisava se proteger. Mas, estranhamente, com Vicky, o risco simplesmente parecia valer a pena. — O que está querendo dizer com isso? — Ela corou, envergonhada. Em pleno sinal de nervosismo, passou a unha do dedo indicador no tecido da calça. A tensão sexual era quase palpável no ar. Havia desejo. Era como se ambos os corpos estivessem clamando para se unir, mas, por razões aleatórias, não pudessem estar juntos. — Quero dizer que gostaria de conhecer você melhor. Estou falando em alguma língua estranha? — Ele sentiu a garganta seca. Sentia-se como um adolescente estúpido prestes a convidar a garota mais bonita do colégio para o baile. — Eu gostaria que pudéssemos ser amigos. O que acha? Vicky ficou boquiaberta. Edward não estava demonstrando arrogância, muito pelo contrário. Em seu olhar, havia sinceridade e ela pôde perceber que ele verdadeiramente queria o que estava pedindo. — Suponho que seremos obrigados a sermos amigos de agora em diante. — Ela pressionou a unha com ainda mais força no tecido, nervosa. — Desculpe, mas não entendi. — Edward levantou a cabeça e olhou diretamente nos olhos dela, tentando compreender aquelas palavras. — Seremos obrigados? O que quer dizer? — Você ainda não se perguntou o motivo pelo qual eu vim até aqui e esperei todo esse tempo na sua porta apenas para conversarmos sozinhos? Ele assentiu. — Ainda estou me perguntando, mas eu suponho que você esteja aqui porque também sentiu a minha falta. Estou errado? — Sim, eu senti a sua falta. — Ela não tinha razões para mentir. De fato, quase enlouquecera com a vontade de voltar a vê-lo. — Mas não é por isso que estou aqui. — Ah, não? — Surpreso, Edward se levantou da cadeira e se virou para pegar uma jarra de cristal e se servir com um copo de água. — Então por que você veio? Um silêncio se formou na sala durante longos segundos. — Eu estou grávida, Reid. E você certamente é o pai. Capítulo 9 Victoria estava grávida. Ele era o pai. As palavras dela ecoaram aos ouvidos dele, deixando-o temporariamente tonto. Em silêncio, precisou beber toda a água que colocara no copo e em seguida recostou na mesa, pois sentia as pernas um pouco bambas. — Como grávida? — Victoria percebeu que a cor literalmente se esvaiu do rosto de Edward. — Impossível. Usamos camisinha. — Eu imagino que você não esteja feliz com a notícia, mas não estou mentindo. — Ela, que também ainda não havia digerido a novidade totalmente, parecia um pouco nervosa e insegura. — Estive pesquisando sobre o assunto durante as últimas semanas. A camisinha nem sempre é totalmente segura. Existem entre 2% e 5% de chances de que uma gravidez ocorra. E você guardava a primeira camisinha na carteira, não é? — Sim, eu guardava a camisinha na carteira. O que isso tem a ver? — Isso causa ressecamento no látex, fazendo com que a camisinha fique mais frágil. Provavelmente ela estourou e sequer percebemos. Vicky começara a ter os primeiros sintomas de gravidez dias após a noite com Edward. Sua menstruação atrasara, mas aquilo não a preocupara, afinal vez ou outra atrasos aconteciam. No entanto, com o passar dos dias, notara um corrimento vaginal rosa um tanto estranho, fator que a deixou em estado de alerta quase que imediatamente. Mas, quando os enjoos matinais começaram, Vicky simplesmente perdera o controle. Comprara testes de gravidez das mais diversas marcas e testara, dia após dia, pedindo aos céus que, de alguma forma, aquilo fosse um engano. E não, não fora um engano. Apenas para confirmar o inevitável, Vicky fora ao médico e pedira por mais exames. E sim, estava grávida. Não restava dúvidas. Quando voltara para casa, chorara como nunca antes. Qualquer pessoa que a visse certamente acreditaria que uma grande tragédia acabara de acontecer. Seu psicológico ficara tão abalado, que ela sequer saíra de casa durante um bom tempo, alegando uma gripe. Agora, semanas após a descoberta, sabia que era extremamente necessário contar a novidade para Edward, afinal ele também era responsável por aquela situação. — Eu não estou acreditando que você engravidou na sua primeira noite de sexo, Victoria. — Ele passou a mão no rosto, coçando os olhos, e em seguida tratou de colocar mais água no copo, bebendo tudo de uma vez. Vicky ficou em silêncio por um longo tempo e em seguida, sem mais nem menos, começou a chorar, literalmente soluçando. Era como se sua vida tivesse acabado, como se uma gravidez representasse algum tipo de tragédia anunciada. Odiando vê-la tão desolada, ele puxou a cadeira e sentou-se ao seu lado. Não fazia ideia do que podia dizer. — Nós podemos lidar com isso juntos. — Foi o que ele disse, unindo sua mão à dela. — Eu prometo que podemos lidar com isso juntos. — Edward, sequer nos conhecemos. As nossas famílias se odeiam. Eu estou começando a estabilizar a minha carreira agora. Ser mãe não estava nos meus planos. — Ela levantou os olhos cheios de lágrimas. Os lábios estavam trêmulos. Edward simplesmente a puxou para um abraço. — Não sou muito bom em consolar pessoas, mas eu estou aqui. Você não está sozinha. — Ele disse baixinho, ao ouvido dela. Naquele instante, Vicky viu a versão daquele homem que provavelmente ninguém conhecia, talvez nem ele mesmo. Uma versão que se preocupava e demonstrava atenção. — Eu não esperava que você fosse reagir assim. — Comentou ela ao terminar o abraço, de forma sincera. — Como esperava que eu reagisse? — Não sei. Eu tinha certeza de que você pediria que eu abortasse. E eu estava pronta para dar um soco na sua cara. — Odiá-lo teria sido muito mais fácil. Agora, conhecer aquele homem que se preocupava e prometia estar ao seu lado era difícil demais para lidar. Como controlar os próprios nervos quando Edward parecia tão protetor? — Eu nunca seria capaz de pedir algo tão horrível. — Seu semblante era sério. — Não quero ser pai, Vicky. De forma bem sincera, afirmo que não quero ser pai. Mas não vou fugir das minhas obrigações. Darei o meu melhor. — Você nunca sonhou em ter filhos? Em talvez se casar um dia e formar uma família? Edward ficou pensativo por alguns segundos, avaliando o quanto podia revelar. Apesar de não conhecer Victoria profundamente, sentia a necessidade de falar sobre as coisas que até mesmo ele evitava pensar e sentir. — Não, eu nunca quis formar uma família. — Ele abaixou o olhar. De repente, Vicky percebeu que Edward parecia triste, quase como se lembrasse de algo muito desconfortável. — A vida me ensinou que amar não vale a pena. As palavras dele soarem extremamente dolorosas aos ouvidos de Vicky. Havia tormento em seu tom de voz. Edward parecia carregar o peso do mundo inteiro nas costas, sozinho. — Se o amor não for uma razão para seguir em frente e lutar por dias melhores, então pelo quê você luta? Edward procurou a resposta para aquela pergunta, mas não encontrou. Era um fato que ele preenchia os próprios dias entre uma reunião e outra, crescendo o próprio império sem nunca criar uma conexão profunda com ninguém. Ele aprendera a fazer dinheiro, muito dinheiro. Mas nunca fora ensinado a demonstrar sentimentos. — Eu luto para continuar fazendo com que o império da minha família cresça. Edward ainda podia se lembrar dos olhos tristes de Violet, da forma como ela fora morrendo aos poucos, amando sempre mais ao próprio marido do que a si mesma. A verdade era que o amor adoecia. E ele tinha a mais completa certeza de que nunca amaria alguém. Tinha medo. — Você acha que lutar por um império é o suficiente para ser feliz? — É o suficiente para mim. Por alguns segundos, ele quis dizer que gerar dinheiro e comprar ações na bolsa de valores era muito mais confortável do que se arriscar em uma relação, criando laços afetivos. Sabia que se uma pessoa se tornasse demasiado importante em sua vida, ele provavelmente ficaria desprotegido, vulnerável. Por isso, construíra uma muralha ao redor de si mesmo. Viver daquela forma era muito mais fácil. — O nosso filho irá pedir muito mais do que isso, Reid. Ele se levantou, caminhando pela sala de reuniões, tentando controlar o sentimento de angústia que crescia em seu peito. — Eu sei fazer negócios, Vicky. Sei como dar ordens e ser obedecido. — Ele se virou para ela. Seu olhar estava sombrio, amargo. — Como eu poderei ser um bom pai se eu sequer sou capaz de amar? Vicky se levantou e caminhou até ele. Juntos, um ao lado do outro, olharam pela janela imensa que dava para a cidade. — Fizeram você acreditar que o amor não vale a pena. Alguém machucou tão profundamente o seu coração que negar a possibilidade de amar pode parecer muito mais fácil para você. — Ela pousou uma das mãos na nuca masculina e acariciou os cabelos levemente. Aquele simples gesto fez com que um bolo se formasse na garganta de Edward. — Mas talvez esteja na hora de que alguém te ensine que amar é algo grandioso. E necessário. — Você irá me ensinar? — Ele engoliu em seco, a voz claramente embargada. Enquanto ouvia as palavras dela, lembrou-se de Violet. Lembrou-se de quando ela ainda estava viva.
— Mamãe, você deveria abandonar o papai. Ele não é um homem
bom. — O pequeno Edward estava sentado em sua cama enquanto Violet tinha os olhos cheios de lágrimas, triste. — Quem ama não abandonada, meu filho. — Violet puxou Edward mais para perto e começou a acariciar os seus cabelos. — O papai sempre nos abandona. Ele quase nunca vem para o jantar e não lembrou do meu aniversário. — Edward olhou fixamente para a mãe e soube que nunca esqueceria aquele olhar tão triste. — O papai não ama a gente? — Eu não posso falar por ele, Ed. Algumas pessoas não sabem o que é amar. Algumas simplesmente são incapazes de amar. E outras simplesmente tentam, mas não conseguem. — Eu amo muito você, mamãe. — Ah, sim? — Ela abaixou-se e beijou a bochecha do filho. — Eu também amo muito, muito você. E nunca se esqueça de amar. Mesmo quando o amor pareça ser doloroso demais, assustador demais. Naquela noite, Edward fechou os olhos e, aos poucos, adormeceu em silêncio nos braços da mãe.
— O nosso filho certamente ensinará você. Ensinará muitas coisas.
Enquanto o admirava, Vicky compreendeu o motivo para que Edward fosse sempre tão frio e distante. Ele simplesmente tinha medo. Toda a segurança exacerbada na verdade era um grande sinal de total insegurança. Ela compreendeu que Edward tinha medo de deixar que as pessoas se aproximassem demais e assim descobrissem as suas feridas ainda abertas. Tinha medo que, com a proximidade, ficasse ainda mais machucado. — Eu não sei se posso fazer isso, Vicky. Não sei se posso ser bom o suficiente. Eu não quero que o meu filho... O nosso filho... Cresça com más memórias. Não quero ser o vilão na vida de alguém. — Edward parecia tão desolado, sequer lembrava o homem arrogante e poderoso de poucos minutos antes. — Você está disposto a tentar? — Sim, eu estou disposto a tentar. — Isso certamente é o suficiente, Reid. Sentindo uma enorme necessidade de tê-lo mais perto, Vicky pousou a cabeça em seu ombro. Naquele instante, paz instaurou-se em seu coração pela primeira vez nas últimas semanas. — Temos muito o que resolver. — Comentou ele. — Iremos nos reunir com os meus pais, dar a notícia antes que a minha barriga comece a crescer e as pessoas comessem a comentar. — Acho que eles não ficarão muito felizes com a notícia. — Certamente não. — Ela abriu um sorriso sonhador. — Mas o meu pai sempre sonhou em ser avô. Apesar de você não ser o homem ideal aos olhos dele, provavelmente ele ficará muito feliz quando o bebê nascer. A imagem de Vicky segurando uma pequena criança nos braços preencheu os pensamentos de Edward. E apesar de ter medo, percebeu que, lá no fundo do seu coração, ele queria algo assim. Queria ter a possibilidade de amar alguém. Amar o seu herdeiro. — O nosso filho ou filha merece uma família assim como a sua. — Comentou ele. — Sempre li nos jornais que os seus pais formam a família perfeita. — Sim, eles são incríveis juntos. — Eu quero ser incrível com você. Para o nosso bebê. — Ele falou as palavras sem pensar. — Quero acompanhar cada momento, gravar os primeiros passos, a primeira palavra. Eu quero ser um bom pai, Vicky. Eu quero de verdade. Orgulho preencheu o peito dela ao ouvi-lo falar palavras tão sinceras e sublimes. Apesar de ser extremamente arrogante e machista, era óbvio que Edward não era uma má pessoa. Na verdade, ele fora muito machucado e às vezes simplesmente não sabia como lidar com as outras pessoas. Ou com os próprios sentimentos e sensações. — Você será um bom pai, Reid. — Vicky não o conhecia bem, mas preferia acreditar que Edward seria capaz de dar o melhor de si para ser um bom pai. Aparentemente, ela confiava mais nele do que ele mesmo. Aquilo o incomodava, mas ao mesmo tempo era como se uma centelha de esperança crescesse, tomando espaço em seu coração e fazendo-o imaginar coisas. Sonhar com coisas. — Case-se, comigo, Vicky. Quero dar uma família para o nosso bebê. No instante em que ouviu o pedido dele, ela se afastou e literalmente ficou boquiaberta. — O que disse? — Ela arregalou os olhos. Dando-se conta do perfume masculino pela primeira vez desde que chegara, o estômago dela revirou, protestando. — Certamente você ouviu bem. Eu quero que você se case comigo. Preciso de você para que eu aprenda a ser um pai incrível. — Ele fez uma pequena pausa. — Você teve bons exemplos com a sua família, mas eu não. Poderia me ajudar? Sentindo o usual enjoo matinal de forma repentina, Vicky correu sem dizer coisa alguma e entrou no banheiro da sala de reuniões, trancando a porta. Apesar de odiar vomitar, sabia que aquele era o momento perfeito para fugir. Capítulo 10 Vicky não tinha dúvidas de que Edward se encontrava em estado de choque e, por isso, estava falando besteiras. Trancada dentro do banheiro, ajoelhou-se e vomitou, sentindo-se completamente enjoada e até mesmo um pouco irritada. Lentamente, com o passar das semanas, seus hormônios pareciam estar enlouquecidos, e, levando em consideração toda a situação em que se encontrava, Vicky tinha a leve impressão de que estava prestes a surtar, tamanho era o seu estresse. Quando terminou de vomitar, se levantou e tratou de lavar a boca na pia pequena. Sentia-se desconfortável. E agora compreendia que quem quer que afirmasse que a gravidez era a melhor fase da vida de uma mulher, certamente não fazia ideia do que estava falando. — Victoria, está tudo bem? — A voz de Edward soou do outro lado. — Sim, saio em um instante. Ela demorou o máximo que pôde, mas, quando por fim saiu do banheiro, encontrou Edward sentado em uma das cadeiras, claramente pensativo. — Já desistiu da ideia maluca? — Perguntou ela, caminhando lentamente. Estava um pouco suada e cansada. — Não. Você não entende, Vicky? O nosso bebê poderá ter a oportunidade de crescer em uma família, de enxergar que ambos os pais sempre estiveram presentes para ele. Se nós estivermos separados, nada disso será possível. Não quero estar com o meu filho apenas nos fins de semana e em horários pré-definidos. Quero poder estar em todos os momentos. — Edward, hoje em dia, as pessoas já não são obrigadas a casar apenas porque vão ter um filho juntos. Um casamento pede muito mais do que apenas isso. — Por já estar com os pés doloridos, ela voltou a sentar na cadeira em que estava anteriormente e tirou os sapatos. — Você quer me dizer que um casamento pede amor? — Sim! — Ela exclamou um pouco rápido demais. — Eu cresci observando o amor que existe entre os meus pais, Reid. E cresci desejando ter algo assim para a minha vida. Você não me ama, e já deixou muito claro, mais de uma vez, que não acredita em relacionamentos. Um casamento seria uma completa loucura. — Muitas mulheres seriam capazes de qualquer coisa para terem a oportunidade de se casar comigo. — Eu não sou qualquer mulher. Você não percebeu isso ainda? Um casamento sem amor só traz problemas e resulta sempre em divórcio. — Ela levantou o rosto, pensativa. Tinha os olhos um pouco vermelhos após tanto chorar. — Eu não quero fazer parte das estatísticas de casais divorciados nos Estados Unidos. A verdade era que Vicky havia crescido em um lar repleto de amor e cuidado. Agora que chegara à fase adulta, simplesmente queria encontrar um homem suficientemente bom e que estivesse disposto a amá-la. E sabia que algo assim era difícil, afinal os sentimentos já não pareciam ser suficientemente importantes para muitas das pessoas que ela conhecia. Incluindo Edward. Se fosse bem sincera consigo mesma, não seria difícil admitir que durante toda a sua adolescência sonhara com a possibilidade de encontrar um marido tão maravilhoso quanto seu pai era com sua mãe. Mas quando crescera e se tornara uma adulta, passara a compreender que eram poucos os que tinham essa sorte. Talvez, aquele fosse mais um dos motivos pelos quais ela decidira simplesmente não se entregar a homem algum. Mas então, Edward aparecera naquela noite e mudara toda a sua vida. Tudo parecia de cabeça para baixo, e quanto mais pensava, menos conseguia imaginar como seria capaz de revelar aos pais que estava grávida de um dos maiores inimigos comerciais da família. E, para piorar, que seria mãe solteira. Não que aquilo fosse um problema pessoal para Vicky. Ela acreditava genuinamente que mulheres eram capazes de cuidar dos filhos, ter uma vida profissional admirável e obter muitas outras conquistas. Por outro lado, a mídia certamente comentaria, e aquilo seria um fator que provavelmente destruiria a frágil imagem de mulher empresária e capaz que começava a ganhar força nos últimos tempos. — Tenho a impressão de que você está sendo um pouco tola e orgulhosa. — Comentou ele, impaciente. — Um casamento não se decide assim e você sabe disso. Não se faça de tolo. Eu sei que você é um homem inteligente. — Vicky inspirou profundamente, tentando manter a calma. — Sequer nos conhecemos, Reid. — Certo. Podemos nos conhecer agora. — Ele se levantou e caminhou pela sala, pegando um bloco de notas que estava do outro lado da mesa. Voltou a sentar e apontou a caneta na direção dela. — Qual a sua cor favorita? — Você só pode estar brincando... — Responda. Não custa nada. — A minha cor favorita é o azul que fica entre o celeste e o marinho. — Existe um azul assim? — Existe. Ele balançou a cabeça e começou a fazer anotações no bloco. — Cantor favorito? — Americano ou latino? — Os dois. — Amo as músicas do Lionel Richie. E me lembro que quando eu era uma garotinha, a minha mãe sempre me colocava para dormir cantando algumas músicas de um grupo musical latino muito antigo. Mocedades. Gosto de ambos. — Quantos anos você tem? Noventa? — Idiota. — Estou apenas tentando ser bem-humorado. — Ele sorriu e voltou a fazer anotações. — Prato favorito? — Pizza com um belo copo de refrigerante. — O que você mais odeia? — Pessoas arrogantes. Ele fez uma pausa e levantou uma das sobrancelhas. — Foi uma indireta? — Perguntou ele. — Se sentiu atingido? — Claro que não, eu sou um homem humilde. — Ele lançou uma piscadela na direção dela e sorriu. O sorriso fez com que o coração dela acelerasse dentro do peito. Desejo subiu, tomando seu corpo. Queria voltar a beijá-lo. — Claro, eu diria que humildade é o seu segundo nome. — Sim. O que você gosta de fazer no seu tempo livre? — Ler romances. — Eu simplesmente não consigo juntar as suas duas personalidades. — Não tenho duas personalidades. — É óbvio que tem. Você é doida. Por um lado, é uma mulher cheia de si, que dá ordens e controla um império. Por outro, ama romances, sonha com um casamento por amor e acredita em sentimentos. Ela estalou a língua e deu de ombros. — Existem muitas mulheres dentro de mim. Na verdade, algumas delas ainda nem conheço. E se você quiser me conhecer melhor, certamente terá que me descobrir diariamente. — A forma com que você fala... — Ele levou uma das mãos para baixo, tocando o pênis duro por cima da calça de tecido fino. — Conversas inteligentes me deixam excitado. Sem esperar que Vicky respondesse, Edward a puxou pela mão, convidando-a que sentasse em seu colo. Ela não recusou, pois, a vontade de senti-lo era demasiado tentadora. — Você não tem controle. — Sussurrou ela. — Eu não quero ter. Ao menos não quando tenho você aqui. — Respondeu ele. Logo, os lábios se uniram em um beijo repleto de saudade. — O que você mais gosta em um homem, Vicky? Ela passou a mão no rosto dele, sentindo-o e sorvendo a visão daquele homem que parecia alheio ao poder sexual que detinha sobre ela. — Nunca me relacionei de forma séria com ninguém, mas eu diria que busco um homem que faça com que eu me sinta especial. — Ela desviou o olhar. Sem dúvidas, aquele era um assunto delicado, mas, depois de tudo o que já tinham conversado, não se sentia tão desconfortável de revelar seus desejos à Edward. — Quero um homem disposto a crescer ao meu lado, todos os dias. Alguém que demonstre atenção e que acima de tudo, seja capaz de amar. — O amor é uma mentira, Vicky. — Ele respondeu de forma seca, aproximando-a um pouco mais até fazer com que os lábios ficassem muito próximos. Era possível sentir o hálito quente que tinha o cheiro delicioso de hortelã. — O amor é uma verdade que talvez você ainda não tenha sido capaz de descobrir. Ele ficou em silêncio por alguns instantes, claramente pensativo. Avaliava as possibilidades. — Quero propor uma aposta. — Ele disse depois de um longo tempo. — Qual aposta? — Quero que você me dê um mês para provar que eu seria o seu marido perfeito mesmo sem amar você. — Não é possível ser o marido perfeito sem amor, Edward. — Aceita a aposta ou não? — Se você conseguir provar que é o marido perfeito para mim, então eu teria que me casar com você? — Sim. — Ele assentiu, tinha um olhar desafiador e sexy. — E se você não conseguir provar coisa alguma? — Então, você estará certa e eu aceitaria que podemos cuidar do nosso bebê separados. Vicky avaliou a proposta. Certamente, não parecia uma má ideia. Talvez funcionasse, e caso não desse certo, ela não perderia nada. — Aceito. — Disse ela. — Você tem um mês, começando a partir de agora, para me provar que não é um traste. Ela levantou do colo dele, deixando-o frustrado, colocou os sapatos e caminhou pela sala, na direção da saída. Quando chegou à porta, virou-se. — Você não pode ir embora assim, depois de atiçar o meu desejo. — Ele se levantou e Vicky notou a protuberância na calça. Ele estava muito, muito excitado. — Sim, eu posso. Tenha um bom dia, Reid. Falando isso, ela saiu da sala e fechou a porta atrás de si. Sozinho, Edward começou a refletir sobre muitas coisas. Seria pai. E agora tinha a missão de fazer Vicky acreditar que ele poderia se tornar um bom marido. Bem, ele não tinha ideia de como conseguiria ganhar aquela aposta. Mas ganharia, afinal ele era Edward Reid. E perder nunca fora uma opção. Capítulo 11 Após sair das instalações empresariais da família Reid, Vicky partiu rumo à região sul da rua Houston, chegando ao bairro Soho. Aquele era um lugar movimentado, repleto de boutiques, restaurantes e bistrôs. Dali, era possível chegar facilmente aos bairros vizinhos, Little Italy e Chinatown. Sendo uma das regiões mais seguras de Nova York e garantindo uma ótima qualidade de vida aos moradores, tornara-se uma boa opção para alguns artistas e pessoas famosas. Quando voltaram da República Dominicana com o intuito de dar uma vida mais segura para Vicky, Mercedes e Logan encontraram um belo apartamento naquela região e continuavam vivendo ali desde então. Vicky gostava da atmosfera artística e da sensação de fluidez que havia no bairro. E tinha boas memórias da infância, de quando acompanhava Mercedes nos dias especiais para compras. Enquanto subia até o apartamento dos pais, sentia-se nervosa. As mãos estavam suadas e uma veia pulsava no lado direito da sua testa. Não fora exatamente difícil contar a notícia para Edward. O fato era que Vicky estava muito consciente de que teria o bebê, quer Edward aceitasse ou não. Portanto, deixá-lo cônscio do fato não fora algo exatamente complicado. Mas quando o assunto se direcionava aos seus pais, tudo mudava. Seguindo os hábitos que se mantinham vivos há décadas, Mercedes e Logan odiavam os Reids desde sempre, e certamente teriam um grande choque quando descobrissem que a única filha que tinham estava grávida de um membro da família inimiga. Vicky tinha a chave, por isso entrou e encontrou sua mãe na sala de vídeo, assistindo uma novela colombiana em uma rede de streaming popular. — Hola, mi amor! — Mesmo após anos vivendo nos Estados Unidos, Mercedes ainda falava em espanhol com a filha. — Você não disse que viria. Se eu soubesse, teria pedido para que preparassem algo. Mercedes abraçou a filha e percebeu, no mesmo instante, que ela estava tensa. — Não tem problema, eu não planejo ficar muito tempo. Onde está o papai? — Respondeu Vicky também em espanhol. — No escritório, analisando alguns dados das empresas. Ele disse que viria assistir comigo quando terminasse, mas até agora não terminou. Logan detestava novelas, mas mesmo assim, fazia questão de vê-las ao lado de Mercedes. Por outro lado, Mercedes odiava assistir à partidas de futebol americano, mas sempre assistia. Por ele. Em um casamento, esforços precisavam ser feitos. E a presença um do outro parecia sempre mais importante do que o que estava passando na televisão. — Será que a gente poderia conversar? Os três? Mesmo querendo preparar o terreno antes de soltar a notícia, Vicky não conseguia. Sempre fora muito direta. — Você parece estar tensa. Está passando mal? Aconteceu alguma coisa com alguma das empresas? — Não se preocupe, mamãe. Eu só quero... — Vicky fez uma pausa e engoliu em seco. — Só quero conversar sobre algumas coisas. Mercedes sempre foi muito aberta para conversar com a filha. Apesar de haver crescido com regras extremamente conservadoras e um tanto religiosas, buscava estar informada sobre os mais diversos assuntos do universo feminino. Inclusive, fora provavelmente a primeira influência feminista que Vicky tivera na adolescência. No entanto, Mercedes não gostava do título de feminista. Segundo ela, preferia se enxergar como uma mulher que acreditava na força de outras mulheres. Sem rótulos. Mesmo assim, muitos assuntos ainda eram considerados tabus entre mãe e filha. A notícia de que dormira com Edward era um deles. — Estou ficando preocupada. Suas mãos estão suadas de nervosismo. Vou falar com o seu pai agora mesmo. — Mercedes não esperou que Vicky respondesse. Caminhou rapidamente por entre os corredores da casa e entrou no escritório, chamando o marido. Logan era um homem jovial e tinha um sorriso imenso. Sempre fora um homem simpático e agradável. Agora que usualmente trabalhava em casa e deixava os assuntos mais sérios, em sua maioria, nas mãos de Vicky, tinha tempo para aproveitar os dias ao lado da esposa que amava. Em um mundo onde os sentimentos pareciam estar cada vez mais volúveis, parecia surpreendente que Logan amasse Mercedes cada vez mais, mesmo após tantos anos casados. Ele sempre comprava flores e fazia surpresas, tratando de conquistá-la sempre que podia. Certa vez, em uma das conversas que tinham, disse para Vicky que o segredo de um casamento duradouro e feliz era o amor. E o segredo de manter o amor, na verdade, significava ter a inteligência de compreender que nada podia ser tido como garantido. Sim, ele conquistara Mercedes muitos anos antes. Mas, mesmo assim, sabia que era necessário encantá-la sempre que tivesse a oportunidade, para que o amor pudesse continuar crescendo e a relação nunca deixasse de ser bela. Vicky admirava Logan. Para ela, ele era o homem mais incrível que ela conhecera. — Oi, papai! Eu me lembro muito bem que você me disse alguns dias atrás que tentaria ficar longe do trabalho por um tempo. O que estava fazendo no escritório? — Quando voltaram, Vicky o abraçou, sentindo o cheiro clássico de uma colônia que ele usava há anos. Abraçá-lo era como voltar à infância, quando era uma garotinha e passava horas ouvindo as histórias que Logan tinha para contar. Às vezes, ao entardecer, caminhavam juntos, pai e filha, pela praia em Santo Domingo. E sem dúvidas, Vicky tinha a total consciência de que aqueles anos foram os mais felizes da sua vida. Por alguns instantes, lembrou-se de Edward. E se perguntou como poderia haver sido a infância dele. Provavelmente, passara por momentos de insegurança e falta de amor, traumas que refletiam até hoje nas decisões que ele tomava. — Eu deveria estar descansando, mas ouvi falar sobre um novo sistema de segurança para empresas e decidi analisar alguns dados, ver como os funcionários avaliaram a nossa segurança nos últimos anos. — Você deveria deixar isso comigo. — Sim, eu deveria. — Logan deu um beijo estalado na bochecha da filha. — Mas me diga, o que aconteceu? Você nunca vem sem avisar. Vicky, que por alguns instantes sentiu-se leve apenas com a presença dos pais, voltou a ficar tensa. — Eu também perguntei a mesma coisa. — Disse Mercedes, também já tensa. — Tecnicamente... — Vicky fez uma pausa. — Não é nada ruim. Precisamos conversar e eu explicarei tudo. — Tecnicamente? O que quer dizer tecnicamente? — Logan levantou a sobrancelha, claramente preocupado. — O que acha de nos sentarmos na sala de visitas? É mais confortável. — A pergunta foi retórica, pois ela simplesmente caminhou e esperou que os pais a seguissem. Tinha o coração prestes a sair pela boca. Sentia-se como uma criancinha amedrontada, mas sabia que o melhor era conversar de forma sincera e falar toda a verdade. Não podia esperar muito mais, pois logo a mídia começaria a comentar sobre a possibilidade de Edward estar tendo algum tipo de aproximação com ela. E certamente, tanto Mercedes quanto Logan ficariam extremamente desapontados em descobrir qualquer coisa através dos jornais. Vicky sentou em um dos sofás e cruzou as pernas. Logan e Mercedes sentaram-se um ao lado do outro. — Bem, eu... — Começou. Não fazia ideia do que devia falar. Capítulo 12 Mercedes já estava apreensiva. Tinha as mãos muito unidas e se perguntava o que de tão sério poderia ter acontecido para que Vicky estivesse tão nervosa. — Não faça tantos preâmbulos. Diga o que tem para dizer. — Pediu Logan, também um tanto nervoso. — Eu estou grávida. — Lágrimas se avolumaram nos olhos dela. — Descobri há algumas semanas. Um silêncio desconfortável se formou na sala. Logo, Mercedes e Logan trocaram um olhar surpreso entre si. — Mas essa é uma boa notícia, minha querida! — Mercedes se aproximou, pronta para abraçar a filha, mas Vicky se esquivou. — Eu não terminei. — Limpou a lágrima solitária que escorria pela bochecha. — Edward Reid é o pai do bebê. O rosto de Mercedes se fechou no mesmo instante. — O quê? —Logan quase gritou. Seu rosto ficou vermelho. — Edward Reid? — Eu sinto muito. — Vicky abaixou a cabeça e começou a soluçar. Se sentia envergonhada. De certa forma, era como se tivesse traído a própria família, traído as pessoas que sempre representaram segurança e amor em toda a sua vida. — Sente muito? É tudo o que você tem para dizer? — Logan continuava a falar enquanto Mercedes permanecia em silêncio. — A família Reid vem tentando destruir a nossa família há décadas. Você tem noção do que isso significa, Victoria? Eu tenho certeza de que aquele maldito fez tudo de forma planejada. Duvido muito que você tinha em seus planos ter uma criança agora. Como você pôde, Victoria? Traiu o nome da sua família. Sujou a nossa honra. Como pôde? Vicky levantou a cabeça e seus olhos já estavam vermelhos. — Edward não teve culpa alguma. Foi um erro. Eu sei que não deveria. — Como que Edward não teve culpa? Você fez o filho sozinha? Fez com o dedo? — Logan praticamente gritava. Muito mais calma, Mercedes ficou entre os dois. — Gritar não vai mudar muito a situação. — Falou para o marido. — Erros acontecem. Todos nós sabemos. — Ela podia ter errado com qualquer um, mas com um Reid não! — Ele me disse que não tem nada a ver com as brigas entre as nossas famílias. E que não pretende levar isso para o futuro. — Você é tola, Victoria. Sempre confiei muito em você e... — E agora vai deixar de confiar em mim? Apenas por que eu decidi que talvez eu pudesse ser livre por algum tempo? — Vicky jogou um pouco do cabelo para trás. — O ódio que vocês têm por Edward é apenas porque ele tem o sobrenome Reid. — Victoria, o ódio que temos por Edward é porque ele e a família dele tem tentado acabar com os nossos negócios desde sempre. Você é cega? — Logan fez uma pausa e pegou a pequena garrafa de uísque que sempre ficava em uma mesa decorativa perto de uma das poltronas, servindo-se de uma dose. — Ele só queria destruir a sua reputação. Mercedes, que estava focando em uma outra parte das palavras de Vicky, voltou a falar. — Você não se sente livre, Vicky? — Perguntou ela. — Sente que nós prendemos você? — Eu... — Vicky voltou a limpar as lágrimas. — Eu sempre fiz tudo certo. Sempre mantive o controle, tratando de entregar as melhores notas e de ser um orgulho para vocês dois. Mesmo assim, como vocês bem sabem, toda a minha reputação foi destruída quando vazaram aquele maldito vídeo íntimo. Desde então, a minha vida tem sido um inferno. Preciso mostrar que sou capaz, preciso me esforçar mais do que o dobro apenas para ter respeito no meio dos negócios. Pai, Edward não tinha como destruir a minha reputação, pois a minha reputação sempre foi péssima. Enquanto ouvia as palavras da filha, Logan parou e refletiu sobre tudo aquilo. Ele acompanhara o sofrimento dela, os gastos com advogados e toda a demora para resolver os processos na justiça. No final, apesar da indenização que o jornalista que vazara o vídeo falso tivera que pagar, Victoria já não era a mesma. Precisara se desdobrar para se provar boa o suficiente, sempre indo contra os estragos causados por alguém que sequer conhecia verdadeiramente a sua história. — Desculpe, acho que acabei perdendo o controle. — Disse Logan ao sentar ao lado da filha. Mercedes também voltou a sentar. — Eu realmente gostaria de compreender a sua escolha de se deitar com Edward Reid, mas é muito difícil para mim. — Simplesmente aconteceu. Não era algo que eu planejava. — Vicky tocou a mão do pai. — Eu não quero que você deixe de confiar em mim por causa disso. — Nunca deixaria de confiar em você, minha filha. Mercedes sorriu ao observar o carinho que havia entre pai e filha. Tinha a mais completa certeza de que apesar da turbulência, nunca deixariam de amar um ao outro. — Como Edward reagiu? — Perguntou Mercedes, sempre muito pensativa. — Ele quer... — Vicky quase disse que Edward queria se casar com ela, mas decidiu que aquele não era o momento. Além disso, sabia que nunca se casariam, então o melhor era esquecer que aquela proposta existiu. — Ele me disse que quer ser um bom pai. E que estará ao meu lado. — Você sabe o que a mídia irá falar, não sabe? — Logan era direto assim como a filha. — Os nomes de vocês dois vão estampar todas as revistas e jornais quando algum paparazzi descobrir. — Eu só preciso que vocês me compreendam e estejam felizes com o meu bebê. Todo o resto... — O olhar de Vicky estava quase desesperado, triste. E amedrontado. — Eu posso enfrentar todo o resto sozinha. Não importa o que os jornais vão falar. Já falaram coisas horríveis antes e estou acostumada. Mas se vocês não me aceitarem, eu não seria capaz de... — Não diga isso. — Mercedes interrompeu. — Nós nunca iremos abandonar você, Vicky. Nós amamos você e não se esqueça disso. — Nós estaremos ao seu lado em todas as ocasiões. Sempre. Não importa quais sejam. — De repente, Logan se lembrou de um pequeno detalhe. — Charles Reid, o pai de Edward, é um homem intragável. Será difícil lidar com ele. — Você acha? — Eu tenho certeza. E se ele lhe fizer algum mal, eu sou capaz de... — Não, ele não fará. — Sentindo-se aliviada, Vicky sorriu. — Obrigada por tentarem me entender sempre. — Não agradeça. Você é o nosso orgulho. — Mercedes sorriu e acariciou os cabelos da filha. — Mas eu gostaria de conhecer Edward Reid. Conhecemos o homem de negócios. Agora queremos conhecer o homem que foi capaz de encantar a nossa filha. Nem eu o conheço, Victoria quase disse. Mas logo se lembrou que naquele mesmo dia, na sala de reuniões, Edward mostrara um lado protetor e carinhoso que aparentemente ninguém conhecia. — É algo que pode ser marcado, sem dúvidas. Mas devo dizer que a única coisa que conecta Edward e eu é o bebê. Nada mais. Não estamos em um relacionamento e não pretendo estar. — Toda criança merece uma família unida. — Comentou Logan. — O pobre bebê vai nascer com os pais já separados e distantes. As palavras do pai soaram muito parecidas com as de Edward, e aquele detalhe fez com que tudo dentro dela estremecesse. — Eu tenho certeza de que tudo ficará bem, mas não, Edward e eu não temos nenhum relacionamento. E não teremos. — Vicky se levantou ao olhar a hora no relógio de pulso. — Preciso ir embora agora. Tenho uma reunião marcada para daqui duas horas e não quero me atrasar. — Filha, marque um almoço ou um jantar para o fim de semana com Edward Reid. — Mercedes lançou a ordem de forma séria. — Tudo bem. Irei marcar. Obrigada, eu amo vocês. — Vicky abraçou os pais. Sentia-se muito feliz em poder ter o apoio deles. Caminharam pela casa e chegaram à saída. — Promete que irá se cuidar? — Pediu Logan. — Sim, eu prometo. — Se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, você sabe que estamos aqui. — Mercedes olhou a filha com admiração e sorriu. — Eres nuestro tesoro. — Obrigada. Eu amo muito vocês. Vicky se despediu uma última vez e partiu. Quando voltou para o carro, pegou o celular e escreveu uma mensagem. “Oi, Edward. Acabei de falar sobre a gravidez com os meus pais. Eles querem conhecer você. Urgente.” Capítulo 13 Edward estava entrando no Palace Restaurant, localizado na Quinta Avenida, quando recebeu a mensagem de Vicky. Sinceramente, o fato de que os pais dela queriam conhecê-lo não era um fator surpreendente. Sendo pessoas extremamente atenciosas, era simplesmente esperado que quisessem saber mais acerca do homem que engravidara a única herdeira do império da família. “Basta marcar o dia e a hora.” Ele escreveu a resposta e, com o celular ainda em uma das mãos, seguiu pela entrada do restaurante, sendo atendido pelo maître. Olhou no relógio e viu que havia chegado exatamente no horário marcado. “Próximo domingo, às 19:00. O que acha?” Não fazia ideia de como teria que atuar perante os pais de Vicky. Certamente, seriam momentos desconfortáveis, mas necessários, afinal ele seria parte da família, e precisariam aprender a lidar com as antigas desavenças. “Perfeito. Espero que o seu pai não esteja me esperando com uma espingarda.” Ao enviar a mensagem final, Edward guardou o celular no bolso e sorriu ao avistar Sebastian Bowen. — Suponho que eu não esteja atrasado. — Disse Edward quando Sebastian se levantou para abraçá-lo. — Pontual como um britânico. Sebastian era o que chegava mais perto do que Edward enxergava como amizade. E mesmo assim, os dois homens quase nunca tinham a oportunidade de se ver para jogar conversa fora. Haviam se conhecido muitos anos antes em um internato no interior da Inglaterra, quando Edward passara um período estudando longe de casa antes de voltar, terminar o ensino médio e ingressar na faculdade. Apesar da distância, continuaram mantendo contato, no entanto, as conversas eram muito raras e ficavam cada vez mais escassas com o passar dos anos. Sebastian nascera em um pequeno país próximo à Espanha. Durante a adolescência, assim como muitos filhos de famílias abastadas, fora obrigado a estudar em um internato. Antes de iniciar a faculdade, decidira ingressar no mundo dos esportes e se tornara um lutador. Porém, pouco tempo depois, teve uma aposentadoria forçada ao danificar o joelho em uma das diversas competições. Ao voltar para o país de origem, Sebastian recebeu o convite de trabalhar como segurança pessoal da filha de um ministro. O governo do lugar ainda seguia a monarquia nos mesmos moldes da Inglaterra. Assim, Sebastian enxergou naquela oportunidade a possibilidade de abrir uma empresa que tinha como promessa a segurança em tempo integral de pessoas famosas, políticos, artistas e empresários. Não demorou muito para que ele construísse uma equipe de profissionais, todos inteiramente preparados para os mais diversos tipos de adversidades. Os treinamentos, que eram constantes, serviam como uma maneira de garantir que todos estavam prontos para levar ao cliente a sensação de sigilo, segurança e comodidade. Ironicamente, a tal filha do ministro que lhe fizera o convite inicial, Evangelina, era a melhor amiga de Sebastian desde sempre. Frequentaram a escola juntos e, quando ele fora para o internato, ela tratara de convencer os pais para que a mandassem também. Vez ou outra, Evangelina vinha à Nova York, para eventos beneficentes e desfiles de alta costura. E, sendo segurança pessoal dela, Sebastian sempre a acompanhava para todos os lados. Naquele dia em particular, ele estava de folga. Mas, em seu lugar, colocara uma verdadeira equipe de seguranças altamente capacitados para protegê-la. E, aproveitando o tempo livre, decidira convidar Edward, que também sempre fora um bom amigo, para um jantar. — Tenho a impressão de que você ficou duas vezes mais forte desde a última vez em que nos vimos. — Edward comentou, bem-humorado. Os dois sentaram à mesa e o garçom surgiu para entregar os cardápios. — É necessário manter a forma. E eu tenho a impressão de que você está ainda mais sobrecarregado do que a última vez em que nos vimos. Edward soltou uma longa gargalhada, balançando a cabeça em sinal de concordância. Sim, ele estava demasiado sobrecarregado. Os negócios da família, as reuniões, os problemas que às vezes surgiam até mesmo no meio da noite e todo o resto estavam consumindo toda a sua capacidade de sorrir. E agora que Vicky estava grávida, mais uma preocupação se juntava à lista, que já era imensa. — Você está certo. Me sinto exausto nos últimos dias. — Ele olhou o cardápio e decidiu que iria pedir uma macarronada ao molho branco. — Como está Evangelina? Sinto que não converso com ela há décadas. Ele também conhecera Evangelina quando os três estudavam no internato. Mesmo assim, nunca foram verdadeiramente próximos. Apesar de nunca ter comentado coisa alguma, Edward tinha a impressão de que Evangelina era uma mulher angustiada e triste, quase como um passarinho que vivia preso dentro de uma gaiola de ouro. Sem dúvidas, Sebastian era a maior alegria dos dias dela. — Ela veio acompanhar um evento de alta costura. Decidi pedir um dia de folga. Não queria passar horas em um lugar repleto de pessoas conversando sobre moda. — Ele decidiu que gostaria de comer salmão ao molho champignon. Edward e Sebastian fizeram seus pedidos. — Tem algo em você... — Sebastian apontou na direção do amigo, analisando-o. — Você está mais preocupado do que o normal. Parece que está carregando o universo inteiro nas costas. — Aparento estar tão destruído assim? — Edward levantou uma das sobrancelhas em tom de desafio. — Quer a sinceridade? — Quero. — Pois bem, parece que um caminhão passou por cima de você e em seguida deu a ré, passando por cima mais duas vezes. — Apesar da brincadeira, Sebastian tinha o semblante preocupado. — Vamos, me diga o que aconteceu. A gente se vê basicamente uma vez a cada vinte anos, mas ainda somos amigos. Aquilo era tudo o que Edward precisava ouvir. Por não ter amigos e não manter contato fixo com ninguém, ele não tinha com quem desabafar. E aquilo o estava enlouquecendo. Queria poder pedir conselhos, tentar ouvir alguém que pudesse ajudá- lo a fazer a coisa certa. — Aconteceu algo... — Edward coçou a cabeça. — Eu vou ser pai. A mãe é da família Andrews. Ou seja, é de uma família inimiga. Eu a pedi em casamento, pois quero dar uma família ao meu filho, mas ela não aceitou. Fizemos uma aposta e basicamente tenho um mês para provar que sou capaz de me tornar um marido bom o suficiente. Mas como eu poderia ser um marido bom o suficiente se nunca tive um bom exemplo em minha casa? — Edward... — Sebastian sorriu. — Eu conheço você há anos. Talvez eu seja o seu único amigo. Você sempre foi muito fechado e nunca deixou que as pessoas se aproximassem mais do que o necessário. Isto é um fato. Mas eu conheço você. Conheço de verdade. E eu sei que apesar de não ter tido um bom exemplo em casa, será um marido espetacular. Você ama a mãe do seu bebê? — Não me diga que você acredita em amor... — Edward soltou o ar dos pulmões em um som exasperado. Aparentemente, todas as pessoas ao seu redor sentiam a necessidade de afirmar baboseiras acerca do amor. — Eu realmente esperava mais de você. — Edward, todos nós acreditamos no amor. Todos queremos ter um final feliz. — Sebastian era um homem forte, cheio de masculinidade e testosterona. Tinha a aparência selvagem e qualquer pessoa que não o conhecesse, certamente diria que ele era um ogro. E mesmo apesar da aparência bruta, falava acerca dos sentimentos como se aquilo fosse a coisa mais simples do universo. — Você pode negar e dizer que não. Eu sei que muitas pessoas já machucaram você, conheço a sua história. Você observou o pior lado do amor. Por que não se permite viver o melhor lado? — Você já amou alguém? Já se apaixonou? — Edward sabia que Sebastian saía com algumas mulheres esporadicamente, mas nunca pudera vê-lo em um relacionamento sério. Sebastian riu e seu olhar ficou triste. — Eu sempre amei a mesma mulher. Uma mulher que é simplesmente proibida para mim. — Enquanto Sebastian falava, Edward pôde sentir a tristeza em sua voz. — Mas eu não devo ser tido como exemplo. Você está tendo a oportunidade de conquistar a mãe do seu bebê. Não perca a chance. — Não conheço Victoria Andrews muito bem. — Refletiu Edward. — Não sei muito sobre o que ela ama fazer. Mas, pela primeira vez na minha vida inteira, eu sinto que quero saber o que ela ama fazer. Sinto que quero fazê-la sorrir. E isso me deixa louco, Sebas. Eu não deveria pensar tanto assim acerca dela. Mas Victoria me fascina. — Talvez ela tenha entrado na sua vida para lhe ensinar algumas coisas, Ed. — Ela me disse a mesma coisa. — E então, por que você não se permite aprender? — Acha que vale a pena? — Edward se sentiu um estúpido por responder a pergunta com outra pergunta. — Se te faz feliz, então é claro que vale a pena. Edward ficou em silêncio por algum tempo, refletindo acerca daquela conversa. — Quando você ficou tão sábio? — Eu sempre fui sábio, mas você nunca pediu conselhos. Você é um arrogante de merda. — Eu sempre fui sábio. — Repetiu Edward em tom de brincadeira. — Com essa frase, podemos ver que você é a humildade em pessoa. — Edward Reid — Começou Sebastian. — Quero que você me prometa que irá conquistar essa mulher. Eu quero estar no casamento. — Você está me pedindo uma coisa muito difícil de prometer. — Eu sei que quando você quer de verdade, você sempre consegue. — Eu prometo que irei conquistar Victoria. — Edward sorriu, grato pelos conselhos. Após isso, conversaram sobre mais um milhão de outras coisas. E enquanto o tempo passava, Edward percebeu que algumas amizades nunca morriam, mesmo que a distância às vezes parecesse tentar provar o contrário. E quando a noite terminou e Sebastian se despediu, Edward se sentiu leve. — Obrigado pelos conselhos. — Agradeceu de forma sincera — Não precisa agradecer. — Sebastian abraçou Edward. — Nos vemos daqui quarenta anos? — Não. — Edward sorriu. — Nos vemos no dia do meu casamento com Victoria. Ele não sabia se acreditava nas próprias palavras, mas sabia que acreditar era a única opção. Capítulo 14 Os dias seguintes foram mais calmos, mas Edward não conseguia tirar Vicky dos pensamentos. Depois de ouvir os conselhos de Sebastian, sentia como se, de alguma maneira, pudesse fazer a coisa certa. Como se, mesmo com as probabilidades de que tudo fosse dar errado, talvez existisse a pequena chance de que, de fato, pudessem dar certo. Ao mesmo tempo em que ele adorava a esperança que crescia em sua alma, ele também a odiava. Sabia que a esperança podia representar ilusões, ideais que tinham a possibilidade de se transformar facilmente em decepções. No entanto, naquela manhã, ele acordou com uma saudade imensa de Vicky. Por isso, separou uma boa garrafa de vinho para si mesmo e ela tomaria alguma bebida sem álcool, acendeu algumas velas e pediu para que alguém comprasse ingredientes. Ele cozinharia. Nunca fora bom na cozinha, mas acreditava que tentar preparar alguma coisa para ela era muito mais especial do que simplesmente comprar em um restaurante. Queria que a noite fosse agradável, e que pudessem se conhecer um pouco mais, longe dos problemas e das brigas entre as famílias. Além disso, decidiu preparar outra surpresa para ela. Estava ansioso e esperava que ela gostasse da ideia, apesar de não ter ideia de como ela reagiria. Quando chegou o entardecer, ele se encaminhou às instalações dos escritórios principais dos Andrews. Procurou o carro dela no estacionamento e ficou lá, esperando pacientemente. O problema era que enquanto esperava, teve muito tempo para pensar em muitas coisas. Teve tempo para pensar, por exemplo, que nunca havia feito surpresa para mulher nenhuma. E agora que estava se dedicando tanto, se sentia um pouco estranho. Mas ao mesmo tempo, a sensação de plenitude era boa. Antes, com todas as outras, uma noite era o bastante. Com Vicky era diferente. Fora diferente desde o primeiro segundo em que a avistara naquele evento. Cerca de trinta minutos mais tarde, ele sentiu o coração perder o compasso quando a avistou vindo na direção do carro. Vestia um terninho preto e sapatos também pretos. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo e ela parecia muito surpresa ao avistá-lo. — Pelo amor de Deus, diga que não está aqui porque tem alguma notícia ruim para me dar. — Disse ao se aproximar, já nervosa. — É claro que não. Como você está? — Ele a puxou pela cintura, beijando-a no rosto. Na verdade, queria beijá-la nos lábios, mas sabia que ela se sentiria desconfortável, então preferiu evitar. — Eu estou cansada. Os enjoos diminuíram um pouco. — Ela o olhou seriamente, avaliando-o. — O que veio fazer aqui? — Queria ver você. — Ele tomou a chave das mãos dela e abriu o carro. Em seguida, abriu a porta. — Entre, senhorita. Esta noite estou ao seu dispor. — Ah, sim? — Ela sorriu e corou. Estava surpresa e ao mesmo tempo encantada. — Não parou para pensar que talvez eu tenha algum plano para hoje à noite? Edward pareceu murchar com as palavras dela, claramente decepcionado. — Você já tinha planos? — Ele tentou esconder a decepção, mas ela percebeu. — Eu estou brincando com você. Não tinha planos. — Ela sorriu. — Você parece animado hoje. — Sim, estou animado. — Ele entrou no carro dela e ligou o rádio, que estava tocando uma música romântica antiga. — E onde está o seu carro? — O meu motorista levou. Decidi esperar por você. — Deu a partida e quando estavam fora das instalações Andrews, ele aumentou o som da rádio e começou a cantar. — Vamos, cante comigo! — Eu não vou cantar, sou péssima e... — Apenas cante! E sabendo que não perderia nada se o fizesse, Vicky acompanhou a música. Juntos, pareciam ainda mais desafinados, mas, aos olhos dele, pareciam simplesmente perfeitos cantando. Aquele era daqueles momentos que ficavam na memória. E enquanto os carros passavam ao redor, a cidade parecia correr na janela e os minutos passavam, ela teve a total certeza de que nunca se esqueceria daquele simples momento em que, ao lado de Edward, cantara uma música qualquer. Minutos mais tarde, chegaram ao apartamento dele e pegaram o elevador. — Eu estava com saudades de você. — Ela admitiu, falando em voz baixa de forma envergonhada. — E, pensando bem, acho que você está diferente. — Eu obviamente também estava com saudades de você. — Ele relanceou o olhar na direção dela. — Estou diferente? Como? — Você parece mais positivo, menos... Arrogante. — Impressão sua. — Ele lançou uma piscadela e se aproximou um pouco, pousando a mão na cintura feminina. — Quero beijá-la e se você não me impedir nesse exato momento, acho que vou fazer besteira. — Quer me beijar? — Ela o puxou pela gravata. — Então beije. Ele a beijou de forma feroz, faminta. Como se estivesse aguardando por aquele momento há muitos dias. Vicky não tinha certeza, mas provavelmente a gravidez parecia estar mexendo muito com os seus hormônios, pois aquele beijo foi o suficiente para fazê-la ficar de pernas bambas. Havia certa humidade em sua região sul, um pleno sinal do desejo que ela sentia por ele. O elevador se abriu logo em seguida, interrompendo-os. Edward agarrou-a, levantando-a e fazendo com que ela montasse em sua cintura. A mão dele apalpava as nádegas. E tudo parecia extremamente explosivo. Encostaram-se em uma das pilastras e, para a sua surpresa, Vicky afastou os braços dele e se ajoelhou, abrindo o zíper da calça. Sem nenhum pudor, segurou o membro que já estava duro e pulsante. — Eu queria muito, muito fazer isso. — Ela o chupou profundamente, fazendo-o gemer seu nome. — Quero sentir você por inteiro. Edward realmente não tivera planos de possuí-la logo na chegada. Sabia que as chances de que tivessem alguma coisa após o jantar eram grandes, afinal a química que havia entre eles era explosiva demais para ser ignorada. Por isso, estava surpreso com a entrega dela. Aparentemente, Vicky também sentira saudades de senti-lo. Interrompendo os pensamentos dele, ela o chupou ainda mais fundo até ficar sem ar. Em seguida fez movimentos rápidos com as duas mãos, masturbando-o. Sem suportar mais, ele a puxou para si e a beijou enquanto tirava a roupa cara que ela vestia. Em poucos segundos, tudo estava no chão e ambos se encontravam desnudos, sem fôlego e ansiosos. — Você quer me sentir por inteiro? — Ele sorriu e a pressionou contra a pilastra. Agarrou o rabo de cavalo e puxou-lhe a cabeça para trás, mordiscando o pescoço levemente. — Eu vou fazer exatamente o que você quer. Com a mão livre ele segurou o pênis e fez movimentos de vai e vem, friccionando. O contato de pele com pele era delicioso e Vicky sequer conseguia respirar de forma adequada, tamanho era o seu desejo. Soltando-lhe o rabo de cavalo, ele ficou de frente para ela e levantou- lhe uma das pernas. Em uma estocada firme, a penetrou fazendo-a fechar os olhos e literalmente gritar de prazer. Vicky já estava há semanas sem sexo, por isso, a invasão voltou a ser um pouco estranha outra vez. Incomodou um pouco, mas não doeu. Logo, ela se perdeu com o poder que ele detinha de fazê-la simplesmente não pensar em coisa alguma. Enquanto a possuía, Edward beijava com força, mordendo o lábio de leve. Prová-la e senti-la era delicioso e viciante. — Isso, eu quero que você continue gemendo para mim... — Ele tinha um olhar selvagem. E notar o descontrole dele, vê-lo tão completamente entregue, fez com que ela chegasse ao ápice muito rápido. Ali, contra uma pilastra, gozou enquanto o beijava. Seu corpo inteiro estremeceu e ela precisou abaixar a perna, pois simplesmente não conseguia manter o equilíbrio por muito mais tempo. Em seguida, ela voltou a se ajoelhar e inseriu o membro túrgido na boca outra vez. Sentiu o próprio sabor e fechou os olhos, sugando cada vez mais fundo. Edward gozou poucos segundos depois e Vicky sorveu cada gota, sentindo um prazer imenso apenas por poder vê-lo soltar sons guturais de desejo. Ainda ajoelhada, ela olhou para cima e sorriu, limpando os lábios. Ele a ajudou a se levantar e a beijou uma última vez. — Eu juro que os meus planos não eram esses. — E quais eram os seus planos? — Vicky perguntou. — Eu pretendia trazê-la para jantar. E eu juro que você não era a comida. Vicky soltou uma gargalhada. — Estou com fome. — Bem, o que acha de tomarmos banho? Em seguida, vou cozinhar para você.
Ela precisou de alguns segundos para absorver a informação
de que ele cozinharia para ela, mas tratou de não dizer coisa alguma. Naquela
noite, relaxaria e se permitiria surpreender por Edward Reid.
Capítulo 15 Edward encheu a banheira com água morna e despejou sais de banho relaxantes. Encantada, Vicky entrou e sentou, completamente nua. Quando as mãos dele começaram a percorrer sua pele, ela sentiu como se nada pudesse separá-los. Como se estar com aquele homem não representasse um milhão de inseguranças que pareciam persegui-la como um monstro sombrio. De alguma forma, enquanto ele a massageava com tamanha admiração e respeito, Vicky se permitiu sonhar que talvez aquilo pudesse dar certo de verdade. — Você está silenciosa. E o silêncio significa que a sua cabeça está cheia de pensamentos. — Disse Edward ao se aproximar um pouco mais. Com os dedos firmes, fez movimentos profundos, fazendo-a gemer de prazer. Seus músculos estavam tensos e a massagem trazia um conforto que há muito tempo ela não sentia. — Sim, devo confessar que estou pensativa. — Ela fechou os olhos e suspirou profundamente. O banheiro era imenso e tinha uma decoração moderna que seguia tons neutros. As luzes podiam ser reguladas e Edward decidira tornar o ambiente com pouca luz, assim, era possível relaxar sem que a luz branca atrapalhasse. — Eu seria capaz de qualquer coisa para saber o que você está pensando. — Ah, sim? — Vicky sorriu e ficou em silêncio. Por algum tempo, Edward pensou que ela simplesmente não falaria mais nada. — Você está diferente. Diferente demais. As suas atitudes estão me assustando. Eu estava acostumada a precisar enfrentar você. A ouvir coisas absurdas e a precisar rebater cada uma delas. Agora, estou sendo tratada como se eu fosse a única mulher que verdadeiramente importa e isso me assusta. Fui ensinada a odiar todos da sua família. Como eu posso odiar alguém que me faz uma massagem como essa? Ele sorriu. Sim, sentia-se diferente. Era como se algo dentro dele se inundasse sempre que estava na presença dela. Por algum motivo, vê-la tão relaxada fazia com que o seu dia ficasse mais feliz e completo. Apesar dos traumas de infância, do medo de se permitir ter sentimentos e da completa aversão aos relacionamentos, Edward começava a sentir que estava disposto a se atirar naquilo. De repente, o risco parecia valer a pena. Quando se pegava imaginando que ao lado dela teria mais momentos como aquele, em que estariam um nos braços do outro sem precisar se preocupar com detalhes exteriores, ele concluía que se arriscar era o mínimo que podia fazer para não perder algo tão grandioso. Apesar do medo, estava encantado demais para permitir que a escuridão ganhasse mais poder. Portanto, quanto mais conhecia Victoria, mais sentia a necessidade de descobrir um pouquinho mais acerca dela. — Se eu estou com você, nenhuma outra mulher importa. Não costumo dividir a minha atenção. O que acha de jantarmos agora? — Me parece perfeito. — Ela sorriu e se virou para olhar na direção dele. — Aparentemente, virei algum tipo de dinossauro que não para de comer. — Não se preocupe, pequeno dinossauro. Irei alimentar você. — Ele se aproximou um pouco mais. — Mas só se você me der um beijo. — Está me subornando? — Ela levantou a sobrancelha de forma bem- humorada. — Acha que irá conseguir comprar um beijo meu cozinhando para mim? — Eu acho que mereço um beijo. — Bem, você está completamente certo. Comida é o meu ponto fraco. — Ela o beijou e fechou os olhos, tentando sorver cada detalhe daquele momento, pois temia que tudo aquilo fosse uma simples ilusão. O beijo terminou e juntos, longos minutos depois, saíram da banheira. De forma sensual, Edward passou a toalha no corpo feminino, tratando de secá-la. A visão daquele homem, com o corpo tão definido e pelinhos aparados no peito, completamente desnudo fazia com que o coração de Vicky acelerasse. Era como se tudo dentro dela se tornasse insaciável, sempre desejando cada vez mais e mais. Por fim, caminharam pelo apartamento, e ela vestiu uma camisa velha do super-herói favorito de Edward. — Você está extremamente sexy. — Afirmou Edward enquanto vestia uma calça de moletom. Ela percebeu que ele sequer se preocupou em vestir uma cueca. Por isso, o volume era notável. E aquele grande detalhe a deixava completamente louca de desejo. — Obrigada. Eu nunca poderia imaginar que você gosta de super- heróis. Ele revirou os olhos. — Todos gostam de super-heróis. E se existe alguém que não gosta, então certamente essa pessoa é, sem dúvidas, um monstro. — Ele fez uma pausa e apontou na direção dela. — Não me diga que você não gosta de super-heróis. — É claro que eu gosto. Não sou um monstro. — Que susto! Por um segundo eu pensei em desistir de me casar com você. Vicky soltou uma gargalhada e se assustou quando ele a pegou nos braços e caminhou pelo apartamento na direção da cozinha. — No século 21, as mulheres já podem caminhar com as próprias pernas, Reid. — Disse ela com uma gargalhada, pousando as duas mãos nas costas dele, sentindo a pele desnuda e querendo descobrir cada vez mais, percorrer cada centímetro daquele corpo. — Ainda posso me lembrar muito bem que você me disse que eu era um homem das cavernas. — Ele a pousou em cima de uma das banquetas de frente para a ilha da cozinha. — Agora apenas fique aqui, sentada, e observe enquanto eu, que sou um maravilhoso chefe de cozinha, preparo algo incrível nunca antes provado na história do universo. — Eu realmente não imaginava que você sabia cozinhar. — Eu não sei. Sou péssimo na cozinha. Mas você vai ter que comer mesmo assim. E vai dizer que está delicioso. E vai repetir o prato. — Ele lançou uma piscadela na direção dela, fazendo com que seu coração quase parasse. — Duvido que você possa chegar a ter a coragem de dizer que a minha comida está ruim. Você não seria capaz de magoar os meus sentimentos. Edward precisava parar de dizer aquelas coisas. Precisava parar de pegá-la no colo, de fazer massagens na banheira e de beijá-la como se ela fosse a mulher mais importante do mundo inteiro. Ele simplesmente não podia seguir fazendo nada daquilo. Pois se continuasse, Vicky sabia que o seu coração estaria em risco. Por isso, ela precisava tomar cuidado. Muito cuidado. — Eu posso ajudar você. — Ela se movimentou para levantar da banqueta, mas ele a fez sentar novamente. — Não. — Ordenou ele. — Você irá ficar sentada e eu vou alimentar você. — Acha que eu sou algum tipo de animal de estimação? — A partir de agora, eu decidi que você é o meu pequeno dinossauro. — Ele lançou outra piscadela na direção dela. Pequeno dinossauro. Edward Reid acabara de chamá-la de pequeno dinossauro. E aquilo pareceu-lhe simplesmente a coisa mais adorável que qualquer pessoa já lhe dissera. Pensar naquilo fez com que Vicky quisesse gritar. Ele estava conseguindo, concluiu. Edward estava conseguindo conquistá-la e tudo estava acontecendo muito rapidamente. Ela estava perdendo o controle acerca dos próprios sentimentos. — Você costuma comparar as suas amantes com animais? — Não. E você já não é a minha amante. — Ah, não? E o que eu sou? — Tola. Você é a minha futura esposa. Ele falou aquelas palavras de forma tão leve, como se de fato acreditasse que aquilo podia se possível, que por alguns segundos Vicky quase acreditou que se casaria com ele. Mas, assim como a ideia surgiu, se dissipou rapidamente. — Eu não vou me casar com você. Edward ligou o pequeno aparelho de som que ficava na cozinha e começou a pegar os ingredientes. — Você já está começando a falar besteiras. Deve ser a fome. Hora de cozinhar. Em silêncio, Vicky apenas observou enquanto ele corria de um lado para o outro, cortando e picando, fazendo molhos e dando o melhor de si. Vez ou outra, parava e fazia algum tipo de dancinha ridícula. Edward parecia relaxado. Apesar dos olhos cansados, era claro que ele estava leve e feliz. Ela queria guardar aquele momento para sempre, queria que nada daquilo acabasse. Queria memorizar a cena de Edward dançando sem camisa enquanto segurava uma panela em uma das mãos e uma colher de pau na outra. Queria guardar aquele sorriso imenso, que parecia chegar aos olhos e iluminar todo o rosto masculino. — Está pronto! — Ele exclamou longos minutos depois, completamente orgulhoso, como se aquilo fosse a maior vitória do dia. — Risoto de cubos de frango ao molho branco! — Está cheirando bem. — Ela o ajudou a colocar a mesa. — Sente-se, volto em um instante. O apartamento estava inteiramente vazio. Edward contratara alguns empregados que vinham esporadicamente para limpar os cômodos, mas, geralmente, aquele lugar era quase sempre silencioso e solitário. A presença de Vicky, de certa forma, parecia trazer luz ao lar. Quando Edward voltou, trazia consigo um envelope, uma jarra de suco e dois copos. — Abra. — Ele entregou o envelope nas mãos dela. — O que seria isso? — Curiosa, ela tratou de abrir e começou a ler os papéis lentamente. — Você não... — Sim! Comprei passagens de avião para que possamos passar alguns dias em Paris! — Ele abriu um imenso sorriso. — Sabe falar francês? Não, ela não sabia falar francês. Mas ao ver aquela felicidade estampada no rosto dele, Vicky soube que seria incapaz de se negar a aceitar o presente. — Não, eu não sei falar francês. — Não importa. Você estará ocupada demais beijando a minha boca. Não irá precisar falar coisa alguma. Vicky sorriu. Ele era especial. Conhecê-lo melhor só provava que talvez ela não errara ao decidir entregar-se a ele naquela primeira noite de prazer. O grande problema era que tudo aquilo estava crescendo. Edward estava roubando seu coração. Capítulo 16 Com o passar dos dias, as pessoas já começavam a sussurrar acerca da mudança de humor que Edward estava apresentando. De alguma forma, aparentemente passara a sorrir um pouco mais e, apesar da lista interminável de coisas que tinha para resolver diariamente, era claro que ele estava um pouco mais leve. Edward cancelou todo e qualquer compromisso para o fim de semana apenas para ficar totalmente livre para Victoria. E quando o domingo chegou, sentia-se extremamente nervoso, afinal encontraria com os pais dela Durante muito tempo, fora ensinado a desprezar os Andrews e agora tudo o que ele mais queria era provar-se bom o suficiente perante os olhos deles. Charles Reid ainda não sabia coisa alguma sobre o bebê que Victoria estava esperando. Edward preferia esperar um pouco mais e tentar amadurecer as ideias dentro da própria cabeça, para que assim, pudesse lidar com o péssimo gênio que tinha seu pai. Charles sempre fora egoísta e manipulador. Não se importava com nada além do próprio bem-estar, e apesar de estar com a idade avançada, seguia agindo exatamente como costumava agir na juventude. Passava muito do seu tempo com prostitutas de luxo, bebendo, fumando e comprando tudo o que o dinheiro era capaz de pagar. Quase nunca tinha tempo para ligar e conferir como Edward estava. Nunca se importara de verdade. No início, quando Edward começara a atuar diretamente nas empresas da família, Charles costumava ligar esporadicamente para saber cada detalhe, buscando avaliar os números e sempre interessado em conseguir cada vez mais dinheiro. Alguns primos de Edward também trabalhavam nas empresas, mas nenhum tinha o poder que ele tinha. Porém, quanto mais ele ganhava experiência, menos Charles ligava. E quando provou as próprias capacidades, as ligações se tornaram inexistentes. Edward realmente preferia não se importar, mas era difícil. Nunca tivera um pai presente e mesmo se esforçando tanto para agradar a família, não era reconhecido. Nunca seria. Por isso, não se sentia preparado para falar a verdade sobre o bebê que Victoria estava esperando. Provavelmente, Charles seria egoísta e frio como sempre, e não teria talento algum para se tornar um bom avô. E se Edward fosse bem sincero, sabia que não queria que Charles tivesse contato algum quando a criança nascesse. Se ele não estivera presente na vida do próprio filho, como esperar que estivesse no futuro do neto? Nada daquilo fazia sentido. Faltando cerca de dez minutos para o horário marcado, Edward esperou receber a autorização dos Andrews para que pudesse adentrar no estacionamento do prédio. Tinha as mãos geladas e se sentia extremamente nervoso. De certa forma, aquele encontro causaria a mudança na história de ambas as famílias, afinal, a partir dali, as brigas precisariam cessar. Edward queria ser um bom pai. Queria, acima de tudo, resguardar e impedir que traumas familiares marcassem a infância do seu filho. Por isso, seria capaz de qualquer coisa para acabar, de uma vez por todas, com toda e qualquer briga entre ambas as dinastias. Quando, por fim, o porteiro recebeu a notificação de que a entrada estava autorizada, ele acelerou o carro e estacionou. Não muito longe dali, as portas de um dos elevadores se abriram e Vicky apareceu com um sorrisinho nervoso. Naquela tarde, ela trajava um vestido solto com tons de cinza riscado. Calçava sapatos brancos e tinha os cabelos negros soltos. Tinha pouca maquiagem no rosto e apesar da simplicidade, estava extremamente linda aos olhos dele. Ele desceu do carro e acionou o alarme. Com passadas rápidas, tratou de caminhar na direção dela, puxando-a para um beijo claramente apaixonado. — Senti a sua falta. — Disse ele. — Mas nós fomos ao cinema ontem. — Não importa, eu senti a sua falta mesmo assim. Você chorou como uma criancinha ao final do filme. — Eu? — Ela soltou uma gargalhada. — Foi você quem chorou quando o seu super-herói favorito morreu para salvar toda a equipe! — Mentira, eu estava apenas suando pelos olhos. Não seja exagerada. — Você soluçou de tanto chorar, Reid. — Mentira! Céus, Victoria, você mente como uma profissional! Eu não chorei! — Ele também riu. — Como será que os investidores reagiriam caso soubessem que o grande magnata da família Reid estava chorando com a morte de um super- herói? — Eles não irão saber, pois você certamente não irá contar. — Ele deu de ombros. — E você também chorou. Não seja sonsa. — Nós dois choramos. — Tal fato me leva à conclusão de que a mulher que chora ao meu lado com a morte de um super-herói, certamente é a mulher que merece permanecer ao meu lado pelo resto dos meus dias. — Ele pousou a mão em sua cintura e, juntos, caminharam na direção do elevador. — Chega desse assunto. Eu estou nervoso. Acha que os seus pais irão me odiar? — Basta você não ativar o seu modo Christian Grey. Tudo dará certo. — Modo Christian Grey? — Sim. Mandão, controlador e machista. Apenas haja como uma pessoa normal, sem surtar nenhuma vez. Você tem se saído bem. — Ainda preciso me acostumar com a ideia de que você ama dar ordens tanto quanto eu. — Ele estalou a língua. — Mas não se preocupe, estou com um ótimo humor e não pretendo dar ordens nos seus pais. — Eu espero que não. O meu pai tem uma pistola na gaveta da mesa do escritório e seria trágico se ele decidisse usá-la com você. — Obrigado por avisar. — Ele abaixou a cabeça e a beijou na bochecha. Edward ainda estava sorrindo enquanto caminhavam quando o som de flashes ecoaram no estacionamento. E naquele mesmo segundo, ele soube do que se tratava. — Paparazzi. — Afirmou, fúria crescendo dentro dele. — Você ouviu o som dos flashes? — Sim. — Vicky olhou ao redor, cerrando os punhos. Os jornais não podiam vazar a notícia de que estavam juntos. Simplesmente não podiam. Vicky sabia que Charles Reid era um homem complicado, e que Edward ainda estava buscando a melhor maneira de lidar com a situação. Caso vazassem, todo o plano que tinham preparado de manter o relacionamento em segredo seria desfeito. Parceiros empresariais fariam perguntas e entrevistadores os perseguiriam. A verdade era que Edward e Vicky estavam apenas se conhecendo e tratando de criar algum tipo de vínculo para que pudessem ter certa conexão quando a criança nascesse. Se alguém inventasse histórias acerca da relação deles, ambos precisariam vir à público para explicar toda a situação da melhor maneira possível. E, certamente, os dois estavam sobrecarregados de problemas para serem obrigados a lidar com mais um. — Merda! — Exclamou Edward. Enquanto seus olhos percorriam o ambiente, avistou o fotógrafo que corria por entre os carros. Sem pensar duas vezes, ele correu atrás. Seu corpo era forte e ele estava em forma, mas mesmo assim, não conseguiu alcançá-lo. O fotógrafo saiu do estacionamento e dobrou uma esquina. — Amanhã todos irão saber que estamos juntos. — Comentou Vicky com ar de impaciência ao se aproximar, passando uma das mãos nas costas de Edward para tentar acalmá-lo. — Inclusive o meu pai. — Sinto muito. — Ela o segurou pela mão. — Mas ficará tudo bem. Assim como você me prometeu que iria me ajudar a lidar com a gravidez, eu irei ajudar você a lidar com a mídia. — Você é uma boa mulher, Vicky. — Edward estava levemente ofegante após ter corrido de forma tão abrupta. — Sou apenas uma mulher que reconhece boas atitudes. — Ela sorriu. — O que acha de subirmos? Os meus pais estão esperando. — Sim, acho que devemos subir de uma vez. Começo a acreditar que preciso enfrentar um problema por dia. — Exatamente. Enfrentamos um problema por dia. Juntos. Caminhando de mãos dadas, Edward e Vicky percorreram o estacionamento e entraram no elevador. Era como se um completasse o outro. Ainda que não se conhecessem tão bem, parecia óbvio que havia certa conexão. Além disso, passaram a confiar um no outro. Ele estava nervoso e agora também estressado. Seria apenas uma questão de horas para que todos soubessem de toda a verdade. Os malditos paparazzi não perdiam tempo e certamente venderiam as fotos para as revistas e jornais mais baixos da área. Odiando polêmicas, ele sempre buscava evitar qualquer tipo de atividade que pudesse ser considerada escandalosa. Mas agora, ser flagrado com a inimiga da própria família, sem dúvidas, traria muito burburinho nos próximos dias. Mas, no momento, era necessário pensar no presente. Conheceria os pais de Vicky e tentaria lidar com eles. Era essencial que passasse uma boa imagem, afinal, de alguma fora, passaria a ser parte da família. O elevador parou e as portas de abriram. Vicky olhou na direção dele e sorriu. — Vamos? — Sim, vamos. Os meus sogros estão esperando por mim. Capítulo 17 Mercedes estava sentada no sofá da sala de estar ao lado de Logan. Na televisão, passava a reprise de uma série antiga. Apesar de nenhum dos dois se prestar ao papel de admitir, era óbvio que ambos estavam ansiosos e nervosos com o fato de que logo conheceriam Edward Reid. Era estranho saber que um Reid, entre todas as pessoas do mundo inteiro, fora capaz de seduzir Vicky. Logo ela, que sempre fora reconhecida por seu controle e certa aversão aos relacionamentos. Desde que souberam da notícia, estavam tentando se adaptar à ideia, mas era difícil. Naquele dia em particular, dariam mais um passo para que pudessem aceitar, de uma vez por todas, que Edward Reid estaria sempre por perto dali em diante. — Chegamos. — Disse Vicky com um sorriso amarelo, sem saber muito o que fazer. — Este é Edward Reid. Edward, estes são os meus pais, Mercedes e Logan Andrews. Edward primeiro coçou a cabeça em claro sinal de insegurança e em seguida deu dois passos, tratando de cumprimentá-los. — É um prazer conhecê-los, senhor e senhora Andrews. — Saberemos se é um prazer quando conhecermos você melhor. — Logan lançou um olhar avaliador. — Espero não decepcionar. Mercedes, inicialmente, apenas balançava a cabeça, claramente pensativa. Parecia avaliar cada atitude de Edward. E não foram necessários mais do que poucos segundos para que ela concluísse que as atitudes dele eram sinceras. Apesar de também estar nervoso, parecia óbvio que Edward queria fazer a coisa certa. Seu sorriso aparentava ser sincero, e a forma com que ele olhava para Vicky era encantadora. — Pedi para que preparassem pratos da culinária italiana para o jantar. Espero que seja do seu agrado. — Mercedes sorriu e após cumprimentá-lo, uniu as duas mãos, um pouco tensa. — Costumo gostar da comida italiana. Na verdade, sempre volto um pouquinho acima do peso após realizar viagens de negócios na Itália. — Ele sorriu e deu de ombros. — Ninguém é capaz de resistir à uma bela macarronada. — Você tem total razão. — Logan sorriu, ainda avaliativo. Todos se sentaram nos sofás da sala de visitas. Edward ficou ao lado de Vicky, e Logan tomou lugar próximo a Mercedes. Vicky, que ficara em silêncio apenas observando a conversa entre os três, decidiu falar pela primeira vez. — Um paparazzi conseguiu se infiltrar entre os carros do estacionamento e tirou uma foto minha com Edward. — Ela não pretendia falar sobre aquilo naquele momento, mas não conseguiu resistir. — Nós não conseguimos pegá-lo. — Havia um paparazzi no estacionamento? Ou seja, já não podemos viver em paz. Esses vermes sempre encontram uma forma de se infiltrar. — Logan comentou, claramente raivoso. — Vocês, os dois, estarão nos sites de fofoca antes mesmo do dia acabar. — Não sei até que ponto isso poderia afetar os negócios das duas famílias. — Avaliou Edward. — Ou talvez, todo o burburinho possa ser algo favorável. — Mercedes tocou o tecido do vestido, sempre muito pacífica e pensativa. — De certa forma, vocês dois são a representação de ambas as dinastias. Saber que estão juntos fará com que os investidores reflitam. Muitos irão especular sobre possíveis parcerias. Detalhes assim aquecem o mercado. A família Reid é reconhecida mundialmente pela tecnologia de ponta. Os Andrews são reconhecidos pela inovação e pela qualidade. Unir as duas dinastias não mancharia os nossos nomes. Pelo contrário, fortaleceria. Logan olhou para a esposa em admiração e sorriu. — Mercedes está totalmente correta. E não, admitir isso não é fácil para mim. Passei a minha vida inteira ouvindo do meu pai, e do pai do meu pai, que vocês, os Reids, são detestáveis. E todos sabemos que alguns que detém esse sobrenome, de fato, não são tão agradáveis, mas suponho que nem todos sejam assim. E espero que você, Edward Reid, não seja assim. — Logan relanceou o olhar na direção de Vicky. — Confio nas escolhas da minha filha. Até então, Edward nunca tinha pensado na possibilidade de que ser visto com Vicky podia representar, na verdade, um aquecimento nas ações da dinastia Reid. E ali, enquanto conversavam, tudo parecia muito claro. — Talvez devêssemos realizar uma coletiva de imprensa para esclarecer as coisas. — Sugeriu Vicky ao olhar para Edward. — Esperamos que os jornais liberem a notícia, fato que irá acontecer entre hoje e amanhã, e em seguida realizamos a coletiva. Não teríamos tempo de anunciar nada hoje. — Me parece uma boa ideia. — Edward sorriu. — Estou um pouco surpreso. Não era exatamente esse o tratamento que eu estava esperando. — Você está ao lado da nossa filha, Edward. — Sempre que Mercedes falava, era como se uma rajada de paz enchesse o coração de Edward. Era como se, de alguma forma, pudesse sentia que aquela mulher era repleta de luz. E que amava, verdadeiramente, Vicky. — Nós não poderíamos tratar você como um inimigo. Não mais. Você será o pai do nosso neto e isso é o que mais importa agora. Edward ficou em silêncio por alguns segundos, escolhendo as próprias palavras. — Eu gostaria de interromper, de uma vez por todas, as brigas entre as nossas famílias. — A voz de Edward soou firme, cheia de certezas. — Eu sei que o meu pai não aceitará muito bem, mas, como eu sou o detentor atual de maior parte das ações da família Reid, não há nada que o meu pai possa fazer acerca das decisões que eu possa chegar a tomar no futuro. Logan assentiu, concordando com o pensamento de Edward. —Nós não criamos a nossa filha para ser uma princesa indefesa. Victoria é uma mulher que cresceu sabendo que é incrível. Mas mesmo assim, cuide dela, Edward. — Victoria fez menção de falar alguma coisa, mas Logan levantou o dedo, fazendo-a voltar a fechar a boca. — Todos nós merecemos alguém que se importe verdadeiramente com quem somos, com os nossos medos, com as nossas alegrias. Quero que você cuide da nossa filha. Isso não quer dizer que ela é frágil. Nada em Victoria reflete fragilidade. No entanto, quero que você cuide dela porque é exatamente isso o que devemos fazer quando amamos alguém. Vicky sentiu algo em seu estômago se retorcer enquanto ouvia as palavras do próprio pai. Isso é o que devemos fazer quando amamos alguém. Edward não a amava. Nunca amaria. Ele deixara claro que era incapaz de acreditar em tal sentimento. Por isso, por mais que sonhasse em ter um relacionamento tão belo quanto o dos próprios pais, sabia que aquilo não seria possível, afinal Edward tinha as próprias amarras. E Vicky sabia que nunca seria capaz de desfazê-las. Alguns traumas, pensou ela, eram para a vida inteira. — Farei o meu melhor, senhor Andrews. — Edward assentiu. — E você, Victoria, também cuide de Edward. Todos nós sabemos que você pode ser muito cabeça dura quando quer. — Mercedes apontou na direção da filha. — Não tenha medo de sentir. Apenas sinta. Edward olhou fixamente na direção de Vicky, percebendo que ela estava um pouco envergonhada com as palavras da mãe. Sim, de fato, Victoria podia ser cabeça dura e adorava desafiá-lo. Mas, ao mesmo tempo, era incrível poder crescer ao lado dela, redescobrindo cada detalhe daquela mulher que era tão grandiosa. — Chega desse assunto. — Vicky se levantou do sofá. — Eu tenho certeza de que o jantar já está pronto. — Sim, está. — Mercedes afirmou e se levantou ao lado de Logan. Todos se encaminharam para a sala de jantar. Aos poucos, as conversas começaram a fluir de forma mais leve e Edward se sentiu confortável. Não era difícil estar na presença daquela família. Todos pareciam respeitar uns aos outros, e havia a sensação de paz e harmonia que ele nunca sentira na própria família. — A comida está deliciosa. — Comentou ele enquanto todos saboreavam os pratos italianos. — Ficamos felizes que tenha gostado. — Respondeu Mercedes. De falo, ela havia gostado de Edward. Ele parecia ser um homem extremamente educado, com o tipo de elegância que vinha de berço. Os assuntos que escolhia para as conversas à mesa eram interessantes e convincentes. No entanto, interrompendo o jantar, o celular pessoal de Edward tocou. Apenas algumas pessoas tinham o número daquele aparelho. As secretárias, por exemplo, estavam autorizadas a ligar somente em situações de emergência. Por isso, quando o celular tocou e ele tirou do bolso para desligar, assustou-se ao ver o identificador de chamadas. Era exatamente uma das suas secretárias. — Desculpem-me, mas temo que eu realmente irei precisar atender. — Ele estalou a língua, claramente irritado. — Esse aparelho recebe apenas ligações de emergência, então não posso ignorar. Eu sinto muito. Logan assentiu. — Não há problema, garoto. Sinta-se em casa. Edward se levantou e, antes de sair da sala de estar, relanceou o olhar, pedindo desculpas silenciosas para Vicky. Caminhando por um dos corredores do apartamento, ele atendeu a chamada. — Espero que realmente seja importante. — Disse ele com voz ameaçadora. — Desculpe interromper, senhor Reid. — A voz da secretária soou um pouco nervosa e insegura. — Acabamos de receber a informação de que o seu pai, o senhor Charles Reid, sofreu um AVC enquanto dirigia e chocou o carro contra um ônibus. Ele foi encaminhando para o hospital geral. Não recebi nenhuma informação acerca do estado atual. Eu sinto muito, senhor Reid. Primeiro, Edward ficou totalmente em silêncio, em completo choque. Seu coração acelerou e de repente, sentiu-se frágil. — Por favor, me passe o endereço do hospital por mensagem. Irei até lá agora mesmo. — Sim, senhor. Quando a chamada foi encerrada, Edward se encostou na parede e respirou profundamente. A vida era um grande desastre. Capítulo 18 Edward ficou cerca de cinco minutos completamente parado, apoiando-se na parede enquanto pensava sobre o que precisava ser feito. Apesar de não ter uma relação agradável com Charles, saber que ele sofrera um acidente era, sem dúvidas, uma notícia chocante. Quando por fim recuperou a própria atitude, Edward tratou de explicar toda a situação para os Andrews e partiu. Vicky se ofereceu para acompanhá-lo até o hospital geral, mas ele recusou gentilmente a oferta. Sabia que ser visto com Vicky naquele momento não era uma boa ideia. Primeiro, as notícias explodiriam e em seguida seria necessário que fizessem uma coletiva de imprensa para que assim pudessem explicar a relação que tinham. Nenhum dos dois queria deixar os investidores confusos, portanto, qualquer aparição pública, no momento, era restrita. Precisavam agir com cuidado, afinal ambos eram grandes nomes no mundo dos negócios e qualquer atitude poderia representar uma grande polêmica. Enquanto dirigia o mais rápido que podia rumo ao hospital, Edward pensou em como os Andrews foram agradáveis ao recebê-lo. Mesmo com as disputas que já existiam há décadas, eles tentaram fazê-lo sentir-se confortável, quase como se fosse um membro da família. E aquilo era um fato estranho, afinal Edward nunca se sentira parte de alguma coisa. Durante todos aqueles anos desde que sua mãe morrera, tivera que aprender a lidar com as próprias dores sozinho. Por muito tempo, aprendera que o amor era uma perda de tempo, e que só podia ser aceitável no mundo da ficção. Na vida real, sentimentos precisavam ser banidos. Apenas os negócios importavam. Quanto mais longe estivesse da capacidade de sentir, menos corria riscos de sofrer. Sua mãe fora o maior exemplo de que o amor era algo inadequado. Por outro lado, ele começava a ficar um pouco assustado com a forma com que pensava sobre Vicky. Tinha a mais plena certeza de que não estava, — ou talvez simplesmente não quisesse admitir a verdade —, apaixonado por ela, mas, quando se viu reunido com os Andrews, percebeu mais uma vez que queria ter a possibilidade de formar uma família. De poder cuidar do seu filho ao lado de uma mulher tão admirável quanto Vicky. Depois de tanto tempo acreditando que o melhor a se fazer era guardar o próprio coração e fingir que sentimentos não existiam, era muito difícil se pegar naquela situação. Simplesmente não conseguia saber, com segurança, qual era a melhor opção. Devia seguir em frente e permitir que todos aqueles sentimentos crescessem? Ele não sabia. Assim que chegou ao hospital, Edward tratou de colocar todas aquelas inseguranças sentimentais em algum lugar escondido. Precisava se preocupar com Charles. Mesmo que não tivessem uma boa relação, Edward ainda se sentia no dever de cuidar daquele homem, afinal ele nunca deixaria de ser seu pai. E sempre teriam o mesmo sangue. Edward entrou com passadas rápidas no prédio e foi direcionado para o setor indicado pela recepcionista. Após percorrer alguns corredores, encontrou com a médica Helen Tenney. Ela era uma mulher negra e de olhos castanhos. Tinha cerca de quarenta e cinco anos, e tinha um sorriso simpático. Edward se aproximou para cumprimentá-la. — Sou Edward Reid, filho do senhor Charles Reid. — A médica assentiu de forma calma. — Como está o meu pai? — Eu sou Helen Tenney, profissional responsável pelo paciente. O que acha de sentarmos? — Ela apontou na direção das cadeiras metálicas. Sentaram-se um ao lado do outro. — Tentarei explicar cada detalhe da forma mais clara, mas se tiver alguma dúvida, sinta-se confortável para me perguntar, tudo bem? — Sim, doutora. — Edward estava nervoso e inteiramente impaciente. — Charles Reid sofreu um AVC hemorrágico. Ou seja, ocorreu o rompimento de um vaso cerebral, resultando em uma hemorragia no interior do tecido cerebral. Quando ele chegou ao hospital, agimos para fazer o tratamento de emergência e, em seguida, seguimos com a tentativa de prevenir o paciente contra a possibilidade de outro AVC. Algo assim poderia ser fatal, mas, com sorte, o senhor Reid está estabilizado. No entanto, realizamos alguns testes e chegamos à conclusão de que ele está com o lado esquerdo do corpo paralisado, detalhe que aponta que a área afetada do cérebro foi a do lado direito. — Helen fez uma pequena pausa, esperando que Edward compreendesse e absorvesse cada informação. — E como ele está agora? — O paciente já se encontra no quarto, sendo monitorado com frequência moderada. Percebemos que ele apresentou, também, alterações comportamentais. — O que você quer dizer com alterações comportamentais? — Quero dizer que o senhor Reid está apresentando explosões de raiva em alguns momentos, e em outros apatia. Devo dizer que todos estes fatores são esperados e comuns. Apesar disso, ele está lúcido e não apresenta nenhum tipo de alucinação. Sabe o que quer e se comunica sem grande dificuldade, dado o caso. — Helen, que estava segurando uma ficha com os detalhes de Charles, leu por alguns segundos. — Ele teve sorte. O ônibus não estava em alta velocidade. O acidente, que ocorreu logo após o paciente perder o controle do carro, resultou na fratura da pena direita. Mas, dada a seriedade do acidente, diria que definitivamente Charles Reid teve muita sorte. Edward ficou pensativo. Simplesmente não conseguia compreender como as coisas podiam mudar tão rapidamente. Em um segundo, estivera almoçando com a família Andrews, e no outro, encontrava-se em um hospital recebendo a notícia de que seu pai estava com uma perna fraturada, alterações explosivas de humor e parte do corpo paralisado. O destino sem dúvidas era irônico e maldoso, concluiu ele. — Posso vê-lo? — Sim, mas apenas por alguns poucos minutos. Ele está cansado e ainda um pouco grogue. O efeito dos sedativos passará por completo apenas em algumas horas. Me acompanhe, por favor. A voz da doutora Tenney passava muita segurança. Apesar da calma e da confiança, explicava cada detalhe com clareza e certa distância. — Você tem dez minutos. — Disse ela, e em seguida se afastou. Edward entrou no quarto e sentou-se na poltrona ao lado da cama. Estava com as mãos suadas e um pouco nervoso. A televisão estava ligada em um canal de notícias. O volume não se encontrava demasiado alto, apenas o suficiente para preencher o ambiente com som. Apesar de sonolento, Charles parecia atento ao noticiário. — Como se sente? — Perguntou Edward sem saber muito bem o que perguntar. Nunca haviam sido próximos, então era praticamente impossível saber lidar com um homem que era praticamente estranho. — Como você acha que eu estou me sentindo? — Charles respondeu apenas longos segundos depois. Era difícil compreendê-lo, sua voz era quase como um murmúrio fraco. — Fiquei assustado. Vim ver o senhor assim que pude. Charles sequer desviou o olhar da televisão. — A sua presença aqui não vai ajudar em nada. — Charles sempre fora extremamente grosso e maldoso com Edward. Edward abriu a boca para tentar responder alguma coisa, mas logo fechou outra vez. Não sabia o que podia dizer. E de repente, se sentiu o garotinho amedrontado, que apenas observava a própria mãe se perder entre os próprios sentimentos enquanto Charles se divertia com outras mulheres. — O senhor ficará bem, eu tenho certeza. Ainda sem desviar o olhar da televisão, Charles apenas ignorou. Os minutos se passaram e o silêncio parecia quase ensurdecedor aos ouvidos de Edward. — Aumente o volume. Está baixo. — Ordenou Charles. Como um garotinho assustado, Edward apenas obedeceu. E foi naquele exato momento que a jornalista começou a falar sobre Edward Reid e Victoria Andrews. Inúmeras fotos dos dois no estacionamento estavam sendo exibidas na tela da televisão enquanto a notícia era dada. Em choque, Edward apenas apertou o botão do controle da televisão para desligá-la. Suas mãos estavam trêmulas. — Que diabos... — Charles desviou o olhar. — Ligue outra vez. — Não acho que seja uma boa ideia, meu pai. — Eu estou mandando você ligar. Trêmulo, Edward ficou imóvel. Não podia obedecer. Sabia que se continuasse ouvindo a notícia, Charles provavelmente teria algum tipo de complicação. — É verdade? — Perguntou com um olhar de nojo. — Você está se relacionando com aquela putinha? — Não fale dessa forma grosseira acerca dela e... Charles levantou a mão que ainda se movimentava e lançou um tapa no rosto de Edward. O ato não teve força física, mas foi o suficiente para fazer com que lágrimas brilhassem nos olhos de Edward. Sempre fora assim. Ele era um homem forte, que ditava regras e tinha total certeza de que sempre seria obedecido. Mas quando o assunto era acerca de Charles, Edward voltava a ser a criança amedrontada que encontrara a mãe morta. — Eu nunca amei você, Edward. — Charles quebrou o silêncio. — Você sempre foi a minha maior decepção. Eu poderia dizer que estou surpreso, mas não estou. E me arrependo de ter colocado as empresas da família nas suas mãos. Você sujou o seu nome, traiu o nosso sobrenome. Quero que saia daqui e nunca mais me chame de pai. — Não acho que o senhor esteja sendo justo. — A voz de Edward estava embargada. — Você nunca passou de um mimado, Edward. Eu preferia que Violet tivesse abortado. Você é uma vergonha para toda a família. Sempre foi. — Charles fez uma pausa e fez uma careta, como se estivesse sentindo algum tipo de dor. — Violet errou em não ter abortado você. Matado você. E quero que você não esqueça que eu nunca, em nenhum momento da minha vida, fui capaz de amar quem você é. Eu tenho nojo do que você representa, Edward. Agora saia daqui. Edward ficou congelado por alguns segundos e lágrimas solitárias escaparam, escorrendo por suas bochechas. Em silêncio, se levantou da poltrona e olhou na direção de Charles uma última vez. — Talvez eu tenha esperado a vida toda para ouvir da sua boca que o senhor me ama. — Edward engoliu em seco. — Suponho que seguirei esperando. — Você é patético. Como eu poderia amar um homem como você? Um homem que chora como se fosse uma menininha que perdeu a boneca. Pelos céus, saia desse quarto, você me enoja. — Charles começou a tossir. — Espero que o senhor melhore logo. — Edward deu as costas e saiu do quarto. Ele preferiu já não falar com a doutora. Apenas se encaminhou para o estacionamento e decidiu que o melhor era voltar para o próprio apartamento. Dirigiu em silêncio enquanto a dor o dilacerava. Não muito tempo depois, no quarto em que Charles estava, um alarme começou a soar e enfermeiras correram pelos corredores. Capítulo 19 Charles Reid morreu durante a madrugada, pouco antes do amanhecer. Segundo os laudos médicos, ele teve mais um AVC seguido de uma parada cardíaca. Tentaram reverter o caso, mas infelizmente nenhum esforço foi suficiente para fazê-lo resistir. Edward foi contatado logo em seguida, e após isso, sua vida pareceu se transformar em um turbilhão de conflitos. Apesar de aquela ser uma notícia triste, Edward não sentia que estava perdendo um pai. Era como se um estranho estivesse partindo para nunca mais voltar. E de certa forma, Charles representava a parte mais sombria da vida dele. A morte de Violet fora apenas o ponto mais alto entre todas as dores, mas antes disso, haviam incontáveis traumas que também tiveram o poder de fixar garras na formação de Edward. Os aniversários em que Charles não estivera presente, as palavras duras, os inúmeros momentos em que ele tratara de demonstrar o desprezo que passara a sentir por Violet na época, as explosões de raiva que resultavam em pratos quebrados. Cada detalhe ainda precisava de certo tempo para cicatrizar. Edward não sabia quando seria capaz de seguir em frente, quando seria capaz de acreditar no poder de uma família bem estruturada. Mas sabia que não desejava guardar todas aquelas mágoas para sempre. Por isso, pretendia respeitar as próprias dores e tentar cicatrizá-las, construindo novas memórias e enterrando as antigas. Agora, tudo o que importava era que pudesse ser capaz de dar o melhor ao filho que Vicky estava esperando. Por mais que tivesse os próprios medos, não permitiria que nada o impedisse de ser um bom pai. Sem dúvidas, amaria o próprio filho e nunca se esqueceria de deixar aquele fato claro. Apesar de não ter tido um bom exemplo com Charles, sabia que a vida o ensinaria. Afinal Edward queria, mais do que qualquer outra coisa, aprender a ser um pai maravilhoso. Um pai que ele nunca teve a oportunidade de ter ao seu lado. Quando o dia começou, Edward tratou de resolver cada detalhe. Primeiro, o corpo de Charles foi encaminhando ao serviço funerário. A cerimônia ficou marcada para dali dois dias. Apenas alguns investidores e familiares estariam presentes, e a homenagem seria simples, sem grande burburinho. As empresas Reid publicaram um comunicado oficial através do The New York Times, como forma de respeito ao patriarca da família Reid. No trabalho, todos os funcionários vestiam roupas negras para representar o luto. Edward sabia que nenhum dos funcionários estava, de fato, de luto. Charles fora um homem desagradável que costumava usufruir do poder para se sentir superior a qualquer pessoa. Eram muitos os casos de humilhação através dos anos, e as pessoas só trajavam luto porque, mais do que tudo, respeitavam Edward, que sempre fora muito diferente do próprio pai. Os paparazzi e meios midiáticos eram irritantes e inconvenientes. Muitos chegavam a dizer que a morte de Charles fora causada pelo desgosto ao descobrir que Vicky era a nova amante do herdeiro do império Reid. Era difícil se locomover sem que algum fotógrafo tratasse de fazer algum tipo de foto em momentos totalmente desnecessários. Por isso, após concluir a lista de coisas que tinha para aquele dia em questão, Edward voltou para casa e ficou sentado no sofá da sala de estar, sozinho. Enquanto pensava, chegava à conclusão de que nunca seria bom o suficiente para manter alguém por perto. Charles estava certo. Como alguém poderia ser capaz de amá-lo? De repente, a solidão pareceu ser a sua melhor companhia. E aquilo doeu, como se todos aqueles anos tratando de demonstrar força e poder começassem a cobrar seu preço. Edward se encolheu contra as almofadas e antes mesmo que pudesse perceber, lágrimas se avolumaram em seus olhos. Um bolo havia se formado em sua garganta. Como eu poderia amar um homem como você? A voz de Charles ainda ecoava em seus ouvidos. Lutara durante a vida inteira para provar ao mundo que era bom o suficiente. Para provar que poderia, sim, ser um orgulho. E, ironicamente, as últimas palavras de Charles foram exatamente as que ele temera ouvir desde criança. Interrompendo seus pensamentos, a campainha tocou, fato estranho, afinal qualquer visita era anunciada. Sem camisa e vestindo apenas uma calça de moletom, ele caminhou descalço pelo apartamento e abriu a porta. Trajando um vestido negro simples, Vicky estava parada e com um semblante sério. — Eu não queria incomodar você. — Disse ela após engolir em seco. — Mas eu não poderia deixar você enfrentar tudo isso sozinho. Edward olhou fixamente na direção de Vicky e percebeu cada detalhe. O semblante preocupado, o anseio de ser aceita naquele instante apenas para não deixá-lo sozinho. — Tudo bem. Entre. — Respondeu Edward. Ela deu algumas passadas, os saltos estalando no piso, e em seguida parou, segurando-o pela mão. — Prometemos que enfrentaríamos as dificuldades juntos. — Ela disse com uma voz doce. Repleta de compreensão. Ali, não havia cobrança, apenas compreensão. — E eu estou aqui para você, Edward. Eu sempre estarei. Sem esperar que ele respondesse, ela o puxou para um abraço que fez com que as pernas dele tremessem e seu coração perdesse o compasso. Ninguém nunca o havia abraçado daquela maneira. Ninguém nunca, de fato, estivera para ele. E naquele momento, Edward soube que amava Victoria. Soube que a sua vida era muito mais feliz ao lado dela. Perceber-se capaz de sentir tantas coisas fez com que tudo dentro dele se embaralhasse. Não sabia, simplesmente não sabia, como lidar com tudo aquilo. E por não saber, preferiu engolir os próprios sentimentos e permanecer em silêncio. — Você já jantou? — Perguntou ela quando o abraço terminou. — Não. Na verdade, não tenho fome. Ela estalou a língua. — Certo, vou preparar o seu jantar. — Tirou os saltos e os recostou contra a parede. Totalmente confortável no ambiente, partiu na direção da cozinha. — Você sabe que não precisa estar aqui, não sabe? Vicky parou de caminhar e se virou na direção dele. — Sim, eu preciso estar aqui porque é exatamente aqui onde quero estar. Ao seu lado. — Ela sorriu levemente. — Não sei a sua história, Edward. Não sei quais foram e como foram as pessoas que passaram por sua vida, mas você precisa entender que pode contar comigo. E sim, eu vou fazer um jantar para você agora mesmo. Ele sorriu e balançou a cabeça em sinal positivo. — Está bem, como você desejar, senhorita. — Falou em um tom brincalhão para quebrar o clima triste. — Enquanto eu preparo a sua comida, quero que você se sente naquele banquinho — Começou ela quando chegaram na cozinha. — E me conte exatamente tudo o que você está sentindo, Edward Reid. Capítulo 20 Vicky sabia que o semblante abatido de Edward representava muito mais do que a morte de Charles. Por isso, sentia que ele precisava conversar para que pudesse desabafar de alguma maneira. Para ela, ainda era confusa a forma com que Edward ganhava cada vez mais espaço em sua vida. Sem que sequer pudesse controlar, se perguntava se ele estava se alimentando de forma saudável, ou se conseguia dormir a quantidade adequada de horas por noite. De uma hora para outra, até mesmo a quantidade de litros de água que ele bebia por dia começava a se tornar importante também. Quando ele dissera que mostraria que seria capaz de provar o seu ponto de vista, garantindo que era possível estar em um casamento sem amor, Vicky achara a ideia patética e tivera a total certeza de que nunca seria capaz de se aproximar de um homem que não acreditava no amor de uma forma tão definitiva. A verdade era que Vicky queria ter uma família, queria estar ao lado de um homem que pudesse apoiá-la e fazê-la sentir-se amada. Pois por mais que lutasse contra os diversos estigmas que surgiam diariamente, era muito importante ter alguém ao seu lado que a fizesse acreditar que era capaz de seguir em frente. O amor era um sentimento bonito demais para ser ignorado. E Vicky se recusava a seguir uma vida sem ter a possibilidade de sonhar com um final feliz. — Vicky — Disse Edward enquanto ela reunia alguns ingredientes para fazer uma salada com pedaços de frango defumado. — Eu realmente não consigo compreender o motivo pelo qual você está aqui. Não precisa se preocupar comigo. Eu sei que você tem um milhão de outras coisas para fazer. Ela parou de separar as folhas de alface e limpou as mãos no pano de prato. — Você não está acostumado a ter alguém que se importa de verdade, não é? — A pergunta soou extremamente direta aos ouvidos dele e serviram quase que como facas que se fincaram em seu coração. — Não, não estou acostumado. — Ele admitiu de forma envergonhada. — Aprendi desde muito cedo que não devo esperar muito de ninguém. Nem mesmo da própria família. Nascemos sozinhos e morreremos sozinhos, Vicky. Vicky balançou a cabeça em negativa. — Posso não ser a mulher mais sábia do mundo, mas sei que as coisas não funcionam assim. Não estamos sozinhos. — Ela voltou a preparar a salada, mas sem nunca deixar de falar. — Talvez seja necessário apenas olhar um pouco mais ao redor. Talvez as pessoas estejam focando muito nas próprias individualidades e se esquecendo de que não estão sozinhas. — Eu nunca gostei de ser sozinho. — No instante em que as palavras saíram da boca de Edward, Vicky soube o quanto era doloroso para ele assumir aquilo. — Eu nunca gostei de acordar todos os dias pela manhã desejando receber a ligação de um pai amoroso que nunca existiu. Nunca gostei de sonhar que um dia, meu pai e eu, poderíamos ter sido bons amigos, que poderíamos ter criado um laço que poderia durar a vida inteira. Sentimentos machucam, Vicky. Infelizmente. Não podemos dominar os sentimentos alheios. Não podemos fazer com que alguém nos ame. E se de alguma forma temos a sorte de ser amados por alguém, tampouco podemos saber quando essa pessoa simplesmente irá se cansar e partir. Vicky sentiu uma fisgada no peito e um bolo se formou em sua garganta. Os olhos brilharam com as lágrimas. Não podemos fazer com que alguém nos ame. Ele havia prometido que nunca seria capaz de estar em um relacionamento por amor. Havia prometido que cuidaria do bebê, mas que não seria capaz de prometer sentimentos destinados à ela. E agora, Vicky compreendia que Edward simplesmente não podia dar o que nunca recebera. Ele tinha medo, e tinha razões para temer. Crescera sendo subjugado por um pai egoísta que nunca sequer foi capaz de demonstrar afeto. Em silêncio por longos segundos, ela terminou de preparar a salada e em seguida saiu da cozinha, deixando os pratos na sala de refeições. Como estava de luto, Edward decidira ficar sozinho, por isso, nenhum empregado estava trabalhando naquele dia. Quando Vicky retornou, sentou-se ao lado dele e respirou profundamente. — Nós não podemos controlar os sentimentos. Nós nunca poderemos prever o que outro está sentindo, ou como irá reagir aos nossos sentimentos. — Ela entrelaçou os dedos aos dele e sorriu. — Mas não devemos deixar de sentir apenas porque não temos o controle de tudo. Viver sem se permitir amar é como passar pelos dias de uma forma cinza, Edward. — Eu não consigo imaginar a vida em outras cores. — Apenas se permita. — O meu pai me disse, pouco antes de morrer, que nunca seria capaz de amar alguém como eu. E tudo o que eu esperei dele, em toda a vida, foi que algum dia ele pudesse dizer que sentia alguma coisa positiva por mim. — Edward deu de ombros. — Devo estar soando como uma criança idiota, mas as palavras dele machucaram. — Eu posso imaginar. Mas o amor não é algo que a gente precise pedir. — Ela olhou fixamente na direção dele. — O amor deve ser leve, deve vir sem que existam ordens, e deve permanecer para se renovar todos os dias. E se Charles não foi capaz de amar o próprio filho, então certamente não havia amor nenhum dentro dele. — Você sempre sabe exatamente o que falar, não é? — Talvez nem sempre, mas eu tento. — Ela engoliu em seco e ficou pensativa. — Sempre foi você... — O que quer dizer? — Muitos anos antes, quando vi você pela primeira vez, soube que eu precisava conhecer o homem misterioso que representava a família inimiga. De alguma forma, eu me sentia culpada por desejar alguém que era totalmente inadequado para mim, e quanto mais eu ignorava os meus desejos, mais eles cresciam. Então, encontrei com você naquele evento e tudo, tudo dentro de mim estremeceu. Nada na minha vida até então foi tão intenso. Edward, você conseguiu me tocar antes mesmo de pousar as mãos em meu corpo. E isso me assusta. Saber que alguém tem o poder de me fazer sentir tantas coisas me assusta. Edward ouviu tudo em silêncio por algum tempo, e em seguida sorriu. Aquele foi o primeiro sorriso que ele abria desde que ela chegara. — Somos perfeitos juntos, não somos? — Ele pousou a mão na barriga de Vicky. — E logo seremos três. Eu prometo que tentarei, de todas as formas, não ser como o meu pai foi. Prometo sempre estar ao seu lado, mesmo quando você já não me queira ter por perto. — O que faz você acreditar que em algum momento eu vou deixar de querer ter você por perto? — As pessoas sempre vão embora, você não seria diferente. — Eu prometo ficar. — Lágrimas escapuliram pelos olhos dela e ele levantou a mão livre para secá-las. E por mais que nenhum dos dois soubesse o que o destino podia preparar, Edward sentiu que ela falava a verdade. Sentiu que de alguma maneira, ela sempre estaria ao lado dele. E nunca permitiria que ele se sentisse sozinho outra vez. Sem dizer palavra, ele a pegou nos braços e caminhou na direção do quarto. Enquanto caminhava, tratou de sussurrar. — Ter você ao meu lado é como ter a chance de sonhar que a vida pode ser boa o suficiente. — Ao chegarem no quarto, ele a pousou na cama e lentamente a despiu. Admirou o corpo tão esbelto, as tatuagens que cobriam a pele em alguns lugares. E teve cada vez mais certeza de que estava apaixonado por aquela mulher. Não sabia exatamente o que o ato de amar podia significar, mas sabia que se sentia feliz ao se perceber preenchido por um sentimento tão avassalador. Ele abaixou a cabeça e a beijou com intensidade, como se clamasse por cura. E em resposta, Vicky simplesmente correspondeu, entregando tudo o que tinha. Entregando tudo o que era capaz de entregar. Quando ele a penetrou, Vicky gritou sem nome, clamando por mais. Se perdeu entre as sensações enquanto ele a beijava, descobrindo e tomando, sorvendo cada gota do prazer que ela liberava. Era quase como se juntos pudessem gerar fogo o suficiente para incendiar uma cidade inteira. Mesmo que o mundo parecesse tão grande, mesmo que tudo parecesse correr tão velozmente, ambos sabiam que podiam se encontrar enquanto se perdiam um nos braços do outro. — Eu... — Ele pausou, sem fôlego. Eu amo você. A frase ficou presa em sua garganta e logo desapareceu. Sabia que não podia revelar aquilo. Sabia que se o fizesse, certamente Vicky fugiria, afinal sentimentos podiam ser perigosos. — Sim? — Ela incentivou. Seu coração estava acelerado e as bochechas pareciam mais coradas do que o normal. — Eu estou muito grato em ter você aqui, ao meu lado. — Edward abaixou a cabeça e voltou a beijá-la, pois não queria que aquele momento se quebrasse. E, assim como todas as vezes em que se permitiam redescobrir os próprios prazeres, Vicky sentiu como se estivesse subindo cada vez mais alto, indo de encontro a alguma coisa, e em seguida explodiu em um orgasmo avassalador, voltando a gritar o nome dele. Suas unhas perpassaram a pele suada enquanto ela lutava para recuperar o próprio fôlego. Sentindo-a tão entregue, ele a penetrou mais algumas vezes em movimentos rápidos e em seguida gozou de forma farta, sons guturais escapando insistentemente. Ele deitou ao lado dela e Vicky sorriu. — Estou faminta. — Sussurrou. — E eu estou exausto. Ela se levantou e voltou a vestir a própria lingerie. — Vou trazer a salada. Podemos comer, tomar uma ducha rápida e em seguida dormir. Ele assentiu em silêncio. E enquanto Vicky caminhava para fora do quarto, Edward agradeceu aos céus pela possibilidade de ter alguém como ela ao seu lado. E esperava que ela nunca voltasse a deixá-lo sozinho outra vez. Capítulo 21 O mundo empresarial estava em polvorosa. Muitos especulavam acerca do futuro das empresas Reid. No entanto, era óbvio que Edward seguiria controlando o patrimônio da família, afinal era ele quem detinha a maior parte das ações entre os acionistas. Sabendo da necessidade de esclarecer os mais diversos assuntos, a coletiva de imprensa foi organizada o mais rápido possível e apenas os melhores e mais confiáveis jornalistas receberam a autorização de participar, mas mesmo assim, alguns não tão bons conseguiram se infiltrar. O velório de Charles aconteceu pouco após a sua morte. Foi uma cerimônia rápida e simples. Ele nunca soube manter amizades e afetos, por isso, para muitos, saber que ele não estaria mais presente era um alívio. Os poucos que estiveram presentes durante o velório, eram empresários e investidores que simplesmente não podiam faltar, pois não queriam correr o risco de perder possíveis parcerias. Alguns poucos membros da família Reid também estiveram presentes, mas ninguém parecia verdadeiramente triste com a partida de Charles. Quando o dia da coletiva de imprensa chegou, Edward e Vicky combinaram de seguir em carros separados, como uma forma de respeitar as duas famílias até que tudo fosse esclarecido. Os jornalistas estavam ávidos, e no segundo em que os dois chegaram, uma centena de flashes pipocou ao mesmo tempo. Vicky, mais do que qualquer outra pessoa, odiava todos aqueles jornalistas. Sabia muito bem que não era aconselhável confiar em pessoas que ganhavam a vida tentando encontrar polêmicas e notícias trágicas o suficiente para prender a atenção do público. Ela fora uma vítima, pagando pela história falsa do vídeo íntimo. Atualmente, apesar de estar recuperada do trauma, ainda se sentia extremamente desconfortável na presença de jornalistas. — Boa tarde, senhoras e senhores. — Disse um dos assessores, esperando calmamente até que os jornalistas se acomodassem e fizessem silêncio. — Ambos os convidados terão total direito de não responder possíveis perguntas com teor audacioso ou pejorativo. Após isso, muitas perguntas foram feitas. Algumas mais desconfortáveis do que outras. No entanto, entre um questionamento e outro, algo pegou Edward de surpresa. — Existem boatos de que o senhor Charles Reid morreu de desgosto ao saber que o único filho traiu a família ao se relacionar com uma Andrews. O que o senhor tem a dizer sobre isso? — O jornalista tinha um tom presunçoso e desafiador, como se esperasse que Edward fosse fugir da pergunta. Por um bom tempo, Edward permaneceu em silêncio. As palavras haviam sido maldosas e extremamente injustas. Ele podia simplesmente ignorar a pergunta e seguir em frente, mas algo dentro dele borbulhou em uma mistura de raiva e tristeza. — Por muitos anos, as famílias Reid e Andrews foram inimigas. Hoje, eu venho, publicamente, dizer que manter este tipo de guerra não é financeiramente saudável para nenhum de nós. A morte do meu pai foi causada por um AVC seguido de um acidente automobilístico. A sua pergunta é totalmente fora de contexto e só mostra que o seu interesse não é o de fazer jornalismo. Na verdade, o seu interesse é o de criar fofocas e ainda mais tensão. Por isso, pode se retirar. Dois seguranças imensos convidaram o jornalista a sair da coletiva de imprensa. Sem esperar muito, outra pergunta surgiu, mas dessa vez direcionada à Vicky. — Senhorita Andrews, pretende colocar as empresas Andrews nas mãos do senhor Reid? — O jornalista leu algumas anotações. — Todos sabemos que as mulheres preferem fazer outras coisas menos complicadas, enquanto os maridos trabalham duro. Não acha que essa é a sua oportunidade de sair do mercado e dar lugar para um homem trabalhar de verdade? Talvez cuidar da casa seja muito mais prático. Vicky ficou literalmente boquiaberta com a pergunta. — As mulheres não preferem fazer coisas menos complicadas. Na verdade, a sociedade em que vivemos é que nos faz acreditar que as coisas que nós, mulheres, realizamos são mais fáceis e, por isso, todos pensam que merecemos ter os nossos esforços menos valorizados. — Enquanto Vicky falava, os flashes não paravam de pipocar. Centenas de fotos eram tiradas. — O trabalho de uma dona de casa é importante. É complicado. A mulher que cuida dos filhos enfrenta um milhão de desafios diariamente. A mulher que passa o dia buscando a melhor educação para as crianças, que limpa a casa e lava as roupas, e que ainda é obrigada a estar linda e sorridente para um marido mal-humorado ao final do dia enfrenta desafios e nenhum deles deve ser desmerecido. Eu não sou dona de casa porque prefiro ser uma empresária. O meu trabalho não me faz superior ao trabalho de mulher alguma. Todas merecem respeito e merecem ter as suas realizações reconhecidas. No momento em que Vicky terminou de responder, as jornalistas que estavam presentes aplaudiram. No entanto, o jornalista, ainda não contente com a resposta, decidiu seguir com a discussão. — Então suponho que a senhorita seria uma esposa imperfeita, se um dia chegar a se casar com o senhor Reid. — Suponho que ele não esteja buscando perfeição. — Ela fez uma pausa. — E antes que vocês criem ainda mais especulações, devo dizer que não, não temos nenhum plano de nos casar. Seguirei controlando as empresas da minha família e homem nenhum mudará isso. Não temos planos de nos casar, as palavras dela fizeram Edward refletir em silêncio. A coletiva de imprensa pareceu durar uma eternidade, mas quando acabou, ambos se sentiram aliviados. Naquele mesmo dia, vários sites publicaram acerca do discurso de Vicky e até mesmo algumas revistas voltadas para o público feminino entraram em contato com a assessoria da família Andrews para tentar possíveis entrevistas. Antes de encerrarem a noite, decidiram jantar em um restaurante de comida asiática. Fizeram os pedidos rapidamente e sentaram em uma das mesas mais reservadas. — Acho que fizemos um bom trabalho hoje. — Comentou Vicky, pensativa. — Suponho que acabamos com todas as especulações e respondemos da melhor maneira possível tudo o que os jornalistas queriam saber. — Sim. Eles nunca estão satisfeitos, mas acho que será o suficiente. — Ele olhou por uma das janelas do restaurante e observou enquanto as pessoas caminhavam de um lado para o outro. Nova York nunca parava. Nem mesmo quando tudo parecera estar tão complicado na vida dele. Se ele não seguisse em frente, a vida o atropelaria, sem dúvidas. — Gostei de saber que você será a minha esposa imperfeita. — Ah, sim? Eu nunca disse que seria a sua esposa. — Ela abriu um leve sorriso. — E até pouco tempo atrás, você era um machista egocêntrico. — Estou mudando aos poucos, acho. Tenho pesquisado um pouco sobre o seu ponto de vista. De fato, as mulheres merecem mais espaço. — Quanto mais eu conheço você, mais a minha admiração cresce. — Posso dizer o mesmo. — Edward pensou por alguns instantes. — Sei que as coisas estiveram um pouco complicadas nos últimos dias, mas acho que agora podemos viajar juntos. Paris ainda nos espera. — Acho que é uma boa ideia. Ajudará você a relaxar um pouco. — Então você não desistiu? O convite ainda está aceito? Ela balançou a cabeça em um sinal positivo e sorriu. — Ninguém seria capaz de negar um convite de ir à Paris, Edward. — Ela lançou uma piscadela na direção dele. — Estou pronta para tirar fotos na Torre Eiffel. — Ótimo. Eu serei o seu fotógrafo. Edward voltou a sorrir e Vicky percebeu que ele estava muito menos tenso do que nos últimos dias. Aos poucos, as coisas certamente se acertariam. Precisavam apenas ter calma. Capítulo 22 Com o passar dos dias, a mídia aos poucos começou a abordar menos o assunto acerca da morte de Charles Reid. Não demorou muito para que Edward pudesse, por fim, ter um pouco mais de paz e privacidade enquanto se locomovia entre uma reunião e outra na tentativa de manter todas as empresas da família, nas mais diversas áreas, em ordem. Naquela semana, ele teve que viajar à Houston para negociar a implantação de uma nova marca industrial na região. Permaneceu no Texas por cinco dias e em seguida retornou para Nova York. Às vezes, a vida parecia ser quase como tentar fazer malabarismo com várias bolas. A grande diferença era que nenhuma dessas bolas podia cair. Por isso, dormia pouco, sempre analisando resultados, buscando novos investimentos e reavaliando parcerias. Victoria, por sua vez, tampouco teve dias calmos. Cinco dias após passar a noite com Edward, precisou viajar para o Japão com o intuito de participar de um evento empresarial voltado majoritariamente para mulheres. Fora convidada com honrarias para falar sobre o poder feminino no mercado de trabalho, e também acerca do crescimento em porcentagem de profissionais nos diversos setores empresariais. Apesar de ambos estarem extremamente ocupados, sempre encontravam tempo entre uma reunião e outra para trocar mensagens. E Vicky sentiu uma saudade imensa de Edward enquanto esteve fora do país. Apenas duas semanas após a morte de Charles que Edward e Vicky, por fim, conseguiram limpar as agendas para que pudessem viajar à Paris. Edward teve que remarcar as passagens e as reservas até que os dias estivessem adequados. Estavam muito animados quando chegaram, na segunda-feira, ao Aeroporto Internacional John F. Kennedy. Seria a oportunidade que estavam precisando para que pudessem descansar e conhecer um pouco mais da França. O voo partiu às vinte e duas horas, horário local de Nova York, e aterrissou em Paris, no Aeroporto Charles de Gaulle, período da manhã, horário local de Paris. Foram quase oito horas de viagem. Edward simplesmente adormecera e sequer despertara para fazer a refeição oferecida pela companhia aérea. Por outro lado, Vicky demorou algum tempo até que pudesse relaxar, por isso, pediu que lhe servissem suco de morango enquanto lia um e-book em seu aparelho de leitura digital. Quando recolheram as bagagens e foram liberados pela alfândega, um motorista, contratado pela agência de viagens que Edward escolhera, esperava segurando uma plaquinha com as duas mãos. Gustave D’avis era um jovem com traços árabes. Tinha um sorriso imenso e era extremamente simpático. Ajudou a colocar as malas no carro com muita agilidade, e tinha um inglês perfeito. A reserva havia sido feita em um hotel localizado no coração de Paris, em uma região próxima à Torre Eiffel. Caminhando, dava para chegar rapidamente ao Arco do Triunfo, passear pelo Museu do Louvre e se encantar com a Catedral de Notre Dame. E levando em consideração que ambos estavam muito animados para explorar a cidade, era possível conhecer, em um único dia, o Teatro La Cigale e a Basílica de Sacre-Coeur. Enquanto Gustave dirigia pelas ruas de Paris, adentraram na avenida Champs Elysee, e Vicky ficou encantada com todas as lojas. Apesar de não ser consumista, era praticamente impossível não ficar tentada a comprar algumas coisas. — Temos que voltar aqui depois. — Disse Edward enquanto também olhava pela janela. — Quero comprar perfumes. — Eu tinha certeza de que você era um viciado em comprar perfumes! — Vicky exclamou com um sorriso. — Eu vi uma coleção imensa de frascos no seu closet. — Sempre guardo os frascos bonitos. — Ele deu de ombros. — Não se esqueça de dar uma rosa para a senhorita quando estiverem na Torre Eiffel, monsieur. — Disse Gustave enquanto dirigia. — Uma dama sempre fica encantada com uma rosa. — Sem dúvidas. — Respondeu Vicky. — Edward é um romântico, mas prefere fingir que não é. Gustave sorriu. — Quando um homem tenta fingir que não é romântico para uma mulher, então significa que ele já está apaixonado. Apenas não percebeu o fato ainda. — Após falar isso, Gustave ficou em silêncio até o momento em que chegaram ao hotel. Apesar dos planos de começarem a desbravar Paris naquele mesmo dia, Vicky se sentia um pouco indisposta após a larga viagem de avião. Mesmo não sendo tão frequentes, os enjoos da gravidez ainda aconteciam. — Podemos começar a conhecer a cidade amanhã. — Disse Edward quando entraram no suíte imensa. — Eu não queria estragar o nosso primeiro dia, mas me sinto um pouco enjoada e inchada. Realmente preciso dormir. — Ela deitou na cama e soltou um longo suspiro. Com um sorriso, ele sentou e tirou os sapatos dela. Carinhosamente, começou a fazer massagem. — Você está me mimando demais. — Comentou ela ao fechar os olhos e se permitir relaxar. Sempre se sentia desconfortável após viagens aéreas, mas com a gravidez, os impactos pareciam um pouco piores. — Acostume-se. Não pretendo parar de cuidar de você. Agora durma e descanse. Vicky adormeceu pouco tempo depois. Enquanto isso, Edward apenas a admirou, e nunca deixava de repetir para si mesmo que aquela, sem dúvidas, era a mulher da sua vida. Capítulo 23 Edward permaneceu sentado, apenas admirando Victoria enquanto ela dormia. Incontáveis pensamentos giravam em sua mente, fazendo-o relembrar daquela primeira noite, quando se conheceram e conversaram pela primeira vez. Ele pensara que teria apenas algumas horas agradáveis de prazer. Mas, o tempo mostrara que aquela mulher, tão bela e com uma aparência tão elegantemente selvagem, representava tudo o que ele sonhara até então, antes mesmo de perceber o que sonhar podia significar. Seria pai, repetiu para si mesmo como sempre fazia. Nunca imaginara que tal realidade pudesse fazê-lo se sentir tão... feliz. E amava a mulher que seria a mãe do seu filho. Por mais que tentasse negar, era impossível não perceber até mesmo em seu olhar. Ele a amava. Simplesmente já não conseguia imaginar os próprios dias sem ter a possibilidade de admirá-la, vê-la dormir e ouvir o som doce daquela voz tão macia. Sentindo o coração apertar em ansiedade, Edward se levantou e colocou os sapatos. Quando saiu do quarto, ligou para Gustave e pediu para que viesse buscá-lo o quanto antes. Edward nunca fora um homem dado às dúvidas. Uma vez que tomava uma decisão, seguia em frente. Tomava atitudes. Portanto, naquele instante, sabia exatamente o que desejava fazer e não mudaria de ideia. Sabia que investir nos próprios sentimentos aparentemente era a única chance para que pudesse começar de novo. Para que pudesse viver uma vida que em nada lembrasse a de seu pai. Ele era diferente. Queria ser diferente. Afastar os sentimentos faria apenas com que seguisse os passos de Charles, e aquilo era exatamente o que ele não queria. Com um sorriso nos lábios, caminhou pelos corredores do hotel rumo à recepção. Gustave chegou em pouco menos de vinte minutos. — Aconteceu alguma coisa, monsieur? — Perguntou Gustave dando a partida no carro quando Edward se acomodou no banco de passageiro. — Parece ansioso e um pouco nervoso. — Tomei uma grande decisão, garoto. — Espero que tenha sido uma boa decisão para um bom momento. Para onde devo levá-lo? — Leve-me para uma boa joalheria. Gustave compreendeu sem que Edward precisasse falar sobre o assunto. Compreendeu que aquele homem estava apaixonado e que logo pediria a mulher amada em casamento. Mas para isso, era necessário um anel. E ele certamente sabia onde encontrar boas lojas. Seguiu na direção da Rue de la Paix e estacionou algum tempo depois. A loja, Chevalier, era reconhecida pela beleza das peças. Cada uma delas representava exclusividade e luxo, sem nunca exagerar no design. Apenas magnatas e herdeiros multimilionários tinham a possibilidade de adquirir uma joia daquele lugar. — Poderia esperar? — Claro, monsieur. Tome o tempo que precisar. Edward saiu do carro e abriu a porta de vidro para entrar na loja. O local era climatizado e tinha um cheiro doce e leve de flores silvestres. O ambiente era imenso e tinha uma decoração clássica. Era possível contar ao menos cinco lustres de cristal com detalhes perolados. O teto tinha detalhes em ouro. Nas paredes, cobertas muitas vezes com prata e alguns diamantes minúsculos, haviam pinturas antigas e originais. A loja era um epítome de tudo o que dinheiro podia comprar. Fora aberta em 1834 por uma família da alta sociedade francesa que tinha grande conhecimento acerca da diversidade das pedras preciosas. Durante vários eventos desastrosos, a loja lutou para permanecer intacta e quase foi fechada durante a Segunda Guerra Mundial. As diversas crises e eventos políticos serviram apenas para tornar o nome da loja ainda mais reconhecida por sua firmeza e sofisticação através das décadas. — Bonjour, monsieur. Em que posso ajudar? — A atendente era alta e tinha os cabelos loiros. Seus olhos azuis eram intensos. E apesar da opulência de seu uniforme, a jovem parecia ser realmente simpática. Seu inglês era bom o suficiente, mas não perfeito. O sotaque francês parecia muito forte aos ouvidos de Edward. — Busco um anel de noivado. Pretendo pedir a mão da minha... — Ele não sabia muito bem o que tinha com Vicky, mas podia afirmar que estavam juntos. — Da minha namorada. — Super. — A atendente sorriu. Edward percebeu, ao abaixar o olhar para a plaquinha presa ao uniforme, que ela se chamava Charlotte. — Por favor, acompanhe-me. Tenho algumas peças que certamente são encantadoras. Aceitaria champanhe? Ou chá? — Talvez um café, se tiverem. — Claro. Assim, durante os sessenta minutos seguintes, Edward analisou cada peça apresentada de forma muito atenta. Algumas joias pareciam espalhafatosas demais, outras simples demais. Mas quando ele estava prestes a desistir de encontrar algo bom o suficiente, Charlotte surgiu com uma das peças mais belas, que tinha uma série de diamantes minúsculos que davam ao anel uma aparência adequada que certamente combinaria com o estilo de Victoria. — Irei levar esta. — Disse ele com um sorriso imenso. E, claro, o sorriso de Charlotte foi maior ainda. A peça era avaliada em cerca de noventa e sete mil euros. Edward pagou à vista, e saiu da Chevalier se sentindo muito orgulhoso de si mesmo. Ao voltar para o carro, Gustave ouvia algum tipo de rap francês em volume máximo, mas assim que Edward entrou, o rádio foi desligado. — E então, monsieur? Encontrou o que estava buscando para auxiliá- lo na sua decisão? — Sim, sem dúvidas. — Edward sorriu e admirou as ruas de Paris enquanto o carro se locomovia velozmente. Quando chegou ao hotel, deu uma gorjeta generosa para Gustave e em seguida pediu para que a equipe de segurança do hotel guardasse a joia em um cofre forte, para que assim, Vicky não encontrasse a surpresa antes da hora certa. Apesar de haver demorado um bom tempo entre a ida até a loja e a escolha do anel perfeito, Edward voltou para o quarto antes que Vicky acordasse. Ela parecia relaxada e confortável. Sentindo-se um pouco cansado, tomou uma ducha rápida e deitou ao lado dela. Levemente, pousou um dos braços ao redor do corpo feminino e sorriu. Ele não tinha nenhuma certeza acerca do amor. Mas sabia que amá-la era bom e certo. Por isso, queria seguir amando aquela mulher pelo resto dos seus dias, e pedi-la em casamento era apenas o primeiro passo rumo ao futuro. A grande diferença era que agora, Edward queria fazer as coisas do jeito certo. Vicky não merecia um relacionamento sem sentimentos. E ele estava disposto a dar para ela todo o amor que existia dentro dele.
Apesar dos planos de aproveitarem o primeiro dia em Paris, decidiram
que o melhor era realizar atividades menos cansativas, afinal Vicky estava grávida e ainda precisava se adaptar com a diferença entre os fusos horários. Quando o fim de tarde chegou, Edward comprou ingressos para que pudessem assistir à um espetáculo musical que fora recomendado pela recepção do hotel. Ela trajava um vestido longo e negro. No tecido do ombro direito, haviam pequenos diamantes brilhantes. O cabelo estava preso em um penteado que ficava entre a elegância e a informalidade. As tatuagens não estavam expostas, pois Vicky trazia consigo um casaco em tons de cinza com cortes modernos. Os saltos altos brilhavam e tudo naquela mulher parecia remeter à uma sofisticação sublime. Como esperado, Edward vestia um black-tie típico para os eventos noturnos. Juntos, pareciam perfeitos e aparentavam harmonia. Levando em consideração que Edward gostara dos serviços de Gustave, decidiram chamá-lo mais uma vez. O carro se locomoveu rapidamente e estacionou no Théathre du Chatelet. Paris era cheia de vida até mesmo durante o fim de tarde e o início da noite. Jovens andavam agrupados, conversando animadamente, e alguns casais caminhavam de mãos dadas, claramente apaixonados com a cidade e o país. As horas seguintes foram encantadoras, e Vicky literalmente chorou entre uma cena e outra. Os atores passavam uma emoção singular e apesar dos espectadores estrangeiros utilizarem aparelhos de tradução simultânea, era possível perceber e sentir toda a emoção que a história passava. Quando saíram do espetáculo horas mais tarde, se encaminharam para um delicioso jantar no restaurante La Dame. Geralmente, não era fácil conseguir fazer uma reserva com pouco tempo de antecedência, mas tanto Edward quanto Vicky eram pessoas influentes, e o gerente fez questão de providenciar uma mesa para aquela mesma noite. O ambiente era agradável e tinha uma decoração clássica do século 18. A música ambiente era calma, e o cheiro delicioso de comida inundava o ar. Nas janelas panorâmicas, era possível ter a visão monumental da Torre Eiffel. Sem dúvidas, aqueles eram os dias mais encantadores de Edward em um bom tempo. Após terminarem a refeição e a sobremesa, Vicky olhou diretamente nos olhos de Edward e viu algo que até então nunca tinha reparado. Ele parecia feliz, leve. Como se todo o peso que costumava carregar já não estivesse em suas costas. — O que está olhando? — Ele sorriu levemente e desviou o olhar, meio envergonhado. — Pare de me olhar assim, como se estivesse lendo a minha alma. — Você está diferente. — Vicky apontou na direção dele. — Não sei o que mudou, mas algo mudou. — Ah, sim? — Edward ficou ainda mais sem jeito. — Estou exatamente da mesma forma como você me conheceu. Ela balançou a cabeça em sinal negativo e estalou a língua. — Não. Eu mudei desde que conheci você. Você mudou desde que me conheceu. — Ela passou a unha do indicador no tecido da mesa, pensativa. — Ninguém sai ileso de ninguém. E eu não tenho dúvidas de que você está diferente. Eu estou diferente porque agora aceito o que sinto por você. Aceito que passei a amar cada detalhe seu, e sinto que continuarei amando cada vez mais, a cada dia. As palavras se formaram dentro da cabeça dele, mas Edward preferiu engoli-las. Ainda não se sentia seguro o suficiente, preparado o suficiente. — Você me faz bem, Vicky. — Foi tudo o que ele disse. — Quando nos conhecemos naquela noite, você me machucou — Ela falava com o olhar distante, como se estivesse revivendo o momento. — Me machucou porque eu sonhei em conhecer você, refleti durante muito tempo, me perguntei como seria. E no instante em que você falou comigo, foi como se uma onda de decepção me inundasse. Eu me senti estúpida. Me perguntei como eu pude ter sentido tamanho desejo por um homem que me desprezava como mulher. Que me enxergava como uma prostituta. Edward ficou em completo choque e empertigou a coluna, surpreso por ouvi-la falar todas aquelas coisas. Permaneceu em silêncio, permitindo que ela terminasse. — Mas mesmo assim, eu segui em frente. Senti que eu precisava te ensinar algumas coisas, nem que fosse por apenas uma noite. E eu queria apagar você dos meus pensamentos, suprir os meus desejos e te esquecer para sempre. Mas eu engravidei. Quem poderia imaginar? — Ela sorriu quando lágrimas escorreram pelas bochechas. — Depois disso, eu percebi, Edward. Percebi que você tinha e tem medo de sentir, afinal todas as experiências que você teve sempre levaram à dor. Eu compreendi. E te admirei quando tudo mudou e você passou a se entregar, a tirar as armaduras. E me permitiu conhecer o Edward que ninguém conhece. Obrigada. Você também me faz bem. Ele sorriu e sentiu uma onda de alegria, fazendo com que cada medo se esvaísse e restasse apenas a certeza de que aquela era a mulher certa. Sempre seria. — Me desculpe por ter sido um idiota no início, por não compreender que só somos capazes de conhecer alguém quando nos permitimos olhar de verdade. E agora eu posso ver, posso enxergar que você é a mulher que eu preciso ao meu lado. Preciso. O uso do verbo levou um arrepio às costas de Vicky. Ele não estava sendo arrogante, não deu ordens. Apenas estava admitindo que precisava dela. E quanto mais refletia, mais Vicky sabia que também precisava dele. — Acho que somos um bonito casal. — Ela comentou quando ele pagou a conta e se levantaram para sair. — Acha? Eu tenho certeza. As pessoas sempre observam. — Ele deu um braço para que ela pudesse entrelaçar o dela. — Me daria a honra de passar a noite comigo? — Só uma noite? — Não, quantas forem possíveis. Ela fingiu que estava pensando sobre o assunto. — Tudo bem. Sou toda sua. Saíram do restaurante e a noite estava um pouco fria. Ele parou por apenas alguns segundos e sussurrou: — E eu sou todo seu. Ela assentiu em silêncio e juntos entraram no carro de Gustave. Enquanto voltavam para o hotel, Vicky teve a mais completa certeza de que ele estava sendo sincero. Edward era todo dela. Capítulo 24 No segundo em que entraram no quarto de hotel, tudo aconteceu muito rápido. Edward retirou o vestido negro que ela vestia, deixando-a completamente desnuda em apenas poucos segundos. E por alguns instantes, precisou parar para admirar a beleza da mulher que amava. — Obrigada pela noite maravilhosa. — Ela tinha um olhar sublime, de quem estava exatamente onde queria estar. — A noite está apenas começando. — Respondeu ele. Lentamente, abaixou a cabeça e a beijou na barriga. — Apenas começando... Ela o puxou e os lábios se uniram. Era maravilhoso poder beijá-lo, senti-lo. Era maravilhoso poder perceber que o homem que ela desejara por tanto tempo, agora estava entregue. Ele tirou alguns fios de cabelos do rosto dela e em seguida voltou a sorrir. Edward estava com a barba feita e tinha um ar de elegância, de quem amava dar ordens e sabia exatamente que todos estavam dispostos a segui-la. Vicky não sabia exatamente quando começara a sentir tudo o que sentia por ele, mas sabia que nunca deixara de se sentir atraída. Mesmo antes de conhecê-lo, quando ainda sequer haviam conversado, ela sabia que sentira alguma coisa. Que ele detinha certo poder no que pulsava dentro dela. E mesmo que não existisse nenhuma explicação, talvez estar ali, nos braços daquele homem, era exatamente o que ela precisava para o seu futuro. Mesmo que o futuro parecesse tão incerto, e que os sentimentos parecessem estar cada vez mais descontrolados. — Existe algo que eu gostaria de falar. — Edward se sentou na cama, completamente nu. As luzes de Paris entravam através das janelas do quarto de hotel. Ele parecia quase como um deus noturno, feito para seduzir e controlar. Tinha um olhar esperançoso, relaxado, mas, ao mesmo tempo, em uma mistura contraditória, parecia nervoso também. — Pode falar. — O coração dela pareceu parar por alguns segundos. Talvez, naquele momento ele fosse dizer, de uma vez por todas, que casar com ela não era uma boa ideia. Que ela estava certa, e que o melhor era que seguissem caminhos separados, afinal ele sempre deixara bem claro que não era capaz de lidar com os sentimentos. A grande ironia de tudo aquilo, era que Vicky já não se enxergava sem Edward. No início, estar ao lado dele seria apenas uma diversão, um passatempo. Mas agora, tudo havia mudado. Tudo dentro dela já não era a mesma coisa. — No início, eu disse que nunca seria capaz de sentir. — Ele abaixou o olhar e Vicky sentiu como se um bolo se formasse em sua garganta. Estava sofrendo por antecipação. Tinha quase a mais completa certeza de que Edward afirmaria que estava se sentindo pressionado, e que após a viagem, precisariam voltar para a realidade. — Sentir é complicado, exige entendimentos que muitas vezes parecem muito difíceis na minha cabeça. — Ninguém nasce com um manual de instruções, infelizmente. — Os olhos de Vicky brilharam com lágrimas e, de uma hora para outra, ela sentiu a vontade de se proteger. Por isso, juntou as pernas e abraçou os joelhos, meio que se distanciando dele. Buscando segurança em si mesma. Não queria ter o coração quebrado por Edward. Sabia que ele tinha total poder para fazê-lo, caso quisesse. — Mas eu tenho aprendido muitas coisas, Vicky. — Ele engoliu em seco e levantou o olhar. — Eu aprendi a amar você. E desde que descobri que amar não é tão doloroso quanto eu sempre imaginei, sinto como se a minha vida já não fosse a mesma. Como se eu já não fosse o mesmo. Eu amo você, Victoria Andrews. Ela ficou congelada, completamente surpresa. Entre todas as coisas que ele poderia revelar, aquela era a mais surpreendente. Ele a amava. Sem dúvidas, aquelas eram as palavras que ela mais esperara ouvir. E agora, ao ouvi-lo falar, sentia como se o seu coração fosse explodir, tamanha era a sua alegria. Sim, ele a amava. — Você me ama? — O coração dela estava acelerado. E apesar de ser uma mulher completamente segura de si mesma, sentiu-se lívida, incapaz de qualquer coisa. — Sim. Eu amo você. — Ele levantou a mão, tocando-a na bochecha e secando as lágrimas que escaparam pelos olhos brilhantes sem que ela sequer percebesse. — E eu percebi que amar não significa sofrer, não significa ter medo. Amar significa proteger. Sinto como se eu tivesse caminhado uma vida inteira sozinho para que agora, nesse momento, eu pudesse ter a chance de encontrar alguém como você. Agora eu entendo, Vicky. Agora eu entendo o motivo pelo qual eu não tenha dado certo com ninguém mais. Você era a pessoa certa para mim. Ele estava completamente trêmulo. Nunca, de nenhuma maneira, abrira o coração de forma tão intensa. De repente, se sentiu exposto e inseguro. E percebeu que amar também representava retirar armaduras e abrir portas, permitir que a pessoa amada entrasse. Vicky ficou calada e ele continuou a falar. — Acho que o meu coração é como uma casa muito bagunçada, mas eu gostaria de convidar você a entrar. — Ele passou a mão por entre os cabelos dela. — Gostaria de convidar você a morar aqui dentro e a me ajudar. — Ele pousou a outra mão livre no peito. — Preciso arrumar toda essa bagunça. Acho até que já comecei. Edward sabia que não era perfeito, sabia que ainda tinha muito o que aprender. Mas estava disposto a acertar. E Vicky sabia que não havia nada mais belo do que a vontade de crescer, de se construir e se descontruir em nome de um sentimento. Em nome do amor. — Edward... — Incapaz de falar, ela se aproximou e o abraçou. Não se importou que estavam desnudos, não teve vergonha. Nos braços dele, podia ser exatamente quem era, sem julgamentos. — Eu tive muito medo do que você iria dizer. Tive medo de nunca ser amada por você... Ela se aproximou. Muito perto. Era possível sentir a respiração acelerada, o hálito quente. — Eu amo você, Edward. E eu sinto que amar você é exatamente a coisa certa a se fazer. — Ela sorriu e tocou-lhe no rosto, encantada. Perdida. — Temos muito o que aprender. Ainda iremos percorrer um longo caminho, mas sei que podemos fazer isso juntos. Podemos fazer dar certo. — Teremos uma família feliz? — Ele a puxou para ainda mais perto. — Sim, teremos uma família feliz. — Ela sorriu. Sem dizer mais nada, Edward a beijou. E aquele, sem dúvidas, foi o melhor beijo de toda a sua vida. Pois aquela mulher que estava em seus braços, era exatamente quem ele queria cuidar e proteger, quem ele gostaria de ver todas as manhãs ao acordar. — Eu amo você. — Sussurrou ela ao repousar entre os lençóis. — E eu amo você. — Respondeu ele. Ao ouvi-lo falar, ela acreditou. Sentiu que aquele era o seu eterno conto de fadas. Capítulo 25 Edward tinha a imensa capacidade de fazê-la se entregar por completo. Por isso, quando ele voltou a repetir, de forma sussurrada, que a amava, Vicky estremeceu mais uma vez. Logo, os lábios se encontraram, as línguas dançaram de forma erótica. Ela sentia calor. Sentia como se todo o seu corpo fosse capaz de entrar em uma estranha erupção de alegria e desejo, prazer e anseio. As mãos dele percorreram pela barriga, trazendo um arrepio. Amava senti-lo, amava a forma com que seus hormônios pareciam borbulhar com cada toque e detalhe. — Eu gosto quando você faz essa cara. — Ele abaixou a cabeça e a mordiscou no pescoço, saboreando a pele, sorvendo o suor feminino. Naquela noite, Vicky não queria deter nenhum poder, por isso, apenas permitiu que Edward tomasse o controle. Permitiu que ele a colocasse de quatro e gritou quando a língua rodopiou em sua vagina molhada. — Eu quero que você grite mais alto. Quero que você perca o controle por completo. — Ele abriu os lábios vaginais com as duas mãos e passou a língua profundamente. Vicky era deliciosa, pensou ele. E nunca se cansaria de sentir aquele sabor tomando-lhe os sentidos, deixando-o completamente inebriado. Ela estava com os olhos fechados, um pouco trêmula e frágil pelo prazer, quando Edward a penetrou em uma estocada firme. E dessa vez, o grito gutural ecoou pelo quarto. Ele a possuiu intensamente, sem dar espaço para dúvidas ou inseguranças. Cada vez que os movimentos aumentavam de velocidade, Vicky tinha a mais completa certeza de que precisava sentir mais. Precisava ir cada vez mais alto. Como se adivinhasse os pensamentos dela, Edward a mudou de posição, fazendo-a deitar na cama de frente para ele. Sem quebrar a conexão de olhares, voltou a penetrá-la, estimulando o prazer com os dedos. Vicky nunca se sentira tão perdida, nunca esteve tão entregue nos braços de alguém. Ao mesmo tempo em que aquilo a assustou, também foi capaz de trazer um sentimento de total pertencimento. Por mais que a mídia insistisse em criar polêmicas e por mais que muitos desconfiassem do seu talento profissional, ela sabia que Edward estaria ali para apoiá-la. Para fazê-la levantar uma vez mais quando fosse necessário. Saber que Edward se importava, saber que ele a amava, era um fato grandioso. Algo que ela nunca esqueceria. Acho que o meu coração é como uma casa muito bagunçada, mas eu gostaria de convidar você a entrar. Enquanto ele a possuía, as palavras ainda ecoavam em sua mente e lágrimas voltariam a surgir em seus olhos. Um turbilhão de emoções parecia dominá-la. Sua respiração estava ofegante e era como se estivessem em uma bolha, onde só havia espaço para duas pessoas. Eles. — Você está chorando... — Surgiu uma expressão de preocupação no rosto de Edward. — Fiz algo errado? — Não. — Ela o puxou, abraçando-o. — Apenas continue, Edward. Eu amo você. Vicky sentia a necessidade de repetir quantas vezes pudesse, pois amá-lo já não representava ser um segredo, mas uma dádiva. Amá-lo já não representava o medo do desprezo, mas a certeza de que uma história estava sendo escrita. Estar cônscia de que agora os seus sentimentos estavam livres fez com que ainda mais lágrimas se avolumassem em seus olhos. Gratidão. Havia gratidão em seu peito e muita alegria em sua alma. E certamente, para Vicky, não havia nada mais belo do que a possibilidade de estar nos braços do homem que fazia com que seu coração pulsasse mais rápido. Abraçando-a, ele voltou a penetrá-la. Beijou e mordiscou, lambeu e descobriu. Vicky subiu muito alto e sentiu como se chocasse contra um milhão de sensações, fazendo seu corpo se contorcer e sua alma delirar em regozijo. O gozo chegou rápido. Ela voltou a gritar o nome dele e por alguns instantes, foi incapaz de pensar em qualquer coisa. Incapaz de raciocinar. Precisava apenas se perder nas próprias sensações enquanto tudo dentro dela estava em uma bagunça completamente perfeita. Por alguns segundos, apenas fechou os olhos, sentindo a respiração pesada de Edward, o corpo masculino pressionado ao seu. Havia mágica ali. Mágica e fogo. Uma conexão tão intensa, que certamente seria capaz de quebrá-los. Ou de salvá-los por completo. Quando Vicky voltou a abrir os olhos, Edward recuperou o fôlego e a penetrou duas vezes antes de gozar. Ela viu, de forma muito clara, o olhar de prazer, a expressão perdida e entregue. E soube que Edward também se sentia tão grato quanto ela. Naquele momento, ambos se sentiam eternos. Como se nada pudesse romper o que havia sido criado. Em silêncio e com a respiração descontrolada, ele deitou ao lado dela e a puxou para mais perto, abraçando-a. Era delicioso poder sentir o cheiro masculino, o peito que subia e descia. — Essa é uma das noites mais especiais da minha vida. — Edward confessou após longos minutos sem dizer coisa alguma. — E eu gostaria apenas de agradecer por me permitir estar ao seu lado. Por me ensinar coisas, por me impulsionar a ser alguém melhor. Obrigado. — Sinto que essa noite poderia durar para sempre apenas porque estou ao seu lado. — Ela levantou a mão e o tocou no rosto. Sentiu a pele, gravou na memória. Queria eternizar tudo, para que dali muitos anos, fosse capaz de relembrar o olhar sublime que ele detinha. — Se o amor pudesse ser medido, eu diria que o nosso é do tamanho do brilho do sol e tão denso quanto a noite de lua cheia. — Eu não sabia que você era uma poetisa. Ela balançou a cabeça e sorriu. — Eu não sabia que podia amar tanto. — Ela piscou algumas vezes, pensativa. — Acho que os sentimentos nos fazem dizer coisas bonitas. Nos fazem enxergar coisas bonitas. E no momento, só consigo ver o que sinto por você. Acho que por isso estou dizendo coisas que parecem poesia. Acho que na verdade, o amor é poesia. — Também acho que sim. O amor certamente é poesia. Aos poucos, Vicky adormeceu nos braços de Edward. Não se conheciam intimamente há muito tempo, mas ela sentia como se aquele lugar fosse o seu porto seguro. Como se ali fosse exatamente onde ela queria estar após anos de uma vida solitária. Apesar de se sentir muito sonolento, Edward a observou durante um longo tempo. Admirou o rosto relaxado, os cabelos negros que pareciam selvagens após uma noite de sexo. Amá-la era bom, disse mais uma vez para si mesmo. E por mais que toda a sua vida tivesse sido escrita através de pessoas provando o contrário, Edward sabia que amá-la era bom. Era maravilhoso. Tudo começara como uma simples noite de sexo. E agora, depois de tantas coisas, haviam se tornado não apenas um casal, mas melhores amigos. Companheiros e confidentes. Ele nunca esperou encontrar algo assim. Nunca buscou, pois na verdade, pensara que tudo aquilo não passava de uma ilusão romântica inexistente. Mas enquanto a abraçava, percebeu que aquela era a maior prova de que o amor era possível. De que a felicidade, apesar dos problemas, era possível. Longo tempo depois, os pensamentos de Edward não foram capazes de mantê-lo acordado, e ele também adormeceu com os braços ao redor de Vicky. Sentiu uma paz que há muito tempo não invadia seu coração. E sentiu como se a eternidade fosse pequena para caber a história que escreveriam juntos. Capítulo 26 Acordaram cedo no outro dia. Colocaram roupas confortáveis e tomaram um café da manhã reforçado. Puderam provar os mais diversos tipos de pães, geleias, além de alguns chás e sucos naturais. Depois disso, passearam pela avenida Champs Elysées. Conheceram a parte baixa, admirando os jardins imensos e edifícios esplendidos, e apaixonaram-se pelo Palácio do Descobrimento e o Grand Palais. Depois, mais para a alegria de Edward do que para a de Vicky, caminharam pela parte alta da avenida. Puderam comprar perfumes franceses, observar as diversas marcas e até almoçaram em um dos restaurantes elegantes. Vicky decidiu comprar três vestidos de gala, que sempre serviam para possíveis eventos e festas, e apesar de Edward insistir em pagar a conta, ela preferiu pagar com o próprio dinheiro. Já um pouco cansados de tamanha caminhada, sentaram nas áreas livres dos jardins e passaram um bom tempo apenas observando os turistas, que enchiam o ar em diversos idiomas e estilos. — Uma vez, me disseram que uma viagem é o maior teste de compatibilidade para qualquer relacionamento. — Comentou Vicky enquanto bebia um suco de frutas vermelhas. Seus olhos pareciam brilhar de alegria, as bochechas estavam coradas, e os cabelos, soltos, estavam libertos ao vento. — Nós ainda não brigamos nessa viagem. Acho que é um bom sinal, não acha? — Não temos nenhum motivo para brigar. — Ele se aproximou um pouco e a beijou na bochecha esquerda. — No início, quando nos conhecemos, tudo o que fazíamos era brigar. Eu nunca imaginaria que um dia poderíamos estar em Paris. — Ela fez uma pequena pausa e sorriu ao corrigir a si mesma. — Nunca imaginaria que um dia poderíamos estar apaixonados em Paris. — Convenhamos que eu era um babaca. — Um babaca machista. — E eu mudei. — Até agora, suponho que sim. Desde que conhecera Vicky, Edward decidira que o melhor era estudar um pouco mais acerca dos direitos da mulher. E quanto mais estudava, mais descobria que muitos dos seus pensamentos eram extremamente ultrapassados. Por isso, tentava descontruir muitos dos próprios ideais para que pudesse se tornar um homem mais respeitoso e agradável não apenas para a mulher que amava, mas para todas as outras. — As mudanças acontecem aos poucos. Você sabe que não sou perfeito. — Ele balançou as pernas na grama, pensativo. — Ainda vou errar, mas saiba que estou tentando acertar. Estou tentando de verdade. — Nós dois iremos errar em algum momento. Mas somos adultos e certamente seremos capazes de lidar com os erros um do outro. — Ela passou a mão no tecido da própria roupa, reflexiva. — O importante é que nós dois nunca nos esqueçamos de tentar acertar sempre. — Sem dúvidas. E como você está se sentindo agora? Não quer voltar para o hotel e descansar? Já caminhamos muito. Você não precisa se esforçar mais do que o necessário. — Com imenso carinho, ele pousou a mão na barriga de Vicky, como se um milhão de coisas enchessem seus pensamentos. — Quero que você e o nosso bebê estejam sempre saudáveis. Felizes. Com igual carinho, ela entrelaçou os dedos nos dele e sorriu. — Estamos bem. Na verdade, acho que nunca estive tão bem quanto agora. O que acha de seguirmos caminhando? — Os seus pés não estão doendo? — Um pouco, mas não importa. Estamos em Paris. Quando eu voltar para casa, minha mãe certamente irá preparar alguma receita mirabolante que me ajude a sentir menos dores nos pés, mas, enquanto isso, iremos aproveitar. Ele se levantou e em seguida estirou a mão para ajudá-la. Não era difícil reconhecer o fato de que tanto Edward quanto Vicky eram pessoas extremamente ricas. Se quisessem, poderiam andar em carros exclusivos e aproveitar os pontos mais caros de Paris. No entanto, ambos preferiam simplesmente caminhar e conhecer de maneira simples. Às vezes, a opulência era sufocante e a liberdade era tudo o que eles queriam durante aqueles dias de férias. Sempre conversando, seguiram para o Arco do Triunfo e tiraram algumas fotos. Sem dúvidas, Vicky colocaria muitos dos registros em seu escritório, para que nunca esquecesse o quanto estava sendo feliz durante todos aqueles passeios. Caminharam e conheceram durante mais algumas horas, e, ao fim do entardecer, pararam no jardim aos pés da Torre Eiffel. A torre era gigantesca e imponente. Um vento frio começava a circular ao redor, e muitos turistas estavam sentados, relaxando enquanto admiravam o ambiente. Vicky, que aparentemente nunca deixava de sentir fome, comia um sanduíche de peito de peru com queijo e alface. Edward, mais por satisfação do que por fome, devorava uma caixa de macarons coloridos, dos mais diversos sabores. — Voltaremos gordos. — Comentou ela, bebericando um pouco do suco de laranja. — E não poderemos culpar ninguém por isso. Ele sorriu e comeu um macaron azul turquesa. — Assim que voltarmos para Nova York, me esconderei na academia e só serei visto outra vez quando perder tudo o que estou ganhando aqui. — Me parece uma boa ideia. — Ela lançou uma piscadela na direção dele e sorriu. Ao terminar o próprio sanduíche, roubou um macaron da caixinha de Edward. — Ladra de comida. — Ele a puxou e a beijou no pescoço, fazendo-a amolecer em desejo. — Você pagará pelo seu roubo. Na cama. Apenas aguarde. — Você está ameaçando uma mulher grávida e indefesa? — Ela o beijou nos lábios e voltou a roubar mais um doce. — Você é malvado. — Primeiro você rouba o meu coração e em seguida quer roubar a minha comida. Qual será o próximo passo? — O próximo passo é roubar um beijo. — Ela se aproximou e o beijou nos lábios. Era maravilhoso poder se sentir em paz, saber que aquele era o homem certo. Com Edward, não precisava forçar nada. As coisas simplesmente fluíam, e, para ela, não havia nada mais lindo do que a possibilidade de estar ao lado de alguém que a compreendia. E que nunca deixava de demonstrar o quanto a amava. — Na verdade... — Ele a afastou e parou de sorrir. — O próximo passo, para mim, seria outra coisa. — Ah, sim? Qual? — Vicky levantou uma das sobrancelhas, curiosa. Com as mãos trêmulas e nervoso, Edward buscou a caixinha do anel entre os bolsos e, quando encontrou, tratou de abri-la. — As coisas não estão acontecendo exatamente do jeito que eu planejei. — Ele engoliu em seco e lágrimas se avolumaram em seus olhos. — Digo, eu me imaginei completamente seguro e sem lágrimas nos olhos. As minhas mãos não deveriam estar tremendo tanto, mas me sinto nervoso. Desculpe. — Por fim, conseguiu abrir a caixinha e revelou o belíssimo anel que comprara. — Desde que conheci você, Victoria, eu tenho aprendido que o amor é uma junção de bons momentos. É uma junção de construções e desconstruções. E eu quero seguir tendo você ao meu lado, aprendendo e crescendo. “Um dia, eu disse que não acreditava no amor. Um dia eu disse que nunca seria capaz de amar. Hoje, reconheço que fui tolo e arrogante, pois eu amo você. Amo de verdade. Por isso, gostaria de me casar com você, de despertar todas as manhãs e admirar o seu olhar, o seu sorriso. Não apenas pelo nosso filho, mas por mim. Por nós. Eu quero escrever um final feliz ao seu lado, Vicky. Case-se comigo, por favor.” Enquanto ouvia as palavras dele, ela chorou. Era como se um filme passasse por entre os seus pensamentos, fazendo-a relembrar o momento em que o conhecera, e tudo o que viveram após isso. E tudo o que poderiam viver após isso. — Eu seria uma tola caso não aceitasse. É óbvio que eu aceito me casar com você. — Apesar de querer soar segura de si, sua voz falhou. E mais lágrimas surgiram no instante em que ele colocou o anel em seu dedo, tornando tudo muito real. Muito concreto. Ele a puxou para um beijo. Ambos choravam. Ao fundo, a Torre Eiffel parecia abençoar a união. Tudo parecia certo, simplesmente certo. — Eu amo você, Vicky. Obrigado por entrar na minha vida, obrigado por me ensinar coisas que eu jamais poderia imaginar. Obrigado. — Ele sorriu e ela passou uma das mãos nas bochechas dele, limpando as lágrimas. — Eu também amo você, meu Edward. — Ela voltou a beijá-lo. Não era necessário ser um vidente para saber que seriam felizes. Sabiam que não eram perfeitos, ninguém era. Mas, como sabiam, o importante era tentar acertar. Por isso, ali, em Paris, enquanto centenas de turistas caminhavam de um lado para o outro, Edward e Vicky deram mais um passo rumo à própria história. Estavam escrevendo os próprios caminhos, permitindo que se entrelaçassem e crescessem. Naquele momento, Edward teve a mais completa certeza de que Victoria seria a esposa imperfeita mais perfeita do mundo inteiro. Com aquele pensamento em mente, sorriu. — Precisamos tirar uma foto. — Ele ativou a câmera do celular e juntos fizeram uma pose. Sorriram e o momento foi eternizado. Após isso, ficaram um bom tempo sentados, juntos e em silêncio. Refletiam sobre a imensidão de tudo o que sentiam, e estavam ansiosos por descobrir cada uma das coisas que ainda poderiam surgir. — Edward? — Ela levantou o olhar com um sorrisinho e pousou a mão na coxa dele. — Sim, Vicky? — Amo você. — Ela sentiu a necessidade de voltar a dizer. — E eu também amo você. Ela balançou a cabeça em afirmativa e guardou aquelas palavras no coração. Para sempre. Epílogo Eles se casaram em uma tarde adorável de primavera. Optaram por realizar a cerimônia e o baile em um rancho, longe dos holofotes e da mídia. As árvores estavam cheias e os tons de verde pareciam preencher o campo até onde os olhos não conseguiam alcançar. Apesar de ambos optarem por um evento reservado e com poucos convidados, precisaram convidar muitos dos investidores, contratados e sócios das empresas de ambas as famílias. Ao todo, foram cerca de quatrocentos convidados, e todos pareciam maravilhados com a decoração. As flores dominavam o local. Gerânios em tons de rosa bebê preenchiam os tons de branco das mesas. Rosas vermelhas davam vida e sensualidade em jarros imensos. Marias-sem-vergonha espalhavam-se aos arredores, com inúmeras cores. Tudo parecia cheio de vida, em um colorido que representava a vontade de viver. Victoria Andrews, sem dúvida, era uma bela noiva. Depois da cerimônia, tratou de trajar um vestido longo com detalhes em azul marinho e prata. No rosto, a maquiagem realçava os olhos intensos e a beleza latina. Seus cabelos pareciam firmes e elegantes em um penteado estupendo. Quando pudera vê-la pela primeira vez naquele dia, Edward chegara à conclusão de que Vicky mais parecia um ser mágico. Suas curvas exalavam sensualidade e pareciam capazes de enfeitiçar. Uma banda tocava músicas agradáveis. E enquanto os garçons continuavam a servir champanhe de forma ininterrupta, muitos dos convidados se aproximavam para desejar felicidades ao casal. A gravidez fazia com que Vicky ficasse extremamente sensível. Quando ocorrera a troca de alianças e se enxergara esposa de Edward pela primeira vez, lágrimas escapuliram dos seus olhos. Sentira como se fosse a mulher mais feliz do mundo. Agora, mesmo após algumas horas oficialmente casada, ainda sentia as lágrimas insistindo em escorrer por seus olhos, principalmente quando os convidados se aproximavam para parabenizá-los. Edward, por sua vez, a puxara para um beijo apertado após dizer o esperado “sim”, pousando uma das mãos na barriga abaulada. Ao terminar o beijo, sussurrara um agradecimento aos céus por agora poder afirmar que tinha uma família de verdade. O bebê nasceria dali algumas semanas e Vicky já começava a sentir de forma muito intensa que já não resistiria por muito mais tempo. Seu corpo mandava sinais de que a hora estava prestes a chegar, e, para ser sincera consigo mesma, sentia-se muito ansiosa para ser mãe. Além disso, as mudanças eram extremamente desconfortáveis. Suas costas doíam e era difícil dormir, pois sua barriga estava enorme e pesada. Vez ou outra sentia pequenos chutes e ficava encantada. Mesmo com toda a insistência de Edward para que ficasse em casa de repouso, Vicky optara por seguir trabalhando. Obviamente já não viajava com a mesma frequência, mas tentava estar ativa, afinal amava o próprio trabalho e simplesmente não queria parar. Segurando uma taça de champanhe, Sebastian, um dos melhores amigos de Edward, se aproximou com um enorme sorriso. Primeiro, cumprimentou Vicky e em seguida abraçou o amigo. — Ainda posso me lembrar da conversa que tivemos alguns meses atrás. — Sebastian parecia estar muito orgulhoso de Edward. — Quando você me prometeu que tentaria fazer tudo isso dar certo. — E eu ainda me lembro muito bem que você me disse que gostaria de estar no casamento. — Aqui estou eu. Promessa cumprida. — Foi você quem aconselhou o Edward? — Perguntou Vicky, surpresa. — Ele estava péssimo quando nos encontramos. Não foi necessário falar muito para fazê-lo enxergar que algumas coisas são invitáveis. O amor é uma dessas coisas, sem dúvidas. — Pelo que vejo, você deveria ouvir o conselho do seu amigo mais vezes. — Vicky sorriu e entrelaçou os dedos da mão esquerda aos do marido. — Não sei o que aconteceu com Sebastian, mas, de repente, ele se tornou um sábio filósofo. Eu tenho certeza que ele não era assim antes. — Eu sempre fui assim. — Sebastian cumprimentou o casal mais uma vez. — Vou deixar vocês sozinhos e buscar mais uma taça de champanhe. Tenho certeza que mais pessoas estão esperando para falar com vocês. Edward, me sinto muito orgulhoso de você. Espero que você seja muito feliz. E Vicky, parabéns pela escolha. Ele é um bom homem. — Não foi ela quem me escolheu. — Edward deu de ombros. — Eu a escolhi. — Se é o que você diz... — Sebastian soltou uma longa gargalhada e se afastou. Não demorou muito para que os pais de Vicky se aproximassem. Mercedes trajava um belo vestido em tons de salmão. Seus cabelos também estavam penteados de uma forma graciosa, e, sem dúvidas, ela era uma das mulheres mais elegantes da cerimônia. Ao seu lado, Logan também estava muito bonito e jovial. — Como estão os recém-casados? — Mercedes pousou a mão no rosto da filha de forma carinhosa e orgulhosa. — Acho que hoje é um dos dias mais felizes da minha vida. Estou tão orgulhosa! — Estou começando a me sentir um pouco cansada, mas acho que posso aguentar mais algumas horas. Você está linda, mamãe. — Todos estão comentando a mesma coisa. — Comentou Logan. — Não é difícil descobrir como Vicky nasceu tão bela. Continuaram conversando durante um longo tempo. E, quando Vicky por fim anunciou q estava cansada e precisava dormir um pouco, Edward prontamente tratou de satisfazer seus desejos. Juntos, entraram em um carro de modelo clássico luxuoso. Os convidados se reuniram para se despedir, e poucos minutos depois, afastaram-se do rancho rumo ao hotel que se hospedariam naquela noite. Planejavam passar a lua de mel em uma cidade próxima, em um resort. Vicky não podia fazer grandes esforços, por isso, o melhor era não exagerar. — Somos casados. — Comentou ela, sentindo-se espetacular. Mais uma vez, lágrimas surgiram em seus olhos enquanto o carro se locomovia e a festa, aos poucos, ficava para trás. — Somos verdadeiramente casados agora. — Temos uma vida inteira juntos. — Edward pousou a mão a barriga gigantesca e sorriu. — Estou ansioso. — Logo já não poderemos mais dormir. Melhor não ficar tão ansioso. — Vicky lançou uma piscadela na direção dele, bem-humorada. — Você fala como se fosse durona, mas eu sei que você já não aguenta mais esperar. — Droga, você me conhece muito bem. — De forma apaixonada, ela o puxou, beijando-o nos lábios. — Amo você, Edward — Eu amo você, Vicky. Ela parou por alguns segundos e o olhou diretamente nos olhos. Ali, enxergou um porto seguro e a oportunidade de ter alguém para amar durante toda a vida. Mais lágrimas desceram por suas bochechas. Através dos olhos dele, pôde observar que o amor era possível. Que se entregar era possível. E por mais que as dificuldades pudessem parecer grandes, agora ela sabia que sempre seria capaz de enfrentá-las, afinal tinha Edward ao seu lado. — Não sei como tive tamanha sorte, mas sinto que encontrei o meu amante, o amor da minha vida e o meu melhor amigo em um homem só. Não são todas as pessoas que têm essa sorte. — Vicky se afastou um pouco e limpou as lágrimas. — Acho que estou começando a ficar desidratada de tanto chorar. São os hormônios, sem dúvidas. Edward voltou a se aproximar dela e a beijou na bochecha, sentindo o leve sabor salgado das lágrimas. Pequenos gestos como aquele faziam com que Vicky suspirasse. Edward não era um homem perfeito, mas tentava fazer a coisa certa, e nunca deixava de surprendê-la com atitudes de carinho e amor. — Chega de chorar. Hoje é um dia feliz. Sem lágrimas. — Ele a puxou para si, fazendo-a pousar a cabeça em seu peito. — Descanse. Não quero que você tenha um parto antes do tempo. — Seria péssimo sujar os bancos desse carro. — Seria horrível. Apenas descanse. Quando chegarmos ao hotel, eu aviso. — Tudo bem. Em silêncio, Vicky se aconchegou nos braços de Edward e fechou os olhos. De fato, estava exausta. Adormeceu poucos minutos depois. Apesar de haver prometido que a avisaria quando chegassem, Edward também adormeceu. Juntos, tinham uma expressão de felicidade. De plenitude. Ali, abraçados, sonharam com um final feliz. Sonharam que o amor não era impossível. E quando acordaram, perceberam que, na verdade, estavam vivendo os próprios sonhos. Quando chegaram ao hotel, Edward desceu do carro primeiro e ajudou Vicky a descer. — Está preparada para a nossa lua de mel? — Ele sorriu. — Sim, estou preparada. Na verdade, estou preparada para passar a vida inteira ao seu lado. Vicky tinha a mais completa certeza de que aquele era homem pelo qual ela sonhara. E agora que por fim estava casada, conseguia compreender completamente o motivo pelo qual nunca estivera com outro homem. Ele era o certo. — Era exatamente isso o que eu gostaria de ouvir. — Edward a pegou nos braços de maneira cuidadosa e entrou no hotel. Ali, começaram um novo caminho. E daquele momento em diante, nunca deixaram de fazer com que o amor crescesse. Eram uma família. Sem dúvidas, não havia nada mais maravilhoso. Capítulo Especial Edward Reid estava sentado confortavelmente em sua poltrona. Os cabelos, agora grisalhos, estavam parcialmente cobertos por uma boina preta com linhas azuis. Tinha no rosto óculos de leitura e segurava com carinho e firmeza um álbum grande da família. Havia um sorriso em seu rosto quando ele terminou de contar a história e levantou o olhar para as cinco crianças que estavam sentadas no tapete acolchoado. Eram três meninos e duas meninas. Anthony, que completara dez anos na semana anterior; Gregory, que tinha oito anos; Michael, que tinha quatro; Michelle, que tinha nove, e Laura, a mais nova entre todos, que era apenas alguns meses mais nova do que Michael. — Vovô, o senhor nunca sentiu medo da vovó? — Michael perguntou com um olhar curioso. — Acho que ela era muito brava. Edward e Vicky tiveram dois filhos. Noah, o mais velho e pai dos três garotos, tinha trinta e dois anos e agora era o responsável por controlar grande parte dos negócios da família. Scott, o mais novo e pai das duas garotas, tinha vinte e nove anos, e era o completo oposto dos pais e do irmão. Preferira seguir o caminho das artes, e se tornara um ilustrador de famosos quadrinhos de super-heróis. Ambos eram extremamente talentosos em suas áreas e tinham esposas lindas, fortes e independentes. — Tive um pouquinho de medo sim. — Edward voltou a abrir o álbum e apontou para uma fotografia de Victoria sentada em uma poltrona segurando uma taça de champanhe em uma das mãos. Seus lábios, que apresentavam um sorriso firme, tinham tons de um batom vermelho sangue. Os cabelos negros estavam soltos, e o vestido era branco. — A vovó sempre foi muito linda, não foi? — Eu quero ser tão linda quanto ela quando eu for bem grande. — Laura afirmou e bateu palmas. — Quero cuidar de tudo e ser muito, muito forte. — Você já é linda e tem a sua própria beleza, minha criança. — Edward sorriu. — Agora me ajudem, estou cansado de ficar sentado nesta poltrona. O que acha de irmos lá para fora? Nova York era apenas uma antiga lembrança agora. Anos atrás, Edward decidira comprar um grande vinhedo e simplesmente se apaixonara pela arte de viver de uma maneira mais simples. Sabia que não viveria para sempre, por isso, optara por treinar Noah, — o único que demonstrou interesse pelos negócios —, e partiu da cidade grande no instante em que tudo já parecia bom o suficiente para continuar sem ele. Era uma tarde ensolarada de verão em Napa Valley. O sol estava brilhante e o céu parecia límpido. Ali, era possível encher os pulmões de um ar limpo, e nunca havia a necessidade de correr contra o tempo. Edward podia fazer o próprio tempo. As cinco crianças ajudaram o avô a se levantar, e todos juntos se encaminharam para o jardim. Victoria, que trajava um vestido solto florido, sorriu ao observar o marido caminhando com as crianças. Havia um brilho de felicidade em seu olhar, detalhe que ela sempre reparava quando toda a família estava reunida. Ainda com o sorriso no rosto, ela pegou a garrafa de vinho aberta e serviu mais uma taça, colocando-a nas mãos de Edward no instante em que se aproximou. — Estava contanto a nossa história para as crianças mais uma vez? — Perguntou Vicky ao bebericar um pouco de vinho da própria taça. Seus cabelos esvoaçavam livremente, e apesar da idade avançada, era possível perceber que ela nunca deixou de ser uma mulher linda, repleta de energia. — Eles gostam de ouvir, eu gosto de contar. É a combinação perfeita, não acha? — Olhando fixamente na direção da esposa, ele levantou a mão livre e pegou algumas mechas que se movimentavam rebeldes, e colocou-as atrás da orelha dela. — Você está linda hoje. Um dia, Edward prometera que tentaria conquistar Victoria todos os dias, para sempre. E ele nunca deixara de cumprir a promessa. Todas as manhãs, ao despertar, preparava o café da manhã e trazia na cama para que pudessem comer juntos enquanto conversavam. Ele nunca se cansava de admirar a beleza daquele rosto. Nunca se cansava de amar a sua esposa em cada detalhe. Era quase como se temesse perde-la. Por isso, tratava de demonstrar todo o carinho que era capaz de dar. — Você diz isso todos os dias. — Ela desviou o olhar, sempre encantada com a capacidade que Edward tinha de enfeitiçá-la. — Digo? Nunca percebi. — Ele deu de ombros, brincalhão. — Você é linda todos os dias. Não posso fazer nada em relação a isso. O que acha de acordar um pouquinho mais feia amanhã? Assim, não precisarei me preocupar com o fato de que a sua beleza serve como mágica na minha vida, todas as manhãs. — Você é um bobo. Crianças, parem de correr! Michael, você não pode montar no seu irmão como se ele fosse um cavalo! — Ela beijou Edward na bochecha e correu para controlar os netos. — Laura, largue essa garrafa de vinho! Eu não acredito que você bebeu... — É gostoso! — Laura, segurando a garrafa de vinho com as duas mãos, correu pelo campo, soltando uma grande gargalhada. — Pelos céus, Edward. A sua neta vai ser uma alcoólatra! — Quando por fim conseguiu alcançar Laura, Vicky tomou a garrafa das mãos pequeninas. — Você não pode, em hipótese alguma, beber vinho, ouviu bem? Suco de laranja. É disso que você precisa. — Mas vovó... Não é justo! — A vida não é justa. Anthony, o que está fazendo? — Ainda com Laura nos braços, Vicky se aproximou do neto mais velho, que estava sentado na grama embaixo de uma árvore. — Lendo. — Ele levantou um livro em quadrinhos. — Não estou com muita vontade de fingir que sou um cavalo para que o Michael possa montar. Vicky desviou o olhar e viu Gregory saltitando com o irmão mais novo. — Ler é bom. — Ela colocou Laura no chão, deixando-a voltar a brincar, e em seguida se sentou ao lado do neto, na grama. — Acho que a senhora vai ter dificuldades para se levantar depois. Vicky soltou uma gargalhada e deu dois tapinhas no ombro do neto. — Não sou tão velha, garoto. — Ela olhou fixamente para o neto. — Você é o que mais me lembra o seu avô. — Ah, sim? — Sim. Nem mesmo o seu pai é tão parecido com Edward quanto você. — O vovô é um cara legal, acho que é bom ser parecido com ele. — Ah, sem dúvidas. — Vovó, eu estive pensando... — Anthony fechou o livro e o colocou entre as pernas, desistindo de ler. — Acha que o sol e a lua se conhecem? No meu livro, o sol sempre vai dormir e nunca espera para se encontrar com a lua. A lua fica triste, pois acha que a vida é escura, mesmo tendo muitas estrelas como companhia. — Eu acho que o seu livro não está dizendo a coisa correta. — Vicky passou um dos braços ao redor do neto e ele se recostou carinhosamente. — O sol e a lua se conhecem tão bem, que sabem que o universo é uma junção de encontros e desencontros que nunca terminam. O sol fica feliz em iluminar todos os dias, e a lua certamente espera ansiosa para admirar o brilho das estrelas durante o anoitecer. — O sol e a lua se conhecem tão bem quanto você e o vovô? — Ele levantou uma sobrancelha. — Sim, acho que sim. — Vicky sorriu e deu um beijo na bochecha do neto. Conversaram por algum tempo até que Vicky avistou, ao longe, Noah e Scott se aproximando, vindo para buscar as crianças. — Seu pai chegou. Acho que as férias e verão acabam de terminar. — Comentou ela, tratando de se levantar sozinha, mas sentindo uma leve fisgada na coluna. Talvez já não fosse tão jovem quanto afirmava ser, pensou. — Eu queria ficar mais uns dias, vovó. — E eu queria que você ficasse mais uns dias, mas as coisas não funcionam assim. Como faziam todos os anos, as crianças se despediram, uma por uma, e logo partiram com os pais. De repente, a paz voltou a reinar, e a casa pareceu um pouco vazia. — Eles sempre fazem falta, não é? — Comentou Edward horas mais tarde ao se sentar na sala de estar ao lado de Vicky. — Eles sempre fazem falta. — Ela recostou a cabeça no ombro do marido e sentiu o cheiro típico da colônia masculina que ele usava há muitos anos. — Nós conseguimos formar uma bonita família, Edward. Ele passou os dedos entre os cabelos dela e balançou a cabeça em sinal positivo. — Temos a família mais linda do mundo. Uma família que eu sempre sonhei em ter. — Amo você, Edward. — Ela sorriu. — E sinto que amo cada dia mais, sempre que acordo e volto a ter a completa certeza de que escolhi o homem certo para dividir os meus sonhos. Edward sabia que a vida não era perfeita. Sabia que existiam dificuldades e que o casamento era como um caminho repleto de curvas, altos e baixos. No entanto, ele também tinha a mais completa certeza de que, apesar de tudo, o caminho simplesmente valia muito a pena. — Eu também amo você, minha Victoria. Sinto que amar você e a nossa família é exatamente o que eu sempre soube fazer de melhor. Edward ligou a televisão e se recostou. Aproveitaram o resto do dia juntos, confortáveis e com certa saudade dos netos. Para ambos, aquele era um verdadeiro final feliz. E por mais que todos dissessem que contos de fada não existiam, eles sabiam que juntos podiam fazer mágica. Juntos, eram capazes de dar vida a um universo inteiro. Outros títulos do autor A maldição de Lady Lancaster Uma mulher fora dos padrões... Lady Beatrice Lancaster conhecia a solidão. Durante todos os anos de sua vida, fora ensinada apenas a esconder os próprios segredos e a tratar de se manter invisível aos olhos da crítica sociedade britânica. Vivendo completamente isolada e sozinha nas terras que herdou de seu pai, parecia-lhe libertador poder ter somente a própria companhia. Mas ao sofrer um acidente e ficar impossibilitada de cuidar das terras Lancaster, seu primo, o duque Adam Lancaster, decide enviar o rancheiro Thomas Jones, ao lado de sua irmã Emma, para auxiliá-la. Mas o que ninguém sabe é que ela nasceu com uma maldição!
Um homem como nenhum outro...
Thomas Jones nunca foi dado aos relacionamentos. Tímido e extremamente focado em cuidar da irmã mais nova, sabia que provavelmente não encontraria a mulher certa tão facilmente. Mas ao conhecer Beatrice Lancaster e admirar as estrelas ao seu lado, muitas das suas convicções parecem mudar em um estalar de dedos... Neste romance de época apaixonante, permita-se sonhar com a doçura de um novo amor que surge para tentar vencer a dor, o medo e a escuridão! Nos braços do magnata Ela precisara fugir do baile antes que ele descobrisse os seus segredos... Elza Sutherland, exatamente como a Cinderela, fugira antes do fim do baile para não mais voltar, deixando para trás Cameron O’Donnel, o único homem que conseguira fazê-la sentir-se segura. E amada. Na época, soubera que o mundo dele nunca se encaixaria com o seu. Ele precisava de respostas... Apesar dos anos, Cameron simplesmente não conseguia tirar Elza dos seus pensamentos. Ela fora a maldita mulher que lhe roubara o coração para destruí-lo logo em seguida. No entanto, mesmo com feridas antigas ainda abertas, talvez tê-la em seus braços uma última vez fosse a única forma de esquecê-la para sempre. Quando o destino os une outra vez durante um fim de semana em uma ilha paradisíaca, o jogo de sedução torna-se a única maneira de reescrever a história inacabada. Permita-se seduzir nos braços do magnata, e apaixone-se! Uma dama nada exemplar
Lady Rebecca Crawford sempre fora considerada uma dama
inteiramente inadequada. Com seus modos rebeldes e atitudes estranhas, assustou a praticamente todos os pretendentes que demonstraram interesse nos últimos anos. Por outro lado, lorde Louis Forster, seu melhor amigo, tornara-se um solteiro convicto. Na verdade, mantinha-se sozinho simplesmente porque achava que a solidão era a sua melhor companhia. Juntos, formam uma dupla improvável, onde barulho e silêncio se unem na busca pela felicidade. No entanto, às vezes o amor pode surgir nas relações mais inapropriadas... Ou inesperadas. Entre aventuras e encontros furtivos, o destino de Rebecca Crawford parece guiá-la sempre na direção de dois possíveis caminhos: o de se tornar uma solteirona ou enxergar que o amor está no sorriso cínico ao lado! Submergir Ele precisava de um recomeço... Jung Tae-il conhecera a dor da pior forma. Depois de perder praticamente tudo o que havia de mais importante em sua vida, necessitava buscar maneiras de traçar um novo caminho. E apesar de lutar contra a própria escuridão, parecia afundar-se cada vez mais na impossibilidade de ser feliz outra vez. Ela representava um recomeço... Com seu humor caloroso e a incrível capacidade de enxergar as cores mais brilhantes da vida, Sophie Horton parecia reacender a esperança que se apagara no coração de Tae-il. De forma espontânea, trazia exatamente o que ele parecia precisar. No entanto, por trás de todo sorriso brilhante, sempre há a escuridão... Juntos, precisarão cicatrizar as próprias feridas antes que seja tarde demais. Como esperar um final feliz, se a felicidade já não parece existir? Neste romance sobre segundas chances e esperança, permita-se sonhar com o poder do amor! Segure a minha mão Uma amizade interrompida pelo destino... Ao receber a proposta de estudar em uma grande universidade em Nova York e deixar o Texas para trás, Caim Beresford soube que nada mais em sua vida seria a mesma coisa outra vez. Partiu e não deixou apenas a fazenda que tanto amava, mas também a única garota capaz de enxergar a sua alma. Um retorno inesperado... Olívia Woods já não era a garota assustada que ele conhecera ao partir, tornara-se uma mulher forte, lutando diariamente contra os preconceitos que sofria com a sua deficiência visual. No entanto, em um dia que poderia ser tão comum quanto todos os outros, Caim regressa à Cloudtown com um propósito importante. Agora, juntos outra vez, ambos irão perceber que alguns sentimentos nunca morrem. Será que Olívia seria capaz de confiar outra vez o seu coração nas mãos do único homem com o poder de feri-la? SIGA O AUTOR NAS REDES SOCIAIS: FACEBOOK.COM/JhonatasNilsonEscritordeRomances