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21 Indulgências
Definição e significação das indulgências e Obtenção da
indulgência de Deus pela Igreja
§1471 As indulgências A doutrina e a prática das indulgências
na Igreja estão estreitamente ligadas aos efeitos do
sacramento da Penitência.

21.1 Que é a Indulgência?


“A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena
temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa,
(remissão) que o fiel bem-disposto obtém, em condições
determinadas, pela intervenção da Igreja que, como
dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua
autoridade o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de
Cristo e dos santos.”
“A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberar parcial
totalmente da pena devida pelos pecados.” Todos os fiéis
podem adquirir indulgências (...) para si mesmos ou aplicá-las
aos defuntos.
§1472 As penas do pecado – Para compreender esta
doutrina e esta prática da Igreja, é preciso admitir que o
pecado tem uma dupla consequência. O pecado grave priva-
nos da comunhão com Deus e, consequentemente, nos toma
incapazes da vida eterna; esta privação se chama “pena
eterna” do pecado. Por outro lado, todo pecado, mesmo
venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exige
purificação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no
estado chamado “purgatório”. Esta purificação liberta da
chamada “pena temporal” do pecado. Essas duas penas não
devem ser concebidas como uma espécie de vingança
infligida por Deus do exterior, mas, antes, como uma
consequência da própria natureza do pecado. Uma conversão
que procede de uma ardente caridade pode chegar à total
purificação do pecador, de tal modo que não haja mais
nenhuma pena.
§1473 O perdão do pecado e a restauração da comunhão
com Deus implicam a remissão das penas eternas do pecado.
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Mas permanecem as penas temporais do pecado. Suportando


pacientemente os sofrimentos e as provas de todo tipo e,
chegada a hora, enfrentando serenamente a morte, o cristão
deve esforçar-se para aceitar, como urna graça, essas penas
temporais do pecado; deve aplicar-se, por inicio de obras de
misericórdia e de caridade, como também pela oração e por
diversas práticas de penitência, a despojar-se completamente
do “velho homem” para revestir-se do “homem novo”.
§1474 O cristão que procura purificar-se de seu pecado e
santificar-se com o auxílio da graça de Deus não está só. “A
vida de cada um dos filhos de Deus se acha unida, por um
admirável laço, em Cristo e por Cristo, com a vida de todos os
outros irmãos cristãos na unidade sobrenatural do corpo
místico de Cristo, como numa única pessoa mística.”
§1475 Na comunhão dos santos, “existe certamente entre os
fiéis já admitidos na posse da pátria celeste, os que expiam as
faltas no purgatório e os que ainda peregrinam na terra, um
laço de caridade e um amplo intercâmbio de todos os bens”.
Neste admirável intercâmbio, cada um se beneficia da
santidade dos outros, bem para além do prejuízo que o
pecado de um possa ter causado aos outros. Assim, o recurso
à comunhão dos santos permite ao pecador contrito se
purificado, mais cedo e mais eficazmente, das penas do
pecado.
§1476 Esses bens espirituais da comunhão dos santos
também são chamados o tesouro da Igreja, “que não é uma
soma de bens comparáveis às riquezas materiais acumuladas
no decorrer dos séculos, mas é o valor infinito e inesgotável
que têm junto a Deus as expiações e os méritos de Cristo,
nosso Senhor, oferecidos para que a humanidade toda seja
libertada do pecado e chegue à comunhão com o Pai. E em
Cristo, nosso redentor, que se encontram em abundância as
satisfações e os méritos de sua redenção”.
§1477 “Pertence, além disso, a esse tesouro o valor
verdadeiramente imenso, incomensurável e sempre novo que
têm junto a Deus as preces e as boas obras da Bem-
aventurada Virgem Maria e de todos os santos que, seguindo
as pegadas de Cristo Senhor, por sua graça se santificaram e
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totalmente acabaram a obra que o Pai lhes confiara, de sorte


que, operando a própria salvação, também contribuíram para
a salvação de seus irmãos na unidade do corpo místico.”
§1478 A indulgencia se obtém de Deus mediante a Igreja,
que, em virtude do poder de ligar e desligar que Cristo Jesus
lhe concedeu, intervém em favor do cristão, abrindo-lhe o
tesouro dos méritos de Cristo e dos santos para obter do Pai
das misericórdias a remissão das penas temporais devidas a
seus pecados. Assim, a Igreja não só vem em auxílio do
cristão, mas também o incita a obras de piedade, de
penitência e de caridade.
§1479 Uma vez que os fiéis defuntos em vias de purificação
também são membros da mesma comunhão dos santos,
podemos ajudá-los entre outros modos, obtendo em favor
deles indulgências para libertação das penas temporais
devidas por seus pecados.

21.2 Efeitos das indulgências


§1498 Pelas indulgências, os fiéis podem obter para si
mesmos e também para as almas do Purgatório a remissão
das penas temporais, consequências dos pecados.

21.3 Indulgências em favor dos defuntos


§1032 Este ensinamento apoia-se também na prática da
oração pelos defuntos, da qual já a Sagrada Escritura fala:
“Eis por que ele [Judas Macabeu] mandou oferecer esse
sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que
fossem absolvidos de seu pecado” (2Mc 12,46 ). Desde os
primeiros tempos a Igreja honrou a memória dos defuntos e
ofereceu sufrágios em seu favor, em especial o sacrifício
eucarístico, a fim de que, purificados, eles possam chegar à
visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também as
esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor
dos defuntos:
Levemo-lhes socorro e celebremos sua memória. Se os filhos
de Jó foram purificados pelo sacrifício de seu pai que
deveríamos duvidar de que nossas oferendas em favor dos
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mortos lhes levem alguma consolação? Não hesitemos em


socorrer os que partiram e em oferecer nossas orações por
eles.
§1479 Uma vez que os fiéis defuntos em vias de purificação
também são membros da mesma comunhão dos santos,
podemos ajudá-los entre outros modos, obtendo em favor
deles indulgências para libertação das penas temporais
devidas por seus pecados.
21.4 Noção da Indulgências
Sintetizando o renovado ensinamento da Constituição
Apostólica Indulgentiarum Dotrina, de Paulo VI (1/1/1967), o
Código do Direito Canônico (cân. 992) dá a seguinte definição:
“Indulgência é a remissão, perante Deus, da pena temporal
devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa; remissão
que o fiel, devidamente disposto e em certas e determinadas
condições, alcança por meio da Igreja, a qual, como
dispensadora da redenção, distribui e aplica por força da sua
autoridade o tesouro de satisfações de Cristo e dos Santos.”
No pecado há a distinguir a “culpa” resultante da ofensa que
feriu ou cortou a amizade com Deus, e a “pena” devida pelos
danos (pela injúria) causados à ordem estabelecida por Deus e
aos direitos alheios. O perdão da culpa obtém-se por um ato de
contrição perfeita ou pela válida recepção do sacramento da
Penitência. O perdão da pena obtém-se, neste mundo, por atos
de reparação proporcionados, e depois da morte, pela expiação
no Purgatório. As indulgencias são precioso auxílio que a Igreja
está em condições de dispensar, sob certas condições, para
fazer avançar ou completar o perdão da pena temporal devida
pelos pecados, auxílio que pode ser aplicado, à maneira de
sufrágio, às almas do Purgatório.

21.5 História das Indulgências


A prática da oração pela remissão dos pecados de vivos e
defuntos já vem do AT (ex.: 2Mac 12,43-45) e aparece viva nos
tempos apostólicos, nomeadamente pelo recurso dos penitentes
à oração das comunidades e à intercessão dos mártires e
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confessores da fé. No entanto, uma doutrina sobre as


Indulgências só aparece no séc. XI, quando os atos de
penitência praticados pelos pecadores arrependidos puderam ser
comutados por certas boas obras (esmolas, peregrinações ). A
primeira “indulgência plenária” terá sido concedida pelo Papa
Urbano II, em 1095, aos que tomassem parte na primeira
Cruzada. Tendo-se difundido a ideia de atuação automática das
Indulgências, multiplicaram-se os abusos sobretudo nas
pregações que propunham esmolas indulgenciadas (para as
cruzadas, para a construção de basílicas ). Tais abusos, que
deram pretexto ao cisma protestante, foram condenados pelo
Concilio de Trento, tendo o Papa São Pio V (1569) ameaçado de
excomunhão quem se desse ao comércio das Indulgências Após
o Concilio Vaticano II, a doutrina das Indulgências foi reelaborada
e encontra-se proposta na Constituição Apostólica de Paulo VI
referida acima. Nela, as Indulgências aparecem como estímulo
forte aos atos de penitência, de piedade e de caridade da parte
dos fiéis.

21.6 Normas Gerais das Indulgências


A indulgência é total ou parcial, consoante liberta total ou
parcialmente da pena temporal devida pelo pecado. A
indulgência parcial concede uma remissão da pena temporal
igual à que o fiel recebe pela prática da obra indulgenciada.
Tanto uma como outra se pode aplicar, a modo de sufrágio, aos
defuntos. Para alcançar uma Indulgência plenária requere-se,
além da exclusão de qualquer afeto ao pecado, mesmo venial, o
cumprimento da obra prescrita, a confissão sacramental, a
comunhão eucarística e a oração pelas intenções do Papa (um
Pai-Nosso e uma Ave-Maria). Se faltar alguma desta condições,
a indulgência passa a parcial. Com uma única confissão podem-
se alcançar várias indulgências plenárias; mas para cada
Indulgência plenária requere-se uma comunhão e a oração pelo
Papa, de preferência no próprio dia, pelo que só se pode
alcançar uma destas Indulgência em cada dia (salvo em caso de
artigo de morte). Na impossibilidade do fiel cumprir a obra
prescrita (visita a igreja por um doente acamado), o confessor
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pode comutá-la noutra. Só o Papa e quem dele tiver indulto pode


conceder Indulgência

21.7 Quatro concessões gerais das Indulgências


São concessões de Indulgências parciais, que refletem bem a
intenção de que as Indulgências contribuam para afervorar a vida
espiritual dos fiéis.
1.ª concessão: Concede-se Indulgência parcial ao fiel que, ao
cumprir os seus deveres ou suportar as dificuldades da vida,
eleva o espírito a Deus, com humilde confiança, acrescentando,
mesmo mentalmente, alguma invocação piedosa.
2.ª concessão: Concede-se Indulgência parcial ao fiel que, com
espírito de fé, se entrega a si mesmo ou dá dos seus bens com
ânimo misericordioso, ao serviço dos irmãos necessitados
(necessidade de corpo, de alma ou de inteligência).
3.ª concessão: Concede-se Indulgência parcial ao fiel que
espontaneamente, com espírito de penitência, se priva de
alguma coisa que lhe é agradável.
4.ª concessão: Concede-se Indulgência parcial ao fiel que dá
testemunho público da sua fé, em determinadas circunstâncias
da vida diária (participação frequente nos sacramentos, inserção
em associações e movimentos de apostolado, entrega a
atividades de evangelização junto dos afastados da fé...).

21.8 Inquiridion Indulgentiarum


Por mandato expresso na Constituição Apostólica
Indulgentiarum doutrina (norma 13) foi elaborado este elenco das
obras indulgenciadasa. Além das normas e das concessões
gerais, inclui 33 concessões e, em apêndice, uma série de
invocações que ajudam a criar as disposições interiores para
alcançar as Indulgências. De forma muito sintética, estão
indulgenciadas com Indulgência plenária ou Indulgência parcial
as seguintes obras:
1) consagração das famílias;
2) consagração do gênero humano a Cristo-Rei;

[a] 1.ª edição tem a data de 1968 e, a 4.ª, de 1999


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3) ato de reparação na solenidade do Coração de Jesus;


4) bênção papal;
5) celebração dos “dias” dedicados universalmente a fins
religiososa;
6) dar e receber lições de catequese;
7) adoração e procissão eucarísticas;
8) comunhão eucarística em determinados dias;
9) exame de consciência e ato de contrição;
10) retiro espiritual;
11) celebração da Semana de Oração pela Unidade;
12) indulgência plenária em artigo de morte com a bênção
apostólica dada por um sacerdote, ou mesmo na ausência deste,
desde que o moribundo tenha rezado ao longo da vidab;
13) participação na celebração da Paixão e Morte de Jesus
Cristo ou exercício de Via-Sacra;
14) uso de objetos piedosos benzidos (crucifixo, terço,
medalhas );
15) oração mental;
16) ouvir pregação sacra (especialmente nas missões);
17) orações a Nossa Senhorac;
18) oração ao Anjo da Guarda;
19) a São José;
20) a São Pedro e São Paulo;
21) a outro Santo ou Beato;
22) novena, ladainha e ofício menor;
23) hino Akathistos ou ofício Paraclisis;
24) oração pelos benfeitores;
25) oração pelos pastores sagrados;

[a] missões, vocações, doentes


[b] suprindo a Igreja, neste caso, as normais condições da Indulgência
plenária
[c] especialmente o terço em grupo ou com o Papa, através da rádio ou tv,
Angelus, Regina Coeli, Lembrai-vos
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26) orações de súplica ou de ação de graças;


27) missa nova e missas jubilares de sacerdotes;
28) profissão de fé e atos de virtudes teologais;
29) oração pelos fiéis defuntos;
30) leitura da Escritura;
31) por ocasião de Sínodo diocesano;
32) por ocasião de visita pastoral;
33) visita de lugares santos.

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