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PARTE I – INSPEÇÕES

DE SEGURANÇA
REGULARES
Apresentam-se o enquadramento legal das identificar e monitorar anomalias que afetem
inspeções de segurança regulares, suas etapas potencialmente sua segurança.
e planejamento, a execução da inspeção no
O primeiro passo da inspeção de segurança
campo, a avaliação dos resultados, a elabora-
ção do relatório e o atendimento das recomen- regular consiste na análise de todos os docu-
dações do relatório. mentos e relatórios anteriores, em que são
apresentados o enquadramento legal das
inspeções de segurança regulares, suas etapas
1 Considerações iniciais
e planejamento, a execução da inspeção no
este tipo de inspeção, a ser realizado regular- campo, a avaliação dos resultados, a elabora-
mente nas barragens, com periodicidade con- ção do relatório e o atendimento das recomen-
forme sua Categoria de Risco e Dano Potencial dações do relatório.
Associado, tem por objetivo monitorar seus
Na detecção de situações perigosas, interessa
problemas e detectar a existência de ano-
identificar o tipo das anomalias encontradas,
malias. Tal inspeção é de alta relevância para
seu impacto na segurança da barragem e as
identificar perigos em potencial e iminentes e
ações que devem ser implementadas. É impor-
definir as medidas preventivas ou corretivas a
tante a identificação dos fatores que estão na
ser tomadas pelos empreendedores.
gênese das anomalias.
A inspeção de segurança regular integra as
Os tipos de anomalia mais frequentes nas
seguintes etapas:
barragens estão representados esquematica-
• planejamento da inspeção;
mente na Figura 1 e listados a seguir:
• execução da inspeção no campo;
• fissuras;
• avaliação dos resultados e elaboração do
relatório; • surgências;
• atendimento das recomendações do • instabilidade de taludes;
relatório.
• depressões:

Os produtos da inspeção são a ficha de inspe- ˚˚ recalques localizados;


ção preenchida, o relatório de inspeção regular ˚˚ afundamentos (tipo sinkhole);
e o extrato de inspeção de segurança regular, • proteção deficiente dos taludes;
obrigatório para os empreendedores fiscaliza-
dos pela ANA. • erosão superficial;

• ocorrência de árvores e arbustos;


A inspeção procura analisar as condições
físicas das partes integrantes da barragem e • tocas de animais.

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As quatro últimas listadas são decorrentes da falta de manutenção adequada.

Figura 1. Representação esquemática das anomalias.


Fonte: Adaptado de Roque e Comission (2001).

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2 Planejamento da ins- • projeto da barragem;
• métodos construtivos e controle de
peção de segurança re-
qualidade;
gular
• relatórios das inspeções de segurança
anteriores;
Descrevem-se, neste capítulo, a periodicidade
das inspeções de segurança regulares, os estu- • análise dos registros dos instrumentos
dos e relatórios a ser consultados antes da sua instalados, quando existentes (CORPS OF
realização, os recursos necessários para sua ENGINEERS, 1995a, 1995c; SECO; PINTO,
efetivação, os modelos de fichas e de relatório 1982);
a ser adotados, o roteiro a seguir durante uma • operação e manutenção;
inspeção de segurança e a qualificação do • Plano de Ação e de Emergência, quando
inspetor e do responsável do relatório. existente;
Identificados os objetivos e caracterizados os • eventuais reparações.
potenciais problemas das inspeções, o planeja-
mento possibilita: definir a logística; selecionar 2.3 Recursos necessários
os acessos; definir os meios humanos; definir
os meios materiais; otimizar os itinerários; e Nível Canivete
selecionar a ficha de inspeção.

Martelo de
Binóculo
2.1 Periodicidade geólogo

Trado para colher


A periodicidade das inspeções deve ser defini- Corda amostras
da de acordo com a Categoria de Risco e Dano
Potencial Associado. Lanterna Medidor do nível de água
nos piezômetros
Apresenta-se, no Quadro 1, uma proposta,
baseada no art. 4º da Resolução ANA nº 742, Sacos para amostras Trena (2,0 a 5,0 m)
de 17 de outubro de 2011, cuja periodicidade
pode ser ajustada pelo empreendedor em face
das exigências da entidade fiscalizadora e dos
recursos disponíveis. Na inspeção de
segurança regular,
Quadro 1. Periodicidade de inspeções de segurança a equipe deve
regulares. ser portadora
Dano Categoria de Risco
dos seguintes
Potencial equipamentos:
Associado Alto Médio Baixo

Alto Semestral Semestral Semestral


Médio Semestral Semestral Anual
Câmara de vídeo Caderno de
Baixo Anual Anual Bianual
apontamentos e caneta

Máquina fotográfica
2.2 Estudos e relatórios a ser Caixa de primeiros
consultados socorros
Aparelho de Global
Positioning System (GPS)
No sentido de recolher a maior quantidade e Equipamentos de
qualidade de informações, antes da realização proteção individuais
(epis) e coletivos
das inspeções, recomenda-se, se possível, a Fissurômetro (epcs)
consulta de estudos e relatórios que abordem:

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2.4 Roteiro da inspeção

A inspeção no campo tem por objetivo identi-


ficar situações que possam afetar a segurança
da barragem. Assim, é importante observar
todas as zonas da barragem, designadamente,
o talude de montante, o talude de jusante,
a crista, as ombreiras, o pé da barragem, as
áreas a jusante, as interfaces com estruturas
auxiliares e a zona do reservatório, que estão
apresentados na Figura 2.

A técnica geral é caminhar sobre os taludes e a


crista em diferentes direções, de forma a obser-
var todas as zonas da barragem (NICDS, 1983). Figura 2. Vista geral de uma barragem.
Fonte: COBA.

De um determinado ponto sobre a barragem,


pequenos detalhes podem usualmente ser
vistos a uma distância de 3 a 10 m em qualquer A intervalos regulares, enquanto se caminha
direção, dependendo da rugosidade da super- pelos componentes da barragem (taludes e
fície, vegetação ou outras condições. Para que crista, representados na Figura 3), deve-se
toda a superfície da barragem seja coberta parar e olhar em todas as direções:
com a inspeção, é necessário cumprir alguns
passos. Na verdade, não importa o tipo de • observar a superfície a partir de diferentes
trajetória (em zigue-zague ou paralela ao eixo perspectivas, o que pode revelar deficiên-
longitudinal), mas que, tanto quanto possível, cias que de outra forma não poderiam ter
toda a superfície seja coberta visualmente. sido observadas;

• verificar o alinhamento da superfície.

Figura 3. Componentes de uma barragem.


Fonte: Adaptado de NICDS.

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Observando o talude a distância, podem-se conteúdo mínimo indicado no item 4.2
detectar desde logo algumas anomalias, tais deste guia. Um modelo de relatório é
como: distorções nas superfícies do maciço, apresentado no Anexo 3.
ausência de revestimento e ravinamentos.
Os empreendedores, em face da sua
As áreas de contato do aterro com as ombreiras
experiência acumulada, têm a liberda-
devem ser inspecionadas com muito cuidado,
de de adotar seus próprios modelos de
em virtude de essas áreas:
fichas de inspeção e relatório, devendo,
• serem mais suscetíveis à erosão superficial; no entanto, levar em consideração os

• exibirem com mais frequência percolações normativos emitidos pelas suas enti-

nos contatos entre a barragem e a ombreira. dades fiscalizadoras.

Na análise das situações perigosas, interessa 2.6 Qualificação dos inspetores


identificar os tipos de anomalia encontrados,
seu impacto na segurança da barragem e as A Lei nº 12.334/2010 determina que as inspe-
ações que devem ser implementadas. É impor- ções de segurança regulares devem ser efe-
tante a identificação dos fatores que estão na tuadas por equipe de segurança de barragem
gênese das anomalias. integrada por profissionais treinados e capaci-
tados, sendo preferencialmente composta por
Durante as inspeções visuais, devem ser fo- profissionais do próprio empreendedor.
tografadas todas as perspectivas das obras e,
nomeadamente, situações que possam vir a Tanto no caso de profissional do próprio
necessitar de correção. quadro quanto de profissional contratado, o
preenchimento das fichas de inspeção deve ser
realizado por engenheiro, podendo ser aceito
2.5 Modelos de fichas de
(a critério da entidade fiscalizadora) que seja
inspeção, relatório e extrato
feito por técnico de nível médio com capaci-
tação e treinamento adequados. No entanto,
As inspeções devem ser realizadas com o au-
o relatório deve sempre ser assinado por um
xílio de uma ficha de inspeção, que contempla
engenheiro com qualificação em barragens, de
todas as partes da barragem, como estruturas,
acordo com as normas do Conselho Regional
equipamentos e seus aspectos funcionais.
de Engenharia e Agronomia (CREA).
Visam, ainda, a avaliar os aspectos de segu-
rança e operação da barragem, analisando Já no caso de uma contratação, é necessário
as características hidráulicas e hidrológicas, que o profissional que realize as inspeções
a estabilidade estrutural e a adequabilidade e elabore o relatório seja engenheiro. Nas
operacional. Modelos de fichas de inspeção barragens de pequeno porte destinadas à
figuram no Anexo 1. Para auxiliar no seu preen- irrigação, por exemplo, é muito comum que um
chimento, o Anexo 2 apresenta uma listagem engenheiro agrônomo assessore o empreen-
das anomalias mais graves e faz uma análise dedor (agricultor) nas questões relacionadas
da sua causa provável, possíveis consequên- ao plantio. Esse profissional poderia realizar a
cias e ações corretivas. inspeção, inclusive, o relatório final.
No caso de barragens fiscalizadas pela ANA, Em todos os casos, o engenheiro deve obter
deve ser preenchido o extrato da inspeção junto ao CREA a Anotação de Responsabilidade
de segurança regular, que se apresenta no Técnica (ART) para execução dos serviços ou,
Anexo 1.2. caso seja funcionário do empreendedor, a ART
de cargo ou função relativa à barragem.
O relatório deve ser elaborado pelo
responsável técnico e apresentar o

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No caso de barragens de grande porte ou de A capacitação técnica e o treinamento do
empreendedores que possuem várias barra- profissional e/ou da equipe encarregada da
gens e optam por ter uma equipe de segurança realização das inspeções de segurança de bar-
centralizada, pode ser necessária a mobili- ragem constituem matérias muito relevantes
zação de um grupo maior de profissionais. O e devem merecer uma atenção especial do
Quadro 2 apresenta a composição típica de empreendedor. Compete, assim, ao empreen-
uma “equipe-chave” a ser alocada nesse caso. dedor promover:
• uma adequada formação e treinamento de
Quadro 2. Equipe-chave (exemplificativo). todos os novos elementos da equipe, no
início das suas atividades;
Especialidade Experiência
• uma adequada atualização de conhecimen-
Engenheiro geo- Desejável profissional com expe-
técnico/geólogo riência, superior a dez anos, em tos e treinamento de todos os elementos da
de engenharia projetos geotécnicos de barragens equipe que desenvolvem sua atividade no
e/ou projetos geotécnicos de recu-
peração de barragens e/ou em ma- local da barragem.
nutenção e operação de barragens,
sendo desejável ter experiência em Essas ações de formação e atualização de
inspeções de barragens.
conhecimentos e treinamento devem en-
Engenheiro estru- Desejável profissional com expe- volver aspectos básicos, em nível adequado
tural riência, superior a dez anos, em
projetos estruturais de barragens às qualificações de cada técnico, relativos,
e/ou projetos estruturais de recu- nomeadamente, a:
peração de barragens e/ou em ma-
nutenção e operação de barragens, • realização da inspeção de segurança e
sendo desejável ter experiência em
inspeções de barragens. preenchimento da ficha de inspeção;

Engenheiro hi- Desejável profissional com expe-


• medidas a implementar no caso da ocorrên-
dráulico riência, superior a dez anos, em cia de anomalias graves.
projetos hidráulicos de barragens
e/ou projetos hidráulicos de recu-
peração de barragens e/ou em ma-
nutenção e operação de barragens,
sendo desejável ter experiência em
inspeções de barragens.

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3 Execução da inspeção A inspeção no campo deve contemplar todas as
partes da barragem, designadamente, o talude
de segurança regular de montante, a crista, o talude de jusante, pé e
área de jusante, as ombreiras, a faixa de segu-
Este capítulo apresenta o roteiro da inspeção de
rança de projeto a jusante da saia da barragem
segurança regular e a ficha de inspeção. Faz-se
e a zona do reservatório. Deve também incluir
uma análise da magnitude das anomalias e da
as estruturas extravasoras, nomeadamente,
definição do seu nível de perigo e aborda-se
o vertedouro, a tomada de água e a descarga
a avaliação do nível de perigo da barragem.
de fundo, seus equipamentos hidromecânicos,
Refere-se, também, à inspeção de segurança
além das demais estruturas anexas, como
regular de barragens com estruturas associadas
acessos, pistas, obras de arte, sinalização, ilu-
à geração hidrelétrica, naqueles casos em que o
minação, cercas de proteção etc.
uso preponderante não é a geração de energia.
Tal inspeção integra a inspeção visual da bar-
3.1 Aspectos a observar no campo ragem e a condição da instrumentação insta-
lada, visando à detecção de anomalias para o
De posse dos recursos materiais e logísticos, o preenchimento da ficha de inspeção, devendo
inspetor deve percorrer a barragem de acordo os inspetores analisar em escritório os dados e
com o roteiro descrito anteriormente, identifi- gráficos gerados. Podem-se efetuar algumas
cando e registrando as anomalias na ficha de leituras por amostragem para verificação da
inspeção e por fotografias. Deve também pro- consistência dos dados.
ceder a uma classificação inicial da magnitude
A listagem que segue considera os aspectos
e do nível de perigo da anomalia, em função
específicos essenciais a observar na execução
dos critérios que serão descritos a seguir.
das inspeções de segurança regulares.

• Proteção do talude: rip-rap, aspecto geral do material de proteção,


embricamento, escorregamento, deposição de material, desagrega-
ção de blocos de rocha etc.
• Erosão: sinais de erosão provocada pelo movimento da água no
paramento, observar em especial a transição entre as zonas que
normalmente se encontram submersas e as que se encontram acima
do nível de água.
• Ocorrência de fissuras no concreto, ferragem do concreto exposta.
• Plinto (Barragens de Enrocamento com Face de Concreto – BEFCs):
Talude de montante fissuração, juntas de construção.
• Vegetação: analisar a existência ou ausência de arbustos ou árvores,
sua dimensão e frequência (entendida como tendência em deter-
minada zona), indagar a possibilidade de crescimento anormal em
épocas secas, mapear a localização.
• Fraturamento: analisar a fragmentação anormal do material de pro-
teção (blocos) que altere sua granulometria e, portanto, seu poder
protetor.
• Buracos causados por animais: sua dimensão, localização e frequên-
cia.

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• Sinais de movimento: procurar indicadores de deslizamentos plana-
res ou circulares e de enrugamentos no talude.
• Percolação aparente ou zonas úmidas, particularmente na parte infe-
rior do talude: observar o aparecimento de zonas escuras (coloração
característica de material umedecido, vegetação viçosa sem motivo
aparente, surgências de água etc.).
• Deslocamentos planares do material de enrocamento.
• Crescimento de vegetação: analisar o tipo de vegetação existente
Talude de jusante (especialmente devido à profundidade de raízes), considerar em
conjunto com o ponto anterior.
• Estado de proteção do talude: verificar o estado da vegetação neces-
sária para garantir a resistência à erosão.
• Existência de árvores e necessidade de remoção.
• Condições das bermas.
• Canaletas de drenagem.
• Buracos causados por animais, cupinzeiros e formigueiros.

• percolação: detectar sinais aparentes de surgências a jusante;


Ombreiras
• fissuras e juntas: distinguir fissuras longitudinais e transversais, sua
As interfaces do corpo
abertura, afastamento e profundidade (quando possível);
da barragem com as
• deslizamentos: detectar sinais aparentes de deslizamentos recentes
ombreiras, representadas
e causas possíveis;
esquematicamente na Figura
• vegetação;
4, devem ser inspecionadas
• sinais de movimento: considerar movimentos globais não inseridos
visando à detecção de:
nos deslizamentos.

• Fendilhamento na superfície: analisar as fissuras longitudinais e


transversais, abertura, profundidade e espaçamento.
• Recalques: verificar visualmente o nivelamento dos guarda-corpos,
passeios e pavimento na crista.
• Movimentos laterais: os melhores indicadores de movimentos são
os postes de iluminação, se existirem, os guarda-corpos laterais e os
meios-fios.
• Estado de conservação dos guarda-corpos: os guarda-corpos re-
Crista gistram frequentemente os movimentos sofridos, quer por desliza-
mento de peças simplesmente apoiadas, quer por ruptura de peças
rígidas.
• Sobrelevação da crista: apreciação do alteamento da crista definida
no projeto para compensar recalques pós-construção.
• Sistema de drenagem e drenos obstruídos.
• Passeio.
• Alinhamento do meio-fio, quando existir.

• Detecção de situações anômalas, designadamente, fissuras no con-


Galerias creto, infiltrações, movimentos de juntas e depósito de materiais, em
barragens de concreto.

• Vertedouro (ou sangradouro): ferragem exposta, fissuras no concreto,


erosão, depressões, vegetação nas juntas, Reação Álcali-Agregado
(RAA).
• Tomada de água: corrosão, fissuras, infiltrações, RAA.
Estruturas auxiliares
• Comportas: corrosão, água estagnada nos braços, crescimento de
vegetação, defeitos de vedação, deficiências dos equipamentos de
manobra.
• Canal de aproximação e de restituição: erosão, fissuras.

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• Estado dos instrumentos de medida instalados na obra.
Instrumentação

• Erosões, assoreamentos, escorregamento dos taludes marginais,


Reservatório
vegetação flutuante em excesso, troncos de árvores etc.

Em síntese, interessa sublinhar que, durante


as inspeções visuais, deve ser implementada a
seguinte ação:

˚˚ fotografar todas as situações anôma-


las encontradas e que poderão neces-
sitar de correção, sugerindo possíveis
causas.

Figura 4. Interface do corpo da barragem com as ombreiras.

3.2 Fichas de inspeção todos com as respectivas instruções para seu


preenchimento. Essas fichas são exemplos
As fichas de inspeção devem cobrir todos baseados no Ministério da Integração Nacional
componentes da barragem, tendo listadas (2002, 2005, 2010) e foram adotadas na
as anomalias encontradas, sua localização e Resolução ANA nº 742/2011.
sua situação.
Os empreendedores podem utilizar fichas
No Anexo 1 deste guia, são apresentados próprias de inspeção, desde que atendam ao
modelos de fichas de inspeção de segurança regulamentado pelas respectivas entidades
fiscalizadoras.
regular, comuns a todos os tipos de barragem
(Anexo 1.1.1), de terra (Anexo 1.1.2), BEFC A Resolução ANA nº 742/2011 estabelece, no
(Anexo 1.1.3), de concreto (Anexo 1.1.4) e para art. 2º: “As Inspeções de Segurança Regulares
as especificidades de barragens que contêm de Barragem devem ser realizadas regularmen-
aproveitamentos hidrelétricos (Anexo 1.1.5), te, para avaliar as condições físicas das partes

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integrantes da barragem visando identificar e As fissuras (em sentido lato) que se desenvol-
monitorar anomalias que afetem potencial- vem nas barragens de terra podem ser classi-
mente a sua segurança”. ficadas, de acordo com sua localização, como
fissuras interiores e exteriores e, relativamente
Em seu art. 3º, define:
à sua posição, fissuras longitudinais e transver-
• anomalia: qualquer deficiência, irregula- sais. A realidade é, no entanto, mais complexa,
ridade, anormalidade ou deformação que podendo ocorrer, simultaneamente, todas as
possa afetar a segurança, tanto em curto combinações dessas situações. A maior parte
quanto em longo prazo; das fissuras referidas na literatura especiali-
zada é exterior e, consequentemente, visível.
• magnitude: tamanho ou amplitude da
Constata-se, porém, a existência de fissuras
anomalia;
interiores no corpo da barragem, resultantes de
• nível de perigo: gradação do perigo à variações do estado de tensão do maciço, que
barragem decorrente da identificação de podem ser observadas, por exemplo, por meio
determinada anomalia. de sondagens e amostragens.

Ao preencher a ficha de inspeção, deve-se de- As fissuras longitudinais têm um andamento


finir a situação da barragem para as diferentes paralelo ao desenvolvimento linear da barra-
anomalias, bem como classificar a magnitude gem, enquanto as transversais situam-se em
das anomalias e seu nível de perigo, de acordo planos que interceptam horizontal ou vertical-
com a abordagem no item 3.4. mente o aterro. Quando são detectadas fissu-
ras transversais e longitudinais na inspeção,
3.3 Tipos mais frequentes de recomenda-se:
anomalia e suas consequências • fotografar e registrar a locação, orientação,
comprimento e espessura;
3.3.1 Barragens de aterro • monitorar as mudanças ao longo do tempo;
• buscar entender a causa de sua origem.
Fissuras

Em barragens de aterro, as fissuras podem ser Fissuras transversais são perigosas, porque
classificadas em termos de dimensão, de acor- podem contribuir para uma ligação no sentido
do com o indicado no Quadro 3. montante-jusante, com risco para a segurança,
em especial, se prosseguem até o nível abaixo
Quadro 3. Classificação das fissuras em barragens da cota de retenção. Nesses casos, podem
de aterro. criar um caminho de percolação preferencial
Abertura
de água, podendo resultar em uma diminuição
Designação
(mm) de resistência do material do aterro. Podem,
e ≤ 0,50 Fissura ainda, indicar recalques diferenciais no aterro
0,50 < e ≤ 1,50 Trinca ou na fundação. Ocorrem frequentemente
1,50 < e ≤ 5,00 Rachadura quando há: (i) material compactado do maci-
5,00 < e ≤ 10,00 Fenda ço sobre ombreiras íngremes e irregulares; (ii)
e > 10,00 Brecha zonas de materiais compressíveis na fundação.

Fissuras longitudinais podem indicar:

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• recalques desiguais entre materiais de dife- • originar um processo de erosão interna (pi-
rentes compressibilidades no maciço; ping) (Figura 5), o qual é influenciado pelos
seguintes fatores:
• recalques excessivos e expansão lateral do
maciço; ˚˚ tipo de solo (areia fina e silte de origem
eólica, por exemplo, são altamente
• início de instabilidade do talude.
suscetíveis à erosão);
A maior parte das fissuras referidas na literatura
˚˚ gradiente hidráulico: quanto maior o
especializada é exterior e, consequentemente, gradiente, maior a possibilidade de
visível. Constata-se, no entanto, a existência erosão interna;
de fissuras interiores no corpo da barragem,
resultantes de variações do estado de tensão ˚˚ tensão confinante: quanto maior o
valor da tensão confinante, menor a
do maciço.
possibilidade da ocorrência da erosão;
Surgências • aumentar as poropressões e saturação do
maciço e da fundação, com consequente
A surgência é a ocorrência de água, por per- perda de resistência.
colação, na face do paramento de jusante da
barragem, nas ombreiras, no pé de jusante e na O contato do aterro com uma ombreira rocho-
faixa logo a jusante do pé da barragem. sa é especialmente favorável à ocorrência de
erosões, razão pela qual o aterro, nessa inter-
A percolação dessa água pode ter as seguintes face, deve exibir adequadas características de
consequências: plasticidade, teor em água e compactação.

Figura 5. Problemas de percolação.


Fonte: Adaptado de Foster (1999).

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A percolação no corpo da barragem e na sua Instabilidade de taludes
fundação pode ser controlada pelos seguintes
A instabilidade dos taludes está relacionada
dispositivos: filtros e drenos internos (verticais
com a ocorrência de deslizamentos e des-
ou inclinados), que interceptam e descarregam
locamentos e pode ser agrupada em duas
o fluxo com segurança; tapete horizontal; e
categorias:
dreno de pé.
• ruptura superficial;
Os poços de alívio, instalados junto ao pé de • ruptura profunda.
jusante, objetivam aliviar as subpressões dos
materiais mais permeáveis, subjacentes à A ruptura superficial pode ocorrer no talude
camada menos permeável (argilosa). Ajudam de montante ou de jusante nas seguintes
também a controlar a direção e a quantidade situações:
de fluxo sob a barragem. Essas subpressões • talude de montante: rebaixamento rápido
podem provocar erosão interna do material de com deslizamentos superficiais, que não
fundação e instabilidade do maciço. causa ameaça à integridade da barragem,
mas pode gerar obstrução da tomada de
Na inspeção, recomenda-se:
água e deslizamentos progressivos mais
• localizar os pontos de surgência; profundos;
• medir as vazões e a turbidez da água; • talude de jusante: deslizamentos rasos pro-
• registrar a ocorrência de precipitação recen- vocam aumento na declividade do talude
te, que possa afetar a medição e a turbidez e podem indicar perda de resistência do
da água; maciço, por saturação do talude, percolação
ou fluxo superficial.
• anotar o nível de água do reservatório no
momento da medição da vazão; Na inspeção, deve-se:
• esclarecer se o reservatório é a fonte da
• medir e registrar a extensão e deslocamento
percolação, pois o aumento da vazão do material movimentado;
com o nível do reservatório estabilizado é
• procurar por fissuras (trincas ou rachaduras)
preocupante.
nas proximidades, especialmente acima do
deslizamento;
No caso de haver saída do material,
recomenda-se: • verificar percolações nas proximidades;
• observar a área, para determinar se as con-
• verificar a granulometria do material
dições de instabilidade estão progredindo.
carreado;
• medir a vazão. A ruptura profunda é uma séria ameaça à inte-
gridade da barragem, sendo caracterizada por:
Na inspeção dos poços de alívio, observar:
• talude de deslizamento íngreme bem
• a locação de cada poço em relação ao indi- definido;
cado no projeto; • movimento rotacional e horizontal bem
• se há fluxo de água: medir sua vazão e definido;
turbidez; • fissuras (trincas ou rachaduras) em formato
• se não há fluxo: procurar explicação com de arco.
base na estimativa de prévias leituras em
Ações a ser implementadas para aprofundar
relação ao nível do reservatório. as investigações:
Se houver perigo iminente para a barragem, de- • As rupturas profundas, tanto no talude de
ve-se comunicar às autoridades competentes, montante quanto de jusante, podem ser
Defesa Civil, prefeitura e entidade fiscalizadora, indicações de sérios problemas estruturais.

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Na maioria dos casos, irão requerer o rebai- outros sérios problemas. A inspeção deve
xamento ou drenagem do reservatório. fotografar e registrar a locação, tamanho e
• Se há suspeita de deslizamento, deve-se: profundidade de cada recalque observado.
• Em relação aos afundamentos,
˚˚ inspecionar com muito cuidado a área recomenda-se:
trincada ou escorregada que indique a
causa do deslizamento; ˚˚ fotografar e registrar a locação, tama-
nho e profundidade;
˚˚ recomendar uma investigação para
determinar a magnitude e a causa do ˚˚ examinar cuidadosamente o fundo da
evento; depressão localizada, para determinar
se existe um grande vazio subjacente
˚˚ recomendar o rebaixamento do reser- ou fluxo de água;
vatório, nas situações mais críticas.

Depressões ˚˚ investigar a causa do afundamento


e determinar se existe ameaça à
As depressões podem ser localizadas ou barragem.
abrangentes e causadas por recalque no maci-
Anomalias decorrentes de má execução ou
ço ou fundação. Os recalques podem resultar
falta de manutenção na barragem
na redução da borda livre e representar uma
potencial situação para o transbordamento da Se a proteção do talude for considerada inade-
barragem durante o período das cheias. quada, deve-se:

A ação das ondas no talude de montante pode • determinar a quantidade de material


remover, em especial, o material da camada removido;
de apoio (transição) do rip-rap ou, ainda, o
• registrar e fotografar a área;
próprio, se mal colocado ou de granulometria
deficiente, descalçando-o e formando uma • reparar a proteção inadequada.
depressão quando o material recalca sobre o
A erosão superficial é um dos problemas de
espaço vazio. manutenção mais comuns nos taludes de ater-
Podem, ainda, ser causadas por erosão regres- ro. Se não for corrigida a tempo, pode trazer
siva ou piping, com o subsequente colapso do sérios danos à estrutura, como ravinamentos.
material sobrejacente. As erosões profundas causam fissuras na crista
Algumas áreas da superfície do maciço que e encurtam o caminho de percolação devido à
parecem depressões ou afundamentos podem redução da seção transversal da barragem.
ser resultado de finalização inadequada da O crescimento de árvores e arbustos, nos talu-
construção, razão pela qual a causa deve ser des de montante e jusante e na área imediata-
determinada. mente a jusante da barragem, deve ser evitado
As depressões podem ser de dois tipos: pelas seguintes razões:

• recalques localizados, que apresentam in- • para permitir o levantamento e inspeção das
clinações suaves em formato de bacia; estruturas e áreas adjacentes, visando a ob-
servar percolação, fissuras, afundamentos,
• afundamentos (sinkholes), que apresentam
deflexões, mau funcionamento do sistema
lados íngremes por colapso devido a um
de drenagem e outros sinais de perigo;
vazio no solo subjacente.
• para permitir o acesso adequado às ativida-
Recomendações para a inspeção: des de operação normal e de emergência e
• Embora os recalques, na maioria dos casos, manutenção da barragem;
não representem perigo imediato para a • para evitar danos nas estruturas devido ao
barragem, podem ser indicadores iniciais de crescimento de raízes, que pode provocar

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
29
encurtamento do caminho de percolação, desenvolvem no concreto podem afetar o fun-
vazios no maciço pela decomposição de cionamento desses equipamentos.
raízes ou arrancamento de árvores, expan-
A evolução desses movimentos diferenciais
são de juntas nos muros de concreto, canais
entre blocos pode ser monitorada por inter-
ou tubulações, entupimento de tubos de
drenagem; médio de instrumentação adequada instalada
nas juntas ou por instrumentação como os
• para evitar a obstrução de descarregadores
medidores triortogonais.
de cheias, tomadas de água, drenos, entra- afloramento de água na superfície do talude
da e saída de canais. Surgências jusante, geralmente na região do pé da
barragem
As tocas de animais podem levar à ruptura da Em algumas barragens, são instalados
barragem por erosão interna (piping) quando dispositivos de drenagem que permitem
passagens ou ninhos de animais: conduzir a água infiltrada no corpo das obras
• fazem a conexão do reservatório com o ta- para galerias ou áreas a jusante, limitando
lude de jusante ou causam o encurtamento a instalação de subpressões. No entanto,
dos caminhos de percolação; podem por vezes ocorrer percolações através
do corpo da barragem, em regra pelas juntas
• penetram no núcleo central impermeável
deficientemente tratadas, como as juntas de
da barragem, quando existe.
contração, de concretagem ou de contato en-
Devem-se desencorajar as atividades (pela tre materiais diferentes (nomeadamente, entre
eliminação da fonte de alimentação e habitat) o concreto e o maciço de fundação ou entre o
de animais, visando a prevenir tocas dentro do concreto e maciços de aterro), ou ainda por
maciço e possíveis caminhos de percolação. áreas de concreto deficientemente vibrado.

Na inspeção, deve-se: As infiltrações a que correspondem fluxos


e velocidades elevados contribuem para a
• procurar evidências de percolação prove-
deterioração do concreto, por lavagem dos
nientes de tocas no talude de jusante ou na
materiais mais finos, e para o desenvolvimento
fundação;
de reações químicas que estão na origem de
• localizar e registrar a profundidade estima-
diversas anomalias.
da das tocas para comparar com as futuras
inspeções, a fim de verificar se o problema Nas fundações das barragens de concreto,
está evoluindo. são, em regra, realizados tratamentos com
vista à sua consolidação, impermeabilização
e drenagem. A coleta das águas de percola-
3.3.2 Barragens de concreto ção do sistema de drenagem e a análise do
seu volume e características constituem um
Movimentos diferenciais entre blocos aspecto importante do controle de segurança
das obras.
As deformações permanentes das barragens
de concreto manifestam-se, em geral, por Fissuras
movimentos nas juntas. A detecção desses
No caso das barragens de concreto, observam-
movimentos é particularmente importante na
se frequentemente fissuras de diversos tipos.
vizinhança de equipamentos hidromecânicos,
As variações diárias de temperatura originam,
como as comportas, cujo funcionamento pode
em regra, uma fissuração superficial, que não
ser posto em causa.
é relevante para as condições de segurança
O controle do funcionamento das comportas das estruturas. No entanto, podem também
requer especial cuidado no caso de barra- se desenvolver fissuras associadas a deficiên-
gens afetadas por reações expansivas (RAA, cias do projeto ou de construção ou mesmo
entre outras), dado que as expansões que se ao envelhecimento das estruturas, que, em

30 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
geral, afeta essencialmente as condições de 3.4 Classificação da magnitude e
funcionamento (nomeadamente, o funciona- do nível de perigo das anomalias
mento de comportas e outros equipamentos).
Podem, ainda, dar origem ao aparecimento 3.4.1 Considerações iniciais
de surgências e, ao longo do tempo, afetar as
condições de segurança das barragens. Assim, Nas fichas de inspeção do Anexo 1.1, a magni-
é importante identificar essas fissuras e con- tude das anomalias é classificada em quatro
trolar seu desenvolvimento. categorias:
As fissuras que se desenvolvem nas barragens Insignificante: anomalia de pequenas dimen-
I
de concreto podem ser classificadas de forma sões, sem aparente evolução;
semelhante às que se desenvolvem nas barra- P
Pequena: anomalia de pequena dimensão,
com evolução ao longo do tempo;
gens de aterro, sendo frequente classificá-las em
Média: anomalia de média dimensão, sem
quatro tipos, sendo neste caso definidas também M
aparente evolução;
fissuras capilares, como se indica no Quadro 4.
Grande: anomalia de média dimensão, com
G evidente evolução, ou anomalia de grande
dimensão.
Quadro 4. Classificação das fissuras em barragens
de concreto.

Abertura
Designação
(mm) O nível de perigo da anomalia procura quantifi-
e ≤ 0,50 Fissura car o grau de vulnerabilidade da barragem que
0,50 < e ≤ 1,50 Trinca pode ser imposto por ela e indicar a presteza
1,50 < e ≤ 5,00 Rachadura com que ela deve ser corrigida e considera qua-
5,00 < e ≤ 10,00 Fenda tro categorias:
e > 10,00 Brecha
Nenhum: anomalia que não compromete a se-
0 gurança da barragem, mas pode ser entendida
como descaso e má conservação;
Deterioração devida a expansões associadas Atenção: anomalia que não compromete a
a reações químicas – RAA 1
segurança da barragem em curto prazo, mas
deve ser controlada e monitorada ao longo do
tempo;
Os processos expansivos associados a algu-
Alerta: anomalia com risco para a segurança da
mas reações químicas entre os elementos que
2 barragem, devendo ser tomadas providências
constituem o concreto originam deformações para a eliminação do problema;
e fissuras no concreto que podem afetar as Emergência: anomalia com risco de ruptura em
condições de funcionalidade e mesmo de se- 3 curto prazo, exigindo ativação do Plano de Ação
de Emergência (PAE).
gurança das estruturas. Esses processos são,
em geral, agravados pela presença da água,
que, por sua vez, é facilitada pela abertura das As categorias de magnitude da anomalia e do
fissuras. Nesses casos, torna-se necessária seu nível de perigo apresentadas neste guia
uma avaliação da importância da situação por são as adotadas pelo Ministério da Integração
especialistas, mediante inspeções e/ou even- Nacional (2002, 2005, 2010).
tual realização de ensaios.
As fichas do Anexo 1.1 trazem uma lista não
exaustiva das possíveis anomalias encontrá-
veis em barragens. No Anexo 2, figura uma lis-
tagem das anomalias mais graves que ocorrem
nas barragens de terra e de enrocamento, nas
barragens de concreto e nas suas estruturas
auxiliares, com a finalidade de auxiliar os inspe-
tores no preenchimento das fichas. Esses ins-
petores podem ter dúvidas na classificação da

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
31
anomalia, no caso de sua magnitude ser média Ressalta-se que a classificação das anomalias
ou grande, com reflexos na classificação do seu indicadas nos quadros é apenas orientadora.
nível de perigo, quando se trata das situações Em que pesem as categorizações apresentadas
de alerta e emergência. O Anexo 2 visa, assim, (de insignificante a grande), o julgamento de
a contribuir para uma melhor identificação da engenharia é fundamental para classificação
causa provável, da possível consequência e das da magnitude das anomalias.
ações corretivas a ser implementadas, além de
Essa listagem, resultado da ponderação das
orientar sobre a necessidade da presença de
publicações do Bureau of Reclamation, Corps
um engenheiro qualificado para inspecionar a
of Engineers, ICOLD, Electric Power Research
barragem e tomada de ações. O treinamento
Institute (EPRI) e da prática internacional, é
dos inspetores e sua capacitação irão certa-
apresentada a título informativo e não tem a
mente contribuir para um melhor desempenho
pretensão de contemplar todas as possíveis
nas ações de inspeção.
situações. Procura-se, assim, da listagem das
É importante sublinhar que a classificação do anomalias que constam no Anexo 2, apresen-
nível de perigo da anomalia, principalmente tar a seleção nos Quadros 5, 6 e 7 das mais
nas situações de alerta e de emergência, não importantes, que, conjugada com o julgamento
dispensa o julgamento de engenharia. de engenharia, possibilitará a definição do nível
de perigo da barragem e, consequentemente,
das situações que necessitam de ações não
3.4.2 Identificação das anomalias imediatas (anomalias insignificantes ou pe-
graves quenas) ou imediatas (anomalias médias ou
grandes).
Definem-se anomalias graves como as ano-
malias capazes de comprometer a segurança Apresentam-se, na última coluna dos Quadros
de uma barragem e levá-la ao rompimento, 5, 6 e 7, códigos para relacionar às anomalias
no caso de não terem sido empreendidas em extraídas dos Anexos 1.1 e 2. A interpretação
tempo ações corretivas. desses códigos faz-se da seguinte forma:

Apresenta-se, nos Quadros 5, 6 e 7, uma


• Códigos apresentados na parte de cima da li-
listagem das anomalias mais importantes
nha foram retirados do Anexo 1 (A.1 a A.6): por
que podem ocorrer nas barragens de terra e
exemplo, BT(B.2.1) significa que se trata de
enrocamento, barragens de concreto e estru-
uma barragem de terra, anomalia localizada
turas auxiliares, que, por essa razão, carecem
na crista (B2), primeiro item – erosões (1).
de maior atenção na inspeção. Nos quadros,
figuram também os indicadores que possibi- • Códigos apresentados na parte de baixo
litam a classificação dessas anomalias como da linha foram retirados do Anexo 2: por
insignificantes, pequenas, médias ou grandes exemplo, BT3(1) significa que se trata de
e que, no caso de serem médias ou grandes, uma barragem de terra, da crista (3) e que a
podem ser graves. anomalia é uma fissura longitudinal (1).

32 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
Quadro 5. Barragens de terra – listagem das anomalias mais importantes.
Média/
Anomalia Insignificante/ pequena Código
grande
Fissuras longitudinais na crista (com- l<5 l>5 BT(B.2.2)
primento l em m, abertura a em mm e a<5 a>5 BT3(1)
profundidade p em m) p<0,2 p>0,2
l<5 l>5 BT(B.2.2)
Fissuras transversais na crista (compri-
a<5 a>5 BT3(4)
mento l em m e abertura a em mm)
p<0,2 p>0,2

Afundamentos afd<0,3 afd> 0,3 BT(B.2.5)


(afd em m) BT3(6)

Recalques/deslocamentos verticais (dv dv<0,2 dv>0,2 BT(B.2.5)


em m) BT3(2)

Fugas de água/vazões na fundação (Vf Vf<4 Vf>4 BT(B.4.2)


em l/min/m) BT4(5)
Erosão no pé da barragem (erosão Situação desprezável ou Com velocidade constante ou BT(C.1.6)
regressiva) estabilizada crescente BT5(7)
Falha no rip-rap
Muito pequenos Perda significativa de material BT(B.2.5)
Desabamentos/colapsos
BT3(3)
Surgências no talude de jusante e áreas Só vestígios Aparecimento de água bar- BT(B.3.13)
molhadas renta BT4(6)
Água barrenta
Deslizamentos (escorregamentos) de Muito localizados Muito sérios, associados com BT(B.12;B.3.2)
taludes a existência de zonas úmidas BT2(1)
Vazamento (fuga de água) na interface Vi <10 Vi >10 BT(B.4.2;
aterro-ombreira B.4.3)
(Vi em l/min) BT4(8)
BEFC – fissuras na laje do concreto (a a<1 a>1 BT(B.1.3)
em mm) BT1(7)

Quadro 6. Barragens de concreto – listagem das anomalias mais importantes.


Insignificante/ Média/
Anomalia Código
pequena grande
Abertura de juntas a<3 a>3 BC(B.1.6)
(a em mm) BC2(4)
Deslocamentos diferenciais de juntas d<2 d>2 BC(B.2.1)
(d em mm) BC1(4)
l<3 l>3 BC(B.1.3)
Fissuras verticais em diagonal (compri-
a<1 a>1 BC2(1.2)
mento l em m e abertura a em mm)
Sem passagem de água Com passagem de água
Infiltrações através do concreto e fissu- Q<2 Q>2 BC(B.3.6)
ras (Q em l/min) BC4(1)
Infiltrações através das juntas de blocos Q<20 Q>20 BC(.3.5)
(Q em l/min/junta) BC3(1))
Vazões nos drenos de fundação Q<10 Q>10 BC(B.3.8)
(Q em l/min/m) BC4(2)
Drenos com colmatações Aumento excessivo de supres- BC(B.5.8)
ou aumentos insignifican- sões em relação aos valores BC4(2)
Drenos de fundação (colmatação/obs-
tes em relação aos valo- habituais na mesma época, redu-
trução ou aumento das vazões)
res habituais na mesma ção do fator de segurança
época
Movimentos desprezáveis Movimentos com velocidade BC(F1)
Movimentos nos taludes em rochas
crescente BC5(1)
Vazamento na interface concreto-om- Q<10 Q>10 BC(F5)
breiras BC5(2)
(Q em l/min)

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
33
Quadro 7. Estruturas auxiliares – listagem das anomalias mais importantes.
Insignificante/ Média/
Anomalia Código
pequena grande
l<5 l>5 BC(B.4.10)
Fissuras
a<5 a>5 BT5(5)
(comprimento l em m e abertura a em mm)

Paredes e muros deslocados (afundamentos) afd<0,3 afd>0,3 BC(C1.3)


(afd em m) BT5(4)
Só vestígios ou muito Com significado ou muito BC(B.4.3)
Deterioração do concreto
localizadas extensas BT5(8)
Abertura de juntas a<3 a>3 BT(C.2.5)
(abertura a em mm) BT5(6)
Infiltrações nas juntas danificadas (Q em l/ Q<10 Q>10 BC(B.4.5)
min/junta) BT5(10)
Erosões no canal de restituição (profundidade p<0,2 p>0,2 BC(C.1.6)
p em m) BT5(3)
d<0,1 d>0,1 BC(C.2.4)
Descalçamento da estrutura (d em m)
BT5(3)
Vazamento dentro e ao redor da estrutura Q<10 Q>10 BC(B.4.9)
(Q em l/min) BT5(9)
Só vestígios ou muito Com significado ou muito BC(B.5.15)
Carreamento de sedimentos
localizado extenso BT5(1)

Nas estruturas auxiliares, o comportamento Quando as anomalias encontra-


estrutural é semelhante ao das estruturas de das representam risco à segu-
concreto e o comportamento hidráulico está Alerta rança da barragem, devendo ser
tomadas providências para a
relacionado com as erosões das estruturas eliminação do problema.
(cavitação e abrasão), arranque de blocos (ba-
Quando as anomalias encontra-
cias de dissipação), erosão do maciço rochoso das representam risco de ruptura
e deficiências dos equipamentos. iminente, devendo ser tomadas
Emergência medidas para prevenção e redu-
ção dos danos materiais e huma-
3.5 Nível de perigo da barragem nos decorrentes de uma eventual
ruptura da barragem.

O nível de perigo da barragem, segundo o art.


7º da Resolução ANA nº 742/2011, deve ser No Manual do Ministério da Integração Nacional
classificado em quatro categorias, em função e na Resolução ANA nº 742/2011, não existem
do tipo de anomalia, sua evolução e da urgên- orientações sobre como, a partir da definição
cia de medidas corretivas, designadamente: do nível de perigo das anomalias (situação
micro), fazer a classificação do nível de perigo
Quando não são encontradas
anomalias ou as anomalias da barragem (situação macro). Trata-se de
Normal
encontradas não comprometem um tema delicado que necessita ser abordado
a segurança da barragem, mas com ponderação.
devem ser controladas e monito-
radas ao longo do tempo.
Nos Quadros 5 a 7, foram apresentadas lista-
Quando as anomalias encon- gens para as barragens de terra e enrocamento,
tradas não comprometem a
segurança da barragem em curto barragens de concreto e estruturas auxiliares
Atenção
prazo, mas devem ser controla- das anomalias graves, cujas magnitudes são
das, monitoradas ou reparadas classificadas como insignificantes, pequenas,
ao longo do tempo.
médias e grandes. As anomalias classificadas

34 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
como médias e grandes, exibindo uma taxa complementada, contemplando não só as
de progressão elevada e de difícil quantifica- estruturas associadas às usinas, mas também
ção, estão conotadas com uma classificação avaliando o estado de funcionamento e de
de nível de perigo da barragem de alerta e conservação dos equipamentos hidromecâni-
emergência. Pode, então, uma única anomalia cos, eletromecânicos e elétricos associados.
grave comprometer a segurança da barragem
e levá-la à ruptura. É necessária a presença de A listagem apresentada, de caráter geral e indi-
um engenheiro qualificado e experiente para cativo, deve ser adaptada a cada instalação em
inspecionar a barragem, validar seu nível de particular, tendo em conta suas características
perigo e orientar as ações a ser tomadas, com específicas e seu tempo de serviço.
a antecedência ou urgência requerida.
3.6.1 Objetivos
Há diversas características do nível de perigo
das anomalias que afetam a percepção do ní- Devem ser efetuadas as seguintes verificações
vel de perigo da barragem, como, por exemplo: gerais:

• efeito imediato – efeito retardado; • instalação dos equipamentos, estado de


manutenção e limpeza;
• não existir alternativa possível – existir al-
ternativa possível; • conformidade com projeto, desenhos,
instruções de montagem ou outras
• perigo não conhecido – perigo conhecido;
especificações;
• consequências irreversíveis – consequên-
• conformidade com normas e regulamentos
cias reversíveis.
aplicáveis;
Consoante o tipo e a progressão das anomalias
• verificação da existência de manuais de
graves, devem ser programadas ações, que
operação e manutenção das instalações e
podem ser classificadas como:
equipamentos;
• medidas imediatas:
• verificação da existência de peças de
˚˚ baixar o nível de água no reservatório; reserva;

˚˚ reforçar o monitoramento e a • estado funcional geral da instalação.


inspeção;
3.6.2 Ficha de inspeção das estruturas
˚˚ reforços simples, como aumento de
peso a jusante, reforço de drenagem etc.;
O Anexo 1.1.5 apresenta uma ficha com os
• reabilitação. aspectos mais relevantes aplicados às usinas
hidrelétricas nos casos das barragens em que o
O nível de perigo da barragem e as ações cor- uso preponderante não é a geração de energia.
retivas necessárias devem constar do relatório
Na geração hidrelétrica, existe uma série de
de inspeção.
estruturas associadas a usinas e a barragens
existentes somente em alguns empreendi-
3.6 Inspeção de segurança mentos, razão pelo qual as fichas de inspeção
regular de estruturas de apresentadas no Anexo 1.1.5 devem ser adap-
hidrelétricas tadas pelos empreendedores, tendo em conta
as diversas situações.
Descreve-se um conjunto de ações a ser imple-
mentadas na inspeção de segurança regular 3.6.3 Equipamento hidromecânico
de estruturas de hidrelétricas, nos casos das
barragens em que o uso preponderante não Em relação ao equipamento hidromecâ-
é a geração de energia. Nesse caso, a ficha nico, devem ser verificados os seguintes
de inspeção de segurança regular deve ser componentes:

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
35
Comportas Sistema de regulação • Verificação do estado
de velocidade de funcionamento e
Verificação do • por comando elétrico local; de conservação de to-
funcionamento • por comando elétrico a dis- dos os componentes
até a abertura tância; do sistema e regula-
máxima: • automático; ção de velocidade.
• manual.
Instalação de • Verificação do estado
Outros • fonte alternativa de energia; refrigeração de funcionamento e
aspectos a • pessoal de exploração ades- de conservação de to-
considerar na trado; dos os componentes
inspeção: • instruções escritas de mano- da instalação de água
bra; de refrigeração
• instruções escritas de manu-
tenção;
• estado de conservação da
pintura;
• guinchos e cabos de aço;
• servomotores;
• grades.

Condutos e blindagens

• Verificação do estado de conservação da pintu-


ra das superfícies.
• Verificação das juntas, vedantes e pontos de
infiltração.

Figura 6. Vista da casa de máquinas.


Fonte: COBA / Banco de Imagens ANA
3.6.4 Equipamento eletromecânico

Quanto ao equipamento eletromecânico, Alternadores


devem ser objeto de verificação os seguintes
componentes: Sistema de excitação e regulação de tensão

Turbinas • bases de apoio da


Aparelhos de • Verificação do estado
cruzeta superior;
elevação de operação, desgas-
Antes da desmonta- • mancal de impulso;
tes, corrosão, integri-
gem, efetuar a veri- • junta de vedação do
dade, folgas e apertos
ficação de todas as veio;
da parafusaria de
situações de funciona- • mancal guia;
todos os órgãos.
mento e automatismos • veio;
do grupo, para avalia- • roda;
ção das condições de • anel de acionamento Equipamentos • Verificação do estado
segurança e estabilida- do distribuidor; de Aquecimento, de funcionamento e
de. • diretrizes; Ventilação e Ar- de conservação de
Após a desmontagem, • aros do distribuidor; Condicionado (AVAC) todos os componen-
efetuar o exame visual • servomotores do dis- tes da instalação de
e controle dimensional tribuidor; ventilação
de todos os compo- • antedistribuidor;
nentes. • caixa espiral; Instalação de • Verificação do estado
• tubo de aspiração; bombeamento de funcionamento e
• válvula de proteção do de conservação de
grupo; todos os componen-
• casa de máquinas tes da instalação de
(Figura 6). bombeamento.

36 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
3.6.5 Equipamentos mecânicos
Ao testar o sistema • se o sistema auxiliar
de força auxiliar, está em condições
Em comportas e • fissuras; verificar: operacionais, testando
válvulas, identificar • soldas quebradas; válvulas e comportas
superfícies • peças faltantes, com representativas do
danificadas folgas ou quebradas; conjunto;
• perda de revestimento • se sistemas manuais
de proteção; são usados quando
• corrosão e ferrugem o sistema principal
de metais; está inoperante,
• cavitação. identificando suas
capacidades de
operar comportas e
Nos berços e guias • estragos; válvulas críticas em
• partes empenadas; tempo adequado.
• desalinhamentos;
• sinais de deterioração
dos selos;
• sinais de
emperramento nas 3.6.6 Equipamentos elétricos
placas dos selos
(arranhões e sulcos).
Os seguintes • estruturas metálicas,
equipamentos da barramentos e
Verificar nos sistemas • partes faltantes, com
operacionais subestação devem ser acessórios;
folgas ou quebradas;
objeto de verificação: • equipamentos de alta
• corrosão nas conexões
tensão;
do sistema de
• transformador de
elevação;
potência;
• danos nas hastes e
• quadros de média
nas guias;
tensão;
• vazamentos de óleo
• transformadores de
em volta das hastes;
serviços auxiliares;
• níveis inadequados de
• grupo diesel de
fluidos ou vazamento
emergência;
dos fluidos de
• quadros de baixa
operação
• tensão;
• carregador retificador;
Ao operar comportas e • grelha de proteção; • baterias;
válvulas, verificar • comporta da tomada • instalação de
de água; iluminação e tomadas;
• câmara da comporta; • instalações de
• temperatura do segurança;
motor para saber se • cabos elétricos e
está quente (sinal de caminhos de cabos;
sobrecarga). • quadros de comando
e controle;
O inspetor deve observar eventuais movimen- • proteção contra
descargas
tos intermitentes e bruscos, vibrações excessi- atmosféricas;
vas ou emperramentos e ruídos estranhos. • rede de terras.

Sistemas de força auxiliares, que são usados


quando o sistema principal está inoperante,
devem ser testados frequentemente de acordo
com os procedimentos operacionais. Os testes
devem ser feitos considerando condições
normais de operação, bem como simulando
condições adversas.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
37
3.6.7 Qualificação dos inspetores empreendimento que possuem interface com
as estruturas civis (como as comportas de um
Adicionalmente aos inspetores responsáveis vertedouro, por exemplo) ou que, em caso de
pela inspeção regular, deve ser incluído, no anomalia, possam afetar a operação e even-
caso de existirem equipamentos hidrelétricos tualmente a própria segurança da barragem
para geração de energia, engenheiro especia- (como bombas existentes em poços de drena-
lizado com conhecimento específico em es- gem, por exemplo).
truturas hidrelétricas ou inspetor qualificado
O quadro atual de inspetores de barragens
de nível médio.
brasileiras é muito diversificado, integrando
No caso dos grupos turbina-alternador, essas profissionais de nível escolar superior e técni-
atividades devem ser realizadas, de preferên- cos de nível médio, razão pela qual é desejável
cia, pelos respectivos fabricantes. que a ficha de inspeção padronizada seja
objetiva e simples, permitindo avaliações
Na realização de uma inspeção de usinas
rápidas por parte do responsável técnico pela
hidrelétricas, o inspetor deve ter noções
segurança da barragem e, ainda, verificações
sobre os componentes eletromecânicos do
da entidade fiscalizadora.

38 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
4 Elaboração do Relatório de Inspeção E Extrato

4.1 Relatório de inspeção

O relatório de inspeção, a ser elaborado pelo responsável técnico com a formação de engenheiro e
experiência em segurança de barragens, deve conter, no mínimo, as seguintes informações:

1. Sumário executivo • Nome da barragem.


• Código da barragem no cadastro do órgão fiscalizador.
• Identificação do empreendedor ou do seu representante legal.
• Identificação do responsável técnico pela inspeção e elaboração
do relatório e anotação da sua responsabilidade.
• Localização e data da inspeção.
• Outorga.
• Data da construção.
• Responsável pela construção.

2. Principais características • Bacia hidrográfica.


• Curso d’água barrado.
• Coordenadas.
• Finalidade.
• Capacidade do reservatório.
• Área inundada.
• Tipo de barragem.
• Cota da crista.
• Altura da barragem.
• Comprimento da barragem.

3. Histórico • Incidentes/acidentes anteriormente ocorridos, se aplicável.

4. Fichas de inspeção • avaliação de anomalias: situação, classificação da sua magnitude


preenchidas, a ser revisadas pelo e nível de perigo (ver item 3.4);
responsável técnico, que deve • fotografias das anomalias consideradas médias ou graves e sua
pronunciar-se sobre: descrição;
• análise dos registros dos seguintes instrumentos, quando
existentes: piezômetros, medidores de tensão, registradores de
fluxo, medidores de recalques, inclinômetros, extensômetros,
marcos de referência, medidores de nível de água, medidores
de vazão, acelerógrafos, sismoscópios (CORPS OF ENGINEERS,
1995a, 1995c; SECO; PINTO, 1982).

5. Fotografias, comentários • talude de montante, crista, talude de jusante, ombreiras,


e observações necessárias, instrumentação, estruturas extravasoras (vertedouro, reservatório,
adicionais e relevantes sobre os torre de tomada de água, galeria de fundo) e estrada de acesso.
componentes da barragem ou
anomalias consideradas médias
ou grandes, designadamente:

6. Avaliação do nível de perigo da • (ver item 3.5).


barragem.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
39
7. Conclusões, recomendações e • proposta de reclassificação da categoria de risco da barragem para
ações a ser implementadas pelo a entidade fiscalizadora em função do resultado da inspeção (se
empreendedor: for o caso);
• implementação do PAE: comunicações, sistemas de aviso,
evacuações (se aplicável);
• recomendação de eventuais trabalhos de reabilitação e
manutenção ou inspeções de segurança regulares e especiais,
como, por exemplo, o deplecionamento do reservatório e a
disposição de materiais suscetíveis de reforçar a estabilidade
da barragem ou retardar sua ruptura. Para os diferentes tipos de
anomalia que ocorrem com mais frequência nas barragens de
terra, de enrocamento e de concreto, apresenta-se no Anexo 2 uma
listagem das ações corretivas a ser implementadas para reabilitar
a barragem, visando a minimizar suas consequências e evitar que
seu eventual rompimento possa pôr em perigo a segurança e a
vida da população e provocar danos econômicos e ambientais.

Um modelo para realização do relatório relativo à inspeção regular de barragem é sugerido no


Anexo 3.
No caso de a ANA ser a entidade fiscalizadora, 4.2 Extrato da inspeção
a Resolução nº 742/2011 estabelece que o re-
latório deve estar disponível na barragem para No caso de barragens fiscalizadas pela ANA, o
consulta em posteriores vistorias. Esse relató- extrato da inspeção de segurança regular (que
rio, assinado pelo responsável técnico, deve ser se apresenta no Anexo 1.6) deve ser enviado
anexado ao Plano de Segurança da Barragem pelo empreendedor à agência, por meio da
(art. 13), em até 60 dias após a inspeção (art. internet, no sítio www.ana.gov.br, até 31 de
8º). maio de cada ano para as inspeções realizadas
durante o primeiro ciclo de inspeção (com-
No caso de barragens reguladas por outras en-
preendido entre 1º de outubro e 31 de março do
tidades fiscalizadoras, o empreendedor deve
ano subsequente) e até 30 novembro de cada
proceder conforme normativos específicos.
ano para as inspeções realizadas durante o se-
Cabe, ainda, ao empreendedor: gundo ciclo de inspeção (compreendido entre
1º de abril e 30 setembro do mesmo ano).
• cumprir as recomendações contidas nos
relatórios de inspeção de segurança; Nas situações em que as barragens apresen-
• providenciar o cadastramento e a atualiza- tarem nível de perigo de alerta, os extratos
ção das informações relativas à barragem deverão ser encaminhados à ANA em 15 dias e,
junto à entidade fiscalizadora; nos casos em que o nível de perigo for de emer-
• ser informado de qualquer alteração que gência, os extratos deverão ser encaminhados
possa acarretar redução da capacidade de em um dia após a realização da inspeção, para
descarga da barragem ou comprometer sua que possam ser tomadas em tempo medidas
segurança; corretivas ou seja mitigado o dano potencial.

• prover os recursos necessários à garantia da O extrato da inspeção deve conter uma lista
segurança da barragem; das anomalias encontradas, categorizando sua
• providenciar a elaboração e a atualização magnitude e nível de perigo.
do Plano de Segurança da Barragem.

40 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
PARTE II – INSPEÇÃO
DE SEGURANÇA
ESPECIAL
Apresentam-se o enquadramento legal das aspectos específicos relativos à inspeção espe-
inspeções de segurança especiais, suas etapas cial, que devem ser levados em consideração.
e planejamento, a execução da inspeção no
Para as barragens com dano potencial alto,
campo, a avaliação dos resultados, a elabora-
independentemente da Categoria de Risco,
ção do relatório e o atendimento das recomen-
apresentam-se exemplos de situações em que
dações do relatório.
se considera importante realizar uma inspeção
de segurança especial:
1 Considerações iniciais
• quando verificada anomalia considerada
De acordo com o art. 9º da Lei nº 12.334, de grave durante uma inspeção regular ou por
20 de setembro de 2010, “as inspeções de equipe de operação e manutenção da bar-
segurança regular e especial terão a sua perio- ragem durante suas atividades de rotina;
dicidade, a qualificação da equipe responsável, • sempre que se preveja um deplecionamento
o conteúdo mínimo e o nível de detalhamento rápido do reservatório de barragens:
definidos pelo órgão fiscalizador em função da • após a ocorrência de eventos extremos,
categoria de risco e do dano potencial associa- como cheias superiores à cheia de projeto,
do à barragem”. Seu § 2º estabelece: sismos e secas prolongadas;
• situações de descomissionamento ou
˚˚ a inspeção de segurança especial
será elaborada, conforme orientação abandono da barragem;
do órgão fiscalizador, por equipe • situações de sabotagem.
multidisciplinar de especialistas, em
função da categoria de risco e do
Para as barragens com altura de maciço supe-
dano potencial associado à barragem,
rior a 15 m e capacidade total do reservatório
nas fases de construção, operação e
superior a 3 milhões m3, independentemente
desativação, devendo considerar as
do dano potencial associado, considera-se
alterações das condições a montante
também importante realizar uma inspeção
e jusante da barragem.
especial nas seguintes situações:
Assim, pode-se defini-la como uma inspeção • antes do fim da construção da barragem,
realizada por especialistas em condições es- quando, sem afetar a segurança e funciona-
pecíficas, tais como: após a ocorrência de uma lidade da obra, seja possível promover um
anomalia ou de um evento adverso que possa enchimento parcial do reservatório;
colocar em risco a segurança da barragem, em
• após o primeiro enchimento do reservatório
situações críticas da vida da barragem e durante
ou durante esse enchimento, no caso de
a revisão periódica de segurança de barragem.
haver patamares de enchimento, quando
Eventualmente, normativos futuros de entida- eles são atingidos.
des fiscalizadoras de barragens poderão trazer

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
41
Para todas as barragens enquadradas na lei, • avaliação dos resultados e elaboração do
deve-se realizar uma inspeção detalhada, nos relatório;
moldes da inspeção especial, por ocasião da
• atendimento das recomendações do
revisão periódicas de segurança de barragem.
relatório.
Apresenta-se, no Quadro 8, uma síntese das si-
O produto da inspeção especial é um relatório
tuações em que deve ser efetuada uma inspeção
com parecer conclusivo sobre a condição da
de segurança especial, anteriormente referidas.
barragem, contendo recomendações e medi-
das detalhadas para mitigação e solução dos
Quadro 8. Situações de realização de inspeção de
segurança especial. problemas encontrados e/ou prevenção de

Classificação do novas ocorrências.


dano potencial Situação
associado A inspeção de segurança especial serve para
Anomalia grave.
verificar se as condições de segurança da bar-
Deplecionamento rápido.
Dano potencial alto,
Eventos extremos (cheias, sismos ragem estão garantidas, sendo, assim, possível
independentemente
e secas).
da Categoria de
Descomissionamento e abandono. continuar a operação do reservatório, procu-
Risco
Sabotagem.
Revisão periódica de segurança. rando minimizar a ocorrência de acidentes.
Para todas as barragens com
altura de maciço superior a 15 m e Procura-se, nas inspeções de segurança espe-
capacidade total do reservatório
Independentemente superior a 3 milhões m3: ciais, analisar situações indutoras de anomalias
do dano • antes do fim da construção;
graves, como obstruções aos escoamentos pro-
potencial associado • durante e após o primeiro
enchimento; vocados por materiais transportados pela água,
• revisão periódica de segu-
rança. erosões a jusante e deterioração dos órgãos
extravasores; deteriorações de equipamentos
do sistema de monitoramento poderão interfe-
A inspeção de segurança especial integra as
seguintes etapas: rir na correta avaliação de eventuais anomalias.

• planejamento da inspeção; As inspeções de segurança especiais devem


• execução da inspeção no campo; ser realizadas às expensas do empreendedor.

42 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
2 Planejamento da 2.1 Quando fazer uma inspeção de
segurança especial
inspeção especial
Para as barragens com dano potencial alto,
Abordam-se as situações em que devem ser
independentemente da Categoria de Risco,
efetuadas as inspeções de segurança espe-
recomenda-se que a inspeção de segurança
ciais, a qualificação dos inspetores, estudos
especial seja feita nas seguintes situações:
e relatórios a consultar, recursos logísticos e
materiais necessários e roteiro da inspeção. • quando forem detectadas anomalias graves
(Figura 7), sintomas de envelhecimento e
Identificados os objetivos e caracterizados deficiências do sistema de monitoramento,
os potenciais problemas das inspeções, o numa inspeção de segurança regular ou
planejamento irá possibilitar: definir a logís- pela equipe de operação e manutenção da
tica; selecionar os acessos; definir os meios barragem durante suas atividades de rotina.
humanos; definir os meios materiais; otimizar As anomalias mais frequentes estão apre-
os itinerários; e selecionar a ficha de inspeção, sentadas nos Quadros 5 a 7 da Parte I;
se necessária.

Figura 7. Fissuras longitudinais na crista de barragem de terra no Brasil, causadas pelos recalques de
camada de solo coluvionar de basalto, na fundação.
Fonte: Arquivo SBB Engenharia / Banco de Imagens ANA

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
43
• por ocasião de deplecionamentos rápidos
do reservatório e quando o risco envolvido a
justifique, com o objetivo de evitar a ocorrên-
cia de acidentes e incidentes ou minimizar
sua importância e efeitos, além de permitir
verificar as hipóteses de projeto;
• após a ocorrência de grandes cheias, que
podem originar acidentes por galgamen-
to da barragem, por vezes associados a
obstruções dos escoamentos provocadas
por materiais transportados pela água,
assim como importantes erosões a jusante
das barragens (Figura 8) e deterioração
dos órgãos de segurança e operação, no-
meadamente, por subpressões, abrasão e
cavitação;
• na sequência de eventos extremos (cheias
Figura 8. Descargas na barragem devido a cheias.
ou sismos com período de recorrência su- Fonte: COBA / Banco de Imagens ANA
perior ao de projeto), bem como de circuns-
tâncias anômalas que possam influenciar tremores naturais e sismos induzidos por
a segurança ou a funcionalidade da obra, enchimento de reservatório, não há registros
designadamente, ruptura de barragens a de danos nas barragens brasileiras, dada a
montante, queda de taludes para o interior reduzida magnitude desses sismos. Refere-
do reservatório envolvendo grandes massas se, a título de exemplo, que a inspeção de
e provocando ondas que podem provocar segurança especial conduzida na barragem
na barragem subsidência de terrenos. de Zipingpu, após a ocorrência do sismo
Embora o Brasil seja um país de baixa de Wenchian de 12 de maio 2008, revelou
sismicidade, sismos naturais ou induzidos danos na laje de concreto (Figuras 9 e 10),
pelo enchimento de grandes reservatórios que exigiram reparação imediata;
podem também originar deteriorações nas
barragens. Não obstante a ocorrência de

Figura 9. Perfil-tipo da barragem de enrocamento de Zipingpu (China).


Fonte: COBA.

44 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
órgãos de segurança e operação quanto do
sistema de observação e do PAE, permitem
dar início ao enchimento do reservatório;
• após o primeiro enchimento do reservatório,
para as barragens de categoria de dano
potencial alto, com o objetivo de verificar o
estado da barragem e dos equipamentos e
contribuir para as decisões que serão toma-
das relativamente à operação.

Para todas as barragens enquadradas na lei,


deve-se realizar uma inspeção detalhada, nos
moldes da inspeção especial, por ocasião da
revisão periódica de segurança de barragem.

Figura 10. Danos causados na laje de concreto da


2.2 Qualificação dos inspetores
barragem de enrocamento de Zipingpu (China).
Fonte: COBA / Banco de Imagens ANA
A inspeção de segurança especial deve ser
conduzida por equipe de especialistas, na pre-
• barragens que enfrentam seca prolongada,
sença do responsável técnico pela segurança
da qual resulta um esvaziamento signifi-
da barragem, e ainda, eventualmente, de ou-
cativo do reservatório ou até situação de
completa ausência de água no reservatório, tros intervenientes no controle de segurança.
devem ser objeto de inspeção de segurança
A equipe multidisciplinar de especialistas, em
especial, antecedendo o possível período de
função do tipo de barragem (aterro ou concre-
chuvas subsequente. Considera-se, neste
caso, uma situação de seca total prolonga- to), de seu porte (pequena, média ou grande)
da para um período de dois anos; e da existência ou não de instrumentação na

• situações de descomissionamento ou barragem, pode ter uma composição variável


abandono da barragem; de um a vários especialistas, tendo em conta
• situações de sabotagem. o evento causador da inspeção de segurança
especial. As equipes irão variar, dependendo
da anomalia encontrada ou evento ocorrido.
Para as barragens com altura de maciço supe-
O Quadro 9 apresenta as especialidades míni-
rior a 15 m e capacidade total do reservatório
mas, de acordo com a situação verificada.
superior a 3 milhões m3, independentemente
do dano potencial associado, considera-se O perfil esperado dos profissionais listados na
também importante realizar uma inspeção
equipe-chave, com suas respectivas funções, é
especial nas seguintes situações:
apresentado no Quadro 10.
• antes da conclusão da construção da barra-
gem, quando, sem afetar a segurança e fun- Em situações especiais, em função da nature-
cionalidade da obra, for possível promover za do evento ou da configuração da barragem,
um enchimento parcial do reservatório, com pode ser necessário acionar outros profissio-
o objetivo de verificar se o estado da obra e nais além daqueles listados no Quadro 10. O
a funcionalidade, tanto dos dispositivos de
Quadro 11, a seguir, apresenta o perfil desses
fechamento do rio e dos equipamentos dos
profissionais complementares.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
45
Quadro 9. Equipe-chave mínima, em função da anomalia ou do evento causador da inspeção especial.

Equipe mínima a ser alocada


Anomalia/evento
Barragem de terra Barragem de concreto
Fissuras, erosão interna, deslizamentos de taludes Engenheiro geotécnico/civil
Aberturas de juntas, fissuras no concreto, deteriorações
do concreto associadas a reações químicas, movimen- Engenheiro civil Engenheiro estrutural/civil
tos nos taludes
Engenheiro estrutural/civil
Deplecionamento rápido do reservatório Engenheiro geotécnico/civil

Engenheiro geotécnico Engenheiro estrutural/civil


Galgamento
Engenheiro hidráulico/civil Engenheiro hidráulico/civil
Engenheiro geotécnico Engenheiro estrutural/civil
Cheias, sismos e secas
Engenheiro hidráulico/civil Engenheiro hidráulico/civil
Engenheiro geotécnico Engenheiro estrutural/civil
Descomissionamento
Engenheiro hidráulico/civil Engenheiro hidráulico/civil
Engenheiro geotécnico Engenheiro estrutural
Revisão periódica Engenheiro estrutural/civil Engenheiro geotécnico/civil
Engenheiro hidráulico/civil Engenheiro hidráulico/civil

Quadro 10. Equipe-chave (exemplificativo).

Especialidade Experiência
Engenheiro coordenador geral Preferencialmente engenheiro civil com experiência, superior a 15 anos, em
projetos de recuperação de barragens, envolvendo análise da documenta-
ção existente, vistorias técnicas, diagnóstico e projetos de recuperação de
obras civis e equipamentos hidromecânicos e elaboração de manuais de
segurança, operação e manutenção.
Engenheiro geotécnico/ geólogo de enge- Profissional com experiência, superior a dez anos, em projetos geotécnicos
nharia de barragens, incluindo tratamento de fundações.
Engenheiro estrutural Profissional com experiência, superior a dez anos, em projetos estruturais
de barragens e/ou projetos estruturais de recuperação de barragens.
Engenheiro hidráulico Profissional com experiência, superior a dez anos, em projetos hidráulicos
de barragens e/ou projetos hidráulicos de recuperação de barragem.
Engenheiro hidrólogo Profissional com experiência, superior a dez anos, em estudos hidrológicos
para projetos de barragens.

Quadro 11. Equipe complementar.

Especialidade Experiência
Engenheiro mecânico Profissional com experiência, superior a dez anos, em projetos de equipa-
mentos hidromecânicos e/ou de recuperação de estruturas auxiliares de
barragens.
Engenheiro eletricista Profissional com experiência, superior a dez anos, em projetos elétricos de
barragens e/ou projetos elétricos de recuperação de barragens.
Geólogo Profissional com experiência, superior a dez anos, em estudos geológicos
de fundações de barragens.

Os profissionais da equipe responsável pela manutenção de barragens, compatíveis com as


inspeção de segurança especial devem ter definidas pelo Conselho Federal de Engenharia
registro no CREA, com atribuições profissionais e Agronomia (CONFEA).
para o projeto ou construção, operação ou

46 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
Para apoio às atividades de campo, a equipe- As inspeções devem ser documentadas com
chave pode necessitar de uma equipe para registros fotográficos. Sempre que tais regis-
avaliar anomalias específicas. Essa equipe tros visem a quantificar uma grandeza, deve-
de apoio pode contar com os seguintes rão ser utilizadas referências de escala (uma
profissionais: pequena régua, por exemplo) e de localização
relativamente a pontos fixos.
• mergulhador;
As inspeções subaquáticas, quando for neces-
• topógrafo;
sário, devem contemplar as estruturas sub-
• laboratorista; mersas de concreto, com planejamento prévio,
• desenhista “cadista”; para verificar a existência de erosão, vazios
no concreto e armadura exposta (Figura 11).
• inspetor de campo.
As inspeções com mergulhadores só são nor-
malmente efetuadas até uma profundidade
2.3 Estudos e relatórios a máxima de 50 m. Para maiores profundidades,
consultar deve-se recorrer à utilização de trajes especiais
ou de robô operado a distância.
Com vista a dispor de uma adequada infor-
mação, antes da realização das inspeções,
devem ser consultados os estudos e relatórios
referentes a:
• Plano de Segurança da Barragem (com-
posto por cinco volumes, respectivamente:
Volume I – Informações Gerais, Volume
II – Planos e Procedimentos, Volume III
–Registros e Controles, Volume IV – Plano
de Ação e Emergência, Volume V –Revisão
Periódica de Segurança de Barragem);
• relatórios de inspeções de segurança regu-
lares anteriores;
• plano do primeiro enchimento (se for o Figura 11. Inspeção subaquática.
Fonte: COBA / Banco de Imagens ANA
caso);
• programa de deplecionamento da barragem
(se for o caso);
2.5 Roteiro da inspeção
• plano de descomissionamento da barragem
(se for o caso); O roteiro da inspeção depende da situação a
• ocorrência de eventos extremos, designa- ser investigada e da metodologia de trabalho
damente, cheias, sismos e secas (se for o da equipe de especialistas. Caso seja necessá-
caso); rio o apoio de uma ficha de inspeção, há mo-
• análise dos registros dos instrumentos; delos no Anexo 1, que podem ser utilizados em
• reparações anteriores (se for o caso). parte ou integralmente. Essa ficha de inspeção
procura analisar as situações das eventuais
anomalias que podem ocorrer no talude de
2.4 Recursos logísticos e montante, crista, talude de jusante, ombreiras
materiais necessários e órgãos extravasores da barragem.

Na inspeção de segurança especial, a equipe As situações em que deve ser efetuada uma
deve ser portadora do equipamento referido no inspeção de segurança especial foram defini-
item 2.3 da Parte I. das no item 2.1 (Parte II).

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
47
3 Execução da inspeção avaliar, de forma sintética, os fatores na gênese
das fissuras e as diferentes medidas que devem
de segurança especial ser implementadas com o objetivo de evitar a
ocorrência de incidentes ou acidentes.
3.1 Aspectos a observar em campo
A análise das anomalias (deteriorações) exibi-
das pelas barragens de terra revela o seguinte
Nos casos de primeiro enchimento, deplecio-
panorama (ICOLD, 1997):
namento, ocorrência de eventos extremos,
desativação da barragem (o presente guia • deteriorações devido aos órgãos de segu-
não abordará procedimentos específicos para rança e de operação – cerca de 35%;
desativação de barragem, tema a ser enfren- • deteriorações devido a fissuras e fratura-
tado em publicações futuras), sabotagem e mento hidráulico – cerca de 30%;
revisão periódica de segurança de barragem, a
• deslizamentos de taludes de aterro e dos
inspeção no campo deve contemplar todas as
reservatórios – cerca de 10%;
zonas da barragem, designadamente, o talude
de montante, a crista, o talude de jusante, as • percolação excessiva ao longo da fundação
ombreiras e a zona do reservatório. Deve tam- – cerca de 12%;
bém incluir as estruturas auxiliares, como o • inadequada proteção dos taludes – 7%;
vertedouro, a tomada de água e a descarga de • diversas causas – 6%.
fundo. Os aspectos a ser inspecionados estão
descritos nas fichas de inspeção constantes
do Anexo 1, as quais podem ser utilizadas pela A distribuição das deteriorações ao longo das
equipe de especialistas, se necessário. fases da vida da barragem é a seguinte:

No caso de se tratar de uma anomalia grave, a • 2 % durante a construção;


inspeção no campo deve concentrar-se no lo- • 20% durante o primeiro enchimento;
cal da sua ocorrência e na sua vizinhança e, se • 22% após o primeiro enchimento;
necessário, estender-se a outros locais, razão
• 16% durante os cinco primeiros anos após a
pela qual as fichas de inspeção apresentadas
construção;
no Anexo 1 devem ser adaptadas de acordo
com a situação específica. • 22% dos casos não identificados.

No sentido de ajudar o engenheiro a conduzir


uma inspeção de segurança especial e possi- Exibindo as anomalias devido a fissuras um
bilitar a identificação das anomalias graves, papel importante, afigura-se interessante te-
suas causas e a avaliação das situações pro- cer algumas considerações sobre a ocorrência
blemáticas, contextualizam-se, nos itens sub-
destas. Uma melhor compreensão dos fatores
sequentes, os aspectos específicos que dizem
na gênese das fissuras implica uma análise
respeito às barragens de terra, de enrocamento
mais cuidadosa durante a inspeção no campo
e de concreto e estruturas auxiliares.
e o estabelecimento de uma interligação com
as medidas que foram eventualmente toma-
3.2 Barragens de terra – das ou não no projeto e na construção.
aspectos específicos
Procura-se, assim, sensibilizar os técnicos en-
3.2.1 Considerações iniciais volvidos nas inspeções de segurança e ajudar
na identificação dessas situações, na classi-
Com base nos cenários correntes (situação ficação das magnitudes e nível de perigo das
hipotética que pode originar um incidente) e de anomalias e na definição dos níveis de inter-
ruptura (situação hipotética que pode originar venção/ações corretivas a ser implementadas
um acidente) de barragens de terra, procura-se na barragem.

48 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
3.2.2 Fatores na gênese das fissuras Recalques diferenciais da fundação

As fundações aluvionares exibindo espessura va-


Diversos fatores podem contribuir para a for-
riável são suscetíveis de originar recalques dife-
mação de fissuras em barragens de terra, como
renciais no aterro, com o aparecimento de zonas
está ilustrado esquematicamente na Figura 12.
em tração e fissuras, como está representado na
Faz-se, em seguida, uma descrição sumária
Figura 13. A prática, nesse tipo de situação, con-
dos fatores mais determinantes e, com base
siste na remoção do material mais deformável,
na análise de casos de obra, apresentam-se as
no caso de sua espessura ser reduzida.
medidas que se procura implementar durante a
elaboração do projeto e na construção, visando
a uma minimização da ocorrência de fissuras
(SÊCO; PINTO,1983).

Figura 12. Esquema ilustrativo de formação de fissuras.


Fonte: Adaptado de Sherard et al. (1963).

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
49
Figura 13. Recalques diferenciais da fundação.
Fonte: Adaptado de Sherard et al. (1963).

Singularidades da fundação
As trincheiras de vedação (cutoff) podem
As descontinuidades (diaclases e falhas) que propiciar a ocorrência de fissuras longitudinais,
por vezes ocorrem nas fundações devem ser como está ilustrado na Figura 14. Recomenda-
identificadas e convenientemente tratadas se proceder à remoção do material mais
durante a construção. alterado da fundação rochosa, a uma limpeza

50 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
da superfície da rocha, ao fechamento das As ligações do aterro às ombreiras exigem cui-
fissuras da zona superficial do maciço rochoso dados especiais, pelo fato de a inclinação dos
e à compactação das primeiras camadas do taludes da ombreira ser por vezes propícia ao
aterro de encontro à fundação. aparecimento de fissuras transversais, como
está representado na Figura 15, devido a recal-
Dimensões e forma do vale ques diferenciais, como também de desconti-
nuidades que normalmente existem nos ma-
Vales estreitos e com taludes inclinados são
teriais rochosos serem favoráveis à ocorrência
favoráveis à ocorrência de fissuras trans-
de zonas de tração. Recomenda-se proceder à
versais ao eixo da barragem por recalques
suavização dos taludes das ombreiras, à com-
diferenciais, tornando-se necessária a adoção
pactação do aterro ligeiramente mais úmido
de medidas especiais no projeto e cuidados
do que a umidade ótima e ao tratamento das
especiais na construção.
fissuras dos materiais das ombreiras com ar-
gamassa, concreto projetado e, se necessário,
injeções de calda de cimento.

Figura 14. Singularidades da fundação (vala corta-águas).


Fonte: Adaptado de Sherard et al. (1963).

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume II - Guia de Orientação e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem
51
Figura 15. Ligação do aterro às ombreiras.
Fonte: Adaptado de Mattsson et al. (2008).

Diferença de compressibilidade entre o nú- Ligação de aterros de idades diferentes


cleo e os espaldares
O planejamento da construção obriga por vezes
A diferença de compressibilidade existente a uma subida descontínua da barragem, com
entre os materiais do núcleo e os espaldares é a existência de aterros de idades diferentes
propícia à ocorrência de uma transferência de (Figura 18). As superfícies expostas ficam, as-
tensões. Essa distribuição de tensões é favorá- sim, muito vulneráveis ao aparecimento de fis-
vel ao aparecimento de fissuras longitudinais. suras. Também por condicionante construtiva,
o aterro da barragem pode vir a ser executado
Devem ser calibrados os parâmetros de de-
em cotas diferentes, sendo criada uma junta de
formabilidade admitidos no projeto, visando a
construção. Essa junta deve ser pouco íngreme,
validar as hipóteses assumidas.
taludes de 1:4 ou mais brandos, e o tratamento
A título de exemplo, refere-se à ocorrência no contato entre aterros de épocas diferentes
de fissuras longitudinais na barragem de El deve ser efetuado com cuidado.
Infiernillo (Figuras 16 e 17).

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Figura 16. Perfil-tipo da barragem de El Infiernillo (México).
Fonte: COBA.

Figura 17. Fissuras longitudinais na barragem de El Infiernillo (México).


Fonte: COBA / Banco de Imagens ANA

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Figura 18. Ligação de aterros de idades diferentes.
Fonte: COBA / Banco de Imagens ANA

Secagem do material Órgãos de concreto incorporados ao aterro

Longos períodos de tempo seco podem provo- Torna-se particularmente difícil compactar o
car o aparecimento de fissuras em solos finos solo na vizinhança de dutos incorporados ao
compactados, como está ilustrado na Figura aterro. A falta de espaço obriga à utilização de
19. Se as superfícies dos aterros tiverem de ser compactação manual. Os dutos, constituindo
expostas a temperaturas excessivas durante elementos rígidos e quando situados no inte-
grandes intervalos de tempo, deverão ser co- rior do aterro, favorecem a transferência de
bertas com uma camada de material granular. tensões e a formação de fissuras resultantes
de recalques diferenciais.

Recomenda-se a colocação de solo mais plás-


tico do empréstimo, compactado pouco acima
da umidade ótima na vizinhança desses dutos
ou nas interfaces aterro-concreto, ilustradas na
Figura 20.

3.3 BEFC – aspectos específicos

Apresentam-se a ocorrência, o tipo e a magni-


tude das anomalias nas barragens de enroca-
mento, bem como os fatores que estão na sua
gênese, possibilitando uma maior sensibiliza-
ção dos técnicos envolvidos nas inspeções de
segurança na identificação dessas situações.
Figura 19. Aparecimento de fissuras.
Fonte: COBA / Banco de Imagens ANA

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Figura 20. Interface aterro-vertedouro.
Fonte: Adaptado de NICDS.

3.3.1 Ocorrência de anomalias

As anomalias que podem ocorrer no concreto


e nas armaduras da laje de montante (nas
barragens com face de concreto), na crista e no
material de enrocamento que integra o corpo
da barragem podem resultar de falhas no pro-
jeto ou no material do enrocamento, cuja de-
formabilidade e resistência estão diretamente
associadas ao tipo de rocha, granulometria,
sua sanidade, método construtivo etc.
Figura 21. Barragem de enrocamento de Zipingpu
O aspecto mais importante a salientar, com rela-
(China).
ção às BEFCs, relaciona-se à compressão entre Fonte: COBA / Banco de Imagens ANA

lajes de concreto na parte central da barragem


e abertura das juntas na região das ombreiras.
3.3.2 Fatores na gênese das anomalias
Na parte central, pode ocorrer o esmagamento
do concreto, enquanto nas ombreiras a abertura
As anomalias na face de concreto podem ser
excessiva das juntas pode romper os veda-jun-
decorrentes de lixiviação, ação de gelo, abra-
tas, implicando altas infiltrações.
são, RAA, perda de resistência e concentração
A Figura 21 ilustra as anomalias que ocorreram de tensões.
na crista da barragem de Zipingpu, na China, na
As anomalias nas armaduras da face de con-
sequência de um sismo de magnitude 8,1.
creto podem ser devido à eletrólise, corrosão,
fadiga, corte, ruptura e esfoliamento.

As anomalias no material de enrocamento


podem ser resultantes de desagregação, amo-
lecimento e colapso.

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3.3.3 Progressão e consequências das a permitir absoluta liberdade entre blocos.
anomalias Essas juntas de dilatação devem ser vedadas
para minimizar as perdas de água. Em geral, o
As consequências das anomalias na face de espaçamento das juntas é de 15 m.
concreto podem originar: fissuras, esmaga-
As anomalias nas armaduras podem ser de-
mentos, deslocamentos, desvios, cisalhamen-
correntes de eletrólise, corrosão, fadiga, corte
to e fluência.
e ruptura.
A progressão das anomalias no maciço de enro-
As anomalias no maciço rochoso podem ser
camento pode traduzir-se em deslocamentos,
decorrentes de desintegração, amolecimento
deslizamentos planares ou circulares e enruga-
e dissolução da rocha ou movimentação nas
mentos. Também podem ocorrer percolações
descontinuidades (ICOLD, 1979).
aparentes ou zonas úmidas e fraturamento do
enrocamento de grandes dimensões.

3.4 Barragens de concreto –


aspectos específicos

Passa-se, em revista, a ocorrência das ano-


malias nas barragens de concreto, bem como
os fatores que estão na sua gênese, possibili-
tando uma maior sensibilização dos técnicos
envolvidos nas inspeções de segurança para a
identificação dessas situações.

3.4.1 Ocorrência das anomalias

As anomalias numa barragem de concreto Figura 22. Componentes de uma barragem de


(Figura 22) podem ocorrer no concreto, no concreto.
Fonte: COBA.
maciço rochoso da fundação ou nas armadu-
ras e originar materiais defeituosos, inferiores, 3.4.3 Consequências das anomalias
inadequados ou deteriorados.
As anomalias no concreto podem originar:
3.4.2 Fatores na gênese das anomalias fissuras, esmagamentos, deslocamentos, des-
vios, cisalhamento e fluência.
As anomalias no concreto podem ser decorren-
tes de lixiviação, subpressões elevadas, erosão As anomalias no aço podem gerar: fissuras, estira-
por abrasão, erosão por cavitação (ilustrada na mentos, contrações, dobramentos e flambagens.
Figura 23), RAA, perda de resistência e recal-
ques. Interessa esclarecer que a RAA é causa-
da pela reação dos álcalis do cimento com os
minerais reativos de algumas rochas utilizadas
como agregado, levando à lenta expansão do
concreto ao longo do tempo.

Admite-se como aceitável uma abertura de fis-


suras de 0,3 mm para estruturas em geral e de
0,2 mm para as zonas em contato com a água.
Figura 23. Anomalia causada pela cavitação numa
As juntas verticais entre blocos são do tipo
bacia de dissipação.
junta seca e devem ser construídas de modo Fonte: SBB Engenharia / Banco de Imagens ANA

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4 Avaliação dos resul- da operação, para dar maior suporte às me-
didas corretivas;
tados e elaboração do
• aumento da frequência da leitura dos dispo-
relatório sitivos de instrumentação; por exemplo, no
caso de sismo, deve-se fazer a leitura pelo
Nos casos de situação de emergência, deve ser
menos nos 15 dias imediatos (ICOLD, 1988);
encaminhado, com a máxima urgência, à enti-
• revisão das regras de operação da barragem;
dade fiscalizadora um parecer preliminar con-
tendo as recomendações e medidas imediatas, • comunicação à entidade fiscalizadora e
assinado pelo especialista responsável, de aos serviços de defesa civil de eventuais
acordo com a área de especialidade requerida. ocorrências excepcionais ou circunstâncias
anômalas, nomeadamente, casos de cheias,
O relatório deve ser elaborado pela equipe sismos, secas ou erosões provocadas por
especialista e conter parecer conclusivo sobre descargas, ruptura de barragens situadas a
a condição da barragem e seu nível de perigo, montante, queda de taludes para o interior
recomendações e medidas detalhadas para do reservatório envolvendo grandes mas-
mitigação e solução dos problemas encon- sas e ocorrência previsível de galgamento,
trados e/ou prevenção de novas ocorrências, deslocamentos do vale em seções vizinhas
incluindo cronograma para implementação. à barragem e subsidência de terrenos, além
da instituição de medidas que se revelem
Nesse contexto, o capítulo do relatório
necessárias e atenção particular ao perigo
com conclusões, recomendações e ações de uma potencial ruptura da barragem.
a implementar pode indicar diversas ações Nesses casos, devem ser acionados os pro-
a ser implementadas pelo empreendedor, cedimentos de aviso à população.
designadamente:
• realização de inspeções no campo, em co-
laboração com os agentes encarregados do O empreendedor deve enviar o relatório de
sistema de observação, de modo a recolher inspeção à entidade fiscalizadora, dentro dos
informações que contribuam para avaliar as prazos estipulados, para sua informação e
condições de segurança e o prosseguimento eventual implementação de ações.

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