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Pedagogia waldorf

Sumário

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 3
O QUE É A PEDAGOGIA WALDORF ......................................................................................................... 3
AS ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO ...................................................................................... 5
O DIFERENCIAL DA PEDAGOGIA WALDORF ............................................................................................ 5
PENSAMENTO TEÓRICO E PENSAMENTO ABSTRATO............................................................................. 6
A REENCARNAÇÃO ................................................................................................................................. 6
RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO ................................................................................................................ 7
A AVALIAÇÃO ......................................................................................................................................... 8
O COMPUTADOR .................................................................................................................................... 8
A LIBERDADE INDIVIDUAL ...................................................................................................................... 9
CURRÍCULO DA ESCOLA WALDORF E SUAS ESPECIFICIDADES .............................................................. 10
A DIVISÃO DA PEDAGOGIA WALDORF ................................................................................................. 10
CONHECIMENTO DO SER HUMANO ..................................................................................................... 11
ENSINO CATIVANTE.............................................................................................................................. 14
A BASE ARTÍSTICA E SOCIAL E O DESPERTAR DA RELIGIOSIDADE ......................................................... 16
COMO A PEDAGOGIA WALDORF COMEÇOU ........................................................................................ 19
NOVAS PERSPECTIVAS APÓS A GUERRA............................................................................................... 19
A ESCOLA DE STUTTGART ..................................................................................................................... 20
A PRESENÇA DA PEDAGOGIA WALDORF NO BRASIL ............................................................................ 22
ESCOLAS WALDORF POR TODO O BRASIL ............................................................................................ 24
A FEDERAÇÃO DAS ESCOLAS WALDORF NO BRASIL ............................................................................. 29
A FILOSOFIA POR TRÁS DA PEDAGOGIA WALDORF.............................................................................. 32
UM SER DE CORPO, ALMA E ESPÍRITO ................................................................................................. 32
O HOMEM É ESPIRITUALMENTE LIVRE................................................................................................. 33
QUEM FOI RUDOLF STEINER ................................................................................................................ 34
O EDUCANDO E O EDUCADOR STEINER ............................................................................................... 35
A SOCIEDADE TEOSÓFICA ..................................................................................................................... 37
A SOCIEDADE ANTROPOSÓFICA ........................................................................................................... 38
COMO A LEITURA É ENSINADA EM UMA ESCOLA WALDORF ............................................................... 41
A ESCRITA POR MEIO DA ARTE, A LEITURA POR MEIO DA ESCRITA ..................................................... 41
A ÊNFASE EM FESTAS E CERIMÔNIAS ................................................................................................... 45
ESCOLAS WALDORF DESESTIMULAM A ASSISTIR À TV ......................................................................... 50
TAXA ANUAL DE UMA ESCOLA WALDORF ............................................................................................ 51
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FORMAÇÃO DOS PROFESSORES NA PEDAGOGIA WALDORF................................................................ 54


A ANTROPOSOFIA ................................................................................................................................ 56
ASPECTOS QUE CARACTERIZAM A ANTROPOSOFIA ............................................................................. 58
O QUE A ANTROPOSOFIA NÃO É .......................................................................................................... 60
A EURITMIA .......................................................................................................................................... 63
ORIGEM E EVOLUÇÃO DA EURITMIA ................................................................................................... 63
O OBJETIVO E APLICAÇÕES DA ARTE DA EURITMIA ............................................................................. 66
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................ 68
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INTRODUÇÃO

Iniciaremos os estudos sobre a Pedagogia Waldorf, que foi criada em 1919, na


Alemanha, pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) para educar crianças
desde a pré-escola até o ensino médio, tendo como base o conhecimento real do ser
humano e de seu desenvolvimento. A UNESCO considerou essa pedagogia
adequada para responder aos desafios educacionais, especialmente em ambientes
de grandes diferenças culturais. As escolas Waldorf formam a rede independente de
educação que mais cresce no mundo (MIZOGUCHI, 2010).
Segundo Steiner (2003), “tudo que possuímos como conceitos de coesão, de
adesão, de forças de atração e repulsão constituem, no fundo, apenas hipóteses para
a ciência exterior”.

O QUE É A PEDAGOGIA WALDORF

Um ensaio escrito por Steiner em 1919 (STEINER, 1961) afirmava que a


Pedagogia Waldorf busca permanecer conectada na prática com o contexto social de
seu tempo; os pais que confiam seus filhos a essa escola devem esperar que seus
filhos sejam educados e preparados para o trabalho prático da vida, por meio de uma
pedagogia que leva em conta esse contexto. Isso pressupõe uma educação escolar
baseada em princípios educacionais que tenham suas raízes nas necessidades da
vida moderna.
As crianças devem ser educadas e instruídas de tal maneira que suas vidas
cumpram determinadas exigências, independentemente de suas classes sociais. O
que é exigido das pessoas pela realidade da vida moderna precisa encontrar o seu
reflexo na organização escolar. O espírito dominante nesta vida deve ser despertado
nas crianças pela educação e pela instrução (STEINER, 1961).
Segundo a Escola Waldorf Rudolf Steiner (2013), a Pedagogia Waldorf tem
como ponto de partida o conhecimento da criança e de seu desenvolvimento em
diversos aspectos. Enfoca o ser humano como ente físico, anímico e espiritual. Tem
como objetivo o cultivo das potencialidades individuais. Leva em consideração a
diversidade cultural e se compromete com princípios éticos humanos amplos e gerais.
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Há uma valorização de:


• Integração social e cooperação;
• Integração de escola e família;
• Infância saudável;
• Alegria e responsabilidade nos processos de aprendizagem;
• Excelência intelectual, imaginação, criatividade, cultivo da memória,
habilidades em resolução de problemas;
• Arte e movimento como meios de exercitar capacidades e como
elementos que permeiam todo o processo de aprendizagem;
• Currículo que propicia um desenvolvimento adequado a cada faixa etária
nos âmbitos físico, emocional e cognitivo.
• Professores em permanente processo de autoeducação: além da
formação acadêmica os professores passam por uma formação específica em
Pedagogia Waldorf (ESCOLA WALDORF RUDOLF STEINER, 2013).
Na concepção de Steiner, toda educação é autoeducação; a função dos
professores e educadores é a de criar um ambiente favorável para que a criança se
desenvolva norteada por seu próprio interior, e de aprender com ela (OLIVEIRA,
2012).

Nas palavras de Steiner (apud SETZER, 1998, p. 1):

Não há, basicamente, em nenhum nível, uma educação que não seja a
autoeducação. [...] Toda educação é autoeducação e nós, como professores e
educadores, somos, em realidade, apenas o ambiente da criança educando-se a si
própria. Devemos criar o mais propício ambiente para que a criança eduque-se junto
a nós, da maneira como ela precisa educar-se por meio de seu destino interior.

Conforme Setzer (apud OLIVEIRA, 2012), “A pedagogia Waldorf quer formar


adultos livres, que possam achar seu caminho por iniciativa própria”.
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AS ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

O processo educacional segue as etapas do desenvolvimento humano; tendo


como base as características de cada faixa-etária (OLIVEIRA, 2012).
Na pedagogia Waldorf, até seis anos e meio ou sete anos de vida, o mais
importante é ter um ambiente saudável para brincar, que estimule a imaginação, que
proporcione impulsos para a criança aprender por imitação, ferramenta educacional
mais importante nessa idade. Nessa faixa-etária, a criança dedica suas forças
interiores ao desenvolvimento físico e à coordenação motora; é quando ela também
aprende a controlar as manifestações de sua vontade (SETZER apud OLIVEIRA,
2012).
Dos sete aos 14 anos, o importante é incluir em todas as matérias um ambiente
escolar artístico, amoroso e caloroso (SETZER apud OLIVEIRA, 2012).
A Pedagogia Waldorf tem como embasamento o conhecimento e o
reconhecimento do ser humano a partir da origem da própria humanidade; enquanto
isso é estudado e compreendido, o currículo fundamentado por essa antropologia vai
sendo preparado. As bases da pedagogia Waldorf são o conhecimento, o estudo e o
reconhecimento da antropologia geral (GALDI, 2008).
A antropologia geral é o conhecimento da fisiologia humana, mas não apenas
do ponto de vista médico, orgânico, do corpo físico, mas também de todo conjunto de
sentidos, de sensações que o homem ganha quando ele nasce (GALDI, 2008).

O DIFERENCIAL DA PEDAGOGIA WALDORF

Para Camargo (apud JARDIM DO SOL, 2011): O principal diferencial da


Pedagogia Waldorf é essa visão ampliada do ser humano, focada e cuidadosa, onde
cada criança é um ser humano especial. Trabalhamos com as vivências do dia a dia,
onde as coisas mais simples têm um impacto impressionante sobre a criança.
A educadora “Waldorf” Marisa Santos (apud DEBATE, 2008) afirma que o
diferencial da pedagogia é que ela abrange também o professor, que precisa se
autoeducar para trabalhar com a filosofia proposta. Segundo ela: “Se quero que a
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criança fale baixo, eu não posso falar alto. Se quero que elas se sentem, eu me sento
junto delas para comer”.
Segundo o Espaço Bem Viver (2013), uma das principais características da
Pedagogia Waldorf é o seu embasamento na concepção de desenvolvimento do ser
humano introduzida por Rudolf Steiner, orientada a partir de pontos de vista
antropológico, pedagógico, curricular e administrativo fundamentados na
Antroposofia. Nela o ser humano é abarcado em seu aspecto físico, anímico
(psicoemocional) e espiritual, de acordo com as características de cada um e da sua
faixa etária, buscando-se uma perfeita integração do corpo, da alma e do espírito, ou
seja, entre o pensar, o sentir e querer.

PENSAMENTO TEÓRICO E PENSAMENTO ABSTRATO

O ensino teórico é sempre acompanhado pelo prático, com grande enfoque


nas atividades corpóreas (ação), artísticas e artesanais, de acordo com a idade dos
estudantes; o cultivo das atividades do pensar inicia-se com o exercício da
imaginação, do conhecimento dos contos, lendas e mitos, até gradativamente se
atingir o desenvolvimento do pensamento mais abstrato, teórico e rigorosamente
formal, mais ou menos na época de ensino médio (ESPAÇO BEM VIVER, 2013).
Essa não exigência de atividades que necessitam de um pensar abstrato muito
cedo é também um dos grandes diferenciais em relação a outros métodos de ensino
(ESPAÇO BEM VIVER, 2013).
Nessa concepção, predomina o exercício e desenvolvimento de habilidades e
não do mero acúmulo de informações, cultivando a ciência, a arte e os valores morais
e espirituais necessários ao ser humano (ESPAÇO BEM VIVER, 2013).

A REENCARNAÇÃO

Rudolf Steiner, com base em sua formação teosófica, uniu a crença na


reencarnação do indivíduo com a Pedagogia, vinculando a Antroposofia à educação
(IMBASSAHY, 2008).
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Essa união, obviamente, pretende gerar motivação, na medida em que o aluno


busque se desenvolver ao máximo para colher frutos nas vidas futuras e acelerar sua
evolução espiritual (IMBASSAHY, 2008).
Conforme Imbassahy (2008, p. 1): O educador Waldorf que ensina
considerando o processo de reencarnação possui uma maior habilidade de
compreensão do comportamento de cada um dos seus alunos porque analisam os
comportamentos atuais segundo pesquisas das suas vidas anteriores.
Setzer (apud OLIVEIRA, 2012) esclarece que “A pedagogia Waldorf quer
formar adultos livres, que possam achar seu caminho por iniciativa própria”.

RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO

Outro diferencial, é que os alunos das escolas Waldorf são acompanhados pelo
mesmo professor por oito anos. Quando são mais jovens, as crianças aprendem bem
por meio da imitação; dos sete aos 14 anos de idade, o aprendizado das crianças é
melhor por meio da aceitação da autoridade. No primário, a criança está aprendendo
a ampliar sua experiência, além do ambiente familiar e da sua casa; assim, o grupo
de crianças da sala de aula seria uma espécie de "família", e a autoridade equivalente
aos pais é representada pelo professor. Essa abordagem propicia um profundo
conhecimento entre professor e aluno; ao longo dos anos, isso permite que o professor
encontre a melhor maneira de lidar com as dificuldades de aprendizado de cada aluno.
Para a maioria das famílias de alunos, o professor se torna um "membro adicional".
Porém, esse professor não será o único professor a ensinar na classe, e receberá
apoio e tutoria em sua preparação (ESPAÇO BEM VIVER, 2013b).
Cada etapa do desenvolvimento humano possui suas características
particulares, e o processo educacional acompanha tais etapas; assim, na pedagogia
Waldorf, é com base nelas que o ensino é pensado.
Até seis anos e meio ou sete anos, por exemplo, o mais importante é ter um
ambiente sadio para brincar, que incentive a imaginação. Esse ambiente deve
proporcionar impulsos sadios para uma criança de até aquela idade aprender por
imitação, pois essa é a ferramenta educacional mais importante. Dos sete aos 14
anos, é importante ter um ambiente escolar artístico, amoroso e caloroso, em todas
as matérias (SETZER apud OLIVEIRA, 2012, p. 1).
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Dedicar um intenso amor altruísta a cada um de seus alunos é uma atitude


essencial de um educador Waldorf; isso é “algo que provavelmente não é ensinado
em nenhum curso de licenciatura ou pedagogia” (SETZER apud OLIVEIRA, 2012).
O mesmo professor ensina as principais disciplinas a uma turma durante todo
o Ensino Fundamental, podendo assim seguir o desenvolvimento dos alunos e evoluir
com eles (OLIVEIRA, 2012).

A AVALIAÇÃO

O método de avaliação das escolas Waldorf não atribui nota aos alunos, nem
força repetições de ano. A avaliação é subjetiva; os boletins apontam falhas e
sucessos do aluno em cada matéria, e aconselha o que ele deve fazer para que haja
o aprimoramento (OLIVEIRA, 2012).
A avaliação em uma escola deve ser permanente e não só feita durante uma
prova. É pelo conhecimento de cada aluno que um professor pode dar um ensino
individual mesmo em uma classe com muitos estudantes. Algumas escolas Waldorf
dão provas no Ensino Médio, para preparar o aluno para enfrentá-las quando
terminarem a escola. É muito importante reconhecer que uma prova não mede
absolutamente nada, pois o conhecimento, a maturidade, o esforço e o interesse não
são mensuráveis. A única coisa que uma prova mostra é a capacidade de o aluno
responder as questões da mesma naquele momento (SETZER apud OLIVEIRA, 2012,
p. 1).
Segundo a Escola Waldorf Rudolf Steiner (2013), a avaliação é contínua e
diversificada, e considera o aluno em seus diversos aspectos; pretende ser tanto um
retrato da situação de aprendizagem, quanto um ponto de partida para
desenvolvimentos posteriores.

O COMPUTADOR

Na Pedagogia Waldorf, o uso do computador não é indicado antes do Ensino


Médio, pois ele força um pensamento lógico-simbólico (SETZER apud OLIVEIRA,
2012).
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O computador é uma máquina matemática e sempre força um raciocínio


matemático e uma linguagem formal nos seus usuários. Antes da puberdade, parece-
me que é prejudicial à criança ser forçada a pensar e se expressar dessa maneira,
pois tanto o pensar como o falar não são bem delimitados e precisos (SETZER apud
OLIVEIRA, 2012, p. 1).
Setzer (apud OLIVEIRA, 2012) aponta algumas competências necessárias
para se usar o computador de modo apropriado:
➢ Conhecimento e discernimento para distinguir o bom e o mau; o belo e
o feio; o verdadeiro e o falso;
➢ Autoconsciência para avaliar elementos do uso do computador. Por
exemplo: se está sendo usado por períodos muito longos; se há coisas importantes
deixando de ser feitas por causa disso; se a própria maturidade é adequada ao que
se faz com o computador;
➢ Autocontrole para não se deixar dominar pelo computador.

Setzer (apud OLIVEIRA, 2012) afirma não ser comum que crianças ou
adolescentes já possuam essas competências desenvolvidas, e se já as possuem,
isso não é saudável do ponto de vista do seu desenvolvimento. Segundo ele: ...muitos
adultos não têm essas capacidades, às vezes, não se controlam e viciam no uso do
computador e da Internet. O que esperar de uma criança ou adolescente que
justamente estão desenvolvendo essas capacidades? Se já as tiverem, são crianças
ou adolescentes degenerados, pois se comportam como adultos em miniatura, tendo
perdido pelo menos parte de sua necessária infância ou juventude (SETZER apud
OLIVEIRA, 2012, p. 1).

A LIBERDADE INDIVIDUAL

Por incentivarem a liberdade individual, os métodos alternativos das escolas


Waldorf causaram bastantes incômodos a alguns governos autoritários (OLIVEIRA,
2012). Segundo Setzer (apud OLIVEIRA, 2012, p. 1):

Elas foram fechadas pelo nazismo e muitos de seus professores foram presos.
Elas foram proibidas na União Soviética, onde era também proibida a entrada dos
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livros de Steiner. Nessa última, houve ainda outro fator: como a base da pedagogia
Waldorf é a Antroposofia, que é uma cosmovisão espiritualista, isso ia contra o
materialismo dialético propugnado pelo comunismo.
Esses governos autoritários se foram; a pedagogia Waldorf sobreviveu a eles,
e continua crescendo em todo o mundo.

CURRÍCULO DA ESCOLA WALDORF E SUAS ESPECIFICIDADES

A DIVISÃO DA PEDAGOGIA WALDORF

A Pedagogia Waldorf é dividida em setênios (espaços de sete anos), pois se


atende que, em cada setênio, a criança aprende de um modo diferente. O movimento,
a brincadeira e a imitação de adultos exercem, no decorrer do primeiro setênio, um
estímulo essencial a atributos que definirão a competência cognitiva e, por
consequência, a qualidade de vida do futuro adulto. Essa fase dará origem à vontade
do adulto (MIZOGUCHI, 2010).
No segundo setênio, o curriculum oficial é adotado; porém, não apenas por
meio de conceitos abstratos. Os conteúdos são enfocados por meio de imagens e de
experimentação real dos fenômenos, em laboratório; empregando-se atividades
verdadeiramente artísticas (pintura, narrativas, modelagem), que se vinculam aos
sentimentos das crianças e que vão se refletir no sentir do adulto (MIZOGUCHI, 2010).
O terceiro setênio é destinado ao desenvolvimento verdadeiro de um pensar
claro e proveitoso. Futuramente, os três atributos – querer, sentir e pensar – atuarão
harmoniosamente, em um adulto equilibrado e seguro das suas ações. Os conteúdos
acadêmicos indispensáveis para o desempenho profissional e para os vestibulares
são proporcionados durante cada setênio. Esses conteúdos são fornecidos aos alunos
de uma forma adequada para cada setênio. Adiantar conteúdos não acarreta
vantagem competitiva para as crianças, e pode atrapalhar a oferta de experiências
importantes para cada setênio. (MIZOGUCHI, 2010).
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CONHECIMENTO DO SER HUMANO

De acordo com Steiner (1961), as melhores intenções podem falhar se não


forem consideradas primeiramente as condições baseadas em uma visão prática. Este
é um dos requisitos a serem considerados quando uma Escola Waldorf é estabelecida.
No espírito de seu currículo e de sua metodologia, o idealismo deve ser trabalhado,
mas deve ser um idealismo que tenha o poder de despertar nos jovens as forças e as
competências que precisarão mais tarde na vida, equipandoos para o trabalho na
sociedade moderna, de forma que possam obter uma vida adequada.
Segundo os conceitos da Pedagogia Waldorf, a pedagogia e a metodologia de
ensino serão capazes de cumprir essa exigência somente por meio de um
conhecimento genuíno do ser humano em desenvolvimento. As pessoas necessitam
de educação e instrução dirigidas não apenas para o cultivo de uma face do
conhecimento, mas também de habilidades; a educação deve ser voltada não apenas
para o cultivo das faculdades intelectuais, mas também para o fortalecimento da
vontade. É impossível desenvolver a vontade a menos que a pessoa desenvolva as
ideias que despertam os impulsos energéticos da vontade e do sentimento (STEINER,
1961).
Atualmente, muitos conceitos são incutidos nas mentes dos jovens, mas muitos
desses conceitos são improdutivos, pois são desprovidos de toda a força motriz da
vida. Não se pode cultivar a vontade sem cultivar os conceitos que dão vida a essa
vontade. Educadores contemporâneos precisam ver claramente este ponto, mas esta
visão clara só pode decorrer de uma compreensão viva de todo o ser humano
(STEINER, 1961).
Nas Escolas Waldorf, consideram-se intensamente as características
individuais (MIZOGUCHI, 2010). É uma escola primária em que os objetivos
educacionais e curriculares são baseados na percepção do professor sobre a natureza
do ser humano, tanto quanto isso é possível sob as condições atuais. As crianças
devem avançar nas séries escolares para satisfazer as normas vigentes. Mas, dentro
desse quadro, os ideais pedagógicos e curriculares vão assumir uma forma em que
esse conhecimento surge do ser humano e da vida real (STEINER, 1961).
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Conforme Hale (2011), filósofo britânico, o objetivo da escola Waldorf é educar


a criança como um todo, "cabeça, coração e mãos". O currículo é tão amplo quanto o
tempo permitir, e equilibra assuntos acadêmicos com atividades artísticas e práticas.
Steiner (2003, p. 13) afirmou: Tentaremos dar à criança, inicialmente de modo
artístico, uma espécie de imagem das condições montanhosas e fluviais, mas também
de outras condições da redondeza. Façamo-lo de modo a elaborarmos realmente com
as crianças um mapa elementar da região mais próxima de sua casa, que lhe é
familiar.
A criança é confiada à escola primária em um período de sua vida em que a
alma está passando por uma transformação muito importante. Desde o nascimento
até cerca de seis anos de idade, o ser humano se dá naturalmente a tudo o que o
rodeia no ambiente humano; assim, por meio do instinto imitativo, dá forma às suas
próprias capacidades que estão surgindo (STEINER, 1961).
A partir desse período, a alma da criança torna-se aberta a receber
conscientemente o que o educador oferece; assim, a autoridade natural do professor
acaba afetando a criança. O professor deve ter uma visão completa de uma postura
para com a criança que leve em conta a transformação do desejo de imitar em uma
capacidade de assimilar, tendo como base uma relação natural de autoridade
(STEINER, 1961).
A visão de mundo moderno, baseada como é na lei natural, não se aproxima
desses fatos do desenvolvimento humano em plena consciência. Para observá-los
com a atenção necessária, é preciso ter um senso de manifestações mais sutis da
vida do ser humano. Esse tipo de sentimento deve percorrer o conjunto da educação,
que deve moldar o currículo, de forma a se habituar ao espírito de unir professor e
aluno. Na educação, o professor não pode depender apenas de uma pedagogia geral
e abstrata, é necessário que haja a cada momento um entendimento claro do jovem
a quem ele está ensinando (STEINER, 1961).
O professor trabalha com base em um conhecimento genuíno do ser humano;
isso possui um poder único de despertar o interesse de todos os alunos sobre o
assunto discorrido, e permite que cada aluno o assimile de sua maneira individual. É
preciso que, o que quer que o professor faça, seja suficientemente vivo (STEINER,
1961).
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Se o educador tiver verdadeira sensibilidade para com a natureza humana, o


ser humano em desenvolvimento torna-se para ele um enigma vivo, e a tentativa de
resolvê-lo desperta no aluno a empatia, que é um estado de espírito no qual uma
pessoa se identifica com outra, e passa a sentir o que ela está sentindo. Essa empatia
é mais valiosa do que o trabalho individual, que pode muito facilmente podar a
iniciativa da criança (STEINER, 1961).
Grandes classes ministradas por professores que estão imbuídos com a vida
que vem do conhecimento genuíno do ser humano vão conseguir melhores resultados
do que classes pequenas lideradas por professores que procedem apenas segundo o
padrão de teorias educacionais, e não colocam vida em seu trabalho.
A transformação da alma aos seis ou sete anos é muito marcante. Mas, para a
arte de educar, essa transformação não é menos importante que aquela que acontece
por volta do final do nono ano de vida, e que pode ser percebida por um estudo
penetrante do ser humano. Nesse momento, a percepção de si mesmo assume uma
forma que desperta na criança uma relação com a natureza e com o mundo ao seu
redor, de tal forma que agora se pode falar mais com ele sobre as conexões entre as
coisas e seus processos, enquanto que anteriormente ele estava interessado quase
exclusivamente em coisas e processos apenas em relação ao ser humano (STEINER,
1961).
Esse tipo de evento relacionado ao desenvolvimento de um ser humano deve
ser cuidadosamente observado pelo educador, pois, se alguém introduz no mundo da
criança conceitos e sentimentos que coincidem com a direção tomada por seus
próprios poderes em desenvolvimento naquele período da vida, isso dará vigor
adicional para o seu crescimento integral, e continuará a ser uma fonte de força ao
longo de sua vida. Se, em qualquer período da vida, alguém trabalhar na contramão
desses poderes em desenvolvimento, irá enfraquecer o indivíduo (STEINER, 1961).
Ter conhecimento das necessidades especiais de cada período de vida fornece
uma base para a elaboração de um currículo adequado; esse conhecimento também
pode ser uma base para lidar com assuntos de instrução em períodos sucessivos. Até
o final do nono ano, já se deve ter apresentado à criança uma determinada porção de
tudo o que veio à vida humana por meio do crescimento da civilização (STEINER,
1961).
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ENSINO CATIVANTE

Os primeiros anos escolares devem ser usados para ensinar a criança a ler e
a escrever, mas de uma forma que permita o desenvolvimento do caráter essencial
dessa fase. Se a criança for ensinada de uma maneira que se garanta apenas o
desenvolvimento do seu intelecto e meramente a aquisição abstrata de habilidades,
então o desenvolvimento natural da vontade e das sensibilidades é prejudicado.
Porém, se a criança aprende de uma forma que seduz todo o seu ser, ela se
desenvolve integralmente (STEINER, 1961).
Elementos artísticos e os exercícios físicos são levados a uma combinação
adequada; ginástica e jogos de ação são desenvolvidos como expressões de
sentimentos, aflorados por elementos como a música ou a declamação. O movimento
Eurítmico (prática corporal que harmoniza corpo, alma e espírito) é o movimento com
um significado, e vai substituir os movimentos baseados apenas na anatomia e
fisiologia do corpo físico (STEINER, 1961).
Há um poder enorme em uma forma artística de instrução como ferramenta
para se desenvolver a vontade e o sentimento. No entanto, para ensinar ou instruir
desta forma e obter resultados valiosos, o trabalho precisa ser realizado por
professores que tenham uma visão suficientemente aguçada do ser humano para
perceberem claramente a conexão entre os métodos que estão empregando e as
forças de desenvolvimento que se manifestam em qualquer ser humano em um
específico período da vida (STEINER, 1961).
Referindo-se a isso, Steiner (1961) afirmou que, para ser verdadeiramente
professor e educador, não basta estudar a teoria educacional enquanto ciência da
gestão de crianças, pois é indispensável que tenha despertado no indivíduo o
pedagogo por meio da consciência da natureza humana.
De primordial importância para o cultivo do sentimento de vida é que a criança
desenvolva a sua relação com o mundo de uma forma como a que se desenvolve
quando nós nos inclinamos em direção à fantasia. Se o educador não é ele próprio
um fantasista, então a criança não terá oportunidade se tornar um quando o professor
evoca os reinos de plantas e animais, do céu e das estrelas na alma da criança, em
forma de conto de fadas (STEINER, 1961).
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Recursos visuais são, sem dúvida, justificados dentro de certos limites, mas
quando uma convicção materialista leva as pessoas a tentarem estender esta forma
de ensino para toda coisa concebível, elas esquecem-se que há outros poderes no
ser humano que devem ser desenvolvidos, e que não podem ser resolvidos pelo meio
de observação visual. Por exemplo, há a aquisição de certas coisas puramente por
meio da memória que está ligada às forças em trabalho de desenvolvimento entre o
sexto ou sétimo e o décimo quarto ano de vida (STEINER, 1961).
É nessa propriedade da natureza humana que o ensino da aritmética deve se
basear. Na verdade, a aritmética pode ser usada para cultivar a faculdade da memória.
Se alguém desconsidera esse fato, principalmente quando ensina aritmética, talvez
possa ser tentado a cometer o erro educacional de ensinar com recursos visuais aquilo
que deveria ser ensinado por meio de um exercício de memória (STEINER, 1961).
Segundo Steiner (2003, p. 130): Não podemos pensar pedantemente "agora
você está lecionando Geografia, ou agora História, e nada mais interessa". Não. Ao
explicarmos ao aluno que a palavra "sofá" veio do Oriente na época das Cruzadas,
trataremos de inserir no ensino de História alguma coisa sobre o processo de
fabricação de sofás. Passaremos depois a outros móveis ocidentais, extraindo,
portanto, do chamado "tema de ensino" algo bem diferente.
Especificidades curriculares da Pedagogia Waldorf, segundo a Escola Waldorf
Rudolf Steiner (2013):
• Os conteúdos e atividades visam ir ao encontro das necessidades
próprias de cada fase do desenvolvimento dos alunos;
• Educação Infantil com espaço e tempo para o desenvolvimento de uma
infância saudável, sem procedimentos voltados para a alfabetização precoce;
• Aulas de Euritmia;
• Ensino em módulos temáticos;
• Aulas de Trabalhos Manuais, Música, Jardinagem, Artes ao longo de
todo o currículo;
• Ensino de línguas estrangeiras (Inglês e Alemão) desde o primeiro ano;
• O elemento artístico, além de ser utilizado como uma faculdade em si, é
um veículo didático.
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A BASE ARTÍSTICA E SOCIAL E O DESPERTAR DA RELIGIOSIDADE

Segundo Galdi (2008), as principais características que aparecem no currículo


são de base artística e de base social. Dependendo da forma como o professor lida
com os aspectos que envolvem estas bases, especialmente a artística; é o que vai
trazer a diferenciação no currículo.
Todo o currículo é dado em épocas, e estas duram quatro semanas; às vezes
podem chegar a seis semanas. Estuda-se um determinado assunto no período da
manhã por quatro semanas, e depois aquele assunto é descansado na consciência
da criança, para que talvez seja retomado futuramente. Isso ajuda a trazer a
compreensão do professor em relação à necessidade da criança em ter essa pausa.
Essa é uma característica do currículo, de como ele é oferecido; envolve também a
metodologia da pedagogia, mas o aspecto essencial é a área artística, social e o
despertar da religiosidade que já existe no ser humano (GALDI, 2008).
Não é no sentido de lidar com dogmas, mas de resgatar a religiosidade que
todo ser humano tem, e que se manifesta especialmente quando se é criança, e
depois tende a adormecer, ficar esquecido. Na Pedagogia Waldorf, enfatizam-se as
festas cristãs; então, a religiosidade acaba tendo um peso muito grande (GALDI,
2008).
Ute Craemer, Professora Waldorf, tradutora e fundadora da Associação
Comunitária Monte Azul e da Aliança pela Infância no Brasil, Membro do Conselho
Deliberativo em São Paulo, apresenta propostas para um Currículo Social. Craemer
(2012) explica que tais propostas são ideias que surgiram a partir de perguntas sobre
a atual questão social do Brasil e do mundo. Segundo essa autora, em vários países,
incluindo o Brasil, poucos são os estudantes que têm acesso a uma boa educação
escolar; enquanto a grande maioria está impossibilitada de ter acesso a essa
educação. Assim, é importantíssimo disponibilizarem-se recursos para se “construir a
ponte" que una essas realidades tão diferentes.
Craemer (2012) alista algumas ideias que poderiam ser incluídas no currículo
Waldorf, para que os estudantes mais privilegiados percebam essa realidade social,
e desenvolvam o anseio de transformá-la. Há formas de despertálos para a questão
social de forma didática e lúdica. As propostas estão divididas desde o Jardim da
Infância, e a partir do primeiro até o décimo segundo ano estão divididas em triênios:
Pedagogia waldorf

Jardim da Infância: primeiro é necessário aprender a dar e a dividir; isso


começa por meio de exemplos práticos, como fazer cartões de Natal para os
funcionários da escola. Os professores podem contar histórias cheias dos valores da
doação e da justiça, para que eles ajam na alma infantil.

✓ Primeiro, segundo e terceiro anos: podem ser gerados encontros entre


crianças de ambientes sociais diferentes, por meio de excursões, teatro, brincadeiras,
etc. Por exemplo, as crianças da favela poderiam preparar uma peça de teatro para
apresentarem às crianças de escolas particulares e vice-versa. Essa troca de
experiências ajudaria a evitar um “sentimento de superioridade” nas crianças de
classe privilegiada. Tais atividades devem ser promovidas de forma que ambos os
grupos logo possam perceber a troca, o que se deu e o que se recebeu. Durante as
festas cristãs, como Natal ou Páscoa, poderia haver trocas de presentes, de ovos
pintados, cartões, etc. O aprendizado social pode acontecer na escola, com o pessoal
da manutenção, do escritório, ou com outros alunos. As crianças podem fazer
brinquedos de madeira para o jardim de infância da própria escola ou promover
excursões em que cada criança se responsabilize por cuidar de outra do jardim de
infância. Podem-se promover apresentações de roda, música, teatro, preparadas
pelas crianças maiores para as crianças menores.
✓ Quarto, quinto e sexto anos: devido à curiosidade das crianças de 10, 11
e 12 anos sobre como vivem outras de sua idade, já se poderia falar sobre a vida das
crianças excluídas aos alunos do 4° ano, expondo os principais problemas vividos por
elas. A partir do 5° ano, grupos de diferentes classes sociais poderão comemorar as
festas juntos, como São João e Natal. Será bom que as crianças da favela não só
recebam, mas que ofereçam alguma coisa. Elas poderão desenhar ou presentear as
crianças com uma peça teatral. A partir do 6° ano, pode-se discorrer sobre a vida de
pessoas que dedicaram sua vida aos outros. Essas histórias inserem na alma do
jovem a aspiração de não colocar seu ideal somente em conquistas sensoriais. Assim,
os jovens vivenciam ações a partir do espírito, do amor pelo humano.
✓ Sétimo, oitavo e nono anos: a partir do 7° ano, os alunos devem ser
estimulados a colaborar com uma instituição, como orfanato, escola pública, centros
comunitários, etc. ajudando, por exemplo, nos trabalhos manuais, apresentações
teatrais, brincadeiras etc. Podem ser realizados trabalhos manuais durante a aula,
Pedagogia waldorf

para serem doados a uma creche ou orfanato. Os adolescentes ou crianças já devem


saber quem receberá as doações, para que haja uma aproximação entre elas; uma
visita ao local ou instituição que receberá as doações poderia então ser programada
antes. Também é benéfico realizar campanhas de coleta seletiva de lixo ou de doação
de roupas. Alunos acima de 16 anos podem ser voluntários para auxiliar como
monitores em excursões ou em aulas em uma entidade social ou escola pública.
✓ Décimo, décimo primeiro e décimo segundo anos: o apadrinhamento já
é realizado em algumas escolas Waldorf, ou seja, um aluno do colegial torna-se
padrinho de uma criança recém-chegada à escola. No colegial, o aluno deve se
aproximar dos problemas da população carente por meio da ação, do sentimento e
também do pensar. É importante o aprofundamento no estudo e avaliação da história,
fatos, razões, causas, consequências e conhecidas soluções para o problema social.
De acordo com Craemer (2012), é importante que o propósito de empregar a
palavra “social” (currículo social, questão social) seja explicado: Fazemos referência
a “social” na concepção real da palavra e não apenas na concepção hegemônica, de
nossa época, na qual os excluídos da sociedade são vistos como culpados da própria
exclusão, pois acreditamos que tais questões resultam da falta de compreensão das
necessidades e dos direitos de todo ser humano, independentemente de sua classe
social. Por esta razão, a importância de se incluir em currículo escolar atividades que
possibilitem convívio entre crianças de diferentes realidades sociais, o que levará,
acreditamos, à compreensão e busca de soluções (CRAEMER, 2012, p. 1).
Esse trabalho oferece a oportunidade de se abordar e procurar mais
informação, entendimento e consciência sobre o atual problema social no Brasil por
meio das aulas de disciplinas já existentes. Por exemplo, na Biologia: a relação da
alimentação com o desenvolvimento intelectual do ser humano; na História: o que
cada povo trouxe para o Brasil, ou a ligação da industrialização com o aparecimento
das favelas; na Filosofia: a cosmovisão dos índios Tupi. Os alunos que desejarem
fazer trabalhos anuais direcionados para a questão social devem ser estimulados a
conhecer as favelas, realizar entrevistas e trabalhos com crianças carentes, entre
outras coisas.
Pedagogia waldorf

COMO A PEDAGOGIA WALDORF COMEÇOU

Buscaremos, compreender como as pessoas viviam na época da criação da


Pedagogia Waldorf; qual eram suas dificuldades e desejos, suas lutas e conquistas,
para que tenhamos uma noção, ainda que vaga, do que levou Rudolf Steiner a
procurar novos caminhos para a educação, acreditando que isso seria a melhor forma
de contribuir para a formação de uma nova mentalidade, que levaria o homem à
edificação de um mundo melhor.

NOVAS PERSPECTIVAS APÓS A GUERRA

A Pedagogia Waldorf nasceu em meio ao caos social e econômico que se


seguiu à Primeira Guerra Mundial. Após a derrubada das formas sociais existentes,
aqueles que se esforçavam em construir o futuro da Europa buscavam novas
orientações (FEDERAÇÃO DAS ESCOLAS WALDORF, 1998).
Em meio à lamentação, à morte e à evidência de que os velhos valores levaram
à guerra e a todo esse sofrimento, surgiram movimentos sociais e uma rivalidade entre
possuidores dos meios de produção e a classe dos trabalhadores, que estava com
desejo de adquirir conhecimento (IGNÁCIO, 2007).
Nessas circunstâncias, Rudolf Steiner procurou contribuir com novas
perspectivas para as primeiras tentativas de autogestão, divulgando os princípios da
"Trimembração do Organismo Social" no meio do movimento social de iniciativas da
cidadania, em Württemberg, Alemanha (FEDERAÇÃO DAS ESCOLAS WALDORF,
1998).
Em Stuttgart, Steiner deu palestras para operários sobre "Trimembração do
Organismo Social" e, em 1919, escreveu o livro “Os pontos cernes da questão social
a partir das necessidades da vida no presente e no futuro”, que descreve como há
uma necessidade de estruturar a sociedade a partir de seus três sistemas essenciais:

• A vida espiritual;
• A vida jurídica;
• A vida econômica.
Pedagogia waldorf

Naquele tempo, a vida econômica já estava seguindo em direção a uma


economia mundial e, na visão de Steiner, ela deveria ser estruturada com o princípio
da FRATERNIDADE (IGNÁCIO, 2007).
A vida espiritual (educação, ciência, saúde, religião, cultura) não deveria ser
tutelada pelo estado, mas constituída no formato de autogestão fundamentada no
princípio da LIBERDADE (IGNÁCIO, 2007).
Dessa maneira, ao estado caberia à responsabilidade pela vida jurídica, que
cuidaria para que as leis fossem feitas de forma democrática baseada no princípio da
IGUALDADE. Nessa organização da sociedade, esses três sistemas poderiam se
desenvolver fortemente, e a união seria garantida pela atuação de cada cidadão nas
três esferas: econômica, espiritual e jurídica (IGNÁCIO, 2007).

A ESCOLA DE STUTTGART

Em 1919, com esses e muitos outros conceitos bastante inovadores para a


época, Rudolf Steiner introduziu a Pedagogia Waldorf, que foi aplicada inicialmente
em uma escola de Stuttgart, Alemanha, para os filhos dos operários da fábrica de
cigarros Waldorf-Astória (de onde vem o nome dessa Pedagogia), a pedido dos
próprios trabalhadores, que haviam assistido às suas palestras (SETZER, 1998).
Uma das pessoas envolvidas pelo movimento da trimembração social foi Emil
Molt, diretor da fábrica de cigarros Waldorf-Astoria, onde os operários podiam, durante
o horário de trabalho, assistir às aulas de formação de adultos e ouvir palestras de
Steiner e de Hahn sobre os problemas da atualidade. Sentiram muita gratidão por
estas aulas, mas colocaram para Emil Molt que gostariam que seus filhos tivessem
acesso a uma formação mais humana, já que eles não a tiveram na sua infância. Aí
nasceu o impulso para a 1ª Escola (livre) Waldorf. Emil Molt pediu para R. Steiner
assumir a direção pedagógica desta escola. Steiner viu a oportunidade de, através
dessa escola, dar um impulso novo pelo menos no âmbito da Vida Cultural, pois seria
uma escola autogestada e independente do estado, uma escola para todos: filhos dos
operários e de outras classes sociais, uma escola de 12 anos, sem repetência e
exclusão, para meninos e meninas e sem o mortífero esfacelamento em grades
curriculares de aulas de 45 minutos de duração (IGNÁCIO, 2007, p. 1).
Pedagogia waldorf

Emil Molt apoiou e financiou a concretização da ideia. Steiner colocou quatro


condições: a primeira era a de que a Escola seria aberta, indistintamente, para todas
as crianças; a segunda de que a Escola fosse coeducacional; deveria também ser
uma escola com um currículo unificado de 12 anos e, por último, de que os professores
da Escola fossem também os dirigentes e administradores da mesma.
Steiner queria que a Escola Waldorf tivesse o mínimo de interferência
governamental e não tivesse a preocupação com objetivos lucrativos. Emil Molt
concordou com essas condições (ESPAÇO BEM VIVER, 2013).
Segundo Ignácio (2007), os preparativos para a abertura da Escola duraram
quatro meses. Pessoas formidáveis se juntaram a Steiner, formando o 1º corpo
docente.
Um mês antes da inauguração, Steiner deu um extenso curso introdutório da
pedagogia focada na compreensão do ser humano e do seu desenvolvimento
adquirido por meio da ciência espiritual antroposófica. Este curso se compõe de três
elementos:

1. Antropologia geral;
2. Metódica e didática;
3. Exercícios Seminarísticos.

Em 7 de setembro de 1919, foi aberta a Die Freie Waldorfschule – A Escola


Waldorf Livre (ESPAÇO BEM VIVER, 2013).

FIGURA - FOTOGRAFIA DE EMIL MOLT


Pedagogia waldorf

FONTE: Koch: Emil Molt. 2002. Disponível em: <http://www.emil-molt-


akademie.de/ueber-uns/zurperson-emil-molt/>.

FIGURA - FOTOGRAFIA DA PRIMEIRA ESCOLA WALDORF NO MUNDO

FONTE: Federação das Escolas Waldorf no Brasil: FEWB, 2008. Disponível


em: <http://www.federacaoescolaswaldorf.org.br/imagens/apresFewb.pdf>.

A Escola Waldorf distinguiu-se desde o início por aplicar ideais e métodos


pedagógicos até hoje revolucionários; ela cresceu continuamente, com interrupção
durante a 2ª Guerra Mundial, e proibição no leste europeu até o fim dos regimes
comunistas. Hoje, conta com mais de 1.000 escolas no mundo inteiro, sem contar os
jardins de infância Waldorf isolados, ou seja, os que não incluem o ensino fundamental
(SETZER, 1998).

A PRESENÇA DA PEDAGOGIA WALDORF NO BRASIL

A Pedagogia Waldorf representa desde 1919 uma revolução em matéria de


educação, e tem seus resultados visíveis em mais de 1.000 escolas em todo o mundo,
25 delas no Brasil (SETZER, 2011).
Em 1956, Juscelino Kubitschek tomou posse como o 21° presidente do Brasil;
a Usiminas era fundada no estado de Minas Gerais; Pelé começava sua carreira no
Pedagogia waldorf

Santos FC; o projeto sobre a mudança da capital federal estava sendo aprovado pelo
Senado Federal do Brasil, e em seguida a lei para essa mudança seria sancionada
pelo presidente Juscelino Kubitschek.
Nesse quadro, foi fundada a Escola Waldorf Rudolf Steiner, pioneira dessa
pedagogia no Brasil, em 1956, por um grupo de pais e educadores interessados em
implantar a Pedagogia Waldorf no Brasil (ESCOLA WALDORF RUDOLF STEINER,
2013).

FIGURA - FOTOGRAFIA DA PRIMEIRA ESCOLA WALDORF NO BRASIL

FONTE: Federação das Escolas Waldorf no Brasil: FEWB, 2008. Disponível


em: <http://www.federacaoescolaswaldorf.org.br/imagens/apresFewb.pdf>.

Segundo a Escola Jardim das Amoras (2010, p. 1): ssim, em 27 de fevereiro de


1956, à Rua Albuquerque Lins, bairro de Higienópolis, em São Paulo, começava a
funcionar a primeira Escola Waldorf no Brasil, integrada à realidade brasileira e com
a grande tarefa de fundamentar seu trabalho na imagem espiritual do Homem e nos
ideais humanos inspiradores das demais escolas da Europa.
Foram convidados para serem fundadores da escola os professores Karl e Ida
Ulrich, da Escola Waldorf de Pforzheim (Alemanha); eles passaram então a lecionar
e a preparar professores para lecionarem a Pedagogia Waldorf. A Escola deu início
com um grupo de jardim de infância e um grupo primário, perfazendo 28 alunos. O
primário foi rapidamente reconhecido como escola experimental, e quando as quatro
Pedagogia waldorf

séries iniciais foram concluídas, o interesse dos pais pela pedagogia levou à
determinação de se inserir o ginásio (ESCOLA JARDIM DAS AMORAS, 2010).
No início, chamava-se “Escola Higienópolis” e, em 1958, mudou-se para o Alto
da Boa Vista, instalando-se em uma propriedade rodeada de jardins, árvores e espaço
suficiente para o desenvolvimento de todas as atividades previstas no currículo
Waldorf (ESCOLA WALDORF RUDOLF STEINER, 2013).
De acordo com a Federação das Escolas Waldorf no Brasil (2008), essa
transferência de lugar pôde acontecer graças à generosidade dos casais Schmidt,
Mahle, Berkhout e Bromberg, que doaram a propriedade.
As instalações da Escola Waldorf Rudolf Steiner foram sendo ampliadas,
objetivando proporcionar um ambiente com dimensões apropriadas para as
crescentes demandas de alunos (ESCOLA WALDORF RUDOLF STEINER, 2013).
Nessa escola, existem hoje Jardins de Infância com extensa área verde, salas
de aula acolhedoras, laboratórios de Ciências (Química, Física e Biologia), salas de
Tecnologia e Computação, salas de Trabalhos Manuais, salas de Música, oficinas de
Arte, Teatro, Biblioteca, quadras de esporte (aberta e coberta), refeitório, áreas de
plantio e jardinagem (ESCOLA WALDORF RUDOLF STEINER, 2013).
Em 1970, inaugurou-se o primeiro seminário de Pedagogia Waldorf no Brasil,
fundado pelo casal Rudolf Lanz e Mariane Lanz. Atualmente, esse local é o Centro de
Formação de Professores Waldorf, onde funciona o curso Normal (FEDERAÇÃO DAS
ESCOLAS WALDORF NO BRASIL, 2008).
Em 1973, foi criado o ensino médio da EW Rudolf Steiner, e em 1975 aconteceu
à conclusão da primeira turma. Em 1978, foi fundado do Colégio Waldorf Micael, em
São Paulo, próximo a Cotia, para atender o crescente interesse de pais pela
Pedagogia Waldorf (FEDERAÇÃO DAS ESCOLAS WALDORF NO BRASIL, 2008).
Foram então nascendo muitos outros empreendimentos, como jardins de
infância Waldorf, e Escolas Waldorf pelo estado de São Paulo e em outros estados
(FEDERAÇÃO DAS ESCOLAS WALDORF NO BRASIL, 2008).

ESCOLAS WALDORF POR TODO O BRASIL


Pedagogia waldorf

Com a veloz ampliação do movimento Waldorf no Brasil, a Escola Waldorf


Rudolf Steiner é atualmente mais uma entre as dezenas de escolas Waldorf
espalhadas por todo o país (ESCOLA WALDORF RUDOLF STEINER, 2013).
Abaixo, estão relacionados, conforme Pedagogia Waldorf (2013), os jardins de
infância Waldorf isolados (que não incluem o ensino fundamental) e os pertencentes
a Escolas Waldorf (que têm o ensino fundamental parcial ou integral).
Os jardins estão ordenados da seguinte forma: estado, nome da Escola e
cidade. São eles:

BAHIA
• Escola Infantil da Fundação Emaús – Creche e jardim de infância.
Camaçari.
• Escolinha Tia Jacy. Andaraí.
• Escola Acalento – Berçário e jardim de infância. Lauro de Freitas.
• Recanto Bem-te-vi – Jardim de Infância e Espaço Cultural – Maternal e
jardim de infância por período ou tempo integral. Lauro de Freitas.
• Jardim Catavento. Lençóis (Chapada Diamantina).
• Escola Comunitária Jardim do Cajueiro. Maraú.
• Casa da Mata – Jardim de infância (3 a 6 anos). Imbassaí.
• Jardim de Infância Vale Encantado. Palmeiras.
• Associação Educacional Salva Dor - Maternal e jardins de infância em
tempo integral. Salvador.
• Associação Recrearte – Maternal e atividade escolar complementar.
Seabra.
• Escola Rural Dendê da Serra. Uruçuca.
• Jardim Anael – Jardim de Infância, 1º ano e educação complementar.
• Várzea da Roça.

CEARÁ
• Escola Waldorf Micael. Fortaleza.

GOIÁS E DISTRITO FEDERAL


• Escola Micael. Chapadão do Céu, GO.
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• Escola Moara. Brasília. DF.


• Escolinha beija-flor. Brasília, DF.

MATO GROSSO
• Escola Livre Porto Cuiabá. Cuiabá.
• Jardim Luz do Sol. Cuiabá.
• Jardim Moitará. Cuiabá.
• Pingo de Luz – Hotelzinho e Educação Infantil. Cuiabá.

MINAS GERAIS
• Lume Jardim de Infância. Belo Horizonte.
• Vitória Régia Jardim Waldorf. Belo Horizonte.
• Escola Araucária. Camanducaia.
• Paineira Escola Waldorf. Juiz de Fora.
• Sol Dourado Jardim Waldorf. Juiz de Fora.
• Escolinha dos Pequenos. Mirantão.
• Pólen Jardim Escola. Nova Lima.
• Instituto Educacional Tiago Apóstolo. São Tiago.

PARANÁ
• Escola Turmalina. Curitiba.
• Jardim Cordão Dourado. Curitiba.
• Jardim Ghimell – de 1 1/2 a 6 anos. Curitiba.
• Jardim Waldorf Magê Molê. Maternal e jardim de infância – período
integral.
• Curitiba.

PERNAMBUCO
• Escola Waldorf Recife. Recife.
• Jardim Maturi. Zona Rural de Olinda.

RIO DE JANEIRO
• Escola Comunitária Municipal do Vale de Luz. Nova Friburgo.
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• Escola Municipal Cecília Meireles. Nova Friburgo.


• Jardim de Infância Nascente. Nova Friburgo.
• Casa Escola Recanto do Fazer. Nova Iguaçu.
• Escola Waldorf Quintal Mágico – Maternal e jardim de infância. Paraty.
• A Árvore Jardim Waldorf e Escola de Pais. Rio de Janeiro.
• Jardim Michaelis – de 2 a 6 anos, manhã e tarde. Rio de Janeiro.

RIO GRANDE DO SUL


• Escola Infantil Arco-íris. Porto Alegre.
• Escola Waldorf Querência. Porto Alegre.

SANTA CATARINA
• Casa Amarela Jardim. Florianópolis.
• Escola Waldorf Anabá. Florianópolis.
• Jardim dos Limões – de 6 meses a 6 anos. Florianópolis.

SÃO PAULO
• Jardim Escola Waldorf Ninho de Luz. Araraquara.
• Escola Rudolf Lanz – maternal e jardim de infância. Avaré.
• Escola Waldorf Girassol Barretos. Barretos.
• São Micael Jardim Waldorf. Bauru.
• Viver Escola Waldorf. Bauru.
• Aitiara Escola Waldorf de Educação Infantil – Fundamental e Médio.
• Botucatu.
• Florescer Jardim de Infância Waldorf. Botucatu.
• Jardim Chácara Sofia – de 2 a 6 anos, inclusive especiais; vivências e
oficinas de arte para pais, educadores e terapeutas. Botucatu.
• Creche Dona Bertha – de 18 meses a 6 anos. Buri.
• Escola Waldorf Veredas. Campinas.
• Jardim das Amoras – Maternal e jardim de infância. Campinas.
• CREAR – Centro Recreativo Educacional Artístico Renascer. Capão
Bonito.
• Escola Conviver. Capão Bonito.
Pedagogia waldorf

• Escola Waldorf de Capão Bonito. Capão Bonito.


• Jardim Espaço Bem Viver. Embu das Artes.
• Jardim de Infância Alternativa. Guarujá.
• Acalanto Jardim de Infância – de 2 a 6 anos. Holambra.
• Jardim Waldorf Angelim – jardim de infância e recreação para crianças
de 2 a 5 anos. Palestras sobre pedagogia Waldorf, grupos de estudos e oficinas;
espaço para profissionais que desejem desenvolver atividades relacionadas à
Antroposofia. Jundiaí.
• Cora Coralina Escola Waldorf – Berçário, maternal, jardim e 1º ano.
Marília.
• Escola Waldorf Novalis – maternal, jardim de infância, recreação para
crianças de 18 meses a 6 anos. Palestras sobre Pedagogia Waldorf. Grupo de estudos
de Antroposofia. Oficinas de trabalhos manuais. Piracicaba.
• Jardim de Infância Alecrim. Piracicaba.
• Espaço Arcanjo Micael – Maternal e jardim de infância. Poá.
• Centro Educacional Pomar – Maternal e jardim de infância. Ribeirão
Pires.
• Escola Waldorf João Guimarães Rosa – Maternal e jardim de infância.
• Ribeirão Preto.
• Escola Jardim Girassol. Ribeirão Preto.
• Jardim Waldorf Flauta Mágica. Santos.
• Associação Comunitária Monte Azul. São Paulo.
• Centro Educacional Waldorf Alecrim Dourado – Berçário, maternal,
jardim de infância, recreação infantil, palestras gratuitas sobre Pedagogia Waldorf,
cursos sobre Antroposofia, oficinas artísticas. São Paulo.
• Colégio Waldorf Micael. São Paulo.
• Escola Manacá – Berçário ao 5º ano, jardim de infância. Santo Amaro.
• Escola Waldorf São Paulo. São Paulo.
• Escola Waldorf Francisco de Assis. São Paulo.
• Escola Waldorf Rudolf Steiner. São Paulo.
• Espaço Bem Viver – Maternal e jardim de infância, Recreação a partir de
7 anos, com horticultura, culinária, atividades artísticas, de movimento e outras.
Palestras e grupo de estudo à noite. São Paulo.
Pedagogia waldorf

• Jardim Colibri – Berçário, maternal, jardim de infância em português e


em alemão, atividades artísticas. São Paulo.
• Jardim da Margarida. São Paulo.
• Jardim da Maria Eugênia – de 1 a 7 anos. São Paulo.
• Jardim da Renate Baldacin. São Paulo.
• Jardim Waldorf Rumo do Girassol. São Paulo.
• Quintal do João Menino. São Paulo.
• Escola Cambará. São Vicente.
• Escola Cecília Meirelles. São Vicente.
• Recanto do Jatobá. Vinhedo.

SERGIPE
• Escola Micael de Aracaju – Creche e jardim de infância. Aracaju.

A FEDERAÇÃO DAS ESCOLAS WALDORF NO BRASIL

Em 1993, com o crescente número de professores Waldorf, é fundada a


Associação dos Professores da Pedagogia Antroposófica no Brasil (FEDERAÇÃO
DAS ESCOLAS WALDORF NO BRASIL, 2008).
Em 1996, foi aprovada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN), que oferece ampla liberdade para as escolas apresentarem suas Propostas
Pedagógicas, e incorpora alguns conceitos inovadores, como a questão da
progressão continuada do aluno, o respeito pela relação idade/série, aspectos
importantes e familiares à Pedagogia Waldorf (MIZOGUCHI, 2003).
Segundo a Federação das Escolas Waldorf no Brasil (2008), em 1997,
representantes das escolas se organizam para fundar uma associação; uma de suas
propostas era a compra centralizada de material escolar. Nesse mesmo ano, o
Conselho Estadual de Educação do Estado de São Paulo determina a formação de
uma federação que representasse as Escolas Waldorf. Em 1998, ao mesmo tempo
em que a FEWB era formada, pedagogos Waldorf se agruparam para fazer a
elaboração da Proposta Educacional Waldorf para as escolas, para acatar uma
exigência da nova LDBEN.
Pedagogia waldorf

Assim, iniciou-se a sistematização da Proposta Educacional Waldorf, que


formaria um documento oficial das escolas Waldorf para apresentar à comunidade
educacional e serviria de base para a elaboração do Regimento Escolar, que é o
conjunto de normas que viabilizam a execução da Proposta (MIZOGUCHI, 2003).
Segundo a Secretária Executiva da Federação das Escolas Waldorf no Brasil:
A preocupação do grupo de trabalho durante todo o processo foi a preservação da
filosofia e da pedagogia antroposófica tal como foram concebidas por Rudolf Steiner.
Desta forma tornou-se possível mostrar às autoridades os aspectos peculiares e
notáveis, sobretudo da Pedagogia Waldorf, e que permaneciam, na prática, restritos
ao âmbito da comunidade escolar como, por exemplo, o boletim descritivo. Com a
aprovação do Regimento Escolar, este boletim, que privilegia a avaliação qualitativa
do processo ensino aprendizado, foi oficialmente reconhecido pelos órgãos da
Secretaria da Educação (MIZOGUCHI, 2003, p. 1).
Ao mesmo tempo, o Centro de Formação de Professores Waldorf (Seminário)
trabalhou no sentido de se oficializar como curso Normal; isso ocorreu no ano de 1998.
O Conselho Estadual de Educação do Estado de São Paulo foi favorável à criação do
curso, citando à Federação das Escolas Waldorf no Brasil como entidade
organizadora de todas as escolas que se norteiam pela linha antroposófica
(MIZOGUCHI, 2003).
A Federação das Escolas Waldorf no Brasil foi fundada em 4 de abril de 1998,
e hoje incorpora as escolas Waldorf existentes no país; segundo a própria Federação
(2008), seus principais objetivos são:

• Garantir a plena aplicação da Pedagogia Waldorf;


• Representar as escolas oficialmente;
• Fomentar o conteúdo Antroposófico nas escolas;
• Fomentar cursos atentando para a qualidade e para a demanda das
escolas filiadas;
• Proteção legal, no Brasil, do nome Escola Waldorf e seus similares;
• Editar livros e publicações que ajudem no aprofundamento de
professores e na divulgação da Pedagogia Waldorf;
• Promover e incentivar contatos e intercâmbios com o movimento
educacional Waldorf no mundo.
Pedagogia waldorf

A seguir, estão listados os projetos que, segundo a Federação das Escolas


Waldorf no Brasil (2012), estão sendo desenvolvidos para a ampliação e o
aprofundamento da Educação Waldorf de Rudolf Steiner no Brasil:
1. Assistência Pontual aos Jardins de Infância – orientação pedagógica,
médica e terapêutica;
2. Assistência Mini Regional aos jardins de Infância – pequenos encontros
com as escolas de educação infantil que estão próximas, incentivando o trabalho de
troca e apoio mútuo;
3. Assistência às escolas de ensino fundamental e médio – orientação
pedagógica, médica e terapêutica;
4. Cursos de Aprofundamento – palestrantes estrangeiros e nacionais –
para o aprofundamento do Ensino Fundamental e Médio;
5. Assistência Organizacional às escolas e jardins - assistência na estrutura
e organização necessárias às novas iniciativas;
6. PDAEW – Programa de Desenvolvimento Articulado às Escolas Waldorf
– módulos de desenvolvimento para pais e professores das escolas e jardins,
integrando as comunidades escolares, dentro do estudo e da prática da Pedagogia
Social para escolas Waldorf;
7. Programa de Desenvolvimento Pontual dentro de uma escola – PDAEW
– para o fortalecimento da instituição em sua estrutura organizacional, com
professores e a Associação Mantenedora da escola;
8. Desenvolvimento de Assistentes e Tutores – módulos de estudo e
aprofundamento para o desenvolvimento do trabalho de tutoria e assistência;
9. Regional de Jardins – Cursos de aprofundamento multidisciplinar (com
pedagogo, médicos e atividades artísticas) para a educação infantil, que ocorrem nas
oito Regionais de escolas/jardins Waldorf do Brasil (desde 2005), envolvendo a
comunidade escolar e levando um tema em todas as regionais a cada ano;
10. Realização de Congressos de Pedagogia Waldorf no Brasil a cada 2
anos, com conteúdos profundos da educação da criança da Infância até o Ensino
Médio;
Pedagogia waldorf

11. Projeto Jurídico, orientações jurídicas e legais às escolas e jardins, com


o empenho dos professores, das Mantenedoras, secretarias e administradores das
escolas, por meio de advogados competentes na área da educação escolar;
12. Edição de livros e dos Periódicos - para o aprofundamento da Pedagogia
Waldorf e da Antroposofia, traduções e edições de livros de Rudolf Steiner e outros;
13. Grupo de Administradores das escolas mais antigas de São Paulo,
dando apoio à FEWB e às outras escolas;
14. Bolsas de estudos para os cursos e seminários, para alunos que
necessitam de suporte financeiro e que estão envolvidos no Movimento da Educação
Waldorf;
15. Apoio à Aliança pela Infância e à Associação Sophia de estudos
Antroposóficos, nas parcerias de cursos e conferências.

A FILOSOFIA POR TRÁS DA PEDAGOGIA WALDORF

A partir das respostas às principais perguntas que geralmente são feitas sobre
a filosofia que rege a Pedagogia Waldorf, buscaremos aprender mais sobre essa
filosofia.
Steiner (apud SETZER, 2000) narra que, no ano de 869, o Concílio de
Constantinopla estabeleceu o dogma de que o ser humano é formado apenas de
'corpo' e 'alma', abolindo assim o “espírito” da composição humana. Estabeleceu-se
também que a alma apresentava algumas “características espirituais”. Segundo
Steiner, essa foi uma das causas da divergência e da separação entre a Igreja Católica
e a Igreja Ortodoxa, que continuou a acreditar na trimembração do ser humano.

UM SER DE CORPO, ALMA E ESPÍRITO

A Pedagogia Waldorf é baseada na mais ampla filosofia de Steiner, chamada


Antroposofia, que literalmente significa sabedoria ou conhecimento do homem. De
acordo com essa filosofia, o ser humano é fundamentalmente um ser espiritual, e
todos os seres humanos merecem respeito enquanto personificação dessa natureza
Pedagogia waldorf

espiritual. Esse ponto de vista é efetivado na Pedagogia Waldorf por meio do empenho
para desenvolver em cada criança seus talentos inatos e habilidades. As Escolas
Waldorf atuam sem discriminar raça, gênero, etnia, religião ou procedência nacional
(MAYS e NORDWALL, 2011).
Coerente com essa filosofia, Steiner desenvolveu um currículo sensível às
fases do desenvolvimento na infância e à imaginação das crianças. Para Steiner, as
escolas devem atender primeiramente às necessidades das crianças, e não às
demandas do governo ou das forças econômicas; sendo assim, ele desenvolveu
escolas que incentivam a criatividade e o pensamento livre. Por pregarem a liberdade
do pensamento humano, a Pedagogia Waldorf e a Antroposofia foram muito
combatidas na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, pois estavam em
discordância com as ideias de Hitler (ESPAÇO BEM VIVER, 2013).
Segundo a filosofia adotada pela Pedagogia Waldorf, o ser humano é um ser
de corpo, alma e espírito. Os métodos característicos usados nas escolas Waldorf
vêm da visão de que a criança se desenvolve por uma série de estágios básicos da
infância para a idade adulta. O currículo Waldorf é projetado especificamente para
trabalhar com a criança por meio desses estágios de desenvolvimento (MAYS e
NORDWALL, 2011).

O HOMEM É ESPIRITUALMENTE LIVRE

Steiner (2008) levanta a questão: o homem em seu pensar e agir é um ser


espiritualmente livre, ou ele é movido pela forte corrente da lei puramente natural?
Segundo ele, muita inteligência tem sido exercida sobre tais questões, em busca de
uma resposta. A ideia da liberdade da vontade humana encontrou muitos defensores
entusiastas e adversários teimosos Em seu fervor moral, há aqueles que chamam de
“homem de inteligência limitada” qualquer um que puder negar um fato tão evidente
como liberdade. Contrapondo-se a eles, há outros que consideram como o auge do
pensamento não científico alguém acreditar que a uniformidade da lei natural pode ser
quebrada na esfera da ação e do pensamento humano. Assim, a mesma coisa é
Pedagogia waldorf

aclamada, ora como sendo o bem mais precioso da humanidade, ora como sendo a
sua ilusão mais fatal.
Não temos de perguntar o que os seres humanos precisam saber para a ordem
social, mas qual o potencial que existe no homem, e quais potenciais podem se
desenvolver nele. Isso permitirá que as novas forças da geração jovem possam
contribuir para a ordem social. Deste modo, permanecerá nesta ordem social aquilo
que os homens íntegros que a compõem fizerem dela, e não se fará da nova geração
o que a ordem social quiser fazer (ESCUELAS WALDORF EN LA ARGENTINA, 2013,
p. 1).
Sutileza infinita tem sido utilizada para explicar como a liberdade humana pode
ser consistente com as leis de trabalho na natureza, da qual o homem, afinal, é uma
parte. Eu chamo de coisa livre o que existe e age a partir da pura necessidade de sua
natureza, e chamo de não livre aquilo cujo ser e agir são exatamente e
constantemente determinados por outra coisa (STEINER, 2008).

QUEM FOI RUDOLF STEINER

A seguir, estudaremos um pouco sobre a vida e as obras do criador da


Pedagogia Waldorf.
O Dr. Rudolf Joseph Lorenz Steiner nasceu em 27 de fevereiro de 1861, em
Kraljevec, na Áustria; atual município de Donji Kraljevec, pertencente à Croácia
(ESPAÇO BEM VIVER, 2013). Era filho do casal de Austríacos Johann e Franziska.
Seu pai era funcionário da estrada de ferro. Rudolf Steiner morou em Kraljevec apenas
por um ano e meio; pois, em 1862, sua família foi transferida para Moedling, perto de
Viena. Meio ano mais tarde, eles foram transferidos para a cidade austríaca de
Pottschach (ARANTES, 1999).
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FIGURA – FOTOGRAFIA DE RUDOLF STEINER

FONTE: AMA – Associação para a Medicina Antroposófica em Portugal:


Rudolf Steiner (1861 - 1925). 2013.
Disponível em: <http://www.aama.com.pt/html/rudolf_steiner.html>.

Aos oito anos de idade, ele teve despertada a sua paranormalidade, mas a
manteve em segredo, devido ao preconceito da época. Para integrar o seu dom,
mantendo a lucidez, julgou ser necessário ter uma visão concreta da realidade e, para
isso, entregou-se aos estudos da matemática, ciências naturais e filosofia (EMANUEL,
2009).

O EDUCANDO E O EDUCADOR STEINER

Segundo Emanuel (2009), Steiner matriculou-se no colégio Liceu, em Wiener-


Neustadt, onde estudou de 1872 a 1879 e recebeu uma nota que nenhum aluno havia
recebido antes, pois adquiriu sozinho diversos conhecimentos da área da matemática,
como cálculo, estatística e geometria descritiva.
Pedagogia waldorf

Embora tenha manifestado interesse humanístico desde a infância, por meio


de sua sensibilidade para assuntos espirituais, ele realizou, em Viena, por sugestão
de seu pai, estudos superiores de ciências exatas (ESPAÇO BEM VIVER, 2013).
Entre 1875 e 1889, atuou como professor particular, lecionando inclusive para
seus colegas de classe, principalmente matemática e ciências (SETZER, 2009). De
acordo com a Federação das Escolas Waldorf (1998), Steiner estudou Ciências
Naturais e Matemática na Universidade Tecnológica de Viena entre 1879 e 1883.
Dedicava-se também a temas político-sociais, realizando estudos literários e
filosóficos, e foi o autor e editor do prólogo da primeira edição das Obras Científicas
Completas de Göethe.
Segundo o Espaço Bem Viver (2013), devido à sua dedicação aos estudos,
Steiner recebeu seu primeiro convite para trabalhar, tornando-se responsável pela
edição dos escritos científicos de Göethe, na coleção Deutsche Nationalliteratur, entre
1882 e 1897.
De 1884 a 1890, ele foi professor particular dos 4 filhos de uma família de Viena,
incluindo um que sofria de hidrocefalia e mal sabia ler; com a ajuda de Steiner, ele
conseguiu terminar seus estudos e se formar médico. Em 1886, trabalhou na edição
"Duquesa Sophia" das obras completas de Goethe. Em 1888, foi Editor da Revista
Alemã Deutsche Wochenschrift, em Viena. Nesse mesmo ano, realizou uma palestra
no Instituto Goethe de Viena, intitulada "Goethe como pai de uma nova estética"
(SETZER, 2009).
Convidado a trabalhar no Arquivo Goethe-Schiller em Weimar (Alemanha),
Steiner transferiu-se para essa cidade em 1890. Ali trabalhou até 1897, e desenvolveu
um grande interesse cognitivo e uma consequente atividade literáriofilosófica
(ESPAÇO BEM VIVER, 2013).
Doutorou-se em Filosofia no ano de 1891, na faculdade de Rostock, Alemanha;
sua tese em epistemologia foi publicada depois com o nome de “Verdade e Ciência”
(CASTRO, 2010).
Em 1894, encontrou-se com Haeckel, (biólogo alemão, naturalista, filósofo,
médico, professor e artista que ajudou a popularizar o trabalho de Charles Darwin e
foi um dos grandes expoentes do cientismo positivista), e iniciou uma série de
correspondências com ele (SETZER, 2009). Ainda em 1894, seus estudos no campo
humanístico levaram-no a escrever o livro “A Filosofia da Liberdade” (CASTRO, 2010).
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Em 1895, Steiner publicou seu livro “Friedriech Nitzsche, um lutador contra seu
tempo”. Mudou-se para Berlim no ano de 1897, onde, até 1900, foi o editor da Revista
de Literatura (Magazin für Literatur); na qual se coloca terminantemente contra o
antissemitismo, e editor da Folha Teatral (Dramaturgische Blätter). Nessa época,
realizou atividades na Sociedade Dramática Livre (Freie dramatischen Gesellschaft),
na Liga Giordano Bruno, e em outras, e Publicou “A Cosmovisão de Goethe”
(SETZER, 2009).
De 1899 a 1904, Steiner foi professor na Escola de Formação para
Trabalhadores (Arbeiter-Bildungsschule) de Berlim, fundada por W. Liebeknecht. Em
1900, a convite da Sociedade Teosófica em Berlim, deu início à atividade de
conferencista sobre temas antroposóficos; em suas palestras no âmbito da Sociedade
Teosófica, ele comunicava apenas os resultados de suas próprias pesquisas
esotéricas. Em 1900, publicou “Concepções de vida e de mundo no século XIX”, e em
1901, publicou “A mística no início da vida espiritual dos novos tempos, e sua relação
com a cosmovisão moderna” (SETZER, 2009).

A SOCIEDADE TEOSÓFICA

Em 1902, Steiner assumiu a Secretaria Geral da Sociedade Teosófica Alemã.


No mesmo dia, deu uma palestra com o título "Uma Antroposofia". No mesmo ano,
publicou “O cristianismo como fato místico e os mistérios da antiguidade” (SETZER,
2009).
De 1902 a 1912, Steiner realizou intensa atividade de conferencista em Berlim
e em toda a Europa, constituindo os embasamentos da Antroposofia. Nesse período,
Marie von Sievers tornou-se sua leal colaboradora. Em 1903, ele fundou a revista
Luzifer, depois chamada de Luzifer-Gnosis. Em 1904, publicou “Teosofia – Introdução
ao conhecimento suprassensível e ao destino do ser humano” (SETZER, 2009).
Em 1905, Steiner concretizou seus primeiros escritos sobre organização social
trimembrada; publicou “Como se adquirem conhecimentos dos mundos superiores”,
“Crônica do Akasha” e “Os passos do conhecimento superior” (SETZER, 2009).
Em 1906, Marie von Sievers se encarrega da tradução das obras de Edouard
Schuré, e Steiner então se encontrou com esse pensador e escritor francês (SETZER,
2009).
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Em 1907, Steiner organiza o congresso mundial da Sociedade Teosófica, em


Munique, onde introduz atividades artísticas. Em 1910, ele publicou “A ciência oculta,
um esboço”. De 1910 a 1913, seus 4 Dramas de Mistério são encenados em Munique,
um a cada ano (SETZER, 2009).
Em 1911, ele publicou “A direção espiritual do ser humano e da humanidade”;
em 1912, introduziu as novas artes de expressão corporal: a Euritmia e a Arte da Fala,
e publicou “Um caminho para o autoconhecimento do ser humano em 8 meditações”
e o “Calendário da Alma” (SETZER, 2009).

A SOCIEDADE ANTROPOSÓFICA

No ano de 1913, Steiner separou-se da Sociedade Teosófica e fundou a


Sociedade Antroposófica, e publicou “O limiar do mundo espiritual”.
Em 1913, em Dornarch, Suíça, Steiner construiu o Goetheanum, uma
verdadeira obra de arte em madeira e sede da Sociedade, e depois também sede da
Escola Superior Livre de Ciências Espirituais (CASTRO, 2010).

FIGURA - FOTOGRAFIA DO PRIMEIRO GOETHEANUM

FONTE: Yaretoho: Gotheanum (JZ). 2013.


Disponível em: <http://yaretoho.exblog.jp/12870827/>.
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O Goetheanum foi destruído por um incêndio em dezembro de 1922, e depois


foi substituído por um edifício de concreto, que funciona até hoje (CASTRO, 2010).
Em 1914, Steiner casa-se com Marie von Sievers, que passa a se chamar Marie
Steiner. Ele publica nesse ano o livro “Enigmas da filosofia em sua história” (SETZER,
2009).
De 1914 a 1924, por meio de palestras em Dornach, Berlim e em diversas
outras cidades da Europa, Steiner oferece as indicações para uma renovação em
muitas áreas da atividade humana, como arte, pedagogia, ciências, vida social,
medicina, farmacêutica, terapias, agricultura, arquitetura, teologia (SETZER, 2009).
Em 1916, Steiner publica “Sobre os enigmas dos seres humanos”; em 1917,
“Sobre os enigmas da alma”; em 1918, “A espiritualidade de Goethe em sua
manifestação no Fausto e no seu Conto da cobra verde e do lírio branco" (SETZER,
2009).
Em 1919, realiza intensa atividade de escritor e conferencista a respeito de
suas ideias de organização social e de Trimembração do Organismo Social,
publicando “Os pontos centrais da questão social”, inúmeros artigos e realizando
palestras (SETZER, 2009).
Filósofo, cientista e artista, Steiner foi convidado em 1919 por Emil Molt,
proprietário da Fábrica de cigarros Waldorf-Astória, para uma série de palestras para
os trabalhadores de sua fábrica, em Stuttgart, na Alemanha (SETZER, 2009).
As palestras deram origem a uma escola para os filhos dos operários da fábrica
de cigarros Waldorf-Astória, que se chamou Escola Waldorf Livre (SETZER, 1998), e
foi dirigida por Steiner até a sua morte; essa escola existe até hoje, na
Haussmanstrasse (SETZER, 2009).
Em 1920, Steiner dá o primeiro curso para médicos (Ciência espiritual e
medicina), principiando a Medicina Antroposófica. Em 1921, contribui regularmente
com o semanário Das Goetheanum; essa publicação é editada até hoje. Ita Wegman
funda a primeira clínica Antroposófica (Ita Wegman Klinik), em Arlesheim, na Suíça;
essa clínica ainda está funcionando (SETZER, 2009).
Em 1922, é fundado o movimento de renovação religiosa “Comunidade de
Cristãos”, por sacerdotes sob a orientação de Steiner. É publicada a “Cosmologia,
religião e filosofia” (SETZER, 2009).
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Na noite da passagem para o ano 1923, o Gotheanum é incendiado


criminosamente. Suas palestras continuam no dia seguinte, na marcenaria anexa. Em
1923, tem início o projeto e a confecção de modelos para o segundo Goetheanum,
em concreto aparente, e que foi construído depois da morte de Steiner (SETZER,
2009).

FIGURA - FOTOGRAFIA DO SEGUNDO GOETHEANUM

FONTE: Skocky: O Círculo Hermético. 2010. Disponível em: <http://skocky-


ocirculohermetico.blogspot.com.br/2010/06/beatriz-brasil-gotheanum-dornach-
basel.html>.

No Congresso de Natal daquele ano, aconteceu a fundação da nova Sociedade


Antroposófica Geral (Allgemeine Anthroposophische Gesellschaft), agora sob a
direção de Steiner (SETZER, 2009).
Entre 1923 e 1925, Steiner escreve semanalmente sua autobiografia “Minha
vida”, que ficaria inconclusa (cobre sua vida até 1907). Colabora com a Dra. Ita
Wegman no livro sobre medicina antroposófica “Fundamentos para uma ampliação da
arte médica segundo os conhecimentos da ciência espiritual”, único livro seu em
coautoria. Em 1924, oferece o curso sobre agricultura, em Koberwitz (Fundamentos
da Agricultura Biodinâmica – vida nova para a terra), dando origem à agricultura
biodinâmica, e também o curso sobre Pedagogia Curativa, dando origem a esse ramo
de aplicação da Antroposofia. Depois de um longo período realizando palestras e
cursos, tem início uma doença que o levaria à morte (SETZER, 2009).
Pedagogia waldorf

Steiner faleceu na cidade de Dornarch, em 1925, deixando grandes


contribuições em diversas áreas (CASTRO, 2010).
Segundo Arantes (1999, p. 1): Numa época em que os horizontes individuais
se estreitavam e a cultura e a atividade humanas se tornavam cada vez mais
segmentadas, Rudolf Steiner (1861-1925) deu contribuições importantes em domínios
tão diversos como a filosofia, a pedagogia, a medicina, a agricultura, a arquitetura e
as artes plásticas. E criou a Antroposofia, um sistema abrangente, que integra
conhecimentos do mundo espiritual e do mundo material e oferece orientações
originais e criativas para os mais variados campos de atuação do homem. Suas obras
científicas, artísticas e espirituais e os sucessos da medicina e pedagogia
antroposóficas conquistaram seguidores em todo o planeta. Não é preciso ser um
deles para reconhecer sua genialidade. Steiner era um gênio na acepção da palavra.
Seus talentos floresceram na infância e deram frutos até o fim de sua vida.
Steiner foi escritor, redator literário e conferencista, divulgando assim suas
ideias, às quais chamava de “científico-espirituais”, começando pela Teosofia, no
período de 1902 a 1912, e culminando com a Antroposofia, cuja sociedade foi fundada
por ele (CASTRO, 2010).
Toda sua obra foi publicada, incluindo seus livros e cerca de 6.000 palestras,
compreendendo mais de 350 volumes (SETZER, 2009).

COMO A LEITURA É ENSINADA EM UMA ESCOLA WALDORF

Vamos analisar uma característica polêmica da Pedagogia Waldorf, o ensino


da leitura. É preciso um olhar mais atento para notar a profundidade envolvida na
visão de Steiner sobre esse ensino em particular.

A ESCRITA POR MEIO DA ARTE, A LEITURA POR MEIO DA ESCRITA

As letras são símbolos meramente abstratos e, até seis anos e meio ou sete
anos de idade, a memória abstrata da criança não deve ser requerida; portanto, fazê-
la aprender a ler não é recomendado; essa prática atrapalha o desenvolvimento
Pedagogia waldorf

apropriado da base que a criança precisa estabelecer para vir a ter uma vida saudável,
tanto fisicamente como psicologicamente. A alfabetização é feita sem pressa, de
forma lúdica e imaginativa, ao longo de três anos. As letras de fôrma são aprendidas
no primeiro ano; as letras de imprensa, no segundo ano; as letras cursivas, no terceiro
(SETZER apud OLIVEIRA, 2012).
Os desenhos com configuração infantil ou mesmo as pinturas primitivas atraem
o total interesse do ser humano no que ele está fazendo; portanto, deve-se deixar a
escrita evoluir a partir do desenho. Pode-se começar com figuras em que o próprio
sentido artístico infantil do aluno entre em jogo e, a partir destes, evoluem as letras do
alfabeto. A partir de uma atividade que, por ser artística, atrai todo o ser humano,
deve-se desenvolver a escrita, que tende para o intelectual. E deve-se deixar que a
leitura, que concentra fortemente a atenção dentro da área do intelecto, surja por meio
da escrita (STEINER, 1961).
Quando as pessoas reconhecem o quanto se ganha para o intelecto a partir
dessa primeira educação artística da criança, elas reconhecem a importância real da
arte no ensino primário, e as artes da música, pintura e escultura passam a ter um
lugar no esquema de instrução (STEINER, 1961).
A Pedagogia Waldorf trabalha com brinquedos naturais inspiradores, temas das
épocas do ano e desenhos coloridos. São admiráveis as criações artísticas das
crianças, como aquarelas e desenhos, animais e bonecas de tricô, cestos de vime,
formas modeladas em cera de abelhas, etc. A música tocada pelas crianças, suas
canções e suas brincadeiras são impressionantes; assim como os cadernos escritos
e ilustrados pelos alunos, os livros que refletem com arte o rico currículo das escolas
Waldorf (SOKOLOV, 2013).

FIGURA - DESENHO INFANTIL


Pedagogia waldorf

FONTE: Associazione Parsifal: Giardino d’infanzia Raggi di Sole. 2013.


Disponível em: <http://www.parsifaludine.it/>.

Mesmo com tudo isso, a questão sobre como e quando se ensina leitura às
crianças das escolas Waldorf ainda tem prioridade para muitas pessoas. Isso acorre
devido à preocupação da sociedade com o decaimento das habilidades de leitura,
fazendo com que os encantos da educação Waldorf fiquem ofuscados em meio a essa
discussão; alguns dizem que “As escolas Waldorf têm uma estratégia lenta para a
introdução da leitura”; outros dizem que “Alunos Waldorf não são ensinados a ler e
escrever no jardim de infância como crianças de outras escolas” (SOKOLOV, 2013).
Sendo assim, vejamos o que disse Steiner (1961, p. 1) sobre isso: A instrução
de leitura é adiada, e a escrita é ensinada antes. Durante o primeiro grau, as crianças
exploram a forma como o nosso alfabeto surgiu, descobrindo, como os antigos faziam,
e como a forma de cada letra evoluiu a partir de uma imagem gráfica. Assim, a escrita
se desenvolve a partir da arte das crianças, e sua capacidade de ler também evolui
como uma etapa natural, tão facilmente quanto, na fase adequada, evoluiu o seu
domínio da linguagem.
Segundo Steiner (1961), a Pedagogia Waldorf está intimamente conectada à
tradição oral, na maioria das vezes principiando com o professor narrando contos de
fadas às crianças durante a pré-escola e o primeiro grau. “A abordagem oral é utilizada
em toda a Pedagogia Waldorf: o domínio da comunicação oral é visto como sendo
parte integrante de todo o aprendizado”.

FIGURA - ABORDAGEM ORAL


Pedagogia waldorf

FONTE: Vivere semplice e spregiudicato: Il punto di vista Antroposofico. 2013.


Disponível em: <http://www.mediasuk.org/viveresemplice/waldorf.htm>.

Para Sokolov (2013), há a necessidade de uma análise mais profunda da


questão, o conceito de que ler seja meramente ter a capacidade de distinguir as
formas de letras e pronunciar as palavras e frases ali representadas é muito
superficial, pois se refere apenas ao sentido mecânico e externo da leitura, mais fácil
de ser percebido. Nesse sentido, ensinar a criança a ler e a escrever limita-se a treiná-
la para decodificar símbolos que representam sons e palavras. Memorizar o alfabeto
e aprender os sons associados a eles no jardim de infância é o processo chamado de
“aptidão à leitura”, é estéril e abstrato e estranho à natureza da criança pequena. As
crianças continuam exercitando o aspecto mecânico mais exterior da leitura durante
as primeiras séries da escola primária, e consomem seu tempo lendo textos
simplórios, que estão à altura de suas capacidades de decodificação. Esses textos
não acendem suas fantasias, não causam admiração nem estimulam a atração pela
beleza e complexidade da linguagem.
Quando chegam à quinta ou sexta série, todos sabem decodificar as palavras
escritas. Alguns até são bons leitores, mas para muitos, as palavras e sentenças não
formam um conjunto coerente, e eles têm dificuldade para compreender ou recordar
o que acabaram de ler. Superficialmente, esses alunos parecem estar lendo. Mas,
com essa compreensão limitada, não se pode chamar isso de “leitura”, a leitura é
muito mais do que isso. Além desse processo superficial de decodificar, há a
correspondente atividade interior que precisa ser aperfeiçoada para que aconteça
uma verdadeira leitura. Os professores Waldorf chamam esta atividade de
“vivenciando a história” (SOKOLOV, 2013).
Quando uma criança está vivenciando uma história, ela forma cenas da sua
imaginação no seu interior, em resposta às palavras. Através da habilidade de formar
imagens mentais, de compreender, a criança vê sentido na atividade de leitura. Sem
essa habilidade, a criança pode muito bem decodificar as palavras em uma folha de
papel, mas continuará sendo funcionalmente iletrada (SOKOLOV, 2013, p. 1).
Por meio do método Waldorf, os alunos irão participar espontaneamente das
dinâmicas, priorizando a descoberta, a investigação e a observação.
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A ÊNFASE EM FESTAS E CERIMÔNIAS

A seguir, analisaremos as razões que levam as Escolas Waldorf a ressaltarem


as festas e cerimônias.
Na Pedagogia Waldorf, nenhuma doutrina religiosa específica é defendida ou
ensinada, embora os seus fundamentos sejam cristãos. Durante o ano, são
comemoradas festas como a Páscoa; São João; São Micael; Natal e a Semana da
Primavera, objetivando despertar na criança seus valores e seus sentimentos de
compreensão, admiração e respeito à beleza da vida e da natureza.
De acordo com a Escola Waldorf Querência (2013, p. 1): Nas Escolas Waldorf,
as festas do ano seguem o calendário cristão. Delas são extraídos os verdadeiros
conteúdos e transformados para as crianças em imagens retiradas da natureza,
através das quais ela aprende sobre o ciclo anual de uma forma direta. Desde os
tempos antigos, os povos festejam o movimento cíclico de fenômenos da Natureza:
os solstícios de verão e inverno e os equinócios da primavera e do outono. Em cada
um deles, as forças divinas atuavam e se manifestavam diretamente na natureza,
influenciando no clima, na vegetação (colheitas), nas marés, no curso dos astros,
entre outros.
Segundo a visão da Educação Waldorf, as festas servem para conectar a
humanidade com os ritmos da natureza e do universo. As que temos hoje foram sendo
adaptadas das culturas mais antigas, e serviam para comunicar as estações do ano
de forma festiva. São cheias da alegria e do entusiasmo das crianças, tanto na
preparação, como na celebração (ESPAÇO BEM VIVER, 2013).
Segundo Amarante (2013, p. 1), na concepção da Educação Waldorf: ...as
festas das estações do ano são celebrações que nos conectam com o mundo que nos
rodeia e com toda a natureza. As festas anuais culturais, espirituais, típicas de cada
povo, celebram a junção de forças terrestres e cósmicas. Festivais, da natureza e dos
povos, criam comunidades de seres humanos no intuito de comemorar a harmonia do
cosmos e da terra, da matéria e espírito. A Natureza está na base da nossa cultura e
da nossa sobrevivência. Temos de ajustar a nossa existência, de acordo com as
forças naturais, pois ela está profundamente arraigada em nós. Estas festas sazonais
marcam a mudança da luz, a relação da Terra com o Sol, a ligação com aquilo que é
universal no ciclo do ano. As forças cósmicas se apresentam nas quatro estações do
Pedagogia waldorf

ano. As estações são como a respiração da Terra e ajudam o ser humano na busca
do equilíbrio.
O modo como à passagem do tempo é apresentada aos alunos no Jardim
Waldof oferece um conformação adequada ao natural respeito das crianças à
natureza, além de um sentido de continuidade e ritmo.

FIGURA - FESTAS

FONTE: Azevedo. Pedagogia Waldorf. 2010. Disponível em:


<http://www.lemnisfarmacia.com.br/pedagogia-waldorf/>.

Segundo Vitória Régia Jardim Waldorf (2012), as festas das estações,


celebradas no decorrer de cada ano, auxiliam as crianças a entrarem no ritmo do ano.
Por meio de canções, danças, teatros, histórias, artes e comidas, as tradições são
lembradas. A viagem anual por meio das festas exibe um processo dinâmico e
potencialmente criativo. As festas das estações estão divididas assim:
• Páscoa – outono;
• Festa da Lanterna e São João – inverno;
• Festa da Primavera – primavera;
• São Nicolau e Advento – verão.

Amarante (2013) revela os significados mais sutis de cada evento: No Verão, a


alma humana tende a ser mais passiva. A tendência é de ser mais sonhador. O
homem recebe a luz que está fluindo para si a partir do cosmos. O mundo espiritual
divino revela-se. A luz é a sabedoria espiritual. O intelecto fica mais lento e a alma se
abre para a luz e o calor (AMARANTE, 2013).
Pedagogia waldorf

No Outono, a terra começa a dormir e o desejo da alma é a de regressar à sua


vida interior, de ir para dentro. A alma humana acorda e o homem fica atento ao que
está acontecendo no mundo. Nesse momento temos que acordar para o
conhecimento da natureza e da atividade espiritual que está por detrás dela
(AMARANTE, 2013).
No Inverno, a Terra já completou a sua inspiração total, e a alma humana faz
uma grande interiorização. A tendência é do ser humano se afundar em si mesmo, em
um sonho dentro do próprio ser. Devemos ficar atentos às trevas. Temos de chamar
a terra de volta da escuridão. A escuridão no inverno é a polaridade da Luz do verão,
algo que se evapora das forças do calor e da luz do Verão. Aqui devemos buscar o
estudo e a meditação, caminhos do fortalecimento interior e como contraponto os
encontros com o outro, as relações sociais mais profundas (AMARANTE, 2013).
Na Primavera, a alma humana tende a entrar nas forças impetuosas da
natureza. Há um chamado para o ser humano nesse período, em que ficará conectado
observando a natureza que desabrocha. O convite é verdadeiramente olhar para si
mesmo, olhar-se no espelho e olhar a natureza. O dentro e o fora (AMARANTE, 2013).
Com estas ideias em mente, devemos levar em consideração as necessidades
das crianças ao criarmos os temas para as rodas dos festivais na educação infantil e
na educação em casa também. Nas caminhadas diárias na Natureza trazemos a
experiência dos quatro elementos: o vento, o calor do sol, a chuva, as poças, a terra
molhada, as folhas secas, as sementes, as formigas, o canto dos pássaros, etc. As
estações do ano são como uma roda constantemente em movimento (AMARANTE,
2013).
Gonçalves (2012) nos explica o significado de algumas festas para as Escolas
Waldorf:

➢ Micael – conduz o homem à manjedoura;


➢ Natal – representa o nascimento da luz divina na Terra;
➢ Páscoa – simboliza a Luz de Natal que vence as forças da morte;
➢ Pentecostes – a luz se torna para o homem o fruto do seu agir.

Segundo a Escola Waldorf Querência (2013, p. 1): O ritmo anual é vivenciado


por essas quatro grandes épocas. Utilizando as estações como “pano de fundo”, o
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educador desenvolve seu planejamento anual permeando as atividades com o


conteúdo anímico respectivo de cada festa. Cada uma delas possui um conteúdo
arquetípico que nos alimenta animicamente. A criança absorve esses conteúdos de
forma mais “natural”, pois tem mais facilidade de lidar com as imagens simbólicas,
uma vez que ainda não tem capacidade interpretativa e não tem tendência a
intelectualizar essas vivências.
As festas espirituais trazem o espírito dentro das estações do ano, dentro da
Terra. O ser humano se desenvolve procurando a harmonia dentro dele e com a Terra,
por meio da sua relação com a natureza e com todos os seres e o cosmo. As festas
cristãs e espirituais, universais ocorrem em todos os tempos da evolução da Terra e
da Humanidade, porque expressam um reino para além do plano da Natureza. Os
impulsos da religiosidade, dos caminhos espirituais que ultrapassam todas as
religiões, também estão presentes na Natureza. O espiritual é celebrado, não o
especificamente religioso. As celebrações cósmicas e espirituais e as terrenas e da
natureza fazem parte da história da evolução da humanidade (AMARANTE, 2013).
Todas essas imagens devem permear as rodas e as ações do dia a dia do
educador da educação infantil, envolvendo imaginativamente as crianças e
alimentando sua alma. As músicas folclóricas infantis de cada região e da vivencia
cultural de cada povo se entrelaçam com as músicas das celebrações das festas
espirituais, cristãs e universais. Pela música o educador incentiva as crianças a
participarem nas atividades, envolve-as nas imagens, estimulando o brincar, trazendo
a união do Cosmo com a Terra. São vivencias importantes do momento da criança
pequena na relação com suas forças da natureza e suas forças cósmicas
(AMARANTE, 2013).
Conforme a Escola Waldorf Querência (2013, p. 1): ...em cada época, em cada
celebração, há que se dosar qualidade e quantidade dos conteúdos que queremos
transmitir às crianças pequenas. Diríamos que tudo isso já está impregnado na alma
humana e precisa, apenas, aos poucos, ser "acordado". Esse despertar é um
processo natural da criança resultando num desenvolvimento individual de cada uma,
na medida em que, repetidamente, vamos povoando de imagens seus corações. As
celebrações das festas anuais são ótimos recursos de que nos valemos para
possibilitar aos pequenos essas vivências que lhes alimentam a alma proporcionando
sentimentos de alegria, amor, coragem, confiança e segurança diante do mundo.
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Trazer para a criança a vida da Natureza, as suas constantes mudanças e


transformações, é um meio de trazer a força motriz da vida da Terra. Portanto, muito
pode ser feito com simples gestos, criatividade e humor, com os temas das estações
e das festas anuais. No planejamento dos festivais, como tema do trabalho a ser
desenvolvido no jardim de infância, um clima de antecipação pode ser criado, trazendo
algo novo a cada dia, envolvendo as crianças na preparação (AMARANTE, 2013).
As rodas e os temas de cada época, que organizamos durante o ano escolar
no jardim de infância, trazem uma respiração, contração e expansão, interiorização e
abertura, movimentos e quietudes, proporcionando um equilíbrio no desenvolvimento
da criança. Preparar os alimentos, fazer as decorações, contar os contos, trazer as
imagens nas rodas, as músicas nas atividades, isso envolve a todos dentro dos temas
escolhidos. O tema central dos festivais é a luz do sol e das estrelas, o calor e o amor
que transformam tudo em luz; isso traz a magia, permitindo a experiência e a
participação do processo de vida, do ciclo anual. As celebrações são tão universais
que ninguém fica excluído. Os festivais falam de cada um e de todos. Celebramos
aquilo que é universalmente humano e universalmente cósmico e espiritual
(AMARANTE, 2013).
Cada dia é uma festa no jardim de infância, e pode ser assim também em
nossas casas. A forma como as rodas são realizadas, o ritmo do dia e do mês, com o
tema das festas e das estações, faz sentido no decorrer do ano. A arte consiste em
trazer para as crianças a vida da Terra, como seres que acabaram de chegar do
universo, sentindo a respiração ritmada, como uma música da Terra e do Cosmo
(AMARANTE, 2013).
...devemos organizar os festejos de tal forma que as qualidades da bondade,
beleza e verdade estejam sempre presentes. Assim, serão sempre motivo de alegria,
entusiasmo e gratidão. Queremos convidar a todos para juntos organizarmos as festas
e celebrações, para que elas aconteçam de forma bela e intensa. Queremos envolver
nossa comunidade para que todos participem com entusiasmo, desde seu
planejamento e preparo, até a retrospectiva (ESCOLA WALDORF QUERÊNCIA,
2013, p. 1).
Podem-se trazer os movimentos genuínos nas rodas e canções do jardim; é
importantíssimo ser capaz de imitar os movimentos e sons da Natureza. No final do
dia, após todas as atividades, é hora de ouvir as histórias, cheias de imagens que
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alimentam a alma e que também se relacionam com os temas das festas anuais.
Quando os pais chegam, eles esperam no jardim as crianças e então podemos
oferecer as canções ligadas aos temas que trabalhamos com as crianças. Cantamos
juntos e agradecemos por mais um dia. Assim, os pais se envolvem nas imagens e
podem levar alegremente suas crianças para casa (AMARANTE, 2013).

ESCOLAS WALDORF DESESTIMULAM A ASSISTIR À TV

As Escolas Waldorf aconselham que as crianças não assistam à televisão pelas


sequelas corporais que a televisão pode causar em uma criança em desenvolvimento,
e também pelo teor de muitas das programações apresentadas pela televisão,
inclusive programações infantis (ESPAÇO BEM VIVER, 2013).

FIGURA – TELEVISÃO

FONTE: COEP: Menos consumo para uma infância mais saudável. 2013.
Disponível em:
<http://www.coepbrasil.org.br/portal/Publico/apresentarConteudo.aspx?CODI
GO=C20131109525218 7&TIPO_ID=1>.
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Para a Educação Waldorf, a televisão pode bloquear gravemente o


desenvolvimento imaginativo na criança, e na visão Waldorf a imaginação é a
faculdade fundamental para o desenvolvimento saudável da pessoa. O uso de
computadores, principalmente para jogar videogames, também não é indicado para
as crianças pequenas (ESPAÇO BEM VIVER, 2013).
Além do uso da televisão e do computador, Amarante (2013) afirma que as
escolas Waldorf também recomendam limitar o tempo de uso de vídeos e de rádio
pelas crianças e jovens, visando estimular o desenvolvimento saudável da imaginação
e criatividade em seus alunos. Segundo ele: A preocupação dos professores Waldorf
é a de que a mídia eletrônica venha impedir o desenvolvimento da imaginação da
criança. Eles estão preocupados com os efeitos físicos da mídia na criança em
desenvolvimento e com o conteúdo de grande parte da programação (AMARANTE,
2013, p. 1).
Os professores Waldorf não estão sozinhos neste questionamento e postura.
Segundo o Espaço Bem Viver (2013), existem vários estudos e obras literárias
publicadas a respeito das consequências danosas causadas pelo uso da TV e do
computador por crianças.
Amarante (2013) diz que, dando base a essas preocupações, há cada vez mais
pesquisas sobre os meios eletrônicos e a educação: televisão, jogo eletrônico e
computador e os efeitos negativos dos meios eletrônicos em crianças e adolescentes.
Os professores Waldorf entendem que a idade apropriada para o uso de
computador por estudantes na sala de aula é durante o ensino médio, e que é mais
importante que os estudantes tenham a oportunidade de interagir uns com os outros
e com os professores na exploração do mundo das ideias, participando no processo
criativo e desenvolvendo conhecimento, capacidades, habilidades e qualidades
interiores (AMARANTE, 2013).
Os alunos Waldorf têm amor pela aprendizagem, uma curiosidade constante e
interesse pela vida. Quando se tornam estudantes mais velhos, eles conseguem
dominar rapidamente a tecnologia da computação, e muitos alunos formados seguem
carreiras bem-sucedidas na indústria de computadores (AMARANTE, 2013).

TAXA ANUAL DE UMA ESCOLA WALDORF


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Os valores da mensalidade e da matrícula variam entre as escolas Waldorf,


mas geralmente são equivalentes aos de outras escolas particulares da mesma região
geográfica. Muitas escolas Waldorf são autônomas e mantidas pelos tributos mensais
das famílias; cada escola cria as suas políticas de assistência financeira e define o
valor da bolsa de estudos que pode oferecer (AMARANTE, 2013).
Como exemplo, consideraremos as taxas para o ano de 2013 da Associação
Pedagógica Parsifal (2013), mantenedora da Paineira Escola Waldorf, em Juiz de
Fora. Essa escola apresenta três níveis de mensalidades, baseando-se nos princípios
da economia associativa, levando em conta as necessidades da escola e as condições
financeiras das famílias. Segundo a Associação Pedagógica Parsifal (2013, p. 1):
Há a clara intenção em desenvolvermos relações econômicas cada vez mais
fraternas onde aqueles que podem dispor de um pouco mais podem colaborar com
aqueles que têm menor disponibilidade. Acreditamos que, para além da educação de
nossos filhos, podemos contribuir enquanto corresponsáveis pela escola na busca de
um mundo mais solidário e fraterno.
Ao fazer a matrícula, o responsável pelo aluno assinala sua opção de
mensalidade. A anuidade da escola é dividida em 12 parcelas mensais; a primeira é
referente à matrícula. Há um desconto de 5% na matrícula para quem realizar o
pagamento até o dia 30 de novembro. As mensalidades para o ano de 2013 são:

TABELA - TAXAS MENSAIS PARA O ANO DE 2013

MENSALIDADES
BÁSICA SOLIDÁRIA I SOLIDÁRIA II
12 parcelas

Maternal 550,00 575,00 600,00

Jardim 550,00 575,00 600,00

1º Ano 620,00 650,00 680,00

2º Ano 620,00 650,00 680,00

3º Ano 620,00 650,00 680,00

4º Ano 620,00 650,00 680,00

5º Ano 630,00 660,00 690,00


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6º Ano 670,00 700,00 730,00

7º Ano 670,00 700,00 730,00

8º Ano 670,00 700,00 730,00

9º Ano 670,00 700,00 730,00

FONTE: Associação Pedagógica Parsifal: Paineira Escola Waldorf. 2013.

Abaixo, encontram-se relacionadas outras taxas, e os respectivos meses de


cobrança:

TABELA - OUTRAS TAXAS PARA O ANO DE 2013

FONTE: Associação Pedagógica Parsifal: Paineira Escola Waldorf. 2013.


Disponível em: <http://paineiraescolawaldorf.blogspot.com.br/p/associacao-
pedagogica-parsifal_08.html>.

As Escolas Waldorf são livres e criadas a partir do interesse de um grupo de


pais ou de professores. Cada Escola Waldorf tem sua própria história e, embora sejam
escolas privadas, não pertencem a um dono e nem têm fins lucrativos.
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FORMAÇÃO DOS PROFESSORES NA PEDAGOGIA WALDORF

Uma atitude essencial de um educador Waldorf é o profundo amor altruísta


devotado a cada um de seus alunos, algo que provavelmente não é ensinado em
nenhum curso de licenciatura ou pedagogia (SETZER apud OLIVEIRA, 2012). Assim,
para se tornar um professor Waldorf é necessário, além da habilitação formal de
professor, o curso específico na Pedagogia Waldorf. Atualmente, há na cidade de São
Paulo o curso ministrado na Escola Waldorf Rudolf Steiner, que tem a duração de
quatro anos (ESPAÇO BEM VIVER, 2013).
Na concepção de Steiner (apud CASTRO, 2010, p. 1): Nosso verdadeiro papel,
como educadores, é o de remover dificuldades. Cada criança traz das regiões divinas
algo de novo para o mundo, e é nossa tarefa como educadores a remoção dos
obstáculos físicos e psíquicos de seu caminho de forma a permitir que seu espírito
adentre a vida em toda liberdade.
Rudolf Steiner, em uma palestra em Oxford no ano de 1922, definiu as "3 regras
de ouro" para um professor Waldorf: "Receber a criança em agradecimento ao mundo
de onde ela vem; educar a criança com amor; conduzir a criança através da verdadeira
liberdade que pertence ao Homem" (ESPAÇO BEM VIVER, 2013).
Segundo Steiner: O que é mais importante para um professor é sua concepção
da vida e do mundo, a inspiração que flui no professor de sua concepção interior e a
cada nova experiência é carregada além na constituição anímica da criança a ele
confiada. (apud ESPAÇO BEM VIVER, 2013, p. 1).
O Seminário Pedagógico, que depois passou a se chamar Centro de Formação
de Professores Waldorf, foi criado em 1970, na cidade de São Paulo, Brasil. O curso
trata do desenvolvimento do ser humano e sua integração no mundo, tanto nas aulas
práticas quanto nas teóricas. Sua fundamentação conceitual está baseada na
Antroposofia, uma ciência espiritual elaborada por Steiner (ESCOLA WALDORF
RUDOLF STEINER, 2013).
A meta da atividade do professor Waldorf é o desenvolvimento e a
harmonização do ser humano sob seu tríplice aspecto: corpóreo, anímico e espiritual.
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Para ser eficiente nesse sentido, o pedagogo precisa conhecer o ser humano e as leis
do seu desenvolvimento (ESCOLA WALDORF RUDOLF STEINER, 2013).
Segundo Galdi (2008), quando o professor Waldorf estuda antropologia, ele
estuda que corpo é esse, o tamanho da cabeça, os olhos, o pulmão, cada um dos
órgãos, o que representam estas diferenciações, não só de raça e etnia, mas também
as diferenciações individuais, de uma pessoa a outra, considerando inclusive o que é
comum, como órgãos, o fígado, o que ele representa no corpo humano, o que é o
coração, o que são os rins. É estudada a relação do homem com seu meio,
considerando-se as habilidades, as capacidades e qualquer dificuldade a ser
superada. Isso é o estudo da antropologia geral.
Em 1998, o Seminário foi oficializado como Curso Normal. Esse curso do
Centro de Formação de Professores Waldorf é de nível técnico profissionalizante, e
possibilita ao formando lecionar em classe das 1ª às 4ª séries do Ensino Fundamental
em quaisquer escolas do Sistema Nacional de Ensino. Os professores formados no
Centro de Formação de Professores Waldorf podem conduzir alunos de Educação
Infantil, e do 1º ao 8º anos nos estabelecimentos do Estado de São Paulo filiados à
Federação das Escolas Waldorf do Brasil, de acordo com autorização expressa do
Conselho Estadual de Educação do Estado de São Paulo (ESCOLA WALDORF
RUDOLF STEINER, 2013).
O curso engloba aulas expositivas de temas fundamentais, além da prática de
atividades artísticas essenciais, estágios, pesquisas, apresentação de trabalhos e
participação em grupos de estudos. Visa aguçar as capacidades anímicas do pensar,
sentir e querer. Expandir e aprofundar a relação do homem consigo mesmo, com o
seu próximo e com a natureza para a atuação regenerativa (ESCOLA WALDORF
RUDOLF STEINER, 2013).
O curso tem duração de quatro anos, e ocorre nas segundas e quartas-feiras,
das 19h às 22h30min; fins de semana estabelecidos no calendário, compostos por
aulas às sextas-feiras das 19h às 22h30min, sábado das 9h às 18h, com intervalo de
almoço, e domingo das 9h às 12h30min. Para fazer o curso, o interessado deve ter 21
anos no mínimo, ter concluído o Ensino Médio e ser aprovado pelo processo seletivo.
Além de estar disposto a investir nos desafios e nas oportunidades de um real
processo de autodesenvolvimento (ESCOLA WALDORF RUDOLF STEINER, 2013).
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Segundo a Federação das Escolas Waldorf no Brasil, em abril de 2012 havia


13 Cursos de Formação em Pedagogia Waldorf no Brasil; são eles:
➢ Formação de Professores Waldorf – Habilitação Nível Médio. São Paulo
/ SP. – Escola Waldorf Rudolf Steiner.
➢ Curso Livre de Qualificação de Professores Waldorf. Botucatu / SP. –
FEWB.
➢ Cursos Livres de Fundamentação em Pedagogia Waldorf – FEWB. Porto
Alegre – RGS. Curitiba – PR. Brasília – DF. Nova Friburgo – RJ.
➢ Curso de Fundamentação em Pedagogia Waldorf de Florianópolis.
Florianópolis – SC.
➢ Curso Livre de Fundamentação em Pedagogia Waldorf Jaguariúna –
Sítio das Fontes – SP.
➢ Curso de Fundamentação em Pedagogia Waldorf de Belo Horizonte.
Nova Lima – Pólen Escola Waldorf De Belo Horizonte – MG.
➢ Curso de Fundamentação em Pedagogia Waldorf Pós-Graduação Lato
Sensu – Especialização – Atualização. Aracaju – SE.
➢ Curso de Formação em Pedagogia Waldorf. Recife – PE.
➢ Curso Introdução a Pedagogia Waldorf. Associação Sophia de Estudos
Antroposóficos e Uniitalo – SP.
➢ Formação de Educadores Sociais Fundamentada na Pedagogia
Waldorf. Mainumby – SP.
➢ Grupo de Estudos Pindorama. Jundiaí – SP.

A ANTROPOSOFIA

A Educação Waldorf tem suas bases na Antroposofia, "conhecimento do ser


humano", ou “sabedoria humana”. Foi introduzida por Rudolf Steiner no início do
século XX (SETZER, 2011).
Castro (2010) afirma que Steiner utilizou pela primeira vez a palavra
“Antroposofia” em uma palestra que realizou em 1902; mais tarde, essa palavra
designaria o conjunto de conhecimentos criados por ele.
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Steiner (apud PASSERINI, 1998) disse que a Antroposofia é um caminho de


conhecimento que pretende fazer o espírito humano chegar à união com o espírito
cósmico ou conhecimento produzido pelo eu superior do homem.
A Antroposofia busca, por meio da razão, oferecer respostas para as mais
profundas questões do homem, sem negar as aspirações espirituais. A Antroposofia
“amplia o conhecimento obtido pelo método científico convencional, bem como trata
da aplicação desse conhecimento em praticamente todas as áreas da vida humana”
(SETZER, 2011).
O Espaço Bem Viver (2013) descreve a Antroposofia como um caminho de
estudo, desenvolvimento e uma filosofia de vida, que busca responder às perguntas
mais profundas do homem por meio da razão, mas sem negar-lhe aspirações
espirituais. A Antroposofia permite novas probabilidades ao ser humano no
alargamento de suas capacidades mentais, elevando sua percepção e seu pensar a
outras dimensões; considerando o homem uma síntese de todo Universo, coloca-o
em uma posição que abrange a dimensão física, mas que vai além dos limites dela.
Ou seja: o homem não é só físico, não é só espírito, mas a união de ambos. Esse é o
verdadeiro caminho e busca do ser humano. Encontrar em si mesmo, respostas que
atendam à sua vontade de reunir e compreender esse “cidadão de dois mundos”.
De acordo com Castro (2010, p. 1), para aplicar a Antroposofia não é preciso
ser antropósofo ou antroposófico: ...mas sim compreender que o futuro da
humanidade exige espírito de iniciativa, fantasia criadora e senso de responsabilidade.
Em seus conceitos, há reflexões sobre a capacidade de pensar e sobre a
compreensão do ser humano moderno, bem como quatro características de
desenvolvimento: da consciência, do autoconhecimento, da individualidade e da
liberdade.
Nas explanações de Steiner, em 1924 (apud SETZER, 2011, p. 1): A
Antroposofia é um caminho de conhecimento que deseja levar o espiritual da entidade
humana para o espiritual do universo. Ela aparece no ser humano como uma
necessidade do coração e do sentimento, e deve encontrar sua justificativa no fato de
poder proporcionar a satisfação dessa necessidade. A Antroposofia só pode ser
reconhecida por uma pessoa que nela encontra aquilo que, a partir de sua
sensibilidade, deve buscar. Portanto, somente podem ser antropósofos pessoas que
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sentem como uma necessidade de vida certas perguntas sobre a essência do ser
humano e do universo, assim como se sente fome e sede.

ASPECTOS QUE CARACTERIZAM A ANTROPOSOFIA

Segundo Setzer (2011), os aspectos que distinguem a Antroposofia são:


1. Abrangência – envolve toda a vida humana e a natureza; assim, pode
ser aplicada em praticamente todas as áreas da vida. A mais popular dessas
realizações práticas é a Pedagogia Waldorf.
2. Edifício conceitual – é exposta em forma de conceitos que se dirigem à
habilidade de pensar e ao desejo de conhecimento e compreensão do ser humano
moderno.
3. Espiritualismo – entende que o universo não é composto somente por
matéria e energia físicas. Por exemplo, os seres humanos apresentam um nível de
"substância" espiritual, que é mais complexa do que a das plantas e dos animais. Há
também seres puramente espirituais, e que agem em diversos níveis de
espiritualidade; alguns deles estão em níveis acima dos da composição humana, mas
podem ser compreensíveis por um pensar abrangente, e perceptíveis
conscientemente por meio de uma observação direta suprassensorial. A substância
física é uma condensação da "substância" espiritual; assim, para a Antroposofia não
existe o paradoxo de o espírito atuar na matéria, pois ele é a origem de tudo.
4. Antropocentrismo – parte da compreensão do ser humano para ele
entender a si próprio e a todo o universo. Para a Antroposofia, em sua evolução o ser
humano originou o mundo dos animais, que são especializações evolutivas do ser
humano, que representa a razão de ser do universo físico; dele também dependendo
a evolução do mundo espiritual.
5. Desenvolvimento de órgãos de percepção suprassensorial – expõe que
o mundo espiritual pode ser claramente observado após serem desenvolvidos órgãos
de percepção que estão ocultos em todos os seres humanos; para isso, são
recomendados exercícios de meditação individual. A "intuição" é, para a Antroposofia,
uma percepção espiritual, mas é inconsciente e não é autocontrolada. Para o homem
moderno, que quer absorver ideias com a abrangência de seu pensamento, fazendo
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suas próprias observações, sem crenças ou crendices, as observações espirituais


apropriadas são as conscientes e autocontroladas.
6. Desenvolvimento da consciência, da autoconsciência, da individualidade
e da liberdade – apregoa que essas quatro qualidades humanas devem ser
determinadamente preservadas e desenvolvidas.
7. Cosmovisão aberta – não existe nada secreto na Antroposofia.
8. A Antroposofia fornece uma grandiosa perspectiva para a evolução da
Terra e do ser humano, abrangendo todo o passado histórico e pré-histórico. Por meio
dela pode-se conceitualmente compreender muito do que foi transmitido na
antiguidade pelas imagens como as dos mitos antigos e os relatos no Velho e no Novo
Testamento (em particular, do ser cósmico Cristo e sua manifestação), passando pela
filosofia grega, os movimentos heréticos, a Idade Média, a Renascença e até os
movimentos materialistas modernos. Assim, ela resgata a continuidade histórica,
mostrando como o ser humano atual é a consequência de uma linha de
acontecimentos espirituais e físicos desde os primórdios do universo.
9. Renovação da pesquisa científica – sugere métodos para ampliar a
pesquisa científica, tornando-a mais humana e mais coerente com a natureza.
10. Desenvolvimento moral – aconselha um desenvolvimento moral feito
pessoalmente, baseado no conhecimento da essência do ser humano e do universo.
A missão do ser humano na atual Terra é o desenvolvimento moral baseado em um
amor altruísta. As atitudes morais não devem ser baseadas em mandamentos,
dogmas e leis, mas nascer do amor e do conhecimento individuais em total liberdade.
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FIGURA – CAMPOS DE ABRANGÊNCIA DA ANTROPOSOFIA

FONTE: Federação das Escolas Waldorf no Brasil: FEWB, 2008. Disponível


em: <http://www.federacaoescolaswaldorf.org.br/imagens/apresFewb.pdf>.

O QUE A ANTROPOSOFIA NÃO É

Objetivando evitar distorções no espírito da filosofia antroposófica, e impedir


confusões com outras linhas de pensamento, Setzer (2011) explica o que a
Antroposofia não é:
a) Não é um movimento ou edificação mística de ideias. O misticismo é
basicamente abalizado por sentimentos e visões fantasiosas, sem estarem
acompanhados de um pensamento cognitivo; é transmitido em forma de imagens e
metáforas. A Antroposofia, pelo contrário, é fruto de observações permeadas por um
pensamento consciente, e é transmitida na forma de conceitos, apontada para a busca
por compreensão de fatos, fenômenos e ideias, distinguindo o ser humano atual.
b) Não é religião e não possui cultos; é cultivada individualmente, em
grupos de estudo abertos e nas instituições onde é praticada.
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c) Não utiliza mediunismo. O desenvolvimento e o uso de órgãos de


percepção suprassensível são feitos em completo estado de consciência,
conservando a autoconsciência e a individualidade.
d) Não é sexista, racista ou nacionalista. Pelo contrário, ela mostra que a
essência de cada ser humano, que ela chama de Eu Superior, e cuja evolução é a
nossa missão na presente Terra; não tem sexo, nem raça, nem religião e nem
nacionalidade.
e) Não é moralista. Não há regras de conduta para aqueles que adotam a
Antroposofia como princípio de vida. Cada um deve estabelecer suas próprias regras
de conduta consciente, de acordo com o conhecimento, e não a partir de impulsos
inconscientes ou seguindo cegamente as tradições.
f) Não é dogmática. Rudolf Steiner disse várias vezes para não
acreditarem cegamente naquilo que ele próprio expunha, e sim tomá-lo como hipótese
de trabalho, esperando por uma comprovação pessoal. O que Steiner transmitiu
confere com aquilo que se observa na natureza, forma um todo coerente, e não
contradiz fatos científicos. Em uma palestra proferida em Milão em 1911, Steiner
disse: "Muitas coisas que eu disse hoje somente podem ser controladas por meio da
pesquisa oculta. Mas, meus queridos amigos, peço a vocês que não acreditem nessas
coisas e as verifiquem com os fatos que acontecem na História e com todas as
experiências que tiverem. Estou tranquilo em saber que, quanto mais as examinarem,
tanto melhor poderão confirmar. Na época do intelectualismo, eu não apelo à sua fé
em uma autoridade, mas ao seu exame intelectual." Steiner também garantiu que a
Antroposofia era apropriada para a sua época, e deveria ser dinâmica e acompanhar
a evolução da constituição humana, que não permanece estática.
g) Não é uma seita, e muito menos secreta. Ninguém que estuda a
Antroposofia recebe indicações sectárias ou secretas; tudo está publicado e os grupos
de estudo, incluindo os ramos da Sociedade Antroposófica no Brasil, podem ser
frequentados por qualquer pessoa.
h) Não é uma sociedade fechada. Qualquer pessoa pode se tornar membro
da Sociedade Antroposófica Geral, diretamente ou por meio dos Ramos da Sociedade
Antroposófica no Brasil. A admissão na Sociedade não depende de etnia, religião,
nível socioeconômico e educação.
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i) Não é Teosofia. Rudolf Steiner iniciou suas atividades públicas dando


palestras sobre os resultados de suas próprias observações dos mundos espirituais
para membros da Sociedade Teosófica, no início do século XX. Em sua autobiografia,
ele cita que foi o único grupo de pessoas da época interessado em uma transmissão
conceitual das realidades esotéricas. Ele tornou-se Secretário Geral do ramo alemão
daquela sociedade, onde permaneceu até 1912. Por divergências profundas para com
as ideias propagadas pelos dirigentes da mesma, ele saiu dela e fundou em 1913 a
Sociedade Antroposófica. Basta ler algumas de suas obras para se perceber que suas
contribuições jamais se basearam nos escritos teosóficos; obviamente, no início de
suas atividades públicas sobre assuntos esotéricos ele usou a terminologia teosófica,
mas logo acabou por desenvolver sua própria, mais adequada para a época e para
um enfoque conceitual ocidental.
Uma última observação sobre uma palavra que dá margem a muitos
malentendidos e pode despertar preconceitos. Steiner emprega a palavra oculto em
um sentido bem específico. Ele quer com isso se referir ao que não está acessível aos
nossos sentidos físicos. Se considerarmos os cinco sentidos usuais, talvez agregando
ainda o do calor, essa sua expressão não deve despertar estranheza: com esses
sentidos não se pode observar certas atividades interiores do ser humano, como a
volição, os sentimentos e os pensamentos. Em particular, a ciência moderna está
praticamente reduzida em sua parte experimental à detecção de impulsos visuais,
diretamente ou por resultados de medidas exibidos por aparelhos. Obviamente,
ninguém nunca viu nossos impulsos de vontade, nossos sentimentos e pensamentos.
Se aparelhos, como na ressonância magnética, detectam alguma reação física do
organismo àquelas atividades (chamadas por Steiner de atividades anímicas),
certamente não se está detectando elas próprias, e sim consequências delas em
nosso organismo. Ninguém dirá que o aparelho "sente" como nós sentimos; os nossos
sentimentos são, portanto, ocultos no sentido de Steiner – apesar de ninguém duvidar
que eles existam. Da mesma forma, aquilo que dá vida a um ser vivo é oculto:
podemos perceber sua manifestação pelo próprio ser, mas a "força" que é a essência
da vida não é perceptível a nossos sentidos físicos. Uma contribuição fundamental de
Steiner foi chamar a atenção para o fato de que esse "oculto", não físico, pode ser
investigado e conceituado com a mesma clareza com que se investigam os
fenômenos físicos, se bem que com outros métodos e com outros órgãos de
Pedagogia waldorf

percepção (que também são "ocultos", ao contrário de, por exemplo, nossos olhos). É
por isso que ele denominou um de seus livros básicos de "A Ciência Oculta"
(Geheimwissenschaft; ou "A Ciência do Oculto", do não perceptível fisicamente),
publicado pela Editora Antroposófica.

A EURITMIA

Utilizando sempre obras de arte da literatura e da música, a Euritmia


acompanha a criança da Educação Infantil ao Ensino Médio da Escola Waldorf,
colaborando para o seu desenvolvimento (ESCOLA WALDORF RUDOLF STEINER,
2013).

ORIGEM E EVOLUÇÃO DA EURITMIA

Marie Steiner sugeriu o nome Euritmia para essa forma de dança, mas a
palavra e seu conceito já existiam desde a Grécia Clássica (séc. V a.C. a 111 a.C.).
Na obra "Kanon", o escultor de Argos, Polykleitos (440 a.C.), define o conceito
eurythmia como sendo o equilíbrio de forças que atuam no corpo humano; eurhythmós
– ritmo equilibrado, belo, harmonioso é uma classe estética oculta das Artes Plásticas.
O arquiteto romano Vitruv (25 a.C.) empregou o conceito "euritmia", relacionando-o
com a harmonia na arte de construir. No Período Clássico de Weimar (1786-1832)
aparece outra vez a denominação Eurythmie, cujo conceito é definido por Herder
como a "ordem benfazeja de um centro em relação a dois extremos” (BARRETO,
1998).
Procurando atender à aspiração de uma moça que buscava por um "tipo de
dança ou ginástica" que se harmonizasse com o conhecimento espiritual do homem,
Rudolf Steiner ofereceu em 1912 as recomendações iniciais para a concepção de uma
nova arte de movimento, baseada na visão Antroposófica. Lory Meyer-Smits, de 19
anos, desenvolveu os rudimentos da nova arte, sob a orientação de Rudolf Steiner, e
com a participação de Marie Steiner. Depois, outras personalidades tomaram parte da
paulatina ampliação dos elementos dessa nova dança. O trabalho se manteve mesmo
durante a 1ª Guerra Mundial, porém, de maneira oculta (BARRETO, 1998).
Pedagogia waldorf

A primeira Escola Waldorf, fundada em 1919, abarcou a Euritmia como matéria


essencial do currículo. Em 1921, Rudolf Steiner apresentou também muitas sugestões
para o aproveitamento terapêutico dos elementos eurítmicos, proferindo oito
palestras, que compõem o curso de Euritmia Curativa (BARRETO, 1998).
Ao retomar esse termo quando da criação da nova arte de movimento
antroposófica, 2500 anos depois do eu-rythmós da Grécia, empreende-se uma
ampliação do conceito Eurythmia: as forças que configuram as formas plásticas da
escultura e da arquitetura são transformadas em movimento, “libertas”! Com o
acréscimo do elemento temporal ao conceito outrora espacial, a Euritmia de Rudolf
Steiner passa a revelar um acontecimento plástico-musical, o desenrolar das forças
atuantes na forma humana quando seu corpo dança a poesia ou a música (BARRETO,
1998, p. 1).
Em 1922, começou-se a classificar e sistematizar os conteúdos desenvolvidos,
visando à constituição de um Conservatório de Euritmia, e Alice Fels organizou cursos
com períodos maiores. Em 1923, nasceu a Escola de Euritmia de Stuttgart, sob a
direção de Marie Steiner. Rudolf Steiner reuniu, em 1924, o conteúdo das pesquisas
em dois grandes cursos. Ele então proferiu oito palestras do curso “Euritmia Como
Canto Visível”, e 15 palestras do curso “Euritmia Como Fala Visível”, que constituem
a obra básica da Euritmia (BARRETO, 1998).
Steiner e os professores da Escola de Euritmia elaboraram, em 1924, um
currículo para a formação de euritmistas, contendo as matérias Métrica e Poética;
Teoria Musical; Geometria; Antropologia, com enfoque na Anatomia, na formação e
desenvolvimento dos órgãos, nas múltiplas relações de movimento, na relação do
esqueleto com as leis musicais e na formação da fala pela laringe; Canto e Recitação;
Pedagogia e Antroposofia (BARRETO, 1998).
Else Klink assumiu a direção dessa instituição em 1935. O trabalho com a
Euritmia se desenvolveu de forma oculta durante a 2º Guerra Mundial. Com o fim da
guerra, as atividades artísticas reiniciaram, e a Escola de Euritmia de Stuttgart
reiniciou seus trabalhos em 1946 (BARRETO, 1998).
Outros euritmistas ministraram cursos e publicaram trabalhos, livros e artigos a
respeito dessa arte e sobre sua aplicação pedagógica e terapêutica.
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A maioria das Escolas de Euritmia busca seu reconhecimento pela Seção das
Artes Oratórias e Musicais do Goetheanum, em Dornach, Suíça, para oferecer aos
seus estudantes um diploma reconhecido pela Escola Superior Livre de Ciência
Espiritual. A formação tem duração variável entre 4 e 5 anos, quase sempre em
período integral. Uma especialização em Euritmia Pedagógica ou Euritmia Curativa
pode ser feita após o curso básico, incluindo períodos de estágio em escolas ou
hospitais (BARRETO, 1998, p. 1).
No campo da Arte, formaram-se muitos "grupos de palco", para a ampliação da
arte eurítmica por meio de espetáculos, e alguns adquiriram grande prestígio, como o
Eurythmeum Stuttgart e o Eurythmie-Bühne Hamburg (Alemanha), o Goetheanum
Bühne (Suíça), o Nederlands Eurythmie Ensemble (Holanda), o Spring Valley
Eurythmy Group (USA), o Ashdown Eurythmy Theatre e o Peredur Eurythmy Group
(Inglaterra), o Fundevogel (Áustria), o Järna Eurythmie Gruppe (Suécia), o Grupo de
Euritmia de São Paulo (Brasil), entre outros (BARRETO, 1998).
Segundo Barreto (1998, p. 1): Como arte ela se propõe a pesquisar o
movimento intrínseco da linguagem poética e da música, como ele se configura no
fluxo da fala e no desenvolvimento dos sons, com todos os seus matizes de
sentimento, levando também em consideração o conteúdo específico expresso pelo
poeta ou pelo compositor. Esse elemento artístico-plástico da fala e da música é
transposto para o espaço cênico através do movimento coreográfico, complementado
pelas cores das indumentárias e da iluminação. Simultaneamente com recitação ou
música ao vivo a Euritmia dança, assim, o desenvolvimento dos sons de poesias e
músicas, em toda sua complexidade.
A adoção da Euritmia no currículo das mais de 400 Escolas Waldorf pelo mundo
e como complementação terapêutica em diversos países ocorreu como consequência
de numerosas pesquisas em Educação e Medicina de inspiração antroposófica
(BARRETO, 1998).
A Euritmia desenvolveu-se bastante desde 1912 até hoje, principalmente na
Alemanha, Holanda, Suíça e Inglaterra, mas também na Escandinávia, Estados
Unidos, Rússia, Argentina e Brasil. Ela fundamenta-se no conhecimento do ser
humano e do mundo, e seus movimentos coreográficos podem ser solísticos ou em
grupo; a música utilizada é a instrumental, que deve ser tocada ao vivo (BARRETO,
1998).
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O OBJETIVO E APLICAÇÕES DA ARTE DA EURITMIA

O objetivo é falar e cantar por meio de movimentos e gestos que revelam aos
olhos o que a linguagem e a música trazem para o ouvido. Os movimentos do
euritmista revelam experiências interiores da alma e se relacionam com o espaço ao
redor; eles podem variar desde simples gestos de mão até movimentos de todo o
corpo. A elegante capacidade da laringe humana de revelar as experiências mais
íntimas é ampliada, tornando-se movimento de corpo inteiro. Por esta razão, a
Euritmia é uma disciplina original de movimento artístico, em vez de uma forma de
dança (RALPH, 2012).

FIGURA - EURITMIA

FONTE: Equipe Camila Souza: ABRE – Associação Brasileira dos Euritmistas.


2013. Disponível em: <http://www.euritmia.org.br/>.

Na Euritmia, nós podemos ver aquilo que antes só podíamos ouvir. O que é
apenas ouvido é parcialmente escondido; assim, gestos constituem um componente
importante de expressão e comunicação. Na Euritmia, linguagem e música tornamse
perceptíveis tanto pelo ouvido como pelo olho. Quando a Euritmia é aprimorada, pode-
se ver muito mais do que ouvir. Podemos ver a aparência das palavras, e ver notas
musicais por meio de gestos e movimentos. Podemos ver a diferença entre um acorde
harmônico e uma dissonância. Palavras e música não são interpretadas, suas
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qualidades interiores implícitas são exibidas em seu autêntico movimento, sentimento


e caráter (RALPH, 2012).
A disciplina de linguagem visível é bastante diferente das habilidades de canto
visível. No fala visível, o euritmista usa gestos ligados às vogais e consoantes,
movimentando formas espaciais de acordo com o conteúdo do poema ou prosa que
está falando. Ao incorporar os gestos que expressam os humores da alma, as forças
planetárias e as influências do zodíaco, o euritmista também revela que vive em
silêncio dentro do audível (RALPH, 2012).
No canto visível, o euritmista faz uso de gestos para tons e intervalos, tornando
visível o tom da melodia. O batimento e ritmo podem ser mostrados, bem como a
harmonia. Os gestos surgem a partir da música, como está escrita na partitura, e
mostram as características dos instrumentos que estão tocando. Quando os intervalos
entre as notas da música são visíveis, podemos ver o que é inaudível na música
(RALPH, 2012).
A Euritmia combina com o discurso humana "ao vivo" e com a música
instrumental. Fontes eletrônicas, ampliação ou melhorias nunca são usadas, pois não
há vida em fontes de som eletrônico, e é a vida que um euritmista busca mostrar; por
essa razão, também não há CD de música Euritmia (RALPH, 2012).
Composições de Euritmia pura às vezes são realizadas sem acompanhamento
de linguagem ou música; elas são profundamente significativas para o público e um
contributo essencial para o repertório (RALPH, 2012).
A Euritmia é empregada de inúmeras maneiras. A Euritmia Terapêutica aborda
vários tipos de doença; assim, além de ser ensinada às crianças nas Escolas Waldorf,
a Euritmia é ensinada na Educação Terapêutica (ou Pedagogia Curativa)
Antroposófica e Terapia Social, para aqueles com necessidades complexas ou
dificuldades de aprendizagem. A Euritmia também vai para escritórios e fábricas,
trazendo uma série de benefícios (RALPH, 2012).
Médicos formados em medicina antroposófica podem prescrever exercícios
específicos de Euritmia aos seus pacientes. É sempre necessário ter uma referência
pessoal de um médico experiente antes de trabalhar com um terapeuta de Euritmia
(RALPH, 2012).
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