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Os conceitos e opiniões expressas nos trabalhos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores.
DIRETORES
CONSELHO EDITORIAL
Tiragem: 45 exemplares
R454 Revista Fórum Justiça do Trabalho. – ano 33, n. 392, (ago. 2016) – . –
Belo Horizonte: Fórum, 2016‑
Mensal
ISSN 0103‑5487
CDD: 341
CDU: 342
Adalberto Jacob Ferreira – Adriano Marcos Soriano Lopes – Ailton Borges de Souza – Alan Coelho Furtado Gonçalves –
Alekson Teixeira Lima – Alessandra Anchieta Moreira Lima de Aguiar – Alessandra de La Vega Miranda – Alexandre
Henrique Zangali – Alexandre Moura Lima Neto – Alexandro Meneses Aragão – Aline Maciel Silva Dias – Aline Soares
Arcanjo – Allan Edson Moreno Fonseca – Almiro Eduardo de Almeida – Amanda Borges da Silva – Amanda Fernandes
F. Broecker – Amanda Rosales Gonçalves Hein Hainzenreder – Amaury Rodrigues Pinto Jr. – Anabel Ballim de Conto –
Ana Carolina do Prado L. Petrucci – Ana Carolina Soria Vulcano – Ana Clara Santos Borges de Barros – Ana Lidia Di
Salvo – Ana Luísa Vallim Machado – Ana Luiza Mendes Valadares – Ana Luiza Ramos Oliveira – Ana María Chocrón
Giráldez – Ana Paula Freire Rojas – Ana Paula Schenckel – Anelise Crippa – André Bono – André Gonçalves Zipperer –
André Jobim de Azevedo – André Sousa Pereira – Antônia Mara V. Loguercio – Antonio Escosteguy Castro – Antonio
Ojeda Avilés – Antônio Raimundo de Castro Queiroz Jr. – Ari Pedro Lorenzetti – Ariane Stopassola – Ariel Stopassola –
Arion Sayão Romita – Armando Pizetta – Artur da Silva Ferreira – Átila da Rold Roesler – Bárbara Petersen Rosa
Raphaelli – Ben‑Hur Silveira Claus – Bento Adeodato Porto – Bernadete Kurtz – Bernardo Mata Schuch – Bianca Neves
Bomfim – Bóris Chechi de Assis – Breno Hermes Gonçalves Vargas – Bruna Casimiro Siciliani – Bruna Dier – Bruna
Zanandréa Nesello – Bruno M. Colela Maciel – Bruno Peres Rossoni – Caio Flávio de Albuquerque Costa – Camila
Ferraz Ferreira – Camila Izis A. B. Paul – Camilla Mattos Paolinelli – Carla Peres Cavassani – Carlos Alberto Begalles –
Carlos Alberto Molinaro – Carlos Alberto Robinson – Carlos Eduardo O. Dias – Carlos Wagner Araújo N. da Cruz – Carlota
Bertoli Nascimento – Carmen Camino – Carmen Passos Custódio – Carolina Spack Kemmelmeier – Cássio de Lima
Lopes – Catia Helena Yamaguti Barbugiani – Celso Rodrigues – Cesar Roberto V. Pergher – Christie Barboza Severo –
Cindi Marjorie Trindade Palma – Claudia Angnes – Cláudia Tessmann – Cláudio Antônio Cassou Barbosa – Cláudio
Araujo Santos dos Santos – Cláudio Armando Couce de Menezes – Cláudio Dias de Castro – Cláudio D. Lima Filho –
Cláudio do Nascimento Mendonça Júnior – Cláudio Hiran Alves Duarte – Cláudio Scandolara – Clevio Luiz da Silva –
Cristina Alves da Silva Braga – Cristiane Catarina Fagundes de Oliveira – Daiane Margarete Krügger – Danielle Bezerra
da Silva – Dariana Rauber Sarlet – Dartagnan Ferrer dos Santos – David da Costa Lopes – Deborah Harumi Kudo da
Silva – Décio Scaravaglioni – Denise Fincato – Denise Maria de Barros – Denise Pires Fincato – Deyse Jacqueline
Zimmermann – Diego Martignoni – Dienifer Ferreira da Costa – Dinah Lemos – Diogo Antonio P. Miranda – Domenico
Rafael Camerini – Dominick de Ávila Barroso – Edgar de Medeiros Pinto – Edilton Meireles – Edsom Dametto – Edson
José Prizon – Eduardo Brol Sitta – Eduardo Piantá – Eduardo Tito da Luz – Elias Medeiros Vieira – Eliete Thomazini
Perin – Elis Mary Avelina de Azevedo – Elizabet Leal da Silva – Elza Mara M. Oliveira – Enio Duarte Fernandez Jr. –
Emílio Eduardo Pereira Pires – Enoque Ribeiro dos Santos – Érica Fernandes Teixeira – Erika Costa de Queiroz – Erika
dos Santos Farias Osternack – Erick Gonçalves Afonso Maués – Eugênio Hainzenreder Júnior – Euler Sinoir de
Oliveira – Evandro de Oliveira Belém – Eveline de Andrade Oliveira – Evellyn Thiciane M. Coêlho Clemente – Everton
Molgaro da Rocha – Fábio Ferronato Mattei – Fabrício Luiz Zuffo – Felipe Augusto Silva Custódio – Felipe Cittolin
Abal – Felipe Mendonça – Fernanda Antunes Marques Junqueira – Fernanda C. Batista Rodello – Fernanda da Silva
Machado – Fernanda dos Santos Nunes – Fernanda Giannasi – Fernanda Giardini Pogorelsky – Fernanda Machado –
Fernanda Marders – Fernanda Oltramari – Fernanda Onzi Cavagnoli – Fernanda Pinheiro Brod – Fernando Augusto Melo
Colussi – Fernando Clamer dos Santos Júnior – Fernando Corrêa Martins – Fernando Mundstock Steffen – Fernando
Rubin – Fernando Schnell – Flávia Francisca Moraes da Costa Pinto – Flávia Lorena Pacheco – Flávia M. Guimarães
Pessoa – Flávio da Costa Higa – Francisco das C. Lima Filho – Francisco de Assis Pessoa Júnior – Francisco Ferreira
Jorge Neto – Francisco Paludo – Francisco Rossal de Araújo – Gabriel de Oliveira de Mello – Gabriela Neves Delgado –
Gabriella Santos Paines – Gelson Amaro de Souza – Gidião Pereira de Castro – Gilberto Souza dos Santos – Gilberto
Stürmer – Gilmara Pavão Segala – Gilviano Marcos de Queiroz – Giovanna Behar Ramos – Giovane Canonica – Giovani
Bortolini – Gisele Ferreira de Araújo – Gislaine Cordeiro da Silva – Gissiane Bruno da Silva – Glaucia G. Vergara
Lopes – Graciane Saliba – Graziella Piccoli Stalivieri – Guilherme Wunsch – Gustavo A. Vogel Neto – Gustavo Athaide
Halmenschlager – Gustavo Filipe Barbosa Garcia – Gustavo Luchi da Silva – Gustavo M. de Freitas – Gustavo Melo
Bueno – Gustavo Trierweiler – Gustavo Pereira Farah – Hamilton Donizeti R. Fernandez – Heitor Barbieri Cracco Neto –
Helder Martinez Dal Col – Helen Andressa Suriz D’Amico – Helena Kugel Lazzarin – Herick Vazquez Soares – Hildo
Nicolau Peron – Humberto Alves Coelho – Igor Almeida Lima – Igor da Rocha Kubaski – Iris Lima de Moraes – Isabel
Cristina Amaral de Sousa Rosso Nelson – Isabel Reis Lage – Ítalo Cardoso Lima e Silva – Ivan Alemão – Ivan de
Franco – Izidoro Oliveira Paniago – Jair Aparecido Cardoso – Jaime Cipriani – Jaime José Bílek Iantas – Jairo Halpern –
Jane Courtes Lutzky – Jane Lúcia Wilhelm Berwanger – Jane Regina Mathias – Janete Aparecida Deste – Janete
Terezinha S. Henz – Janriê Rodrigues Reck – Jelson Carlos Accadrolli – Jerônimo André Bonkevitch – Jéssica Fior
Küntzer – Jesus Augusto Mattos – Jesús Lahera Forteza – João Alberto B. Teixeira – João Batista S. de Nonohay – João
Carlos Leal Jr. – João de Lima Teixeira Filho – João Ghisleni Filho – João José Sady – João Manoel Grott – João
Marcelino Soares – João Paulo Lucena – João Pedro Ignácio Marsillac – João Vicente Rothfuchs – Joe Ernando
Deszuta – Joeline Araujo – Joyce Ziumar Rocha da Silva – Jordana Gewehr Camargo – Jordana Mariel – Jorge Alberto
Araujo – Jorge Cavalcanti B. Filho – Jorge Luiz Ferreira – Jorge Luiz Souto Maior – José Alberto Couto Maciel – José
Antonio Pancotti – José Antônio R. Lemos – José Augusto de Carvalho Neto – José Augusto Rodrigues Jr. – José Carlos
Arouca – José Carlos dos Santos Junior – José Carlos Rizk Filho – José de Souza Vieira Neto – José Eduardo S.
Ramos – José Eli Salamancha – José Felipe Ledur – José Fernando L. Arochena – José Luiz Vernet Not – José Maria
Tesheiner – José Nascimento Araújo Neto – José Orlando Schäfer – Jouberto de Quadros P. Cavalcante – Joyce Ziumar
Rocha da Silva – Julia Ferreira Goulart – Júlia Lima Martins‑Costa – Juliana de Melo Mendes – Juliana do Monte
Maia – Juliana Evangelista de Almeida – Juliana Garcia – Juliana Hörlle Pereira – Juliana Pinheiro Machado Bernardi –
Juliano Gianechini Fernandes – Júlio Bernardo do Carmo – Júlio César Bebber – Júlio César de Castro – Jurema Costa
de Oliveira Silva – Kamilla Rafaely Rocha de Sena – Karen Costa Braga – Laís Durval Leite – Landial Moreira Júnior –
Larissa de Oliveira Elsner – Laura Machado de Oliveira – Leandro de A. Bemvenuti – Leandro do Amaral D. de
Dorneles – Leandro Prusch – Lenise Fabres Machado – Leonardo Dias Borges – Leonardo R. Itacaramby Bessa – Letícia
Costa Mota Wenzel – Ligia M. Teixeira Gouvêa – Lília Leonor Abreu – Lina Gorczevski – Loredana Magalhães – Luana
Lopes da Silva – Lucas Adolfo Baumhardt – Lucas Soares de Oliveira – Luciane Cardoso Barzotto – Luciano Augusto
de T. Coelho – Luciano Della Maria Pinto – Luciano Marinho Filho – Lucilde D’Ajuda L. de Almeida – Lucyla Tellez
DOUTRINA
ARTIGOS
JURISPRUDÊNCIA
ACÓRDÃOS
EMENTÁRIO TRABALHISTA
TST, TRTs 1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 9ª, 12ª, 18ª R............................................................ 143
ACOMPANHAMENTO DA DILIGÊNCIA PELO PATRONO DO EXEQUENTE –
IMPOSSIBILIDADE............................................................................................ 143
ADICIONAL NOTURNO – NORMA COLETIVA.......................................................... 143
Livre-Docente pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Doutor em Direito pela
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Especialista em Direito pela Universidade
de Sevilla. Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Sevilla. Membro Pesquisador do
IBDSCJ. Membro da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, Titular da Cadeira 27. Membro
do Instituto Brasileiro de Direito Processual. Professor Universitário. Advogado.
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1
“Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas” (art. 2º da Lei nº 13.146/2015).
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2
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2022.
p. 363-364.
3
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito previdenciário: seguridade social. 6. ed. São
Paulo: Saraiva, 2022. p. 454.
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4
O Supremo Tribunal Federal fixou a seguinte tese de repercussão geral: “O sistema de prestação
voluntária de serviço auxiliar de Polícia Militar, previsto pela Lei Federal 10.029/2000 e instituído
no Estado de São Paulo pela Lei 11.064/2002, cujas despesas são custeadas por auxílio
mensal, de natureza meramente indenizatória, não gera vínculo empregatício nem obrigação de
natureza trabalhista, previdenciária ou afim” (STF, Pleno, RE 1.231.242/SP, Rel. Min. Luiz Fux,
DJe 19.11.2020).
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1 Introdução
O presente artigo tem como propósito trazer reflexões acerca do re‑
pouso semanal e seu progressivo desvalor enquanto direito fundamental
efetivamente exercitável. Esse caráter se revela na fragorosa incapacidade
social e jurídica para impor limites ao pensamento econômico que atua no
sentido de reduzir a pessoa à mera condição de indivíduo que trabalha para
consumir. Verifica-se mesmo tendência no sentido da confusão entre o
espaço da produção e o espaço domiciliar/familiar, o que se exacerbou no
período de pandemia da COVID-19. O obsessivo pendor desse pensamento
pela produção neutraliza a capacidade dos indivíduos de configurar a sua
vida de acordo com o princípio/regra jusfundamental do art. 7º, XV, da Cons‑
tituição Federal (CF), que assegura aos trabalhadores o repouso semanal
remunerado, preferencialmente aos domingos (destaquei).
A análise a ser desenvolvida visa ao exame de aspectos culturais, antro‑
pológicos e axiológicos que se encontram na base do reconhecimento jurídico
que o direito internacional e constitucional conferiu ao repouso semanal re‑
munerado. A partir daí também serão objeto de reflexão os desdobramentos
que a matéria obteve no plano infraconstitucional. Por fim, será feito breve
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1
HÄBERLE, Peter. Der Sonntag als Verfassungsprinzip. Berlin: Duncker & Humbold. 1988, p. 52. O
original da transcrição é a seguinte: “Mit dem Zustand der äusseren Ruhe bezeichnet das Gesetz
eine im öffentlichen Leben spürbare Unterbrechung des werktäglichen Arbeitsprozesses..., ‘Sonn-
und Feiertags’-Charakter des Besonderen, nämlich ein Nicht-Werktag zu sein, der der Ruhe und
Entspannung diente und die Menschen aus ihrem Alltag herauslöst. Dieser tiefere Sinn der Sonn- und
Feiertage kann nur erreicht werden, wenn sich nicht nur der einzelne für sich genommen von seiner
Werktagsarbeit distanziert, sondern wenn an diesen Tagen die Arbeit allgemein unterbleibt. Es soll
insgesamt gewährleistet sein, dass jeder Bürger ungestört von äusseren Einflüssen, aber auch frei
von inneren Skrupeln seinen Freizeitbedürfnissen nachgehen kann, wobei in diesem Zusammenhang
nicht zuletzt dem Wissen um die für alle geltende Arbeitsruhe Bedeutung zukommt. Denn erst
dieses Wissen stellt den einzelnen wirklich von den Zwängen des Werktags frei und versetzt ihn
in die Lage, unbelästigt seinen persönlichen Neigungen gemäss an kirchlichen, kulturellen oder
gesellschaftlichen Veranstaltugen teilzunehmen bzw. Seinen sonstigen Interessen nachzugehen,
soweit diese nicht die Merkmale täglicher Arbeit aufweisen...”.
2
HÄBERLE, Peter. Der Sonntag als Verfassungsprinzip, cit., p. 57.
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3
Segundo a doutrina de juristas alemães como Bodo Pieroth e Konrad Hesse, âmbito de proteção de
um direito fundamental é a esfera vital protegida juridicamente ou o objeto de proteção recortado
da realidade pela norma jusfundamental. Pode-se conferir, a propósito, meu Direitos Fundamentais
Sociais – Efetivação no âmbito da democracia participativa. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2009, p. 50.
4
A esse respeito, ver PIEROTH, Bodo e SCHLINK, Bernhard. Grundrechte – Staatsrecht II. 26.
ed., Heidelberg: C.F. Müller, 2010, p. 30. A obra encontra-se traduzida para o português sob a
denominação “Direitos Fundamentais” pela Editora Saraiva. Acerca da função de proteção dos
direitos fundamentais pode-se examinar também artigo de minha autoria: Barreiras constitucionais
à erosão dos direitos dos trabalhadores e a reforma trabalhista. Disponível em: https://hdl.handle.
net/20.500.12178/121690.
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5
Acerca da existência de limites à possibilidade da intervenção dos entes coletivos em direitos
fundamentais do trabalho, remeto para meu Direitos Fundamentais Sociais – Efetivação no âmbito
da democracia participativa, cit., p. 60-62. A intervenção em direito fundamental sem reserva legal
ou normativa, como é o caso do repouso semanal remunerado, é condicionada a uma estrita
justificação jurídico-constitucional.
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6 Conclusão
Em termos de síntese conclusiva pode-se destacar que o repouso
semanal é direito fundamental que encontra sua fonte material em cultura
milenar. Trata-se de direito de liberdade que preserva o indivíduo de injun‑
ções externas incompatíveis com a disposição de um dia da semana para
atividades que não o lembrem da rotina laboral. Como direito de liberdade,
reconhecido há quase um século em normas de direito internacional, o repouso
semanal remunerado passou a direito fundamental na CF de 1988, passível
não de negação, mas de reconhecimento e de promoção pelo Estado e pela
sociedade. Entretanto, o que se observa é que o pensamento econômico
prevalecente vem determinando a gradativa erosão e violação desse direito
de liberdade, com a correspondente resignação jurídica e social.
6
Ver a obra Tutela inibitória e tutela de remoção de ilícito, do citado autor. Disponível em Jus
Navigandi. Acesso em: 17 jul. 2014.
7
Idem, ibidem.
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Referências
HÄBERLE, Peter. Der Sonntag als Verfassungsprinzip. Berlin: Duncker & Humbold. 1988.
LEDUR, José Felipe. Direitos Fundamentais Sociais – Efetivação no âmbito da
democracia participativa. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.
LEDUR, José Felipe. Barreiras constitucionais à erosão dos direitos dos trabalhadores e
a reforma trabalhista. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12178/121690.
Acesso em: 20 ago. 2022.
MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela inibitória e tutela de remoção de ilícito. Disponível
em Jus Navigandi. Acesso em: 17 jul. 2014.
PIEROTH, Bodo; SCHLINK, Bernhard. Grundrechte – Staatsrecht II. 26. ed., Heidelberg:
C.F. Müller, 2010.
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MONITORAMENTO DO AMBIENTE DE
TRABALHO: O MEIO E O FIM DE UM
PROGRAMA DE INTEGRIDADE
Resumo: Esta pesquisa tem como tema central a análise dinâmica do compliance no ambiente
de trabalho. Para tanto, examina inicialmente no que consiste um programa de integridade,
seus pilares e objetivos, os sujeitos da relação de emprego e os limites do poder diretivo do
empregador frente aos direitos de personalidade do empregado. Aborda os cuidados que o
empregador deve tomar para criar e aplicar um programa de compliance, buscando-se, assim,
examinar a importância da implementação de efetivas normas de compliance pelo empregador
sem violação aos limites de direitos e garantias constitucionais dos empregados.
Palavras-chave: Programa de compliance. Relação de emprego. Poder diretivo do empregador.
Direitos de personalidade do empregado.
Sumário: 1 Introdução – 2 Generalidades do compliance – 3 Direitos e deveres do empregado
e do empregador – 4 Cautelas na aplicação do compliance no ambiente de trabalho –
5 Considerações finais – Referências
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1 Introdução
O mundo vive a chamada sociedade de risco.1 A expressão sociedade
de risco foi cunhada pelo sociólogo alemão Ulrich Beck, em 1986, após o
acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, para designar os dias em que
vivemos, a partir da constatação de que os perigos hoje enfrentados pela
humanidade são resultado dos efeitos colaterais da própria ação humana.
Não há como prever todos os riscos de operações de empresas e de orga‑
nizações em geral.
Diante desse contexto, o compliance surge como um mecanismo para
auxiliar na geração e transmissão de informações seguras dentro das em‑
presas e das organizações, buscando, assim, minimizar os prejuízos gera‑
dos pelos riscos da atividade, para impedir que as falhas cometidas pelas
corporações sejam capazes de trazer graves e irreparáveis danos à imagem
e à reputação.
Nesse sentido, não há como se falar em programa de compliance sem
se falar em relações de trabalho. Isso porque a noção de compliance su‑
gere a criação de mecanismos e institutos, como programas ou manuais,
treinamentos que são voltados, primordialmente, às pessoas que trabalham
na empresa.
São os trabalhadores, sejam eles empregados, sejam eles prestadores
de serviços, a quem as medidas de compliance são aplicadas de forma di‑
reta. Trata-se do cumprimento da ética e da moral na microssociedade que
constitui a empresa.
Lembra-se que o empregador responde pelos danos causados por seus
empregados e prepostos no exercício do trabalho ou em razão dele e que,
muito embora exista a possibilidade de ação de regresso em alguns casos,
muitas vezes, o dano reputacional causado à empresa é irreversível.
No entanto, também deve-se tomar cuidado para que na criação e na
aplicação do programa de compliance não se gere novos riscos, de natureza
trabalhista. Os programas de compliance produzem repercussões trabalhis‑
tas, quer os envolvidos queiram, quer não.
Com isso, busca-se fazer um necessário e importante diálogo entre direito
do trabalho e compliance a fim de se verificar até onde o monitoramento do
ambiente de trabalho reduz riscos e até onde pode criá-los, focando, espe‑
cialmente, nas normas internas e nas medidas de denúncia e investigação,
1
RIBEIRO, Ricardo Lodi. Globalização, sociedade de risco e segurança. Revista de Direito
Administrativo, v. 246, p. 270, set. 2007. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/
index.php/rda/article/view/41660/40855. Acesso em: 20 abr. 2021.
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2 Compliance
2.1 Generalidades de compliance
O compliance nas empresas é, em apertada síntese, estar em confor‑
midade com leis e regulamentos.2
Esse conceito abrange todas as políticas, regras, controles internos
e externos aos quais a organização precisa se adequar. Adequando-se ao
compliance, suas atividades estarão em plena conformidade com as regras
e legislações aplicadas aos seus processos.
Tanto a empresa quanto todas as pessoas que nela trabalham, inclu‑
sive fornecedores e terceirizados, precisam se comportar de acordo com as
regras dos organismos reguladores.
Atualmente, o compliance é considerado como uma área estratégica e
essencial, sendo aplicável a todos os tipos de companhias, especialmente
considerando que o mercado passou a exigir dos atores atuantes condutas
legais e éticas por parte das empresas, com o intuito de que a lucrativida‑
de ocorra de modo sustentável e a partir do desenvolvimento econômico e
socioambiental.3
No entanto, deve-se ter em mente que não existe um modelo autoapli‑
cável de programa de compliance, uma vez que diversos são os aspectos a
serem considerados para a sua formação, como: realidade da organização; a
sua cultura; tamanho; setor de atuação; local de operação; tipo de atividade
desenvolvida e as suas circunstâncias específicas.
Para Marcelo de Aguiar Coimbra e Vanessa Alessi Manzi “compliance
é o dever de cumprir, de estar em conformidade e fazer cumprir leis, diretri‑
zes, regulamentos internos e externos, buscando mitigar o risco atrelado à
reputação e o risco legal/regulatório”.4 Na mesma linha, um programa de
compliance é um sistema complexo e organizado que interage com proces‑
sos de negócios da empresa e inclui pessoas, ações, ideias, documentos,
2
Um programa de compliance bem estruturado vai muito além do simples cumprimento da legislação;
porém, para a finalidade deste estudo, de forma bastante resumida, se parte dessa afirmação.
3
RIBEIRO, Marcia Carla Pereira; DINIZ, Patricia Dittrich Ferreira. Compliance e Lei Anticorrupção nas
Empresas. Revista de Informação Legislativa – RIL, ano 53, n. 205, jan./mar. 2015, p. 88.
4
COIMBRA, Marcelo de Aguiar; MANZI, Vanessa Alessi. Manual de Compliance: preservando a boa
governança e a integridade das organizações. São Paulo: Atlas, 2010. p. 2.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022 31
5
SERPA, Alexandre; SIBILLE, Daniel. Os Pilares do Programa de Compliance: uma breve discussão.
São Paulo: Roncarati, 2016. E-book. Disponível em: https://www.editoraroncarati.com.br/v2/
phocadownload/os_pilares_do_programa_de_compliance.pdf. Acesso em: 15 nov. 2019.
6
SERPA, Alexandre; SIBILLE, Daniel. Os Pilares do Programa de Compliance: uma breve discussão.
São Paulo: Roncarati, 2016. E-book. Disponível em: https://www.editoraroncarati.com.br/v2/
phocadownload/os_pilares_do_programa_de_compliance.pdf. Acesso em: 15 nov. 2019.
7
CGU. CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO. Programa de Integridade: Diretrizes para Empresas
Privadas. 2015. p. 6-7. Disponível em: https://www.cgu.gov.br/Publicacoes/etica-eintegridade/
arquivos/programa-de-integridade-diretrizes-para-empresas-privadas.pdf. Acesso em: 15 nov. 2019.
8
BRASIL. Decreto nº 8.420, de 18 de março de 2015. Regulamenta a Lei nº 12.846, de 1º de
agosto de 2013, que dispõe sobre a responsabilização administrativa de pessoas jurídicas pela
prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/decreto/d8420.htm.
Acesso em: 24 abr. 2020.
32 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022
9
ANDRADE, Flavio Carvalho Monteiro de; FERREIRA, Isadora Costa. Alguns contornos especiais
do Compliance em suas relações com a área trabalhista corporativa. In: OLIVEIRA, Luis Gustavo
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022 33
Miranda de (Org.). Compliance e integridade: aspectos práticos e teóricos. Vol. 2. Belo Horizonte:
D’Plácido, 2019. p. 194.
10
INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Compliance à luz da governança
corporativa. São Paulo, SP: IBGC, 2017. (Série: IBGC Orienta). p. 33.
11
COIMBRA, Marcelo de Aguiar; MANZI, Vanessa Alessi. Manual de Compliance: preservando a boa
governança e a integridade das organizações. São Paulo: Atlas, 2010. p. 18-19.
34 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022
12
INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Compliance à luz da governança
corporativa. São Paulo, SP: IBGC, 2017. (Série: IBGC Orienta). p. 18.
13
FORNASIER, Mateus de Oliveira; FERREIRA, Luciano Vaz. A regulação das empresas transnacionais
entre as ordens jurídicas estatais e não estatais. Revista de Direito Internacional, Brasília, v. 12,
n. 1, 2015. p. 410.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022 35
14
MATHIES, Anaruez. Assédio moral e compliance na relação de emprego: dos danos e dos custos
e instrumentos de prevenção de acordo com a reforma trabalhista. Curitiba: Juruá, 2018. p. 148.
15
SPOUR, Robert Henry. Risco moral nas empresas e azares dos Códigos de Ética. A gestão de
riscos de compliance como aliada da boa governança corporativa. In: CANDELORO, Ana Paula;
BENEVIDES, Marilza M. (Coord.). Governança corporativa em foco: inovações e tendências para a
sustentabilidade das organizações. São Paulo: Saint Paul, 2014. p. 61-62.
16
MATHIES, Anaruez. Assédio moral e compliance na relação de emprego: dos danos e dos custos
e instrumentos de prevenção de acordo com a reforma trabalhista. Curitiba: Juruá, 2018. p. 153.
36 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022
17
CRUZ, Marco. Fazendo a coisa certa – Como criar, implementar e monitorar programas efetivos
de compliance. [S.l.: Simplíssimo], 2017, edição Kindle.
18
“EMENTA: ASSÉDIO MORAL. EXISTÊNCIA DE PROVA DE CONDUTA LESIVA DA RECLAMADA.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS DEVIDA. Existindo provas nos autos acerca de atos típicos
de assédio moral de que teria sido vítima a autora, há se falar em pagamento de indenização por
dano moral. ‘Afirmou que comunicou o ocorrido à supervisora, Sra. Ramaiane e, posteriormente, à
coordenadora, Sra. Karen Cheila, bem como fez uma reclamação no canal de denúncias da empresa,
mas que nenhuma providência foi tomada. Disse que, após a denúncia feita, a partir de agosto de
2019, passou a sofrer perseguições e retaliações por parte da supervisora Ramaiane, a qual, como
forma de punição, limitou os seus serviços e a transferiu da equipe de ‘apoio’ aos funcionários
do call center (onde não realizava atendimento de ligações), para o atendimento de call center”.
(TRT18, RORSum – 0011940-48.2019.5.18.0008, Rel. PLATON TEIXEIRA DE AZEVEDO FILHO, 2ª
TURMA, 02/07/2020). Disponível em: https://trt-18.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/870659064/
rorsum-119404820195180008-go-0011940-4820195180008/inteiro-teor-870659091. Acesso
em: 15 fev. 2021.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022 37
19
CARVALHO, André Castro; ALVIM, Tiago Cripa. Linha ética: funcionamento da denúncia, papel do
denunciante e uso do canal de denúncias. In: CARVALHO, André Castro; BERTOCCELLI, Rodrigo
de Pinho; ALVIM, Tiago Cripa; VENTURINI, Otavio (Coord.). Manual de Compliance. Rio de Janeiro:
Forense, 2019. p. 153-179.
20
Decreto-Lei nº 8.420, de 18 de março de 2015. Brasília, DF. Planalto. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/decreto/d8420.htm. Acesso em: 09 abr. 2021.
21
AGUIAR, Antonio Carlos. Compliance um direito fundamental nas relações de trabalho: uma marca
da hipermodernidade. Revista LTr. 79-10/1236, Vol. 79, nº 10, outubro de 2015.
22
“ASSÉDIO MORAL. CÓDIGO DE CONDUTA OU CANAIS FORMAIS DE DENÚNCIA NÃO EXIMEM DE
CULPA EMPRESA QUE SE OMITE EM APURAR A DISCRIMINAÇÃO E DEGRADAÇÃO DAS CONDIÇÕES
DE TRABALHO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. O fato de a empresa comprovar a implementação de códigos
de conduta, ética ou canais formais internos através dos quais o corpo funcional poderia comunicar
ou denunciar eventuais irregularidades não obsta a que, identificada prática de assédio de superior
contra empregada, seguida da manifesta omissão da reclamada em apurar as denúncias, esta
procure nesta especializada a reparação do dano extrapatrimonial ocasionado. In casu, a despeito
das negativas da reclamada, os graves fatos referidos pela reclamante e atestados pela prova
oral, configuram a discriminação, o isolamento e a desqualificação funcional, com reiterados
atentados à sua dignidade, de que decorre o dever de indenizar. Imprestável o depoimento da
testemunha da Ré, que não trabalhou com a reclamante na época dos fatos. Outrossim, conforme
38 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022
destacou o julgador de piso, a reclamada não trouxe qualquer prova documental quanto à denúncia
e procedimento supostamente instaurado. No mais, endosso a percepção do juízo de origem
acerca da situação em análise, no sentido de que ‘apesar da Reclamada juntar à contestação, o
‘Lançamento de Iniciativa de Conduta esperada dos empregados’ (fls. 387 e seguintes), inclusive
tratando do tema ‘retaliação’, procedeu a dispensa da Autora antes mesmo de apurar a notícia
de assédio em suas dependências’, bem como de que ‘Não basta ao empregador disponibilizar
canais de ‘denúncia’ ou implementar código de ética estampando fotos de trabalhadores felizes,
se permite ato degradante da trabalhadora em suas dependências, sem a adoção das medidas
pertinentes a coibir a pratica de condutas tão perniciosas por meio de seus prepostos”. (TRT-2
10003652220195020703 SP, Relator: RICARDO ARTUR COSTA E TRIGUEIROS, 4ª Turma – Cadeira
4, Data de Publicação: 19/11/2019). Disponível em: https://trt-2.jusbrasil.com.br/jurisprudenc
ia/782570997/10003652220195020703-sp. Acesso em: 14 fev. 2021.
23
JUSTA CAUSA. “Embora seja indubitável que o código de conduta era de notório conhecimento de
todos os funcionários da reclamada, tendo o reclamante informado, inclusive, que participou de
sua elaboração, a prova oral revelou que a reclamada fazia vista grossa para a conduta relativa ao
conflito de interesses, uma vez que a testemunha Clécio informou que tem conhecimento que a
Lafarge vendeu caminhões para alguns de seus funcionários e que estes passaram a ser utilizados
em suas próprias obras tal como na usina em Sete Lagoas; que as máquinas tinham seus preços
orçados na região e eram enviados e-mails ao reclamante e ao Sr. Jeferson, líder administrativo
para posterior análise final de Maurício no setor de suprimentos. Assim, embora não haja dúvida de
que a conduta do autor nos negócios com os fornecedores da reclamada (Villa e Multimak) viola as
normas de conduta da reclamada, ficou comprovado, por outro lado, que houve aprovação de tais
negociação segundo o trâmite regular da empresa, no setor de suprimentos, as negociações não
prejudicavam a empresa, mas, ao contrário, eram em valores inferiores a outras locações e, ainda,
eram realizadas em relação a outros funcionários, inclusive com veículos comprados da própria
reclamada. (...) O comunicado de dispensa (fl. 322) apontou como determinante para a rescisão
por justa causa a violação de regra expressa constante do código de conduta da empresa, item
evitando conflitos de ‘interesse’, subitem ‘relações com um concorrente, cliente ou fornecedor’.
Não constou expressamente o inciso do art. 482 no qual a conduta do autor deveria se enquadrar.
Com base em todas as alegações das partes, analiso a violação apontada na comunicação e seu
enquadramento nos incisos a (improbidade) e h (indisciplina ou insubordinação). Por todo o exposto
acima, considero que a conduta do reclamante não se caracteriza como improba ou desonesta,
já que aprovada de forma explícita e implícita pela empregadora, o que afasta a subsunção ao
inciso a do art. 482, da CLT. Da mesma forma, restou comprovado pelos elementos de prova
nos autos que a conduta do autor não se enquadra como indisciplina nem insubordinação, como
fundamentado acima, razão pela qual fica afastada a subsunção ao inciso h do art. 482, da CLT”.
(Fragmento sentencial de lavra da MM. Juíza do Trabalho Carla Cristina de Paula Gomes) (TRT-3
– RO: 02192201400303005 MG 0002192-97.2014.5.03.0003, Relator: Luiz Otavio Linhares
Renault, Primeira Turma, Data de Publicação: 21/07/2017). Disponível em: https://trt-3.jusbrasil.
com.br/jurisprudencia/1110916659/recurso-ordinario-trabalhista-ro-2192201400303005-
mg-0002192-9720145030003. Acesso em: 14 fev. 2021.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022 39
24
ANDRADE, Flavio Carvalho Monteiro de; FERREIRA, Isadora Costa. Alguns contornos especiais
do Compliance em suas relações com a área trabalhista corporativa. In: OLIVEIRA, Luis Gustavo
Miranda de (Org.). Compliance e integridade: aspectos práticos e teóricos. Vol. 2. Belo Horizonte:
D’Plácido, 2019. p. 209.
40 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022
25
Art. 2º: “Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da
atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço” (BRASIL. Decreto-Lei
nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. 1943. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 01 fev. 2021).
26
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2008. p. 347.
27
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 241.
28
VILHENA, Paulo Emílio Ribeiro de. Relação de emprego: estrutura legal e supostos. 3. ed. São
Paulo: LTr, 2005. p. 517-521.
29
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2018. p. 170.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022 41
30
HAINZENREDER JÚNIOR, Eugênio. Direito à privacidade de poder diretivo do empregador: o uso do
e-mail no trabalho. São Paulo: Atlas, 2009. p. 62-63.
31
MAGALHÃES, Guilherme A. Canedo. Introdução ao direito empresarial apud LEITE, Carlos Henrique
Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. p. 281.
32
HAINZENREDER JÚNIOR, Eugênio. Direito à privacidade de poder diretivo do empregador: o uso do
e-mail no trabalho. São Paulo: Atlas, 2009. p. 79.
33
MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 29. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 227-232.
34
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2018. p. 170.
42 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022
35
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2008. p. 634.
36
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2018. p. 281.
37
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2008. p. 636.
38
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2018. p. 281.
39
“PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. PODER REGULAMENTAR. PODER DISCIPLINAR. O
exercício do poder disciplinar pressupõe o prévio exercício do poder regulamentar, o qual não
se concretiza apenas na expedição de normas de conduta, mas também se reveste no dever
de levar ao conhecimento dos trabalhadores de forma inequívoca tais regras, que devem ser
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022 43
respeitadas sob pena de serem adotadas punições casuísticas e discriminatórias”. (TRT-4 – RO:
00003669520135040018, Data de Julgamento: 22/10/2014, 6ª Turma). Disponível em: https://
trt-4.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1126547561/recurso-ordinario-ro-3669520135040018.
40
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2018. p. 108.
41
Art. 9º: “Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou
fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação” (BRASIL. Decreto-Lei nº
5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. 1943. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 10 abr. 2021).
42
Art. 468: “Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições
por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos
ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia” (BRASIL. Decreto-Lei
nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. 1943. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 10 abr. 2021).
43
“Súmula nº 51 do TST. NORMA REGULAMENTAR. VANTAGENS E OPÇÃO PELO NOVO REGULAMENTO.
ART. 468 DA CLT (incorporada a Orientação Jurisprudencial nº 163 da SBDI-1) – Res. 129/2005,
DJ 20, 22 e 25.04.2005.
I – As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, só
atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do regulamento. (ex-Súmula
nº 51 – RA 41/1973, DJ 14.06.1973).
II – Havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a opção do empregado por um deles
tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do outro. (ex-OJ nº 163 da SBDI-1 – inserida
em 26.03.1999).” Disponível em: https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/
Sumulas_Ind_51_100.html#SUM-51. Acesso em: 11 abr. 2021.
44
Art. 444: “As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre estipulação das partes
interessadas em tudo quanto não contravenha às disposições de proteção ao trabalho, aos
contratos coletivos que lhes sejam aplicáveis e às decisões das autoridades competentes.
Parágrafo único. A livre estipulação a que se refere o caput deste artigo aplica-se às hipóteses
previstas no art. 611-A desta Consolidação, com a mesma eficácia legal e preponderância sobre
os instrumentos coletivos, no caso de empregado portador de diploma de nível superior e que
perceba salário mensal igual ou superior a duas vezes o limite máximo dos benefícios do Regime
44 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022 45
47
ANDRADE, Flavio Carvalho Monteiro de; FERREIRA, Isadora Costa. Alguns contornos especiais
do compliance em suas relações com a área trabalhista corporativa. In: OLIVEIRA. Luis Gustavo
Miranda de (Org.). Compliance e integridade: aspectos práticos e teóricos. Vol. 2. Belo Horizonte:
D’Plácido, 2019. p. 206-207.
48
COUTINHO, Aldacy Rachid. Risco, compliance e o direito do trabalho. In: TEODORO, Maria Cecília
Máximo; VIANA, Márcio Túlio; ALMEIDA, Cleber Lucio de; NOGUEIRA, Sabrina Colares. (Coord.).
Direito material e processual do trabalho. São Paulo: LTr, 2017. p. 101.
46 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022
prática é considerada legal e necessária para coibir atos ilícitos,49 pois não
são raros os casos em que práticas de corrupção e assédio moral e sexual
são descobertos por meio do monitoramento dos equipamentos corporativos.
É direito fundamental, previsto no artigo 5º, incisos X e XII, da Consti‑
tuição Federal50 a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra, da
imagem das pessoas, bem como o sigilo de suas correspondências, dados
e comunicações telegráficas e telefônicas.
Ocorre que, tratando-se de e-mail corporativo e não privado, considera-se
que é meio de comunicação disponibilizado pelo empregador apenas para
uso profissional. Não havendo, portanto, violação ao disposto no do artigo
5º, incisos X e XII, da Constituição Federal.
Assim, o acesso, pelo empregador, ao conteúdo do e-mail corporativo
fornecido ao empregado para o exercício de suas atividades funcionais, não
enseja, em princípio, ofensa ao direito à intimidade e ao sigilo das comuni‑
cações e das correspondências.
Porém, tal prática poderá ser considerada abusiva se a empresa não
tiver normas de conduta e políticas de utilização de celular/equipamentos
da empresa com expressa previsão nesse sentido. Além de, claro, dar ciên‑
cia e treinamento aos empregados quanto à utilização, o que sempre deve
ser observado.
49
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. JUSTA CAUSA. PROVA ILÍCITA. Nenhum
dos dispositivos declinados como violados, incluindo-se o art. 5º, XII, da CF, disciplina a matéria
inerente à ilicitude da prova para que se possa reputar violado. Além disso, a ilicitude da obtenção
da prova pressupõe inobservância de norma disciplinadora, o que não sucedeu. Sob o prisma
de violabilidade do sigilo dos e-mails, tampouco há falar em violação do art. 5º, XII, da CF, por se
tratar de e-mail corporativo e não privado, meio de comunicação disponibilizado pelo empregador
apenas para uso profissional conforme normas internas de conhecimento do empregado e com
‘expressa previsão de gravação e monitoramento do correio eletrônico, ficando alertado que o
colaborador não deve ter expectativa de privacidade na sua utilização (item 6.1 - fl. 176)’, conforme
noticia o acórdão regional (...)” (AIRR-1461-48. 2010.5.10.0003, 3ª Turma, Relator Ministro
Alexandre de Souza Agra Belmonte, DEJT 27/02/2015. Disponível em: https://tst.jusbrasil.
com.br/jurisprudencia/869026866/recurso-de-revista-rr-13474220145120059/inteiro-teor-
869026886?ref=serp. Acesso em: 05 abr. 2021).
50
Art. 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...) X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado
o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; (...)
XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que
a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; (...)”.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022 47
51
“AGRAVO DE INSTRUMENTO DA RECLAMADA. RECURSO DE REVISTA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA
AJUIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. TUTELA RESSARCITÓRIA. MONITORAMENTO
DAS ATIVIDADES DOS EMPREGADOS POR MEIO DE CÂMERA. PRETENSÃO DE PAGAMENTO DE
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO. PODER FISCALIZATÓRIO DO EMPREGADOR. AUSÊNCIA
DE ILICITUDE DA CONDUTA. (...) 2. Constata-se do acórdão do Tribunal Regional o seguinte: resta
incontroverso, na hipótese vertente, que a demandada mantém câmeras de monitoramento nos
locais em que seus empregados executam suas tarefas laborais; é incontroverso que não havia
câmeras em vestiários e banheiros, conforme, inclusive, deixou claro a inicial. (...) 4. Contudo, o
monitoramento dos empregados no ambiente de trabalho por meio de câmera, sem qualquer notícia
no acórdão do Tribunal Regional a respeito de excessos pelo empregador, tais como a utilização
de câmeras espiãs ou a instalação de câmeras em recintos que fossem destinados ao repouso
dos funcionários ou que pudessem expor partes íntimas dos empregados, como banheiros ou
vestiários, não configura ato ilícito, inserindo-se dentro do poder fiscalizatório do empregador. 5
. Nessa medida, não é possível exigir que a empregadora desative as câmeras de vigilância. 6.
Configurada a ofensa ao art. 2º da CLT. Recurso de revista conhecido e provido. (...)” (RR-21162-
51.2015.5.04.0014, 1ª Turma, Relator Ministro Hugo Carlos Scheuermann, DEJT 28/08/2020).
(grifo nosso). Disponível em: https://jurisprudencia-backend.tst.jus.br/rest/documentos/208df9
f1031ef78345c6c908dccb7e78. Acesso em: 10 abr. 2021.
52
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.015/2014. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. INSTALAÇÃO DE CÂMERAS NOS VESTIÁRIOS.
DANO MORAL CARACTERIZADO. ABUSO DO PODER DIRETIVO. Ao instalar câmeras de filmagem no
local destinado à troca de vestuário dos seus empregados, a empresa reclamada inequivocamente
incorreu em abuso de direito do seu poder diretivo, violando os direitos à privacidade e à intimidade
dos trabalhadores, assim como o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.
Precedentes. Agravo de instrumento a que se nega provimento.” (TST – AIRR: 19831820155230107,
Relator: Maria Helena Mallmann, Data de Julgamento: 30/11/2016, 2ª Turma, Data de Publicação:
DEJT 09/12/2016). Disponível em: https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/413818675/
agravo-de-instrumento-em-recurso-de-revista-airr-19831820155230107. Acesso em: 10 abr. 2021.
48 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022
53
SCORTEGAGNA, Augusto. O controle das redes sociais do empregado e o código de conduta.
2021. Disponível em: https://augustots.jusbrasil.com.br/artigos/1180760819/o-controle-das-
redes-sociais-do-empregado-e-o-codigo-de-conduta. Acesso em: 15 abr. 2021.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022 49
54
TRT-3 – RO: 02230201400803001 MG 0002230-94.2014.5.03.0008, Relator: Emerson Jose Alves
Lage, Primeira Turma, Data de Publicação: 01/07/2016). Disponível em: https://trt-3.jusbrasil.
com.br/jurisprudencia/1112642325/recurso-ordinario-trabalhista-ro-2230201400803001-
mg-0002230-9420145030008. Acesso em: 15 abr. 2021.
55
MORO, Luís Carlos. Compliance Trabalhista. In: CUEVA, Ricardo Villas Bôas; FRAZÃO, Ana. (Coord.).
Compliance: perspectivas e desafios dos programas de conformidade. Belo Horizonte: Fórum,
2018. p. 431-432.
50 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022
5 Considerações finais
No presente estudo, buscou-se, inicialmente, apresentar do que se tra‑
ta um programa de compliance, sua finalidade e seus pilares. Em especial,
pretendeu-se destacar sua relação com o ambiente de trabalho, detalhan‑
do-se os pilares de existência de normas de conduta e investigação interna.
Na sequência, demonstrou-se os sujeitos da relação de emprego e
seus direitos e obrigações, destacando até onde pode ir o poder diretivo do
empregador em relação aos direitos de personalidade do empregado e, a
partir disso, apresentar alguns dos cuidados que o empregador deve ter ao
56
MORO, Luís Carlos. Compliance Trabalhista. In: CUEVA, Ricardo Villas Bôas; FRAZÃO, Ana. (Coord.).
Compliance: perspectivas e desafios dos programas de conformidade. Belo Horizonte: Fórum,
2018. p. 433.
57
MORO, Luís Carlos. Compliance Trabalhista. In: CUEVA, Ricardo Villas Bôas; FRAZÃO, Ana. (Coord.).
Compliance: perspectivas e desafios dos programas de conformidade. Belo Horizonte: Fórum,
2018. p. 433.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022 51
Referências
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uma marca da hipermodernidade. Revista LTr. 79-10/1236, Vol. 79, nº 10, outubro
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ANDRADE, Flavio Carvalho Monteiro de; FERREIRA, Isadora Costa. Alguns contornos
especiais do compliance em suas relações com a área trabalhista corporativa. In:
OLIVEIRA, Luis Gustavo Miranda de (Org.). Compliance e integridade: aspectos práticos
e teóricos. Vol. 2. Belo Horizonte: D’Plácido, 2019. p. 193-225.
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2006.
BRASIL. Constituição Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 10 nov. 2020.
BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Brasília, DF. Planalto. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Acesso em: 10
abr. 2021.
BRASIL. Decreto-Lei nº 8.420, de 18 de março de 2015. Regulamenta a Lei nº 12.846,
de 1º de agosto de 2013, que dispõe sobre a responsabilização administrativa de
pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou
estrangeira e dá outras providências. Brasília, DF. Planalto. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/decreto/d8420.htm. Acesso
em: 24 abr. 2020.
58
MORO, Luís Carlos. Compliance Trabalhista. In: CUEVA, Ricardo Villas Bôas; FRAZÃO, Ana. (Coord.).
Compliance: perspectivas e desafios dos programas de conformidade. Belo Horizonte: Fórum,
2018. p. 432.
52 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022 53
54 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022
VILHENA, Paulo Emílio Ribeiro de. Relação de emprego: estrutura legal e supostos.
3. ed. São Paulo: LTr, 2005.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 29-55, outubro 2022 55
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA
PRODUÇÃO DE PROVAS: VALIDADE
DAS PROVAS DIGITAIS ATRAVÉS
DA VALORAÇÃO SUBJETIVA DO JUIZ
NA JUSTIÇA DO TRABALHO
Resumo: O presente trabalho visa abordar a utilização das provas digitais dentro do processo
trabalhista. Tem por objetivo analisar e conhecer a forma pela qual as provas digitais têm sido
valoradas e validadas pelos magistrados. O tema é de grande relevância para estudo, uma vez
que cada vez mais se torna notória a evolução da sociedade para uma sociedade mais digital.
O trabalho demonstra como estas questões virtuais aparecem no ordenamento jurídico, pois
através da Internet, milhares de pessoas se relacionam e se comunicam, interagindo e gerando
questões de direito, podendo ser utilizadas dentro do processo judicial. Por fim, demonstra,
através de decisões judiciais, que as provas digitais vêm sendo bem aceitas nos processos
trabalhistas, sendo valoradas de forma positiva pelos juízes, pois previstas na legislação e
atingindo seu fim que é a demonstração de direitos através das mídias digitais.
Palavras-chave: Provas digitais. Valoração. Validação. Autenticidade. Princípio do livre
convencimento motivado.
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1 Introdução
Com o passar do tempo, a sociedade e as formas de exercer os di‑
reitos já existentes se modificaram com as transformações tecnológicas e
eletrônicas. Dentro do direito probatório não poderia ser diferente, uma vez
que com estas inovações tecnológicas se tornou possível utilizar mídias
digitais para demonstrar certo fato jurídico através da rede. A importância
de fazer uma análise acerca do tema proposto é que cada vez mais a era
digital se faz presente no dia a dia da sociedade como um todo – algo que
não se difere dentro da ciência do Direito – já que, por exemplo, o próprio
ordenamento jurídico brasileiro se utiliza de meios digitais para tramitação
de processos eletrônicos.
A utilização de provas digitais como meio de se conseguir um resultado
positivo em determinado processo, se submete à forma como o magistrado
irá valorar e validar tais provas, podendo ser aceitas ou consideradas ile‑
gítimas. O objetivo desta pesquisa é analisar e conhecer a forma como as
provas digitais têm sido valoradas e validadas pelos magistrados, em seu
poder de jurisdição, dentro do ordenamento jurídico no processo do trabalho,
bem como definir uma conclusão primária ao estabelecer um parâmetro de
julgamento através de análise de julgados recentes.
Como hipótese, pode-se perceber que o tratamento da prova digital não
tem um padrão a ser utilizado por cada juiz, pois há omissão da legislação
em criar uma normativa específica que valide e valore cada tipo de prova ele‑
trônica a ser produzida, trazendo insegurança jurídica pela discricionariedade
do juiz em admitir ou não tais provas.
Este trabalho foi feito mediante pesquisa com finalidade básica estraté‑
gica, tendo como objetivo o modo descritivo e feito pela abordagem qualita‑
tiva, através do método hipotético-dedutivo, pelo procedimento bibliográfico.
Inicialmente, a pesquisa discorre sobre dilação probatória no processo
do trabalho, apresentando noções gerais e conceito, objeto de prova, ônus
da prova e sua inversão, a produção antecipada das provas e, ainda, aponta
todos os tipos de provas que podem ser utilizados no processo trabalhista,
definindo cada espécie, incluindo seus conceitos, requisitos e legislação
atinente. Após, a pesquisa trata sobre as inovações tecnológicas na pro‑
dução de provas, discorrendo como houve a transição da sociedade para
58 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022
1
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2
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4
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5
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da República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/
lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022.
6
“Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LVI – são inadmissíveis, no
processo, as provas obtidas por meios ilícitos; (...)” (BRASIL. [Constituição (1988). Constituição
da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 21 fev. 2022).
7
SARLET, Ingo W.; MARINONI, Luiz G.; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. São
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LEITE, Carlos Henrique B. CPC – Repercussões no processo do trabalho. 2. ed. São Paulo:
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9
KANAAN, João Carlos. Informática global. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1998. p. 23-31.
10
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11
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12
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14
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15
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16
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SACOMANO, José B.; GONÇALVES, Rodrigo F.; BONILLA, Sílvia H. Indústria 4.0: conceitos e
fundamentos. São Paulo: Blucher, 2018. p. 36. E-book. Disponível em: https://integrada.
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QUINTINO, Luís F.; SILVEIRA, Aline Morais; AGUIAR, Fernanda Rocha D. et al. Indústria 4.0. São
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MORAES, Rodrigo Bombonati de S. Indústria 4.0: impactos sociais e profissionais. São Paulo:
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21
SARLET, Ingo Wolfgang; MELLO FILHO, Luiz Philippe Vieira de; FRAZÃO, Ana Oliveira. Diálogos
entre o direito do trabalho e o direito constitucional. Série IDP São Paulo: Saraiva, 2013. p. 262.
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RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 2020. p. 1237. E-book. Disponível
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24
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25
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 25. Disponível em: https://
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26
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27
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CARVALHO%20BERNARDO%20matricula%2010807159.pdf?sequence=1. Acesso em: 22 abr.
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31
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 93. Disponível em: https://
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32
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maio 2022.
33
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 34. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
34
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Disponível em: https://www.academia.edu/41717035/A_Galaxia_da_Internet_Manuel_Castells.
Acesso em: 14 abr. 2022.
35
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 35. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
36
BRASIL. Constituição Federal – “Art. 5º (...) X. São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação; (...)” (Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.
htm. Acesso em: 21 fev. 2022.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022 67
legal para tanto.37 O uso desse tipo de prova é aceito completamente, desde
que atendidos alguns padrões técnicos de coleta e guarda, para evitar que
tenha sua integridade questionada ou que tenha sido obtida por meio ilícito.38
No mesmo sentido, o Código de Processo Civil, em seu art. 369 assegura
que “as partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como
os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para
provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir
eficazmente na convicção do juiz”.
Em 2001 foi publicada a Medida Provisória nº 2.200-2/2001,39 a qual
criou um regramento jurídico através da Infraestrutura de Chaves Públicas
Brasileira (ICP-BRASIL) para os documentos eletrônicos.40 Com o intuito de
garantir autenticidade, integralidade e validade jurídica para tais documentos,
o ICP-BRASIL tem como uma de suas atribuições a manutenção de registros
dos usuários e a ligação entre as chaves privadas utilizadas nas assinaturas
dos documentos e as pessoas que são emitentes das mensagens, garan‑
tindo que o seu conteúdo não seja alterado.41
Outra legislação pertinente que foi criada para se adaptar a estas novas
mudanças no cenário da sociedade digital, é a Lei nº 11.149 de 200642 que
dispõe sobre a informatização do processo judicial, comumente conhecido
como processo eletrônico. Dentro desta legislação, somente o art. 11 refe‑
re-se aos documentos produzidos eletronicamente.43 Este artigo dá validade
37
“Art. 441. Serão admitidos documentos eletrônicos produzidos e conservados com a observância
da legislação específica” (BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo
Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022).
38
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 90. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
39
BRASIL. Medida Provisória nº 2.200-2/2001, de 24 de agosto de 2021. Institui a Infraestrutura de
Chaves Públicas Brasileira – ICP-Brasil, transforma o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação
em autarquia, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/mpv/antigas_2001/2200-2.htm. Acesso em: 25 abr. 2022.
40
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 93. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
41
SILVA, Louise S. H. Thomaz da; SOUTO, Fernanda R.; OLIVEIRA, Karoline F. et al. Direito Digital.
Porto Alegre: Grupo A, 2021. p. 135. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.
com.br/#/books/9786556902814/. Acesso em: 19 abr. 2022.
42
BRASIL. Lei nº 11.419 de 19 de dezembro de 2006. Dispõe sobre a informatização do processo
judicial; altera a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil; e dá outras
providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/
l11419.htm. Acesso em: 24 abr. 2022.
43
“Art. 11. Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos processos eletrônicos com
garantia da origem e de seu signatário, na forma estabelecida nesta Lei, serão considerados
originais para todos os efeitos legais” (BRASIL. Lei nº 11.419 de 19 de dezembro de 2006.
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R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022 69
47
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
48
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
70 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022
Neste mesmo sentido, Patrícia Peck49 diz que, para o Direito Digital,
a chave criptográfica significa que o conteúdo transmitido só pode ser lido
pelo receptor que possua a mesma chave e será reconhecido com a mesma
validade de uma assinatura tradicional.
Cabe salientar que este procedimento de certificação digital necessita
de três elementos para cumprir seu fim, os quais são: a) certificado digital,
b) assinatura digital, e c) norma técnica positivada, a qual regulamenta o
sistema de chaves digitais e os órgãos estatais fiscalizadores.50
A assinatura digital pode ser definida conceitualmente como um código
anexado ou logicamente associado a um arquivo eletrônico que comprova a
autenticidade e a fidedignidade quanto à integralidade do conjunto de dados
do referido documento, de acordo com o original.51 Ou seja, a assinatura
eletrônica, através de sua criptografia, confere a autenticidade aos dados
que estão incluídos no documento eletrônico, pois é fato que terá um usuá‑
rio identificado (emitente), o qual assinou eletronicamente, surgindo daí sua
autenticidade.
Em relação à aplicação diária, Tarcísio Teixeira exprime que:
49
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 92. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
50
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
51
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022 71
52
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
53
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 92. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
54
“Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a
tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento; Art. 372. O
juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro processo, atribuindo-lhe o valor que
considerar adequado, observado o contraditório” (BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015.
Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2015. Disponível em: https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022).
72 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022
55
SOUSA, André Pagani de; CARACIOLA, Andrea Boari; ASSIS, Carlos Augusto de; FERNANDES,
Luís Eduardo Simardi; DELLORE, Luiz. Teoria Geral do Processo Contemporâneo. São Paulo:
Atlas/Grupo GEN, 2021. p. 129. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9786559770052/. Acesso em: 10 maio 2022.
56
SOUSA, André Pagani de; CARACIOLA, Andrea Boari; ASSIS, Carlos Augusto de; FERNANDES,
Luís Eduardo Simardi; DELLORE, Luiz. Teoria Geral do Processo Contemporâneo. São Paulo:
Atlas/Grupo GEN, 2021. p. 130. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9786559770052/. Acesso em: 10 maio 2022.
57
LEITE, Carlos Henrique B. CPC – Repercussões no processo do trabalho. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 51. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
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R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022 73
Ou seja, entende-se que a valoração dada pelo juiz é livre no que con‑
cerne a pré-valorações dadas pelo legislador às provas, porém esta liberda‑
de está atrelada a condições legais, quais sejam a fundamentação racional
e analítica de sua decisão. Não sendo tolerada a construção do processo
através de discricionariedade, devendo respeitar o princípio da legalidade.
58
PAMPLONA FILHO, Rodolfo; SOUZA, Tercio Roberto Peixoto. Curso de Direito Processual do Trabalho.
São Paulo: Saraiva, 2020. p. 668. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788553616213/. Acesso em: 10 maio 2022.
59
SANDES, Fagner. Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 385.
E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591682/.
Acesso em: 08 abr. 2022.
60
LEITE, Carlos Henrique B. Curso de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 326.
E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596663/.
Acesso em: 10 abr. 2022.
61
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz G.; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional.
São Paulo: Saraiva, 2022. p. 399. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.
br/#/books/9786553620490/. Acesso em: 10 maio 2022.
74 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022
4.1.2 Julgados
Teoricamente, constata-se as modalidades de validação e valoração
da prova, mas como este processo se dá na prática? Para isto, há de se
analisar as decisões que acontecem no mundo jurídico real.
A ementa trazida abaixo se trata de recurso de empresa reclamada,
pleiteando que seja revogada decisão que concedeu indenização por dano
moral à reclamante, a qual foi contratada para laborar na empresa, tendo
passado por processo seletivo, nutrindo expectativa de emprego por mais
de 60 dias, tendo sua CTPS retida durante todo este tempo.
62
FERREIRA NETO, Arthur Leopoldino; JOÃO, Paulo Sérgio. A prova documental eletrônica no processo
do trabalho: validade e valoração. Revista de direito do trabalho, São Paulo, v. 45, n. 206, p. 205-
231, out. 2019. Disponível em: bhttps://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/165470.
Acesso em: 11 maio 2022.
63
FERREIRA NETO, Arthur Leopoldino; JOÃO, Paulo Sérgio. A prova documental eletrônica no processo
do trabalho: validade e valoração. Revista de direito do trabalho, São Paulo, v. 45, n. 206, p. 205-
231, out. 2019. Disponível em: bhttps://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/165470.
Acesso em: 11 maio 2022.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022 75
64
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. RO nº 0020363-56.2020.5.04.0006. Relatora:
Angela Rosi Almeida, 09 de junho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.br/
pesquisas/rest/cache/acordao/pje/OfKkjP8FOJIk8DcFPh4Qaw?&qp=valora%C3%A7%C3%A3o+d
e+prova+digital. Acesso em: 22 maio 2022.
65
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. RO nº 0020363-56.2020.5.04.0006. Relatora:
Angela Rosi Almeida, 09 de junho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.br/
pesquisas/rest/cache/acordao/pje/OfKkjP8FOJIk8DcFPh4Qaw?&qp=valora%C3%A7%C3%A3o+d
e+prova+digital. Acesso em: 22 maio 2022.
76 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022
66
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. ROT nº 0021047-28.2018.5.04.0013. Relatora:
Ana Luiza Heineck Kruse, 15 de março de 2022. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.
br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/_Dax2hYL6lHYyFAPAgvUOA?&qp=valora%C3%A7%C3%A3
o+de+prova+digital%3B+prints%3B. Acesso em: 22 maio 2022.
67
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. ROT nº 0021047-28.2018.5.04.0013. Relatora:
Ana Luiza Heineck Kruse, 15 de março de 2022. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.
br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/_Dax2hYL6lHYyFAPAgvUOA?&qp=valora%C3%A7%C3%A3
o+de+prova+digital%3B+prints%3B. Acesso em: 22 maio 2022.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022 77
68
TEIXEIRA, Tarcisio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 93. E-book.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso
em: 13 maio 2022.
69
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AP nº 0020355-41.2014.5.04.0022. Relator: Joao
Alfredo Borges Antunes de Miranda, 23 de junho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.
trt4.jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/X03ROgFQZCwd5Fl0v-f9yQ?&qp=valora%C3%A7%
C3%A3o+de+prova+digital%3B+prints%3B. Acesso em: 22 maio 2022.
70
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AP nº 0020355-41.2014.5.04.0022. Relator: Joao
Alfredo Borges Antunes de Miranda, 23 de junho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.
trt4.jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/X03ROgFQZCwd5Fl0v-f9yQ?&qp=valora%C3%A7%
C3%A3o+de+prova+digital%3B+prints%3B. Acesso em: 22 maio 2022.
78 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022
A prova trazida aos autos nesta situação foi considerada válida, porque,
neste caso, o recorrente não impugnou tal prova no momento oportuno de
71
CORREIA, Miguel Pupo. Sociedade de informação e o direito: a assinatura digital. Disponível em:
http://www.advogado.com/internet/zip/assinatu.htm. Acesso em: 13 maio 2022.
72
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. ROR.Sum. 0020714-07.2019.5.04.0251. Relatora:
Maria Silvana Rotta Tedesco, 22 de julho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.
jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/9wOJnjtObhODrg3GzAf9VA?&qp=valora%C3%A7%C3%
A3o+de+prova+digital%3B+prints%3B. Acesso em: 22 maio 2022.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022 79
instrução e não se desincumbiu do ônus probatório que era seu. Sendo as‑
sim, restou mantida a sentença proferida. Neste sentido, o Código Civil, em
seu art. 225, afirma que “as reproduções fotográficas, cinematográficas, os
registros fonográficos e, em geral, quaisquer outras reproduções mecânicas
ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem prova plena destes, se a parte,
contra quem forem exibidos, lhes impugnar a exatidão”.73
Também o Novo Código de Processo Civil assegura, em seu art. 369:
“as partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como
os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para
provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir
eficazmente na convicção do juiz”.74 Sendo assim, percebe-se que ambos
os diplomas legais aceitam o documento eletrônico como prova e, caso a
parte entenda que seja inverossímil, deverá impugnar para retirar-lhe a força
probatória.75
Já o acordão do ROT nº 0020663-58.2020.5.04.0025, fala sobre pe‑
dido para reforma de decisão de primeiro grau quanto ao reconhecimento
de vínculo de emprego: “Reconhecido o vínculo de emprego por presentes
os pressupostos previstos nos artigos 2º e 3º da CLT”.76 Confessa indire‑
tamente, a parte recorrente, que “não lhe prestou serviços, mas sim para
Seletro, com endereço na Rua Riachuelo, empresa para a qual a deman‑
dada também presta serviços de consertos de equipamentos de salão de
beleza (v. ata de audiência, ID. 190e82c – Pág. 1)”. Desta forma, o Juízo
de primeiro grau decidiu:
73
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 95. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
74
“Art. 369” (BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF:
Presidência da República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022).
75
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 91. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
76
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. ROT nº 0020663-58.2020.5.04.0025. Relatora:
Vania Maria Cunha Mattos, 24 de novembro de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.
trt4.jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/-uh0VbMfZeMzwfA81PzpgA?&qp=valora%C3%A7
%C3%A3o%3B+invalidade%3B+eletr%C3%B4nico%3B+digital%3B+autenticidade%3B++facebook
%3B+e-mail%3B+instagram%3B+print&te=facebook. Acesso em: 22 maio 2022.
80 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022
77
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. ROT nº 0020663-58.2020.5.04.0025. Relatora:
Vania Maria Cunha Mattos, 24 de novembro de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.
trt4.jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/-uh0VbMfZeMzwfA81PzpgA?&qp=valora%C3%A7
%C3%A3o%3B+invalidade%3B+eletr%C3%B4nico%3B+digital%3B+autenticidade%3B++facebook
%3B+e-mail%3B+instagram%3B+print&te=facebook. Acesso em: 22 maio 2022.
78
“Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a
tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento” (BRASIL.
Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da
República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/
lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022).
79
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AP nº 0020392-03.2020.5.04.0008. Relator:
João Batista de Matos Danda, 01 de julho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.
jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/TBCXWHeMQ1MxOFVkqsJxjg?&qp=invalidade%3B+do
cumento+eletr%C3%B4nico%3B+documento+digital%3B+autenticidade%3B+whastapp%3B+faceb
ook%3B+e-mail%3B+instagram&tp=valora%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 22 maio 2022.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022 81
80
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AP nº 0020392-03.2020.5.04.0008. Relator:
João Batista de Matos Danda, 01 de julho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.
jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/TBCXWHeMQ1MxOFVkqsJxjg?&qp=invalidade%3B+do
cumento+eletr%C3%B4nico%3B+documento+digital%3B+autenticidade%3B+whastapp%3B+faceb
ook%3B+e-mail%3B+instagram&tp=valora%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 22 maio 2022.
81
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AP nº 0020392-03.2020.5.04.0008. Relator:
João Batista de Matos Danda, 01 de julho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.
jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/TBCXWHeMQ1MxOFVkqsJxjg?&qp=invalidade%3B+do
cumento+eletr%C3%B4nico%3B+documento+digital%3B+autenticidade%3B+whastapp%3B+faceb
ook%3B+e-mail%3B+instagram&tp=valora%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 22 maio 2022.
82 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022
que tais instrumentos digitais detêm autenticidade uma vez que pode ser
identificado quem o concebeu. Além do mais, o magistrado pode se utilizar
destes instrumentos, pois o art. 378 do Código de Processo Civil determina
que ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder Judiciário para o
descobrimento da verdade.82
Em mandado de segurança impetrado para reforma de decisão liminar,
a qual indeferiu pedido para que a empresa demandada se abstenha de
utilizar mão de obra empregada em dias de feriados, pois sem autorização
na convenção coletiva de trabalho.
82
“Art. 378”. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF:
Presidência da República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022.
83
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. MSCiv nº 0021005-13.2021.5.04.0000. Relatora:
Simone Maria Nunes, 02 de agosto de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.
br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/rt9LQTaj03i6HMggf0vGzw?&qp=valora%C3%A7%C3%A3
o%3B+invalidade%3B+eletr%C3%B4nico%3B+digital%3B+autenticidade%3B++facebook%3B+e-
mail%3B+instagram%3B+print&te=facebook. Acesso em: 22 maio 2022.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022 83
Nesta senda, pode-se perceber que apesar de o primeiro grau não ter
reconhecido a prova trazida aos autos, a r. Desembargadora em Juízo de
plantão entendeu que o print da postagem na referida rede social, da abertura
da empresa em dia de feriado, evidencia a verossimilhança das alegações
trazidas à inicial, restando, então, comprovado o direito pleiteado no man‑
dado de segurança, uma vez que era autêntica a prova trazida ao processo.
Diante da análise dos julgados acima, pode-se verificar que não há
controvérsia no que tange à utilização da prova digital, pois conforme já de‑
monstrado através de legislação pertinente, é possível se utilizar de qualquer
meio de prova moralmente legítimo.86
Com o uso massivo de computadores e demais aparelhos eletrônicos,
as evidências digitais podem e devem ser utilizadas, mesmo quando não
84
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. MSCiv nº 0021005-13.2021.5.04.0000. Relatora:
Simone Maria Nunes, 02 de agosto de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.
br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/rt9LQTaj03i6HMggf0vGzw?&qp=valora%C3%A7%C3%A3
o%3B+invalidade%3B+eletr%C3%B4nico%3B+digital%3B+autenticidade%3B++facebook%3B+e-
mail%3B+instagram%3B+print&te=facebook. Acesso em: 22 maio 2022.
85
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. MSCiv nº 0021005-13.2021.5.04.0000. Relatora:
Simone Maria Nunes, 02 de agosto de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.
br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/rt9LQTaj03i6HMggf0vGzw?&qp=valora%C3%A7%C3%A3
o%3B+invalidade%3B+eletr%C3%B4nico%3B+digital%3B+autenticidade%3B++facebook%3B+e-
mail%3B+instagram%3B+print&te=facebook. Acesso em: 22 maio 2022.
86
“Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente
legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se
funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz” (BRASIL. Lei nº 13.105, de
16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2015.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm.
Acesso em: 28 abr. 2022).
84 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022
5 Conclusão
A presente pesquisa abordou o tema de inovações tecnológicas na Jus‑
tiça do Trabalho, mais precisamente sobre as provas digitais, sua validade
e valoração dada pelo receptor da prova (juiz).
Junto das inovações tecnológicas, as possibilidades de dilação proba‑
tória também se modificaram dentro do processo do trabalho. Os atos jurí‑
dicos que eram antes, praticados e registrados em papel, hoje em dia são
feitos por meio de documentos eletrônicos. Há variadas formas de provar,
por meio digital, diversos fatos jurídicos que se realizam no mundo real. Po‑
rém, ainda discute-se a validade de tais documentos eletrônicos, uma vez
que há possibilidades de intervenção de terceiros durante a movimentação
e processamento dos dados.
A importância de se fazer uma análise acerca do tema proposto é por‑
que cada vez mais a era digital se faz presente no dia a dia da sociedade
como um todo – algo que não se difere dentro da ciência do Direito – já que
o próprio ordenamento jurídico brasileiro se utiliza de meios digitais para
tramitação de processos eletrônicos, sendo até mesmo um objetivo final
findar com o andamento de processos físicos, o que já ocorre em alguns
Tribunais e Foros espalhados pelo Brasil.
A sociedade vem convergindo para uma modalidade mais digital, pois
vêm sendo muito utilizadas as redes sociais e demais mídias eletrônicas.
Com esses avanços tecnológicos, o Direito tem que se adaptar às mudanças
e regulamentar os acontecimentos cibernéticos, tal como fez através da Lei
nº 12.965 de 2014, que estabeleceu o Marco Civil da Internet no Brasil.
Entretanto, as provas digitais, que são documentos produzidos de for‑
ma eletrônica, ainda carecem de uma legislação específica. Os legisladores
87
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 92. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022 85
manifestaram sua preocupação com tal questão quando foi criada a In‑
fraestrutura de Chaves Públicas Brasileira através da Medida Provisória nº
2.200-2 de 2001.
A assinatura digital nada mais é que um código anexado ou logicamente
associado a um arquivo eletrônico que comprova a autenticidade e a fidedig‑
nidade quanto à integralidade do conjunto de dados do referido documento,
de acordo com o original. Ou seja, a assinatura confere autenticidade através
do conhecimento do emitente do documento, tendo sido assinado por ele.
A partir do conhecimento de quem produziu determinado arquivo eletrônico,
haverá confiabilidade a tais documentos, porque a responsabilidade é da‑
quele que o emitiu.
Já a certificação eletrônica é uma ferramenta de codificação usada para
transformar mensagens em códigos, convertendo-a em caracteres indecifrá‑
veis.88 A chave mais utilizada é a criptografia assimétrica que concebe duas
chaves: uma chave privada, que codifica a mensagem, e outra chave pública,
que decodifica a mensagem, porém podendo ocorrer o inverso.
Com a Informatização do Processo, através da Lei nº 11.419 de 2006,
tais ferramentas também foram positivadas na referida Lei, bem como a de‑
finição de documento eletrônico. Estas foram um marco na utilização desses
documentos, pois puderam conferir autenticidade, integridade e validade
jurídica aos documentos produzidos eletronicamente.
Ocorre que, como mencionado anteriormente, não há uma legislação
específica que contenha um rol taxativo e permissivo de quais documentos
eletrônicos poderão ser utilizados como prova eletrônica. Tal situação im‑
plica na valoração dada às provas digitais, por parte do convencimento do
magistrado.
Através do princípio do livre convencimento motivado, o juiz poderá
escolher qual prova terá força para convencê-lo a decidir por determinado
direito, devendo, porém, fundamentar sua decisão. Dessa forma, aí entra o
problema subjetivo da valoração do juiz. Para isto, o magistrado deverá se
valer dos requisitos já previstos na legislação como, por exemplo, a possi‑
bilidade das partes empregarem qualquer meio legal, moralmente legítimo
e não ilícito, para influir de forma eficaz na convicção do juiz.
Nesta senda, pode-se perceber, através desta pesquisa, que o juiz tem
validado de forma positiva as provas digitais, pois estas estão de acordo
88
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. E-book.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso
em: 18 abr. 2022.
86 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022
Referências
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Paulo: Revista dos Tribunais, 1974.
ALMEIDA, Amador Paes D. Curso Prático de Processo do Trabalho. São Paulo:
Saraiva, 2020. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
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BERNARDO, Daniel Carvalho. Da admissibilidade das provas digitais em juízo, perante
o ordenamento pátrio. 2013. 65f. Monografia (Graduação em Direito) – Universidade
Federal Fluminense, Niterói/RJ, 2003. Disponível em: https://app.uff.br/riuff/
bitstream/handle/1/15511/Tcc%20DANIEL%20CARVALHO%20BERNARDO%20
matricula%2010807159.pdf?sequence=1. Acesso em: 22 abr. 2022.
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 125 de 2010. Brasília, DF: 2010.
Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/156. Acesso em: 25 abr. 2022.
BRASIL. Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
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BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação de
Leis do Trabalho. Brasília, DF: 1943. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 18 mar. 2022.
BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Perguntas mais frequentes.
Brasília, DF, 2020. Disponível em: http://conarq.arquivonacional.gov.br/conarq/
perguntas-mais-frequentes.html. Acesso em: 19 abr. 2022.
BRASIL. Lei nº 11.419 de 19 de dezembro de 2006. Dispõe sobre a informatização
do processo judicial; altera a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de
Processo Civil; e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11419.htm. Acesso em: 24 abr. 2022.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022 87
88 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022
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SOUSA, André Pagani de; CARACIOLA, Andrea Boari; ASSIS, Carlos Augusto de;
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90 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022
RELATÓRIO
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário,
em que são partes: SOCIEDADE DE ENSINO SUPERIOR ESTÁCIO DE SÁ
LTDA, como recorrente, e MARCIO AURELIO FIGUEIREDO DOS SANTOS,
como recorrido.
Recorre a reclamada pelo ID d2ce342, inconformada com a sentença
de ID 6aa6778, complementada pela decisão de ID 8c7962d, proferida pela
MMª Juíza Astrid Silva Brito, da 68ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que
julgou procedente em parte o pedido e acolheu os embargos de declaração
opostos pelo autor sob ID 3d34b29.
Pugna pela reforma da sentença, a fim de que seja afastado o enqua‑
dramento do autor como professor, excluindo-se a condenação ao pagamento
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 93-110, outubro 2022 93
MÉRITO
RECONHECIMENTO DAS ATIVIDADES DE DOCENTE. IMPOSSIBILIDADE.
Insurge-se a ré contra a r. sentença de primeiro grau, no ponto em que
reconheceu, tal como alegado na inicial, haver o autor exercido a docência,
como professor auxiliar, durante suas atividades como advogado orientador
de estágio.
Afirma serem distintas as tarefas exercidas pelo autor, na função de
advogado orientador, daquelas que incumbem ao professor, cabendo-lhe
apenas auxiliar e supervisionar os estagiários no atendimento ao público que
busca os serviços do núcleo, orientando-os quanto à elaboração de peças
processuais e no acompanhamento dos processos, além de atuar como
procurador dos clientes que acorrem ao NPJ.
Aduz que “As atividades se dão, em sua maioria, no escritório modelo.
Outras atividades são oferecidas, porém, de cumprimento facultativo, como
por exemplo: palestras, visitas a órgãos públicos, atuação como conciliador
etc.”, não havendo transmissão de conhecimento teórico, nem aplicação de
prova ou teste, já que a avaliação do aluno dá-se pelo simples cumprimento
da carga horária.
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R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 93-110, outubro 2022 95
O pedido foi acolhido pelo MM. Juízo de primeiro grau sob os seguintes
fundamentos:
“(...)
Passo à análise:
O contrato de trabalho é um contrato realidade. Assim, inde-
pendente da nomenclatura do cargo, o que deve prevalecer é
a realidade, ou seja, as atividades de fato desenvolvidas pelo
empregado é que determinam o cargo exercido (artigo 9º da CLT).
A prova documental produzida nos autos demonstra que o
reclamante exercia atividade de docente. Isso porque, minis-
trava aulas a respeito das matérias afetas a prática jurídica
da advocacia, o que envolvia a avaliação de alunos intitulados
“simulados”, bem como realizava aferições orais dos mesmos,
conforme documentos juntados com a petição inicial (fotos em
sala de aula – ID 447aac4; quadro de atividades – ID 63e0772
– Pág. 3; simulados – ID 3916935 e certificado aferição oral –
ID de2e245 – Pág. 2 e 4).
No mesmo sentido, a prova oral produzida pelo empregado,
através das testemunhas Lucia e Gabrielle, que confirmam a
tese da inicial.
Vejam-se os depoimentos, com especial atenção aos trechos
destacados:
Depoimento Lúcia F. Portella: “que trabalhou na ré de agosto de
2015 a dezembro de 2019, na função de Auxiliar Administrativo
no Núcleo de Prática jurídica até que, no final de 2018, entrou
em gozo de licença médica, tendo alta em julho de 2019 e
foi trabalhar na secretaria; que no Núcleo de prática jurídica,
o reclamante era Professor e Advogado Orientador; que o
reclamante ministrava as aulas de Direito de Processo Civil
e civil para alunos do 8º, 9º e 10º períodos, dava palestras,
aplicava exercícios, provas, fazia slides para apresentação
de conteúdo, tirava dúvida, acompanhava os atendimentos
dos alunos, atendia os assistidos que procuravam o núcleo;
que o reclamante trabalhava das 11h30min às 20h30min, de
segunda a sexta; que o reclamante dava aulas de 13h30min
até 20h30min, elaborava plano das aulas que ministrava; que
o reclamante tinha autonomia para reprovar alunos, critério
para reprovação era o número de faltas, e pelo que sabe, é de
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que toda a sua jornada era dedicada às aulas, não há como ser deixada de
lado sua confissão, vinda desde a inicial, e que foi, ainda, confirmada pela
prova testemunhal, havendo a sua primeira testemunha (fl. 973) declarado
que parte da jornada era dedicada ao atendimento dos assistidos que pro‑
curavam o núcleo, certo que, embora iniciada a jornada às 11h30, as aulas
seriam dadas apenas a partir das 13h30.
Considerando, portanto, que, durante essa jornada, havia ainda o gozo
do intervalo de uma hora para refeição e descanso, reconhecido pelo autor
desde a inicial, tenho que, em verdade, laborava o autor durante apenas
5h30 por dia no exercício da função de professor, o que perfaz somente 6,5
horas-aula por dia, cabendo o pagamento de diferenças salariais apenas
quanto a estas.
DOU PROVIMENTO PARCIAL, a fim de limitar o reconhecimento do exer‑
cício da função de professor em apenas 5h30 por dia, correspondentes a
6,5 horas-aula diárias, cabendo o pagamento de diferenças salariais apenas
quanto a estas.
HORAS EXTRAS
Decidiu o MM. Juízo de primeiro grau condenar a ré, também ao paga‑
mento de horas extras, assim consideradas as aulas conferidas a partir da
6ª hora-aula diária, a teor da antiga redação do artigo 318 da CLT, vigente
à época do contrato de trabalho.
Insurge-se a ré, insistindo na tese de que o reclamante não era professor
(o que já foi analisado no tópico anterior) ou, assim não se entendendo, sob
a alegação de que seria cabível a aplicação da redação atual do artigo 318
consolidado, que admitiria a prestação de 44 horas semanais de trabalho.
MERECE PARCIAL REFORMA a sentença, apenas no que se refere à
quantidade de horas extras devidas.
Não há que se falar em aplicação retroativa da reforma imposta pela
Lei 11.415/17 sobre o artigo 318 da CLT, cuja nova redação apenas pas‑
sou a ter aplicação a partir de sua vigência, ainda que sobre os contratos já
então existentes (ponto sobre o qual divirjo do entendimento manifestado
pelo MM. Juízo a quo). Não se aplica lei material nova sobre situações já
consolidadas antes de sua vigência, o que não possui respaldo legal algum,
além de prejudicar o direito adquirido da parte.
Todavia, considerando-se que o reclamante exercia dupla função na ré,
a de advogado e a de professor, e que esta última era realizada durante ape‑
nas 5h30 por dia, ou 6h30 horas-aula por dia, a condenação ao pagamento
de horas extras, segundo os mesmos parâmetros já definidos pelo MM.
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HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
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Conclusão do recurso
ACÓRDÃO
ACORDAM os Desembargadores que compõem a Segunda Turma do
Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, CONHE‑
CER do recurso da reclamada e, no mérito, DAR-LHE PARCIAL PROVIMENTO,
a fim de 1) limitar o reconhecimento do exercício da função de professor em
apenas 5h30 por dia, correspondentes a 6,5 horas-aula diárias, cabendo
o pagamento de diferenças salariais apenas quanto a estas, e 2) limitar a
condenação ao pagamento de horas extras, segundo os mesmos parâme‑
tros já definidos pelo MM. Juízo de primeiro grau, aos 30 minutos diários
que excederam o limite de 6 horas-aula estabelecido anteriormente pela
lei. Novo valor de custas fixado em R$ 8.000,00 (oito mil reais), calculado
sobre o valor ora arbitrado à condenação remanescente, de R$ 400.000,00
(quatrocentos mil reais). A Exmª Desembargador Marise Costa Rodrigues
acompanhou a conclusão da i. Relatora, com ressalva de entendimento sobre
o cabimento da condenação em honorários ao beneficiário de gratuidade de
justiça e julgamento da ADI 5766.
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RELATÓRIO
Vistos os autos eletrônicos.
Nos termos do acórdão (Id a631ab7), esta Eg. 4ª Turma deu provimento
parcial ao recurso da ré para: (I) declarar que, pelo período de 01/07/2014
a 23/02/2016, em que a exposição ao agente insalubre foi identificada,
não é devido o adicional de insalubridade pelos onze meses em que o creme
protetivo fornecido era suficiente, à razão de um mês a partir do fornecimento
de cada novo pote, como exposto no laudo pericial, conforme se apurar em
liquidação, de tal sorte que a condenação se restringe ao período remanes‑
cente, e não ao período integral de 01/07/2014 a 23/02/2016; (II) autorizar
a dedução de valores comprovadamente pagos a título de adicional de insa‑
lubridade em grau médio, conforme contracheques; e deu parcial provimento
ao recurso do autor para acrescer à condenação: (I) diferenças de horas in
itinere apenas pelos dias de jornada cumprida nos turnos das 16:00h às
01:00h e das 19:00h às 01:00h, como anotado nos cartões de ponto, con‑
siderando-se a jornada diária total de 75 (setenta e cinco) minutos, conforme
se apurar em liquidação, com adicional de 50% e reflexos em repouso sema‑
nal remunerado, aviso prévio, décimo terceiro salário, férias acrescidas de
um terço e FGTS acrescido da indenização de 40%, observando-se a Súmula
264 do TST quanto à base de cálculo; (II) pelo período de 16/05/2015 até
a dispensa do autor, horas extras excedentes à 6ªdiária ou à 36ª semanal,
como for mais favorável ao autor, com adicional convencional ou, na falta,
de 50%, segundo o divisor 180, além de diferenças de horas extras pagas
pela aplicação do divisor 180, com reflexos em repouso semanal remune‑
rado, aviso prévio, décimo terceiro salário, férias acrescidas de um terço e
FGTS acrescido da indenização de 40%, observando-se a Súmula 264 do TST
quanto à base de cálculo, autorizada a dedução de valores comprovadamente
pagos a idêntico título no período; (III) 15 (quinze) minutos anteriores e 20
(vinte) minutos posteriores à jornada registrada, com adicional convencional
ou, na falta, de 50%, com reflexos em repouso semanal remunerado, aviso
prévio, décimo terceiro salário, férias acrescidas de um terço e FGTS acres‑
cido da indenização de 40%, observando-se a Súmula 264 do TST quanto
à base de cálculo, com adoção do divisor 220 pelo período contratual até
15/05/2015 e do divisor 180 pelo período contratual de 16/05/2015 até
o fim do vínculo; (IV) diferenças de horas extras decorrentes da observância
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ADMISSIBILIDADE
Considerando as disposições do art. 15, §1º, II, da Resolução 09/15,
deste TRT, bem como o disposto na citada decisão de Id 5fe9fd6, admito
o incidente em questão.
MÉRITO
Conforme já relatado, em razão da decisão do Supremo Tribunal Fe‑
deral no julgamento do Recurso Extraordinário com Agravo nº 1.121.633 –
Tema 1.046 –, foi determinada a remessa dos autos a esta Eg. 4ª Turma
“na forma e para os fins do art. 13-A da Resolução 09/2015 do TRT da 3ª
Região.” (Id 5fe9fd6).
Dispõe o artigo 7º, da CR, os direitos dos trabalhadores urbanos, rurais
e domésticos, em rol que estabelece o patamar civilizatório mínimo e que
deve ser elastecido para a melhoria da condição social, conforme expresso
no caput da referida norma constitucional, que reconhece o caráter constitu‑
cional da progressividade e do não retrocesso dos direitos sociais.
Dentre os direitos trabalhistas constitucionais, extrai-se que a validade
dos acordos e as convenções coletivas é reconhecida pelo artigo 7º, XXVI,
cabendo-lhes estabelecer as cláusulas e condições de trabalho para obser‑
vância nos contratos, respeitados os direitos sociais erigidos também à
condição de absolutamente indisponíveis.
A negociação coletiva compõe o rol dos princípios fundamentais da
Organização Internacional do Trabalho e é objeto das Convenções Interna‑
cionais 98 e 154, cujas normas têm status de supralegalidade, segundo
entendimento adotado pelo Supremo Tribunal Federal e é extraído do artigo
5º, §2º, da CR. Nesse contexto, destaco o teor do artigo 4º, da Convenção
98, da OIT, in verbis:
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[..]
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Conclusão do recurso
Acórdão
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ACÓRDÃO
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Intime-se.
Porto Alegre, 13 de setembro de 2022 (terça-feira).
RELATÓRIO
FUNDAMENTAÇÃO
1. PRESCRIÇÃO.
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Examina-se.
Na inicial, o reclamante diz que (ID. 8e2b4a6, fl. 2 e seguintes pdf):
[...]
Assim, até o ano de 2017, a Reclamada pagou o pensiona-
mento. Ocorre que, depois do acidente, o Reclamante nunca
mais conseguiu exercer suas funções, percebendo benefício
por auxilio doença até os dias de hoje.
Cumpre referir que, além de limitação de movimentos no ombro
direito, o Reclamante iniciou com amortecimento dos dedos das
mãos e dor na coluna vertebral.
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 121-128, outubro 2022 123
[...]
Assim, frente a incapacidade profissional desde o acidente de
trabalho, requer a condenação ao pagamento da indenização
por dano material desde o último pagamento da Reclamada no
ano de 2017, tendo em vista que está totalmente incapacitado
para o trabalho até os dias atuais.
No mérito
Da prescrição
O reclamado alega a existência de prescrição bienal e total.
O reclamante entende não aplicável a prescrição.
Tem razão o reclamado.
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126 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 121-128, outubro 2022
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 121-128, outubro 2022 127
VOTOS
PARTICIPARAM DO JULGAMENTO:
DESEMBARGADOR MANUEL CID JARDON (RELATOR)
DESEMBARGADORA FLÁVIA LORENA PACHECO
DESEMBARGADORA VANIA MATTOS
128 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 121-128, outubro 2022
PENHORA – FGTS
RELATÓRIO
A Juíza ELYSANGELA DE SOUZA CASTRO DICKEL, em exercício na MMª.
5ª Vara do Trabalho de Brasília-DF, por intermédio da decisão lançada no
ID 2a0c6e0, houve por bem negar o pedido de penhora do saldo da conta
vinculada de FGTS de titularidade da executada.
Inconformada, a exequente interpõe agravo de petição (ID. 45209e2).
Ausente a contraminuta.
Dispensada a remessa ao Ministério Público do Trabalho, na forma
regimental.
É o relatório.
FUNDAMENTAÇÃO
ADMISSIBILIDADE
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MÉRITO
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Por seu turno, a Lei nº 8.03890, que dispõe sobre o Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço, no seu art. 2º, assim preceitua:
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 129-132, outubro 2022 131
Acórdão
Por tais fundamentos,
ACORDAM os Desembargadores da 3ª Turma do Tribunal Regional do
Trabalho da 10ª Região, em sessão turmária, aprovar o relatório, conhecer
do agravo de petição e, no mérito, negar-lhe provimento, tudo nos termos
do voto do Desembargador Relator.
Julgamento ocorrido à unanimidade de votos, estando presentes os
Desembargadores Ricardo Alencar Machado (Presidente), Pedro Luís Vicen‑
tin Foltran e Brasilino Santos Ramos; e o Juiz Convocado Antonio Umberto
de Souza Júnior.
Ausentes os Desembargadores José Leone Cordeiro Leite e Cilene Fer‑
reira Amaro Santos; ambos em gozo de férias regulamentares.
Representando o Ministério Público do Trabalho o Procurador do Traba‑
lho Carlos Eduardo Carvalho Brisolla.
Secretário da Turma, o Sr. Luiz Rodrigues Pereira da Veiga Damasceno.
Coordenadoria da 3ª Turma;
Brasília/DF, 31 de agosto de 2022 (data do julgamento).
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1. RELATÓRIO
Trata-se de recurso ordinário interposto pela reclamante em face da sen‑
tença no Id. e593357, complementada pela decisão de embargos declaratórios
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no Id. a48ae6a, proferida pelo Exmo. Juiz Roque Messias Calsoni, que julgou
improcedentes os pedidos, tendo deferido o benefício da justiça gratuita e
condenado a reclamante ao pagamento de honorários advocatícios de 5%
em favor da reclamada, determinando a suspensão de exigibilidade da verba
honorária, nos termos do art. 791-A, §4º, da CLT.
A reclamante interpôs o recurso ordinário no Id. 94af907, suscitando
preliminar de nulidade da sentença por negativa de prestação jurisdicional
e requerendo a reforma da sentença para julgar a total procedência dos
pedidos da exordial.
A primeira e a segunda reclamada apresentaram contrarrazões no Id.
fda233b.
É o relatório.
2. FUNDAMENTAÇÃO
2.1. CONHECIMENTO
Preenchidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso
ordinário da reclamante.
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136 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 133-142, outubro 2022
2.3. MÉRITO
2.3.1. GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO DE 40%. ART. 62, §ÚNICO, DA CLT
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R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 133-142, outubro 2022 139
140 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 133-142, outubro 2022
R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 133-142, outubro 2022 141
3. ACÓRDÃO
142 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 133-142, outubro 2022
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CITAÇÃO
466/12 – EMPRESA EM LOCAL INCERTO E NÃO SABIDO. CITAÇÃO POR
EDITAL. POSSIBILIDADE. Considerando que houve tentativas frustradas de
localização da 1ª reclamada, SOS Assessoria e Serviços Eirelli, nos ende‑
reços fornecidos pelo autor, endereços estes que, ressalte-se, constam
dos registros oficiais da parte perante a Junta Comercial (ID dad85ba) e a
Receita Federal do Brasil (ID 71c4787), a citação por edital é mecanismo
plenamente cabível nos autos, nos termos do artigo 841, §1º, da CLT. Re‑
curso a que se dá provimento.
(TRT 2ª R – 1000675-74.2021.5.02.0374 RO – 2ª T – Rel.ª Des.ª Sonia
Maria Forster do Amaral – Publ. 02/09/2022)
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da Lei nº 11.101/2005, pois a matéria debatida nos autos não diz respeito
à execução fiscal propriamente dita. Agravo de petição da União ao qual se
nega provimento, em razão da incompetência da Justiça do Trabalho para
prosseguir com a execução do crédito previdenciário, de cunho acessório
ao trabalhista.
(TRT 3ª R – 0130500-74.2008.5.03.0129 AP – 10ª T – Rel.ª Des.ª Taisa
Maria M. de Lima – Disp. 21/09/2022)
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EMPREGADO VENDEDOR
466/26 – EMPREGADO VENDEDOR. COMISSÃO. VALOR DE VENDA. DIREI‑
TO À PARCELA. TRANSAÇÃO ULTIMADA. ESTORNO. CANCELAMENTO PELO
CLIENTE. PARTICIPAÇÃO OU EXECUÇÃO DE ATIVIDADE ACESSÓRIA. ACRÉS‑
CIMO NA REMUNERAÇÃO. PROVA EMPRESTADA. JUÍZO DE ADMISSIBILI‑
DADE. OBRIGAÇÃO DE FAZER. CONVERSÃO EM PECÚNIA. 1. O empregado
vendedor tem direito ao pagamento da comissão calculada sobre o valor de
venda acertado com o cliente, na conformidade dos arts. 2º, caput, da Lei
nº 3.207, de 1957, e 466, caput e §1º, da CLT, de maneira que é ilegal a
parte patronal, com fulcro em regulamento da empresa, subtrair o “custo do
produto” para obter parcela que denomina “lucro bruto” a fim de utilizá-la
na base de cálculo da comissão, inclusive porque significa que divide com
o trabalhador o risco da atividade econômica, cujo ônus pertence somente
à empresa, consoante o art. 2º, caput, da CLT. 2. Vender consiste na troca
de um bem por dinheiro, de modo que é razoável concluir que essa transa‑
ção, ou seja, operação de compra e venda, consoante os arts. 466, caput,
da CLT e 2º, caput, da Lei nº da Lei nº 3.207, de 1957, é ultimada quando
o comprador aceita a obrigação de pagar o preço, e não quando ocorre o
recebimento do pagamento. 3. O empregado vendedor utiliza de tempo da
jornada de trabalho para atender o cliente, conversar sobre a intenção de
compra e esclarecer aspectos do produto, do valor, da forma e do meio de
pagamento e fechar o negócio, cuja ilação sobre o procedimento é autori‑
zada pelo art. 375 do CPC, razão pela qual, ultimada a transação, com o
aceite do cliente na aquisição do produto ou do serviço, está perfectibilizado
o fato gerador do direito ao pagamento da comissão, na conformidade dos
arts. 466, caput, da CLT e 2º, caput, da Lei nº 3.207, de 1957. 4. Sem que
exista o aceite da obrigação, que no plano fático normalmente é materia‑
lizado no acordo pelo qual as partes se sujeitam ao cumprimento ou pelo
pagamento à vista ou a prazo, não é ultimada a transação e, por isso e em
face das regras legais antes mencionadas, não há respaldo no estorno da
comissão na hipótese de cancelamento por causa de desistência ou de troca
pelo comprador, pois o trabalho foi prestado pelo empregado vendedor. 5.
O direito do empregador de estornar a comissão, verificada a insolvência do
comprador, conforme prevê o art. 7º da Lei nº 3.207, de 1957, depende de
processo judicial, mediante prolação de sentença declaratória que o devedor
tem que adimplir prestação superior ao seu rendimento, na conformidade
do art. 955 e seguintes do Código Civil, cujo ônus de provar essa causa no
cancelamento da venda é patronal, a teor do art. 818, II, da CLT, pois se
trata de fato impeditivo do direito pleiteado de pagamento da comissão. 6.
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lapso máximo de três semanas, norma inscrita no art. 6º, parágrafo único,
da Lei nº 10.101/2000, em favor de todos trabalhadores do comércio em
geral. Precedentes. 2. Estando o acórdão embargado em sintonia com esse
entendimento, inviável conhecer do Recurso de Embargos. Embargos não
conhecidos.
(TST – E-ED-RR-982-80.2017.5.12.0059 – SBDI 1 – Rel.ª Min.ª Maria Cristina
Irigoyen Peduzzi – Publ. 17/06/2022)
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GORJETA
466/33 – GORJETA. TAXA DE SERVIÇO COBRADA DOS CLIENTES. Compro‑
vada nos autos a existência de taxa de serviço cobrada na conta do cliente,
a qual configura-se como gorjeta, mister se faz o repasse aos empregados,
por força do disposto no art. 457, caput e §3º, da CLT.
(TRT 12ª R – 0001356-03.2020.5.12.0056 – 3ª C – Rel.ª Juíza Maria Beatriz
Vieira da Silva Gubert – Ass. 07/09/2022)
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INSALUBRIDADE – DIREITO
466/36 – INSALUBRIDADE. DIREITO. PERCENTUAL. TEMA 1046. INDISPONI‑
BILIDADE. Em recente decisão do ARE de número 1121633, o STF apreciou
o Tema 1.046, com repercussão geral, firmando entendimento de que as
normas coletivas podem dispor acerca de direitos trabalhistas, limitando-os
ou afastando-os, sem a necessidade de prever compensações (princípio do
não-retrocesso social), respeitados os direitos absolutamente indisponíveis. A
insalubridade é direito assegurado pelo artigo 7º, XXIII, da Lei Maior, e, como
tal, não pode ser transacionada por norma coletiva, quer quanto ao direito
em si, quer quanto ao percentual respectivo, notadamente quando a norma
coletiva que prevê a redução do grau de insalubridade é anterior à alteração
perpetrada pela Reforma Trabalhista, como constante do artigo 611-A, XII,
CLT. Interpretação sistemática conferida ao Tema 1046, artigo 7º, XXIII, da
Carta Magna, artigo 611-A, XII, CLT, e artigo 192, CLT.
(TRT 12ª R – 0000116-17.2021.5.12.0032 – 3ª C – Rel.ª Juíza Maria Beatriz
Vieira da Silva Gubert – Ass. 07/09/2022)
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LIDE SIMULADA
466/41 – LIDE SIMULADA. CARACTERIZAÇÃO. Caracteriza-se a lide simulada
quando presente conluio entre as partes ou seus procuradores para conse‑
cução de objetivo ilícito. Tendo o trabalhador declarado que não conhecia
seu procurador, sequer lembrando-se do nome dele, bem assim que ele te‑
ria sido indicado pelo proprietário da empresa ré, tem-se por evidenciados
elementos que permitem concluir pela existência de lide simulada, com o
único objetivo de ver operada a quitação total do contrato de trabalho, com
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PENHORA – REAVALIAÇÃO
466/45 – BEM PENHORADO. VALOR DA AVALIAÇÃO. REVISÃO. A avaliação
efetuada por oficial de justiça goza de presunção relativa de veracidade,
porquanto seus atos são revestidos de fé pública. O artigo 873 do CPC,
aplicável subsidiariamente ao processo do trabalho, dispõe que nova ava‑
liação é admitida quando qualquer das partes arguir, fundamentadamente,
a ocorrência de erro na avaliação ou dolo do avaliador; se verificar, poste‑
riormente à avaliação, que houve majoração ou diminuição no valor do bem;
ou se o juiz tiver fundada dúvida sobre o valor atribuído ao bem na primeira
avaliação. Não se verificando nenhuma das hipóteses descritas no presente
caso, impõe-se o indeferimento de perícia para nova avaliação.
(TRT 3ª R – 0011632-58.2014.5.03.0055 AP – 8ª T – Rel. Des. Sérgio
Oliveira de Alencar – Disp. 20/09/2022)
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REPETIÇÃO DA PROVA
466/50 – NOVA PERÍCIA. NÃO CABIMENTO. Incabível o pedido de realização
de nova perícia ou complementação, posto que não se justifica por mero
inconformismo da parte com o resultado que lhe foi desfavorável e quando
a matéria foi suficientemente esclarecida com a apresentação de laudo
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172 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 143-172, outubro 2022
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174 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 179-180, outubro 2022