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REPOSITÓRIO AUTORIZADO DE JURISPRUDÊNCIA TST:

08/95

ano 39 – n. 466 – outubro de 2022


Belo Horizonte – p. 1‑174 – ISSN 0103‑5487
R. Fórum Just. do Trabalho

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REVISTA FÓRUM JUSTIÇA DO TRABALHO
© 2022 Editora Fórum Ltda.
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eletrônico ou mecânico, inclusive através de processos xerográficos, de fotocópias ou de gravação, sem permissão por
escrito do possuidor dos direitos de cópias (Lei nº 9.610, de 19.02.1998).

Os conceitos e opiniões expressas nos trabalhos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores.

DIRETORES

Henrique Francisco Schlossmacher


Simone Maria Schlossmacher

CONSELHO EDITORIAL

Benedito Calheiros Bomfim


Carlos Henrique Bezerra Leite
Eugênio Hainzenreder Júnior
Francisco Rossal de Araújo
Gilberto Stürmer
Gustavo Filipe Barbosa Garcia
Ingo Wolfgang Sarlet
Jorge Luiz Souto Maior
Luiz Henrique Sormani Barbugiani
Maria Cristina Irigoyen Peduzzi
Mariângela Guerreiro Milhoranza
Maurício de Carvalho Góes
Renato Kliemann Paese
Ricardo Carvalho Fraga
Rodrigo Wasem Galia
Rúbia Zanotelli de Alvarenga
Sergio Pinto Martins

Luís Cláudio Rodrigues Ferreira


Presidente e Editor

Rua Paulo Ribeiro Bastos, 211 – Jardim Atlântico – CEP 31710‑430


Belo Horizonte – Minas Gerais – Tel.: (31) 99412-0131
www.editoraforum.com.br / E‑mail: editoraforum@editoraforum.com.br

Coordenação editorial: Leonardo Eustáquio Siqueira Araújo


Aline Sobreira de Oliveira
Projeto gráfico: Walter Santos

Impressa no Brasil / Printed in Brazil / Distribuída em todo o Território Nacional

Tiragem: 45 exemplares

R454 Revista Fórum Justiça do Trabalho. – ano 33, n. 392, (ago. 2016) – . –
Belo Horizonte: Fórum, 2016‑

Mensal
ISSN 0103‑5487

Publicada do v. 1, n. 1, jan. 1984 ao v. 33, n. 391, jul. 2016


pela HS Editora, Porto Alegre/RS.

1. Direito público. 2. Direito do trabalho. 3. Legislação do


trabalho. I. Fórum.

CDD: 341
CDU: 342

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COLABORADORES

Adalberto Jacob Ferreira – Adriano Marcos Soriano Lopes – Ailton Borges de Souza – Alan Coelho Furtado Gonçalves –
Alekson Teixeira Lima – Alessandra Anchieta Moreira Lima de Aguiar – Alessandra de La Vega Miranda – Alexandre
Henrique Zangali – Alexandre Moura Lima Neto – Alexandro Meneses Aragão – Aline Maciel Silva Dias – Aline Soares
Arcanjo – Allan Edson Moreno Fonseca – Almiro Eduardo de Almeida – Amanda Borges da Silva – Amanda Fernandes
F. Broecker – Amanda Rosales Gonçalves Hein Hainzenreder – Amaury Rodrigues Pinto Jr. – Anabel Ballim de Conto –
Ana Carolina do Prado L. Petrucci – Ana Carolina Soria Vulcano – Ana Clara Santos Borges de Barros – Ana Lidia Di
Salvo – Ana Luísa Vallim Machado – Ana Luiza Mendes Valadares – Ana Luiza Ramos Oliveira – Ana María Chocrón
Giráldez – Ana Paula Freire Rojas – Ana Paula Schenckel – Anelise Crippa – André Bono – André Gonçalves Zipperer –
André Jobim de Azevedo – André Sousa Pereira – Antônia Mara V. Loguercio – Antonio Escosteguy Castro – Antonio
Ojeda Avilés – Antônio Raimundo de Castro Queiroz Jr. – Ari Pedro Lorenzetti – Ariane Stopassola – Ariel Stopassola –
Arion Sayão Romita – Armando Pizetta – Artur da Silva Ferreira – Átila da Rold Roesler – Bárbara Petersen Rosa
Raphaelli – Ben‑Hur Silveira Claus – Bento Adeodato Porto – Bernadete Kurtz – Bernardo Mata Schuch – Bianca Neves
Bomfim – Bóris Chechi de Assis – Breno Hermes Gonçalves Vargas – Bruna Casimiro Siciliani – Bruna Dier – Bruna
Zanandréa Nesello – Bruno M. Colela Maciel – Bruno Peres Rossoni – Caio Flávio de Albuquerque Costa – Camila
Ferraz Ferreira – Camila Izis A. B. Paul – Camilla Mattos Paolinelli – Carla Peres Cavassani – Carlos Alberto Begalles –
Carlos Alberto Molinaro – Carlos Alberto Robinson – Carlos Eduardo O. Dias – Carlos Wagner Araújo N. da Cruz – Carlota
Bertoli Nascimento – Carmen Camino – Carmen Passos Custódio – Carolina Spack Kemmelmeier – Cássio de Lima
Lopes – Catia Helena Yamaguti Barbugiani – Celso Rodrigues – Cesar Roberto V. Pergher – Christie Barboza Severo –
Cindi Marjorie Trindade Palma – Claudia Angnes – Cláudia Tessmann – Cláudio Antônio Cassou Barbosa – Cláudio
Araujo Santos dos Santos – Cláudio Armando Couce de Menezes – Cláudio Dias de Castro – Cláudio D. Lima Filho –
Cláudio do Nascimento Mendonça Júnior – Cláudio Hiran Alves Duarte – Cláudio Scandolara – Clevio Luiz da Silva –
Cristina Alves da Silva Braga – Cristiane Catarina Fagundes de Oliveira – Daiane Margarete Krügger – Danielle Bezerra
da Silva – Dariana Rauber Sarlet – Dartagnan Ferrer dos Santos – David da Costa Lopes – Deborah Harumi Kudo da
Silva – Décio Scaravaglioni – Denise Fincato – Denise Maria de Barros – Denise Pires Fincato – Deyse Jacqueline
Zimmermann – Diego Martignoni – Dienifer Ferreira da Costa – Dinah Lemos – Diogo Antonio P. Miranda – Domenico
Rafael Camerini – Dominick de Ávila Barroso – Edgar de Medeiros Pinto – Edilton Meireles – Edsom Dametto – Edson
José Prizon – Eduardo Brol Sitta – Eduardo Piantá – Eduardo Tito da Luz – Elias Medeiros Vieira – Eliete Thomazini
Perin – Elis Mary Avelina de Azevedo – Elizabet Leal da Silva – Elza Mara M. Oliveira – Enio Duarte Fernandez Jr. –
Emílio Eduardo Pereira Pires – Enoque Ribeiro dos Santos – Érica Fernandes Teixeira – Erika Costa de Queiroz – Erika
dos Santos Farias Osternack – Erick Gonçalves Afonso Maués – Eugênio Hainzenreder Júnior – Euler Sinoir de
Oliveira – Evandro de Oliveira Belém – Eveline de Andrade Oliveira – Evellyn Thiciane M. Coêlho Clemente – Everton
Molgaro da Rocha – Fábio Ferronato Mattei – Fabrício Luiz Zuffo – Felipe Augusto Silva Custódio – Felipe Cittolin
Abal – Felipe Mendonça – Fernanda Antunes Marques Junqueira – Fernanda C. Batista Rodello – Fernanda da Silva
Machado – Fernanda dos Santos Nunes – Fernanda Giannasi – Fernanda Giardini Pogorelsky – Fernanda Machado –
Fernanda Marders – Fernanda Oltramari – Fernanda Onzi Cavagnoli – Fernanda Pinheiro Brod – Fernando Augusto Melo
Colussi – Fernando Clamer dos Santos Júnior – Fernando Corrêa Martins – Fernando Mundstock Steffen – Fernando
Rubin – Fernando Schnell – Flávia Francisca Moraes da Costa Pinto – Flávia Lorena Pacheco – Flávia M. Guimarães
Pessoa – Flávio da Costa Higa – Francisco das C. Lima Filho – Francisco de Assis Pessoa Júnior – Francisco Ferreira
Jorge Neto – Francisco Paludo – Francisco Rossal de Araújo – Gabriel de Oliveira de Mello – Gabriela Neves Delgado –
Gabriella Santos Paines – Gelson Amaro de Souza – Gidião Pereira de Castro – Gilberto Souza dos Santos – Gilberto
Stürmer – Gilmara Pavão Segala – Gilviano Marcos de Queiroz – Giovanna Behar Ramos – Giovane Canonica – Giovani
Bortolini – Gisele Ferreira de Araújo – Gislaine Cordeiro da Silva – Gissiane Bruno da Silva – Glaucia G. Vergara
Lopes – Graciane Saliba – Graziella Piccoli Stalivieri – Guilherme Wunsch – Gustavo A. Vogel Neto – Gustavo Athaide
Halmenschlager – Gustavo Filipe Barbosa Garcia – Gustavo Luchi da Silva – Gustavo M. de Freitas – Gustavo Melo
Bueno – Gustavo Trierweiler – Gustavo Pereira Farah – Hamilton Donizeti R. Fernandez – Heitor Barbieri Cracco Neto –
Helder Martinez Dal Col – Helen Andressa Suriz D’Amico – Helena Kugel Lazzarin – Herick Vazquez Soares – Hildo
Nicolau Peron – Humberto Alves Coelho – Igor Almeida Lima – Igor da Rocha Kubaski – Iris Lima de Moraes – Isabel
Cristina Amaral de Sousa Rosso Nelson – Isabel Reis Lage – Ítalo Cardoso Lima e Silva – Ivan Alemão – Ivan de
Franco – Izidoro Oliveira Paniago – Jair Aparecido Cardoso – Jaime Cipriani – Jaime José Bílek Iantas – Jairo Halpern –
Jane Courtes Lutzky – Jane Lúcia Wilhelm Berwanger – Jane Regina Mathias – Janete Aparecida Deste – Janete
Terezinha S. Henz – Janriê Rodrigues Reck – Jelson Carlos Accadrolli – Jerônimo André Bonkevitch – Jéssica Fior
Küntzer – Jesus Augusto Mattos – Jesús Lahera Forteza – João Alberto B. Teixeira – João Batista S. de Nonohay – João
Carlos Leal Jr. – João de Lima Teixeira Filho – João Ghisleni Filho – João José Sady – João Manoel Grott – João
Marcelino Soares – João Paulo Lucena – João Pedro Ignácio Marsillac – João Vicente Rothfuchs – Joe Ernando
Deszuta – Joeline Araujo – Joyce Ziumar Rocha da Silva – Jordana Gewehr Camargo – Jordana Mariel – Jorge Alberto
Araujo – Jorge Cavalcanti B. Filho – Jorge Luiz Ferreira – Jorge Luiz Souto Maior – José Alberto Couto Maciel – José
Antonio Pancotti – José Antônio R. Lemos – José Augusto de Carvalho Neto – José Augusto Rodrigues Jr. – José Carlos
Arouca – José Carlos dos Santos Junior – José Carlos Rizk Filho – José de Souza Vieira Neto – José Eduardo S.
Ramos – José Eli Salamancha – José Felipe Ledur – José Fernando L. Arochena – José Luiz Vernet Not – José Maria
Tesheiner – José Nascimento Araújo Neto – José Orlando Schäfer – Jouberto de Quadros P. Cavalcante – Joyce Ziumar
Rocha da Silva – Julia Ferreira Goulart – Júlia Lima Martins‑Costa – Juliana de Melo Mendes – Juliana do Monte
Maia – Juliana Evangelista de Almeida – Juliana Garcia – Juliana Hörlle Pereira – Juliana Pinheiro Machado Bernardi –
Juliano Gianechini Fernandes – Júlio Bernardo do Carmo – Júlio César Bebber – Júlio César de Castro – Jurema Costa
de Oliveira Silva – Kamilla Rafaely Rocha de Sena – Karen Costa Braga – Laís Durval Leite – Landial Moreira Júnior –
Larissa de Oliveira Elsner – Laura Machado de Oliveira – Leandro de A. Bemvenuti – Leandro do Amaral D. de
Dorneles – Leandro Prusch – Lenise Fabres Machado – Leonardo Dias Borges – Leonardo R. Itacaramby Bessa – Letícia
Costa Mota Wenzel – Ligia M. Teixeira Gouvêa – Lília Leonor Abreu – Lina Gorczevski – Loredana Magalhães – Luana
Lopes da Silva – Lucas Adolfo Baumhardt – Lucas Soares de Oliveira – Luciane Cardoso Barzotto – Luciano Augusto
de T. Coelho – Luciano Della Maria Pinto – Luciano Marinho Filho – Lucilde D’Ajuda L. de Almeida – Lucyla Tellez

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Merino – Luís Carlos P. Gastal – Luís Fernando M. Pasin – Luís Marcelo Algarve – Luiz Alberto de Vargas – Luiz Antonio
Colussi – Luiz Felipe M. de Assumpção – Luiz Filipe Duarte – Luiz Fernando Vescovi – Luíz Flávio B. D’Urso – Luiz
Geraldo Floeter Guimarães – Luiz Gustavo Capitani S. Reimann – Luiz Henrique Sormani Barbugiani – Luiz Philippe
Vieira de Mello Filho – Lysandro Tourinho Costa – Magda Biavaschi Manoel Skrebsky – Maiara dos Santos Sita –
Manoel Antonio Teixeira Filho – Manuel Cid Jardón – Manuel Martín Pino Estrada – Mara Vidigal Darcanchy – Maralise
da Silva Vidal – Marcel Lopes Machado – Marceli Brandenburg – Marcelo Aquini Fernandes – Marcelo Armigliatto de
Jesus – Marcelo A. Souto de Oliveira – Marcelo Barroso Kümmel – Marcelo Benetti Selau – Marcelo Colapietro
Rodrigues – Marcelo Freire S. Costa – Marcelo Garcia da Cunha – Marcelo Goulart – Marcelo José das Neves – Marcelo
José Ferlin D’Ambroso – Marcelo Lucca – Marcelo Marinho – Marcelo Muritiba Dias Ruas – Marcelo Olson Porto –
Marcelo Tolomei Teixeira – Márcia Novaes Guedes – Márcia Regina Lobato – Marciano Buffon – Márcio Alexandre da
Silva – Márcio Lima do Amaral – Márcio Ribeiro do Valle – Márcio Túlio Viana – Márcio Wilhelm de Oliveira – Marco
Antônio César Villatore – Marcos de Queiroz Ramalho – Marcos Fagundes Salomão – Marí Rosa Agazzi – Maria Cláudia
Felten – Maria G. Dal Bosco – Maria Helena Mallmann – Maria Izabel B. Cantalice – Maria Luiza Pinheiro Coutinho –
Mariângela Guerreiro Milhoranza – Maria Madalena Telesca – Mariana Furlan Teixeira – Mariella Carvalho M. Martins –
Marina Jacob L. da Silva Santos – Marina Lanius – Mario Garmendia Arigón – Marisa Ferreira dos Santos – Maristela
de Oliveira Delduque – Maristela Wagner Delwing – Marjory Fornazari – Marli Aparecida da S. Siqueira – Mateus da
Silva Rosa Pereira – Matheus Giacomin Broetto – Matheus Rogério Rigui Bueno – Matheus Santos Barbosa – Matheus
Soletti Alles – Mauricio Antonacci Krieger – Maurício de Carvalho Góes – Mauricio de Figueiredo C. da Veiga – Mauricio
Godinho Delgado – Maurício Pereira Gomes – Mauro Cesar Martins de Souza – Mauro de Azevedo Menezes – Max
Carrion Brueckner – Melchíades Rodrigues Martins – Michele Dias Bublitz – Miguel Angel Sardegna – Miguel Gutiérrez
Pérez – Milena Messias – Milena Nunes – Milton Fernando dos Santos – Morgana Bordignon – Moysés Teixeira
Abrahão – Mozart Victor Russomano Neto – Nasser Ahmad Allan – Naiane de Araújo Garcez Aires – Natalia Munhoz
Machado Prigol – Natalia Schnaider S. Mies – Natasha Rangel Rosso Nelson – Natália Taves Pires – Nei Messias
Vieira – Neire D. Ferreira Jorge – Newton Jancowski Neto – Ney Fayet Júnior – Ney Stany Morais Maranhão – Nicolle
Oliveira – Olga Maria Boschi Aguiar de Oliveira – Oneide Soterio da Silva – Oscar Krost – Oswaldo de Souza S. Filho –
Otávio Amaral Calvet – Pablo Ricardo Vargas – Paola Frassinetti Alves de Miranda – Patrícia Dornelles Peressutti –
Patrícia Maeda – Patrícia M. Ortiz Vargas – Patricia Mota Alves – Paula Garcez C. da Silva – Paula M. Colela Maciel –
Paulo Cesar Piva – Paulo de Carvalho Yamamoto – Paulo Fernando S. Pacheco – Paulo Grapiglia – Paulo Henrique de
G. Sumariva – Paulo J. B. Leal – Paulo Lima de C. Castro – Paulo Luiz Schmidt – Paulo Mont’Alverne Frota – Paulo
Renato F. da Silva – Paulo Ricardo Jubett de Ávila – Paulo Roberto Couto de O. Souto – Pedro de Souza G. Milioni –
Pedro Rubino Maciel – Policiano Konrad da Cruz – Priscila Florinda Brezolin – Rafael Chiari Caspar – Rafael da Silva
Marques – Rafael Foresti Pego – Rafael Laffitte Fernandes – Rafael Laynes Bassil – Rafael Schmidt Waldrich – Rafaella
Antunes Madeira – Raimundo Simão de Melo – Raquel Hochmann Freitas – Raquel Pereira Furtado – Raúl Horacio
Ojeda – Raul Portanova – Rebeca Cruz Queiroz – Regina Maria M. Nery Ferrari – Regina Stela C. Vieira – Reginald D.
H. Felker – Reginaldo Melhado – Rejane Souza Pedra – Renata Cristina Magalhães da Silva – Renata de Assis Calsing –
Renata do Nascimento Rodrigues – Renata Martins da Rosa – Renato de M. Dantas Neto – Renato de Oliveira
Martinez – Renato Marangoni Alves de Miranda – Ricardo Carvalho Fraga – Ricardo José das Mercês Carneiro – Ricardo
Souza Calcini – Ricardo Fioreze – Ricardo Hoffmeister de A. M. Costa – Ricardo Pereira de F. Guimarães – Ricardo
Petrucci Souto – Ricardo Tadeu M. Fonseca – Roberta Philippsen Janz – Roberta Potzik Soccio Kruppa – Roberta
Scalzilli – Roberto L. Luchi Demo – Roberto Wakahara – Rocco Antonio R. Rosso Nelson – Rocheli Margota Künzel –
Rodrigo de Lacerda Carelli – Rodrigo Espiúca dos Anjos Siqueira – Rodrigo Bilieri de Almeida – Rodrigo Fernandes de
Oliveira – Rodrigo Garcia Schwarz – Rodrigo Trindade de Souza – Rodrigo Santa Helena – Rodrigo Ungaretti Tavares –
Rodrigo Wasem Galia – Rogério Breviglieri – Rogério Donizete Fernandes – Rogério L. Nery da Silva – Rogério Viola
Coelho – Ronaldo Lima dos Santos – Rosana Kim Jobim – Rosana Rusch – Roseniura Santos – Rubens F. Clamer
dos Santos Jr. – Rubens Glezer – Rúbia Zanotelli de Alvarenga – Rubiane Solange G. Assis – Sandra Lia Simon –
Sebastião Geraldo de Oliveira – Sergio Pinto Martins – Sérgio Renato de Mello – Sérgio Ricardo M. Gonçalves – Shaiala
Ribeiro de Castro Araujo Marques – Sheila Rodrigues Belló – Sileno Montenegro Barbosa – Simbard Jones Ferreira
Lima – Simone Cruxên Gonçalves – Simone Seghese de Toledo – Solainy Beltrão dos Santos – Solange Barbosa de
Castro Coura – Sonilde Kugel Lazzarin – Steffanie Silveira de Fraga – Susane Maciel de Oliveira – Taís Souza Tomasel
– Talita Cecília Souza Klôh – Tanara Lilian Pazzim – Tereza Aparecida Asta Gemignani – Thales Eduardo da Silva
Medeiros – Thania Maria Bastos Lima Ferro – Theodoro Vicente Agostinho – Thompson Adans Rodrigues Gomes –
Tiago Machado Burtet – Tiziana Morel Trindade – Valdete Souto Severo – Vanessa de Oliveira Caetano – Vania Cunha
Mattos – Valdete Souto Severo – Veridiana Tavares Martins – Veronica Altef Barros – Veyzon Campos Muniz – Vilian
Bollmann – Vilja Marques Asse – Victor Emanuel Bertoldo Teixeira – Victor Penchel A. Balthar dos Santos – Vinícius
da Silva Zanuzzi – Vinícius José Rockenbach Portela – Vinícius Lima Marques – Vitor Hugo L. Saydelles – Vitor Kaiser
Jahn – Vitor Salino de M. Eça – Vitória Nascimento Cardoso – Vívian Sleiman de Oliveira – Wagner Balera – Wagner
D. Giglio – Waleska Kurtz Felker – Walkyria de Oliveira Rocha Teixeira – Wilton Silva Oliveira – Xerxes Gusmão

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SUMÁRIO

DOUTRINA

ARTIGOS

Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário:


inconstitucionalidade da Lei nº 14.370/2022
Gustavo Filipe Barbosa Garcia.......................................................................... 11

O direito ao repouso semanal efetivo


José Felipe Ledur............................................................................................. 19
1 Introdução............................................................................................ 19
2 O repouso semanal como um bem cultural da humanidade...................... 20
3 A recepção do descanso semanal pelo direito internacional e
constitucional....................................................................................... 22
4 O repouso semanal e a legislação infraconstitucional.............................. 25
5 Cidadania ativa e ações processuais inibitórias....................................... 26
6 Conclusão............................................................................................ 27
Referências.......................................................................................... 28

Monitoramento do ambiente de trabalho: o meio e o fim de um


programa de integridade
Aline Maciel Silva Dias, João Vicente Rothfuchs............................................... 29
1 Introdução............................................................................................ 30
2 Compliance.......................................................................................... 31
2.1 Generalidades de compliance................................................................. 31
2.2 Normas internas................................................................................... 34
2.3 Investigação interna.............................................................................. 36
3 Direitos e deveres do empregado e do empregador.................................. 40
3.1 Relação de emprego.............................................................................. 40
3.2 Limites do poder do empregador e direitos de personalidade do
empregado........................................................................................... 43
4 Cautelas na aplicação do compliance no ambiente de trabalho................. 45
4.1 Celular e e-mail corporativo.................................................................... 46
4.2 Câmera de monitoramento do ambiente de trabalho................................ 48
4.3 Monitoramento da vida pessoal do empregado........................................ 48
5 Considerações finais............................................................................. 51
Referências.......................................................................................... 52

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas
digitais através da valoração subjetiva do juiz na justiça do trabalho
Juliano Gianechini Fernandes, Vitória Nascimento Cardoso................................ 57
1 Introdução............................................................................................ 58
2 Noções gerais e conceito da dilação probatória....................................... 59
3 Inovações tecnológicas na produção de provas na justiça do trabalho....... 61
3.1 A prova digital....................................................................................... 64
3.1.1 A legalidade da prova digital no direito brasileiro...................................... 67
4 A validade e a valoração da prova digital................................................. 70
4.1 A valoração subjetiva do juiz do trabalho................................................. 72
4.1.1 O livre convencimento motivado............................................................. 73
4.1.2 Julgados............................................................................................... 75
5 Conclusão............................................................................................ 85
Referências.......................................................................................... 87

JURISPRUDÊNCIA
ACÓRDÃOS

EXERCÍCIO DA FUNÇÃO DE PROFESSOR – ADVOGADO ORIENTADOR.... 93


Jurisprudência do TRT – 1ª Região

HORAS IN ITINERE – NEGOCIAÇÃO COLETIVA............................................ 111


Jurisprudência do TRT – 3ª Região

PRESCRIÇÃO DO DIREITO DE AÇÃO – DATA DA CIÊNCIA OU


CONSOLIDAÇÃO DA LESÃO ......................................................................... 121
Jurisprudência do TRT – 4ª Região

PENHORA – FGTS ......................................................................................... 129


Jurisprudência do TRT – 10ª Região

GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO DE 40% – ART. 62, PARÁGRAFO ÚNICO,


DA CLT .......................................................................................................... 133
Jurisprudência do TRT – 17ª Região

EMENTÁRIO TRABALHISTA
TST, TRTs 1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 9ª, 12ª, 18ª R............................................................ 143
ACOMPANHAMENTO DA DILIGÊNCIA PELO PATRONO DO EXEQUENTE –
IMPOSSIBILIDADE............................................................................................ 143
ADICIONAL NOTURNO – NORMA COLETIVA.......................................................... 143

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ADOÇÃO SIMULTÂNEA DOS REGIMES DE COMPENSAÇÃO SEMANAL E BANCO DE
HORAS – NULIDADE.......................................................................................... 144
ADVOGADO EMPREGADO – HORA EXTRA............................................................ 144
ALTERAÇÕES PROMOVIDAS PELA LEI Nº 13.467/2017 – CONTRATOS DE
TRABALHO CELEBRADOS ANTES DE SUA VIGÊNCIA............................................. 145
ASSÉDIO MORAL – REQUISITOS........................................................................ 145
AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO – INTEGRAÇÃO SALARIAL................................................ 145
AVISO-PRÉVIO PROPORCIONAL – INDENIZAÇÃO................................................... 146
BANCÁRIO – HORA EXTRA – DIVISOR................................................................. 146
BANCO DE HORAS – VALIDADE.......................................................................... 147
CANCELAMENTO DA AUDIÊNCIA INAUGURAL – PANDEMIA DE COVID-19 –
PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO – REVELIA..................................................... 147
CITAÇÃO.......................................................................................................... 148
COMPARECIMENTO DO PREPOSTO COM ATRASO À AUDIÊNCIA – PENA DE
CONFISSÃO..................................................................................................... 148
COMPENSAÇÃO DE JORNADA – REGIME 12X36.................................................. 149
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO – SERVIDOR PÚBLICO – CONTRATAÇÃO
TEMPORÁRIA................................................................................................... 149
CONTRATO POR PRAZO DETERMINADO – SEGURO-DESEMPREGO........................ 150
CRÉDITO PREVIDENCIÁRIO – FALÊNCIA.............................................................. 150
DANO MORAL – ANOTAÇÃO NA CTPS................................................................. 151
DANO MORAL – DISCRIMINAÇÃO – PESSOA INDÍGENA........................................ 151
DANO MORAL – INJÚRIA RACIAL PRATICADA POR EMPREGADO CONTRA
EMPREGADO.................................................................................................... 152
DANO MORAL – OFENSAS PROFERIDAS POR SUPERIOR HIERÁRQUICO................. 152
DANO MORAL – UTILIZAÇÃO DO BANHEIRO MASCULINO – PESSOA TRANSEXUAL.. 152
DESCONSTITUIÇÃO DA PENHORA – FRAUDE À EXECUÇÃO................................... 153
DISPENSA – ATO ABUSIVO................................................................................ 154
DISPENSA DISCRIMINATÓRIA – DANO MORAL..................................................... 154
EMPREGADO VENDEDOR.................................................................................. 155
ENQUADRAMENTO SINDICAL – CATEGORIA ECONÔMICA...................................... 157
ESCALA DE REVEZAMENTO QUINZENAL – EMPREGADA MULHER – ART. 386
DA CLT............................................................................................................ 157
ESTABILIDADE PROVISÓRIA – GESTANTE – CONTRATO POR PRAZO
DETERMINADO................................................................................................. 158
EXECUÇÃO – MEDIDA NECESSÁRIA.................................................................... 158
EXECUÇÃO – PENHORA SOBRE FATURAMENTO................................................... 159
FÉRIAS – PAGAMENTO EM DOBRO..................................................................... 159
GORJETA......................................................................................................... 160
HORA EXTRA – MINUTOS................................................................................... 160
HORAS EXTRAS – PRÉ-CONTRATAÇÃO................................................................ 160
INSALUBRIDADE – DIREITO............................................................................... 161
JORNADA DE TRABALHO – PRORROGAÇÃO – ATIVIDADE INSALUBRE.................... 161
JORNADA DE TRABALHO – TURNO ININTERRUPTO DE REVEZAMENTO –
NEGOCIAÇÃO COLETIVA.................................................................................... 162
JUSTA CAUSA – RECUSA INJUSTIFICADA À VACINAÇÃO........................................ 162
JUSTIÇA GRATUITA – SINDICATO........................................................................ 163
LIDE SIMULADA................................................................................................ 163
MOTORISTA DE APLICATIVO – RELAÇÃO DE EMPREGO........................................ 164
NORMA COLETIVA – ULTRATIVIDADE.................................................................. 164

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ÔNUS DA PROVA – VALE TRANSPORTE............................................................... 164
PENHORA – REAVALIAÇÃO................................................................................. 165
PLANO DE DEMISSÃO VOLUNTÁRIA – INEXISTÊNCIA DE CLÁUSULA DE QUITAÇÃO
GERAL............................................................................................................. 165
PROCESSO DO TRABALHO – JUÍZO DE RETRATAÇÃO........................................... 166
RELAÇÃO DE EMPREGO – COOPERATIVA............................................................ 167
RELAÇÃO DE EMPREGO – PEJOTIZAÇÃO............................................................. 167
REPETIÇÃO DA PROVA....................................................................................... 168
RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR DE SOCIEDADE ANÔNIMA.................... 169
RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA – TOMADOR DE SERVIÇOS............................. 170
SINDICATO – LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ.................................................................... 170
TRABALHADOR PORTUÁRIO AVULSO – INTERVALOS INTRAJORNADA..................... 171
TRABALHO ESCRAVO – OCORRÊNCIA................................................................. 171
TRABALHO EXTERNO – CONTROLE DE JORNADA................................................. 172
VIOLAÇÃO LITERAL À DISPOSIÇÃO DE LEI........................................................... 172

Instruções para os autores.......................................................................... 173

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DOUTRINA

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DOUTRINA

PROGRAMA NACIONAL DE PRESTAÇÃO


DE SERVIÇO CIVIL VOLUNTÁRIO:
INCONSTITUCIONALIDADE DA
LEI Nº 14.370/2022

GUSTAVO FILIPE BARBOSA GARCIA

Livre-Docente pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Doutor em Direito pela
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Especialista em Direito pela Universidade
de Sevilla. Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Sevilla. Membro Pesquisador do
IBDSCJ. Membro da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, Titular da Cadeira 27. Membro
do Instituto Brasileiro de Direito Processual. Professor Universitário. Advogado.

A Lei nº 14.370/2022 instituiu o Programa Nacional de Prestação de


Serviço Civil Voluntário e o Prêmio Portas Abertas, vinculados ao Ministério
do Trabalho e Previdência, com o objetivo de auxiliar na inclusão produtiva
de pessoas em situação de vulnerabilidade e de reduzir os impactos sociais
e no mercado de trabalho causados pela emergência de saúde pública de
importância internacional relacionada ao coronavírus responsável pela CO‑
VID-19. O referido Programa tem duração de 24 meses a contar da entrada
em vigor da Lei nº 14.370/2022 (15.06.2022).
Trata-se de diploma legal resultante da conversão da Medida Provisória
nº 1.099/2022.
O Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário tem o ob‑
jetivo de incentivar os Municípios e o Distrito Federal a ofertar atividades de
interesse público, sem vínculo empregatício ou profissional de qualquer natu‑
reza, para: I – jovens com idade entre 18 e 29 anos; II – pessoas com idade
superior a 50 anos sem vínculo formal de emprego há mais de 24 meses;

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Gustavo Filipe Barbosa Garcia

III – pessoas com deficiência, nos termos do art. 2º da Lei nº 13.146/2015


– Estatuto da Pessoa com Deficiência (art. 2º da Lei nº 14.370/2022).1
Têm prioridade para aderir ao Programa Nacional de Prestação de Serviço
Civil Voluntário os trabalhadores que: I – forem beneficiários dos programas
de transferência de renda de que trata a Lei nº 14.284/2021 (Programa
Auxílio Brasil e Programa Alimenta Brasil), ou de outros que venham a subs‑
tituí-los; ou II – pertencerem à família de baixa renda inscrita no Cadastro
Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), de que trata
o art. 6º-F da Lei nº 8.742/1993.
São consideradas atividades de interesse público aquelas identificadas
pelo Município ou pelo Distrito Federal com a finalidade de cumprir os obje‑
tivos do Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário, desde
que a conveniência e a oportunidade da sua escolha sejam fundamentadas
pelo gestor municipal ou distrital.
O mencionado Programa é passível de questionamento, notadamente
quanto à constitucionalidade, pois desvirtua a concepção de serviço volun‑
tário, ao estabelecer, entre outros aspectos: o pagamento de auxílio pecu‑
niário de natureza indenizatória, a título de bolsa (art. 6º, inciso IV, da Lei nº
14.370/2022), em valor equivalente ao salário mínimo por hora (art. 6º, §2º,
da Lei nº 14.370/2022); o pagamento de vale-transporte ou o oferecimento
de outra forma de transporte (art. 6º, inciso V, da Lei nº 14.370/2022); a
contratação de seguro contra acidentes pessoais (art. 6º, inciso VI, da Lei
nº 14.370/2022); o encaminhamento para os serviços de intermediação de
mão de obra (art. 6º, inciso VIII, da Lei nº 14.370/2022); a carga horária
máxima para o desempenho de atividades de interesse público no âmbito
de órgãos e entidades municipais e distritais (art. 5º, inciso I, da Lei nº
14.370/2022); a carga horária mínima para a oferta de cursos de formação
inicial e continuada ou de qualificação profissional (art. 5º, inciso II, da Lei
nº 14.370/2022); o período de recesso, a ser gozado preferencialmente
durante as férias escolares (art. 6º, §5º, da Lei nº 14.370/2022).
O serviço voluntário diferencia-se da relação de emprego, em razão da
ausência de onerosidade. Esta significa que o serviço prestado tem como

1
“Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas” (art. 2º da Lei nº 13.146/2015).

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Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário: inconstitucionalidade...

objetivo o recebimento da contraprestação (remuneração), não se tratando,


assim, de trabalho gratuito.2
Nessa linha, considera-se serviço voluntário a atividade não remunera‑
da prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou a
instituição privada de fins não lucrativos que tenha objetivos cívicos, cultu‑
rais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência à pessoa (art.
1º da Lei nº 9.608/1998, com redação dada pela Lei nº 13.297/2016). O
serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem obrigação de natureza
trabalhista previdenciária ou afim.
Esclareça-se que o exercício de atividade prestada de forma gratuita e o
serviço voluntário, nos termos do disposto na Lei nº 9.608/1998, não geram
filiação obrigatória ao Regime Geral de Previdência Social (art. 20, §3º, do
Regulamento da Previdência Social, incluído pelo Decreto nº 10.410/2020).3
Não podem participar do Programa Nacional de Prestação de Serviço
Civil Voluntário aqueles que receberem benefício de natureza previdenciária
do Regime Geral de Previdência Social ou dos Regimes Próprios de Previ‑
dência Social (art. 3º da Lei nº 14.370/2022). Essa previsão não se aplica
aos beneficiários de pensão por morte ou auxílio-acidente.
O Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário será
ofertado pelo Município ou pelo Distrito Federal por meio de processo se‑
letivo público simplificado (art. 4º da Lei nº 14.370/2022). O mencionado
processo seletivo público deve ter ampla divulgação, inclusive por meio de
publicação no Diário Oficial e no sítio eletrônico oficial do ente federativo,
dispensará a realização de concurso público e deve observar os princípios
que regem a administração pública, nos termos do art. 37 da Constituição
Federal de 1988.
Pode ser selecionado para participação no Programa Nacional de Pres‑
tação de Serviço Civil Voluntário apenas um beneficiário por núcleo familiar,
que será identificado por meio do CadÚnico, de que trata o art. 6º-F da Lei
nº 8.742/1993.
A pessoa que já tenha sido beneficiária do Programa Nacional de Pres‑
tação de Serviço Civil Voluntário somente pode ser selecionada na ausência
de candidatos aptos que não tenham participado do Programa.
No período estabelecido no processo seletivo simplificado, o Município
ou o Distrito Federal deve assegurar aos beneficiários do Programa Nacional

2
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2022.
p. 363-364.
3
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito previdenciário: seguridade social. 6. ed. São
Paulo: Saraiva, 2022. p. 454.

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Gustavo Filipe Barbosa Garcia

de Prestação de Serviço Civil Voluntário: I – o desempenho de atividades de


interesse público no âmbito de órgãos e entidades municipais e distritais
com carga horária máxima de 22 horas semanais, limitada a 8 horas diárias;
II – a oferta de cursos de formação inicial e continuada ou de qualificação
profissional, com carga horária mínima de 12 horas para cada 30 dias de
permanência no Programa (art. 5º da Lei nº 14.370/2022).
Os cursos de formação inicial e continuada ou de qualificação profissio‑
nal podem ser realizados em dias ou em meses específicos no decorrer da
participação no Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário,
sem prejuízo do desempenho das atividades de interesse público definidas
pelo Município ou pelo Distrito Federal.
O Poder Executivo do Município ou do Distrito Federal deve dispor sobre:
I – a oferta de vagas de atividades de interesse público; II – as atividades de
interesse público executadas pelos beneficiários, o local onde serão desem‑
penhadas e o período de desempenho em órgão ou entidade municipal ou
distrital; III – a operacionalização administrativa, financeira e orçamentária do
Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário; IV – o valor do
auxílio pecuniário de natureza indenizatória ao beneficiário, a título de bolsa,
pelo desempenho das atividades; V – a forma de pagamento de vale-trans‑
porte, previsto na Lei nº 7.418/1985, ou o oferecimento de outra forma de
transporte gratuito; VI – a contratação de seguro contra acidentes pessoais
em favor dos beneficiários; VII – a carga horária do curso de formação ini‑
cial e continuada ou de qualificação profissional; VIII – o encaminhamento
dos beneficiários para os serviços de intermediação de mão de obra, para
incentivar a inclusão ou a reinserção no mercado de trabalho (art. 6º da Lei
nº 14.370/2022).
Os beneficiários não podem executar atividades: I – insalubres; II – pe‑
rigosas; ou III – que configurem substituição de servidores ou de emprega‑
dos públicos do ente federativo na execução de atividades: a) privativas de
profissões regulamentadas; ou b) de competência de cargos ou empregos
públicos pertencentes ao ente federativo ou à pessoa jurídica a ele vinculada.
A referida bolsa (auxílio pecuniário) deve observar o valor equivalente
ao salário mínimo por hora e corresponderá à soma das horas despendidas
em cursos de formação inicial e continuada ou de qualificação profissional
e em atividades de interesse público executadas no âmbito do Programa
Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário. O valor pago a título de va‑
le-transporte não será descontado da mencionada bolsa (auxílio pecuniário).
A eventual concessão de benefícios relacionados à alimentação, en‑
tre outros de natureza indenizatória, não descaracteriza a relação jurídica

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Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário: inconstitucionalidade...

estabelecida entre o ente federativo ofertante e o beneficiário da política


pública.
É assegurado ao beneficiário, sempre que a participação no Programa
Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário tenha duração igual ou su‑
perior a um ano, período de recesso de 30 dias, a ser gozado preferencial‑
mente durante as férias escolares. O mencionado recesso deve contemplar
o pagamento da referida bolsa (auxílio pecuniário). Os dias de recesso devem
ser concedidos de maneira proporcional quando o serviço social voluntário
tiver duração inferior a um ano.
Aplica-se ao beneficiário do Programa Nacional de Prestação de Servi‑
ço Civil Voluntário a legislação relacionada à saúde, medicina e segurança
no trabalho, observado que a sua implementação é de responsabilidade do
Município ou do Distrito Federal (art. 7º da Lei nº 14.370/2022).
Para fins de acompanhamento, os Municípios e o Distrito Federal devem
prestar informações sobre o Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil
Voluntário ao Ministério do Trabalho e Previdência, observado o disposto na
Lei nº 13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais), nos termos
do regulamento (art. 8º da Lei nº 14.370/2022).
O planejamento da qualificação a ser ofertada aos beneficiários do
Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário deve considerar
as principais atividades econômicas e produtivas do Município ou do Distrito
Federal, com vistas a aumentar a empregabilidade e o empreendedorismo
dos beneficiários (art. 9º da Lei nº 14.370/2022).
Os cursos de formação inicial e continuada ou de qualificação profissional
podem ser ofertados nas seguintes modalidades: presencial; semipresencial;
ou a distância. No caso da oferta de cursos na modalidade semipresencial
ou a distância, deve ser garantido aos beneficiários o acesso aos meios
tecnológicos adequados para o acompanhamento das aulas.
A qualificação para o trabalho dos beneficiários do Programa Nacional
de Prestação de Serviço Civil Voluntário deve ser realizada pelas seguintes
entidades: I – Serviço Nacional de Aprendizagem dos Industriários (Senai), de
que trata o Decreto-Lei nº 4.048/1942; II – Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial (Senac), de que trata o Decreto-Lei nº 8.621/1946; III – Serviço
Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), de que trata a Lei nº 8.315/1991;
IV – Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat), de que trata a
Lei nº 8.706/1993; V – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo
(Sescoop), de que trata a Medida Provisória nº 2.168-40/2001; VI – Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), de que trata a
Lei nº 8.029/1990 (art. 10 da Lei nº 14.370/2022).

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Gustavo Filipe Barbosa Garcia

Compete às entidades responsáveis pela qualificação dos beneficiários


do Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário: I – verificar a
frequência e o aproveitamento dos beneficiários; II – comunicar ao Município
e ao Distrito Federal os casos em que os beneficiários tiverem aproveita‑
mento insuficiente ou frequência inferior à mínima estabelecida (art. 11 da
Lei nº 14.370/2022).
O pagamento da bolsa (auxílio pecuniário) pode ser efetuado por meio
de conta do tipo poupança social digital (art. 12 da Lei nº 14.370/2022).
Os beneficiários do Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil
Voluntário podem receber a bolsa (auxílio pecuniário) cumulativamente
com: benefício financeiro do Programa Auxílio Brasil, de que trata a Lei nº
14.284/2021; ou benefício de prestação continuada de que trata o art. 20
da Lei nº 8.742/1993, em relação aos beneficiários com deficiência (art.
13 da Lei nº 14.370/2022).
O pagamento da bolsa (auxílio pecuniário) não gera, por si só, a in‑
terrupção do pagamento dos benefícios previstos na Lei nº 14.284/2021
(Programa Auxílio Brasil) e devem ser observadas as demais condições de
manutenção no Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário.
Os valores transferidos aos trabalhadores beneficiários do Programa
Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário não são considerados como
renda no âmbito do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Fe‑
deral (CadÚnico).
Frise-se ainda que o beneficiário será desligado do Programa Nacional
de Prestação de Serviço Civil Voluntário nas seguintes hipóteses: I – admis‑
são em emprego, na forma prevista no art. 3º da Consolidação das Leis do
Trabalho; II – posse em cargo público; III – frequência inferior à mínima esta‑
belecida no curso de formação inicial e continuada ou de qualificação profis‑
sional; ou IV – aproveitamento insuficiente (art. 14 da Lei nº 14.370/2022).
O edital de seleção pública pode prever outras hipóteses de desligamento
do Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário.
O Prêmio Portas Abertas, por sua vez, tem a finalidade de reconhecer
e condecorar os entes federativos que se destacarem na implementação
do Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário (art. 15 da
Lei nº 14.370/2022).
Compete ao Ministério do Trabalho e Previdência coordenar, executar,
monitorar, avaliar e editar normas complementares para a execução do dis‑
posto na Lei nº 14.370/2022 (art. 16).
As disposições da Lei nº 14.370/2022 indicam, na realidade, a pre‑
sença de caráter oneroso na relação jurídica em questão, mais próxima do
vínculo de emprego precário, sem a garantia plena dos direitos trabalhistas

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Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário: inconstitucionalidade...

e previdenciários, em desacordo com o art. 7º da Constituição da República,


distanciando-se do genuíno serviço voluntário e do trabalho gratuito.
O auxílio pecuniário devido ao beneficiário, a título de bolsa, embora
formalmente de natureza indenizatória, é pago “pelo desempenho das ati‑
vidades” (art. 6º, inciso IV, da Lei nº 14.370/2022), ou seja, como contra‑
prestação pelo serviço prestado, o que indica a existência de onerosidade
(art. 3º da CLT). Não se trata, assim, de valor destinado ao custeio das
despesas necessárias à execução do serviço voluntário, como se observa
no art. 6º da Lei nº 10.029/2000,4 ou de ressarcimento pelas despesas
comprovadamente realizadas no desempenho das atividades voluntárias
(art. 3º da Lei nº 9.608/1998).
O art. 10 da Lei nº 14.370/2022, sobre as entidades que devem rea‑
lizar a qualificação para o trabalho dos beneficiários, confirma o desvirtua‑
mento do serviço voluntário decorrente desse diploma legal, pois mesmo
o aprendiz, inscrito em programa de aprendizagem de formação técnico‑
-profissional metódica, normalmente oferecido pelos Serviços Nacionais de
Aprendizagem, é considerado empregado, regido por contrato de trabalho
especial (art. 428 da CLT).
Além disso, a previsão de que o referido Programa será ofertado pelo
Município ou pelo Distrito Federal por meio de processo seletivo público
simplificado, que dispensará a realização de concurso público (art. 4º, §1º,
da Lei nº 14.370/2022), pode gerar a violação do art. 37, inciso II, da Cons‑
tituição Federal de 1988.
Cabe, assim, acompanhar a possível evolução legislativa a respeito do
tema e o eventual questionamento da Lei nº 14.370/2022 na esfera juris‑
dicional, notadamente perante o Supremo Tribunal Federal.

Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2018 da


Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Programa Nacional de Prestação de


Serviço Civil Voluntário: inconstitucionalidade da Lei nº 14.370/2022.
Revista Fórum Justiça do Trabalho, Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p.
11-17, out. 2022.

4
O Supremo Tribunal Federal fixou a seguinte tese de repercussão geral: “O sistema de prestação
voluntária de serviço auxiliar de Polícia Militar, previsto pela Lei Federal 10.029/2000 e instituído
no Estado de São Paulo pela Lei 11.064/2002, cujas despesas são custeadas por auxílio
mensal, de natureza meramente indenizatória, não gera vínculo empregatício nem obrigação de
natureza trabalhista, previdenciária ou afim” (STF, Pleno, RE 1.231.242/SP, Rel. Min. Luiz Fux,
DJe 19.11.2020).

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DOUTRINA

O DIREITO AO REPOUSO SEMANAL EFETIVO

JOSÉ FELIPE LEDUR

Mestre em Direito Público e Doutor em Direito do Estado. Juiz e Desembargador do trabalho


até 2017 no TRT/RS.

Sumário: 1 Introdução – 2 O repouso semanal como um bem cultural da humanidade – 3


A recepção do descanso semanal pelo direito internacional e constitucional – 4 O repouso
semanal e a legislação infraconstitucional – 5 Cidadania ativa e ações processuais inibitórias
– 6 Conclusão – Referências

1 Introdução
O presente artigo tem como propósito trazer reflexões acerca do re‑
pouso semanal e seu progressivo desvalor enquanto direito fundamental
efetivamente exercitável. Esse caráter se revela na fragorosa incapacidade
social e jurídica para impor limites ao pensamento econômico que atua no
sentido de reduzir a pessoa à mera condição de indivíduo que trabalha para
consumir. Verifica-se mesmo tendência no sentido da confusão entre o
espaço da produção e o espaço domiciliar/familiar, o que se exacerbou no
período de pandemia da COVID-19. O obsessivo pendor desse pensamento
pela produção neutraliza a capacidade dos indivíduos de configurar a sua
vida de acordo com o princípio/regra jusfundamental do art. 7º, XV, da Cons‑
tituição Federal (CF), que assegura aos trabalhadores o repouso semanal
remunerado, preferencialmente aos domingos (destaquei).
A análise a ser desenvolvida visa ao exame de aspectos culturais, antro‑
pológicos e axiológicos que se encontram na base do reconhecimento jurídico
que o direito internacional e constitucional conferiu ao repouso semanal re‑
munerado. A partir daí também serão objeto de reflexão os desdobramentos
que a matéria obteve no plano infraconstitucional. Por fim, será feito breve

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José Felipe Ledur

exame de possíveis mecanismos para conter a progressiva incorporação na


prática empresarial e social da ideia de que a pessoa está obrigada a se
manter, com permanência, mobilizada para produzir.

2 O repouso semanal como um bem cultural da


humanidade
Para os povos que possuem influência religiosa judaica, cristã ou islâ‑
mica, a destinação de um dia da semana ao repouso ou descanso eviden‑
temente vincula-se à influência do judaísmo, cristianismo e islamismo no
que diz com o modo como se organizou a vida no mundo. No Antigo Testa‑
mento, capítulos 1 e 2 do Livro do Gênesis da Bíblia, reporta-se as tarefas
que ocuparam o Criador durante seis dias, período a que se seguiu um dia
que destinou ao descanso, tido por ele como santificado. Não importa o dia
em que recai essa pausa – se na sexta-feira, no sábado ou no domingo –,
presente a diversa exegese que as três principais religiões fazem da cria‑
ção ao identificar o dia da semana destinado ao repouso. Em realidade, o
descanso semanal passou a bem cultural que transcende essa origem ou
escolha. Também no mundo oriental a prática do descanso semanal é co‑
mum. Tentativas voltadas a sua abolição fracassaram.
Constitui dado inquestionável na tradição e cultura de diferentes povos
que a interrupção periódica do trabalho sistemático é exigência vital, ou seja,
depois de certo período de trabalho, segue-se dia destinado ao repouso. A
observação dos fatos naturais bem demonstra que a vida dos seres em geral
constitui um continuum em que se reinaugura, em períodos sucessivos, o
ciclo vital, a criação. Parece compatível com a natureza humana que a inter‑
rupção periódica da atividade laboral há de seguir o mesmo princípio. Isso
permite à pessoa recriar-se enquanto tal, sob pena de se instaurar sua pró‑
pria desumanidade, em vista da negação daquilo que sua natureza lhe exige.
É certo que a consideração daquilo que possa ser adequado ou não à
justificação de limitações ao direito ao descanso semanal subordina-se à
passagem do tempo. De todo modo, não se justificam restrições com base
em razões arbitrárias. Nesse sentido, Peter Häberle reporta a dificuldade que
os juristas têm de definir o domingo e os feriados enquanto bens culturais.
Ele cita passagem de decisão de tribunal administrativo alemão do ano de
1985, na qual se definiu ser inadmissível, em postos de gasolina, atividade
de loja de conveniência voltada à locação de filmes em domingos e feriados.
Segue a tradução livre da passagem:

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O direito ao repouso semanal efetivo

Referindo-se ao estado de silêncio exterior [äussere Ruhe],


a lei designa uma interrupção do processo laboral dos dias
úteis, sensível na vida pública (...), o que faz com que esse dia
especial tenha a natureza de ‘domingo e feriado’, isto é, seja
o oposto do dia útil [Nicht-Werktag] e destine-se ao descanso
e à distensão, com a finalidade de libertar as pessoas de sua
vida cotidiana. Esse sentido profundo dos dias de domingos
e feriados só pode ser alcançado quando não só o indivíduo
como tal se distancia de sua atividade produtiva diária, mas
quando o trabalho em geral não ocorre. Há de se garantir
por inteiro que cada cidadão possa, sem ser perturbado por
influências externas, como também por escrúpulos pessoais,
cuidar de sua necessidade por tempo livre, contexto no qual,
e não por último, adquira significado o conhecimento acerca
da vigência para todos do repouso laboral. Pois somente essa
ciência realmente liberta o indivíduo da pressão do dia útil e
o impulsiona para situação na qual possa, sem sobrecarga,
cuidar de suas inclinações pessoais relativas à participação
em eventos confessionais, culturais ou sociais, quais sejam,
seus outros interesses, na medida em que eles não apontem
para a lembrança do trabalho diário...1

A reflexão que esse excerto contém, produzida no âmbito de um tribunal


administrativo, faz ver que a interrupção do processo laboral em um dia da
semana preserva espaço de liberdade pessoal. A liberdade encontra expres‑
são não só no interesse, legítimo, de se desenvolver atividade econômica,
mas também na atenção a interesses outros que inclusive não tenham ex‑
pressão econômica. Portanto, pontos de vista puramente econômicos não
justificam autorização que cria exceções à vedação do trabalho aos domingos.2

1
HÄBERLE, Peter. Der Sonntag als Verfassungsprinzip. Berlin: Duncker & Humbold. 1988, p. 52. O
original da transcrição é a seguinte: “Mit dem Zustand der äusseren Ruhe bezeichnet das Gesetz
eine im öffentlichen Leben spürbare Unterbrechung des werktäglichen Arbeitsprozesses..., ‘Sonn-
und Feiertags’-Charakter des Besonderen, nämlich ein Nicht-Werktag zu sein, der der Ruhe und
Entspannung diente und die Menschen aus ihrem Alltag herauslöst. Dieser tiefere Sinn der Sonn- und
Feiertage kann nur erreicht werden, wenn sich nicht nur der einzelne für sich genommen von seiner
Werktagsarbeit distanziert, sondern wenn an diesen Tagen die Arbeit allgemein unterbleibt. Es soll
insgesamt gewährleistet sein, dass jeder Bürger ungestört von äusseren Einflüssen, aber auch frei
von inneren Skrupeln seinen Freizeitbedürfnissen nachgehen kann, wobei in diesem Zusammenhang
nicht zuletzt dem Wissen um die für alle geltende Arbeitsruhe Bedeutung zukommt. Denn erst
dieses Wissen stellt den einzelnen wirklich von den Zwängen des Werktags frei und versetzt ihn
in die Lage, unbelästigt seinen persönlichen Neigungen gemäss an kirchlichen, kulturellen oder
gesellschaftlichen Veranstaltugen teilzunehmen bzw. Seinen sonstigen Interessen nachzugehen,
soweit diese nicht die Merkmale täglicher Arbeit aufweisen...”.
2
HÄBERLE, Peter. Der Sonntag als Verfassungsprinzip, cit., p. 57.

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José Felipe Ledur

Pensamentos e práticas econômicas contrárias a isso expressam interesses


hegemônicos circunstanciais, ao passo que é perene a necessidade dos
indivíduos e da comunidade de suspender, periodicamente, o envolvimento
psicofísico com a atividade produtiva. E o direito ao descanso semanal re‑
munerado do art. 7º, XV, da CF é, precisamente, um direito fundamental de
liberdade, como será visto a seguir.

3 A recepção do descanso semanal pelo direito


internacional e constitucional
A recepção pelo direito, seja no plano internacional, seja no plano
interno de países como o Brasil, ao valor cultural retratado pelo descanso
periódico após determinado período de labor vem de longa data. No direito
internacional do trabalho, a Convenção nº 14 da Organização Internacional
do Trabalho (OIT), do longínquo ano de 1921, e que obteve ratificação pelo
Brasil em 1957, prevê o descanso semanal. Ainda no plano do direito in‑
ternacional, o art. 24 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, bem
assim o art. 7º, d, do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais de 1966, ratificado pelo Brasil em 1992, constituem normas
cogentes que asseguram o direito ao descanso semanal, ao desfrutar de
tempo livre. E na história constitucional do Brasil, o direito ao repouso se‑
manal é assegurado desde a primeira constituição social, de 1934, a qual,
em seu art. 121, letra e, preceituava à legislação do trabalho a observância
de “repouso hebdomadário, de preferência aos domingos”.
A vigente CF reconhece ao direito em apreço o estatuto de direito funda-
mental nos seguintes termos, consoante seu art. 7º, caput e XV: São direitos
dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social: (...) repouso semanal remunerado, preferencialmente
aos domingos. Esse direito traduz uma decisão jurídico-objetiva de valor do
constituinte e integra ordenação jurídico-objetiva de valor expressa pelo rol
dos direitos fundamentais dos trabalhadores elencados no art. 7º da CF. Es‑
ses direitos destinam-se a proporcionar ao indivíduo que trabalha a obtenção
de meios úteis à promoção da sua liberdade e igualdade diante dos demais.
A propósito disso, é necessário reiterar que o repouso semanal, como
já sublinhado no item 2, supra, assim como o descanso entre uma e outra
jornada e a suspensão do trabalho mediante greve, são típicos direitos de
liberdade do indivíduo, compatíveis com o Estado de Direito liberal. De ou‑
tro lado, os direitos fundamentais em geral da CF, dentre os quais os dos

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O direito ao repouso semanal efetivo

trabalhadores, concretizam os valores e princípios fundamentais do preâmbulo


e do art. 1º, bem como os objetivos traçados no art. 3º, todos da CF. Basta
ler essas normas para verificar o quanto ressaltam a liberdade e a igualda‑
de. Trata-se de prescrições jurídicas que não constituem simples “adorno”
da ordem jurídico-constitucional, mas são vinculativas para o Estado e para
a sociedade porque assim definido pela Assembleia Nacional Constituinte
de 1987-1988.
No direito ao repouso semanal, preferencialmente aos domingos, como
determina o art. 7º, XV, da CF, despontam duas funções principais dos di‑
reitos fundamentais.
A primeira delas é identificável na defesa que esse direito proporcio‑
na ao indivíduo que trabalha, na medida em que impede possa o Estado,
por meio de atividade legislativa ou administrativa, intervir sem justificação
adequada em direito fundamental de liberdade, levando ao esvaziamento do
seu núcleo essencial. Significa dizer que o repouso semanal deve coincidir,
preferencialmente, com o domingo. A preferência de que cogita o texto jus‑
fundamental tem exatamente esse sentido: só por exceção admite-se possa
o descanso semanal não coincidir com o domingo. Essa exceção, segundo
entendimento doutrinário prevalente, diz respeito a atividades essenciais à
vida comum, como ocorre em serviços públicos e venda de gêneros de ime‑
diata necessidade, e não ao funcionamento irrestrito da atividade econômica.
Questionável, a esse respeito, é a chancela que o Supremo Tribunal
Federal conferiu à MP 1.539-36-97, sucessivamente reeditada até a conver‑
são da MP 1.982-76/2000 na Lei nº 10.101/2000, cujo art. 6º (redação
da Lei nº 11.603/2007) prevê, para o comerciário, direito ao descanso aos
domingos uma vez a cada três semanas. Por relevante, considere-se que
foi adotada a prática do “contrabando jurídico” ao se inserir essa regra em
medida provisória que tratava da participação nos lucros e resultados. Aliás,
o legislador até foi “pródigo” nas alterações feitas na MP, uma vez que em
sua redação original ela dizia haver o direito a um descanso dominical a
cada quatro semanas...
Além de a abertura do comércio em geral aos domingos atender pensa‑
mento estritamente econômico, a imposição de um descanso dominical nos
moldes do referido art. 6º constitui intervenção indevida no direito fundamental
previsto no inciso XV do art. 7º da CF porque esvazia o seu núcleo essencial,

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José Felipe Ledur

o seu âmbito de proteção.3 Como já dito, só por exceção é admissível a não


coincidência do descanso semanal com o domingo. Se tomado como padrão
o período de um mês (quatro semanas) a exceção corresponde ao trabalho
em um domingo; não a um descanso dominical a cada três semanas de
trabalho. Em suma, a palavra preferencialmente do inciso XV foi ignorada
tanto pelo legislador quanto pelo guardião da Constituição.
A segunda função jusfundamental identificável no direito ao repouso
semanal remunerado revela-se no dever de proteção a cargo do Estado em
face de intervenções indevidas no contexto de proteção jurídica de quem
se encontra fragilizado diante de poder econômico ou social no âmbito da
sociedade. A função de proteção é aquela para a qual convergem todas as
demais funções jusfundamentais no moderno constitucionalismo. O Direito
Constitucional busca dar resposta adequada às interferências ilegítimas pro‑
vindas de forças de poder econômico ou social que intervêm de modo fático
nos direitos fundamentais em geral, neutralizando a sua força normativa.
Quando o avanço técnico dirigido, por exemplo, ao incremento de pro‑
dutos e processos ao mesmo tempo produz riscos que põem o próprio de‑
senvolvimento em xeque, deve o Estado controlar esse avanço e proteger os
direitos fundamentais atingidos. Também em conflitos privados de tal modo
desiguais, onde os interesses jurídico-fundamentais de uma parte frente à
outra não tenham possibilidade de afirmação, impõe-se o dever de prote‑
ção estatal.4 Sobrelevam, aqui, deveres de proteção do Estado em face de
intervenções indevidas, oriundas de segmentos da sociedade, em posições
jurídico-fundamentais. Isso ocorre quando forças econômicas ou sociais de
poder buscam neutralizar ou esvaziar, por exemplo, o âmbito de proteção
do direito fundamental ao repouso semanal remunerado, preferencialmente
aos domingos.
A imposição, em relação de emprego, de obrigações contratuais que
exigem a prestação de trabalho nos repousos semanais é exemplo de inter‑
venção fática no direito fundamental sob exame. A esse propósito, é sabido

3
Segundo a doutrina de juristas alemães como Bodo Pieroth e Konrad Hesse, âmbito de proteção de
um direito fundamental é a esfera vital protegida juridicamente ou o objeto de proteção recortado
da realidade pela norma jusfundamental. Pode-se conferir, a propósito, meu Direitos Fundamentais
Sociais – Efetivação no âmbito da democracia participativa. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2009, p. 50.
4
A esse respeito, ver PIEROTH, Bodo e SCHLINK, Bernhard. Grundrechte – Staatsrecht II. 26.
ed., Heidelberg: C.F. Müller, 2010, p. 30. A obra encontra-se traduzida para o português sob a
denominação “Direitos Fundamentais” pela Editora Saraiva. Acerca da função de proteção dos
direitos fundamentais pode-se examinar também artigo de minha autoria: Barreiras constitucionais
à erosão dos direitos dos trabalhadores e a reforma trabalhista. Disponível em: https://hdl.handle.
net/20.500.12178/121690.

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O direito ao repouso semanal efetivo

que a utilização da tecnologia para exigir trabalho fora do ambiente empre‑


sarial e fora do horário normal de trabalho constitui mecanismo largamente
utilizado por segmentos de diferentes setores econômicos, v.g., o bancário
e o educacional, situação à qual até agora nem a sociedade nem o legisla‑
dor deu resposta adequada. A esfera privada do indivíduo que trabalha vem
sendo corrompida nos últimos tempos, na medida em que ele está cada vez
mais vulnerável a exigências laborais proporcionadas pelo uso da tecnologia,
que permite a permanente interferência, inclusive nos dias destinados ao
repouso semanal, no seu espaço vital privado.
Com a pandemia da COVID-19 exacerbou-se a tendência de se confundir
o trabalho com outras necessidades vitais dos trabalhadores ao se trazer
as tarefas laborais para dentro de casa. A falta de delimitação do descanso
semanal como espaço livre de ingerências externas ilegítimas, traduzidas
pela cobrança de tarefas laborais, contribui para a coisificação do indivíduo
como mero agente de produção. O debate se insere em perspectiva mais
ampla, relativo ao futuro da humanidade, o qual exige alterar o sistema de
maximização da produção e do descarte em sistema de manutenção do
necessário à vida.
Finalmente, não é incomum que do exercício da autonomia privada
coletiva pelos sindicatos profissionais e econômicos, assegurado na CF,
provenham cláusulas normativas que interferem sem justificação jurídico‑
-constitucional no âmbito de proteção do direito fundamental assegurado no
inciso XV do art. 7º da CF.5 Nessa hipótese, a atuação da função de proteção
naturalmente deve levar à invalidação de semelhantes cláusulas. A esse pro‑
pósito, de forma surpreendente, dado o extenso rol de violações à CF que
ela contém, a Lei nº 13.467/17 introduziu o art. 611-B na Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT), o qual estabelece serem ilícitas as supressões de
série de direitos fundamentais por meio de convenções e acordos coletivos,
entre os quais o repouso semanal remunerado.

4 O repouso semanal e a legislação infraconstitucional


No plano infraconstitucional, o art. 67 da CLT, a Lei nº 605/49 e seu
decreto regulamentador contêm a normatividade geral acerca do repouso

5
Acerca da existência de limites à possibilidade da intervenção dos entes coletivos em direitos
fundamentais do trabalho, remeto para meu Direitos Fundamentais Sociais – Efetivação no âmbito
da democracia participativa, cit., p. 60-62. A intervenção em direito fundamental sem reserva legal
ou normativa, como é o caso do repouso semanal remunerado, é condicionada a uma estrita
justificação jurídico-constitucional.

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José Felipe Ledur

semanal. A eles seguiram-se normas especiais ou portarias do Ministério


do Trabalho. Como não podia deixar de ser, a legislação afirma o direito ao
descanso semanal em domingos. O art. 67 da CLT dispõe, desde 1943,
que o descanso semanal, no todo ou em parte coincidente com o domingo,
deve corresponder a 24 horas consecutivas, “salvo motivo de conveniência
pública ou necessidade imperiosa do serviço” (grifei). Entretanto, já a partir
da edição da Lei nº 605/49 e respectiva regulamentação, aspectos relacio‑
nados à remuneração do repouso e mesmo da remuneração diferenciada
do trabalho que viesse a ser prestado nesses dias foram objetos de preocu‑
pação do legislador, e não o efetivo repouso. Nesse mesmo passo segue a
doutrina e a jurisprudência, que se contentam em definir as circunstâncias
em que possa haver o trabalho no repouso semanal ou, especialmente, a
compensação patrimonial devida quando há trabalho nesses dias.
Não obstante esse estado de resignação ante a violação efetiva do di‑
reito ao repouso por supostas exigências do mercado, parece decisivo que se
passe a atuar no sentido da proteção efetiva desse direito, a fim de superar
seu esvaziamento mediante simples remuneração. Alguns mecanismos para
tanto serão reportados de modo sucinto no item seguinte.

5 Cidadania ativa e ações processuais inibitórias


Enquanto lesão que atinge a toda comunidade, e não somente o tra‑
balhador enredado com atividades laborais nos dias de repouso, a reação
a esse estado de coisas pode encontrar na mobilização social mecanismo
dirigido ao enfrentamento do problema. Trata-se da assim designada “cida‑
dania ativa”, mediante a qual o cidadão toma parte na formação da vontade
política da sociedade. Iniciativas dessa natureza naturalmente pressupõem
que haja indivíduos dispostos a abandonar a sua menoridade política, de
modo a que tragam ao debate público questões como a que está sob exame
e que não dizem respeito ao interesse exclusivo de uma associação ou de
um ou mais partidos políticos.
Do ponto de vista judicial, é sabido que o art. 8º da CF assegura aos
sindicatos legitimação para propor ações coletivas dirigidas a afrontar a le‑
são a interesses ou direitos coletivos. A eficácia desse tipo de ação satisfaz
o moderno desiderato do direito, que é o de alcançar, com precedência, a
restauração da ordem jurídica violada, e não simplesmente a indenização
diante de condutas ilícitas. Os artigos 84 do Código de Defesa do Consumidor
e o art. 497 do Novo CPC proporcionam a utilização de meio processual – a

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O direito ao repouso semanal efetivo

ação inibitória – dirigida a conter a provável prática futura de ilícito, de ato


contrário ao direito. Essa é a lição de Luiz Guilherme Marinoni, ao discorrer
sobre a ação inibitória no direito brasileiro.6 Destaca, ainda, o autor, no que
diz com o caráter e a finalidade da ação inibitória:

A ação inibitória é consequência necessária do novo perfil


do Estado e das novas situações de direito substancial. Ou
seja, a sua estruturação, ainda que dependente de teorização
adequada, tem relação com as novas regras jurídicas, de con‑
teúdo preventivo, bem como com a necessidade de se conferir
verdadeira tutela preventiva aos direitos, especialmente aos
de conteúdo não patrimonial.7

Por essas razões e outras que se lançaram ao longo deste artigo, há


fundamentos jurídicos bastantes para que tanto a sociedade quanto os tra‑
balhadores diretamente afetados em seu direito por medidas tradicionais
ou mediante meios tecnológicos possam vir a obter proteção estatal que
lhes garanta o efetivo gozo do repouso semanal aos domingos. Exceção a
isso só deverá ser admissível quando atendidos pressupostos materiais ou
jurídicos que a justifiquem.

6 Conclusão
Em termos de síntese conclusiva pode-se destacar que o repouso
semanal é direito fundamental que encontra sua fonte material em cultura
milenar. Trata-se de direito de liberdade que preserva o indivíduo de injun‑
ções externas incompatíveis com a disposição de um dia da semana para
atividades que não o lembrem da rotina laboral. Como direito de liberdade,
reconhecido há quase um século em normas de direito internacional, o repouso
semanal remunerado passou a direito fundamental na CF de 1988, passível
não de negação, mas de reconhecimento e de promoção pelo Estado e pela
sociedade. Entretanto, o que se observa é que o pensamento econômico
prevalecente vem determinando a gradativa erosão e violação desse direito
de liberdade, com a correspondente resignação jurídica e social.

6
Ver a obra Tutela inibitória e tutela de remoção de ilícito, do citado autor. Disponível em Jus
Navigandi. Acesso em: 17 jul. 2014.
7
Idem, ibidem.

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José Felipe Ledur

A questão que remanesce é se os cidadãos, a comunidade e os agen‑


tes estatais desenvolverão sensibilidade diante da violação de direitos
fundamentais e capacidade para restaurar espaços vitais que efetivamente
concorram para que os indivíduos possam, constantemente, recriar-se como
pessoas e construir uma sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, I, da CF).

Referências
HÄBERLE, Peter. Der Sonntag als Verfassungsprinzip. Berlin: Duncker & Humbold. 1988.
LEDUR, José Felipe. Direitos Fundamentais Sociais – Efetivação no âmbito da
democracia participativa. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.
LEDUR, José Felipe. Barreiras constitucionais à erosão dos direitos dos trabalhadores e
a reforma trabalhista. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12178/121690.
Acesso em: 20 ago. 2022.
MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela inibitória e tutela de remoção de ilícito. Disponível
em Jus Navigandi. Acesso em: 17 jul. 2014.
PIEROTH, Bodo; SCHLINK, Bernhard. Grundrechte – Staatsrecht II. 26. ed., Heidelberg:
C.F. Müller, 2010.

Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2018 da


Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

LEDUR, José Felipe. O direito ao repouso semanal efetivo. Revista Fórum


Justiça do Trabalho, Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 19-28, out. 2022.

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DOUTRINA

MONITORAMENTO DO AMBIENTE DE
TRABALHO: O MEIO E O FIM DE UM
PROGRAMA DE INTEGRIDADE

ALINE MACIEL SILVA DIAS

Advogada. Especialista em Compliance pela PUCRS. Especialista em Direito e Processo do


Trabalho pela FEMARGS. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela PUCRS.

JOÃO VICENTE ROTHFUCHS

Advogado. Mestre em Direito pela Universidade de Coimbra/PT. Professor Universitário na


PUCRS. Titular da Cadeira nº 35 da Academia Sul-Rio-Grandense de Direito do Trabalho.

Resumo: Esta pesquisa tem como tema central a análise dinâmica do compliance no ambiente
de trabalho. Para tanto, examina inicialmente no que consiste um programa de integridade,
seus pilares e objetivos, os sujeitos da relação de emprego e os limites do poder diretivo do
empregador frente aos direitos de personalidade do empregado. Aborda os cuidados que o
empregador deve tomar para criar e aplicar um programa de compliance, buscando-se, assim,
examinar a importância da implementação de efetivas normas de compliance pelo empregador
sem violação aos limites de direitos e garantias constitucionais dos empregados.
Palavras-chave: Programa de compliance. Relação de emprego. Poder diretivo do empregador.
Direitos de personalidade do empregado.
Sumário: 1 Introdução – 2 Generalidades do compliance – 3 Direitos e deveres do empregado
e do empregador – 4 Cautelas na aplicação do compliance no ambiente de trabalho –
5 Considerações finais – Referências

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Aline Maciel Silva Dias, João Vicente Rothfuchs

1 Introdução
O mundo vive a chamada sociedade de risco.1 A expressão sociedade
de risco foi cunhada pelo sociólogo alemão Ulrich Beck, em 1986, após o
acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, para designar os dias em que
vivemos, a partir da constatação de que os perigos hoje enfrentados pela
humanidade são resultado dos efeitos colaterais da própria ação humana.
Não há como prever todos os riscos de operações de empresas e de orga‑
nizações em geral.
Diante desse contexto, o compliance surge como um mecanismo para
auxiliar na geração e transmissão de informações seguras dentro das em‑
presas e das organizações, buscando, assim, minimizar os prejuízos gera‑
dos pelos riscos da atividade, para impedir que as falhas cometidas pelas
corporações sejam capazes de trazer graves e irreparáveis danos à imagem
e à reputação.
Nesse sentido, não há como se falar em programa de compliance sem
se falar em relações de trabalho. Isso porque a noção de compliance su‑
gere a criação de mecanismos e institutos, como programas ou manuais,
treinamentos que são voltados, primordialmente, às pessoas que trabalham
na empresa.
São os trabalhadores, sejam eles empregados, sejam eles prestadores
de serviços, a quem as medidas de compliance são aplicadas de forma di‑
reta. Trata-se do cumprimento da ética e da moral na microssociedade que
constitui a empresa.
Lembra-se que o empregador responde pelos danos causados por seus
empregados e prepostos no exercício do trabalho ou em razão dele e que,
muito embora exista a possibilidade de ação de regresso em alguns casos,
muitas vezes, o dano reputacional causado à empresa é irreversível.
No entanto, também deve-se tomar cuidado para que na criação e na
aplicação do programa de compliance não se gere novos riscos, de natureza
trabalhista. Os programas de compliance produzem repercussões trabalhis‑
tas, quer os envolvidos queiram, quer não.
Com isso, busca-se fazer um necessário e importante diálogo entre direito
do trabalho e compliance a fim de se verificar até onde o monitoramento do
ambiente de trabalho reduz riscos e até onde pode criá-los, focando, espe‑
cialmente, nas normas internas e nas medidas de denúncia e investigação,

1
RIBEIRO, Ricardo Lodi. Globalização, sociedade de risco e segurança. Revista de Direito
Administrativo, v. 246, p. 270, set. 2007. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/
index.php/rda/article/view/41660/40855. Acesso em: 20 abr. 2021.

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Monitoramento do ambiente de trabalho: o meio e o fim de um programa de integridade

sob o ponto de vista dos limites do poder diretivo do empregador e os direitos


fundamentais do empregado.

2 Compliance
2.1 Generalidades de compliance
O compliance nas empresas é, em apertada síntese, estar em confor‑
midade com leis e regulamentos.2
Esse conceito abrange todas as políticas, regras, controles internos
e externos aos quais a organização precisa se adequar. Adequando-se ao
compliance, suas atividades estarão em plena conformidade com as regras
e legislações aplicadas aos seus processos.
Tanto a empresa quanto todas as pessoas que nela trabalham, inclu‑
sive fornecedores e terceirizados, precisam se comportar de acordo com as
regras dos organismos reguladores.
Atualmente, o compliance é considerado como uma área estratégica e
essencial, sendo aplicável a todos os tipos de companhias, especialmente
considerando que o mercado passou a exigir dos atores atuantes condutas
legais e éticas por parte das empresas, com o intuito de que a lucrativida‑
de ocorra de modo sustentável e a partir do desenvolvimento econômico e
socioambiental.3
No entanto, deve-se ter em mente que não existe um modelo autoapli‑
cável de programa de compliance, uma vez que diversos são os aspectos a
serem considerados para a sua formação, como: realidade da organização; a
sua cultura; tamanho; setor de atuação; local de operação; tipo de atividade
desenvolvida e as suas circunstâncias específicas.
Para Marcelo de Aguiar Coimbra e Vanessa Alessi Manzi “compliance
é o dever de cumprir, de estar em conformidade e fazer cumprir leis, diretri‑
zes, regulamentos internos e externos, buscando mitigar o risco atrelado à
reputação e o risco legal/regulatório”.4 Na mesma linha, um programa de
compliance é um sistema complexo e organizado que interage com proces‑
sos de negócios da empresa e inclui pessoas, ações, ideias, documentos,

2
Um programa de compliance bem estruturado vai muito além do simples cumprimento da legislação;
porém, para a finalidade deste estudo, de forma bastante resumida, se parte dessa afirmação.
3
RIBEIRO, Marcia Carla Pereira; DINIZ, Patricia Dittrich Ferreira. Compliance e Lei Anticorrupção nas
Empresas. Revista de Informação Legislativa – RIL, ano 53, n. 205, jan./mar. 2015, p. 88.
4
COIMBRA, Marcelo de Aguiar; MANZI, Vanessa Alessi. Manual de Compliance: preservando a boa
governança e a integridade das organizações. São Paulo: Atlas, 2010. p. 2.

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Aline Maciel Silva Dias, João Vicente Rothfuchs

entre outros.5 Logo, um “compliance program” ou programa de conformidade


seria vital para a proteção aos direitos fundamentais dos trabalhadores e
para promover a gestão de riscos no meio ambiente de trabalho. A empre‑
sa precisaria estipular políticas e procedimentos para lidar com os efeitos,
vantagens e desvantagens do dia a dia laboral.
Para que seja possível se vislumbrar um programa de integridade efe‑
tivo são estipulados nove componentes primordiais: suporte da alta admi‑
nistração; avaliação de riscos; código de conduta e políticas de compliance;
treinamento e comunicação; canais de denúncias; investigações internas;
due diligence; monitoramento e auditoria e melhoria contínua.6
A Controladoria-Geral da União recomenda que as empresas privadas
possuam como base de seu programa de integridade, ao menos, cinco pila‑
res, quais sejam, o comprometimento da alta direção; um setor responsável
direto pela condução autônoma; gestão de riscos; regras e instrumentos
internos definidos e constante monitoramento.7
Referidos pilares estão elencados no Decreto nº 8.420/2015 que re‑
gulamenta a Lei nº 12.846/2013. Esta lei dispõe sobre a responsabilização
administrativa de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a Administra‑
ção Pública, nacional ou estrangeira e dá outras providências.
Nesse sentido, o artigo 42 do Decreto nº 8.420/20158 elenca os
pressupostos para criação de um programa de integridade válido e eficaz:

Art. 42. Para fins do disposto no §4º do art. 5º, o programa de


integridade será avaliado, quanto a sua existência e aplicação,
de acordo com os seguintes parâmetros:
I – Comprometimento da alta direção da pessoa jurídica, incluí‑
dos os conselhos, evidenciado pelo apoio visível e inequívoco
ao programa;

5
SERPA, Alexandre; SIBILLE, Daniel. Os Pilares do Programa de Compliance: uma breve discussão.
São Paulo: Roncarati, 2016. E-book. Disponível em: https://www.editoraroncarati.com.br/v2/
phocadownload/os_pilares_do_programa_de_compliance.pdf. Acesso em: 15 nov. 2019.
6
SERPA, Alexandre; SIBILLE, Daniel. Os Pilares do Programa de Compliance: uma breve discussão.
São Paulo: Roncarati, 2016. E-book. Disponível em: https://www.editoraroncarati.com.br/v2/
phocadownload/os_pilares_do_programa_de_compliance.pdf. Acesso em: 15 nov. 2019.
7
CGU. CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO. Programa de Integridade: Diretrizes para Empresas
Privadas. 2015. p. 6-7. Disponível em: https://www.cgu.gov.br/Publicacoes/etica-eintegridade/
arquivos/programa-de-integridade-diretrizes-para-empresas-privadas.pdf. Acesso em: 15 nov. 2019.
8
BRASIL. Decreto nº 8.420, de 18 de março de 2015. Regulamenta a Lei nº 12.846, de 1º de
agosto de 2013, que dispõe sobre a responsabilização administrativa de pessoas jurídicas pela
prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/decreto/d8420.htm.
Acesso em: 24 abr. 2020.

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Monitoramento do ambiente de trabalho: o meio e o fim de um programa de integridade

II – padrões de conduta, código de ética, políticas e procedimen-


tos de integridade, aplicáveis a todos os empregados e admi‑
nistradores, independentemente de cargo ou função exercidos;
III – padrões de conduta, código de ética e políticas de integri-
dade estendidas, quando necessário, a terceiros, tais como,
fornecedores, prestadores de serviço, agentes intermediários
e associados;
IV – treinamentos periódicos sobre o programa de integridade;
V – análise periódica de riscos para realizar adaptações neces‑
sárias ao programa de integridade;
(...)
VII – controles internos que assegurem a pronta elaboração e
confiabilidade de relatórios e demonstrações financeiros da
pessoa jurídica;
(...)
X – canais de denúncia de irregularidades, abertos e ampla‑
mente divulgados a funcionários e terceiros, e de mecanismos
destinados à proteção de denunciantes de boa-fé;
(...)
XIV – verificação, durante os processos de fusões, aquisições e
reestruturações societárias, do cometimento de irregularidades
ou ilícitos ou da existência de vulnerabilidades nas pessoas
jurídicas envolvidas;
XV – monitoramento contínuo do programa de integridade
visando seu aperfeiçoamento na prevenção, detecção e com‑
bate à ocorrência dos atos lesivos previstos no art. 5º da Lei
nº 12.846, de 2013;
(...). (Grifos nossos)

Observa-se que a “matéria-prima” dos pilares de compliance, é, subs‑


tancialmente, as pessoas que trabalham na empresa, os seres humanos e
como se relacionam e se comportam.
É importante perceber que todas as pessoas de uma empresa, sejam
elas sócias, diretores, empregados de alto ou baixo escalão, prestadores
de serviços ou terceiros, em geral, são parte do “meio” e do “fim” de um
efetivo programa de integridade.
O que se pretende com um programa de compliance? Busca-se criar
um comportamento coletivo ético que preze pela eficiência e pela eficácia,9

9
ANDRADE, Flavio Carvalho Monteiro de; FERREIRA, Isadora Costa. Alguns contornos especiais
do Compliance em suas relações com a área trabalhista corporativa. In: OLIVEIRA, Luis Gustavo

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Aline Maciel Silva Dias, João Vicente Rothfuchs

busca-se que a empresa esteja em conformidade com leis, decretos, con‑


dutas e com o “politicamente correto”.
Como se cria e se aplica um programa de compliance? Com engajamen‑
to, participação, observação e cumprimento das normas pelas pessoas que
trabalham na empresa. Adequar ou mudar a cultura organizacional exige a
alteração do comportamento humano em nível individual e gestão de riscos
é uma ação humana intencional e situada em um contexto organizacional.
Riscos de compliance se materializam quando são descumpridas leis,
normas, códigos de conduta ou políticas internas, e suas consequências
podem incluir tanto danos financeiros quanto reputacionais. São resultan‑
tes da falta de uma cultura de compliance, valores éticos pouco difundidos
ou não aplicados de cima para baixo, fragilidade nos controles internos e a
falta ou a ineficiência de políticas, processos e procedimentos internos.10
Nesse sentido, é tão primordial o engajamento da liderança (tone at
the top), dos gestores e dos subordinados de uma empresa. Todos exer‑
cem papel fundamental na criação e no resultado eficaz de um programa
de conformidade.
É importante que o compliance seja estruturado a partir da missão e
dos valores da companhia, uma vez que influenciará em todas as áreas da
empresa e do seu entorno, pois esse será um modelo do próprio negócio
acarretando mudança em várias estratégias, estruturas organizacionais,
políticas e processos operacionais.11
Dois pilares do compliance são mais intimamente ligados ao ambiente
laboral, causando efeitos diretos quanto a riscos e sua prevenção: as nor‑
mas internas e as medidas de denúncia e investigação de irregularidades.

2.2 Normas internas


Dentre as normas internas inerentes ao programa de compliance, des‑
taca-se o código de conduta. O código de conduta é considerado a expressão
dos princípios éticos e valores da organização, devendo comunicar com cla‑
reza diretrizes e orientar a atuação de todos. Ele representa a formalização

Miranda de (Org.). Compliance e integridade: aspectos práticos e teóricos. Vol. 2. Belo Horizonte:
D’Plácido, 2019. p. 194.
10
INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Compliance à luz da governança
corporativa. São Paulo, SP: IBGC, 2017. (Série: IBGC Orienta). p. 33.
11
COIMBRA, Marcelo de Aguiar; MANZI, Vanessa Alessi. Manual de Compliance: preservando a boa
governança e a integridade das organizações. São Paulo: Atlas, 2010. p. 18-19.

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Monitoramento do ambiente de trabalho: o meio e o fim de um programa de integridade

das expectativas a respeito do comportamento e da conduta dos sócios, dos


administradores, dos empregados e demais partes interessadas.12
Veja-se que os Códigos de Conduta são normas produzidas pela organiza‑
ção e podem obrigar, inclusive, a alta direção e os seus parceiros comerciais
a seguirem tais condutas, uma vez que os códigos possuem mecanismos
de monitoramento revestidos de juridicidade, pois descrevem uma conduta
típica a ser observada e se baliza como uma espécie de lei interna.13
Sendo assim, o Código deve ser discutido e elaborado com a participa‑
ção mais ampla possível de seus administradores, empregados e represen‑
tantes de partes relevantes. A ampla participação na elaboração do código
de conduta traz maior engajamento, prevenindo o descumprimento por falta
de identificação com o conteúdo ou incompreensão.
Deve-se ter em mente que o Código precisa ser lido e compreendido do
CEO ao menor cargo da empresa, buscando-se sempre focar em aspectos
essenciais da empresa, não contendo detalhamento para todas as situações
possíveis. Assuntos e detalhes relacionados a cargos e atividades específi‑
cos devem ser tratadas em políticas separadas.
Nesse sentido, conforme definição da ISO 9000:2015, “as políticas
são decisões antecipadas que refletem as intenções e orientações de uma
organização. Elas apresentam um conjunto de regras que auxiliam o dire‑
cionamento das atividades e o cumprimento de objetivos da organização”.
Existem diversos tipos de política interna a depender do tema. Há políti‑
cas referentes à anticorrupção, à interação com entidades e setor público, a
cortesias comerciais, a conflitos de interesse, e, mais diretamente voltadas
à área trabalhista (diga-se diretamente, porque todas as políticas são, em
maior ou menor escala, aplicáveis aos trabalhadores), políticas de bônus,
de utilização de celular/equipamentos da empresa, de privacidade, de segu‑
rança da informação, de saúde e segurança, de home office, entre outras.
Os programas de compliance e as normas internas, portanto, interagem
com os sistemas tradicionais do direito e com atores privados de origem não
estatal, de modo que as empresas constituem, na prática, um subsistema
jurídico único.
Para que as normas internas sejam efetivas, é fundamental o expresso
compromisso do Conselho e da Diretoria em construir e manter uma cultura

12
INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Compliance à luz da governança
corporativa. São Paulo, SP: IBGC, 2017. (Série: IBGC Orienta). p. 18.
13
FORNASIER, Mateus de Oliveira; FERREIRA, Luciano Vaz. A regulação das empresas transnacionais
entre as ordens jurídicas estatais e não estatais. Revista de Direito Internacional, Brasília, v. 12,
n. 1, 2015. p. 410.

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Aline Maciel Silva Dias, João Vicente Rothfuchs

de integridade corporativa, que deve pautar os valores e os comportamentos


da organização.
Sem o engajamento da governança, o programa de compliance fica sem
um de seus pilares fundamentais e sua implementação dentro da empresa
fica seriamente limitada.
A cultura organizacional molda a gestão e o comportamento das pessoas
na empresa. Logo, a forma como se desenvolve a relação entre empregado
e empregador sofre influência direta da cultura organizacional.14
Muitas vezes os Códigos de Conduta não possuem adesão dentro da
organização e, entre as causas que levam à não aceitação do código de con‑
duta, de acordo com Robert Henry Srour estão: a dissonância entre o dizer e
o agir, a existência de códigos minimalistas ou muito extensos e a existência
de conteúdo impositivo e disciplinar, que elimina o processo pedagógico e
elimina a adesão.15 Ainda, é imprescindível que haja constante treinamento
sobre as normas e condutas em linguagem que alcance todos os cargos.
Assim, a empresa deve estar comprometida em adotar, integrar e dis‑
seminar o código de conduta, sendo ele de fácil compreensão e possível
cumprimento, além de nele ficarem acessíveis e claras a responsabilidade de
cada um e a obrigatoriedade de prestação de contas pelas ações realizadas.

2.3 Investigação interna


Outro pilar essencial e intimamente ligado às relações trabalhistas é
a existência de canal de denúncia e procedimento de investigação interna.
A existência de canal aberto para denúncias por violação e desrespeito
aos direitos e às garantias dos trabalhadores é instrumento essencial para
bom funcionamento do programa de compliance, possibilitando à empresa
servir-se de ações corretivas para reparar desvios durante a própria vigência
do contrato de trabalho.
É por meio do canal de denúncias que grande parte das irregularidades
é descoberta nas empresas.16

14
MATHIES, Anaruez. Assédio moral e compliance na relação de emprego: dos danos e dos custos
e instrumentos de prevenção de acordo com a reforma trabalhista. Curitiba: Juruá, 2018. p. 148.
15
SPOUR, Robert Henry. Risco moral nas empresas e azares dos Códigos de Ética. A gestão de
riscos de compliance como aliada da boa governança corporativa. In: CANDELORO, Ana Paula;
BENEVIDES, Marilza M. (Coord.). Governança corporativa em foco: inovações e tendências para a
sustentabilidade das organizações. São Paulo: Saint Paul, 2014. p. 61-62.
16
MATHIES, Anaruez. Assédio moral e compliance na relação de emprego: dos danos e dos custos
e instrumentos de prevenção de acordo com a reforma trabalhista. Curitiba: Juruá, 2018. p. 153.

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Monitoramento do ambiente de trabalho: o meio e o fim de um programa de integridade

Para que o canal de denúncias seja efetivo é necessário que a empresa


garanta a confidencialidade e a possibilidade de anonimato das denúncias
a fim de evitar retaliações e práticas assediadoras.
Ainda, não basta a existência de um canal de denúncias, ele deve ser
amplamente difundido e possuir políticas de confidencialidade para funcio‑
nar adequadamente.
O canal de denúncia pode ser efetivado por meio de linha telefônica sem
identificação de chamadas, conhecida como hotline, uso de e-mail, cartas
e urnas que possibilitem a denúncia sem identificação, além de espaço no
sítio da empresa para denúncias anônimas.17
O ideal é que o canal de denúncia seja operado por empresa terceirizada
especializada no assunto, a fim de evitar o conflito de interesse e garantir
que a denúncia não chegue ao próprio denunciado.
Não são incomuns casos de assédio moral após as denúncia chega‑
rem à Justiça do Trabalho em razão de não ter sido protegido o trabalhador
denunciante.18
Há, inclusive, situações em que ao próprio assediador (objeto da de‑
núncia) é encaminhado o relato com identidade do empregado denunciante
para que este tome providências, o que gera problemas trabalhistas e en‑
fraquecimento do programa de integridade.
Quanto mais externo é o tratamento inicial da denúncia, maior é a ga‑
rantia de que não haverá influências de pessoas da organização.
O distanciamento traz certa garantia de que não há possibilidade de
áreas internas, como a de tecnologia da informação ou pessoas da alta ad‑
ministração tenham acesso ao conteúdo da denúncia.
No caso de o canal de denúncia ser interno, uma área específica deve
ficar responsável pela tarefa: a área de compliance ou auditoria interna. Não

17
CRUZ, Marco. Fazendo a coisa certa – Como criar, implementar e monitorar programas efetivos
de compliance. [S.l.: Simplíssimo], 2017, edição Kindle.
18
“EMENTA: ASSÉDIO MORAL. EXISTÊNCIA DE PROVA DE CONDUTA LESIVA DA RECLAMADA.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS DEVIDA. Existindo provas nos autos acerca de atos típicos
de assédio moral de que teria sido vítima a autora, há se falar em pagamento de indenização por
dano moral. ‘Afirmou que comunicou o ocorrido à supervisora, Sra. Ramaiane e, posteriormente, à
coordenadora, Sra. Karen Cheila, bem como fez uma reclamação no canal de denúncias da empresa,
mas que nenhuma providência foi tomada. Disse que, após a denúncia feita, a partir de agosto de
2019, passou a sofrer perseguições e retaliações por parte da supervisora Ramaiane, a qual, como
forma de punição, limitou os seus serviços e a transferiu da equipe de ‘apoio’ aos funcionários
do call center (onde não realizava atendimento de ligações), para o atendimento de call center”.
(TRT18, RORSum – 0011940-48.2019.5.18.0008, Rel. PLATON TEIXEIRA DE AZEVEDO FILHO, 2ª
TURMA, 02/07/2020). Disponível em: https://trt-18.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/870659064/
rorsum-119404820195180008-go-0011940-4820195180008/inteiro-teor-870659091. Acesso
em: 15 fev. 2021.

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Aline Maciel Silva Dias, João Vicente Rothfuchs

se recomenda cumular com outras áreas de perfis similares, como ouvidoria


ou recursos humanos, por exemplo, em razão de eventual ineficiência no
tratamento da denúncia.19
Nos termos do artigo 42, inciso X, do Decreto Federal nº 8.420/15,
que regulamenta a Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/13), um programa de
integridade deve ter “canais de denúncia de irregularidades, abertos e ampla‑
mente divulgados a funcionários e terceiros, e de mecanismos destinados à
proteção de denunciantes de boa-fé”.20 Ou seja, é enfatizada a necessidade
de proteção do denunciante do início ao fim da investigação.
Antonio Carlos Aguiar refere que, para a efetividade da aplicação de
canais de denúncia com base na eficácia dos Direitos Fundamentais, “deverá
ser instalada e preservada uma procedimentalização complexa que garanta
a ampla defesa e o devido processo legal”.21
Nesse sentido, não basta a existência do canal de denúncia e sua di‑
vulgação. Deve haver o tratamento adequado da denúncia, sendo realizada
uma investigação sem a exposição do denunciante, tomadas as medidas
cabíveis e com o retorno ao denunciante sobre o resultado da denúncia.
Em denúncias de assédio, seja moral, seja sexual no ambiente de tra‑
balho, a justiça do trabalho tende a levar em consideração, em uma recla‑
mação trabalhista que busca indenização por tal fato, as medidas tomadas
pela empresa para coibir as ações de assédio.
No entanto, a jurisprudência sobre o tema desconsidera o fato
de existir canal de denúncia se a empresa se omite em apurar a irre‑
gularidade denunciada22 ou se faz “vista grossa” sobre determinadas

19
CARVALHO, André Castro; ALVIM, Tiago Cripa. Linha ética: funcionamento da denúncia, papel do
denunciante e uso do canal de denúncias. In: CARVALHO, André Castro; BERTOCCELLI, Rodrigo
de Pinho; ALVIM, Tiago Cripa; VENTURINI, Otavio (Coord.). Manual de Compliance. Rio de Janeiro:
Forense, 2019. p. 153-179.
20
Decreto-Lei nº 8.420, de 18 de março de 2015. Brasília, DF. Planalto. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/decreto/d8420.htm. Acesso em: 09 abr. 2021.
21
AGUIAR, Antonio Carlos. Compliance um direito fundamental nas relações de trabalho: uma marca
da hipermodernidade. Revista LTr. 79-10/1236, Vol. 79, nº 10, outubro de 2015.
22
“ASSÉDIO MORAL. CÓDIGO DE CONDUTA OU CANAIS FORMAIS DE DENÚNCIA NÃO EXIMEM DE
CULPA EMPRESA QUE SE OMITE EM APURAR A DISCRIMINAÇÃO E DEGRADAÇÃO DAS CONDIÇÕES
DE TRABALHO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. O fato de a empresa comprovar a implementação de códigos
de conduta, ética ou canais formais internos através dos quais o corpo funcional poderia comunicar
ou denunciar eventuais irregularidades não obsta a que, identificada prática de assédio de superior
contra empregada, seguida da manifesta omissão da reclamada em apurar as denúncias, esta
procure nesta especializada a reparação do dano extrapatrimonial ocasionado. In casu, a despeito
das negativas da reclamada, os graves fatos referidos pela reclamante e atestados pela prova
oral, configuram a discriminação, o isolamento e a desqualificação funcional, com reiterados
atentados à sua dignidade, de que decorre o dever de indenizar. Imprestável o depoimento da
testemunha da Ré, que não trabalhou com a reclamante na época dos fatos. Outrossim, conforme

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Monitoramento do ambiente de trabalho: o meio e o fim de um programa de integridade

ações, ainda que haja normas de conduta prevendo sua irregulari-


dade.23
No que se refere ao tratamento dado à denúncia, deve haver cuidado
especial quanto ao sigilo e à confidencialidade das informações que possam
ser geradas por investigações do departamento de compliance.
Quando o empregado adere ao programa de integridade, deve se com‑
prometer expressamente a não divulgar quaisquer informações difamatórias
ou caluniosas sobre seus colegas de trabalho, sejam eles superiores hierár‑
quicos, empregados ou terceiros.

destacou o julgador de piso, a reclamada não trouxe qualquer prova documental quanto à denúncia
e procedimento supostamente instaurado. No mais, endosso a percepção do juízo de origem
acerca da situação em análise, no sentido de que ‘apesar da Reclamada juntar à contestação, o
‘Lançamento de Iniciativa de Conduta esperada dos empregados’ (fls. 387 e seguintes), inclusive
tratando do tema ‘retaliação’, procedeu a dispensa da Autora antes mesmo de apurar a notícia
de assédio em suas dependências’, bem como de que ‘Não basta ao empregador disponibilizar
canais de ‘denúncia’ ou implementar código de ética estampando fotos de trabalhadores felizes,
se permite ato degradante da trabalhadora em suas dependências, sem a adoção das medidas
pertinentes a coibir a pratica de condutas tão perniciosas por meio de seus prepostos”. (TRT-2
10003652220195020703 SP, Relator: RICARDO ARTUR COSTA E TRIGUEIROS, 4ª Turma – Cadeira
4, Data de Publicação: 19/11/2019). Disponível em: https://trt-2.jusbrasil.com.br/jurisprudenc
ia/782570997/10003652220195020703-sp. Acesso em: 14 fev. 2021.
23
JUSTA CAUSA. “Embora seja indubitável que o código de conduta era de notório conhecimento de
todos os funcionários da reclamada, tendo o reclamante informado, inclusive, que participou de
sua elaboração, a prova oral revelou que a reclamada fazia vista grossa para a conduta relativa ao
conflito de interesses, uma vez que a testemunha Clécio informou que tem conhecimento que a
Lafarge vendeu caminhões para alguns de seus funcionários e que estes passaram a ser utilizados
em suas próprias obras tal como na usina em Sete Lagoas; que as máquinas tinham seus preços
orçados na região e eram enviados e-mails ao reclamante e ao Sr. Jeferson, líder administrativo
para posterior análise final de Maurício no setor de suprimentos. Assim, embora não haja dúvida de
que a conduta do autor nos negócios com os fornecedores da reclamada (Villa e Multimak) viola as
normas de conduta da reclamada, ficou comprovado, por outro lado, que houve aprovação de tais
negociação segundo o trâmite regular da empresa, no setor de suprimentos, as negociações não
prejudicavam a empresa, mas, ao contrário, eram em valores inferiores a outras locações e, ainda,
eram realizadas em relação a outros funcionários, inclusive com veículos comprados da própria
reclamada. (...) O comunicado de dispensa (fl. 322) apontou como determinante para a rescisão
por justa causa a violação de regra expressa constante do código de conduta da empresa, item
evitando conflitos de ‘interesse’, subitem ‘relações com um concorrente, cliente ou fornecedor’.
Não constou expressamente o inciso do art. 482 no qual a conduta do autor deveria se enquadrar.
Com base em todas as alegações das partes, analiso a violação apontada na comunicação e seu
enquadramento nos incisos a (improbidade) e h (indisciplina ou insubordinação). Por todo o exposto
acima, considero que a conduta do reclamante não se caracteriza como improba ou desonesta,
já que aprovada de forma explícita e implícita pela empregadora, o que afasta a subsunção ao
inciso a do art. 482, da CLT. Da mesma forma, restou comprovado pelos elementos de prova
nos autos que a conduta do autor não se enquadra como indisciplina nem insubordinação, como
fundamentado acima, razão pela qual fica afastada a subsunção ao inciso h do art. 482, da CLT”.
(Fragmento sentencial de lavra da MM. Juíza do Trabalho Carla Cristina de Paula Gomes) (TRT-3
– RO: 02192201400303005 MG 0002192-97.2014.5.03.0003, Relator: Luiz Otavio Linhares
Renault, Primeira Turma, Data de Publicação: 21/07/2017). Disponível em: https://trt-3.jusbrasil.
com.br/jurisprudencia/1110916659/recurso-ordinario-trabalhista-ro-2192201400303005-
mg-0002192-9720145030003. Acesso em: 14 fev. 2021.

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Aline Maciel Silva Dias, João Vicente Rothfuchs

Apesar de não haver obrigação legal no sentido de abertura de procedi‑


mento de sindicância antes de aplicação de sanções decorrentes de condu‑
tas irregulares apuradas pelo programa de compliance, é recomendável que
seja realizado o procedimento permitindo o direito de defesa e contraditório
do empregado. Dependendo da gravidade do caso, pode haver, inclusive,
presença de advogado ou membro do sindicato a fim de garantir o devido
processo legal.24
Veja-se que um programa de integridade que não se mostra suficien‑
temente apto a receber, investigar e remediar denúncias de violações ao
código de conduta, oferecendo a devida proteção aos denunciantes, corre o
sério risco de tornar-se inócuo.
A mera disponibilização de cartazes acerca da existência de canais de
denúncia, sem oferecimento de treinamentos específicos e periódicos, como
exorta o art. 42 e incisos do Decreto nº 8.420/2015, regulamentador da Lei
nº 12.846/2013, é insuficiente na geração de confiança nos empregados
para realização de denúncias.

3 Direitos e deveres do empregado e do empregador


3.1 Relação de emprego
Sendo o escopo do presente estudo a análise do compliance pela ótica
de que o ambiente de trabalho é o meio e o fim de um programa de integri‑
dade, necessária se faz a revisão dos conceitos dos sujeitos da relação de
emprego: empregado e empregador.
O conceito de empregado está disposto no artigo 3º da Consolidação
das Leis do Trabalho, segundo o qual “considera-se empregado toda pessoa
física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a
dependência deste e mediante salário”.
Contudo, Mauricio Godinho Delgado defende que o preceito celetista
acerca do empregado é incompleto, devendo ser lido em conjunto com o

24
ANDRADE, Flavio Carvalho Monteiro de; FERREIRA, Isadora Costa. Alguns contornos especiais
do Compliance em suas relações com a área trabalhista corporativa. In: OLIVEIRA, Luis Gustavo
Miranda de (Org.). Compliance e integridade: aspectos práticos e teóricos. Vol. 2. Belo Horizonte:
D’Plácido, 2019. p. 209.

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Monitoramento do ambiente de trabalho: o meio e o fim de um programa de integridade

caput do artigo 2º da CLT,25 o qual esclarece que a prestação pelo trabalha‑


dor há de ser pessoal.26
De acordo com Alice Monteiro de Barros:

Empregado pode ser conceituado como a pessoa física que


presta serviço de natureza não-eventual a empregador mediante
salário e subordinação jurídica. Esses serviços podem ser de
natureza técnica, intelectual ou manual, integrantes das mais
diversas categorias profissionais ou diferenciadas.27

Muito embora existam outros elementos característicos da pessoa do


empregado, a subordinação é a principal delas. A subordinação é a obrigação
que tem o empregado de cumprir as ordens determinadas pelo empregador,
decorrentes do contrato de trabalho. Trata-se, assim, do estado jurídico que
se encontra o empregado em relação ao empregador.
Importante salientar, no entanto, que no Direito do Trabalho a subordi‑
nação é encarada sob um prisma objetivo, ou seja, ela atua sobre o modo
de realização da prestação e não sobre a pessoa do trabalhador.
No entendimento de Paulo Emílio Ribeiro de Vilhena, o conceito de su‑
bordinação deve extrair-se objetivamente e objetivamente ser fixado:

A subordinação, elementarmente, parte da atividade, e se con‑


centra na atividade. Seu exercício, porém, implica intercâmbio
de condutas, porque essa atividade consuma-se por pessoas
que se congregam, que se organizam e que compõem um qua‑
dro geral de ordem e de segurança no processo da produção
de bens e/ou serviços.28

Ainda, para Carlos Henrique Bezerra Leite o empregado não é “depen‑


dente” do empregador, e sim, a sua atividade laboral é que fica num estado
de sujeição ao poder (diretivo, regulamentar e disciplinar) do empregador.29

25
Art. 2º: “Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da
atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço” (BRASIL. Decreto-Lei
nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. 1943. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 01 fev. 2021).
26
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2008. p. 347.
27
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 241.
28
VILHENA, Paulo Emílio Ribeiro de. Relação de emprego: estrutura legal e supostos. 3. ed. São
Paulo: LTr, 2005. p. 517-521.
29
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2018. p. 170.

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Aline Maciel Silva Dias, João Vicente Rothfuchs

Ou seja, é uma via de mão dupla a relação entre empregado e empregador.


No que se refere ao empregador, a Consolidação das Leis do Trabalho
não traz uma definição específica de poder de direção do empregador, ape‑
nas uma referência de quem dirige a relação de emprego a partir do artigo
2º, quando considera empregador aquele que “dirige a prestação pessoal
de serviços”.30
Desse modo, conforme ensina Guilherme A. Canedo Magalhães:

O Poder de Direção – também chamado de poder de comando


ou poder hierárquico –, consiste na faculdade que tem o empre‑
sário de exercer todas as atividades referentes à administração
da empresa, planejando a ação da organização, estabelecendo
normas para o seu funcionamento, comandando e fiscalizando
a execução do trabalho, prescrevendo as regras de conduta dos
empregados, adotando as medidas cabíveis para a realização
plena dos objetivos da empresa.31

Embora não seja simples a identificação das fronteiras do poder diretivo


do empregador, evidente que este apresenta limitações. A própria natureza
da subordinação existente na relação de emprego, qual seja, subordinação
jurídica, deixa claro que o poder de direção do empregador não é absoluto.
Ainda que o ordenamento jurídico brasileiro não delimite expressamente até
que ponto são permitidas as atividades de fiscalização e de controle empre‑
sarial, existem regras e princípios aptos a averiguar o exercício legítimo ou
abusivo do poder de direção.32
O poder de direção se desmembra em outros quatro poderes: poder
de organização, poder de controle, poder disciplinar e poder regulamentar.33
Há autores que entendem que o poder mais relevante para efeitos da
relação de emprego é o poder disciplinar.34 No entanto, o poder regulamentar
é o mais relevante do ponto de vista de compliance no ambiente de trabalho.
Isto porque o poder regulamentar compreende o conjunto de prerrogati‑
vas tendencialmente concentradas no empregador para a fixação das normas

30
HAINZENREDER JÚNIOR, Eugênio. Direito à privacidade de poder diretivo do empregador: o uso do
e-mail no trabalho. São Paulo: Atlas, 2009. p. 62-63.
31
MAGALHÃES, Guilherme A. Canedo. Introdução ao direito empresarial apud LEITE, Carlos Henrique
Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. p. 281.
32
HAINZENREDER JÚNIOR, Eugênio. Direito à privacidade de poder diretivo do empregador: o uso do
e-mail no trabalho. São Paulo: Atlas, 2009. p. 79.
33
MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 29. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 227-232.
34
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2018. p. 170.

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Monitoramento do ambiente de trabalho: o meio e o fim de um programa de integridade

disciplinadoras das condições gerais e específicas relativas à prestação


de serviços por parte do empregado no âmbito empresarial. Tratam-se de
normas de caráter técnico às quais o empregado está subordinado, com o
objetivo de manter a ordem interna na empresa.35
Ou seja, é o poder regulamentar do empregador que legitima e autoriza
a elaboração de código de conduta, código de ética e políticas internas, o
coração do compliance.
Todavia, como dito, o poder diretivo do empregador não é ilimitado e
deve respeitar sempre os direitos de personalidade e privacidade do empre‑
gado e todos os direitos que garantam a sua dignidade.

3.2 Limites do poder do empregador e direitos de


personalidade do empregado
Quanto aos limites do poder do empregador, cabe destacar que o di‑
reito do trabalho parte do pressuposto de que o empregado, de modo geral,
compõe a parte hipossuficiente da relação de emprego.
Assim, são assegurados direitos e garantias mínimas ao trabalhador
que, automaticamente, limitam o poder diretivo do empregador.
Conforme explicitado, o empregador detém o poder diretivo que se
divide em: poder de organização, sendo a faculdade de definir a estrutura
técnica e econômica da empresa, tal como a estratégia a ser adotada para
a realização dos seus objetivos;36 poder de controle, que consiste no direito
do empregador de acompanhar continuamente a prestação de trabalho do
empregado e vigiar o espaço empresarial interno37 e poder disciplinar, que é
a faculdade do empregador de impor sanções a seus empregados.38
O poder regulamentar é o “guarda-chuva” desses demais poderes, pois
é por meio deste poder que aqueles são exteriorizados, ou deveriam. Tanto
é assim, que há decisões na Justiça do Trabalho no sentido de que só pode
haver poder disciplinar se houver o prévio poder regulamentar.39

35
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2008. p. 634.
36
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2018. p. 281.
37
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2008. p. 636.
38
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2018. p. 281.
39
“PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. PODER REGULAMENTAR. PODER DISCIPLINAR. O
exercício do poder disciplinar pressupõe o prévio exercício do poder regulamentar, o qual não
se concretiza apenas na expedição de normas de conduta, mas também se reveste no dever
de levar ao conhecimento dos trabalhadores de forma inequívoca tais regras, que devem ser

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Aline Maciel Silva Dias, João Vicente Rothfuchs

No entanto, as normas internas devem respeitar as normas legais e


constitucionais de proteção ao trabalhador, os acordos e as convenções co‑
letivas e as decisões das autoridades competentes em matéria trabalhista.40
Lembrando que não se admite que o trabalhador renuncie a direitos
trabalhistas,41 somente sendo lícitas alterações contratuais que não resul‑
tem em prejuízo, direto ou indireto ao trabalhador.42
Ainda, a Súmula nº 51 do Tribunal Superior do Trabalho43 reconhece
a aplicação do princípio da condição mais benéfica nos sítios do direito do
trabalho, ou seja, caso o empregador submeta o empregado a normas que
ferem seus direitos individuais, estas serão consideradas nulas.
Importante registrar que a Lei nº 13.467/17 trouxe a figura do “hipe‑
rempregado” para o ordenamento jurídico, sendo aquele que possui diploma
de curso superior e que recebe salário mensal igual ou superior a duas vezes
o limite máximo dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social.44

respeitadas sob pena de serem adotadas punições casuísticas e discriminatórias”. (TRT-4 – RO:
00003669520135040018, Data de Julgamento: 22/10/2014, 6ª Turma). Disponível em: https://
trt-4.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1126547561/recurso-ordinario-ro-3669520135040018.
40
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2018. p. 108.
41
Art. 9º: “Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou
fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação” (BRASIL. Decreto-Lei nº
5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. 1943. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 10 abr. 2021).
42
Art. 468: “Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições
por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos
ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia” (BRASIL. Decreto-Lei
nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. 1943. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 10 abr. 2021).
43
“Súmula nº 51 do TST. NORMA REGULAMENTAR. VANTAGENS E OPÇÃO PELO NOVO REGULAMENTO.
ART. 468 DA CLT (incorporada a Orientação Jurisprudencial nº 163 da SBDI-1) – Res. 129/2005,
DJ 20, 22 e 25.04.2005.
I – As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, só
atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do regulamento. (ex-Súmula
nº 51 – RA 41/1973, DJ 14.06.1973).
II – Havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a opção do empregado por um deles
tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do outro. (ex-OJ nº 163 da SBDI-1 – inserida
em 26.03.1999).” Disponível em: https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/
Sumulas_Ind_51_100.html#SUM-51. Acesso em: 11 abr. 2021.
44
Art. 444: “As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre estipulação das partes
interessadas em tudo quanto não contravenha às disposições de proteção ao trabalho, aos
contratos coletivos que lhes sejam aplicáveis e às decisões das autoridades competentes.
Parágrafo único. A livre estipulação a que se refere o caput deste artigo aplica-se às hipóteses
previstas no art. 611-A desta Consolidação, com a mesma eficácia legal e preponderância sobre
os instrumentos coletivos, no caso de empregado portador de diploma de nível superior e que
perceba salário mensal igual ou superior a duas vezes o limite máximo dos benefícios do Regime

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Monitoramento do ambiente de trabalho: o meio e o fim de um programa de integridade

Logo, a partir de novembro 2017 passou-se a admitir que o empre‑


gador e o empregado “hipersuficiente”45 transacionem diretamente acerca
de temas que empregados, de modo geral, só podem negociar por meio
do sindicato. Essas negociações diretas prevalecem sobre a lei e sobre as
normas coletivas.
Entre outras questões passíveis de negociação individual por tais em‑
pregados encontra-se menção específica ao regulamento empresarial no ar‑
tigo 611-A da CLT.46 Ou seja, a adesão desses empregados ao regulamento
empresarial os vincula de forma direta e imediata, sem necessidade de sub‑
meter-se a norma interna da empresa à negociação coletiva com sindicato.
De qualquer sorte, mesmo que para esses empregados seja possibili‑
tada negociação direta, o empregador não poderá ultrapassar os direitos e
garantias fundamentais.
Sendo assim, cabe aqui uma reflexão necessária em torno da aplica‑
ção do compliance, sua relação com o ambiente de trabalho e os cuidados
com sua aplicação.

4 Cautelas na aplicação do compliance no ambiente de


trabalho
Muito se fala na importância dos programas de conformidade e integri‑
dade em razão da Lei Anticorrupção, limitando a existência do programa a
aspectos dos ilícitos financeiros e de crime de colarinho branco.
Por sua vez, quando se fala em compliance sob a ótica trabalhista, au‑
tomaticamente se interpreta como prevenção de descumprimento de normas
trabalhistas, como questões relativas à saúde e à segurança do trabalhador,
à jornada de trabalho, ao assédio moral e sexual, entre outras.

Geral de Previdência Social” (BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a


Consolidação das Leis do Trabalho. 1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 10 abr. 2021).
45
A expressão, embora tecnicamente inadequada, já que pela estrutura da relação de emprego,
o “hipersuficiente” será sempre o empregador, a mesma é utilizada por já estar consolidada na
doutrina. Sobre o tema: ROTHFUCHS, João Vicente. O ‘trabalhador hipersuficiente’ na reforma
trabalhista: novo modelo no velho paradigma. JUSTIÇA DO TRABALHO, v. 37, p. 51- 68, 2020.
46
Art. 611-A: “A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei
quando, entre outros, dispuserem sobre:
(...) VI – regulamento empresarial; (...)” (BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943.
Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. 1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 10 abr. 2021).

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Aline Maciel Silva Dias, João Vicente Rothfuchs

No entanto, o programa de compliance, seja qual for seu objetivo e


abrangência, sempre está vinculado ao ambiente laboral.
Os empregados são o meio pelo qual o programa de integridade será
criado e implementado e o fim para o qual se destina.
Uma cultura de integridade no ambiente laboral reduz riscos de qual‑
quer natureza à empresa, mas a empresa é livre para criar e implementar
normas quantas forem necessárias para que ilícitos não sejam cometidos?
Os fins justificam os meios?
Conforme explicitado no presente trabalho, ainda que o empregador
detenha o poder diretivo de sua empresa, este não é ilimitado.
O programa de compliance, visando reduzir riscos de natureza criminal,
tributária e até mesmo trabalhista pode acabar criando novos riscos traba‑
lhistas com sua implementação.
Assim, o programa merece especial atenção daqueles que o implementa‑
rão, evitando-se a configuração de atos que possam ser tomados como abuso
do poder empregatício, por violarem direitos fundamentais do empregado.47
Veja-se que os programas de compliance, por implementarem conjuntos
de medidas que devem ser observadas por todos, acarretam reflexos em
termos de ampliação do poder empregatício, em um ambiente laboral que
se caracteriza pelo déficit de garantias constitucionais de preservação da
vida privada ou da intimidade, incrementando a possibilidade de condutas
arbitrárias.48
Por tal razão, ainda que de boa-fé, a empresa não pode criar normas
que violem a intimidade do empregado.
Abaixo, serão trazidas algumas práticas em que a empresa deve ser
cautelosa ao aplicar o programa de integridade.

4.1 Celular e e-mail corporativo


É uma prática amplamente utilizada de compliance que os computa‑
dores e celulares corporativos sejam de livre acesso do empregador. Tal

47
ANDRADE, Flavio Carvalho Monteiro de; FERREIRA, Isadora Costa. Alguns contornos especiais
do compliance em suas relações com a área trabalhista corporativa. In: OLIVEIRA. Luis Gustavo
Miranda de (Org.). Compliance e integridade: aspectos práticos e teóricos. Vol. 2. Belo Horizonte:
D’Plácido, 2019. p. 206-207.
48
COUTINHO, Aldacy Rachid. Risco, compliance e o direito do trabalho. In: TEODORO, Maria Cecília
Máximo; VIANA, Márcio Túlio; ALMEIDA, Cleber Lucio de; NOGUEIRA, Sabrina Colares. (Coord.).
Direito material e processual do trabalho. São Paulo: LTr, 2017. p. 101.

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Monitoramento do ambiente de trabalho: o meio e o fim de um programa de integridade

prática é considerada legal e necessária para coibir atos ilícitos,49 pois não
são raros os casos em que práticas de corrupção e assédio moral e sexual
são descobertos por meio do monitoramento dos equipamentos corporativos.
É direito fundamental, previsto no artigo 5º, incisos X e XII, da Consti‑
tuição Federal50 a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra, da
imagem das pessoas, bem como o sigilo de suas correspondências, dados
e comunicações telegráficas e telefônicas.
Ocorre que, tratando-se de e-mail corporativo e não privado, considera-se
que é meio de comunicação disponibilizado pelo empregador apenas para
uso profissional. Não havendo, portanto, violação ao disposto no do artigo
5º, incisos X e XII, da Constituição Federal.
Assim, o acesso, pelo empregador, ao conteúdo do e-mail corporativo
fornecido ao empregado para o exercício de suas atividades funcionais, não
enseja, em princípio, ofensa ao direito à intimidade e ao sigilo das comuni‑
cações e das correspondências.
Porém, tal prática poderá ser considerada abusiva se a empresa não
tiver normas de conduta e políticas de utilização de celular/equipamentos
da empresa com expressa previsão nesse sentido. Além de, claro, dar ciên‑
cia e treinamento aos empregados quanto à utilização, o que sempre deve
ser observado.

49
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. JUSTA CAUSA. PROVA ILÍCITA. Nenhum
dos dispositivos declinados como violados, incluindo-se o art. 5º, XII, da CF, disciplina a matéria
inerente à ilicitude da prova para que se possa reputar violado. Além disso, a ilicitude da obtenção
da prova pressupõe inobservância de norma disciplinadora, o que não sucedeu. Sob o prisma
de violabilidade do sigilo dos e-mails, tampouco há falar em violação do art. 5º, XII, da CF, por se
tratar de e-mail corporativo e não privado, meio de comunicação disponibilizado pelo empregador
apenas para uso profissional conforme normas internas de conhecimento do empregado e com
‘expressa previsão de gravação e monitoramento do correio eletrônico, ficando alertado que o
colaborador não deve ter expectativa de privacidade na sua utilização (item 6.1 - fl. 176)’, conforme
noticia o acórdão regional (...)” (AIRR-1461-48. 2010.5.10.0003, 3ª Turma, Relator Ministro
Alexandre de Souza Agra Belmonte, DEJT 27/02/2015. Disponível em: https://tst.jusbrasil.
com.br/jurisprudencia/869026866/recurso-de-revista-rr-13474220145120059/inteiro-teor-
869026886?ref=serp. Acesso em: 05 abr. 2021).
50
Art. 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...) X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado
o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; (...)
XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que
a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; (...)”.

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Aline Maciel Silva Dias, João Vicente Rothfuchs

4.2 Câmera de monitoramento do ambiente de trabalho


O mesmo ocorre com o direito do empregador instalar câmeras na em‑
presa, a fim de proteger seu patrimônio e monitorar a operação. Tal direito
faz parte de seu poder de controle e é chancelado pelo entendimento do
Tribunal Superior do Trabalho.51
No entanto, salienta-se que o controle é feito sobre o trabalho e não
sobre a pessoa do trabalhador, não podendo, de forma alguma, extrapolar
o limite do espaço da empresa e ser vexatório, na medida em que o empre‑
gado tem seu direito de intimidade.
Assim, é proibida a instalação de câmeras em banheiros, vestiários e
locais de descanso do empregado. A jurisprudência dos Tribunais Regionais
e do Tribunal Superior do Trabalho possuem entendimento unânime nesse
sentido.52

4.3 Monitoramento da vida pessoal do empregado


Com o advento da internet e dos novos meios de comunicação, as
relações trabalhistas extrapolaram o ambiente físico da empresa e, com

51
“AGRAVO DE INSTRUMENTO DA RECLAMADA. RECURSO DE REVISTA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA
AJUIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. TUTELA RESSARCITÓRIA. MONITORAMENTO
DAS ATIVIDADES DOS EMPREGADOS POR MEIO DE CÂMERA. PRETENSÃO DE PAGAMENTO DE
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO. PODER FISCALIZATÓRIO DO EMPREGADOR. AUSÊNCIA
DE ILICITUDE DA CONDUTA. (...) 2. Constata-se do acórdão do Tribunal Regional o seguinte: resta
incontroverso, na hipótese vertente, que a demandada mantém câmeras de monitoramento nos
locais em que seus empregados executam suas tarefas laborais; é incontroverso que não havia
câmeras em vestiários e banheiros, conforme, inclusive, deixou claro a inicial. (...) 4. Contudo, o
monitoramento dos empregados no ambiente de trabalho por meio de câmera, sem qualquer notícia
no acórdão do Tribunal Regional a respeito de excessos pelo empregador, tais como a utilização
de câmeras espiãs ou a instalação de câmeras em recintos que fossem destinados ao repouso
dos funcionários ou que pudessem expor partes íntimas dos empregados, como banheiros ou
vestiários, não configura ato ilícito, inserindo-se dentro do poder fiscalizatório do empregador. 5
. Nessa medida, não é possível exigir que a empregadora desative as câmeras de vigilância. 6.
Configurada a ofensa ao art. 2º da CLT. Recurso de revista conhecido e provido. (...)” (RR-21162-
51.2015.5.04.0014, 1ª Turma, Relator Ministro Hugo Carlos Scheuermann, DEJT 28/08/2020).
(grifo nosso). Disponível em: https://jurisprudencia-backend.tst.jus.br/rest/documentos/208df9
f1031ef78345c6c908dccb7e78. Acesso em: 10 abr. 2021.
52
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.015/2014. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. INSTALAÇÃO DE CÂMERAS NOS VESTIÁRIOS.
DANO MORAL CARACTERIZADO. ABUSO DO PODER DIRETIVO. Ao instalar câmeras de filmagem no
local destinado à troca de vestuário dos seus empregados, a empresa reclamada inequivocamente
incorreu em abuso de direito do seu poder diretivo, violando os direitos à privacidade e à intimidade
dos trabalhadores, assim como o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.
Precedentes. Agravo de instrumento a que se nega provimento.” (TST – AIRR: 19831820155230107,
Relator: Maria Helena Mallmann, Data de Julgamento: 30/11/2016, 2ª Turma, Data de Publicação:
DEJT 09/12/2016). Disponível em: https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/413818675/
agravo-de-instrumento-em-recurso-de-revista-airr-19831820155230107. Acesso em: 10 abr. 2021.

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Monitoramento do ambiente de trabalho: o meio e o fim de um programa de integridade

isto, surge a possibilidade de implementação de um código de conduta nas


redes sociais.
Assim, para que haja transparência e melhor controle, sugere-se a cria‑
ção de um código de boas práticas nas redes sociais, contendo orientações
quanto aos conteúdos que possam afetar a empresa e o ambiente de trabalho.
Desde postagem de fotos com o uniforme da empresa ou em ambien‑
te de trabalho, mensagens discriminatórias – em grupos de whatsapp da
empresa ou em postagens nas redes sociais – até a proibição de falar em
nome da empresa sem expressa autorização podem ser reguladas.53
Contudo, a vida privada do empregado deverá ser respeitada, com a
devida liberdade de expressão assegurada. Não poderá o empregador deter‑
minar quais opiniões e assuntos o empregado pode postar em suas redes
sociais, ou o tipo de fotografia. Poderá, porém, o empregador determinar
que seu nome não esteja vinculado ao perfil do empregado, sob pena de,
dependendo da conduta deste na internet, a empresa ter prejudicada a sua
imagem.
Outro exemplo de monitoramento da vida pessoal do empregado é o
monitoramento de sua conta corrente. Algumas empresas, especialmente
instituições bancárias, adotam essa prática a fim de evitar crimes contra a
ordem financeira.
A decisão abaixo demonstra entendimento baseado nas garantias
constitucionais, coibindo essa prática:

PROGRAMA DE COMPLIANCE. MONITORAMENTO DA CONTA


CORRENTE DO EMPREGADO. VIOLAÇÃO AO ART. 5º, INCISO X,
DA CF/88. A adoção de programa de compliance, pelo emprega-
dor, não institui, em seu beneplácito, carta branca que autorize
o monitoramento diuturno da vida bancária/financeira – do
empregado e auditoria em sua conta bancária. (...) As empresas
que praticam esse método de gestão devem cuidar de estabe-
lecer os critérios ou parâmetros do programa de compliance de
modo a preservar a intimidade e a vida privada do empregado,
tal como assegurado pela CF, no art. 5º, inciso X. Não se pode
olvidar que a subordinação do trabalhador ao empregador é
jurídica, vale dizer, nos estritos limites e contornos da lei (e
aqui se incluem não só as cláusulas contratuais como também

53
SCORTEGAGNA, Augusto. O controle das redes sociais do empregado e o código de conduta.
2021. Disponível em: https://augustots.jusbrasil.com.br/artigos/1180760819/o-controle-das-
redes-sociais-do-empregado-e-o-codigo-de-conduta. Acesso em: 15 abr. 2021.

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Aline Maciel Silva Dias, João Vicente Rothfuchs

todo universo de normas ou regulamentos atinentes à regula-


ção da relação jurídica empregado-empregador). Logo, no caso
de adoção de programa de compliance, como um verdadeiro
código de conduta e procedimentos no âmbito empresarial,
e como tal, com roupagem de norma contratual, impõe-se a
observação dos limites constitucionais e legais de proteção
à privacidade da pessoa. Sendo o empregador quem detém
o poder de comando da relação de emprego, a ele compete
comprovar a observação da legalidade, sem a qual se conclui
pela abusividade inata da conduta. O abuso decorre, natural e
conseqüentemente, da ausência de comprovação da legalidade,
e não o pensamento reverso: presume-se legal, se não se com‑
provou o abuso. Uma coisa é manter o registro permanente das
operações realizadas (por todo e qualquer correntistas); outra
é monitorar, diuturnamente, as movimentações financeiras do
empregado, inclusive impondo-lhe restrições nas operações
bancárias e até pessoais, em evidente sistema de auditoria
permanente sobre a vida privada (bancária e financeira) do tra‑
balhador. Nem mesmo na LC 105/2001 observa-se tão amplo
poder de quebra de sigilo bancário, que se obtém, pelo critério
legal, mediante autorização judicial, caso presentes indícios e
circunstâncias que recomendem ou imponham a derrocada da
proteção de que trata o art. 5º, inciso X, da CF.54 (grifo nosso)

Conforme refere Luís Carlos Moro:

A empresa que tudo quer ver, que tudo deseja conhecer, a


empresa que, a pretexto de realizar suas políticas de preven‑
ção de más práticas, acaba por se converter numa instituição
panótica, que vislumbra nas frinchas das relações sociais da
pessoa trabalhadora, de suas relações pessoais, de sua par‑
ticipação nas redes sociais, nos seus sindicatos, nos partidos
políticos dos quais participa, nos ambientes em que frequenta,
elementos de informação úteis para o propósito de fiscalizar a
vida de cada qual para além da própria relação de emprego.55

54
TRT-3 – RO: 02230201400803001 MG 0002230-94.2014.5.03.0008, Relator: Emerson Jose Alves
Lage, Primeira Turma, Data de Publicação: 01/07/2016). Disponível em: https://trt-3.jusbrasil.
com.br/jurisprudencia/1112642325/recurso-ordinario-trabalhista-ro-2230201400803001-
mg-0002230-9420145030008. Acesso em: 15 abr. 2021.
55
MORO, Luís Carlos. Compliance Trabalhista. In: CUEVA, Ricardo Villas Bôas; FRAZÃO, Ana. (Coord.).
Compliance: perspectivas e desafios dos programas de conformidade. Belo Horizonte: Fórum,
2018. p. 431-432.

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Monitoramento do ambiente de trabalho: o meio e o fim de um programa de integridade

Algumas empresas assumem, nessa vertente de compliance, um pa‑


pel de investigação privada que supera, em muito, até mesmo os poderes
públicos para a busca de informações em relação aos suspeitos de come‑
timento de ilícitos e crimes.
Desse modo, garantias públicas constitucionais se veem sob o risco de
ferimento por poderes privados, que assumem capacidades investigativas
das quais o próprio Estado está destituído, criando-se, assim, uma espécie
de direito penal do trabalho ou poder punitivo privado em que presunção de
inocência e garantia da privacidade e intimidade acabam por desaparecer.56
Sendo os poderes investigatórios internos das empresas reforçados, é
imprescindível notar que a cultura de compliance está fundada não apenas
na investigação e sanção, em vigiar e punir, mas também deve correspon‑
der ao estabelecimento de garantias contra o comportamento fiscalizatório
e punitivo abusivo, assim como a uma dimensão preventiva de prática de
ilícitos, inclusive os praticados a pretexto da concretização da política de
compliance, pois é muito comum que se desbordem, em nome da legalidade,
dos próprios limites da legalidade.57
Sendo assim, a prevenção não se resume apenas na vigilância do
comportamento alheio, mas também e, principalmente, no respeito que há
de ser recíproco em todas as relações humanas, não só na de emprego.

5 Considerações finais
No presente estudo, buscou-se, inicialmente, apresentar do que se tra‑
ta um programa de compliance, sua finalidade e seus pilares. Em especial,
pretendeu-se destacar sua relação com o ambiente de trabalho, detalhan‑
do-se os pilares de existência de normas de conduta e investigação interna.
Na sequência, demonstrou-se os sujeitos da relação de emprego e
seus direitos e obrigações, destacando até onde pode ir o poder diretivo do
empregador em relação aos direitos de personalidade do empregado e, a
partir disso, apresentar alguns dos cuidados que o empregador deve ter ao

56
MORO, Luís Carlos. Compliance Trabalhista. In: CUEVA, Ricardo Villas Bôas; FRAZÃO, Ana. (Coord.).
Compliance: perspectivas e desafios dos programas de conformidade. Belo Horizonte: Fórum,
2018. p. 433.
57
MORO, Luís Carlos. Compliance Trabalhista. In: CUEVA, Ricardo Villas Bôas; FRAZÃO, Ana. (Coord.).
Compliance: perspectivas e desafios dos programas de conformidade. Belo Horizonte: Fórum,
2018. p. 433.

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Aline Maciel Silva Dias, João Vicente Rothfuchs

implementar um programa de compliance efetivo que pretenda reduzir riscos


e não criar novos riscos.
Sob tal perspectiva, conclui-se que o monitoramento do ambiente de
trabalho é o pilar essencial de um efetivo programa de compliance, uma vez
que os empregados são o coração da empresa, onde a cultura se concretiza,
de onde partem as condutas, sejam elas positivas, sejam elas negativas.
No entanto, deve-se ter cautela para que esse monitoramento tenha
limites, preservando o trabalhador de excessos contra sua privacidade, intimi‑
dade e dignidade. Sendo assim, é necessário criar a cultura de compliance,
para que os poderes privados não firam garantias constitucionais e direitos
individuais fundamentais dos empregados.
Em síntese: não basta o programa de integridade. É imprescindível
que a busca pela integridade seja íntegra e não viole os limites de direitos
e garantias constitucionais dos empregados.58

Referências
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uma marca da hipermodernidade. Revista LTr. 79-10/1236, Vol. 79, nº 10, outubro
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58
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Monitoramento do ambiente de trabalho: o meio e o fim de um programa de integridade

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DIAS, Aline Maciel Silva; ROTHFUCHS, João Vicente. Monitoramento do


ambiente de trabalho: o meio e o fim de um programa de integridade.
Revista Fórum Justiça do Trabalho, Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p.
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DOUTRINA

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA
PRODUÇÃO DE PROVAS: VALIDADE
DAS PROVAS DIGITAIS ATRAVÉS
DA VALORAÇÃO SUBJETIVA DO JUIZ
NA JUSTIÇA DO TRABALHO

JULIANO GIANECHINI FERNANDES

Advogado Trabalhista. Mestre em Direito pela PUCRS. Pós-Graduado em Direito e Processo do


Trabalho. Professor na Graduação e Pós-Graduação. Membro da Academia Sul-Rio-Grandense
de Direito do Trabalho – ASRDT, titular da 16ª Cadeira. Pesquisador Acadêmico.

VITÓRIA NASCIMENTO CARDOSO

Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Ritter dos Reis – UNIRITTER.

Resumo: O presente trabalho visa abordar a utilização das provas digitais dentro do processo
trabalhista. Tem por objetivo analisar e conhecer a forma pela qual as provas digitais têm sido
valoradas e validadas pelos magistrados. O tema é de grande relevância para estudo, uma vez
que cada vez mais se torna notória a evolução da sociedade para uma sociedade mais digital.
O trabalho demonstra como estas questões virtuais aparecem no ordenamento jurídico, pois
através da Internet, milhares de pessoas se relacionam e se comunicam, interagindo e gerando
questões de direito, podendo ser utilizadas dentro do processo judicial. Por fim, demonstra,
através de decisões judiciais, que as provas digitais vêm sendo bem aceitas nos processos
trabalhistas, sendo valoradas de forma positiva pelos juízes, pois previstas na legislação e
atingindo seu fim que é a demonstração de direitos através das mídias digitais.
Palavras-chave: Provas digitais. Valoração. Validação. Autenticidade. Princípio do livre
convencimento motivado.

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Juliano Gianechini Fernandes, Vitória Nascimento Cardoso

Sumário: 1 Introdução – 2 Noções gerais e conceito da dilação probatória – 3 Inovações


tecnológicas na produção de provas na justiça do trabalho – 4 A validade e a valoração da
prova digital – 5 Conclusão – Referências

1 Introdução
Com o passar do tempo, a sociedade e as formas de exercer os di‑
reitos já existentes se modificaram com as transformações tecnológicas e
eletrônicas. Dentro do direito probatório não poderia ser diferente, uma vez
que com estas inovações tecnológicas se tornou possível utilizar mídias
digitais para demonstrar certo fato jurídico através da rede. A importância
de fazer uma análise acerca do tema proposto é que cada vez mais a era
digital se faz presente no dia a dia da sociedade como um todo – algo que
não se difere dentro da ciência do Direito – já que, por exemplo, o próprio
ordenamento jurídico brasileiro se utiliza de meios digitais para tramitação
de processos eletrônicos.
A utilização de provas digitais como meio de se conseguir um resultado
positivo em determinado processo, se submete à forma como o magistrado
irá valorar e validar tais provas, podendo ser aceitas ou consideradas ile‑
gítimas. O objetivo desta pesquisa é analisar e conhecer a forma como as
provas digitais têm sido valoradas e validadas pelos magistrados, em seu
poder de jurisdição, dentro do ordenamento jurídico no processo do trabalho,
bem como definir uma conclusão primária ao estabelecer um parâmetro de
julgamento através de análise de julgados recentes.
Como hipótese, pode-se perceber que o tratamento da prova digital não
tem um padrão a ser utilizado por cada juiz, pois há omissão da legislação
em criar uma normativa específica que valide e valore cada tipo de prova ele‑
trônica a ser produzida, trazendo insegurança jurídica pela discricionariedade
do juiz em admitir ou não tais provas.
Este trabalho foi feito mediante pesquisa com finalidade básica estraté‑
gica, tendo como objetivo o modo descritivo e feito pela abordagem qualita‑
tiva, através do método hipotético-dedutivo, pelo procedimento bibliográfico.
Inicialmente, a pesquisa discorre sobre dilação probatória no processo
do trabalho, apresentando noções gerais e conceito, objeto de prova, ônus
da prova e sua inversão, a produção antecipada das provas e, ainda, aponta
todos os tipos de provas que podem ser utilizados no processo trabalhista,
definindo cada espécie, incluindo seus conceitos, requisitos e legislação
atinente. Após, a pesquisa trata sobre as inovações tecnológicas na pro‑
dução de provas, discorrendo como houve a transição da sociedade para

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

uma sociedade mais digital, através das mudanças globalizadas, desde a


criação do computador até as atuais tecnologias que nos disponibilizou a
Internet. Também discorre sobre a prova digital, definindo seu conceito e
demonstrando quais as legislações pertinentes ao assunto, apontando que
não há legislação específica sobre o tema. Por fim, apresenta quais os re‑
quisitos que existem no ordenamento jurídico para validar a prova digital,
sendo estes através da assinatura digital e certificação eletrônica, que são
ferramentas criadas digitalmente, através de códigos binários que verificam
e atestam a autenticidade destes documentos. Além disso, é apresentado
o cerne do tema proposto que é a valoração subjetiva do Juiz do trabalho,
demonstrando recentes julgados sobre o tema e, ainda, definindo a impor‑
tância do princípio do livre convencimento motivado e o que implica na sua
decisão ao valorar cada prova digital.

2 Noções gerais e conceito da dilação probatória


O Poder Judiciário é acionado a fim de que sejam garantidos os di‑
reitos individuais, coletivos e sociais, resolvendo conflitos entre cidadãos,
entidades e Estados1 através de procedimentos judiciais previstos em lei.
Esses acontecimentos são o cerne para ocorrerem ações que movimentem
a justiça, para que sejam garantidas tais prerrogativas que são de direito
daquele que as pleiteia. Todavia, para que o Juiz possa arbitrar e determinar
o cumprimento de determinada obrigação ou para garantir tal direito tutelado,
deve-se comprovar que este foi extirpado ou que aconteceu, de certa forma,
alguma situação que impediu tal direito de ser exercido. É através, então,
de alegações de fatos que o processo vai se conduzindo, contanto que tais
alegações sejam provadas dentro da demanda.
A prova, nada mais é – de acordo com algumas doutrinas – do que a
“alma do processo de conhecimento”.2 É a alma pois, diferente do processo
de execução, a prova se torna essencial para que seja reconhecido o direito
postulado em qualquer demanda. Tendo o magistrado conhecido o direito
através da prova, o processo de conhecimento converte-se para a fase de

1
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 125 de 2010. Brasília, DF: 2010. Disponível
em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/156. Acesso em: 25 abr. 2022.
2
CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. São Paulo: Atlas, 2015. p. 222.

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Juliano Gianechini Fernandes, Vitória Nascimento Cardoso

cumprimento de sentença, disposta no art. 513 e seguintes do Código de


Processo Civil.3
Ocorre que a execução ou cumprimento de determinado direito reconhe‑
cido em sentença deverá ser precedida pela fase de instrução processual que
é, tão somente a fase de dilação probatória, a qual determina a veracidade
dos fatos alegados. Apesar de haver uma fase específica para a produção
de provas, durante todo o processo de conhecimento e até mesmo na fase
de execução, poderão as partes continuar instruindo o processo – conforme
permissão prevista na legislação – uma vez que todos deverão colaborar
com o Poder Judiciário para o descobrimento da verdade real,4 inteligência
do art. 278 do CPC.5
Ademais, não há como olvidar que tal prova poderá ser obtida por
qualquer meio que não seja ilícito e ilegal, devendo a parte que a pretende
produzir respeitar tal disposição prevista na Carta Magna brasileira, em seu
artigo 5º, inciso LVI (1988).6 A prova ilícita ou ilegal será aquela que for ob‑
tida de forma contrária ao direito, não importando que a violação seja feita
no direito material ou processual.7
Para Carlos Henrique Bezerra Leite, a prova seria o meio lícito para de‑
monstrar veracidade de determinada alegação de fato, tendo como finalidade
o convencimento do juiz quanto à sua existência ou inexistência. Ou seja,
prova é todo elemento trazido à demanda que evidencia, mostra e confirma
um fato que correu no mundo real, trazendo sua veracidade para dentro do
processo judicial.8

3
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência
da República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/
lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022.
4
CARNEIRO, Paulo Cezar P. O Novo Processo Civil Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2021. p.
70. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559640867/.
Acesso em: 27 mar. 2022.
5
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência
da República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/
lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022.
6
“Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LVI – são inadmissíveis, no
processo, as provas obtidas por meios ilícitos; (...)” (BRASIL. [Constituição (1988). Constituição
da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 21 fev. 2022).
7
SARLET, Ingo W.; MARINONI, Luiz G.; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. São
Paulo: Saraiva, 2022. p. 726. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.
br/#/books/9786553620490/. Acesso em: 10 maio 2022.
8
LEITE, Carlos Henrique B. CPC – Repercussões no processo do trabalho. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 51. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788547213435/. Acesso em: 10 maio 2022.

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

Diante disto, torna-se claro o tamanho da autoridade que a prova tem


em si, pois esta, sendo a alma do processo – e de extrema importância para
compelir a futura decisão do juiz – poderá determinar, nas demandas, quais
serão as partes vencidas e vencedoras.

3 Inovações tecnológicas na produção de provas na


justiça do trabalho
A evolução das sociedades está inteiramente ligada à evolução tecnoló‑
gica da qual estas sociedades são resultado. A informática, que é a ciência
que estuda o tratamento automático e racional da informação,9 é uma das
maiores mudanças no quesito de tecnologia que transformou significati‑
vamente a sociedade e a transforma ainda hoje. Ela é dotada de diversas
funções, dentro delas o desenvolvimento de novas máquinas, criação de
metodologias de trabalho inovadoras e mais eficazes e até mesmo a melho‑
ria das que já existem ou, ainda, a automatização das atividades, através
do computador, que é o elemento material essencial para o tratamento e
transmissão de dados.10
As primeiras máquinas que surgiram foram criadas por matemáticos,
engenheiros mecânicos, filósofos para elaborar cálculos simples, até a evo‑
lução de cálculos mais complexos.11 Porém, somente em 1830 esse tipo
de tecnologia foi industrializado e começaram a ser fabricadas máquinas de
calcular mecânicas na Europa. Já em 1951, foi lançado o primeiro computador
a ser vendido comercialmente, chamado de UNIVAC I. A partir dos anos 1970,
vários fatos contribuíram para uma profunda mudança na realidade social. 12
O grande marco deste tipo de tecnologia se deu com a criação da In‑
ternet, a qual se deu no contexto da Guerra Fria, após a Segunda Guerra
Mundial, tendo sido utilizada para acesso de empresas ligadas à defesa
militar e a universidades que faziam pesquisas de acordo com os interesses

9
KANAAN, João Carlos. Informática global. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1998. p. 23-31.
10
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 20. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
11
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 20. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
12
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 20. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.

R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022 61

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Juliano Gianechini Fernandes, Vitória Nascimento Cardoso

do governo, à época denominava-se ARPANET.13 Em 1987 ocorreu, de for‑


ma convencionada, a possibilidade de sua utilização para fins comerciais.14
Em algumas universidades americanas este sistema passou a ser
utilizado para fins civis, sendo a maior parte do tempo uma ferramenta de
comunicação, propagação, divulgação e troca de conhecimentos acadêmi‑
co-científicos.15 Neste sentido, Patrícia Peck Pinheiro:

(...) Nas últimas décadas vários fatos contribuíram para uma


profunda mudança na realidade social. Em 1964, Gordon Moo‑
re cria a Lei de Moore e revoluciona a produção dos chips. O
primeiro computador com mouse e interface gráfica é lançado
pela Xerox, em 1981; já no ano seguinte, a Intel produz o pri‑
meiro computador pessoal 286. Tim Bernes Lee, físico inglês,
inventa a linguagem HTML (Hypertext Mark-up Language ou,
em português, Linguagem de Marcação de Hipertexto), criando
seu pequeno projeto de World Wide Web (WWW), em 1989;
Marc Andreessen cria o browser Mosaic, que permite fácil na‑
vegação na Internet, em 1993. Em 1996, Steve Jobs lança o
iMac. No mesmo ano, dois estudantes americanos, Larry Page
e Sergey Brin, em um projeto de doutorado da Universidade
Stanford, criam o maior site de buscas da internet, o ‘Google’.
Em 1999, um ataque de hackers tira do ar websites como
Yahoo e Amazon, entre outros. Em 15 de janeiro de 2001 é
criada a ‘Wikipedia’, a primeira enciclopédia online multilíngue
livre colaborativa do mundo, que pode ser escrita por qualquer
pessoa, de qualquer parte do globo, de forma voluntária. Em 23
de outubro de 2001, cerca de um mês depois dos atentados
de 11 de setembro, é lançada pela Apple a primeira versão do
iPod, de 5GB e tela monocromática, aparelho que revoluciona
o mercado de música mundial ao permitir, segundo o seu, já
falecido, criador Steve Jobs, o ‘armazenamento de até 1.000
músicas em seu bolso’.16

13
SILVA, Louise S. H. Thomaz da; SOUTO, Fernanda R.; OLIVEIRA, Karoline F. et al. Direito Digital.
Porto Alegre: Grupo A, 2021. p. 16. E-book. Disponível em:https://integrada.minhabiblioteca.com.
br/#/books/9786556902814/. Acesso em: 16 abr. 2022.
14
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 21. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
15
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 21. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
16
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 20. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

Com a Quarta Revolução Industrial ou Indústria 4.0, como é conhecida


comumente, a automação do trabalho se tornou de alto nível. Essa auto‑
mação pode ser definida como a realização de tarefas laborais sem a inter‑
venção da mão de obra humana, sendo possível através de equipamentos
que possuem capacidade de se autogerir, a partir de condições tecnológicas
preestabelecidas.17
Além disso, influenciou diversas áreas como a nanotecnologia, a com‑
putação quântica, sequenciamento de DNA, Internet das Coisas e demais
eventos que modificaram áreas de conhecimento humano e possibilitando,
também, a interconexão com outras tecnologias, trazendo mudanças na ma‑
neira como vivemos, como nos relacionamos e como trabalhamos.18
A automação do trabalho é um fenômeno que produz natural temor nos
trabalhadores, pois nada mais é do que a substituição do trabalho humano
por dispositivos mecânicos ou eletrônicos.19 Há alguns pesquisadores e
especialistas que declaram que a automação acabará substituindo grande
parte da força de trabalho humana, porém há outros que alegam que não
será possível substituir este trabalho de forma massiva pela automação,
porque novos empregos e novas ocupações surgirão e com configurações
híbridas, formadas por meio da integração do homem com a máquina.20
Neste mesmo sentido:

(...) não se pode deixar de reconhecer que a automação consti‑


tui um elemento importante tanto para aumentar a produtivida‑
de como também para reduzir a exposição de trabalhadores a
situações de risco e mesmo a atividades repetitivas, inclusive
potencialmente nocivas. Entretanto, é paradoxal que essa
proteção à saúde do trabalhador corresponda à eliminação do
seu próprio trabalho: para ser protegido como ser humano, ele
deixa de ser trabalhador e de auferir renda. Como reação, não
surpreende que muitos trabalhadores insistam em sujeitar­-se a

17
SACOMANO, José B.; GONÇALVES, Rodrigo F.; BONILLA, Sílvia H. Indústria 4.0: conceitos e
fundamentos. São Paulo: Blucher, 2018. p. 36. E-book. Disponível em: https://integrada.
minhabiblioteca.com.br/#/books/9788521213710/. Acesso em: 06 maio 2022.
18
QUINTINO, Luís F.; SILVEIRA, Aline Morais; AGUIAR, Fernanda Rocha D. et al. Indústria 4.0. São
Paulo: Blucher, 2018. p. 14. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788595028531/. Acesso em: 04 maio 2022.
19
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 2020. p. 1237. E-book. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530989552/. Acesso em: 03 maio
2022.
20
MORAES, Rodrigo Bombonati de S. Indústria 4.0: impactos sociais e profissionais. São Paulo:
Blucher, 2020. p. 12. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9786555060508/. Acesso em: 06 maio 2022.

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Juliano Gianechini Fernandes, Vitória Nascimento Cardoso

essas condições (mercantilizando sua saúde e seus riscos com


‘adicionais’ de insalubridade ou periculosidade, por exemplo),
para não se verem substituídos por máquinas.21

Desta forma, o constituinte, na elaboração da Constituição Federal de


1988, incluiu como garantia constitucional o Princípio da Proteção contra a
Automação do Trabalho para orientar o legislador infraconstitucional a elaborar
normas que compensem ou minimizem os prejuízos causados pela substi‑
tuição do trabalho humano pelas máquinas.22 Exemplo de norma criada para
garantir tal princípio é a Lei nº 9.956 de 2000, a qual proíbe o funcionamento
de bombas de autosserviço nos postos de abastecimento de combustíveis.
Essas situações se tornaram a trilha para o desenvolvimento da socie‑
dade convergente ou sociedade digital, que vem se desenvolvendo cada vez
mais, desde a criação do telefone, considerado este o grande símbolo da
comunicação simultânea, o qual revolucionou os comportamentos sociais.23
Além disso, a própria internet possibilitou não apenas o encurtamento das
distâncias, de forma eficaz e mais barata, mas também a multicomunica‑
ção, sendo esta a transmissão de imagem, voz e textos, a qual permite a
capacidade de respostas cada vez mais ágeis, tornando a internet o principal
veículo de comunicação transformador de relações.24 E esta multicomunica‑
ção se torna o pilar do estudo desta pesquisa, pois mediante essas inova‑
ções tecnológicas, a dilação probatória na Justiça do Trabalho modificou-se,
trazendo novas possibilidades de meios probatórios, através produção de
provas pelos meios digitais, as denominadas provas digitais.

3.1 A prova digital


Com a convergência da sociedade para uma sociedade mais digital,
o Direito também teve que se adaptar a esta nova realidade, dando conti‑
nuidade à sua vocação histórica de seguir transformando-se conforme as

21
SARLET, Ingo Wolfgang; MELLO FILHO, Luiz Philippe Vieira de; FRAZÃO, Ana Oliveira. Diálogos
entre o direito do trabalho e o direito constitucional. Série IDP São Paulo: Saraiva, 2013. p. 262.
E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502212275/.
Acesso em: 06 maio 2022.
22
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 2020. p. 1237. E-book. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530989552/. Acesso em: 03 maio
2022.
23
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 21. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
24
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 21. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

mudanças que ocorrem na estrutura da sociedade.25 Assim, o ordenamento


jurídico se modificou através de inovações tecnológicas, adaptando-se e per‑
mitindo integrar novos conceitos e institutos que antes não faziam parte. A
prova digital que, de forma recorrente, abrange temas que envolvem postu‑
ras e comportamentos em mídias sociais,26 por exemplo, passou a constar
na grande maioria das lides, sendo crucial para demonstrar e fundamentar
direitos e obrigações.
A prova digital nada mais é do que ferramentas eletrônicas que são
utilizadas como meio de prova.27 Entretanto, tais ferramentas podem ser
documentos eletrônicos ou digitais, produzidos pela internet ou não; podem
ser documentos de papel que serão transmitidos eletronicamente, sendo
fotos, vídeos ou áudios.
O documento tradicional, já conceituado na presente pesquisa, tem
como fator principal sua ligação a algo material e fisicamente concreto, em
contrapartida, o documento eletrônico não se mantém por meio físico, poden‑
do ser definido como uma sequência de bits, armazenados em forma digital,
podendo ser perceptível somente através de um programa de computador, o
qual lerá as informações em bits e as traduzirá para a compreensão do leitor.28
Outra questão que é algumas vezes interpelada é a questão da diferença
entre digital e eletrônico. Para isto, o CONARQ (Conselho Nacional de Arquivos),
instituição vinculada ao Arquivo Nacional do Ministério da Justiça, diz que:

Na literatura arquivística internacional, ainda é corrente o uso


do termo ‘documento eletrônico’ como sinônimo de ‘documento
digital’. Entretanto, do ponto de vista tecnológico, existe uma
diferença entre os termos ‘eletrônico’ e ‘digital’. Um docu‑
mento eletrônico é acessível e interpretável por meio de um
equipamento eletrônico (aparelho de videocassete, filmadora,
computador), podendo ser registrado e codificado em forma
analógica ou em dígitos binários. Já um documento digital é um

25
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 25. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
26
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 25. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
27
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 93. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
28
FERREIRA NETO, Arthur Leopoldino; JOÃO, Paulo Sérgio. A prova documental eletrônica no processo
do trabalho: validade e valoração. Revista de direito do trabalho, São Paulo, v. 45, n. 206, p. 205-
231, out. 2019. Disponível em: bhttps://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/165470.
Acesso em: 20 maio 2022.

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documento eletrônico caracterizado pela codificação em dígitos


binários e acessado por meio de sistema computacional.29

Em suma, todo documento digital é eletrônico, mas nem todo docu‑


mento eletrônico é digital.
Com a modernização, a vida pessoal e individual incorporou-se às mídias
digitais. Através destas mídias sociais entre outros meios de comunicação
– que são utilizados de forma coletiva – os usuários da internet puderam
manifestar-se e realizar diversos tipos de ações digitais (postagens, comen‑
tários) que podem ser utilizadas como meio de prova.
Os tipos de provas digitais que podem ser empregados no processo
trabalhista como meio de prova decorrem, como já referido anteriormente,
justamente desta utilização de ferramentas disponíveis na rede. Pode-se
citar, como exemplo, alguns tipos de formatos de provas digitais, tal qual
documentos/arquivos eletrônicos como documentos de texto, planilhas ou
banco de dados; arquivos de áudio, como música e gravações; arquivos de
vídeos; imagens em qualquer formato; postagens (posts) e comentários
em redes sociais (Facebook, Instagram e similares), blogs, sites ou pági‑
nas pessoais; troca de mensagens via correio eletrônico (e-mail) – tanto o
corporativo ou o de uso pessoal –, ferramentas de mensagem instantânea,
como chats, WhatsApp, Telegram, entre outros; torpedos de celular (SMS);
ou qualquer outro documento/material divulgado ou disponível na internet.30
Acontece que, para a utilização de tais documentos produzidos eletroni‑
camente como meio de prova, deverá se ter certo cuidado com a proteção da
intimidade e da vida privada, sendo estes direitos fundamentais previstos na
Constituição da República Federativa do Brasil. Patrícia Peck revela o seguinte:

A intimidade é um ‘estágio’ pré-jurídico, pois esta, em razão


de seu caráter originário, antecede o Direito, e o fundamento
da pessoa está calcado na intimidade, ou seja, sem a intimi‑
dade não haveria de se falar em sujeito de direito. A pessoa,

29
BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Perguntas mais frequentes. Brasília, DF, 2020.
Disponível em: http://conarq.arquivonacional.gov.br/conarq/perguntas-mais-frequentes.html.
Acesso em: 19 abr. 2022.
30
BERNARDO, Daniel Carvalho. Da admissibilidade das provas digitais em juízo, perante o ordenamento
pátrio. 2013. 65f. Monografia (Graduação em Direito) – Universidade Federal Fluminense, Niterói/
RJ, 2003. Disponível em: https://app.uff.br/riuff/bitstream/handle/1/15511/Tcc%20DANIEL%20
CARVALHO%20BERNARDO%20matricula%2010807159.pdf?sequence=1. Acesso em: 22 abr.
2022.

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

portanto, tem seu mundo íntimo protegido pelo Direito, da


mesma forma que resguarda o nascituro antes de nascer.31

A lei brasileira, através do Marco Regulatório da internet,32 traz esse


limite, baseando-se na exigência de transparência e aviso prévio do usuário
no tocante a que dados são coletados sobre ele e o que é feito com tais
informações33 no âmbito da relação entre usurário e empresa.
Para Emanuel Castells,34 aquele que decide se conectar, aceita, mesmo
que tacitamente, o resultado da “socialização dos seus dados”, ou melhor,
a perda do controle das suas próprias informações.35 Entretanto, também
na veiculação de dados entre pessoas privadas, deverá ser levado em conta
que estas provas poderão ser utilizadas, contanto que respeitem as garan‑
tias constitucionais de proteção à intimidade, à privacidade, à imagem e à
honra36 daquele que está sendo veiculado, para que não ocorra nenhuma
forma de constrangimento e não ofenda os princípios já mencionados.
Como se pode verificar, há diversas possibilidades de produzir prova
através da internet e outros meios eletrônicos e digitais. Porém, no ordena‑
mento jurídico brasileiro não há legislação específica que contenha, num rol
taxativo ou exemplificativo, cada espécie de prova digital, que a torne legal
ou válida. Entretanto, há algumas legislações esparsas sobre o assunto que
conseguem se complementar.

3.1.1 A legalidade da prova digital no direito brasileiro


Não há o que se falar na proibição da possibilidade de utilização de
prova digital, uma vez que no ordenamento jurídico brasileiro há previsão

31
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 93. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
32
BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres
para o uso da Internet no Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 2014. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm. Acesso em: 15
maio 2022.
33
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 34. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
34
CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. p. 190. E-book.
Disponível em: https://www.academia.edu/41717035/A_Galaxia_da_Internet_Manuel_Castells.
Acesso em: 14 abr. 2022.
35
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 35. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
36
BRASIL. Constituição Federal – “Art. 5º (...) X. São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação; (...)” (Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.
htm. Acesso em: 21 fev. 2022.

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legal para tanto.37 O uso desse tipo de prova é aceito completamente, desde
que atendidos alguns padrões técnicos de coleta e guarda, para evitar que
tenha sua integridade questionada ou que tenha sido obtida por meio ilícito.38
No mesmo sentido, o Código de Processo Civil, em seu art. 369 assegura
que “as partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como
os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para
provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir
eficazmente na convicção do juiz”.
Em 2001 foi publicada a Medida Provisória nº 2.200-2/2001,39 a qual
criou um regramento jurídico através da Infraestrutura de Chaves Públicas
Brasileira (ICP-BRASIL) para os documentos eletrônicos.40 Com o intuito de
garantir autenticidade, integralidade e validade jurídica para tais documentos,
o ICP-BRASIL tem como uma de suas atribuições a manutenção de registros
dos usuários e a ligação entre as chaves privadas utilizadas nas assinaturas
dos documentos e as pessoas que são emitentes das mensagens, garan‑
tindo que o seu conteúdo não seja alterado.41
Outra legislação pertinente que foi criada para se adaptar a estas novas
mudanças no cenário da sociedade digital, é a Lei nº 11.149 de 200642 que
dispõe sobre a informatização do processo judicial, comumente conhecido
como processo eletrônico. Dentro desta legislação, somente o art. 11 refe‑
re-se aos documentos produzidos eletronicamente.43 Este artigo dá validade

37
“Art. 441. Serão admitidos documentos eletrônicos produzidos e conservados com a observância
da legislação específica” (BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo
Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022).
38
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 90. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
39
BRASIL. Medida Provisória nº 2.200-2/2001, de 24 de agosto de 2021. Institui a Infraestrutura de
Chaves Públicas Brasileira – ICP-Brasil, transforma o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação
em autarquia, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/mpv/antigas_2001/2200-2.htm. Acesso em: 25 abr. 2022.
40
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 93. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
41
SILVA, Louise S. H. Thomaz da; SOUTO, Fernanda R.; OLIVEIRA, Karoline F. et al. Direito Digital.
Porto Alegre: Grupo A, 2021. p. 135. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.
com.br/#/books/9786556902814/. Acesso em: 19 abr. 2022.
42
BRASIL. Lei nº 11.419 de 19 de dezembro de 2006. Dispõe sobre a informatização do processo
judicial; altera a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil; e dá outras
providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/
l11419.htm. Acesso em: 24 abr. 2022.
43
“Art. 11. Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos processos eletrônicos com
garantia da origem e de seu signatário, na forma estabelecida nesta Lei, serão considerados
originais para todos os efeitos legais” (BRASIL. Lei nº 11.419 de 19 de dezembro de 2006.

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

e presume originais os documentos produzidos de forma eletrônica, porém


contendo origem e signatário como pré-requisito.
Já no Código de Processo Civil mais recente, os documentos eletrônicos
foram disciplinados no artigo 439 ao artigo 441, com observância em legis‑
lação específica, se houver. Entretanto, estes dispositivos mencionam os
documentos digitais apenas para integralizá-los no processo físico, através
de sua transformação em papel, tendo sido verificada sua autenticidade.44
Outra importante legislação recentemente publicada é a Lei nº 13.709
de 2018, chamada de Lei Geral de Proteção de Dados. Em seu art. 1º, a
referida legislação expressa que:

Dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos


meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de
direito público ou privado, com o objetivo de proteger os direitos
fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvol‑
vimento da personalidade da pessoa natural.45

É de grande importância a positivação desta lei, pois limita e disciplina


os dados por meio de princípios que se fundam no respeito à privacidade,
na autodeterminação informativa, na liberdade de expressão, na informação,
na comunicação e opinião, na inviolabilidade da honra, da intimidade e da
imagem, no desenvolvimento econômico e tecnológico, na livre iniciativa e
na livre concorrência e a partir da defesa do consumidor e, de acordo com
os direitos humanos, do livre desenvolvimento da personalidade e pela igual‑
dade e exercício da cidadania pelas pessoas naturais, conforme exposto no
artigo 2º, incisos I a VII, da LGPD.46
Em síntese, é possível observar que não há de fato uma legislação
específica que regre a validação das provas digitais, mas sim legislações
esparsas que se complementam, trazendo de certa forma, insegurança

Dispõe sobre a informatização do processo judicial; altera a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de


1973 – Código de Processo Civil; e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11419.htm. Acesso em: 24 abr. 2022.
44
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência
da República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/
lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022.
45
BRASIL. Lei nº 13.709 de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD). Brasília, DF: Presidência da República, 2018. Disponível em: https://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em: 25 mar. 2022.
46
SILVA, Louise S. H. Thomaz; SOUTO, Fernanda R.; OLIVEIRA, Karoline F. et al. Direito Digital. Porto
Alegre: Grupo A, 2021. p. 98. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9786556902814/. Acesso em: 19 abr. 2022.

R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022 69

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Juliano Gianechini Fernandes, Vitória Nascimento Cardoso

jurídica, porque a validade e a valoração destas provas ficarão submetidas


à apreciação do magistrado e sua aceitação dependerá do seu livre conven‑
cimento motivado.

4 A validade e a valoração da prova digital


Após conceituar a prova digital, deve-se compreender quais as formas
de validação disponíveis no sistema jurídico brasileiro. A princípio, há dois
métodos de tornar válido um documento produzido eletronicamente, que são
mediante a assinatura digital e a certificação eletrônica.
A ferramenta de codificação utilizada para envio de mensagens seguras
em redes eletrônicas é a criptografia, que é um método matemático que cifra
uma mensagem em código, transformando-a em caracteres indecifráveis.47
A tecnologia da criptografia é operada no formato assimétrico, o qual codifi‑
ca as informações utilizando dois códigos, chamado de chaves, sendo uma
pública e outra privada. Nesta direção, Tarcísio Teixeira:

Em razão da segurança, a que mais se utiliza é a criptografia


assimétrica. Ela cria um código e uma senha para decifrá-lo, isto
é, concebem-se duas chaves: uma chave privada, que codifica a
mensagem, e outra chave pública, que decodifica a mensagem.
Entretanto, o inverso também pode ocorrer, ou seja, a pública
serve para codificar e a privada para decodificar. O emissor
da mensagem fica com a chave privada, e os destinatários de
suas mensagens ficam com a chave pública. Esse sistema
dá segurança aos negócios efetuados na internet, devendo
ser controlado por uma terceira entidade, que é a autoridade
certificadora, conhecida, de igual modo, como tabelião virtual,
que irá conferir a autenticação digital das assinaturas e dos
documentos. Por sua vez, a criptografia simétrica cria uma
mesma chave para criptografar e decriptografar.48

47
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
48
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

Neste mesmo sentido, Patrícia Peck49 diz que, para o Direito Digital,
a chave criptográfica significa que o conteúdo transmitido só pode ser lido
pelo receptor que possua a mesma chave e será reconhecido com a mesma
validade de uma assinatura tradicional.
Cabe salientar que este procedimento de certificação digital necessita
de três elementos para cumprir seu fim, os quais são: a) certificado digital,
b) assinatura digital, e c) norma técnica positivada, a qual regulamenta o
sistema de chaves digitais e os órgãos estatais fiscalizadores.50
A assinatura digital pode ser definida conceitualmente como um código
anexado ou logicamente associado a um arquivo eletrônico que comprova a
autenticidade e a fidedignidade quanto à integralidade do conjunto de dados
do referido documento, de acordo com o original.51 Ou seja, a assinatura
eletrônica, através de sua criptografia, confere a autenticidade aos dados
que estão incluídos no documento eletrônico, pois é fato que terá um usuá‑
rio identificado (emitente), o qual assinou eletronicamente, surgindo daí sua
autenticidade.
Em relação à aplicação diária, Tarcísio Teixeira exprime que:

Na prática, para possibilitar a assinatura digital, a certificadora


fornece ao usuário, em regra, mediante pagamento, um kit que
contempla: um smart card, uma leitora a ser acoplada a um
computador e o cadastramento de uma senha (o smart card e
a leitora podem ser substituídos por um token, semelhante a
um pen drive que é utilizado pelo acoplamento no computador
e senha previamente cadastrada).

Após a criação da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasil, esta insti‑


tuiu o Comitê Gestor e diversas autoridades certificadoras que mantêm os
registros dos usuários e atestam a ligação entre as chaves privadas utili‑
zadas nas assinaturas dos documentos e as pessoas que nelas apontam
como emitentes das mensagens, garantindo a inalterabilidade dos seus

49
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 92. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
50
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
51
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.

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Juliano Gianechini Fernandes, Vitória Nascimento Cardoso

conteúdos.52 Isto é, através da criação deste mecanismo de segurança, é


possível que as pessoas possam realizar transações no meio eletrônico e
digital, com segurança de que as informações transmitidas são confiáveis.
Cabe destacar que a tendência é de que a tecnologia deverá ser apri‑
morada com o fim de aumentar o nível de segurança na rede, que, em tese
é superior à que se tem no mundo real, pois a possibilidade de ter uma
assinatura falsa é relativamente maior. A assinatura digital é mais segura
que a assinatura física, pois esta é autenticada por um sistema de duas
chaves, em tempo real, o que não ocorre com as assinaturas tradicionais
que muitas vezes sequer são verificadas, como acontece no caso de che‑
ques e cartões de crédito.53
Deve-se lembrar, portanto, que não há como ter 100% de garantia de
segurança, tanto no mundo real quanto no virtual, mas também é preciso
saber que é através da tecnologia que poderemos ampliar os níveis de se‑
gurança, adequando-se às necessidades e condições que vêm surgindo na
sociedade digital.

4.1 A valoração subjetiva do juiz do trabalho


É cognoscível que a validade dos documentos digitais e eletrônicos
como meio de prova decorrem de lei, ou seja, sua admissibilidade provém
de previsão no ordenamento jurídico, tendo como condição a utilização de
processos de certificação ou cadastro perante os órgãos do Poder Judiciário,
conforme já apresentado nesta pesquisa.
Além da validade dada pela legislação às provas digitais, o julgador
poderá valorar a prova de acordo com seu livre convencimento motivado.
Princípio este previsto nos artigos 370 e 371 do Código de Processo Civil
de 2015.54 Ou seja, a valoração dependerá tanto da validade legal de tais
provas quanto da livre convicção do juiz.

52
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
53
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 92. Disponível em: https://
integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
54
“Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a
tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento; Art. 372. O
juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro processo, atribuindo-lhe o valor que
considerar adequado, observado o contraditório” (BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015.
Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2015. Disponível em: https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022).

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

4.1.1 O livre convencimento motivado


Após a inserção das provas apresentadas no processo, o destinatário
principal – que é o juiz – irá avaliar e analisar a prova produzida, indicando
as razões da formação do seu convencimento, através do princípio do livre
convencimento motivado.
De acordo com este princípio, o magistrado goza de liberdade para fazer
a análise e exame crítico das provas exibidas nos processos, com o intuito
de formação de sua convicção acerca dos fatos trazidos à lide, devendo,
portanto, expor, de forma fundamentada, as razões que o levaram a decidir
de tal forma.55
Entretanto, a liberdade que o magistrado tem na formação do livre con‑
vencimento é limitada de acordo com a legislação. Ele não poderá julgar a
lide de forma contrária à lei, estando proibido de julgar além, aquém ou fora
dos limites do pedido, ou, ainda de forma contrária ao contexto probatório,
estando adstrito a estas condições.56 No mesmo sentido, Carlos Henrique
Bezerra Leite:

A persuasão racional ou o convencimento motivado alicerçam


as decisões contemporâneas. É um método complexo que
impõe ao julgador apreciar os fatos articulados, consoante as
provas legalmente reconhecidas e produzidas no processo em
questão, subministrando as máximas de experiência, a fim de
motivar sua decisão com argumentação racional, isto é, las‑
trada em argumentos técnicos e processualmente aceitos.57

Ou seja, o juiz – observando os limites legais do ordenamento jurídico


– pode dar a sua própria valoração à prova, tendo como condição o dever da
justificação e da fundamentação de como foi feita sua convicção. Tal princí‑
pio é tão intenso que o magistrado também não é vinculado às conclusões
periciais, por exemplo. O juiz terá a liberalidade de avaliar os resultados

55
SOUSA, André Pagani de; CARACIOLA, Andrea Boari; ASSIS, Carlos Augusto de; FERNANDES,
Luís Eduardo Simardi; DELLORE, Luiz. Teoria Geral do Processo Contemporâneo. São Paulo:
Atlas/Grupo GEN, 2021. p. 129. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9786559770052/. Acesso em: 10 maio 2022.
56
SOUSA, André Pagani de; CARACIOLA, Andrea Boari; ASSIS, Carlos Augusto de; FERNANDES,
Luís Eduardo Simardi; DELLORE, Luiz. Teoria Geral do Processo Contemporâneo. São Paulo:
Atlas/Grupo GEN, 2021. p. 130. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9786559770052/. Acesso em: 10 maio 2022.
57
LEITE, Carlos Henrique B. CPC – Repercussões no processo do trabalho. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 51. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788547213435/. Acesso em: 10 maio 2022.

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Juliano Gianechini Fernandes, Vitória Nascimento Cardoso

apresentados por seu assistente, podendo até discordar de suas conclusões


reveladas pela prova técnica.58 Neste caso, cabe destacar que será possível
a realização de uma nova perícia, no caso de a primeira extrair elementos
insuficientes de convencimento.59
Afora isso, o magistrado poderá se utilizar de institutos que permitem
a realização de novas diligências para esclarecer questões técnicas ou até
verificar a autenticidade de algum documento através da inspeção judicial,
por exemplo.
Além da legislação civil, na própria Consolidação das Leis Trabalhistas
de 1973, o legislador previu, em seu artigo 765 que “os Juízos e Tribunais
do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo
andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência
necessária ao esclarecimento delas” e no artigo 832, do mesmo diploma
legal, diz que “da decisão deverão constar o nome das partes, o resumo do
pedido e da defesa, a apreciação das provas, os fundamentos da decisão e
a respectiva conclusão”.60 No mesmo sentido, explica Ingo Sarlet:

Valoração e convencimento são conceitos que não se confun‑


dem. Enquanto o juiz é livre para valorar a prova, tendo em
conta que não está preso a pré-valorações empreendidas pelo
legislador, o seu convencimento está coarctado às exigências
do direito material posto em juízo, obedecendo a níveis variáveis
de certeza para decisão da causa.61

Ou seja, entende-se que a valoração dada pelo juiz é livre no que con‑
cerne a pré-valorações dadas pelo legislador às provas, porém esta liberda‑
de está atrelada a condições legais, quais sejam a fundamentação racional
e analítica de sua decisão. Não sendo tolerada a construção do processo
através de discricionariedade, devendo respeitar o princípio da legalidade.

58
PAMPLONA FILHO, Rodolfo; SOUZA, Tercio Roberto Peixoto. Curso de Direito Processual do Trabalho.
São Paulo: Saraiva, 2020. p. 668. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788553616213/. Acesso em: 10 maio 2022.
59
SANDES, Fagner. Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 385.
E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555591682/.
Acesso em: 08 abr. 2022.
60
LEITE, Carlos Henrique B. Curso de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 326.
E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596663/.
Acesso em: 10 abr. 2022.
61
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz G.; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional.
São Paulo: Saraiva, 2022. p. 399. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.
br/#/books/9786553620490/. Acesso em: 10 maio 2022.

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

Entretanto, o que ocorre na valoração da prova digital é a questão da


garantia de que esta prova possa ter sua autenticidade e integridade confe‑
rida, sendo-lhe atribuída fidedignidade suficiente para ser utilizada na forma‑
ção do livre convencimento do juiz que a analisa.62 Esta situação demonstra
que as prova digitais apresentadas nas lides não serão valoradas da mesma
forma, pois, por mais que sejam admissíveis, estas terão que demonstrar
credibilidade e fiabilidade para o convencimento do magistrado.
Outro problema que concerne às provas digitais é que o documento
digital pode ser facilmente adulterado após a sua criação. Num documento
tradicional, físico, as alterações realizadas podem ser detectadas, às vezes,
à primeira vista ou através de exames periciais, pois tais alterações deixam
indícios. Já os documentos eletrônicos podem ser fraudados sem que sinais
sejam encontrados, sendo muito difícil até mesmo para um especialista em
TI identificar tais adulterações, mesmo que ainda se utilizando da melhor
tecnologia que existe.63
Sendo assim, torna-se indispensável a premissa da necessidade de
validação da prova digital através de métodos eficazes que trarão seguran‑
ça de integridade e autenticidade de certos documentos eletrônicos e/ou
digitais, feito isto através da certificação eletrônica e da assinatura digital,
como já demonstrado em tópico próprio.

4.1.2 Julgados
Teoricamente, constata-se as modalidades de validação e valoração
da prova, mas como este processo se dá na prática? Para isto, há de se
analisar as decisões que acontecem no mundo jurídico real.
A ementa trazida abaixo se trata de recurso de empresa reclamada,
pleiteando que seja revogada decisão que concedeu indenização por dano
moral à reclamante, a qual foi contratada para laborar na empresa, tendo
passado por processo seletivo, nutrindo expectativa de emprego por mais
de 60 dias, tendo sua CTPS retida durante todo este tempo.

62
FERREIRA NETO, Arthur Leopoldino; JOÃO, Paulo Sérgio. A prova documental eletrônica no processo
do trabalho: validade e valoração. Revista de direito do trabalho, São Paulo, v. 45, n. 206, p. 205-
231, out. 2019. Disponível em: bhttps://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/165470.
Acesso em: 11 maio 2022.
63
FERREIRA NETO, Arthur Leopoldino; JOÃO, Paulo Sérgio. A prova documental eletrônica no processo
do trabalho: validade e valoração. Revista de direito do trabalho, São Paulo, v. 45, n. 206, p. 205-
231, out. 2019. Disponível em: bhttps://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/165470.
Acesso em: 11 maio 2022.

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EMENTA. RECURSO DA RECLAMADA. EXIBIÇÃO DE DOCU-


MENTOS. TUTELA ANTECIPADA CONFIRMADA. HONORÁRIOS
DE SUCUMBÊNCIA. Diante da ausência de apresentação vo‑
luntária dos documentos solicitados extrajudicialmente, sem
qualquer justificativa, resta caracterizado o interesse de agir
do requerente e a pretensão resistida da ré, o que enseja a
condenação ao pagamento de honorários de sucumbência.
Recurso desprovido.64 (grifo do autor)

Alega que a Turma deixou de valorar corretamente as provas carrea‑


das aos autos durante a instrução processual, salientando que não busca
reexame de provas, mas sim, a justa valoração das provas já produzidas
nos autos, e a correta atribuição do ônus probatório. No acórdão do referido
processo, a relatora Angela Rosi Almeida determina:

Tal conduta da ré impossibilitou a reclamante de procurar ou‑


tro emprego, seja porque a empresa a manteve durante esse
período empenhada na promessa de contratação (conversas
WhatsApp - Id. 9b85de8 a Id. f2311c1), seja porque estava
retida a sua CTPS desde 28/05/2021.65 (grifo nosso)

A promessa de contratação restou comprovada pela prova digital trazida


pela Reclamante no processo em questão, através de prints de WhatsApp,
para que seja reconhecido seu direito.
A autenticidade do documento trazido está elencada na Lei nº 11.419
de 2006, que dispõe sobre a informatização do processo eletrônico, a qual
determina no art. 11 que os documentos produzidos eletronicamente e jun‑
tados aos processos eletrônicos com garantia da origem e de seu signatário,
na forma estabelecida nesta Lei, serão considerados originais para todos
os efeitos legais. Sendo assim, pode-se ver que não há dúvidas diante da
autenticidade de tais documentos apresentados, servindo de base para a
fundamentação da decisão, conforme o princípio do livre convencimento
motivado.

64
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. RO nº 0020363-56.2020.5.04.0006. Relatora:
Angela Rosi Almeida, 09 de junho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.br/
pesquisas/rest/cache/acordao/pje/OfKkjP8FOJIk8DcFPh4Qaw?&qp=valora%C3%A7%C3%A3o+d
e+prova+digital. Acesso em: 22 maio 2022.
65
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. RO nº 0020363-56.2020.5.04.0006. Relatora:
Angela Rosi Almeida, 09 de junho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.br/
pesquisas/rest/cache/acordao/pje/OfKkjP8FOJIk8DcFPh4Qaw?&qp=valora%C3%A7%C3%A3o+d
e+prova+digital. Acesso em: 22 maio 2022.

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

Em julgado pedindo reversão de justa causa e férias, decidiu o Tribunal


Regional:

EMENTA. RECURSO ORDINÁRIO DA PARTE RECLAMANTE.


HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. O recente posicionamento
assentado pela Corte Suprema na Ação Direta de Inconsti‑
tucionalidade nº 5766, proferida em 20-10-2021, tem como
efeito o reconhecimento, à parte que litiga ao abrigo da justiça
gratuita, da total isenção das despesas decorrentes da sua
sucumbência na ação, e não apenas da suspensão da respec‑
tiva exigibilidade de acordo com a dicção legal. Sendo a parte
reclamante beneficiária da justiça gratuita, não obstante sua
sucumbência parcial na ação, deve ser absolvida da condena‑
ção ao pagamento de honorários advocatícios à parte adversa.
Recurso parcialmente provido.66 (grifo do autor)

No conjunto probatório, foram juntadas provas digitais pela reclamada


aduzindo:

São anexados prints de tela demonstrando a liberação de


acesso à academia para alunos supostamente inadimplentes
(Id. 5ff7ef1), conversas pelo aplicativo WhatsApp, prints das
redes sociais da reclamante, denotando a utilização das mí‑
dias em diversos horários, inclusive nos horários pactuados
de trabalho e, por fim, uma carta de advertência à reclamante
(Id. f0e29c5).67

Na sentença de 1º grau, utilizada como fundamentação no acórdão, o


magistrado aduz: “Como a autora é confessa quanto à matéria de fato (fl. 560)
e não produziu qualquer prova que infirme a prova documental apresentada
pela ré nas fls. 56 e 287-537, é mantida a justa causa aplicada (fl. 54)”.
Percebe-se, então, que a prova produzida pela reclamada, através
de prints das redes sociais foi devidamente aceita e considerada prova

66
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. ROT nº 0021047-28.2018.5.04.0013. Relatora:
Ana Luiza Heineck Kruse, 15 de março de 2022. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.
br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/_Dax2hYL6lHYyFAPAgvUOA?&qp=valora%C3%A7%C3%A3
o+de+prova+digital%3B+prints%3B. Acesso em: 22 maio 2022.
67
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. ROT nº 0021047-28.2018.5.04.0013. Relatora:
Ana Luiza Heineck Kruse, 15 de março de 2022. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.
br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/_Dax2hYL6lHYyFAPAgvUOA?&qp=valora%C3%A7%C3%A3
o+de+prova+digital%3B+prints%3B. Acesso em: 22 maio 2022.

R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022 77

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Juliano Gianechini Fernandes, Vitória Nascimento Cardoso

documental, ensejando no convencimento do julgador para a procedência do


pedido de justa causa e sendo mantida pela relatora de segundo grau, tendo
como base de autenticidade, também o art. 11 da Lei nº 11.419 de 2016.68
Em agravo de petição com pedido de revisão de penhora de valores,
houve a seguinte decisão:

EMENTA. AGRAVO DE PETIÇÃO. PENHORA DE SALÁRIO/AUXÍLIO


EMERGENCIAL. Situação em que além de o executado Luciano
alterar os fundamentos trazidos nos embargos à execução, não
comprova que o valor bloqueado decorre de auxílio emergencial
supostamente recebido.69

O executado sustenta que o valor bloqueado trata de verba impenhorá‑


vel decorrente do auxílio emergencial. Para isto, anexa à peça prints de sua
suposta conta corrente. O julgador do segundo grau assim decidiu:

Ademais, além dos documentos anexados ao agravo de petição


serem extemporâneos, não atendendo ao disposto na Súmula
nº 08 do TST, não demonstram que o extrato corresponde a
uma conta social digital vinculada ao executado Luciano, ônus
que lhe incumbia, tratando-se de meros prints da tela de um
celular, sem qualquer identificação a quem pertence a conta
social digital. Por todo o exposto, não merece reparo a sen‑
tença.70 (grifo nosso)

Nesta decisão, ficou claro que os prints de tela juntados ao recurso


interposto foram insuficientes para que fossem valorados de acordo com
o já abordado neste tópico. O relator entendeu que tais prints de tela não
demonstram a quem pertence a conta social digital e, por sua vez, falta-lhe
autenticidade, pois foram simplesmente juntados como meros prints, sem

68
TEIXEIRA, Tarcisio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 93. E-book.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso
em: 13 maio 2022.
69
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AP nº 0020355-41.2014.5.04.0022. Relator: Joao
Alfredo Borges Antunes de Miranda, 23 de junho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.
trt4.jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/X03ROgFQZCwd5Fl0v-f9yQ?&qp=valora%C3%A7%
C3%A3o+de+prova+digital%3B+prints%3B. Acesso em: 22 maio 2022.
70
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AP nº 0020355-41.2014.5.04.0022. Relator: Joao
Alfredo Borges Antunes de Miranda, 23 de junho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.
trt4.jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/X03ROgFQZCwd5Fl0v-f9yQ?&qp=valora%C3%A7%
C3%A3o+de+prova+digital%3B+prints%3B. Acesso em: 22 maio 2022.

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

certificação digital ou algum tipo de codificação. Neste mesmo sentido,


Miguel Pulpo:

A eficácia jurídica dos documentos em geral e dos documentos


eletrônicos em especial está, como já dissemos, fortemente
dependente da confiança, credibilidade ou fiabilidade que
possam merecer como reproduções – melhor se diria revela‑
ções – factos ou objetos, o que depende essencialmente de
dois fatores: genuinidade e segurança. É genuíno o documento
quando não sofreu alterações. É seguro tanto mais quanto mais
difícil for alterá-lo e mais fácil de descobrir as alterações que
tenha sofrido e reconstituir o texto original.71

Sendo assim, restou não configurado o objetivo do executado, uma


vez que os documentos eletrônicos juntados careceram de autenticidade e
fiabilidade.
O recurso ordinário trazido abaixo, trata-se de pedido de desconsidera‑
ção dos documentos trazidos como meio de prova, sendo estes, prints de
conversas pelo aplicativo WhatsApp, alegando que são de falsas conversas
pelo aplicativo e, ainda, ressalta que o Juízo se utilizou de provas falsas para
fundamentar sua decisão. No seu voto, o relator utiliza a fundamentação do
juízo de primeiro grau:

O Juízo consignou (ID. b34e9eb – Pág. 5) que ‘As mensagens


através do aplicativo WhatsApp comprovam que quando não
havia prestação de serviços não permanecia ninguém na obra,
e que os vizinhos comunicavam a reclamada quando verificavam
situações anormais no local’, o que efetivamente se coaduna
com aquela prova, apresentada com a contestação. Cabia ao
reclamante a impugnação de tais documentos ao longo da
instrução e a prova da sua falsidade, ônus do qual não se
desincumbiu. Trata-se, portanto, de provas válidas.72

A prova trazida aos autos nesta situação foi considerada válida, porque,
neste caso, o recorrente não impugnou tal prova no momento oportuno de

71
CORREIA, Miguel Pupo. Sociedade de informação e o direito: a assinatura digital. Disponível em:
http://www.advogado.com/internet/zip/assinatu.htm. Acesso em: 13 maio 2022.
72
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. ROR.Sum. 0020714-07.2019.5.04.0251. Relatora:
Maria Silvana Rotta Tedesco, 22 de julho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.
jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/9wOJnjtObhODrg3GzAf9VA?&qp=valora%C3%A7%C3%
A3o+de+prova+digital%3B+prints%3B. Acesso em: 22 maio 2022.

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instrução e não se desincumbiu do ônus probatório que era seu. Sendo as‑
sim, restou mantida a sentença proferida. Neste sentido, o Código Civil, em
seu art. 225, afirma que “as reproduções fotográficas, cinematográficas, os
registros fonográficos e, em geral, quaisquer outras reproduções mecânicas
ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem prova plena destes, se a parte,
contra quem forem exibidos, lhes impugnar a exatidão”.73
Também o Novo Código de Processo Civil assegura, em seu art. 369:
“as partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como
os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para
provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir
eficazmente na convicção do juiz”.74 Sendo assim, percebe-se que ambos
os diplomas legais aceitam o documento eletrônico como prova e, caso a
parte entenda que seja inverossímil, deverá impugnar para retirar-lhe a força
probatória.75
Já o acordão do ROT nº 0020663-58.2020.5.04.0025, fala sobre pe‑
dido para reforma de decisão de primeiro grau quanto ao reconhecimento
de vínculo de emprego: “Reconhecido o vínculo de emprego por presentes
os pressupostos previstos nos artigos 2º e 3º da CLT”.76 Confessa indire‑
tamente, a parte recorrente, que “não lhe prestou serviços, mas sim para
Seletro, com endereço na Rua Riachuelo, empresa para a qual a deman‑
dada também presta serviços de consertos de equipamentos de salão de
beleza (v. ata de audiência, ID. 190e82c – Pág. 1)”. Desta forma, o Juízo
de primeiro grau decidiu:

(...) Diante do cartão do CNPJ da empresa-ré (fl. 22, Id.e5823e3),


verifico que consta como seu título de estabelecimento e nome
de fantasia ‘SELETRO’, assim como no registro da firma indivi‑
dual da demandada na Junta Comercial do Rio Grande do Sul

73
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 95. Disponível
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso em: 18 abr.
2022.
74
“Art. 369” (BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF:
Presidência da República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022).
75
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 91. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.
76
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. ROT nº 0020663-58.2020.5.04.0025. Relatora:
Vania Maria Cunha Mattos, 24 de novembro de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.
trt4.jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/-uh0VbMfZeMzwfA81PzpgA?&qp=valora%C3%A7
%C3%A3o%3B+invalidade%3B+eletr%C3%B4nico%3B+digital%3B+autenticidade%3B++facebook
%3B+e-mail%3B+instagram%3B+print&te=facebook. Acesso em: 22 maio 2022.

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

(fl. 71, Id. 2fa3d34), em que consta como nome comercial RW


da Rocha ME e como título do estabelecimento ‘SELETRO’.
Além disso, na qualificação civil constante na contestação e na
procuração apresentadas pela ré, consta como seu endereço
à Rua Riachuelo, nº 1608, o que confirma o mesmo endereço
registrado nas redes sociais Instagram e Facebook da Seletro
Assistência Técnica, confirmando tratar-se do nome fantasia
da empresa demandada (...).77 (grifo nosso)

Nesta decisão, há de se perceber que a fundamentação utilizada pelo


magistrado é feita através de mídias sociais, as quais confirmam que a
empresa demandada é uma só, tratando-se apenas do nome fantasia. Ade‑
mais, a própria reclamante também utilizou as mídias como prova, como
demonstrado na fundamentação do relator do segundo grau:
Afora isso, há prova documental – publicação da fotografia da autora na
rede social Instagram, na conta da Seletro Assistência Técnica (ID. 63cf52c
– Pág. 1), que, ainda que tenha sido deletada, ratifica a conclusão da exis‑
tência da relação de emprego entre as partes. (grifo nosso)
Sendo assim, não há que se falar de invalidade das provas juntadas,
uma vez que provada sua autenticidade, mesmo com a exclusão posterior
da foto, sendo utilizada como fundamentação para formar sua convicção
através do princípio do livre convencimento motivado.78
Já a próxima decisão analisada trata de agravo de petição que busca
reforma de decisão que determinou a exclusão de empresa do polo passivo
da execução, querendo a sucessão de empregadores para satisfação do
seu crédito, senão vejamos: “Hipótese em que demonstrada nos autos a
existência de liame suficiente para a caracterização de grupo econômico.
Sentença reformada”.79 A decisão foi reformada pelo relator de segundo grau

77
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. ROT nº 0020663-58.2020.5.04.0025. Relatora:
Vania Maria Cunha Mattos, 24 de novembro de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.
trt4.jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/-uh0VbMfZeMzwfA81PzpgA?&qp=valora%C3%A7
%C3%A3o%3B+invalidade%3B+eletr%C3%B4nico%3B+digital%3B+autenticidade%3B++facebook
%3B+e-mail%3B+instagram%3B+print&te=facebook. Acesso em: 22 maio 2022.
78
“Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independen­te­mente do sujeito que a
tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento” (BRASIL.
Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da
República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/
lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022).
79
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AP nº 0020392-03.2020.5.04.0008. Relator:
João Batista de Matos Danda, 01 de julho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.
jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/TBCXWHeMQ1MxOFVkqsJxjg?&qp=invalidade%3B+do
cumento+eletr%C3%B4nico%3B+documento+digital%3B+autenticidade%3B+whastapp%3B+faceb
ook%3B+e-mail%3B+instagram&tp=valora%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 22 maio 2022.

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porque o próprio utilizou de buscas na internet para verificar que a primeira


reclamada, apesar de estar fechada, redirecionou os clientes para a segun‑
da reclamada (excluída em primeiro grau do polo passivo). Neste sentido,
fundamentou o relator:

A PRIMA PHARMA também alegou que atuou no mercado de


forma simultânea e em concorrência com a SOLIS FARMÁCIA
S/A, sendo que jamais tiveram o mesmo ponto comercial.
Sobre o número de telefone, disse que a SOLIS do Shopping
Iguatemi divulgava o telefone 0800-555.1010, razão pela
qual afirmou não possuir qualquer liame com a SOLIS, sendo
parte ilegítima para figurar no polo passivo da execução. Nada
obstante, observo que tanto a PRIMA PHARMA quanto a SOLIS
FARMÁCIA utilizavam o mesmo número de telefone: (51) 3378-
8888. Inexistindo qualquer explicação razoável para ambas
as empresas terem divulgado o mesmo número de contato,
entendo estar superada qualquer dúvida quanto ao liame que
a Prima Pharma insiste em negar.80

Pode-se verificar que a fundamentação utilizada provém de informações


divulgadas na rede (internet), argumentando que as empresas utilizavam o
mesmo número de telefone, não restando dúvida quanto ao liame empresa‑
rial. Ainda, no mesmo dispositivo, o relator noticia:

Além disso, em 29.10.2020 este Relator realizou busca junto


ao Facebook da empresa SOLIS FARMÁCIA, onde pode verificar
que embora conste que a empresa se encontra permanente‑
mente fechada, há indicação do mesmo número de telefone
da recorrida: 3378-8888.81 (grifo nosso)

Neste caso, o próprio relator utilizou pesquisas nas redes sociais


para formar sua convicção acerca do julgado, demonstrando mais uma vez

80
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AP nº 0020392-03.2020.5.04.0008. Relator:
João Batista de Matos Danda, 01 de julho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.
jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/TBCXWHeMQ1MxOFVkqsJxjg?&qp=invalidade%3B+do
cumento+eletr%C3%B4nico%3B+documento+digital%3B+autenticidade%3B+whastapp%3B+faceb
ook%3B+e-mail%3B+instagram&tp=valora%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 22 maio 2022.
81
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. AP nº 0020392-03.2020.5.04.0008. Relator:
João Batista de Matos Danda, 01 de julho de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.
jus.br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/TBCXWHeMQ1MxOFVkqsJxjg?&qp=invalidade%3B+do
cumento+eletr%C3%B4nico%3B+documento+digital%3B+autenticidade%3B+whastapp%3B+faceb
ook%3B+e-mail%3B+instagram&tp=valora%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 22 maio 2022.

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que tais instrumentos digitais detêm autenticidade uma vez que pode ser
identificado quem o concebeu. Além do mais, o magistrado pode se utilizar
destes instrumentos, pois o art. 378 do Código de Processo Civil determina
que ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder Judiciário para o
descobrimento da verdade.82
Em mandado de segurança impetrado para reforma de decisão liminar,
a qual indeferiu pedido para que a empresa demandada se abstenha de
utilizar mão de obra empregada em dias de feriados, pois sem autorização
na convenção coletiva de trabalho.

EMENTA. MANDADO DE SEGURANÇA. TRABALHO EM FERIA-


DOS NO COMÉRCIO EM GERAL. AUSÊNCIA DE PREVISÃO EM
NORMA COLETIVA. O trabalho em feriados nas atividades do
comércio em geral encontra-se disciplinado no art. 6º-A da Lei
nº 10.101/2000, que exige autorização em norma coletiva e
que seja observada a legislação municipal. Segurança confir‑
mada.83 (grifo do autor)

Neste caso, foi sustentado pelo impetrante que a referida empresa


abriria suas portas no feriado do dia 1º de maio de 2021, trazendo como
prova, postagem do Facebook que demonstrava o alegado. O juízo de primeira
instância rejeitou o pedido:

A notícia de uma venda realizada no último dia 21-04-2021,


também feriado, não se presta a tanto. Primeiro que não de‑
monstra que também nesse próximo feriado o requerido abrirá
suas portas. Segundo que não comprova ter sido utilizada mão
de obra assalariada naquele anterior feriado. Demais disso,
o print de postagem no Facebook divulgando a abertura do
comércio igualmente na data de 01-05-2021, não se presta
a comprovar que o demandado pretenda fazê-lo com o uso

82
“Art. 378”. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF:
Presidência da República, 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 28 abr. 2022.
83
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. MSCiv nº 0021005-13.2021.5.04.0000. Relatora:
Simone Maria Nunes, 02 de agosto de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.
br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/rt9LQTaj03i6HMggf0vGzw?&qp=valora%C3%A7%C3%A3
o%3B+invalidade%3B+eletr%C3%B4nico%3B+digital%3B+autenticidade%3B++facebook%3B+e-
mail%3B+instagram%3B+print&te=facebook. Acesso em: 22 maio 2022.

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de mão de obra assalariada. Dessa forma, indefiro a liminar


postulada.84 (grifo nosso)

Já o Juízo de segundo grau, utilizando-se da argumentação empregada


pela desembargadora em Juízo de plantão, porém, concebeu o seguinte:

No caso dos autos, nada obstante o r. entendimento da Magis‑


trada, entendo que a cópia da postagem do requerido na rede
social Facebook, colacionada no ID d46df81 – Pág. 2, evidencia
a verossimilhança das alegações da inicial no sentido de que
a empresa pretende funcionar no feriado do dia 1º/05/2021,
havendo demonstração, assim, da probabilidade do direito.85

Nesta senda, pode-se perceber que apesar de o primeiro grau não ter
reconhecido a prova trazida aos autos, a r. Desembargadora em Juízo de
plantão entendeu que o print da postagem na referida rede social, da abertura
da empresa em dia de feriado, evidencia a verossimilhança das alegações
trazidas à inicial, restando, então, comprovado o direito pleiteado no man‑
dado de segurança, uma vez que era autêntica a prova trazida ao processo.
Diante da análise dos julgados acima, pode-se verificar que não há
controvérsia no que tange à utilização da prova digital, pois conforme já de‑
monstrado através de legislação pertinente, é possível se utilizar de qualquer
meio de prova moralmente legítimo.86
Com o uso massivo de computadores e demais aparelhos eletrônicos,
as evidências digitais podem e devem ser utilizadas, mesmo quando não

84
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. MSCiv nº 0021005-13.2021.5.04.0000. Relatora:
Simone Maria Nunes, 02 de agosto de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.
br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/rt9LQTaj03i6HMggf0vGzw?&qp=valora%C3%A7%C3%A3
o%3B+invalidade%3B+eletr%C3%B4nico%3B+digital%3B+autenticidade%3B++facebook%3B+e-
mail%3B+instagram%3B+print&te=facebook. Acesso em: 22 maio 2022.
85
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. MSCiv nº 0021005-13.2021.5.04.0000. Relatora:
Simone Maria Nunes, 02 de agosto de 2021. Disponível em: https://pesquisatextual.trt4.jus.
br/pesquisas/rest/cache/acordao/pje/rt9LQTaj03i6HMggf0vGzw?&qp=valora%C3%A7%C3%A3
o%3B+invalidade%3B+eletr%C3%B4nico%3B+digital%3B+autenticidade%3B++facebook%3B+e-
mail%3B+instagram%3B+print&te=facebook. Acesso em: 22 maio 2022.
86
“Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente
legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se
funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz” (BRASIL. Lei nº 13.105, de
16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2015.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm.
Acesso em: 28 abr. 2022).

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

assinada digitalmente, pois há níveis de evidência de autenticidade,87 sendo


elas, como visto acima, apreciadas e valoradas conforme o contexto fático
probatório e de acordo com a persuasão racional do magistrado. Porém, é
possível concluir, também, que nunca será alcançada a certeza inequívoca
de confiabilidade no sistema eletrônico como no tradicional, mas sendo
possível, de certa forma imprimir confiabilidade necessária para efetivar
determinados direitos.

5 Conclusão
A presente pesquisa abordou o tema de inovações tecnológicas na Jus‑
tiça do Trabalho, mais precisamente sobre as provas digitais, sua validade
e valoração dada pelo receptor da prova (juiz).
Junto das inovações tecnológicas, as possibilidades de dilação proba‑
tória também se modificaram dentro do processo do trabalho. Os atos jurí‑
dicos que eram antes, praticados e registrados em papel, hoje em dia são
feitos por meio de documentos eletrônicos. Há variadas formas de provar,
por meio digital, diversos fatos jurídicos que se realizam no mundo real. Po‑
rém, ainda discute-se a validade de tais documentos eletrônicos, uma vez
que há possibilidades de intervenção de terceiros durante a movimentação
e processamento dos dados.
A importância de se fazer uma análise acerca do tema proposto é por‑
que cada vez mais a era digital se faz presente no dia a dia da sociedade
como um todo – algo que não se difere dentro da ciência do Direito – já que
o próprio ordenamento jurídico brasileiro se utiliza de meios digitais para
tramitação de processos eletrônicos, sendo até mesmo um objetivo final
findar com o andamento de processos físicos, o que já ocorre em alguns
Tribunais e Foros espalhados pelo Brasil.
A sociedade vem convergindo para uma modalidade mais digital, pois
vêm sendo muito utilizadas as redes sociais e demais mídias eletrônicas.
Com esses avanços tecnológicos, o Direito tem que se adaptar às mudanças
e regulamentar os acontecimentos cibernéticos, tal como fez através da Lei
nº 12.965 de 2014, que estabeleceu o Marco Civil da Internet no Brasil.
Entretanto, as provas digitais, que são documentos produzidos de for‑
ma eletrônica, ainda carecem de uma legislação específica. Os legisladores

87
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 92. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555598438/. Acesso em: 13 abr. 2022.

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manifestaram sua preocupação com tal questão quando foi criada a In‑
fraestrutura de Chaves Públicas Brasileira através da Medida Provisória nº
2.200-2 de 2001.
A assinatura digital nada mais é que um código anexado ou logicamente
associado a um arquivo eletrônico que comprova a autenticidade e a fidedig‑
nidade quanto à integralidade do conjunto de dados do referido documento,
de acordo com o original. Ou seja, a assinatura confere autenticidade através
do conhecimento do emitente do documento, tendo sido assinado por ele.
A partir do conhecimento de quem produziu determinado arquivo eletrônico,
haverá confiabilidade a tais documentos, porque a responsabilidade é da‑
quele que o emitiu.
Já a certificação eletrônica é uma ferramenta de codificação usada para
transformar mensagens em códigos, convertendo-a em caracteres indecifrá‑
veis.88 A chave mais utilizada é a criptografia assimétrica que concebe duas
chaves: uma chave privada, que codifica a mensagem, e outra chave pública,
que decodifica a mensagem, porém podendo ocorrer o inverso.
Com a Informatização do Processo, através da Lei nº 11.419 de 2006,
tais ferramentas também foram positivadas na referida Lei, bem como a de‑
finição de documento eletrônico. Estas foram um marco na utilização desses
documentos, pois puderam conferir autenticidade, integridade e validade
jurídica aos documentos produzidos eletronicamente.
Ocorre que, como mencionado anteriormente, não há uma legislação
específica que contenha um rol taxativo e permissivo de quais documentos
eletrônicos poderão ser utilizados como prova eletrônica. Tal situação im‑
plica na valoração dada às provas digitais, por parte do convencimento do
magistrado.
Através do princípio do livre convencimento motivado, o juiz poderá
escolher qual prova terá força para convencê-lo a decidir por determinado
direito, devendo, porém, fundamentar sua decisão. Dessa forma, aí entra o
problema subjetivo da valoração do juiz. Para isto, o magistrado deverá se
valer dos requisitos já previstos na legislação como, por exemplo, a possi‑
bilidade das partes empregarem qualquer meio legal, moralmente legítimo
e não ilícito, para influir de forma eficaz na convicção do juiz.
Nesta senda, pode-se perceber, através desta pesquisa, que o juiz tem
validado de forma positiva as provas digitais, pois estas estão de acordo

88
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Digital e Processo Eletrônico. São Paulo: Saraiva, 2022. p. 97. E-book.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596946/. Acesso
em: 18 abr. 2022.

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Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas digitais através da...

com os princípios do processo trabalhista, com o princípio constitucional


de ampla defesa e com os demais dispositivos da legislação processual –
já amplamente mostrados – que conferem ao processo a possibilidade de
utilização da prova digital, mesmo que esteja inserida de forma concisa no
ordenamento jurídico.
Há um longo caminho a ser percorrido pelo Direito Digital e pelos le‑
gisladores, pois é factível que se houver um rol taxativo de provas digitais,
este deverá sempre estar sendo atualizado e emendado uma vez que o ci‑
berespaço está todo dia se inovando e se transformando.

Referências
AGUIAR, João Carlos Pestana de. Comentários ao Código de Processo Civil. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1974.
ALMEIDA, Amador Paes D. Curso Prático de Processo do Trabalho. São Paulo:
Saraiva, 2020. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788553619467/. Acesso em: 08 abr. 2022.
BERNARDO, Daniel Carvalho. Da admissibilidade das provas digitais em juízo, perante
o ordenamento pátrio. 2013. 65f. Monografia (Graduação em Direito) – Universidade
Federal Fluminense, Niterói/RJ, 2003. Disponível em: https://app.uff.br/riuff/
bitstream/handle/1/15511/Tcc%20DANIEL%20CARVALHO%20BERNARDO%20
matricula%2010807159.pdf?sequence=1. Acesso em: 22 abr. 2022.
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 125 de 2010. Brasília, DF: 2010.
Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/156. Acesso em: 25 abr. 2022.
BRASIL. Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 21 fev. 2022.
BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação de
Leis do Trabalho. Brasília, DF: 1943. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 18 mar. 2022.
BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Perguntas mais frequentes.
Brasília, DF, 2020. Disponível em: http://conarq.arquivonacional.gov.br/conarq/
perguntas-mais-frequentes.html. Acesso em: 19 abr. 2022.
BRASIL. Lei nº 11.419 de 19 de dezembro de 2006. Dispõe sobre a informatização
do processo judicial; altera a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de
Processo Civil; e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11419.htm. Acesso em: 24 abr. 2022.

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Juliano Gianechini Fernandes, Vitória Nascimento Cardoso

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88 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 57-90, outubro 2022

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Juliano Gianechini Fernandes, Vitória Nascimento Cardoso

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Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2018 da


Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

FERNANDES, Juliano Gianechini; CARDOSO, Vitória Nascimento.


Inovações tecnológicas na produção de provas: validade das provas
digitais através da valoração subjetiva do juiz na justiça do trabalho.
Revista Fórum Justiça do Trabalho, Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p.
57-90, out. 2022.

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JURISPRUDÊNCIA

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JURISPRUDÊNCIA

JURISPRUDÊNCIA DO TRT – 1ª REGIÃO

EXERCÍCIO DA FUNÇÃO DE PROFESSOR


– ADVOGADO ORIENTADOR

As atividades exercidas pelo autor no NPJ, onde era


responsável pelo ensino de prática forense, acompanhando e
treinando alunos, ministrando aulas expositivas, orientando-
os na elaboração de peças processuais e aplicando provas,
confirmam a tese da inicial de exercício da docência, pelo
que merece ser mantida a r. sentença que determinou o
enquadramento nessa categoria profissional.

(TRT 1ª R – 0100346-67.2018.5.01.0068 ROT – 2ª T – Rel.ª Des.ª Claudia


Maria Sämy Pereira da Silva – Publ. 06/07/2022)

RELATÓRIO
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário,
em que são partes: SOCIEDADE DE ENSINO SUPERIOR ESTÁCIO DE SÁ
LTDA, como recorrente, e MARCIO AURELIO FIGUEIREDO DOS SANTOS,
como recorrido.
Recorre a reclamada pelo ID d2ce342, inconformada com a sentença
de ID 6aa6778, complementada pela decisão de ID 8c7962d, proferida pela
MMª Juíza Astrid Silva Brito, da 68ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que
julgou procedente em parte o pedido e acolheu os embargos de declaração
opostos pelo autor sob ID 3d34b29.
Pugna pela reforma da sentença, a fim de que seja afastado o enqua‑
dramento do autor como professor, excluindo-se a condenação ao pagamento

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Jurisprudência do TRT – 1ª Região

de diferenças salariais, bem assim de horas extras, com seus respectivos


reflexos sobre demais verbas do contrato.
Custas recolhidas e depósito recursal comprovado pela ré (seguro‑
-garantia), conforme guias e apólice de IDs 7c7b6f0,8413692, 8c71ea4,
572731a e 74ce828.
Contrarrazões sob ID cca8c35, sem arguição de preliminares.
Sem parecer do Ministério Público do Trabalho, nos termos do ofício
nº 472/2018-GAB, de 29.6.2018, encaminhado pelo Procurador-Chefe da
PRT-1ª Região.
É o relatório.
VOTO
CONHECIMENTO
CONHEÇO do recurso, eis que preenchidos os respectivos pressupos‑
tos de admissibilidade.
Abram-se parênteses para esclarecer estar a apólice de seguro-garantia
apresentada pela ré, em substituição ao depósito recursal, em perfeita sinto‑
nia com as exigências contidas no artigo 3º do Ato Conjunto TST/CSJT/CGJT
nº 1 de 16/10/2019, havendo expressa previsão legal para sua aceitação
(artigo 899, §11, da CLT).

MÉRITO
RECONHECIMENTO DAS ATIVIDADES DE DOCENTE. IMPOSSIBILIDADE.
Insurge-se a ré contra a r. sentença de primeiro grau, no ponto em que
reconheceu, tal como alegado na inicial, haver o autor exercido a docência,
como professor auxiliar, durante suas atividades como advogado orientador
de estágio.
Afirma serem distintas as tarefas exercidas pelo autor, na função de
advogado orientador, daquelas que incumbem ao professor, cabendo-lhe
apenas auxiliar e supervisionar os estagiários no atendimento ao público que
busca os serviços do núcleo, orientando-os quanto à elaboração de peças
processuais e no acompanhamento dos processos, além de atuar como
procurador dos clientes que acorrem ao NPJ.
Aduz que “As atividades se dão, em sua maioria, no escritório modelo.
Outras atividades são oferecidas, porém, de cumprimento facultativo, como
por exemplo: palestras, visitas a órgãos públicos, atuação como conciliador
etc.”, não havendo transmissão de conhecimento teórico, nem aplicação de
prova ou teste, já que a avaliação do aluno dá-se pelo simples cumprimento
da carga horária.

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EXERCÍCIO DA FUNÇÃO DE PROFESSOR – ADVOGADO ORIENTADOR

E que “o ‘estágio’ não é considerado uma disciplina acadêmica, uma


vez que não possui ‘conteúdo programático’, nem ‘ementa’ de disciplinas a
serem lecionadas; nem ‘material de aula’”, sequer sendo conferidas aulas
em sala, motivo pelo qual não se poderia falar em pagamento por hora-aula.
Pondera, por fim, sobre o critério de admissão do orientador, que difere
dos professores por não lhe ser exigida a apresentação de uma aula diante
da banca examinadora, sendo admitidos por mera análise de currículo, mui‑
tas vezes por indicação de alguém.
SEM RAZÃO.
Alegou o autor, na inicial, haver sido contratado para o exercício da fun‑
ção de advogado orientador júnior, sendo que, na realidade, além da função
de advogado, sempre teria exercido as funções de magistério, como profes‑
sor adjunto, ministrando aulas e demais atribuições inerentes à docência,
levando os alunos a eventos e acompanhando-os em visita ao Tribunal de
Justiça, além de aplicar-lhes aferições orais.
Aduziu que, nos termos do artigo 5º da Resolução 9/2004 do Conse‑
lho Nacional da Educação, o curso de direito deve prever em seu projeto
pedagógico, e em sua organização curricular, conteúdos e atividades que
contemplem, além do eixo de formação profissional, com enfoque dogmá‑
tico, também o eixo de formação prática, objetivando a integração entre a
prática e os conteúdos teóricos, sendo esta última a sua área de atuação.
Asseverou que, de acordo com a Lei 11.788/2012 (Lei do Estágio),
em seu artigo 3º, §1º, o estágio deverá ser acompanhado por um professor
orientador, sendo esta a sua atribuição na ré, de modo que, tal como ale‑
gado, suas atividades necessariamente devem ser reconhecidas como a de
um professor, até mesmo porque o ensino é a atividade-fim desenvolvida
pela empresa.
Afirmou que “como professor deveria fazer jus ao valor do salário hora
do professor e dos demais direitos dessa categoria, todos estabelecidos nas
normas coletivas e na CLT, o que sempre lhe foi suprimido pela reclamada
em razão da forma fraudulenta que encontrou na contratação do reclamante
ao enquadrá-lo como membro do corpo administrativo ao invés do correto
enquadramento como integrante do CORPO DOCENTE”.
Postulou o pagamento das diferenças salariais devidas, com base na
quantidade de horas-aula proporcionais à sua jornada, bem como os reflexos
sobre RSR e todas sobre as demais parcelas do contrato.
Em sua defesa de fls. 651 e seguintes, trouxe a ré os mesmos argu‑
mentos que ora reitera em seu recurso ordinário, pretendendo ver julgado
improcedente o pedido.

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Jurisprudência do TRT – 1ª Região

O pedido foi acolhido pelo MM. Juízo de primeiro grau sob os seguintes
fundamentos:

“(...)
Passo à análise:
O contrato de trabalho é um contrato realidade. Assim, inde-
pendente da nomenclatura do cargo, o que deve prevalecer é
a realidade, ou seja, as atividades de fato desenvolvidas pelo
empregado é que determinam o cargo exercido (artigo 9º da CLT).
A prova documental produzida nos autos demonstra que o
reclamante exercia atividade de docente. Isso porque, minis-
trava aulas a respeito das matérias afetas a prática jurídica
da advocacia, o que envolvia a avaliação de alunos intitulados
“simulados”, bem como realizava aferições orais dos mesmos,
conforme documentos juntados com a petição inicial (fotos em
sala de aula – ID 447aac4; quadro de atividades – ID 63e0772
– Pág. 3; simulados – ID 3916935 e certificado aferição oral –
ID de2e245 – Pág. 2 e 4).
No mesmo sentido, a prova oral produzida pelo empregado,
através das testemunhas Lucia e Gabrielle, que confirmam a
tese da inicial.
Vejam-se os depoimentos, com especial atenção aos trechos
destacados:
Depoimento Lúcia F. Portella: “que trabalhou na ré de agosto de
2015 a dezembro de 2019, na função de Auxiliar Administrativo
no Núcleo de Prática jurídica até que, no final de 2018, entrou
em gozo de licença médica, tendo alta em julho de 2019 e
foi trabalhar na secretaria; que no Núcleo de prática jurídica,
o reclamante era Professor e Advogado Orientador; que o
reclamante ministrava as aulas de Direito de Processo Civil
e civil para alunos do 8º, 9º e 10º períodos, dava palestras,
aplicava exercícios, provas, fazia slides para apresentação
de conteúdo, tirava dúvida, acompanhava os atendimentos
dos alunos, atendia os assistidos que procuravam o núcleo;
que o reclamante trabalhava das 11h30min às 20h30min, de
segunda a sexta; que o reclamante dava aulas de 13h30min
até 20h30min, elaborava plano das aulas que ministrava; que
o reclamante tinha autonomia para reprovar alunos, critério
para reprovação era o número de faltas, e pelo que sabe, é de

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EXERCÍCIO DA FUNÇÃO DE PROFESSOR – ADVOGADO ORIENTADOR

25% e o número de horas mínimas, que era 75 horas; que os


alunos faziam atividades e que estas atividades eram conver-
tidas em notas e geravam horas; que o reclamante elaborava
prova e aplicava também; que havia um curso exclusivo para
os professores que o reclamante participava; que o reclaman-
te participava de banca de aferição, duas vezes ao ano; que
as bancas de aferição eram exclusivas para os professores
do Núcleo de Prática Jurídica, sendo que inicialmente eram
2 dias, no primeiro período e dois dias, no segundo período
e posteriormente, passou a ser 1 dia por período; que devia
chegar por volta de 07h30min e terminava por volta das 18h;
que o reclamante tinha turma todos os dias da semana; que a
depoente trabalhava na recepção do Núcleo de prática jurídica
e que a sala do reclamante era ao fundo da parte do Núcleo,
ou seja, a depoente trabalhava em uma sala e o reclamante
na sala ao lado; que na mesma sala do autor, trabalhava um
outro advogado orientador, porque as salas eram divididas em
matérias; que ambos atendiam os alunos nessa mesma sala
em conjunto”. GRIFEI
Depoimento Gabrielle G. Petrungaro: “que nunca trabalhou na
ré; que foi aluna na ré de 2013 a 2018; que fez a disciplina de
estágio II, no primeiro semestre de 2017, foi então que teve
contato com o autor, pois este era professor no Núcleo de
prática jurídica, sendo que cada semana, havia uma dinâmi-
ca distinta, quais sejam, elaboração de peças processuais,
aulas de conhecimento do site do Tribunal, preenchimento de
grerjs, além das avaliações que o autor aplicava; que na aula
de elaboração de peças, dava aula de direito material sobre o
caso; que o autor elaborava as avaliações, aplicava, corrigia
e depois, convertia as notas em horas que era o requisito ne-
cessário para aprovação no Núcleo de prática; que a avaliação
e a presença que contavam como horas eram necessárias
para aprovação; que o reclamante já aplicou provas de outros
professores como, por exemplo, de direito do trabalho, tanto
aplicava como corrigia; que as aulas eram 1 vez por semana,
com duração de 2 hs”.
Na mesma linha, o depoimento da testemunha Claudio, ouvida
por intermédio de Carta Precatória, a convite do autor (CP, ID
4bb39db – Pág. 12).

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Jurisprudência do TRT – 1ª Região

Depoimento Claudio Pinto C. do Nascimento: “que trabalha na


ré como técnico de TI desde 2014; que conhece o reclamante
do núcleo de prática jurídica da ré no Rio de Janeiro; que o
reclamante trabalhava no NPJ; (...) que o reclamante era ad-
vogado para a ré atuando como docente; que o reclamante
participava de cursos mensais oferecidos pela ré; que o autor
fazia aferições dos alunos da ré no início do primeiro semes-
tre de curso e ao final do segundo período; que o autor fazia
marcação de ponto nesses dias; que o reclamante elaborava,
aplicava e corrigia provas; que o reclamante elaborava plano
de aula; que o reclamante tinha autonomia para reprovar alu-
nos; que trabalhou com o reclamante por 3 meses há 3 anos;
que não se recorda o mês específico; que as aulas ministradas
pelo autor aconteciam no próprio NPJ; que cabiam cerca de 20
alunos para aula no NPJ; (...)”. GRIFEI
Somado a isso, a própria testemunha ouvida a convite da ré,
Ulisses F. Simas, corrobora o fato de que o autor fazia corre-
ções de peças elaboradas pelos estagiários do núcleo, bem
como realizava aferições orais e aplicava simulados, inclusive,
atribuindo “notas” convertidas em horas, o que reforça a decla-
ração das testemunhas Lucia e Gabrielle. Veja-se o depoimento,
destaque especial aos trechos em negrito:
“(...) que o reclamante era Advogado Orientador; que o depoente
foi responsável por fazer a entrevista admissional do reclamante;
que as atribuições do autor era orienta o aluno, atende a parte
junto com aluno, corrigi as petições iniciais dos alunos nos
casos que eles atendem, faz audiência, cumpre prazo caso o
aluno não cumpra, elabora procuração; que o reclamante dava
instruções práticas sobre a vida profissional futura, mas não
havia plano de aula com conteúdo programático das discipli-
nas, de forma teórica, não havendo lousa, quadro branco ou
formato de sala de aula dentro do Núcleo de Prática jurídica;
que não havia aplicação de provas, mas sim simulação de
peças práticas como, por exemplo, simulação de procuração,
dentre outras peças; (...); que o critério para aprovação no NPJ
consiste em realização de audiências, presenças, atividades
relativas aos processos, visitas técnicas aos Tribunais, aluno
deve atingir a carga horária de 300 horas ao longo de 2 anos,
que divididos dão 75 horas por semestre e quem não atingir,

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EXERCÍCIO DA FUNÇÃO DE PROFESSOR – ADVOGADO ORIENTADOR

deve fazer estágio no semestre seguinte; que as atividades no


NPJ eram reais ou simuladas como, por exemplo, audiência,
sendo que ambos tinham valor de hora; que reconhece que o
documento id 3916935, página 2 foi aplicado ao aluno como
atividade simulada e o reclamante lhe conferiu 8 horas; que
o depoente já deu aula como professor no NPJ, até porque o
depoente tem duas matrículas; que a aprovação de horas no
sistema são lançadas pelo depoente ou por outro colaborador
que tenha acesso ao sistema integrado acadêmico-SIA; (...);
que o NPJ, é dividido em 3 áreas: trabalhista, civil e família;
que eram 7 advogados, sendo 2 na trabalhista, 1 na família
e 2 no cível e o reclamante era da área cível juntamente com
Dr. Tiago; que raramente havia necessidade de o autor atender
outra área, porque os atendimentos eram pré agendados; que Dr
Tiago trabalhava das 07h 30min às 16h30min e o reclamante
das 11h 30min às 20h30min; que não recorda se à época se
a ré fornecia cursos exclusivos para docentes; que reconhece o
documento de id de2e245, páginas 2 e 4 e que a aferição era
feita pelos advogados orientadores; que à vista do documento
de id 719f24d, pelo que tem conhecimento, os advogados não
faziam capacitação on line”.
Sobre o mesmo thema ora em apreço correu perante a 4ª
Turma deste Eg. TRT da 1ª Região o processo nº 0101595-
02.2016.5.01.0043 (ROT), no qual a ré também figurou no
polo passivo, sendo proferido o seguinte Acórdão, que ora
parcialmente transcrevo, com a devida vênia, e adoto como
razão de decidir, verbis:
“(...) DO RECURSO DA RECLAMADA
DO ENQUADRAMENTO COMO PROFESSOR
Nego provimento
O juízo de primeiro grau julgou procedente o presente pedido,
sob os seguintes fundamentos:
“(...)
Consta, na cláusula 4a, do instrumento de convênio firmado
entre o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e a ré,
em 30/07/1999, ID. 1197e5e, que os Estagiários-Conciliadores,
supervisionados por professores orientadores, deverão atender
às partes, elaborar iniciais, entre outras atividades.
A Lei no 11.788/2008, no art. 3o, §1o, prevê que “O estágio,

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Jurisprudência do TRT – 1ª Região

como ato educativo escolar supervisionado, deverá ter acom-


panhamento efetivo pelo professor orientador da instituição de
ensino e por supervisor da parte concedente, comprovado por
vistos nos relatórios referidos no inciso IV do caput do art. 7o
desta Lei e por menção de aprovação final”.
A RESOLUÇÃO CNE/CES Nº 9/2004, do CONSELHO NACIONAL
DE EDUCAÇÃO, ID. 9a1abb2, prevê em seu artigo 5o que “O
curso de graduação em Direito deverá contemplar, em seu
Projeto Pedagógico e em sua Organização Curricular, conteúdos
e atividades que atendam aos seguintes eixos interligados de
formação: I - Eixo de Formação Fundamental, tem por objetivo
integrar o estudante no campo, estabelecendo as relações do
Direito com outras áreas do saber, abrangendo dentre outros,
estudos que envolvam conteúdos essenciais sobre Antropologia,
Ciência Política, Economia, Ética, Filosofia, História, Psicologia e
Sociologia. II - Eixo de Formação Profissional, abrangendo, além
do enfoque dogmático, o conhecimento e a aplicação, observadas
as peculiaridades dos diversos ramos do Direito, de qualquer
natureza, estudados sistematicamente e contextualizados
segundo a evolução da Ciência do Direito e sua aplicação às
mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais do Brasil
e suas relações internacionais, incluindo-se necessariamente,
dentre outros condizentes com o projeto pedagógico, conteúdos
essenciais sobre Direito Constitucional, Direito Administrativo,
Direito Tributário, Direito Penal, Direito Civil, Direito Empresarial,
Direito do Trabalho, Direito Internacional e Direito Processual;
e III - Eixo de Formação Prática, objetiva a integração entre a
prática e os conteúdos teóricos desenvolvidos nos demais
Eixos, especialmente nas atividades relacionadas com o Está-
gio Curricular Supervisionado, Trabalho de Curso e Atividades
Complementares. (...)”.
Assim, a orientação e supervisão de estagiários compõe a grade
curricular do curso de Direito e, portanto, deve ser ministrada
por um professor.
O acervo probatório indica que o autor exercia a função de
professor, ou seja, docência de prática jurídica, e não de Ad-
vogado Orientador como quer fazer crer a ré, conforme afirma
na peça de defesa.
Verifica-se que o autor participou da aferição oral interna do

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EXERCÍCIO DA FUNÇÃO DE PROFESSOR – ADVOGADO ORIENTADOR

Núcleo de Prática Jurídica, ID. E170e45.


Por outro lado, considerando-se as negativas expostas pela
ré em relação aos fatos em tela, e, a teor do art. 818 da CLT,
c/c o art. 373, I, do CPC, caberia à ré o ônus de provar suas
alegações no particular, e não se desincumbiu a contento do
encargo, por meio da testemunha por ele arrolada.
Verifica-se, ainda, que a testemunha do autor prestou depoimento
mais coerente com o do autor e confirmou que este laborava,
inclusive, ministrando aulas.
Já a testemunha indicada pela ré informou, que não presenciou
o processo seletivo do reclamante e não sabe dizer como tal
processo ocorreu e, ainda, não sabe dizer se “o reclamante
fazia aferição oral, pois o depoente não trabalhava lá; que não
sabe dizer se o reclamante nem se os advogados orientadores
aplicam simulados”, portanto, nítida a imprecisão e o caráter
vago das afirmações.
Portanto, é visível que a função do autor é mais abrangente e
mais especializada do que aquela apontada pela ré, pois re-
quer conhecimento do conteúdo das aulas, o que só pode ser
realizado por um Professor.
Assim, o demandante laborava executando tarefas relativas a
atividade fim da demandada.
PROFESSOR. ENQUADRAMENTO. ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DE
ESTÁGIO EM DIREITO. ATIVIDADE DOCENTE. O estágio, como ato
educativo escolar supervisionado, consiste na transmissão de
conhecimentos prático e teórico. É elemento importante, senão
mesmo fundamental, para a formação profissional. Se assim
é, não pode ser classificado como etapa ‘administrativa’, mas
sim, docente, a ensejar a aplicação das normas coletivas da
categoria própria, a dos professores. Apelo patronal improvido.
(PROCESSO: 0000935-19.2011.5.01.0061 – RTOrd. Órgão
Julgador: 10a T U R M A. Publicação: 04/04/2013. Relator:
Desembargadora Rosana Salim Villela Travesedo).
Portanto, reconheço que o autor desempenhava a função de
Professor desde 09/11/2009; a aplicação das normas da
categoria dos professores e a retificação da CTPS, que deverá
ser feita pela ré, no prazo de dez (10) dias, após o trânsito em
julgado desta decisão. Caso a ré não a faça, será aplicada multa
diária de R$100,00, até o limite de R$2.000,00 (dois mil reais),

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Jurisprudência do TRT – 1ª Região

a ser revertida a favor do autor. Ultrapassado o prazo fixado,


deverá a Secretaria da Vara fazê-la, sem prejuízo da multa em
comento. Assim, procedente o pleito contido na alínea “b” do
rol de pedidos.
Diante o já decidido, procedentes os pleitos sobre diferenças
salariais, conforme normas da categoria e sobre o adicional
por tempo de serviço, contidos nas alíneas “c” e “i” do rol de
pedidos.
Procedentes as integrações e reflexos em repouso semanal
remunerado, férias acrescidas do terço constitucional, 13o
salário, FGTS, anuênio, conforme pleiteado na alínea “c” do
rol de pedidos.”
Pretende a reclamada a reforma do julgado, alegando, em sín-
tese, ser equivocado o enquadramento do reclamante como
professor, entendendo por errada a forma de distribuição do
ônus probatório alegando ainda que a decisão não tem amparo
nas normas coletivas, existência de incompatibilidade da hora
aula com o exercício da atividade de prática jurídica e, ainda,
da ausência de habilitação profissional.
Pois bem.
De plano, desconsidero as teses da reclamada de que o
enquadramento como professor afronta as normas coletivas
da categoria, incompatibilidade do sistema de hora-aula com
o núcleo de prática jurídica, haja vista que se tratam de ino-
vações em fase recursal, posto que tais argumentações não
foram levantadas na tese de defesa, conforme se observa da
contestação de id. D4b54a8.
Incontroverso que o reclamante foi contratado pela reclamada
em 09/11/2009 na função de advogado assistente Jr., onde
laborou até 16/01/2015, conforme CTPS de id. c0b68e9.
Contudo afirma o reclamante que sempre exerceu atribuições
próprias de professor, sem receber a contrapartida própria para
a função, postulando o correto enquadramento na função de
professor, com o reconhecimento dos direitos e benefícios da
categoria.
(...)
Dessa forma, é irrelevante eventual equívoco na distribuição
do ônus probatório, posto que o reclamante demonstrou o fato
constitutivo do direito alegado.

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EXERCÍCIO DA FUNÇÃO DE PROFESSOR – ADVOGADO ORIENTADOR

Cabe ainda ressaltar, como muito bem colocado na sentença,


que na cláusula 4a, do instrumento de convênio firmado entre
o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e a ré, em
30/07/1999, ID. 1197e5e, que os Estagiários-Conciliadores,
supervisionados por professores orientadores, deverão atender
às partes, elaborar iniciais, entre outras atividades.
Por fim, não merece prosperar a alegação de que o autor não
possui a formação acadêmica própria para o exercício da função
de professor, pois, se o mesmo exercia a função de professor
sem a devida formação, trata-se de equívoco próprio da recla-
mada que contratou profissional sem a devida qualificação não
podendo pretender se beneficiar da própria torpeza.
Pelo exposto, neste particular, nego provimento ao recurso da
reclamada”.
Na mesma linha as Ementas de Jurisprudência abaixo transcritas:
“ADVOGADO ORIENTADOR – ENQUADRAMENTO COMO PROFES-
SOR. As atividades exercidas por advogado orientador, acom-
panhando e treinando alunos, ministrando aulas expositivas,
orientando os alunos na elaboração de peças processuais e
elaborando as provas, são próprias do magistério, devendo o
obreiro ser enquadrado nesta categoria profissional. (TRT-1 –
RO: 01014758220165010002 RJ, Relator: DALVA AMELIA DE
OLIVEIRA MUNOZ CORREIA, Data de Julgamento: 09/10/2018,
Oitava Turma, Data de Publicação: 18/10/2018)
RECURSO ORDINÁRIO. ENQUADRAMENTO COMO PROFESSOR.
ORIENTAÇÃO DE ESTÁGIO EM DIREITO. A função do reclamante,
além de orientar os alunos estagiários da instituição de ensino do
curso de direito dos últimos períodos da faculdade, na elaboração
de peças processuais, acompanhamento de processos judiciais
e toda a ferramenta para a familiarização com a realidade do dia
a dia do profissional de direito, ou seja, de tudo que se refere
ao aprendizado da prática forense, também tem como objetivo
a transmissão de conteúdo doutrinário, conhecimentos especí-
ficos processuais e diretamente ligados à prática processual.
(TRT-1 – RO: 01009470620175010037 RJ, Relator: JOSE DA
FONSECA MARTINS JUNIOR, Data de Julgamento: 25/09/2018,
Nona Turma, Data de Publicação: 12/10/2018)
INSTITUIÇÃO DE ENSINO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE PROFES-
SOR. RECONHECIMENTO DE DIREITOS E VANTAGENS INERENTES

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Jurisprudência do TRT – 1ª Região

À CATEGORIA. Insustentável a tese de que o reclamante exercia


atividade de advogado orientador quando a própria empresa
firma termo aditivo de contrato de trabalho em que registra o
trabalhador como membro integrante do quadro de professores.
Comprovado que o empregado desenvolvia típica atividade de
professor, correta a sentença que reconheceu o direito à aplica-
ção dos normativos da categoria respectiva, com vantagens e
direitos a eles inerentes. Recurso da reclamada a que se nega
provimento. (TRT-1 – RO: 01008104520175010321 RJ, Relator:
GUSTAVO TADEU ALKMIM, Data de Julgamento: 24/04/2018,
Primeira Turma, Data de Publicação: 03/05/2018)
ADVOGADA ORIENTADORA. EXERCÍCIO DA ATIVIDADE DOCENTE.
Demonstrado que a obreira exercia a função de “professor ad-
vogado orientador”, sendo a responsável pelo ensino de prática
forense, confirmada a tese da inicial de exercício da docência.
(TRT-1 – RO: 00118356420145010026 RJ, Relator: MARCOS
DE OLIVEIRA CAVALCANTE, Data de Julgamento: 18/11/2015,
Sexta Turma, Data de Publicação: 09/12/2015)
ADVOGADA ORIENTADORA. NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA.
ESTÁGIO. ATIVIDADE DOCENTE. O trabalho desenvolvido pela
autora como advogada orientadora no Núcleo de Prática Jurídica
da ré integra o exercício da docência, uma vez que o estágio
curricular é constituído de aulas práticas ministradas aos alu-
nos fora ou dentro da sala de aula, com o escopo de favorecer
o seu aperfeiçoamento acadêmico-profissional”. (TRT-1 – RO:
00104240520135010031 RJ, Relator: CLAUDIA REGINA VIAN-
NA MARQUES BARROZO, Data de Julgamento: 18/03 /2015,
Sétima Turma, Data de Publicação: 18/05/2015)
Diante do exposto, reconhece-se que o autor desempenhava
a função de PROFESSOR AUXILIAR, desde 10.03.2014, sendo
aplicáveis as normas coletivas da categoria correspondentes à
referida profissão (pós-graduado – ID 35bc5f1 – Pág. 2; conforme
cláusula 3ª, §9º, da CCT – ID 99e7ef2 – Pág. 12).
A ré deverá retificar a CTPS do autor, para que conste o cargo
PROFESSOR AUXILIAR, bem como o salário-hora da admissão
de R$43,47 (CCT 2014, data base 01.04.2014 – ID 99e7ef2
– Pág. 3)

NÃO HÁ O QUE REFORMAR.

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EXERCÍCIO DA FUNÇÃO DE PROFESSOR – ADVOGADO ORIENTADOR

A despeito das alegações da reclamada, a prova produzida nos autos


revelou que, além das atividades relacionadas à advocacia, desempenhava
o autor também aquelas relacionadas à docência, ministrando aulas práticas
aos seus alunos do estágio orientado, bem como lhes aplicando provas e
demais atividades complementares, destinadas ao aperfeiçoamento da forma‑
ção profissional, que não se esgota, obviamente, em sala de aulas teóricas.
Nesse sentido, não apenas a prova documental trazida com a inicial
(consistente em atividades e aferições escritas e orais aplicadas aos alu‑
nos, além de aulas práticas) se mostrou apta a comprovar a realização das
atividades de docência exercidas pelo autor, como igualmente o fez a prova
testemunhal (cujos depoimentos foram acima reproduzidos em sua quase
totalidade), conforme destacado pelo MM. Juízo a quo em sua bem funda‑
mentada decisão.
Convém destacar, especialmente, a declaração prestada pela própria
testemunha da ré, no sentido de que ela mesmo “já deu aula como profes-
sor no NPJ”, reconhecendo, portanto, tratarem-se de verdadeiras aulas as
horas dedicadas aos alunos durante seus respectivos estágios obrigatórios,
ocasiões em que, obviamente, os orientadores atuam como professores.
Mais não fosse, como bem pontuou o MM. Juízo de primeiro grau, a
atividade de estágio curricular, prevista não apenas na Lei do Estágio como
na Resolução CNE/CES 9/2004, destina-se à formação prática dos alunos
do curso de Direito, fazendo a integração entre os conhecimentos teóricos
adquiridos em sala de aula e o mundo profissional, estando a cargo de um
professor com capacitação adquirida para transmitir conhecimentos.
Não é por outra razão que a classificação da ocupação do orientador de
estágio no curso de nível superior se faz, segundo o CBO, como “professor de
ensino superior na área de estágio supervisionado”, sob o código 2345-20”,
integrante da categoria dos professores, cuja descrição sumária consiste de
”Descrição Sumária: Ensinam, articulando o processo de ensino-aprendizagem
na formação de profissionais da educação; planejam atividades relativas a
cursos e pesquisas; realizam pesquisas científicas sobre o campo educa-
cional; supervisionam formação pedagógica em estágios; orientam alunos;
avaliam o trabalho acadêmico científico; coordenam atividades de ensino,
pesquisa e extensão; produzem material de trabalho; prestam atendimento
às demandas da comunidade na área da educação escolar e não-escolar
(educação formal e informal); participam de atividades administrativas, atua-
lizam-se na área e comunicam-se oralmente e por escrito”.
Enfim, embora o reclamante não atuasse como professor ao longo de
toda a sua jornada, pois que, além disso, como ele próprio reconhece desde

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Jurisprudência do TRT – 1ª Região

a inicial, dedicava-se à advocacia, no acompanhamento dos processos ajui‑


zados pelo Núcleo de Prática Jurídica – elaborando as peças necessárias
e atendendo aos clientes (o que se verá adiante) –, não há como deixar de
reconhecer que, durante os horários de atendimento aos alunos, quando
lhes eram ensinados os modelos de peças jurídicas, simuladas as partici‑
pações destes em audiências, ou mesmo aplicados exames de aferição de
conhecimento, exercia o autor a função de professor.
Não importa, para o reconhecimento da função, qual tenha sido o cri‑
tério empregado para a admissão do autor, tampouco quais tenham sido
as provas a que se submeteu, já que o contrato do trabalho é um contrato
realidade. Se, na prática, o autor desempenhava as funções de professor, é
irrelevante que, na sua admissão, não tenham sido exigidas as etapas que
a ré tem por costume exigir de seus professores, principalmente porque não
se trata, in casu, de uma exigência legal.
Finalmente, convém esclarecer serem também irrelevantes, para o
deslinde desta causa, as determinações expedidas pela própria ré em sua
Instrução Normativa 01/09, não podendo normativos unilateralmente pro‑
duzidos se sobreporem à realidade extraída da prática.
De todo modo, a leitura do documento permite concluir a função preci‑
puamente exercida pelo orientador do estágio, que é a de ensinar a prática
jurídica aos alunos da instituição, realizada através de orientação para a
elaboração das peças processuais e exercícios, posteriormente corrigidos
pelo professor, simulações, testes orais e escritos, etc.; ou seja, função a
ser exercida por um professor.
Por todo o exposto, deve ser mantida a r. sentença recorrida, no ponto
em que reconheceu o exercício, pelo autor, da função de professor junto aos
alunos matriculados no estágio curricular, condenando a ré ao pagamento
das diferenças salariais correspondentes.
Merece, todavia, sofrer limitação essa condenação, devendo ficar res‑
trita às horas em que o reclamante efetivamente se dedicava às atividades
de docência, o que não ocorria ao longo de toda a sua jornada.
Ora, o próprio autor reconheceu, desde a inicial, haver trabalhado nas
duas funções: de advogado e de professor, e que apenas na segunda dava
aula aos alunos do NPJ (vide antepenúltimo parágrafo de fl. 3), ficando en‑
carregado do atendimento aos assistidos no restante do tempo
Em seu depoimento pessoal, confirmou o autor o trabalho realizado
como advogado em parte de sua jornada, informando que ”desde então [sua
admissão], além da função de advogado também lecionava a disciplina de
Prática jurídica no escritório de prática”. Embora tenha, depois disso, afirmado

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EXERCÍCIO DA FUNÇÃO DE PROFESSOR – ADVOGADO ORIENTADOR

que toda a sua jornada era dedicada às aulas, não há como ser deixada de
lado sua confissão, vinda desde a inicial, e que foi, ainda, confirmada pela
prova testemunhal, havendo a sua primeira testemunha (fl. 973) declarado
que parte da jornada era dedicada ao atendimento dos assistidos que pro‑
curavam o núcleo, certo que, embora iniciada a jornada às 11h30, as aulas
seriam dadas apenas a partir das 13h30.
Considerando, portanto, que, durante essa jornada, havia ainda o gozo
do intervalo de uma hora para refeição e descanso, reconhecido pelo autor
desde a inicial, tenho que, em verdade, laborava o autor durante apenas
5h30 por dia no exercício da função de professor, o que perfaz somente 6,5
horas-aula por dia, cabendo o pagamento de diferenças salariais apenas
quanto a estas.
DOU PROVIMENTO PARCIAL, a fim de limitar o reconhecimento do exer‑
cício da função de professor em apenas 5h30 por dia, correspondentes a
6,5 horas-aula diárias, cabendo o pagamento de diferenças salariais apenas
quanto a estas.

HORAS EXTRAS
Decidiu o MM. Juízo de primeiro grau condenar a ré, também ao paga‑
mento de horas extras, assim consideradas as aulas conferidas a partir da
6ª hora-aula diária, a teor da antiga redação do artigo 318 da CLT, vigente
à época do contrato de trabalho.
Insurge-se a ré, insistindo na tese de que o reclamante não era professor
(o que já foi analisado no tópico anterior) ou, assim não se entendendo, sob
a alegação de que seria cabível a aplicação da redação atual do artigo 318
consolidado, que admitiria a prestação de 44 horas semanais de trabalho.
MERECE PARCIAL REFORMA a sentença, apenas no que se refere à
quantidade de horas extras devidas.
Não há que se falar em aplicação retroativa da reforma imposta pela
Lei 11.415/17 sobre o artigo 318 da CLT, cuja nova redação apenas pas‑
sou a ter aplicação a partir de sua vigência, ainda que sobre os contratos já
então existentes (ponto sobre o qual divirjo do entendimento manifestado
pelo MM. Juízo a quo). Não se aplica lei material nova sobre situações já
consolidadas antes de sua vigência, o que não possui respaldo legal algum,
além de prejudicar o direito adquirido da parte.
Todavia, considerando-se que o reclamante exercia dupla função na ré,
a de advogado e a de professor, e que esta última era realizada durante ape‑
nas 5h30 por dia, ou 6h30 horas-aula por dia, a condenação ao pagamento
de horas extras, segundo os mesmos parâmetros já definidos pelo MM.

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Jurisprudência do TRT – 1ª Região

Juízo de primeiro grau, deverá ficar restrita a 30 minutos diários, ou seja, ao


que excedeu ao limite de 6 horas-aula estabelecido anteriormente pela lei.
DOU PROVIMENTO PARCIAL, a fim de limitar a condenação ao paga‑
mento de horas extras, segundo os mesmos parâmetros já definidos pelo
MM. Juízo de primeiro grau, aos 30 minutos diários que excederam o limite
de 6 horas-aula estabelecido anteriormente pela lei.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Quanto aos honorários advocatícios, decidiu o MM. Juízo a quo conde‑


nar o autor ao seu pagamento em favor do advogado da ré, no percentual
de 10% sobre o valor fixado na inicial para os pedidos indeferidos, deixando
o débito, porém, sob condição suspensiva de exigibilidade, em razão do
deferimento da gratuidade de justiça.
Insurge-se a ré, pretendendo que referidos honorários sejam deduzi‑
dos do crédito deferido ao reclamante, tal como estaria previsto no §4º do
artigo 791-A da CLT.
SEM RAZÃO, ante a declaração da inconstitucionalidade do dispositivo
legal invocado, pelo Pleno deste E. TST, ressalvado o entendimento pessoal
desta relatora.
Em relação à constitucionalidade do §4º do art. 791-A, da CLT, com‑
pactuo do mesmo entendimento adotado pelo Ilustríssimo Ministro Luís Ro‑
berto Barroso, em voto proferido nos autos da ADI 5.766 – DF, cuja ementa
ora transcrevo:

“Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E DO TRABALHO. AÇÃO


DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ACESSO À JUSTIÇA.
GRATUIDADE DE JUSTIÇA. MÍNIMO EXISTENCIAL. INCONSTITU-
CIONALIDADE PARCIAL. 1. A Reforma Trabalhista assegurou
o direito à de justiça aos trabalhadores hipossuficientes,
mas determinou: (i) a cobrança de honorários de advogado e
de honorários periciais, em caso de sucumbência (CLT, arts.
791-A e 790-B); (ii) a utilização de créditos havidos em outros
processos para fazer face a tais honorários (CLT, art. 791-A,
§4º); (iii) a cobrança de custas judiciais aos empregados que
derem causa ao arquivamento de suas ações por não compa-
recimento injustificado à audiência (CLT, art. 844, §2º). 2. As
normas processuais podem e devem criar uma estrutura de
incentivos e desincentivos que seja compatível com os limites

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EXERCÍCIO DA FUNÇÃO DE PROFESSOR – ADVOGADO ORIENTADOR

de litigiosidade que a sociedade comporta. O descasamento


entre o custo individual de postular em juízo e o custo social
da litigância faz com que o volume de ações siga uma lógica
contrária ao interesse público. A sobreutilização do Judiciário
congestiona o serviço, compromete a celeridade e a qualida-
de da prestação da tutela jurisdicional, incentiva demandas
oportunistas e prejudica a efetividade e a credibilidade das
instituições judiciais. Vale dizer: afeta, em última análise, o
próprio direito constitucional de acesso à Justiça. 3. Dessa
forma, é constitucional a cobrança de honorários sucumbenciais
dos beneficiários da gratuidade de justiça, como mecanismo
legítimo de desincentivo ao ajuizamento de demandas ou de
pedidos aventureiros. A gratuidade continua a ser assegurada
pela não cobrança antecipada de qualquer importância como
condição para litigar. O pleito de parcelas indevidas ensejará,
contudo, o custeio de honorários ao final, com utilização de
créditos havidos no próprio feito ou em outros processos.
Razoabilidade e proporcionalidade da exigência. 4. Todavia,
em resguardo de valores alimentares e do mínimo existencial,
a utilização de créditos havidos em outros processos observará
os seguintes critérios: (i) não exceder a 30% do valor líquido
recebido (por aplicação analógica das normas que dispõem
sobre desconto em verbas alimentares: Lei 8.213/1991, art.
115, incs. II e VI; Decreto 3.048/1999, art. 154, §3º; e Decreto
8.690/2016, art. 5º); e (ii) não incidir sobre valores inferiores
ao teto do Regime Geral da Previdência Social (atualmente R$
5.645,80)...” (grifos acrescidos)

Assim, na forma da lei, entendo que seria cabível a dedução, do crédito


deferido ao reclamante nesta ou em outras ações de que seja vencedor no
prazo de dois anos contados do trânsito em julgado da presente decisão,
dos honorários advocatícios de sucumbência devidos ao advogado da ré.
Todavia, ressalvo meu entendimento pessoal e adoto aquele manifes‑
tado em 05/03/2020, pelo Pleno deste E. TRT, no sentido de ser inconsti‑
tucional o trecho do §4o do artigo 791-A que diz “Vencido o beneficiário da
justiça gratuita, desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro
processo, créditos capazes de suportar a despesa”.
Dessa forma, conforme entendimento majoritário deste E. TRT, o be‑
neficiário da gratuidade de justiça só será devedor dos honorários a que for

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Jurisprudência do TRT – 1ª Região

condenado judicialmente se, durante os dois anos seguintes ao trânsito


em julgado da decisão, perder a condição de insuficiência de recursos que
justificou a concessão de gratuidade.
NEGO PROVIMENTO

Conclusão do recurso

CONHEÇO do recurso da reclamada e, no mérito, DOU-LHE PARCIAL


PROVIMENTO, a fim de 1) limitar o reconhecimento do exercício da função
de professor em apenas 5h30 por dia, correspondentes a 6,5 horas-aula
diárias, cabendo o pagamento de diferenças salariais apenas quanto a es‑
tas, e 2) limitar a condenação ao pagamento de horas extras, segundo os
mesmos parâmetros já definidos pelo MM. Juízo de primeiro grau, aos 30
minutos diários que excederam o limite de 6 horas-aula estabelecido ante‑
riormente pela lei. Novo valor de custas fixado em R$ 8.000,00 (oito mil
reais), calculado sobre o valor ora arbitrado à condenação remanescente,
de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais).

ACÓRDÃO
ACORDAM os Desembargadores que compõem a Segunda Turma do
Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, CONHE‑
CER do recurso da reclamada e, no mérito, DAR-LHE PARCIAL PROVIMENTO,
a fim de 1) limitar o reconhecimento do exercício da função de professor em
apenas 5h30 por dia, correspondentes a 6,5 horas-aula diárias, cabendo
o pagamento de diferenças salariais apenas quanto a estas, e 2) limitar a
condenação ao pagamento de horas extras, segundo os mesmos parâme‑
tros já definidos pelo MM. Juízo de primeiro grau, aos 30 minutos diários
que excederam o limite de 6 horas-aula estabelecido anteriormente pela
lei. Novo valor de custas fixado em R$ 8.000,00 (oito mil reais), calculado
sobre o valor ora arbitrado à condenação remanescente, de R$ 400.000,00
(quatrocentos mil reais). A Exmª Desembargador Marise Costa Rodrigues
acompanhou a conclusão da i. Relatora, com ressalva de entendimento sobre
o cabimento da condenação em honorários ao beneficiário de gratuidade de
justiça e julgamento da ADI 5766.

CLAUDIA MARIA SÄMY PEREIRA DA SILVA


Desembargadora do Trabalho
Relatora

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JURISPRUDÊNCIA

JURISPRUDÊNCIA DO TRT – 3ª REGIÃO

HORAS IN ITINERE – NEGOCIAÇÃO COLETIVA

JUÍZO POSITIVO DE RETRATAÇÃO. TEMA 1046. PREVALÊNCIA


DO NEGOCIADO SOBRE O LEGISLADO. HORAS IN ITINERE. 1. O
Col. STF, em ação ajuizada com objetivo de analisar a validade
de norma coletiva de trabalho que limita ou restringe direito
trabalhista não assegurado constitucionalmente, no Recurso
Extraordinário com Agravo 1121633 (Tema 1046), definiu a
tese seguinte: “São constitucionais os acordos e as convenções
coletivos que, ao considerarem a adequação setorial negociada,
pactuam limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas,
independentemente da explicitação especificada de vantagens
compensatórias, desde que respeitados os direitos absoluta-
mente indisponíveis”. (STF. ARE 1121633. Rel. Min. Gilmar
Mendes. Ata de julgamento publicada em 14/06/2022). 2.
Registra esta Relatora o entendimento de que as normas que
transacionam a jornada de trabalho – incluídas as horas in iti-
nere – são indisponíveis, pois afetas à preservação da higidez
da saúde e segurança do trabalhador, corolário do direito à
dignidade humana e à vida, expressos nos artigo 1º e 5º, da
Constituição da República. 3. Contudo, à luz do precedente
fixado pelo Supremo Tribunal Federal e, considerando o seu
caráter erga omnes e de natureza vinculante, em juízo positivo
de retratação, fica excluída a condenação ao pagamento das
diferenças das horas in itinere e reflexos, visto que a forma de
pagamento da verba foi negociada pelos atores sociais.

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Jurisprudência do TRT – 3ª Região

(TRT 3ª R – 0011881-05.2016.5.03.0163 ROT – 4ª T – Rel.ª Des.ª Paula


Oliveira Cantelli – Disp. 12/09/2022)

RELATÓRIO
Vistos os autos eletrônicos.
Nos termos do acórdão (Id a631ab7), esta Eg. 4ª Turma deu provimento
parcial ao recurso da ré para: (I) declarar que, pelo período de 01/07/2014
a 23/02/2016, em que a exposição ao agente insalubre foi identificada,
não é devido o adicional de insalubridade pelos onze meses em que o creme
protetivo fornecido era suficiente, à razão de um mês a partir do fornecimento
de cada novo pote, como exposto no laudo pericial, conforme se apurar em
liquidação, de tal sorte que a condenação se restringe ao período remanes‑
cente, e não ao período integral de 01/07/2014 a 23/02/2016; (II) autorizar
a dedução de valores comprovadamente pagos a título de adicional de insa‑
lubridade em grau médio, conforme contracheques; e deu parcial provimento
ao recurso do autor para acrescer à condenação: (I) diferenças de horas in
itinere apenas pelos dias de jornada cumprida nos turnos das 16:00h às
01:00h e das 19:00h às 01:00h, como anotado nos cartões de ponto, con‑
siderando-se a jornada diária total de 75 (setenta e cinco) minutos, conforme
se apurar em liquidação, com adicional de 50% e reflexos em repouso sema‑
nal remunerado, aviso prévio, décimo terceiro salário, férias acrescidas de
um terço e FGTS acrescido da indenização de 40%, observando-se a Súmula
264 do TST quanto à base de cálculo; (II) pelo período de 16/05/2015 até
a dispensa do autor, horas extras excedentes à 6ªdiária ou à 36ª semanal,
como for mais favorável ao autor, com adicional convencional ou, na falta,
de 50%, segundo o divisor 180, além de diferenças de horas extras pagas
pela aplicação do divisor 180, com reflexos em repouso semanal remune‑
rado, aviso prévio, décimo terceiro salário, férias acrescidas de um terço e
FGTS acrescido da indenização de 40%, observando-se a Súmula 264 do TST
quanto à base de cálculo, autorizada a dedução de valores comprovadamente
pagos a idêntico título no período; (III) 15 (quinze) minutos anteriores e 20
(vinte) minutos posteriores à jornada registrada, com adicional convencional
ou, na falta, de 50%, com reflexos em repouso semanal remunerado, aviso
prévio, décimo terceiro salário, férias acrescidas de um terço e FGTS acres‑
cido da indenização de 40%, observando-se a Súmula 264 do TST quanto
à base de cálculo, com adoção do divisor 220 pelo período contratual até
15/05/2015 e do divisor 180 pelo período contratual de 16/05/2015 até
o fim do vínculo; (IV) diferenças de horas extras decorrentes da observância

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HORAS IN ITINERE – NEGOCIAÇÃO COLETIVA

da hora noturna reduzida, com reflexos em repouso semanal remunerado,


aviso prévio, décimo terceiro salário, férias acrescidas de um terço e FGTS
acrescido da indenização de 40%, observando-se a Súmula 264 do TST e
o divisor 180. O recurso do autor foi provido ainda para determinar a apli‑
cação do índice TRD para a atualização monetária até o dia 24/03/2015,
ainda sendo que, a partir de 25/03/2015, a correção deverá ser realizada
pelo índice IPCA-E.
Conforme o acórdão (Id 60cdf4e), os embargos de declaração opostos
pelas partes foram julgados parcialmente procedentes para esclarecer que
as diferenças de horas deferidas correspondem àquelas entre os 30 minutos
in itinere diários incontroversamente pagos, conforme contracheques, e os
75 minutos diários totais reconhecidos como percorridos e, para sanando
a omissão apontada, acrescer à condenação o pagamento de: (I) diferen‑
ças de adicional noturno decorrentes da observância do divisor 180, pelo
período de 16/05/2015 até a dispensa do autor, com reflexos em repouso
semanal remunerado, feriados, aviso prévio, décimo terceiro salário, férias
acrescidas de um terço e FGTS acrescido da indenização de 40%; (II) uma
hora extra por dia trabalhado, por infração ao intervalo intrajornada mínimo
de uma hora, por períodos contratuais de cumprimento de turno de seis ho‑
ras diárias sempre que a jornada total diária superar o limite de seis horas
em virtude das horas in itinere e dos minutos residuais reconhecidos nesta
ação, como se apurar em liquidação, segundo os mesmos critérios, e com
os mesmos reflexos, aplicáveis às demais horas extras deferidas no feito,
observando-se o divisor 180, mantido o deferimento de somente quinze
minutos extras por períodos em que não houver superação de seis horas
diárias na forma retro descrita.
O ré interpôs o recurso de revista (Id ae647b9), versando, dentre ou‑
tros temas, sobre a validade das normas coletivas de trabalho no tocante
às horas in itinere e às horas extras decorrentes do labor excedente da 8ª
diária em turnos ininterruptos de revezamento.
Em decisão proferida pelo Exmo. Desembargador Márcio Flávio Salem
Vidigal foi determinado o sobrestamento do feito até o julgamento a ser
proferido pelo STF no Recurso Extraordinário com Agravo 1.121.633/Goiás
sobre “Validade de norma coletiva de trabalho que limita ou restringe direito
trabalhista não assegurado constitucionalmente.” (Tema 1046)”. (Id f54c2fc).
Nos termos da decisão proferida pela Exma. 2ª Vice-Presidente deste
Regional, em razão da decisão do Supremo Tribunal Federal no julgamento
do Recurso Extraordinário com Agravo nº 1.121.633 – Tema 1.046 –, foi

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Jurisprudência do TRT – 3ª Região

determinada a remessa dos autos a esta 4ª Turma, “na forma e para os


fins do art. 13-A da Resolução 09/2015 do TRT da 3ª Região.” (Id 5fe9fd6).
É o relatório.

ADMISSIBILIDADE
Considerando as disposições do art. 15, §1º, II, da Resolução 09/15,
deste TRT, bem como o disposto na citada decisão de Id 5fe9fd6, admito
o incidente em questão.

MÉRITO
Conforme já relatado, em razão da decisão do Supremo Tribunal Fe‑
deral no julgamento do Recurso Extraordinário com Agravo nº 1.121.633 –
Tema 1.046 –, foi determinada a remessa dos autos a esta Eg. 4ª Turma
“na forma e para os fins do art. 13-A da Resolução 09/2015 do TRT da 3ª
Região.” (Id 5fe9fd6).
Dispõe o artigo 7º, da CR, os direitos dos trabalhadores urbanos, rurais
e domésticos, em rol que estabelece o patamar civilizatório mínimo e que
deve ser elastecido para a melhoria da condição social, conforme expresso
no caput da referida norma constitucional, que reconhece o caráter constitu‑
cional da progressividade e do não retrocesso dos direitos sociais.
Dentre os direitos trabalhistas constitucionais, extrai-se que a validade
dos acordos e as convenções coletivas é reconhecida pelo artigo 7º, XXVI,
cabendo-lhes estabelecer as cláusulas e condições de trabalho para obser‑
vância nos contratos, respeitados os direitos sociais erigidos também à
condição de absolutamente indisponíveis.
A negociação coletiva compõe o rol dos princípios fundamentais da
Organização Internacional do Trabalho e é objeto das Convenções Interna‑
cionais 98 e 154, cujas normas têm status de supralegalidade, segundo
entendimento adotado pelo Supremo Tribunal Federal e é extraído do artigo
5º, §2º, da CR. Nesse contexto, destaco o teor do artigo 4º, da Convenção
98, da OIT, in verbis:

“Art. 4 – Deverão ser tomadas, se necessário for, medidas


apropriadas às condições nacionais, para fomentar e promover
o pleno desenvolvimento e utilização dos meios de negociação
voluntária entre empregadores ou organizações de empregado‑
res e organizações de trabalhadores com o objetivo de regular,
por meio de convenções, os termos e condições de emprego.”

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HORAS IN ITINERE – NEGOCIAÇÃO COLETIVA

Considerando o estuário normativo retro, a Lei nº 13.467/17, chama‑


da de Reforma Trabalhista, estabeleceu a prevalência do negociado sobre
o legislado, relativizou o princípio da norma mais favorável ao trabalhador
e estabeleceu direitos trabalhistas que poderão ser objeto de negociação
coletiva, os quais constam do artigo 611-A, da CLT e, por outro lado, impôs
limites, estampados no artigo 611-B, da CLT.
O Col. STF, em ação ajuizada com objetivo de analisar a validade de
norma coletiva de trabalho que limita ou restringe direito trabalhista não
assegurado constitucionalmente, no Recurso Extraordinário com Agravo
1121633 (Tema 1046), definiu a tese seguinte:

“São constitucionais os acordos e as convenções coletivos


que, ao considerarem a adequação setorial negociada, pac-
tuam limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas,
independentemente da explicitação especificada de van-
tagens compensatórias, desde que respeitados os direitos
absolutamente indisponíveis”. (STF. ARE 1121633. Rel. Min.
Gilmar Mendes. Ata de julgamento publicada em 14/06/2022).
Original sem destaques.

No tocante às horas in itinere, o acórdão reconheceu o direito do autor


às diferenças de horas in itinere pelos dias de jornada cumprida nos turnos
das 16:00h às 01:00h e das 19:00h às 01:00h, como anotado nos cartões
de ponto, considerando-se o total de 75 (setenta e cinco) minutos, conforme
se apurar em liquidação, com adicional de 50% e reflexos em repouso sema‑
nal remunerado, aviso prévio, décimo terceiro salário, férias acrescidas de
um terço e FGTS acrescido da indenização de 40%, observando-se a Súmula
264 do TST quanto à base de cálculo (Id a631ab7 – Pág. 10).
Extrai-se do acórdão que as normas coletivas que disciplinaram sobre
as horas in itinere foram invalidadas, in verbis:

(...) o perito identificou jornadas em que haveria incompatibi‑


lidade entre os horários do transporte público e horários de
saída do autor, ocasiões em que a jornada in itinere seria de
75 minutos diários, mais que o dobro dos minutos pagos pela
ré, 30 minutos.

Nesse passo, é nula a cláusula coletiva que limita a remune-


ração de trajeto a 30 minutos diários pelos dias de percurso

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Jurisprudência do TRT – 3ª Região

não servido por transporte público, de 75 minutos diários, nos


termos do item II da Súmula 41 do TST, in verbis: “A limita‑
ção desse direito é válida, desde que a fixação do tempo de
transporte não seja inferior à metade daquele despendido nos
percursos de ida e volta para o trabalho”. (Id a631ab7 – Pág.
9 – destaques no original).

A cláusula coletiva de trabalho que disciplinou sobre as horas in itinere


consigna que há transporte público até a Portaria da Mina, sede ou filial da
ré, não sendo devidas as horas despendidas nesse trajeto, e que serão re‑
munerados 30 minutos diários gastos entre a Portaria da Mina e o local em
que registrado o ponto e vice-versa, a serem quitados com majoração de 50%
do valor da hora normal do empregado (cláusula 10ª – Id 875e1fc – Pág. 6).
Registra esta Relatora o entendimento de que as normas que transacio‑
nam a jornada de trabalho – incluídas as horas in itinere – são indisponíveis,
pois afetas à preservação da higidez da saúde e segurança do trabalhador,
corolário do direito à dignidade humana e à vida, expressos nos artigo 1º e
5º, da Constituição da República.
Contudo, à luz do precedente fixado pelo Supremo Tribunal Federal e,
considerando o seu caráter erga omnes e de natureza vinculante, impõe-se
a exclusão da condenação ao pagamento das diferenças das horas in itine-
re e reflexos, visto que a forma de pagamento da verba foi negociada pelos
atores sociais.
Destarte, com ressalva de entendimento desta Relatora e por disciplina
judiciária, em juízo positivo de retratação, excluo a condenação ao pagamento
das diferenças das horas in itinere e reflexos.
No tocante às horas extras decorrentes do elastecimento da jornada
em turnos ininterruptos de revezamento, consta do acórdão, in verbis:

Na hipótese dos autos, a jornada no turno diurno era de


08h30min, se considerados os 30 minutos in itinere pagos pela
ré no curso do contrato, ao passo que a jornada no turno noturno
era ligeiramente superior, em face da hora noturna reduzida.
Assim, é certo que o autor era submetido a jornada superior
a oito horas diárias em turnos ininterruptos de revezamento,
especialmente em virtude dos incontroversos 30 minutos in
itinere por jornada, independentemente de diferenças de horas
in itinere devidas ou de minutos residuais não registrados.

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HORAS IN ITINERE – NEGOCIAÇÃO COLETIVA

[..]

In casu, os ACT 2014/2015 ((Id. 875e1fc – Pág. 7 termo


aditivo de Id. 542f59a) e 2015/2016 (Id. 950a2b5 – Pág. 6 e
9) trazem, ainda que em cláusulas distintas, autorização para
jornada superior a oito horas em turnos ininterruptos de reveza‑
mento, ao estabelecerem a jornada trabalhada de oito horas e,
em acréscimo, reconhecerem a ocorrência de jornada in itinere,
sabendo-se que o tempo gasto em transporte fornecido pelo
empregador, nos termos da Súmula 90 do TST e do artigo 58,
§2º, da CLT (conforme redação vigente à época do contrato de
trabalho), é computado na jornada. Logo, é inválida a ampliação
da jornada, em turnos ininterruptos de revezamento, para mais
de oito horas diárias, conforme jurisprudência consolidada supra
transcrita. (Id a631ab7 – Pág. 13/14 – destaques no original).

O instrumento coletivo, ao estipular jornada excedente de 8 horas, no


sistema de turnos ininterruptos de revezamento, considerando os 30 minutos
in itinere também estabelecidos nas normas convencionais, rejeita a aplica-
ção do art. 7º, XIII, da CR/88, o qual estabelece os parâmetros máximos
de duração da carga horária diária e semanal, além de rejeitar a aplicação
do art. 7º, XIV, da CR/88 que disciplina sobre os turnos ininterruptos de
revezamento, enquadrando-se na parte final da tese fixada, pelo Supremo
Tribunal Federal, no Recurso Extraordinário com Agravo 1.121.633 (Tema
1046), em que definido:

“São constitucionais os acordos e as convenções coletivos


que, ao considerarem a adequação setorial negociada, pactuam
limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas, indepen‑
dentemente da explicitação especificada de vantagens com‑
pensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente
indisponíveis”. (STF. ARE 1121633. Rel. Min. Gilmar Mendes.
Ata de julgamento publicada em 14/06/2022). Original sem
destaques.

Trata-se de norma coletiva que afasta a aplicação de direito garantido


constitucionalmente, repise-se.
Ressalte-se que, no julgamento precedente de natureza vinculante e
erga omnes em questão, consignou-se que as supressões ou reduções de

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Jurisprudência do TRT – 3ª Região

direitos devem respeitar os direitos indisponíveis, assegurados pela Consti‑


tuição da República, pelas normas de tratados e convenções internacionais
incorporados ao direito brasileiro e pelas normas que, mesmo infraconstitu‑
cionais, asseguram garantias mínimas de cidadania.
Na direção ora exposta, à luz da natureza de direito indisponível e cons‑
titucional dos turnos ininterruptos de revezamento, cito o seguinte preceden‑
te, desta Eg. Turma: (TRT da 3.ª Região; PJe: 0010178-27.2014.5.03.0028
(ROT); Disponibilização: 02/08/2022; Órgão Julgador: Quarta Turma; Relator:
Convocado Marcio Toledo Gonçalves).
Assim, o autor faz jus ao pagamento das horas trabalhadas após à
6ªdiária ou à 36ª semanal, acrescidas dos reflexos.
Destarte, profiro juízo negativo de retratação, para manter incólume o
acórdão (Id a631ab7), quanto ao tema.

Conclusão do recurso

Nos termos dos fundamentos expendidos, admito o incidente e, em juízo


positivo de retratação, com ressalva de entendimento desta Relatora e por
disciplina judiciária, excluo a condenação ao pagamento das diferenças das
horas in itinere e reflexos; profiro juízo negativo de retratação, para manter
incólume o acórdão (Id a631ab7), quanto à condenação ao pagamento das
horas trabalhadas após à 6ªdiária ou à 36ª semanal, acrescidas dos reflexos.

Acórdão

FUNDAMENTOS PELOS QUAIS,


O Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, pela sua Quarta Turma,
na Sessão de Julgamento Ordinária Virtual, realizada de 30 de agosto a
1o. de setembro de 2022, por unanimidade, nos termos dos fundamentos
expendidos, admitiu o incidente e, em juízo positivo de retratação, com
ressalva de entendimento da eminente Desembargadora Relatora e por dis‑
ciplina judiciária, excluiu a condenação ao pagamento das diferenças das
horas in itinere e reflexos; sem divergência, proferiu juízo negativo de retra‑
tação, para manter incólume o acórdão (Id a631ab7), quanto à condenação
ao pagamento das horas trabalhadas após à 6ª diária ou à 36ª semanal,
acrescidas dos reflexos.

PAULA OLIVEIRA CANTELLI


Desembargadora Relatora

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HORAS IN ITINERE – NEGOCIAÇÃO COLETIVA

Tomaram parte neste julgamento as Exmas.: Desembargadora Paula


Oliveira Cantelli (Relatora), Desembargadora Maria Lúcia Cardoso de Maga‑
lhães e Desembargadora Denise Alves Horta (Presidente).
Representante do Ministério Público do Trabalho presente à sessão:
Dra. Maria Christina Dutra Fernandez.

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JURISPRUDÊNCIA

JURISPRUDÊNCIA DO TRT – 4ª REGIÃO

PRESCRIÇÃO DO DIREITO DE AÇÃO – DATA


DA CIÊNCIA OU CONSOLIDAÇÃO DA LESÃO

A Súmula 278 do STJ pacificou o entendimento de que o


termo inicial do prazo prescricional da pretensão indenizatória
por danos morais e/ou materiais decorrentes de acidente do
trabalho ou doença ocupacional a ele equiparada é a data
em que o trabalhador tem ciência inequívoca da lesão. No
caso, a ciência inequívoca da consolidação da lesão do re‑
clamante ocorreu com a alta do benefício previdenciário, em
2016. Assim, tendo decorrido mais de dois anos da ciência
da consolidação da lesão e da extinção do contrato, ocorrida
em 2017, e do ajuizamento da presente ação em 2021,
está configurada a prescrição dos pedidos indenizatórios
decorrentes da doença ocupacional. Provimento negado.

(TRT 4ª R – 0020910-28.2021.5.04.0664 ROT – 11ª T – Rel. Des. Manuel


Cid Jardon – Disp. 26/09/2022)

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


ACORDAM os Magistrados integrantes da 11ª Turma do Tribunal Regio‑
nal do Trabalho da 4ª Região: por unanimidade, NEGAR PROVIMENTO AO
RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE.

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Jurisprudência do TRT – 4ª Região

Intime-se.
Porto Alegre, 13 de setembro de 2022 (terça-feira).

RELATÓRIO

O reclamante recorre da sentença (ID. aaba13f) que extinguiu o pro‑


cesso, com resolução do mérito, pela ocorrência da prescrição, nos termos
do artigo 467, II, do CPC.
Pretende a reforma do julgado para afastar a prescrição e determinar a
remessa dos autos à origem para o exame meritório (ID. b6e1d1e).
Com contrarrazões (ID. 09ebeb3), os autos são remetidos a este Tri‑
bunal para julgamento.
Processo não sujeito à análise prévia do Ministério Público do Trabalho.
É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO

RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE (JAMIL FRANCISCO SCHEIT).

1. PRESCRIÇÃO.

O reclamante recorre da sentença que extinguiu o processo, com reso‑


lução do mérito, pela ocorrência da prescrição, nos termos do artigo 467,
II, do CPC.
Argumenta em síntese que: o julgador a quo reconheceu a prescrição
total da ação porque entendeu que as lesões decorrentes do acidente de
trabalho estão estabilizadas desde a alta previdenciária, que ocorreu em
30/04/2016; sua rescisão contratual ocorreu em 01/11/2017; a doença
que o acometeu ainda não foi consolidada, razão pela qual o marco inicial da
contagem do prazo prescricional a ser considerado não é a data em que teve
ciência das primeiras consequências da patologia ou quando teve os primeiros
sintomas, ou, ainda, quando afastado pelo gozo do benefício previdenciário;
a moléstia que o acometeu causa amortecimento dos dedos das mãos e
dor na coluna vertebral, necessitando realizar de cirurgia; analisando o lau‑
do médico, o perito respondeu que o acidente de trabalho lesionou a região
cervical e ombro direito; pelos dados apresentados, é visível que a doença
não se consolidou até o presente momento, pois necessita de intervenção
cirúrgica na lombar; o prazo prescricional somente poderia ser contado a
partir da ciência inequívoca da doença e não do momento da primeira alta

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PRESCRIÇÃO DO DIREITO DE AÇÃO – DATA DA CIÊNCIA OU CONSOLIDAÇÃO DA LESÃO

previdenciária; não se pode falar em ciência inequívoca da consolidação das


lesões em momento anterior à realização da perícia judicial, pelo simples
motivo de que não há prova de que estivessem consolidadas quando da res‑
cisão contratual; é impossível dizer que o seu direito está prescrito, uma vez
que a doença não se consolidou até o presente momento. Cita o Enunciado
nº 46, aprovado na 1ª Jornada de Direito Material e Processual na Justiça
do Trabalho e a Súmula 278 do STJ. Transcreve jurisprudência. Requer a
reforma da sentença para afastar a prescrição reconhecida e determinar a
remessa dos autos à origem para o exame meritório. Alternativamente, re‑
quer seja analisado o mérito da demanda, com a procedência dos pedidos
para condenar a reclamada ao pagamento de indenização por danos morais
em razão do acidente de trabalho e pela redução permanente da capacidade
laborativa, bem como por dano material, e honorários sucumbenciais.

Examina-se.
Na inicial, o reclamante diz que (ID. 8e2b4a6, fl. 2 e seguintes pdf):

[...] foi contratado em 20.02.2008, na função de carpinteiro,


permanecendo até 01/11/2017, quando foi demitido.
Destarte, em 27/02/2008 sofreu um acidente de trabalho, de
acordo com o CAT em anexo. Em decorrência do acidente de tra-
balho foi ajuizado o processo nº 0123700-53.2008.5.04.0662,
que tramitou na 2ª Vara do Trabalhado da Comarca de Passo
Fundo – RS.
No referido processo, conclui-se pela existência de nexo de
causalidade entre o acidente e as lesões verificadas à época
do acidente (trauma em ombro e coxa direitos), bem como em
relação ao agravamento temporário da patologia preexistente
(síndrome do manguito rotador), na condição de concausa,
atribuindo à reclamada a responsabilidade pelo evento danoso.

[...]
Assim, até o ano de 2017, a Reclamada pagou o pensiona-
mento. Ocorre que, depois do acidente, o Reclamante nunca
mais conseguiu exercer suas funções, percebendo benefício
por auxilio doença até os dias de hoje.
Cumpre referir que, além de limitação de movimentos no ombro
direito, o Reclamante iniciou com amortecimento dos dedos das
mãos e dor na coluna vertebral.

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Jurisprudência do TRT – 4ª Região

[...]
Assim, frente a incapacidade profissional desde o acidente de
trabalho, requer a condenação ao pagamento da indenização
por dano material desde o último pagamento da Reclamada no
ano de 2017, tendo em vista que está totalmente incapacitado
para o trabalho até os dias atuais.

Em sua defesa, a reclamada sustenta que “tendo a rescisão contratual


ocorrido no dia 01/11/2017, ocasião em que foram pagas todas as verbas
rescisórias, e a inicial reclamatória ajuizada no dia 03/12/2021, restou
implementado o lapso temporal de 02 anos, entre a rescisão do contrato e
o ajuizamento da ação, de modo que a prescrição bienal também se conso-
lida.” (ID. d334ca6 – Pág. 4, fl. 120 pdf).
Consta da sentença (ID. aaba13f, fls. 369 e 370 pdf):

No mérito
Da prescrição
O reclamado alega a existência de prescrição bienal e total.
O reclamante entende não aplicável a prescrição.
Tem razão o reclamado.

Conforme exposto no item anterior, o acórdão do processo nº


0123700-53.2008.5.04.0662 impôs como termo final do pa-
gamento dos lucros cessantes a alta previdenciária com relação
ao benefício de auxílio-doença acidentário ou a aposentadoria
por invalidez do autor. A partir de então, poderia surgir novo
direito de ação do reclamante relativamente à pretensão que diz
respeito ao pensionamento, uma vez que as lesões decorrentes
do acidente de trabalho estariam consolidadas.
Nesse sentido, o jurista Mauricio Godinho Delgado ensina que “a
prescrição somente inicia seu curso no instante em que nasce
a ação, em sentido material, para o titular do direito. Isto é,
antes de poder ele exigir do devedor seu direito, não há como
falar-se em início do lapso prescricional” (Curso de Direito do
Trabalho. 12. ed. São Paulo: LTr, 2013, p. 249, destacado no
original). Por força do mesmo preceito, o Superior Tribunal de
Justiça firmou o entendimento de que “o termo inicial do prazo
prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segu-
rado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral” (Súmula

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PRESCRIÇÃO DO DIREITO DE AÇÃO – DATA DA CIÊNCIA OU CONSOLIDAÇÃO DA LESÃO

278 do STJ). Assim, com relação a acidentes de trabalho ou


doenças ocupacionais, o termo inicial do prazo prescricional é,
regra geral, a data em que o trabalhador teve ciência inequí-
voca da extensão das suas lesões, o que, no presente caso,
repito, se deu com a alta previdenciária referente ao benefício
do auxílio-doença acidentário em 30-04-2016 (documento do
INSS de id. 1ca9185).
Os documentos do INSS de id. 23b4add mostram que, até
2016, os benefícios previdenciários tinham como causa o om-
bro direito lesionado no acidente de trabalho, ao passo que os
benefícios posteriores, de auxílio-doença comum, são calcados
em cervicalgia que não pode ser atribuída ao infortúnio.
Logo, as lesões decorrentes do acidente de trabalho estão esta-
bilizadas desde a sua alta previdenciária ainda em 30-04-2016.
Some-se a isso o fato de que a rescisão contratual ocorreu em
01-11-2017. Assim, nos termos do art. 7º, inc. XXIX da Cons-
tituição, decorreram mais de cinco anos da concretização da
lesão, bem como transcorreram mais de dois anos do término
do contrato de trabalho, pelo que a pretensão do reclamante
está extinta pela prescrição.
Extingo, pois, a reclamatória, com resolução de mérito, nos
termos do art. 487, II do CPC/2015.

A insurgência reside na pronúncia da prescrição total e a extinção do


processo com resolução de mérito.
As razões recursais do reclamante estão embasadas na alegação de
que ele não teve ciência inequívoca acerca da consolidação da lesão porque
não foi realizada perícia médica.
Quanto à prescrição em casos de acidente do trabalho ou doença a
ele equiparada, firmou-se entendimento de que se a lesão ocorreu antes
da edição da EC 45/2004 (31/12/2004), o prazo aplicável é o trienal, nos
termos do artigo 206, §3º, do Código Civil, contado a partir da vigência do
Código Civil de 2002 (11/01/2003) ou observada a regra de transição do
artigo 2.028 do mesmo Código.
No entanto, se ocorreu posteriormente – quando sedimentada a com‑
petência desta Especializada –, o prazo prescricional é de cinco anos, ob‑
servados dois anos após o término do contrato, como previsto no artigo 7º,
XXIX, da CF. Trata-se de entendimento pacificado no âmbito deste Regional,
como prevê a Súmula 91, a qual é aplicada por disciplina judiciária:

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Jurisprudência do TRT – 4ª Região

PRESCRIÇÃO. ACIDENTE DO TRABALHO OU DOENÇA A ELE


EQUIPARADA. Aplica-se o prazo prescricional previsto no artigo
7º, XXIX, da Constituição Federal à pretensão de pagamento de
indenização por danos patrimoniais e extrapatrimoniais decor-
rentes de acidente do trabalho ou de doença a ele equiparada
ocorridos após a edição da Emenda Constitucional nº 45/2004.

O prazo prescricional para o ajuizamento de ação de indenização por


danos morais e materiais decorrentes de lesão ocorrida em virtude de aci‑
dente do trabalho ou doença ocupacional começa a fluir a partir da data da
consolidação das lesões, que é quando a vítima fica ciente do dano e pode
aquilatar sua real extensão, vale dizer, quando pode veicular com segurança
sua pretensão reparatória. Nesse sentido, é a Súmula 278 do STJ.
Relevante, no aspecto, a doutrina de Sebastião Geraldo de Oliveira:

A encampação pelo Direito positivo brasileiro da teoria da actio


nata. Portanto, em regra, é com a alta do benefício previden-
ciário que se torna possível determinar, com certeza, eventual
percentual de redução da capacidade de trabalho decorrente
de acidente do trabalho. Antes disso, não era possível nem
mesmo saber se haveria a recuperação do trabalhador ou se
ocorreria incapacidade definitiva, conforme o texto do artigo 189
do Código Civil de 2002 (violado o direito, nasce para o titular
a pretensão...) foi a consagração do entendimento doutrinário
de que a fluência do prazo prescricional só tem início quando a
vítima fica ciente do dano e pode aquilatar sua real extensão,
ou seja, quando pode veicular com segurança sua pretensão
reparatória.
(OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de, “Indenizações por Acidente
do Trabalho ou Doença Ocupacional”, 4ª. Ed. rev., ampl. São
Paulo, LTR, 2008, p. 327)

Portanto, em regra, é com a alta do benefício previdenciário ou o diag‑


nóstico acerca da doença que acomete o trabalhador que se torna possível
determinar, com certeza, eventual percentual de redução da capacidade de
trabalho decorrente de acidente do trabalho ou doença ocupacional. Antes
disso, não era possível nem mesmo saber se haveria a recuperação do tra‑
balhador ou se ocorreria incapacidade definitiva.

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PRESCRIÇÃO DO DIREITO DE AÇÃO – DATA DA CIÊNCIA OU CONSOLIDAÇÃO DA LESÃO

No caso, o reclamante trabalhou para a reclamada de 20/02/2008


a 01/11/2017, e esteve afastado do trabalho, por duas vezes, recebendo
benefício previdenciário de auxílio doença por acidente do trabalho, sendo
que recebeu o último benefício no período de 15/04/2013 a 30/04/2016
(ID. 1ca9185, fl. 351 pdf).
Portanto, o prazo prescricional começou a fluir da data da alta previ‑
denciária, em 30/04/2016. Assim, considerando-se que a presente ação
foi ajuizada somente em 03/12/2021, ocorreu a prescrição quinquenal.
Tendo em vista a data da consolidação das lesões, em 30/04/2016,
o término do contrato de trabalho em 01/11/2017, e o ajuizamento da
ação em 03/12/2021, quando transcorridos mais de dois anos da resci‑
são contratual, está correta a sentença ao pronunciar a prescrição total das
pretensões do reclamante quanto às indenizações por doença ocupacional.
Nesse sentido, precedente desta Turma:

DOENÇA OCUPACIONAL. PRESCRIÇÃO. O termo inicial para a


contagem do prazo prescricional relativamente às pretensões
indenizatórias decorrentes da doença ocupacional equiparada ao
acidente do trabalho é a data em que o trabalhador teve ciência
inequívoca da incapacidade laboral, nos termos da Súmula 278
do STJ. Caso em que a data da alta do benefício previdenciário
deve ser considerada como o marco inicial da prescrição.
(TRT da 4ª Região, 11ª Turma, 0020578-94.2018.5.04.0202
ROT, em 05/02/2021, Desembargador Roger Ballejo Villarinho)

Em atenção às razões recursais, registra-se que não há prova de que


os benefícios previdenciários concedidos ao reclamante após a rescisão
contratual, deferidos na modalidade comum, tenham relação com o infortú‑
nio discutido nestes autos.
Mantém-se a extinção do processo com resolução do mérito já decla‑
rada na sentença, em vista da prescrição, com fundamento no artigo 487,
II, do CPC.
Portanto, não há falar em honorários de sucumbência em favor da ad‑
vogada do reclamante.
Nega-se provimento.

MANUEL CID JARDON – Relator

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Jurisprudência do TRT – 4ª Região

VOTOS
PARTICIPARAM DO JULGAMENTO:
DESEMBARGADOR MANUEL CID JARDON (RELATOR)
DESEMBARGADORA FLÁVIA LORENA PACHECO
DESEMBARGADORA VANIA MATTOS

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JURISPRUDÊNCIA

JURISPRUDÊNCIA DO TRT – 10ª REGIÃO

PENHORA – FGTS

Os valores depositados na conta vinculada do FGTS são


gravados com impenhorabilidade absoluta ex lege, não
permitindo mitigação. Inteligência do art. 2º, §2º, da Lei nº
8.036/90. Precedentes.

(TRT 10ª R – 0033200-04.2008.5.10.0005 AP – 3ª T – Rel. Des. Ricardo


Alencar Machado – Publ. 05/09/2022)

RELATÓRIO
A Juíza ELYSANGELA DE SOUZA CASTRO DICKEL, em exercício na MMª.
5ª Vara do Trabalho de Brasília-DF, por intermédio da decisão lançada no
ID 2a0c6e0, houve por bem negar o pedido de penhora do saldo da conta
vinculada de FGTS de titularidade da executada.
Inconformada, a exequente interpõe agravo de petição (ID. 45209e2).
Ausente a contraminuta.
Dispensada a remessa ao Ministério Público do Trabalho, na forma
regimental.
É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO
ADMISSIBILIDADE

Regular, conheço do agravo de petição.

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Jurisprudência do TRT – 10ª Região

MÉRITO

PENHORA. DEPÓSITOS DE FGTS

A magistrada condutora da execução assim fundamentou seu conven‑


cimento, na fração de interesse:

“Indefiro o pleito de penhora do saldo da conta vinculada de


FGTS de titularidade da executada, por se tratar de valor ab‑
solutamente impenhorável, nos termos do art. 2º, §2º, da Lei
8.036/1990.
Por outro lado, ante a inércia dos executados em integralizarem
a execução, defiro a penhora de 10% dos salários/proventos/
remunerações recebidos pela executada MARIA LUCIA DE ALMEI‑
DA (CPF 259.708.953-34), até o limite da execução, devendo
o percentual da penhora incidir sobre o valor líquido devido à
executada após as deduções legais.”

Em sua versão recursal, a exequente revisita o tema, forte no art.


833, IV e §2º, do CPC, na defesa da tese de que o crédito trabalhista detém
natureza alimentícia e que o FGTS ostenta natureza salarial, permitindo-se
a penhora do saldo depositado na conta vinculada ao FGTS – saldo no valor
de R$6.809,93 em agosto de 2020 – da executada, a Sra. Maria Lúcia de
Almeida.
Pois bem.
O preceito legal do CPC a seguir transcrito delineia o quadro normativo
essencial à apreciação da controvérsia:

“Art. 833. São impenhoráveis:


I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não
sujeitos à execução;
(...)
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as
remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os
pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor
e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os
honorários de profissional liberal, ressalvado o §2º;
(...)

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PENHORA – FGTS

§2º O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hi‑


pótese de penhora para pagamento de prestação alimentícia,
independentemente de sua origem, bem como às importân‑
cias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais,
devendo a constrição observar o disposto no art. 528, §8º, e
no art. 529, §3º.”

Por seu turno, a Lei nº 8.03890, que dispõe sobre o Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço, no seu art. 2º, assim preceitua:

“Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das contas vinculadas


a que se refere esta lei e outros recursos a ele incorporados,
devendo ser aplicados com atualização monetária e juros, de
modo a assegurar a cobertura de suas obrigações.
§1º Constituem recursos incorporados ao FGTS, nos termos
do caput deste artigo:
a) eventuais saldos apurados nos termos do art. 12, §4º;
b) dotações orçamentárias específicas;
c) resultados das aplicações dos recursos do FGTS;
d) multas, correção monetária e juros moratórios devidos;
e) demais receitas patrimoniais e financeiras.
§2º As contas vinculadas em nome dos trabalhadores são
absolutamente impenhoráveis.”

Como se vê, os valores depositados na conta vinculada do FGTS são


gravados com impenhorabilidade absoluta ex lege, não permitindo mitiga-
ção. Neste sentido, trilha a jurisprudência do col. TST:

“RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. REUNIÃO DE


EXECUÇÕES – DECISÃO QUE DETERMINA BLOQUEIO DE SALDO
DE FGTS – IMPOSSIBILIDADE – IMPENHORABILIDADE DE CONTAS
VINCULADAS DO FGTS. A determinação de bloqueio de valores
depositados em conta vinculada do FGTS, para o fim de quitar
execuções reunidas no âmbito do Tribunal Regional, ofende
direito líquido e certo da CEF, na condição de agente operadora
dos recursos do FGTS. Revela-se inadmissível a movimentação
das contas vinculadas do FGTS fora das hipóteses expressa‑
mente previstas na Lei nº 8.036/1990, a qual inclusive dispõe
sobre a impenhorabilidade dos referidos recursos, ainda que os

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Jurisprudência do TRT – 10ª Região

saldos das referidas contas não tenham sido individualizados,


com destinação a seus respectivos titulares. Recurso ordinário
conhecido e provido. (TST – RO: 6197820165060000, Relator:
Renato de Lacerda Paiva, Data de Julgamento: 12/05/2020,
Subseção II Especializada em Dissídios Individuais, Data de
Publicação: DEJT 15/05/2020)

Nesse cenário, não há provimento possível.


Conclusão do recurso

Conheço do agravo de petição e, no mérito, nego-lhe provimento, nos


termos da motivação esposada.
Custas na forma da lei.
É o voto.

Acórdão
Por tais fundamentos,
ACORDAM os Desembargadores da 3ª Turma do Tribunal Regional do
Trabalho da 10ª Região, em sessão turmária, aprovar o relatório, conhecer
do agravo de petição e, no mérito, negar-lhe provimento, tudo nos termos
do voto do Desembargador Relator.
Julgamento ocorrido à unanimidade de votos, estando presentes os
Desembargadores Ricardo Alencar Machado (Presidente), Pedro Luís Vicen‑
tin Foltran e Brasilino Santos Ramos; e o Juiz Convocado Antonio Umberto
de Souza Júnior.
Ausentes os Desembargadores José Leone Cordeiro Leite e Cilene Fer‑
reira Amaro Santos; ambos em gozo de férias regulamentares.
Representando o Ministério Público do Trabalho o Procurador do Traba‑
lho Carlos Eduardo Carvalho Brisolla.
Secretário da Turma, o Sr. Luiz Rodrigues Pereira da Veiga Damasceno.
Coordenadoria da 3ª Turma;
Brasília/DF, 31 de agosto de 2022 (data do julgamento).

Ricardo Alencar Machado


Desembargador Relator

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JURISPRUDÊNCIA

JURISPRUDÊNCIA DO TRT – 17ª REGIÃO

GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO DE 40% –


ART. 62, PARÁGRAFO ÚNICO, DA CLT

O art. 62 da CLT não estabelece a obrigatoriedade do em‑


pregador de pagar uma remuneração diferenciada ou uma
gratificação de função pelo exercício de cargo de confiança.
Com efeito, o que o art. 62, caput, inciso II e parágrafo úni‑
co, da CLT dispõe é que se o empregado exercer cargo de
confiança e o salário do cargo exercido, compreendendo a
gratificação de função, se houver, for igual ou superior ao valor
do salário efetivo acrescido de 40%, ele não será submetido
ao regime de controle de jornada. Assim, se o empregado não
recebe remuneração diferenciada ou gratificação de função
pelo exercício de cargo de confiança, ou, caso receba, o
valor é inferior ao valor do salário efetivo acrescido de 40%,
a consequência é que será aplicado o regime de controle de
jornada, assegurando-se ao trabalhador o direito de pedir as
horas extras trabalhadas além da jornada legal, mas não o
direito de pedir o pagamento de remuneração diferenciada
ou gratificação de função.

(TRT 17ª R – 0000557-51.2020.5.17.0013 ROT – 3ª T – Rel. Des. Valério


Soares Heringer – Ass. 05/08/2022)

1. RELATÓRIO
Trata-se de recurso ordinário interposto pela reclamante em face da sen‑
tença no Id. e593357, complementada pela decisão de embargos declaratórios

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Jurisprudência do TRT – 17ª Região

no Id. a48ae6a, proferida pelo Exmo. Juiz Roque Messias Calsoni, que julgou
improcedentes os pedidos, tendo deferido o benefício da justiça gratuita e
condenado a reclamante ao pagamento de honorários advocatícios de 5%
em favor da reclamada, determinando a suspensão de exigibilidade da verba
honorária, nos termos do art. 791-A, §4º, da CLT.
A reclamante interpôs o recurso ordinário no Id. 94af907, suscitando
preliminar de nulidade da sentença por negativa de prestação jurisdicional
e requerendo a reforma da sentença para julgar a total procedência dos
pedidos da exordial.
A primeira e a segunda reclamada apresentaram contrarrazões no Id.
fda233b.
É o relatório.

2. FUNDAMENTAÇÃO
2.1. CONHECIMENTO
Preenchidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso
ordinário da reclamante.

2.2. PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA POR NEGATIVA DE PRES-


TAÇÃO JURISDICIONAL LEVANTADA PELA RECLAMANTE

A recorrente suscita a preliminar de nulidade da sentença por negati‑


va de prestação jurisdicional alegando que a sentença recorrida apresenta
contradição e omissão e que opôs embargos de declaração no Id. c5390da
visando a sanar os vícios, mas o Juízo não enfrentou fundamentadamente
os pontos suscitados pela embargante, cerceando o direito de defesa da
recorrente e incorrendo em negativa de prestação jurisdicional, sendo viola‑
dos o art. 93, inciso IX, da CF, os arts. 11 e 489, inciso II, do CPC e o art.
832, “caput”, da CLT.
À análise.
A recorrente alega que a sentença apresenta contradição quanto ao
tópico da gratificação de confiança de 40% do art. 62, §único, da CLT.
Na inicial a recorrente alegou que era titular de poderes de gestão, mas
que apesar de ter exercido cargo de confiança, jamais recebeu gratificação
de função ou qualquer outra vantagem.
Ao contestarem a inicial, as reclamadas alegaram que a reclamante,
com a promoção e alteração de cargo para encarregada de RH, considerado
cargo de confiança, teve aumento salarial superior a 40%, restando atendido
o disposto no art. 62 na CLT.

134 R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 466, p. 133-142, outubro 2022

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GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO DE 40% – ART. 62, PARÁGRAFO ÚNICO, DA CLT

Ao se manifestar sobre a defesa das reclamadas, a reclamante alegou


que as empresas confessaram que a reclamante exercia cargo de confian‑
ça; que o pagamento da gratificação tem que ser específico e não embutido
ao salário; que não era verdade que ao ser promovida a sua remuneração
passou de R$1.600,00 para R$2.500,00 e que o pequeno reajuste para
R$2.100,00, ocorrido em 17/07/2013, refere-se apenas à promoção de
função de Analista para Encarregado.
O juízo de primeiro grau, julgou improcedente o pedido de gratificação
de confiança de 40%.
A reclamante opôs embargos de declaração no Id. c5390da, alegan‑
do que a sentença apresentava contradição quanto à matéria relacionada
com a gratificação de função e formulou as seguintes considerações: a)
estaria a reclamada (des)obrigada ao pagamento da gratificação, mesmo
tendo confessado o exercício do cargo de confiança e alegado ter havido
remuneração pelo exercício do cargo de confiança; b) o “aumento salarial”
comportou a gratificação de função, mesmo diante do disposto na Súmula
nº 91 do TST; c) se houver a reversão ao cargo anteriormente exercida, a
reclamada poderia ou não suprimir o suposto “aumento salarial” concedido
em razão da promoção.
A embargante também alegou que a delimitação fático-jurídica da lide
deriva do fato incontroverso do exercício do cargo de confiança e “por con‑
sectário lógico, o direito à percepção da gratificação de função, verifica-se
que a r. Sentença incorreu nos vícios apontados acima, pelo que deverão
ser sanados”.
O MM magistrado, em sentença de embargos de declaração, entendeu
não haver nenhuma contradição no julgado, registrando que todas as ques‑
tões foram claramente fundamentadas.
Analisando-se o teor da argumentação da inicial, da defesa e da ma‑
nifestação à defesa, bem como dos fundamentos da sentença recorrida e
da sentença de embargos de declaração, não se constata a existência da
contradição apontada pela recorrente.
O d. Juízo analisou o pedido de gratificação de função de 40% e enten‑
deu que a reclamante não tinha direito à percepção da verba, tendo exposto
na sentença, de modo expresso e coerente, as razões pelas quais julgou
improcedente o pedido. Portanto, não há ausência de fundamentação da
sentença quanto ao tema da gratificação de função.
Acrescente-se que nos embargos de declaração, a título de contradição,
a reclamante trouxe fundamentos que não haviam sido alegados na inicial e
na manifestação sobre a contestação, como a doutrina referente ao exercício

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Jurisprudência do TRT – 17ª Região

de cargo de confiança e a Súmula nº 91 do TST, além de trazer argumenta‑


ção sobre a reversão ao cargo anterior, quando na inicial não há pedido no
sentido de que seja mantido o pagamento da gratificação de função após
ter deixado de exercer cargo de confiança.
Constata-se que a recorrente, a título de contradição, pretendia reabrir
a análise da matéria concernente à gratificação de função, inclusive trazendo
argumentos novos, mas os embargos de declaração têm a finalidade de sanar
os vícios existentes nas decisões judiciais e não de veicular a irresignação
da parte com o entendimento adotado na decisão embargada.
A recorrente também aduz que a sentença foi omissa quanto ao tópi‑
co do grupo econômico. Alega que as três reclamadas são integrantes do
mesmo grupo econômico e pediu que fosse declarada a responsabilidade
solidária das reclamadas.
Tendo julgado improcedente o pedido de gratificação de confiança de
40% mais reflexos, o Juízo entendeu prejudicada a análise do pedido de
responsabilidade solidária das reclamadas.
Nos embargos de declaração a reclamante alegou existir omissão
quanto à existência de grupo econômico, tendo sustentado que restaria
comprovado nos autos que as reclamadas são integrantes de um mesmo
grupo econômico.
O magistrado salientou na sentença de embargos de declaração que
não havia a omissão alegada pela recorrente, pois a sentença havia se ma‑
nifestado sobre o esvaziamento da análise do pedido de responsabilização
solidária.
Com efeito, não há a omissão apontada pela reclamante quanto ao
pedido de responsabilidade solidária das reclamadas, pois o Juízo deixou
expresso na sentença recorrida o entendimento de que o indeferimento do
pedido de gratificação de função de 40% tornava prejudicado o exame do
pedido da responsabilização solidária decorrente de grupo econômico.
Ademais, o que se constata da fundamentação deduzida pela reclamante
quanto à alegada omissão nos embargos de declaração, é que a reclamante
buscava sustentar a tese de que estava comprovada a existência de grupo
econômico e não sanar omissão no julgado.
Assim, ao contrário do que alega a recorrente, a sentença se encon‑
tra fundamentada, nos termos do arts. 93, inciso IX, da CF, dos arts. 11 e
489, inciso II, do CPC e do art. 832 da CLT. Além disso, verifica-se que foi
assegurado aos litigantes o contraditório e a ampla defesa, com a solução
da lide nos limites do pedido, tendo a reclamante manejado embargos de

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GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO DE 40% – ART. 62, PARÁGRAFO ÚNICO, DA CLT

declaração em face da sentença recorrida, de forma que não se acolhe a


alegação da autora de que ocorreu cerceamento de defesa.
Desse modo, não houve negativa de prestação jurisdicional, afiguran‑
do-se patente que a insurreição da recorrente refere-se à questão de mérito
do julgamento prolatado, de modo que o recurso ordinário é a via adequada
para demonstrar seu inconformismo com a justiça da decisão.
Rejeito a preliminar.

2.3. MÉRITO
2.3.1. GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO DE 40%. ART. 62, §ÚNICO, DA CLT

A reclamante alegou na inicial que dispunha de poderes de gestão e de


mando, mas que apesar de ter exercido cargo de confiança jamais recebeu
gratificação de função ou qualquer outra vantagem, postulando a condena‑
ção solidária das reclamadas no pagamento da gratificação de confiança de
40% do art. 62, §único, da CLT.
A sentença consigna o seguinte entendimento quanto ao pedido de
pagamento da função de função:

“A reclamante pleiteia o pagamento de gratificação de função, no


importe de 40%, aduzindo que “apesar de ter exercido CARGO DE
CONFIANÇA na empresa, contudo, jamais recebeu GRATIFICAÇÃO
DE FUNÇÃO ou qualquer outra vantagem financeira por isso.
A reclamada não nega o exercício de função de confiança pela
obreira, mas informa que ela foi devidamente remunerada por
isso.
A gratificação é paga, em razão de condições especiais, como
tempo de serviço ou função de confiança. Essa parcela não
é prevista em lei, sendo normalmente assegurada por norma
coletiva ou mesmo em regulamento empresarial.
No presente caso, a autora não embasa seu pedido de gratifi‑
cação em qualquer norma coletiva ou empresarial, ao contrário,
apenas afirma que por exercer atividade de maior fidúcia, deve
receber o plus salarial de 40%.
Sem razão, contudo. É que se não há norma que obrigue a
empresa ao pagamento da gratificação, este não é devido,
inteligência do princípio da legalidade.
Ademais, como se observa da ficha de registro da trabalhadora
(ID 9804a73), quando passou a exercer a função de encarregada

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Jurisprudência do TRT – 17ª Região

de RH (17/07/2013),recebeu um aumento salarial de 31,25%


e, 14 dias após (01/08/2013), esse aumento passou a ser
de 56,25%.
Portanto, inverídica a afirmação autora de que “jamais rece‑
beu (GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO ou qualquer outra vantagem
financeira por isso”.
Diante do exposto, forçoso o indeferimento do pedido de letra
“a” da exordial.”

A reclamante recorre ordinariamente postulando a reforma da sentença


para deferir o pedido de gratificação de função de 40% mais reflexos.
À análise.
A reclamante alegou na inicial que foi admitida pelo segundo reclama‑
do em 20/05/2013 na função de analista de departamento pessoal, pas‑
sando em 17/07/2013 a exercer a função de encarregada de RH, sendo
dispensada em 17/04/2018, tendo exercido cargo de confiança e sendo
“o verdadeiro rosto da empresa”, sem jamais ter recebido gratificação de
função ou qualquer outra vantagem financeira.
Conforme o TRCT de Id. b9e350c, juntado pela recorrente, a reclamante
foi admitida em 20/05/2013. Conforme a cópia da CTPS no Id. 705835c,
juntada pela recorrente, consta nas anotações gerais o seguinte registro:
“Em 17/07/13 mudou para a função de Encarregada de RH, onde passou
a exercer o cargo de confiança”.
Na cópia da CTPS de Id. a80c66e, juntada pela recorrente, nas alte‑
rações de salário consta que a reclamante passou a receber: o salário de
R$1.600,00 em 01/06/2013 em decorrência de promoção; o salário de
R$2.100,00 em 17/07/2013 por motivo de alteração de cargo e; o salário
de R$2.500,00 em 01/08/2013 em decorrência de promoção.
Na ficha de registro da empregada no Id. 9804a73, juntada pelas
reclamadas, consta que a reclamante foi admitida em 20/05/2013 como
Analista de Departamento Pessoal com o salário de R$1.188,00. Também
consta que em 01/06/2013 a reclamante, embora no cargo de analista de
departamento pessoal, teria sido promovida, passando a receber o salário
de R$1.600,00; que em 17/07/2017 teria havido alteração do cargo para
encarregada de RH passando a receber o salário de R$2.100,00 e que em
01/08/2013, embora no cargo de encarregada de RH, teria sido promovida,
passando a receber o salário de R$2.500,00.
Pois bem.

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GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO DE 40% – ART. 62, PARÁGRAFO ÚNICO, DA CLT

Não há controvérsia quanto ao fato de que a reclamante exerceu cargo


de confiança, nos termos do art. 62, inciso II, da CLT.
A controvérsia consiste em saber se a reclamante tem direito à percep‑
ção de gratificação de função de 40% pelo exercício de cargo de confiança,
com base no art. 62, §único, da CLT.
O art. 62 e seus incisos e parágrafo único, têm a seguinte redação:

“Art. 62 – Não são abrangidos pelo regime previsto neste


capítulo:
I - os empregados que exercem atividade externa incompatível
com a fixação de horário de trabalho, devendo tal condição
ser anotada na Carteira de Trabalho e Previdência Social e no
registro de empregados;
II - os gerentes, assim considerados os exercentes de cargos
de gestão, aos quais se equiparam, para efeito do disposto
neste artigo, os diretores e chefes de departamento ou filial.
III - os empregados em regime de teletrabalho.
Parágrafo único – O regime previsto neste capítulo será aplicável
aos empregados mencionados no inciso II deste artigo, quando
o salário do cargo de confiança, compreendendo a gratificação
de função, se houver, for inferior ao valor do respectivo salário
efetivo acrescido de 40% (quarenta por cento).”

Analisando o teor do art. 62 da CLT, constata-se que a norma não es‑


tabelece a obrigatoriedade do empregador pagar remuneração diferenciada
ou gratificação de função pelo exercício de cargo de confiança.
Com efeito, o que o art. 62, caput, inciso II e §único estabelece é que
se o empregado exercer cargo de confiança e o salário do cargo exercido,
compreendendo a gratificação de função, se houver, for igual ou superior ao
valor do respectivo salário efetivo acrescido de 40%, ele não será submeti‑
do ao regime de controle de jornada previsto no capítulo da CLT referente à
duração do trabalho.
No caso do empregado exercer cargo de confiança e não receber remu‑
neração diferenciada ou esta for inferior ao valor do salário efetivo acrescido
de 40%, a consequência é que será aplicado o regime de controle de jorna‑
da, assegurando-se ao empregado o direito de reivindicar o pagamento de
horas extras trabalhadas além da jornada legal, mas não o direito de exigir
o pagamento de remuneração diferenciada ou que a remuneração do cargo

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Jurisprudência do TRT – 17ª Região

de confiança seja ampliada até atingir o montante do valor do salário efetivo


acrescido de 40%.
Ressalte-se que o art. 62, §único, da CLT utiliza a expressão “se hou‑
ver” ao se referir à gratificação de função, deixando claro que o pagamento
da gratificação de função ao exercente de cargo de confiança não é uma
imposição legal. Portanto, o art. 62 não assegura à recorrente o direito à
percepção de uma remuneração diferenciada ou de uma gratificação de fun‑
ção pelo menos igual a 40% do salário efetivo.
Ademais, como salientado na sentença, o pedido de gratificação de
função não é fundamentado em norma coletiva ou em norma empresarial.
Logo, o direito postulado pela reclamante carece de base legal, normativa
ou regulamentar empresarial.
Cabe acentuar que a recorrente sustenta que os reajustes salariais re‑
cebidos referem-se única e exclusivamente às evoluções de função, não se
tratando de gratificação de função. O que se afere da ficha de registro e das
anotações na CTPS da reclamante é que ela foi admitida em 20/05/2013
como analista de departamento pessoal com o salário de R$1.188,00 e
que em 01/08/2013, como encarregada de RH, passou a receber o salário
de R$2.500,00. Desse modo, em menos de três meses a remuneração
da reclamante foi alterada em mais de 100%, sendo pouco convincente a
alegação de que este expressivo acréscimo em tão curto espaço de tempo
decorreria de evolução salarial e não do exercício de função de confiança.
Assinale-se que ao se manifestar sobre a contestação, a reclamante
alegou que o pagamento da gratificação de função deve ser específico e não
integrado no salário. Desse modo, a reclamante sustentou que o pagamento
da remuneração pelo exercício do cargo de confiança pelas reclamadas, sem
a indicação em separado da gratificação de função, representaria salário
complessivo.
No entanto, como enfatizado acima, o art. 62, §único, da CLT utiliza
a expressão “se houver” ao se referir à gratificação de função, deixando
claro que o pagamento da gratificação de função ao exercente de cargo de
confiança não é obrigatório. Por conseguinte, a remuneração do cargo de
confiança, acrescido da gratificação de função, se existente, não necessa‑
riamente deve se apresentar em rubricas distintas.
Neste sentido, a seguinte decisão do C. TST:

“(...) 2. HORAS EXTRAORDINÁRIAS. CARGO DE GESTÃO. ARTIGO


62, II E PARÁGRAFO ÚNICO, DA CLT. CRITÉRIO OBJETIVO. RE‑
MUNERAÇÃO DIFERENCIADA. NÃO CONHECIMENTO. A Subseção

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GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO DE 40% – ART. 62, PARÁGRAFO ÚNICO, DA CLT

I da Seção Especializada em Dissídios Individuais desta Corte


Superior (SBDI-1) firmou entendimento de que a configuração
do cargo de confiança previsto no artigo 62, II, da CLT depende
apenas do acréscimo de 40% sobre o salário efetivo do ocupante
do cargo, sendo desnecessário que tal valor seja pago em rubrica
separada. Em outras palavras, basta que o salário do cargo de
confiança ou este somado à gratificação de função, caso exista,
seja maior do que o salário efetivo em 40%. Precedentes. Na
hipótese, a Corte Regional entendeu não ser necessário, para
o enquadramento na exceção em análise, que o reclamante
receba gratificação de função em rubrica própria, já que o pa‑
drão salarial mais elevado pode estar representado no próprio
salário, atendendo o requisito legal (parágrafo único do artigo
62 da CLT), sem que isso caracterize salário complessivo. De
sorte que o v. acórdão regional encontra-se em conformidade
com a iterativa jurisprudência deste Tribunal Superior. Emergem,
assim, em óbice ao conhecimento do recurso de revista, o en‑
tendimento perfilhado na Súmula nº 333 e o disposto no artigo
896, §7º, da CLT. Recurso de revista de que não se conhece”
(RR-20042-25.2014.5.04.0008, 4ª Turma, Relator Ministro
Guilherme Augusto Caputo Bastos, DEJT 14/09/2018).”

A recorrente também questiona se no caso de eventual supressão


futura do cargo de confiança poderia a empresa reduzir seu salário ante a
expressa vedação legal de redução salarial. O mencionado questionamento
parece referir-se aos casos de reversão do empregado ao cargo efetivo, mas
a causa de pedir e o pedido deduzido na inicial se referem ao pedido do pa‑
gamento da gratificação de função pelo exercício da função de confiança e
não a pedido de manutenção de gratificação de função após a reversão da
reclamante ao cargo efetivo. Ainda que se tratasse de hipótese de reversão
ao cargo efetivo, cumpre observar que a dispensa da reclamante, conforme
TRCT de Id. b9e350c, ocorreu em 17/04/2018, quando já vigorava a nova
redação do art. 468 da CLT trazida pela Reforma Trabalhista, que incluiu o
§2º, o qual veda a incorporação da gratificação de função após a reversão
ao cargo efetivo.
Desse modo, sob qualquer ângulo que se examine a questão, entendo
que a reclamante não tem direito à gratificação de função de 40% postulada
na inicial, nem aos seus reflexos em outras verbas trabalhistas.

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Jurisprudência do TRT – 17ª Região

Tendo em vista que não foi deferido o pedido da recorrente relativo à


gratificação de função de 40% mais reflexos, mostra-se prejudicada a análi‑
se do tópico recursal relativo à responsabilização solidária das reclamadas.
Nego provimento.

3. ACÓRDÃO

ACORDAM os Magistrados da 3ª Turma do Tribunal Regional do Traba‑


lho da 17ª Região, na 9ª Sessão Ordinária Virtual de Julgamento Eletrônico,
com início em 25/7, às 13h30 e término em 28/7/2022, às 13h30, sob
a Presidência da Exma. Desembargadora Ana Paula Tauceda Branco, com a
participação dos Exmos. Desembargadores Sônia das Dores Dionísio Men‑
des e Valério Soares Heringer, e presente o Ministério Público do Trabalho,
Procurador Estanislau Tallon Bozi, por unanimidade, conhecer do recurso
ordinário da reclamante; rejeitar a preliminar de nulidade da sentença por
negativa de prestação jurisdicional levantada pela reclamante, e, no mérito,
negar provimento ao recurso ordinário.

VALÉRIO SOARES HERINGER


Relator

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

TST, TRTS 1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 9ª, 12ª, 18ª R

ACOMPANHAMENTO DA DILIGÊNCIA PELO PATRONO DO EXEQUENTE –


IMPOSSIBILIDADE
466/01 – RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PENHORA
DE BENS QUE GUARNECEM A RESIDÊNCIA DO EXECUTADO. ACOMPANHA‑
MENTO DA DILIGÊNCIA PELO PATRONO DO EXEQUENTE. IMPOSSIBILIDADE.
VIOLAÇÃO DO DIREITO À INTIMIDADE E À INVIOLABILIDADE DE DOMICÍLIO.
Não há qualquer disposição legal no sentido de que o advogado tem direito
a acompanhar diligências realizadas na residência do executado, mormente
considerando os direitos à intimidade e à inviolabilidade do domicílio previs‑
tos no art. 5º, X e XI, da Constituição Federal e o fato de que a penhora é
realizada por oficial de justiça, dotado de fé pública, o qual tem o dever de
reportar ao juízo toda e qualquer irregularidade observada durante a realiza‑
ção das constrições. Recurso ordinário a que se nega provimento.
(TST – ROT-11012-70.2021.5.03.0000 – SBDI 2 – Rel. Min. Amaury Rodri-
gues Pinto Junior – Publ. 19/08/2022)

ADICIONAL NOTURNO – NORMA COLETIVA


466/02 – NORMA COLETIVA. VALIDADE. TEMA 1046. ADICIONAL NOTURNO
PELA PRORROGAÇÃO DO TRABALHO NOTURNO APÓS ÀS 5H DA MANHÃ.
As normas coletivas da categoria estabelecem que o adicional noturno dos
vigilantes será de 40%, sendo fixado em contrapartida à hora noturna de
60 minutos e a limitação do pagamento do adicional às horas efetivamente
laboradas entre 22h e 5h. A força cogente das normas coletivas foi consa‑
grada pelo artigo 7º, inciso XXVI, da Constituição Federal de 1988, diploma
normativo este que autorizou expressamente a negociação coletiva, admi‑
tindo flexibilização das normas alusivas às condições de trabalho. Ademais,
o Plenário do Supremo Tribunal Federal, proferiu decisão quanto ao Tema
1046 – Validade de norma coletiva de trabalho que limita ou restringe direito
trabalhista não assegurado constitucionalmente, fixando a seguinte tese:

R. Fórum Just. do Trabalho | Belo Horizonte, ano 39, n. 463, p. 143-172, julho 2022 143

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

“São constitucionais os acordos e as convenções coletivos que, ao conside‑


rarem a adequação setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos
de direitos trabalhistas, independentemente da explicitação especificada
de vantagens compensatórias, desde que respeitados os direitos absolu‑
tamente indisponíveis”. A decisão em apreço é de aplicabilidade imediata
aos processos que tenham a ver com o tema, todas as vezes em que este
estiver em debate. Sua eficácia, também oportuno gizar, é erga omnes e
seu efeito decisório, vinculante. Assim, o reclamante não tem direito ao
adicional noturno sobre as horas laboradas além das 05 horas da manhã.
(TRT 3ª R – 0010419-12.2021.5.03.0042 ROT – 3ª T – Rel. Des. Marcelo
Moura Ferreira – Disp. 06/09/2022)

ADOÇÃO SIMULTÂNEA DOS REGIMES DE COMPENSAÇÃO SEMANAL E


BANCO DE HORAS – NULIDADE
466/03 – REGIME DE COMPENSAÇÃO SEMANAL. BANCO DE HORAS. ADOÇÃO
SIMULTÂNEA. NULIDADE. É incompatível a adoção simultânea dos regimes
de compensação semanal e banco de horas. Com efeito, a jornada de tra‑
balho, no regime de compensação semanal, é distribuída em 5 (cinco) dias
da semana para que o empregado seja dispensado do labor no sexto dia de
trabalho, o que se mostra benéfico. De forma que, o sistema de compensa‑
ção semanal, praticado de forma legal e organizada, permite ao empregado
a organização de sua vida pessoal. Contudo, a inclusão do banco de horas
no cumprimento da jornada de trabalho afasta a vantagem do regime de
compensação semanal, justamente porque a essência de regime de com‑
pensação pelo banco de horas é a existência de horas extras sem qualquer
previsão, o que se mostra desfavorável ao empregado.
(TRT 4ª R – 0021168-48.2021.5.04.0402 ROT – 6ª T – Rel.ª Des.ª Simone
Maria Nunes – Disp. 08/09/2022)

ADVOGADO EMPREGADO – HORA EXTRA


466/04 – ADVOGADO CONTRATADO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 8.906/94 E
APÓS O ANO DE 2000. HORAS EXTRAS. DEDICAÇÃO EXCLUSIVA. EXIGÊNCIA
DE CLÁUSULA EXPRESSA. Empregado contratado como advogado, após a
edição da Lei nº 8.906/94 e em data posterior à alteração imprimida no art.
12 do Regulamento Geral do Estatuto da OAB, tem direito às horas labora‑
das após a quarta diária e vinte semanais, como extras, salvo acordo ou
convenção coletiva ou em caso de dedicação exclusiva, que deverá constar
de cláusula expressa em seu contrato de trabalho. Ausente no contrato cele‑
brado cláusula expressa de dedicação exclusiva, são devidas ao empregado/

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

advogado as horas extraordinárias laboradas após a quarta diária e vinte


semanais. Precedentes da SBDI-1 do TST e do Pleno deste Tribunal Regional.
(TRT 3ª R – 0010961-88.2020.5.03.0131 ROT – 8ª T – Rel. Des. Sércio da
Silva Peçanha – Disp. 13/09/2022)

ALTERAÇÕES PROMOVIDAS PELA LEI Nº 13.467/2017 – CONTRATOS DE


TRABALHO CELEBRADOS ANTES DE SUA VIGÊNCIA
466/05 – ALTERAÇÕES DE DIREITO MATERIAL PROMOVIDAS PELA LEI Nº
13.467/2017. CONTRATOS DE TRABALHO CELEBRADOS ANTES DE SUA VI‑
GÊNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. Não se aplicam as alterações de direito material
promovidas pela Lei nº 13.467/2017 aos contratos de trabalho celebrados
antes de sua vigência, os quais devem permanecer protegidos de modifica‑
ções posteriores, ainda que legislativas, que extingam direitos já incorporados
ao patrimônio jurídico dos empregados, sob pena de violação ao princípio da
irretroatividade da lei (art. 6º da LINDB), como também ao princípio do direito
adquirido (art. 5º, inciso XXXVI, CF/88). Corrobora tal entendimento a regra
prevista no caput do art. 468 da CLT, que veda a ocorrência de alterações
contratuais lesivas aos trabalhadores, assim como o disposto no item III da
Súmula nº 191 do TST.
(TRT 4ª R – 0021213-61.2021.5.04.0205 ROT – 4ª T – Rel. Des. André
Reverbel Fernandes – Disp. 21/09/2022)

ASSÉDIO MORAL – REQUISITOS


466/06 – ASSÉDIO MORAL. REQUISITOS PARA CONFIGURAÇÃO. INDENIZAÇÃO.
Para haver assédio moral, devem ser comprovadas situações não circunstan‑
ciais humilhantes, antiéticas e constrangedoras, exsurgindo como uma clara
forma de pressão para que o empregado venha a aceitar as imposições do
empregador, configurando-se uma deliberada e calculada degradação das
condições de trabalho. Configuradas tais circunstâncias laborais, procede
o dever de indenizar. Nego provimento ao recurso da 3ª Ré, no particular.
(TRT 18ª R – ROT-0010999-45.2021.5.18.0003 – 1ª T – Rel. Des. Eugênio
José Cesário Rosa – Publ. 02/09/2022)

AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO – INTEGRAÇÃO SALARIAL


466/07 – AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO. NATUREZA JURÍDICA. EMPRESA INSCRITA
NO PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR – PAT. 1. O ordena‑
mento pátrio não obriga o empregador a fornecer alimentação, seja “in na‑
tura”, seja através de vales ou tíquetes refeição, alimentação ou qualquer
outra denominação. 2. Contudo, o sistema pátrio facilita a concessão do

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

benefício, através da Lei 6.321/1976, que criou o Plano de Alimentação do


Trabalhador – PAT, autorizando as empresas a deduzirem do lucro tributável
as despesas realizadas com o programa, desde que previamente aprovado
pelo Ministério do Trabalho. 3. Na forma do art. 3º do referido diploma legal,
a alimentação recebida pelo empregado, por meio do PAT, não integra a re‑
muneração obreira, para qualquer efeito. 4. Desta forma, não cabe integra‑
ção do auxílio-alimentação à remuneração do trabalhador quando percebido
o benefício por meio do PAT. 5. Entendimento pacificado pela OJ 133 da
SBDI-1 do c. TST, “in verbis”: “OJ-SDI1-133 AJUDA ALIMENTAÇÃO. PAT. LEI
Nº 6.321/76. NÃO INTEGRAÇÃO AO SALÁRIO (inserida em 27.11.1998). A
ajuda alimentação fornecida por empresa participante do programa de ali‑
mentação ao trabalhador, instituído pela Lei nº 6.321/76, não tem caráter
salarial. Portanto, não integra o salário para nenhum efeito legal.”
(TRT 3ª R – 0010067-98.2021.5.03.0092 ROT – 8ª T – Rel. Juiz Marcio
Toledo Gonçalves – Disp. 13/09/2022)

AVISO-PRÉVIO PROPORCIONAL – INDENIZAÇÃO


466/08 – AVISO PRÉVIO PROPORCIONAL TRABALHADO. A lei nº 12.506/2011
não estabeleceu a obrigação de que o empregador concedesse, de forma
indenizada, o período excedente a trinta dias do aviso. Em momento algum
ela diferencia os casos de aviso prévio trabalhado ou indenizado, tampouco
cria um sistema de aviso prévio misto, ou seja, trinta dias trabalhado e o
restante indenizado. Desse modo, não há qualquer previsão legal que limite
o aviso prévio trabalhado em 30 dias, tampouco que obrigue a empresa a in‑
denizar os dias que ultrapassarem o trintídio. Cabe ao empregador dispensar
o trabalho do empregado durante o aviso prévio, se assim achar pertinente,
pagando o período correspondente. Assim, a indenização do aviso prévio
trata-se de liberalidade do empregador e não de direito do empregado, o
qual, se assim definir a empresa, deverá permanecer trabalhando nos dias
do aviso. Referida situação não se alterou com a Lei 12.506/2011, a qual
apenas ampliou o aviso prévio concedido ao empregado, concedendo-lhe
mais tempo para buscar por novo emprego.
(TRT 3ª R – 0010904-66.2021.5.03.0024 ROT – 10ª T – Rel. Des. Ricardo
Marcelo Silva – Disp. 09/09/2022)

BANCÁRIO – HORA EXTRA – DIVISOR


466/09 – INCIDENTE DE RECURSO REPETITIVO. REAPRECIAÇÃO DO
FEITO EM SEDE DE JUÍZO DE RETRATAÇÃO. O Colendo TST, ao julgar
o incidente de recurso repetitivo TST-RR-849-83-2013-5-03-0138 e

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

TST-RR-144700-24-2013-5-13-0003, firmou o entendimento de que, em


relação à categoria dos bancários, o divisor de horas extras a ser aplicado
é o 180/220 (“Tema Repetitivo nº 0002”). À vista do que dispõe o art.
896-C, §11, inciso II, da CLT c/c art. 15, §1º, inciso II, da Resolução GP nº
9, do TRT da 3ª Região, incumbe a esta Turma Julgadora, em sede juízo de
retratação, reapreciar a questão sub judice envolvendo o tema “BANCÁRIO.
HORAS EXTRAS DIVISOR”, promovendo a adequação do julgado ao novel
entendimento firmado pelo Tribunal Superior do Trabalho por meio do “Tema
Repetitivo nº 0002”.
(TRT 3ª R – 0000100-30.2013.5.03.0053 RemNecRO – 8ª T – Rel. Des.
Sércio da Silva Peçanha – Disp. 09/09/2022)

BANCO DE HORAS – VALIDADE


466/10 – BANCO DE HORAS. REQUISITOS PARA VALIDADE. CONTRATO DE
TRABALHO FIRMADO ANTERIORMENTE À REFORMA TRABALHISTA. A valida‑
de da implementação do regime de compensação por banco de horas, em
se tratando de contrato de trabalho firmado anteriormente à reforma tra‑
balhista, está condicionada à sua institucionalização mediante negociação
coletiva (Súmula 85, V, do TST), bem como à observância do limite de 10
horas diárias de labor (art. 59, §2º, da CLT). A possibilidade de pactuação
do sistema no plano individual, a teor do atual §5º, do aludido texto legal,
tem aplicação somente aos pactos celebrados em data posterior à vigência
da Lei nº 13.467/2017, por força do disposto no caput do art. 7º da Cons‑
tituição da República c/c art. 468, da CLT.
(TRT 3ª R – 0010096-54.2022.5.03.0015 ROT – 7ª T – Rel. Des. Vicente
de Paula M. Júnior – Disp. 15/09/2022)

CANCELAMENTO DA AUDIÊNCIA INAUGURAL – PANDEMIA DE COVID-19


– PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO – REVELIA
466/11 – CANCELAMENTO DA AUDIÊNCIA INAUGURAL DECORRENTE DA
PANDEMIA DE COVID-19. CONVERSÃO DO FEITO EM PROCESSO JUDICIAL
ELETRÔNICO. AUSÊNCIA DE CONTESTAÇÃO NO PRAZO DEFINIDO PELO JUÍZO.
REVELIA. CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO CARACTERIZADO. Discute-se, no
caso, se a ausência de contestação pela reclamada no prazo definido pelo
Juízo de origem, em decorrência do cancelamento da audiência inaugural, por
ocasião da pandemia de COVID-19, justificaria a declaração de revelia. No
caso, após o cancelamento da audiência inaugural, após duas remarcações,
diante da necessidade de cumprimento de regras sanitárias, determinou-se a
conversão do feito em processo judicial eletrônico – PJE, facultando às partes

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

a realização da diligência por meio de videoconferência e a fixação de prazo


para apresentação de contestação, com fundamento no Ato nº 11/GCCT, de
23/4/2020, da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho. Nesse contexto,
tendo em vista que a reclamada, mesmo advertida a respeito da aplicação do
artigo 335 do CPC/2015 e do artigo 6º da Norma Editada pela Corregedoria
da Justiça do Trabalho, manteve-se inerte quanto ao comando judicial, não
se constata o alegado cerceamento de defesa, porquanto, além de ter sido
concedida à parte reclamada oportunidade para exercer o contraditório, as
razões sanitárias que justificaram o cancelamento da audiência inaugural,
previstas na legislação apontada, revelam-se inteiramente proporcionais e
em adequadas ao propósito de minimizar os danos decorrentes do estado
de calamidade pública instalado no País. Desse modo, o reconhecimento
de revelia e a respectiva penalidade de confissão imposta à reclamada não
atentam contra a literalidade do inciso LV do artigo 5º da Constituição Re‑
pública. Precedente. Recurso de revista não conhecido.
(TST – RR-1001558-04.2019.5.02.0467 – 3ª T – Rel. Min. José Roberto
Freire Pimenta – Publ. 19/08/2022)

CITAÇÃO
466/12 – EMPRESA EM LOCAL INCERTO E NÃO SABIDO. CITAÇÃO POR
EDITAL. POSSIBILIDADE. Considerando que houve tentativas frustradas de
localização da 1ª reclamada, SOS Assessoria e Serviços Eirelli, nos ende‑
reços fornecidos pelo autor, endereços estes que, ressalte-se, constam
dos registros oficiais da parte perante a Junta Comercial (ID dad85ba) e a
Receita Federal do Brasil (ID 71c4787), a citação por edital é mecanismo
plenamente cabível nos autos, nos termos do artigo 841, §1º, da CLT. Re‑
curso a que se dá provimento.
(TRT 2ª R – 1000675-74.2021.5.02.0374 RO – 2ª T – Rel.ª Des.ª Sonia
Maria Forster do Amaral – Publ. 02/09/2022)

COMPARECIMENTO DO PREPOSTO COM ATRASO À AUDIÊNCIA – PENA


DE CONFISSÃO
466/13 – I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA DA
RECLAMADA. NULIDADE POR CERCEAMENTO DE DEFESA. APLICAÇÃO DA
PENA DE CONFISSÃO. COMPARECIMENTO DO PREPOSTO COM ATRASO À
AUDIÊNCIA. PREQUESTIONAMENTO. TRANSCENDÊNCIA RECONHECIDA. De‑
monstrada possível violação do art. 5º, LV, da Constituição Federal, impõe-se
o provimento do agravo de instrumento para determinar o processamento do
recurso de revista. Agravo de instrumento provido. II - RECURSO DE REVISTA

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

DA RECLAMADA. NULIDADE POR CERCEAMENTO DE DEFESA. APLICAÇÃO


DA PENA DE CONFISSÃO. COMPARECIMENTO DO PREPOSTO COM ATRASO
À AUDIÊNCIA. Conquanto a Orientação Jurisprudencial 245 da SBDI-1 não
admita qualquer tempo de tolerância para o comparecimento à audiência,
atualmente esta Corte tem relativizado esse posicionamento, quando o atra‑
so é ínfimo e não tenha sido realizado qualquer ato processual que possa
configurar a preclusão do instante processual para o oferecimento da res‑
posta. No caso, extrai-se dos autos que o preposto da reclamada adentrou
à sala de audiência cinco minutos após o seu início, bem como que a fase
postulatória ainda não havia sido superada pelo início da fase instrutória,
mormente porque se tratava de audiência inaugural. Diante desse contexto,
entendo que não foi produzido nenhum ato processual capaz de resultar na
perda do direito de oferecer sua resposta, pois o magistrado, ao realizar
prestação jurisdicional aplicando o ordenamento jurídico, deve atender ao
princípio da razoabilidade (art. 8º do NCPC), bem como não pode produzir
resultados jurídicos injustos e totalmente dissociados da equidade, sobre‑
tudo diante dos princípios da informalidade e da simplicidade que orientam
ao processo do trabalho. Assim, deve ser afastada a confissão. Recurso de
revista conhecido e provido.
(TST – RRAg-1001804-68.2017.5.02.0467 – 8ª T – Rel.ª Min.ª Delaíde Alves
Miranda Arantes – Publ. 16/09/2022)

COMPENSAÇÃO DE JORNADA – REGIME 12X36


466/14 – ESCALA 12X36. CONTRATO DE TRABALHO POSTERIOR À VIGÊNCIA
DA LEI 13.467/17. PRESTAÇÃO HABITUAL DE HORAS EXTRAS. INVALIDADE.
Mesmo com a entrada em vigor da Lei nº 13.467/2017, a prestação ha‑
bitual de horas extras descaracteriza a escala 12x36. Isso porque não se
trata, efetivamente, de acordo de compensação de jornadas, mas sim de
escala de serviço admitida em caráter excepcional, sendo inaplicável o teor
do artigo 59-B, parágrafo único, da CLT. Logo, diante da invalidade da escala
12x36, são devidas, como extras, as horas laboradas além da 8ª diária ou
44ª semanal. Provimento parcial ao recurso do autor.
(TRT 2ª R – 1001763-24.2021.5.02.0221 ROT – 8ª T – Rel.ª Juíza Silvane
Aparecida Bernardes – Publ. 08/09/2022)

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO – SERVIDOR PÚBLICO – CON-


TRATAÇÃO TEMPORÁRIA
466/15 – CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA PARA ATENDER EXCEPCIONAL INTE‑
RESSE PÚBLICO. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. O Supremo

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

Tribunal Federal, ao julgar a ADI 3395-6, suspendeu, em parte, a eficácia do


inciso I do artigo 114 da Constituição da República, que atribuía à Justiça
do Trabalho competência para processar e julgar ações envolvendo entida‑
des de Direito Público e seus respectivos servidores. Consequentemente,
tornou-se defeso à Justiça do Trabalho a apreciação de causas instauradas
entre o Poder Público e os servidores a ele vinculados por típica relação jurí‑
dico-estatutária ou jurídico-administrativa. Posteriormente, com base nesse
precedente e em diversos julgados do STF, o Plenário explicitou a exclusão
da competência da Justiça do Trabalho para as causas instauradas entre o
Poder Público e seus servidores submetidos a regime especial disciplinado
por lei local. Considerou-se, na oportunidade, que o trabalho temporário
sob regime especial estabelecido por lei local configura relação de caráter
jurídico-administrativo.
(TRT 3ª R – 0010213-79.2022.5.03.0036 ROT – 7ª T – Rel. Des. Vicente
de Paula M. Júnior – Disp. 14/09/2022)

CONTRATO POR PRAZO DETERMINADO – SEGURO-DESEMPREGO


466/16 – SUCESSÃO TRABALHISTA. SEGURO-DESEMPREGO. No caso de
contratações pela MGS, decorrentes do acordo celebrado nos autos da Ação
Civil Pública nº 0103100-02.2000.5.03.0021, para regularizar as contrata‑
ções de empregados sem concurso público feitas pelas Caixas Escolares do
Município de Belo Horizonte, inexiste direito ao seguro-desemprego, devido
tão somente em caso de dispensa sem justa causa, segundo o art. 3º da
Lei nº 7.998/1990. Não houve irregularidade na extinção do contrato de
trabalho pela Caixa Escolar, nem na nova contratação pela MGS, por prazo
determinado, na medida em que tais condições foram discriminadas no
acordo homologado, que foi celebrado com a participação do sindicato da
categoria profissional, sem a supressão de direitos trabalhistas.
(TRT 3ª R – 0010085-40.2022.5.03.0010 ROT – 7ª T – Rel. Des. Antônio
Carlos R. Filho – Disp. 12/09/2022)

CRÉDITO PREVIDENCIÁRIO – FALÊNCIA


466/17 – FALÊNCIA. EXECUÇÃO DO CRÉDITO PREVIDENCIÁRIO. COMPE‑
TÊNCIA. Em se tratando de crédito previdenciário decorrente de execução
trabalhista, e determinada a expedição de certidão para habilitação do cré‑
dito trabalhista nos autos do processo falimentar, igual sorte deve seguir o
previdenciário, sob pena de se estabelecer indevido privilégio para este em
detrimento da execução dos direitos dos trabalhadores, de cunho alimentar.
São inaplicáveis ao caso as determinações contidas no art. 6º, §11, e 7º-B

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

da Lei nº 11.101/2005, pois a matéria debatida nos autos não diz respeito
à execução fiscal propriamente dita. Agravo de petição da União ao qual se
nega provimento, em razão da incompetência da Justiça do Trabalho para
prosseguir com a execução do crédito previdenciário, de cunho acessório
ao trabalhista.
(TRT 3ª R – 0130500-74.2008.5.03.0129 AP – 10ª T – Rel.ª Des.ª Taisa
Maria M. de Lima – Disp. 21/09/2022)

DANO MORAL – ANOTAÇÃO NA CTPS


466/18 – INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. ANOTAÇÃO NA CTPS. A ausên‑
cia de registro da relação jurídica de trabalho na CTPS constitui ato ilícito,
ensejando o deferimento de indenização por dano moral ao trabalhador que,
embora alienando sua força de trabalho, se vê excluído da inserção social,
da proteção previdenciária e assistencial, e do próprio consumo, pois, diante
da informalidade, sequer emprego e renda consegue comprovar. Recurso
do reclamante provido.
(TRT 4ª R – 0020407-08.2021.5.04.0405 ROT – 5ª T – Rel. Des. Marcos
Fagundes Salomão – Disp. 27/09/2022)

DANO MORAL – DISCRIMINAÇÃO – PESSOA INDÍGENA


466/19 – DANO MORAL. DISCRIMINAÇÃO NO TRABALHO. PESSOA INDÍGENA.
OBJETIVOS FUNDAMENTAIS. CONVENÇÃO Nº 168, OIT. A dispensa em massa
de pessoas indígenas, notadamente durante uma situação pandêmica, con‑
figura ato discriminatório, por violar os direitos fundamentais da existência
digna, do direito ao trabalho e da proteção social aos vulneráveis e relegar
os empregados à condição de descartáveis, objetificando-os e desprezando
a sua condição humana. Combater a discriminação dos povos indígenas
constitui ou deveria constituir questão de política pública, ética social e po‑
lítica empresarial, de forma a transformar a cultura organizacional através
da igualdade e promover o respeito às diferenças, objetivos fundamentais
que devem ser perseguidos pelo empregador para eliminar a discriminação
no trabalho, tudo em prol de uma sociedade mais solidária e justa, confor‑
me o disposto no artigo 3º, I, da Lei Maior, e a Convenção nº 168, da OIT.
(TRT 12ª R – 0000711-25.2020.5.12.0008 – 3ª C – Rel.ª Juíza Maria Beatriz
Vieira da Silva Gubert – Ass. 06/09/2022)

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

DANO MORAL – INJÚRIA RACIAL PRATICADA POR EMPREGADO CONTRA


EMPREGADO
466/20 – DANO MORAL. INJÚRIA RACIAL PRATICADA POR EMPREGADO CON‑
TRA EMPREGADO. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO EMPREGADOR.
ARTIGOS 140 DO CÓDIGO PENAL, 186, 932, II E 927 DO CÓDIGO CIVIL. Há
responsabilidade objetiva da empregadora pela reparação do dano moral
decorrente de ato de injúria racial praticada por empregado contra emprega‑
do no local de trabalho. Em sendo objetiva a responsabilidade, o dever de
reparar o dano, prescinde de culpa da empregadora, tampouco de ter sido
comunicada de tal ato, nos termos do art. 932, II, do Código Civil.
(TRT 9ª R – 0000610-20.2021.5.09.0013 RORSum – 3ª T – Rel. Des. Eduardo
Milleo Baracat – Publ. 18/07/2022)

DANO MORAL – OFENSAS PROFERIDAS POR SUPERIOR HIERÁRQUICO


466/21 – RECURSO ORDINÁRIO. DANO MORAL, OFENSAS PROFERIDAS POR
SUPERIOR HIERÁRQUICO. Comprovado que havia tratamento rude e des‑
temperado, por parte do superior hierárquico, com ofensas direcionadas ao
empregado diante dos colegas de trabalho, considera-se excedido o poder
de gestão patronal e configurado o dano extrapatrimonial.
(TRT 1ª R – 0100686-14.2020.5.01.0206 RORSum – 1ª T – Rel.ª Des.ª
Maria Helena Motta – Publ. 04/07/2022)

DANO MORAL – UTILIZAÇÃO DO BANHEIRO MASCULINO – PESSOA TRAN-


SEXUAL
466/22 – PESSOA TRANSEXUAL. ORIENTAÇÃO PARA UTILIZAR O BANHEIRO
MASCULINO. DANO MORAL CONFIGURADO. COMPENSAÇÃO PECUNIÁRIA
DEVIDA. As pessoas que não se enquadram nos padrões impostos pela so‑
ciedade vêm obtendo de forma lenta, e muitas vezes por árduos caminhos,
o reconhecimento dos seus direitos. Compete aos empregadores, sejam
grandes corporações ou pequenos empreendimentos, como é a situação
posta sub judice, envidar esforços para combater toda e qualquer situação
de discriminação, de modo não somente a manter o ambiente de trabalho
equilibrado, hígido, saudável, mas assegurar o pleno exercício dos direitos
fundamentais da pessoa humana, que não se restringem ao direito à vida
e à integridade física, abrangendo também o direito à dignidade, ao nome,
às integridade psíquica e moral. Falhou o empregador ao ‘solicitar’ à autora,
que não somente se identifica, mas também se apresenta socialmente como
mulher, no momento da contratação, que utilizasse o banheiro masculino.
Obviamente a solicitação aqui, além de imprópria, assume feição de ordem,

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

haja vista a capacidade reduzida da trabalhadora de se opor a qualquer ordem


ou ‘sugestão’, em razão do receio de não obter a vaga de emprego. Também
se equivocou ao dar vez e voz às reclamações de colegas e, por fim, ao não
conversar diretamente com a autora, optando por mandar recado por uma
colega de trabalho, que sequer era sua superiora hierárquica. A conduta do
réu certamente ocasionou constrangimento e transtornos à autora e impli‑
cou em ofensa à dignidade, o que justifica a condenação ao pagamento de
compensação por danos morais. O valor arbitrado na sentença, na ordem
de três vezes a remuneração percebida, mostra-se razoável e proporcional
à natureza e extensão da ofensa perpetrada, assegurando compensação
pecuniária à trabalhadora e imprimindo o necessário efeito punitivo e peda‑
gógico à empresa, sem comprometer a manutenção da atividade empresarial
(microempresa na área de reciclagem).
(TRT 12ª R – 0000796-54.2021.5.12.0047 – 6ª C – Rel. Des. Narbal Antônio
de Mendonça Fileti – Ass. 06/09/2022)

DESCONSTITUIÇÃO DA PENHORA – FRAUDE À EXECUÇÃO


466/23 – RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI
13.467/2017. EMBARGOS DE TERCEIRO. DESCONSTITUIÇÃO DA PENHORA.
FRAUDE À EXECUÇÃO. Na forma estabelecida pelo §2º do artigo 896, §2º,
da CLT e pela Súmula nº 266 do TST, o cabimento do recurso de revista em
execução de sentença está restrito às hipóteses de ofensa direta e literal de
norma da Constituição da República. Cinge-se a controvérsia ao pedido de
desconstituição da penhora de bem imóvel adquirido pelos embargantes de
terceiro, que se consideram adquirentes de boa-fé. Esta Corte adotou o en‑
tendimento da Súmula 375 do STJ, no sentido de que somente se reconhece
a fraude à execução quando existe registro da penhora, na oportunidade da
alienação do bem, ou quando comprovada a má-fé do terceiro adquirente.
Contudo, conforme quadro fático delineado nos autos, o TRT entendeu que
estava caracterizada a fraude à execução porque, ao tempo da compra do
imóvel pelos embargantes de terceiro, já tramitava execução contra o alienan‑
te. Assim, foi mantida a constrição do imóvel independentemente de existir
registro de penhora do mencionado bem ou da comprovação de má-fé dos
terceiros adquirentes. Recurso de revista conhecido e provido.
(TST – RR-184-97.2018.5.09.0567 – 2ª T – Rel. Min. Sergio Pinto Martins
– Publ. 12/08/2022)

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

DISPENSA – ATO ABUSIVO


466/24 – DISPENSA. LIMITES AO PODER POTESTATIVO. ATO ABUSIVO. PRIN‑
CÍPIO DA BOA FÉ. O empregador é detentor do direito potestativo de resilir
o pacto laboral, sendo que o exercício deste deve se dar dentro dos limites
da boa-fé, sob pena de se configurar abusivo. Conforme previsão do art. 187
do CC, o desbordamento dos limites impostos pela boa-fé no exercício de
um direito caracteriza ato ilícito indenizável. Infundindo a ré ao trabalhador a
expectativa de que o contrato de trabalho seria desenvolvido a longo prazo,
inclusive buscando-o em outro estado da federação e estimulando que este
se mudasse com a família, de São Paulo para Santa Catarina, e despedindo-o
cerca de quatro meses após o início da contratualidade, incorreu em vulnera‑
ção do outrora ajustado, com afronta ao princípio da boa-fé, e caracterização
do abuso de direito, devendo ser condenada a indenizar os danos morais de‑
correntes. Em harmonia com o Juízo sentenciante, entendo que a recorrente
gerou ao demandante justa expectativa de longevidade contratual, dado que
lhe buscou em outro Estado da Federação e incentivou a mudança de sua
família, na forma da prova testemunhal. O rompimento contratual passados
apenas 4 meses e 20 dias frustrou tal expectativa, causando presumível
abalo no trabalhador, quem se deslocou junto com seu núcleo familiar para
prestar seu labor em favor da recorrente, suportando despesas e sofrendo
transtornos de mudança e retorno desempregado à origem.
(TRT 12ª R – 0000363-98.2021.5.12.0031 – 3ª C – Rel.ª Juíza Maria Beatriz
Vieira da Silva Gubert – Ass. 07/09/2022)

DISPENSA DISCRIMINATÓRIA – DANO MORAL


466/25 – DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.
DOENÇA QUE NÃO GERA ESTIGMA OU PRECONCEITO. NÃO CONFIGURAÇÃO.
É certo que o direito potestativo do empregador de rescindir o contrato de
trabalho sem justa causa, de acordo com a sua conveniência, não é absoluto,
pois encontra limites nos princípios da dignidade da pessoa humana e dos
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, insertos na Constituição da
República (art. 1º III e IV), que, outrossim, veda qualquer forma de discrimina‑
ção (art. 3º, IV, CR). Por outro lado, a indenização decorrente do rompimento
da relação de emprego nos moldes do art. 4º da Lei nº 9.029/95 depende de
comprovação da prática de ato discriminatório pelo empregador, ou de que a
enfermidade que acometeu o empregado se enquadra no conceito de doen‑
ça que gera estigma ou preconceito, nos termos da Súmula nº 443 do TST.
(TRT 3ª R – 0010654-86.2021.5.03.0071 ROT – 2ª T – Rel. Juiz Delane
Marcolino Ferreira – Disp. 22/09/2022)

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

EMPREGADO VENDEDOR
466/26 – EMPREGADO VENDEDOR. COMISSÃO. VALOR DE VENDA. DIREI‑
TO À PARCELA. TRANSAÇÃO ULTIMADA. ESTORNO. CANCELAMENTO PELO
CLIENTE. PARTICIPAÇÃO OU EXECUÇÃO DE ATIVIDADE ACESSÓRIA. ACRÉS‑
CIMO NA REMUNERAÇÃO. PROVA EMPRESTADA. JUÍZO DE ADMISSIBILI‑
DADE. OBRIGAÇÃO DE FAZER. CONVERSÃO EM PECÚNIA. 1. O empregado
vendedor tem direito ao pagamento da comissão calculada sobre o valor de
venda acertado com o cliente, na conformidade dos arts. 2º, caput, da Lei
nº 3.207, de 1957, e 466, caput e §1º, da CLT, de maneira que é ilegal a
parte patronal, com fulcro em regulamento da empresa, subtrair o “custo do
produto” para obter parcela que denomina “lucro bruto” a fim de utilizá-la
na base de cálculo da comissão, inclusive porque significa que divide com
o trabalhador o risco da atividade econômica, cujo ônus pertence somente
à empresa, consoante o art. 2º, caput, da CLT. 2. Vender consiste na troca
de um bem por dinheiro, de modo que é razoável concluir que essa transa‑
ção, ou seja, operação de compra e venda, consoante os arts. 466, caput,
da CLT e 2º, caput, da Lei nº da Lei nº 3.207, de 1957, é ultimada quando
o comprador aceita a obrigação de pagar o preço, e não quando ocorre o
recebimento do pagamento. 3. O empregado vendedor utiliza de tempo da
jornada de trabalho para atender o cliente, conversar sobre a intenção de
compra e esclarecer aspectos do produto, do valor, da forma e do meio de
pagamento e fechar o negócio, cuja ilação sobre o procedimento é autori‑
zada pelo art. 375 do CPC, razão pela qual, ultimada a transação, com o
aceite do cliente na aquisição do produto ou do serviço, está perfectibilizado
o fato gerador do direito ao pagamento da comissão, na conformidade dos
arts. 466, caput, da CLT e 2º, caput, da Lei nº 3.207, de 1957. 4. Sem que
exista o aceite da obrigação, que no plano fático normalmente é materia‑
lizado no acordo pelo qual as partes se sujeitam ao cumprimento ou pelo
pagamento à vista ou a prazo, não é ultimada a transação e, por isso e em
face das regras legais antes mencionadas, não há respaldo no estorno da
comissão na hipótese de cancelamento por causa de desistência ou de troca
pelo comprador, pois o trabalho foi prestado pelo empregado vendedor. 5.
O direito do empregador de estornar a comissão, verificada a insolvência do
comprador, conforme prevê o art. 7º da Lei nº 3.207, de 1957, depende de
processo judicial, mediante prolação de sentença declaratória que o devedor
tem que adimplir prestação superior ao seu rendimento, na conformidade
do art. 955 e seguintes do Código Civil, cujo ônus de provar essa causa no
cancelamento da venda é patronal, a teor do art. 818, II, da CLT, pois se
trata de fato impeditivo do direito pleiteado de pagamento da comissão. 6.

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

Considerando que o empregado é remunerado por comissão, calculada so‑


bre o valor de venda, o procedimento patronal de fechar a loja num dia e de
na abertura ao consumidor baixar o preço dos produtos durante os dias de
liquidação ou de promoção, tem como consequência redução salarial, o que
é vedado pela diretriz extraída dos arts. 9º, 444, 468 e 483, alínea “g”, da
CLT e 1º, III, 7º, VI, 170, caput, e 193 da Constituição Federal de 1988, pois
a primeira hipótese resulta na supressão da fonte de rendimento e a segunda
deve intensificar a prestação de trabalho a fim de perseguir a obtenção do
mesmo patamar salarial, e, ademais, configura divisão do risco da atividade
econômica, o qual pertence somente à empresa, consoante o art. 2º, caput,
da CLT. 7. A participação do empregado vendedor em evento que tem o pro‑
pósito de promover a venda de mercadoria, a fim de atualizar o conhecimento
sobre aspecto relacionado à comercialização e ao atendimento, e, nesse
diapasão, a confecção de cartaz, a limpeza do setor, a cobrança, a realização
de ligação de divulgação e o procedimento de eventualmente levar o produto
até o cliente, traduzindo materialização da finalidade de preparação ou de
incentivo do ato de venda ou de fidelização, configura atividade que guarda
compatibilidade com o cargo, na conformidade do parágrafo único do art. 456
da CLT, e, por isso, está abrangida pelo valor da comissão auferida, uma vez
que essa parcela não se restringe ao ato de vender, e sim também abrange
o trabalho prestado que é compatível, inclusive porque deve cumprir jornada
mínima de trabalho na loja, cuja execução, por isso, não confere direito ao
acréscimo na remuneração, e sim, caso resulte no excesso de jornada, ao
pagamento do adicional extraordinário. 8. A remuneração, ainda que sob a
modalidade de comissão, consistente em percentagem, é pactuada para o
cargo de vendedor, cuja prestação de trabalho não se restringe ao ato de
vender, e sim contempla atividade de natureza acessória que concorre para
o alcance da finalidade principal. 9. Não observa o devido processo legal a
parte simplesmente aportar aos autos cópia de ata de audiência contendo
depoimento colhido em outro processo e invocar a apreciação como prova
emprestada mediante destaque de informação que considera favorável,
porquanto, na conformidade do art. 372 do CPC, o juízo de primeiro grau
deve validar a admissibilidade, inclusive conforme diretriz extraída dos arts.
765 da CLT e 370 do CPC, a fim de apreciar a pertinência e relevância em
face do teor da controvérsia, averiguando a identidade do fato probando, se
foi obtida mediante regular instrução probatória ou sem o envolvimento de
nenhuma das partes e a impossibilidade ou desnecessidade de repetição
e necessidade de aproveitamento. 10. Inexistir na cláusula coletiva previ‑
são do valor da vantagem que deve ser fornecida e tampouco de conversão

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

pelo equivalente em pecúnia na hipótese de descumprimento não é óbice


na apreciação do pedido de pagamento de indenização, na conformidade
dos arts. 927 do Código Civil e 499 do CPC, de sorte que, comprovado o
inadimplemento da obrigação de fazer, é arbitrada indenização.
(TRT 12ª R – 0000065-56.2020.5.12.0059 – 1ª C – Rel.ª Des.ª Maria de
Lourdes Leiria – Ass. 30/08/2022)

ENQUADRAMENTO SINDICAL – CATEGORIA ECONÔMICA


466/27 – BENEFÍCIOS NORMATIVOS. LASTREIO EM INSTRUMENTO FIRMADO
POR ENTIDADE SINDICAL EM RELAÇÃO À QUAL NÃO RESTOU DEMONSTRADA
A SUA EFETIVA CONDIÇÃO DE REPRESENTANTE DA CATEGORIA ECONÔMICA
A QUE PERTENCE O EMPREGADOR. IMPROCEDÊNCIA. Ainda que o princípio
da especificidade seja adotado para a análise do enquadramento sindical,
sem que isso ofenda a unicidade prevista na CF/88, na hipótese dos autos
não há qualquer elemento que atraia a conclusão de que a atividade predo‑
minante da empresa, no ramo alimentício, era específica das “indústrias de
derivados do cacau e elaboração de chocolates, balas e gomas de mascar”,
sendo a natureza dos produtos apontados na inicial como comercializados
inclusive em sentido diverso. Dessa forma, o empregador não pode ser res‑
ponsabilizado por norma coletiva firmada por entidade sindical em relação
à qual não restou comprovada a sua representatividade. Incumbia ao autor
comprovar o fato constitutivo da sua pretensão, já que busca se valer das
normas coletivas trazidas com a inicial para receber benefícios normativos
e, não tendo se desincumbido de tal ônus, outra não pode ser a conclusão,
que não a improcedência dos pedidos formulados na inicial com base nos
instrumentos normativos.
(TRT 2ª R – 1001322-84.2019.5.02.0036 ROT – 11ª T – Rel. Des. Sergio
Roberto Rodrigues – Publ. 31/08/2022)

ESCALA DE REVEZAMENTO QUINZENAL – EMPREGADA MULHER – ART.


386 DA CLT
466/28 – RECURSO DE EMBARGOS. INTERPOSIÇÃO SOB A REGÊNCIA DA
LEI Nº 13.015/2014. DOMINGOS. ATIVIDADES DO COMÉRCIO EM GERAL.
EMPREGADA MULHER. ART. 386 DA CLT. ESCALA DE REVEZAMENTO QUIN‑
ZENAL. NORMA ESPECÍFICA DE PROTEÇÃO 1. Esta Subseção firmou a tese
de que a escala quinzenal para concessão do repouso semanal remunerado
aos domingos para empregadas mulheres, prevista no artigo 386 da CLT
como norma específica de proteção ao trabalho da mulher, deve prevalecer
sobre a garantia de coincidência com o domingo pelo menos uma vez no

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

lapso máximo de três semanas, norma inscrita no art. 6º, parágrafo único,
da Lei nº 10.101/2000, em favor de todos trabalhadores do comércio em
geral. Precedentes. 2. Estando o acórdão embargado em sintonia com esse
entendimento, inviável conhecer do Recurso de Embargos. Embargos não
conhecidos.
(TST – E-ED-RR-982-80.2017.5.12.0059 – SBDI 1 – Rel.ª Min.ª Maria Cristina
Irigoyen Peduzzi – Publ. 17/06/2022)

ESTABILIDADE PROVISÓRIA – GESTANTE – CONTRATO POR PRAZO DE-


TERMINADO
466/29 – ESTABILIDADE DA GESTANTE. CONTRATO TEMPORÁRIO DE TRA‑
BALHO. LEI nº 6.019/1974. FIXAÇÃO DE TESE. IAC. CONTRATO POR PRAZO
DETERMINADO. TEMA 497 DA REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA PELO
E. STF. REQUISITOS. É inaplicável ao regime de trabalho temporário, dis‑
ciplinado pela Lei nº 6.019/1974, a garantia de estabilidade provisória à
empregada gestante, prevista no art. 10, II, “b”, do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias. (Tese fixada pelo Tribunal Superior do Trabalho
no julgamento do IAC-5639-31.2013.5.12.0051 – Tema 2). Ademais, por
meio do julgamento do Recurso Extraordinário 629.053, o e. STF proferiu
acórdão de repercussão geral, fixando a tese consubstanciada no Tema 497,
pela qual se estabeleceu que a dispensa injusta ou arbitrária é requisito
para o reconhecimento da estabilidade provisória no emprego à gestante.
Cuida-se, em verdade, de literalidade da regra constante do art. 10, II, “b”,
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. A extinção do contrato
de trabalho por prazo determinado pelo decurso do tempo contratado ou pelo
término das condições que ensejaram a contratação não configura dispensa
sem justa causa ou arbitrária, e, por isso, não se faz presente a condição
necessária à garantia provisória supracitada, pelo que ficou superado o item
III da Súmula 244 do TST pelo advento da tese do Tema 497 da repercussão
geral do Supremo Tribunal Federal.
(TRT 3ª R – 0011043-69.2021.5.03.0104 ROT – 5ª T – Rel. Des. Antônio
Neves de Freitas – Disp. 23/09/2022)

EXECUÇÃO – MEDIDA NECESSÁRIA


466/30 – PEDIDO DE EXIBIÇÃO DE DECLARAÇÃO DE CAPITAIS BRASILEI‑
ROS NO EXTERIOR (CBE). MEDIDA EXCEPCIONALÍSSIMA. NECESSIDADE
DE JUSTIFICATIVA ROBUSTA. Ainda que o acesso a eventual declaração de
capitais brasileiros no exterior resultasse na identificação de depósitos em
contas estrangeiras, a execução dos valores correspondentes dependeria

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

de cooperação internacional e, portanto, de inúmeros trâmites burocráticos


de resultado lento e incerto. Trata-se, assim, de medida excepcionalíssima,
que dependeria de justificativa robusta, o que torna incensurável o respectivo
indeferimento, motivado pela inexistência de quaisquer indícios de que os
executados possuam ativos financeiros no exterior.
(TRT 3ª R – 0001020-64.2013.5.03.0033 AP – 4ª T – Rel. Des. Paulo Cha-
ves Correa Filho – Disp. 21/09/2022)

EXECUÇÃO – PENHORA SOBRE FATURAMENTO


466/31 – AGRAVO DE PETIÇÃO. PENHORA SOBRE FATURAMENTO. A penhora
sobre o faturamento é medida constritiva prevista pelo artigo 835, do Código
de Processo Civil. Utilizados os convênios estabelecidos com este Regional,
sem a localização de bens suficientes à quitação integral do crédito, justi‑
fica-se a constrição sobre o faturamento mensal da empresa executada, à
vista do que dispõe o artigo 866, do Código de Processo Civil. Há que se
observar, porém, que a penhora deve limitar-se a percentual que não inviabi‑
lize a continuidade do empreendimento, sob pena de obstar o cumprimento
da função social da empresa. Inteligência do §1º, do art. 866, do CPC e da
OJ nº 93, da SBDI-2 do TST.
(TRT 2ª R – 0000042-41.2011.5.02.0080 AP – 16ª T – Rel.ª Des.ª Regina
Aparecida Duarte – Publ. 28/07/2022)

FÉRIAS – PAGAMENTO EM DOBRO


466/32 – FÉRIAS. GOZO NA ÉPOCA PRÓPRIA. PAGAMENTO FORA DO PRAZO.
DOBRA INDEVIDA. SÚMULA 450 DO TST. INCONSTITUCIONALIDADE. O Plenário
do Supremo Tribunal Federal, em sessão virtual realizada de 1º/07/2022 a
05/08/2022, julgou procedente o pedido formulado na ADPF nº 501, para:
“(a) declarar a inconstitucionalidade da Súmula 450 do Tribunal Superior do
Trabalho; e (b) invalidar decisões judiciais não transitadas em julgado que,
amparadas no texto sumular, tenham aplicado a sanção de pagamento em
dobro com base no art. 137 da CLT.” Assim, diante da inconstitucionalidade
pronunciada pela Corte Suprema, não há mais respaldo para o pagamento
em dobro da remuneração de férias, incluído o terço constitucional, com
base no art. 137 da CLT, quando, gozadas na época própria, o empregador
tenha descumprido o prazo previsto no art. 145 do mesmo diploma legal.
(TRT 3ª R – 0010480-52.2021.5.03.0047 ROT – 2ª T – Rel. Des. Sebastião
Geraldo de Oliveira – Disp. 15/09/2022)

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

GORJETA
466/33 – GORJETA. TAXA DE SERVIÇO COBRADA DOS CLIENTES. Compro‑
vada nos autos a existência de taxa de serviço cobrada na conta do cliente,
a qual configura-se como gorjeta, mister se faz o repasse aos empregados,
por força do disposto no art. 457, caput e §3º, da CLT.
(TRT 12ª R – 0001356-03.2020.5.12.0056 – 3ª C – Rel.ª Juíza Maria Beatriz
Vieira da Silva Gubert – Ass. 07/09/2022)

HORA EXTRA – MINUTOS


466/34 – MINUTOS RESIDUAIS. TEMA 1046 DE REPERCUSSÃO GERAL.
INAPLICABILIDADE DA NORMA COLETIVA NO CASO CONCRETO. DESLOCA‑
MENTOS INTERNOS E ATOS PREPARATÓRIOS PARA O TRABALHO. Ante o
novo cenário instaurado com o recente julgamento pelo E.STF do Tema 1046
da Repercussão Geral, “são constitucionais os acordos e as convenções
coletivos que, ao considerarem a adequação setorial negociada, pactuam
limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas, independentemente da
explicitação especificada de vantagens compensatórias, desde que respeita‑
dos os direitos absolutamente indisponíveis”. Na hipótese, importa registrar
que a pactuação da norma coletiva quanto aos minutos residuais é válida,
porquanto não viola direito indisponível. Não obstante, os instrumentos nor‑
mativos aplicáveis estabelecem que não serão consideradas à disposição
somente as atividades “de conveniência dos empregados”, citando, especi‑
ficamente, apenas “transações bancárias próprias” e “serviço de lanche ou
café”. No exame do caso concreto, a prova oral produzida evidenciou que o
autor despendia tempo com deslocamentos internos e atos preparatórios
para o trabalho, antes e após a jornada registrada nos cartões de ponto,
configurando-se tempo à disposição da empresa, nos termos do art. 4º da
CLT e entendimentos das Súmulas 366 e 429 do TST. Daí resulta que a
norma coletiva não se aplica ao caso em análise, nem afasta o direito do
autor à percepção de minutos residuais extras diários não registrados nos
cartões de ponto.
(TRT 3ª R – 0010196-55.2019.5.03.0163 ROT – 4ª T – Rel.ª Des.ª Maria
Lúcia Cardoso Magalhães – Disp. 20/09/2022)

HORAS EXTRAS – PRÉ-CONTRATAÇÃO


466/35 – HORAS EXTRAS. PRÉ-CONTRATAÇÃO. INVALIDADE. Não se justifica
a contratação de prorrogação de jornada firmada poucos meses após a con‑
tratação, o que evidencia que visava remunerar de forma fixa a 7ª e a 8ª horas
diárias. Assim, tem-se que o acordo de prorrogação de jornada pretendeu

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

burlar a jornada contratual de 6 horas, pois a parte autora é bancária, bem


como mascarar a pré-contratação de horas extras e, de conseguinte, afastar
a incidência da Súmula 199, I, do C.TST.
(TRT 2ª R – 1000087-96.2020.5.02.0020 ROT – 10ª T – Rel.ª Juíza Adriana
Maria Battistelli Varellis – Publ. 17/08/2022)

INSALUBRIDADE – DIREITO
466/36 – INSALUBRIDADE. DIREITO. PERCENTUAL. TEMA 1046. INDISPONI‑
BILIDADE. Em recente decisão do ARE de número 1121633, o STF apreciou
o Tema 1.046, com repercussão geral, firmando entendimento de que as
normas coletivas podem dispor acerca de direitos trabalhistas, limitando-os
ou afastando-os, sem a necessidade de prever compensações (princípio do
não-retrocesso social), respeitados os direitos absolutamente indisponíveis. A
insalubridade é direito assegurado pelo artigo 7º, XXIII, da Lei Maior, e, como
tal, não pode ser transacionada por norma coletiva, quer quanto ao direito
em si, quer quanto ao percentual respectivo, notadamente quando a norma
coletiva que prevê a redução do grau de insalubridade é anterior à alteração
perpetrada pela Reforma Trabalhista, como constante do artigo 611-A, XII,
CLT. Interpretação sistemática conferida ao Tema 1046, artigo 7º, XXIII, da
Carta Magna, artigo 611-A, XII, CLT, e artigo 192, CLT.
(TRT 12ª R – 0000116-17.2021.5.12.0032 – 3ª C – Rel.ª Juíza Maria Beatriz
Vieira da Silva Gubert – Ass. 07/09/2022)

JORNADA DE TRABALHO – PRORROGAÇÃO – ATIVIDADE INSALUBRE


466/37 – AÇÃO ANULATÓRIA DE CLAUSULAS CONVENCIONAIS. PRORRO‑
GAÇÃO E COMPENSAÇÃO DE JORNADA. ATIVIDADE INSALUBRE. ART. 60
DA CLT. VALIDADE DA NORMA. ART. 7º, XIII DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. A
Constituição Federal de 1988 é posterior à edição do artigo 60 da CLT e a
ele não fez qualquer ressalva. O cancelamento da Súmula 349 do TST não
implica o restabelecimento e a aplicabilidade do disposto no referido artigo
celetista, tanto que a disposição do art. 7º, inciso XIII da Constituição da
República não excepciona as atividades exercidas em ambiente insalubre.
A existência de instrumento coletivo versando sobre a matéria suplanta a
exigência do art. 60 da CLT de licença prévia das autoridades competentes
em matéria de higiene do trabalho, para adoção do regime de prorrogação/
compensação de jornada em atividade insalubre, tal como previsto no artigo
611-A, XIII da CLT.
(TRT 3ª R – 0011400-70.2021.5.03.0000 AACC – SDC – Rel.ª Des.ª Maria
Stela Álvares da S. Campos – Disp. 23/09/2022)

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

JORNADA DE TRABALHO – TURNO ININTERRUPTO DE REVEZAMENTO –


NEGOCIAÇÃO COLETIVA
466/38 – JUÍZO NEGATIVO DE RETRATAÇÃO. TURNOS ININTERRUPTOS DE
REVEZAMENTO. JORNADA SUPERIOR A 8 HORAS. INVALIDADE. É direito
fundamental dos trabalhadores a redução dos riscos inerentes ao trabalho,
por meio de normas de saúde, higiene e segurança (art. 7º, XXII, da Cons‑
tituição de 1988), que devem ser rigidamente observadas pelos emprega‑
dores, nos termos do art. 157 da CLT. Portanto, em se tratando de direito
absolutamente indisponível, é infenso a transações pela via da negociação
coletiva. É neste sentido, inclusive, a recente decisão proferida pelo E. STF,
no bojo do Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 1.121.633 (Tema 1046
de repercussão geral). Em 02/06/2022, o Tribunal Pleno da Corte Consti‑
tucional julgou o referido processo, cuja certidão de julgamento publicada
foi a seguinte: “Decisão: O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 1.046
da repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário, nos termos
do voto do Relator, vencidos os Ministros Edson Fachin e Rosa Weber. Em
seguida, por unanimidade, foi fixada a seguinte tese: “São constitucionais
os acordos e as convenções coletivos que, ao considerarem a adequação
setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos de direitos tra‑
balhistas, independentemente da explicitação especificada de vantagens
compensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente indisponí‑
veis”. Ausentes, justificadamente, o Ministro Luiz Fux (Presidente), impedido
neste julgamento, e o Ministro Ricardo Lewandowski. Presidiu o julgamento
a Ministra Rosa Weber, Vice-Presidente. Plenário, 2.6.2022.” Desse modo,
as normas coletivas que trazem em seu bojo cláusula que dispõe sobre o
labor em turnos ininterruptos de revezamento em jornada superior a 8 (oito)
horas são inválidas, haja vista que violam as medidas de proteção e segu‑
rança dos empregados.
(TRT 3ª R – 0010059-96.2019.5.03.0026 ROT – 1ª T – Rel. Des. Luiz Otávio
Linhares Renault – Disp. 12/09/2022)

JUSTA CAUSA – RECUSA INJUSTIFICADA À VACINAÇÃO


466/39 – RECUSA INJUSTIFICADA À VACINAÇÃO. JUSTA CAUSA. COVID-19.
ATO DE INDISCIPLINA/INSUBORDINAÇÃO. INTERESSE COLETIVO PREVALE‑
CENTE AO INDIVIDUAL. Constitui justa causa de indisciplina ou insubordi‑
nação a recusa injustificada do trabalhador à vacinação contra a Covid-19.
Na esteira do entendimento do STF no julgamento das ADIs 6586 e 6587
e ARE 1267879, o Estado pode impor restrições a quem se recusa à vaci‑
nação, e, mutatis mutandis, o empregador pode assim agir em relação a

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

seus empregados, como forma de garantir a saúde de todo o coletivo de


trabalhadores na empresa, já que a ele compete o estabelecimento e a
manutenção do ambiente de trabalho seguro e sadio, conforme os artigos
7º, XXII, CF, e 159, CLT. Assim, optando o empregado por não se vacinar,
poderá ser dispensado motivadamente, por descumprimento à ordem geral
ou específica emanada da empresa (artigo 482, “h”, CLT), já que deve ser
privilegiado o interesse coletivo em detrimento do individual, mormente,
porque, segundo a Ministra Carmen Lúcia, “A Constituição não garante
liberdades às pessoas para que elas sejam soberanamente egoístas”. In‑
validar a justa causa de quem se recusou injustificadamente à vacinação,
pensando apenas em si, e não nos colegas de trabalho, quer importar no
total desequilíbrio das relações de trabalho, atribuindo a um trabalhador o
direito de ditar as regras de saúde no ambiente de trabalho, desprezando,
em nível amplo, toda uma coletividade, que tem o direito de ser protegida
naquilo que tem mais de importante, nestes árduos tempos de pandemia:
a sua integridade física e saúde.
(TRT 12ª R – 0000215-98.2022.5.12.0016 – 6ª C – Rel.ª Juíza Maria Beatriz
Vieira da Silva Gubert – Ass. 22/08/2022)

JUSTIÇA GRATUITA – SINDICATO


466/40 – JUSTIÇA GRATUITA. SINDICATO. AÇÃO COLETIVA. Propondo o
sindicato, ação de cumprimento, na qualidade de legitimado autônomo, em
nome próprio e na defesa de interesses difusos, transindividuais ou indivi‑
duais homogêneos da categoria, a demanda tem natureza jurídica de ação
civil pública ou ação coletiva, motivo pelo qual não haverá condenação da
associação autora em honorários de advogado, custas e despesas proces‑
suais, salvo comprovada má-fé. Inteligência do art. 18 da Lei 7.347/85 e
art. 87 da Lei 8.078/90.
(TRT 3ª R – 0010671-18.2021.5.03.0041 ROT – 11ª T – Rel. Des. Marco
Antônio Paulinelli de Carvalho – Disp. 08/09/2022)

LIDE SIMULADA
466/41 – LIDE SIMULADA. CARACTERIZAÇÃO. Caracteriza-se a lide simulada
quando presente conluio entre as partes ou seus procuradores para conse‑
cução de objetivo ilícito. Tendo o trabalhador declarado que não conhecia
seu procurador, sequer lembrando-se do nome dele, bem assim que ele te‑
ria sido indicado pelo proprietário da empresa ré, tem-se por evidenciados
elementos que permitem concluir pela existência de lide simulada, com o
único objetivo de ver operada a quitação total do contrato de trabalho, com

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

evidente prejuízo também a terceiros, como o INSS, já que o acordo registra


apenas parcelas de caráter indenizatório.
(TRT 12ª R – 0001425-94.2021.5.12.0025 – 3ª C – Rel.ª Juíza Maria Beatriz
Vieira da Silva Gubert – Ass. 07/09/2022)

MOTORISTA DE APLICATIVO – RELAÇÃO DE EMPREGO


466/42 – VÍNCULO DE EMPREGO. MOTORISTA DE APLICATIVO. Evidenciado
que o motorista de aplicativo presta serviços de forma pessoal, por meio de
reconhecimento facial, com onerosidade, em que a empresa de aplicativo fixa
o preço da corrida, com habitualidade, ainda que sem exigência de horário
de forma direta, e com subordinação jurídica, diante das punições a que o
trabalhador está sujeito, é forçoso o reconhecimento do vínculo de emprego.
(TRT 12ª R – 0000704-27.2021.5.12.0031 – 3ª C – Rel. Des. Amarildo
Carlos de Lima – Ass. 31/08/2022)

NORMA COLETIVA – ULTRATIVIDADE


466/43 – ULTRATIVIDADE DA NORMA COLETIVA. GARANTIA PROVISÓRIA
DO EMPREGO. Não se aplica a teoria da ultratividade quando se trata de
cláusula advinda de sentença normativa, a teor do disposto no Precedente
Normativo de nº 120 da SDC do C. TST. Ademais, a Súmula 277 do C. TST
dispõe, expressamente, que somente as cláusulas decorrentes de Acordos
Coletivos e Convenção Coletivas integrarão o contrato de trabalho individual,
cuja alteração ou supressão somente é possível através de negociação co‑
letiva. Some-se que o STF, no julgamento da ADPF 323, declarou a incons‑
titucionalidade da Súmula 277 do TST.
(TRT 3ª R – 0011268-07.2015.5.03.0167 ROT – 4ªT – Rel.ª Des.ª Paula
Oliveira Cantelli – Disp. 19/09/2022)

ÔNUS DA PROVA – VALE TRANSPORTE


466/44 – RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA. VALE-TRANSPORTE. ÔNUS
DE PROVA DO EMPREGADOR. SÚMULA Nº 460, DO C. TST. O fornecimento
do vale-transporte é uma obrigação legal do empregador, nos termos do
artigo 7º, do Decreto nº 95.247/87, que regulamentou a Lei nº 7.418/85.
E, sendo assim, quando da contratação do empregado, deverá ser exigida
declaração relativa aos dados para o fornecimento regular do vale-transporte
e, caso o trabalhador não necessite, ou não pretenda receber o benefício,
deverá assinar declaração nesse sentido. Em tal contexto, é do empregador
o ônus da prova de que o empregado não satisfaz os requisitos indispen‑
sáveis para a concessão do vale-transporte ou não pretenda fazer uso do

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

benefício. Inteligência da Súmula nº 460, do C. TST. Recurso ordinário da


reclamada ao qual se nega provimento.
(TRT 2ª R – 1000744-78.2021.5.02.0351 ROT – 12ª T – Rel. Des. Benedito
Valentini – Publ. 23/08/2022)

PENHORA – REAVALIAÇÃO
466/45 – BEM PENHORADO. VALOR DA AVALIAÇÃO. REVISÃO. A avaliação
efetuada por oficial de justiça goza de presunção relativa de veracidade,
porquanto seus atos são revestidos de fé pública. O artigo 873 do CPC,
aplicável subsidiariamente ao processo do trabalho, dispõe que nova ava‑
liação é admitida quando qualquer das partes arguir, fundamentadamente,
a ocorrência de erro na avaliação ou dolo do avaliador; se verificar, poste‑
riormente à avaliação, que houve majoração ou diminuição no valor do bem;
ou se o juiz tiver fundada dúvida sobre o valor atribuído ao bem na primeira
avaliação. Não se verificando nenhuma das hipóteses descritas no presente
caso, impõe-se o indeferimento de perícia para nova avaliação.
(TRT 3ª R – 0011632-58.2014.5.03.0055 AP – 8ª T – Rel. Des. Sérgio
Oliveira de Alencar – Disp. 20/09/2022)

PLANO DE DEMISSÃO VOLUNTÁRIA – INEXISTÊNCIA DE CLÁUSULA DE


QUITAÇÃO GERAL
466/46 – AGRAVO DE INSTRUMENTO DO RECLAMANTE. LEI 13.467/2017.
ADESÃO DO EMPREGADO A PLANO DE DEMISSÃO VOLUNTÁRIA (PDV). INE‑
XISTÊNCIA DE CLÁUSULA DE QUITAÇÃO GERAL NO ACORDO COLETIVO DE
TRABALHO. ARTIGO 477-B DA CLT. CONTRATO DE TRABALHO EXTINTO APÓS
A ENTRADA EM VIGOR DA LEI 13.467/2017. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA
RECONHECIDA. A causa apresenta transcendência jurídica, ante os efeitos
da adesão do empregado a norma coletiva que trata de Plano de Dispensa
Voluntária sem cláusula que preveja a quitação ampla e irrestrita e sem
disposição em contrário, em face da alteração legislativa do art. 477-B da
CLT. O tema relativo à quitação ampla a direitos mediante adesão a plano
de demissão voluntária foi objeto de Repercussão Geral reconhecida pelo
Supremo Tribunal Federal (Tema 152), no ano de 2015, em que prevaleceu
o entendimento de que “ a transação extrajudicial que importa rescisão do
contrato de trabalho, em razão de adesão voluntária do empregado a plano
de dispensa incentivada, enseja quitação ampla e irrestrita de todas as par‑
celas objeto do contrato de emprego, caso essa condição tenha constado
expressamente do acordo coletivo que aprovou o plano, bem como dos demais
instrumentos celebrados com o empregado “. Contudo, sobreveio alteração

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

legislativa, mediante o art. 477-B, da CLT, que alterou substancialmente


os efeitos da quitação no sentido de que “Plano de Demissão Voluntária
ou Incentivada, para dispensa individual, plúrima ou coletiva, previsto em
convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, enseja quitação plena e
irrevogável dos direitos decorrentes da relação empregatícia, salvo disposição
em contrário estipulada entre as partes “, invertendo, pois, os seus efeitos.
Vale dizer, a partir da inclusão do citado dispositivo, a regra é de que a norma
coletiva que estabelece o PDV enseja a quitação plena e irrevogável, salvo
se as partes expressamente estipularem em sentido diverso. Dessa forma,
delimitado pela Corte Regional que a dispensa ocorreu no ano de 2018,
quando em vigor a alteração trazida pela Lei 13.467/2017, e não havendo
no acordo coletivo de trabalho ressalva quanto à limitação da quitação – o
que não mais se exige, deve ser mantida a decisão regional que entendeu
que a adesão do reclamante ao PDV implica quitação plena e irrevogável a
todos os direitos decorrentes da relação de emprego. Transcendência jurídica
reconhecida. Agravo de instrumento desprovido.
(TST – AIRR-269-79.2019.5.05.0011 – 8ª T – Rel. Min. Aloysio Corrêa da
Veiga – Publ. 04/07/2022)

PROCESSO DO TRABALHO – JUÍZO DE RETRATAÇÃO


466/47 – JUÍZO DE RETRATAÇÃO. VALIDADE DE NORMAS COLETIVAS QUE
LIMITAM OU AFASTAM DIREITOS TRABALHISTAS. DECISÃO DO STF NO ÂMBITO
DO TEMA 1046 DA REPERCUSSÃO GERAL. NOVO PARADIGMA HERMENÊUTICO.
SUPERAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA CONTRÁRIA. Na conclusão do julgamento
do tema 1046 da repercussão geral, em 02/06/22, o STF decidiu que “são
constitucionais os acordos e as convenções coletivos que, ao considerarem
a adequação setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos de
direitos trabalhistas, independentemente da explicitação especificada de
vantagens compensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente
indisponíveis”. Segundo a jurisprudência do STF, a eficácia contra todos e o
efeito vinculante desta decisão, previstos pelo art. 927, do CPC, é imedia‑
ta, ou seja, independe da publicação do acórdão, nos moldes do art. 1035,
§11º, do CPC, ou de seu trânsito em julgado. Efetivamente, o tema 1046
da repercussão geral estabeleceu novo paradigma hermenêutico, tornando
completamente obsoletos diversos enunciados jurisprudenciais em sentido
contrário. No caso, procedeu-se à retratação parcial do acórdão anterior, nos
pontos em que a decisão turmária encontra-se em desconformidade com a
tese de repercussão geral em comento.

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

(TRT 3ª R – 0010365-35.2018.5.03.0015 ROT – 10ª T – Rel. Juiz Flávio


Vilson da Silva Barbosa – Disp. 05/09/2022)

RELAÇÃO DE EMPREGO – COOPERATIVA


466/48 – COOPERATIVA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. SEPARAÇÃO DO JOIO
DO TRIGO. FENÔMENO TOLERADO PELO DIREITO DO TRABALHO DESDE QUE
NÃO SEJA UMA FRAUDE E NÃO DESTOE DA REALIDADE SOCIAL EM QUE SE
INSERE. VEDAÇÃO DE RETROCESSO DE DIREITO FUNDAMENTAL. A evolução
natural dos institutos e dos fenômenos jurídicos deve ser assimilada pelos
intérpretes, preservada a finalidade almejada pelo legislador, que sábio,
sempre tem por substrato a realidade social na qual os pretende inseridos,
para a melhoria de vida dos cidadãos. As denominações, em si, são simples
rotulagens, vazias de sentido se não correspondem ao que efetivamente
ocorre no mundo real, onde nascem os direitos fundamentais e para onde
retornam perspectivados em avanços e não em retrocessos. Não se tolera
o descompasso entre a forma e o conteúdo, uma vez que este, avassalador,
acaba por dominar, arrastar e descerrar o manto que esconde a sua autên‑
tica natureza jurídica. Os cooperativados criam a cooperativa para que, por
intermédio dos cooperativados, lhes preste serviços, sem o desvirtuamento
de sua finalidade precípua. A sua dinâmica é intracorpus, medida e comedi‑
da, sem abusos externos, visando única e exclusivamente à exploração de
mão-de-obra sem vínculo empregatício. A retribuição deve ser múltipla, dife‑
renciada, articulada pelos próprios membros, que a dirigem e a comandam,
em benefício de todos, indistintamente e em proporção consentânea com a
prestação laborativa e autônoma de cada um. Não pode haver cooperativados-
comandados por terceiros, interessados que sejam apenas no fruto do labor
humano, direcionado para os seus interesses nucleares. A exclusividade
de absorção da mão de obra pode, em certos casos, ser um forte indício
de desvio de finalidade, ao qual se podem somar os traços de um trabalho
subordinado, incompatível com o trabalho cooperativado. Nesses casos, o
determinismo do art. 442, parágrafo único, da CLT, se despotencializa diante
do caso concreto, posto que a finalidade da norma não é abrir espaços para
a prática de fraude contra os direitos fundamentais.
(TRT 3ª R – 0012062-92.2017.5.03.0026 ROT – 1ª T – Rel. Des. Luiz Otávio
Linhares Renault – Disp. 14/09/2022)

RELAÇÃO DE EMPREGO – PEJOTIZAÇÃO


466/49 – CONTRATO ENTRE PESSOAS JURÍDICAS. ALEGAÇÃO DE “PE‑
JOTIZAÇÃO”. PRESTADOR DE SERVIÇOS DE ALTO GRAU DE INSTRUÇÃO.

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IMPOSSIBILIDADE DE PRESUNÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA. FRAUDE NÃO


DEMONSTRADA. VÍNCULO DE EMPREGO NEGADO. A proteção normativa en‑
cerrada pela CLT destina-se a tipo específico de trabalhador, dito hipossufi‑
ciente, que não se encontra em condições de se impor diante da empresa
que o contrata. Contudo, tal conceito não pode ser estendido a todo e qual‑
quer prestador de serviços, sobretudo aos mais qualificados, que tenham
plena capacidade de entender em que termos se dá a contratação, encon‑
trando-se em pé de igualdade com a contratante, inclusive para discutir as
condições impostas. Por se tratarem de pessoas com significativo grau de
discernimento e conhecimento técnico, podem recusar a proposta ofertada,
caso a entenda prejudicial ou injusta, buscando, no mercado, outra que lhe
seja mais conveniente, o que, contudo, não ocorre com o trabalhador dito
“assalariado” que, muitas vezes, não tem opções postas à sua escolha,
acabando por se sujeitar àquilo que lhe é oferecido, seja pelo temor do de‑
semprego, seja porque sequer tem conhecimentos suficientes para entender
que o contrato lhe tolhe direitos. No caso, o reclamante insere-se na cate‑
goria dos prestadores de serviços que possuem amplas possibilidades de
negociação, inclusive para decidir sobre a modalidade de contratação, não
se podendo inseri-lo na mesma camada dos trabalhadores mais humildes
e desclassificados sob o ponto de vista técnico, efetivos merecedores da
proteção normativa, sob pena de se ignorar os avanços e o dinamismo atual
das relações de trabalho, que ganharam contornos distintos daqueles da
época em que editada a CLT, inclusive no que atine ao equilíbrio de forças
entre seus protagonistas, que não mais pende, em todas elas, para o lado
da empresa. Esse, inclusive, foi o entendimento exarado pelo STF em recen‑
te julgamento envolvendo o tema, nos autos da Rcl 47843 AgR, (Relatora
Cármen Lúcia, Relator p/ acórdão: Alexandre de Moraes, Primeira Turma,
julgado em 08/02/2022, DJe-068, publicado em 07/04/2022). Assim, não
demonstrada fraude na contratação da pessoa jurídica representada pelo
reclamante, bem como ausentes os requisitos do art. 3º da CLT, improcede
o pedido de reconhecimento de vínculo de emprego perseguido na inicial.
(TRT 3ª R – 0010041-76.2022.5.03.0024 ROT – 9ª T – Rel. Des. André
Schmidt de Brito – Disp. 02/09/2022)

REPETIÇÃO DA PROVA
466/50 – NOVA PERÍCIA. NÃO CABIMENTO. Incabível o pedido de realização
de nova perícia ou complementação, posto que não se justifica por mero
inconformismo da parte com o resultado que lhe foi desfavorável e quando
a matéria foi suficientemente esclarecida com a apresentação de laudo

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

realizado por perito de confiança do juízo, na forma do art. 480 do CPC.


Recurso ordinário do reclamante a que se nega provimento no particular.
(TRT 2ª R – 1002177-53.2015.5.02.0311 ROT – 1ª T – Rel.ª Des.ª Maria
José Bighetti Ordoño – Publ. 01/08/2022)

RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR DE SOCIEDADE ANÔNIMA


466/51 – RECURSO DE EMBARGOS EM AGRAVO EM RECURSO DE REVIS‑
TA. ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. EXECU‑
ÇÃO. ART. 896, §2º, DA CLT. RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR DE
SOCIEDADE ANÔNIMA. EMPREGADO OU NÃO. DISCUSSÃO DE NATUREZA
INFRACONSTITUCIONAL. VIOLAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO NÃO DIRETA OU RE‑
FLEXA. Cinge-se o debate à existência de violação direta e literal da Consti‑
tuição Federal, nos termos da Súmula 266 do TST, a responsabilização de
diretor de sociedade anônima, empregado ou não, pelas dívidas trabalhis‑
tas. A c. Primeira Turma negou provimento ao agravo e manteve a decisão
do Relator que não conheceu do recurso de revista do executado por não
vislumbrar violação direta e literal do art. 5º, II, da Constituição Federal, ao
entendimento de que “a questão relativa à responsabilização do diretor da
sociedade anônima está jungida à interpretação de dispositivos infraconsti‑
tucionais (arts. 158, I e II, da Lei nº 6.404/76; 50 e 1.016 do Código Civil
e 28 do CDC), não possuindo, portanto, natureza constitucional”. Ressaltou
que “o Regional decidiu a matéria sob a ótica infraconstitucional, pois, ao
interpretar a Lei nº 6.404/76, concluiu pela sua aplicação também aos di‑
retores empregados”. A questão examinada no acórdão regional e debatida
no âmbito da Turma está centrada na responsabilidade do administrador
de sociedade anônima, seja ou não empregado da empresa executada, por
dívidas decorrentes de atos de gestão. Diante da natureza interpretativa da
questão à luz de disposições legais, sobre a imputação da responsabilidade
do diretor administrador da sociedade anônima, seja empregado ou não da
empresa, eventual ofensa ao dispositivo da Constituição Federal (art. 5º, II)
apontado na revista somente ocorreria de maneira reflexa ou indireta, pois
primeiro seria necessário interpretar legislação infraconstitucional de que
trata a matéria (arts. 1016 do Código Civil e 158, I e II, §§2º e 5º, da Lei
6.404/1976), e não direta, como preceitua o comando do art. 896, §2º, da
CLT e a Súmula 266 do TST. Precedentes ilustrativos. Não houve exame da
questão sob o enfoque da existência de dolo ou culpa nos atos de gestão
da sociedade, a robustecer a natureza interpretativa da questão à luz de
disposições legais, sobre a imputação da responsabilidade do diretor admi‑
nistrador da sociedade anônima, seja empregado ou não da empresa, pelas

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dívidas trabalhistas decorrentes dos contratos com os empregados. Recurso


de embargos conhecido e desprovido.
(TST – E-Ag-RR-194000-29.1995.5.01.0064 – SBDI 1 – Rel. Min. Breno
Medeiros – Publ. 19/08/2022)

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA – TOMADOR DE SERVIÇOS


466/52 – IFOOD. CONTRATO DE INTERMEDIAÇÃO DE NEGÓCIOS. NATUREZA
CIVIL. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM SEU BENEFÍCIO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA
331 DO TST. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. Demonstrado pela prova dos
autos que Ifood se beneficiou dos serviços prestados pelo autor mediante
a estrutura empresarial do segundo demandado, incontroversamente uma
OL, “empresa contratada pelo Ifood para administrar grupos de entregado‑
res disponíveis em dias e horários pré-estabelecidos” (informação extraída
do site de Ifood), forçosa a declaração de sua responsabilidade subsidiária
nos termos do inciso IV da Súmula 331 do C. TST.
(TRT 2ª R – 1001222-97.2021.5.02.0024 ROT – 15ª T – Rel.ª Des.ª Beatriz
de Lima Pereira – Publ. 06/09/2022)

SINDICATO – LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ


466/53 – SINDICATO. REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL. VÍCIO PROCESSUAL
SANÁVEL. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ NÃO CONFIGURADA. Configura-se vício proces‑
sual quando a parte, que tem o ônus de praticar o ato, o fizer sem a obser‑
vância das determinações legais a ele relacionadas, cujas consequências de
tal imperfeição dependerá diretamente de sua gravidade, Quanto a litigância
de má-fé, além das hipóteses previstas nos artigos 793-A até o art. 793-D,
tem-se por sua configuração quando uma das partes alterar a verdade dos
fatos cujo entendimento normativo passa pela aferição da intenção dolosa
de a parte em narrar, propositalmente, os fatos que embasam o processo,
ou até mesmo alterar o conteúdo ou a origem de uma prova importante
para o deslinde da ação. A parte que litiga de má-fé deve ter a intenção de
causar prejuízo à parte contrária por meio da sua conduta dolosa. No caso
concreto o fato de a preposta afirmar ao juízo que era empregada do Sindi‑
cato para os efeitos da representação processual Sindical e posteriormente
essa afirmativa ser retificada, não caracteriza o dolo processual capaz de
atrair a pena por litigância de má-fé, porquanto se enquadra na modalida‑
de de vicio processual sanável. Assim, não se configurando a hipótese em
análise em dolo processual por alteração da verdade fática, ante a ausência
de intenção dolosa de lesar a parte contrária o provimento do recurso para

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

a exclusão da multa aplicada ao Sindicato é medida que se impõe. Recurso


provido no aspecto.
(TRT 3ª R – 0010309-49.2022.5.03.0051 ROT – 4ª T – Rel.ª Juíza Maria
Cristina Diniz Caixeta – Disp. 06/09/2022)

TRABALHADOR PORTUÁRIO AVULSO – INTERVALOS INTRAJORNADA


466/54 – TRABALHADOR PORTUÁRIO AVULSO. INTERVALOS INTRAJORNADA.
INTERVALOS ENTRE JORNADAS. A Constituição Federal, em seu art. 7º, inc.
XXXIV, estabeleceu a igualdade de direitos entre os trabalhadores avulsos e
aqueles com vínculo de emprego, não havendo qualquer ressalva quanto à
isonomia estatuída. O inc. XXII, também do art. 7º da Constituição Federal,
prevê, entre os direitos assegurados aos trabalhadores urbanos e rurais, e
aqui, entendam-se compreendidos igualmente os trabalhadores portuários
avulsos, a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas
de saúde, higiene e segurança. Neste passo, não se pode olvidar que a
implementação de tal direito pressupõe o respeito a intervalos e pausas,
o que inclui os intervalos intrajornada, previsto no art. 71 da CLT, e o entre
jornadas, contemplado nos termos do art. 66 da CLT, revestindo-se estes
de indisponibilidade absoluta.
(TRT 4ª R – 0020219-25.2020.5.04.0122 ROT – 5ª T – Rel. Des. Cláudio
Antônio Cassou Barbosa – Disp. 12/09/2022)

TRABALHO ESCRAVO – OCORRÊNCIA


466/55 – TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS ÀS DE ESCRAVO. INOCOR‑
RÊNCIA – “Vale registrar, inicialmente, que as condições degradantes de
trabalho que caracterizam o trabalho em circunstância análoga à de escra‑
vo, são aquelas extremamente precárias, que não propiciam satisfação das
necessidades mínimas de existência imprescindíveis à vida com dignidade
e tratamento do ser humano como pessoa livre, como no caso de trabalhos
forçados, jornadas exaustivas ou condições de trabalho degradantes. A con‑
dição degradante há de ser aquela que notadamente reduza o trabalhador à
situação análoga à de escravo. Na sessão de instrução, foram colhidos os
depoimentos das partes e das testemunhas por elas conduzidas. A prova oral
produzida não favorece à tese autoral, quanto à prestação de trabalho em
circunstância análoga à de escravo.” – Sentença da Juíza Rosângela Alves da
Silva Paiva, titular da 2ª Vara do Trabalho de Sete Lagoas, que se mantém.
(TRT 3ª R – 0010362-97.2021.5.03.0040 ROT – 10ª T – Rel. Des. Ricardo
Marcelo Silva – Disp. 21/09/2022)

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EMENTÁRIO TRABALHISTA

TRABALHO EXTERNO – CONTROLE DE JORNADA


466/56 – TRABALHO EXTERNO. INCOMPATIBILIDADE COM CONTROLE DE
JORNADA. ART. 62, I, da CLT. INTERPRETAÇÃO ADEQUADA AOS TEMPOS
ATUAIS. PALM TOP. APLICATIVO DE MENSAGENS. USO DA TECNOLOGIA. Por
se tratar de exceção que retira do empregado a proteção de determinadas
normas relacionadas à jornada de trabalho, é necessário que se cumpra,
de forma cumulativa, os requisitos previstos no art. 62, I, da CLT. Desse
modo, além do exercício de atividade externa, é necessário que esta seja
incompatível com a fixação e controle da jornada de trabalho, bem como o
registro dessa condição na CTPS do empregado. A interpretação ao artigo
62, I, da CLT, tem que ser atualizada aos dias atuais, em que o uso da tec‑
nologia torna quase impossível a ausência de controle de jornada, notada‑
mente em situações tais como a presente, em que o empregado usa palm
top (coletor), tem roteiro de vendas predeterminado e emite notas fiscais,
nas quais consta o registro do horário de envio, além de participar de grupo
de mensagens, em que relata sua rotina, as vendas desempenhadas e os
clientes atendidos, desempenhando jornada, assim, de pleno conhecimen‑
to do empregador. O fato de o empregador enquadrar o empregado como
trabalhador externo, portanto, não basta, por si só, para atrair a incidência
do referido dispositivo legal, mostrando-se imprescindível que comprove a
impossibilidade do controle de jornada, situação não ocorrente nos autos.
(TRT 12ª R – 0000266-32.2021.5.12.0053 – 3ª C – Rel.ª Juíza Maria Beatriz
Vieira da Silva Gubert – Ass. 07/09/2022)

VIOLAÇÃO LITERAL À DISPOSIÇÃO DE LEI


466/57 – AÇÃO RESCISÓRIA. VIOLAÇÃO MANIFESTA À NORMA JURÍDICA.
ART. 966, V, DO CPC/2015. Para que se configure a hipótese de rescisão
de julgado com fundamento no art. 966, inciso V, do CPC/2015, a violação
a norma jurídica deve ser frontal e direta à literalidade da norma jurídica e
não deduzível a partir de interpretações possíveis, restritivas ou extensivas
e controvertidas nos Tribunais.
(TRT 2ª R – 1003896-23.2021.5.02.0000 AR – SDI 5 – Rel. Des. Daniel de
Paula Guimarães – Publ. 10/08/2022)

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Roman, ta­manho 12, espaçamento entre linhas de 1,5. Os parágrafos devem
ser justi­fi­cados. O tamanho do papel deve ser A4 e as margens utilizadas
idênticas de 3cm. Número médio de 15/25 laudas.
Os textos devem ser revisados, além de terem sua linguagem adequada a
uma publi­cação editorial científica. A escrita deve obedecer às novas regras
ortográficas em vigor desde a promulgação do Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa, a partir de 1º de janeiro de 2009. As citações de textos anteriores
ao Acordo devem respeitar a ortografia original.
Os originais dos artigos devem ser apresentados de forma completa, contendo:
título do artigo (na língua do texto, em inglês e em um terceiro idioma), nome
do autor, filiação institucional, qualificação (mestrado, doutorado, cargos
etc.), resumo do artigo, de até 250 palavras (na língua do texto, em inglês e
em um terceiro idioma), três palavras-chave, (na língua do texto, em inglês
e em um terceiro idioma), sumário do artigo, epígrafe (se houver), texto do
artigo, referências.
Recomenda-se que todo destaque que se queira dar ao texto seja feito com
o uso de itálico, evitando-se o negrito e o sublinhado.

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INSTRUÇÕES PARA OS AUTORES

As citações (palavras, expressões, períodos) deverão ser cuidadosamente


con­fe­ridas pelos autores e/ou tradutores; as citações textuais longas (mais
de três linhas) devem constituir um parágrafo independente, com recuo es‑
querdo de 2cm (alinhamento justificado), utilizando-se espaçamento entre
linhas simples e tama­nho da fonte 10; as citações textuais curtas (de até
três linhas) devem ser inseridas no texto, entre aspas e sem itálico.
As expressões em língua estrangeira deverão ser padronizadas, destacando-as
em itálico.
Os artigos serão avaliados pelo sistema do duplo blind review, e selecionados
pelo Conselho Editorial da revista. Os originais recebidos e não publicados
não serão devol­vidos. Como cortesia, os autores receberão acesso à versão
digital da revista com a publicação do artigo, disponível na Plataforma FÓRUM
de Conhecimento Jurídico.
As opiniões emitidas pelos autores dos artigos são de sua exclusiva respon­
sabi­lidade. Caso a publicação tenha imagens, enviar em arquivo separado, no
tamanho natural que será utilizado, em alta resolução (300 dpi), em arquivos
de extensão .jpg, .tif, .eps, ou arquivos do Photoshop (.psd), formato vetorial
CorelDRAW (.cdr) ou Adobe Illustrator (.ai).
Eventuais dúvidas poderão ser aclaradas pelo telefone (31) 2121.4910 ou
pelo e-mail: editorial@editoraforum.com.br.

Esta obra foi composta na fonte Frankfurt,


corpo 10 e impressa em papel Offset 75g
(miolo) e Supremo 250g (capa)
pela Meta Brasil em Cotia/SP.

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