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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE GEOGRAFIA, HISTÓRIA E DOCUMENTAÇÃO


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

ANDRÉ OLIVEIRA SILVA

FICHAMENTO 2-
SCHWARCZ, L. M. e STARLING, H. M. No fio da navalha: ditadura, oposição
e resistência. In: ___________. Brasil: uma biografia. São Paulo: Cia. das
Letras, 2015.

CUIABÁ-MT
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE GEOGRAFIA, HISTÓRIA E DOCUMENTAÇÃO
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

ANDRÉ OLIVEIRA SILVA

FICHAMENTO 1-
SCHWARCZ, L. M. e STARLING, H. M. No fio da navalha: ditadura, oposição
e resistência. In: ___________. Brasil: uma biografia. São Paulo: Cia. das
Letras, 2015.

Trabalho apresentado à disciplina


“Brasil contemporâneo” ministrada
pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo Souza
de Carvalho, curso de Licenciatura em
História – turno: Noturno, período 2021/1.

CUIABÁ-MT
2021
FICHAMENTO

SCHWARCZ, L. M. e STARLING, H. M. No fio da navalha: ditadura, oposição


e resistência. In: ___________. Brasil: uma biografia. São Paulo: Cia. das
Letras, 2015.

 O governo de João Goulart e o prelúdio de 1964

Em 7 de setembro de 1961, Dia da Independência, João Goulart chegou ao


Congresso Nacional para assumir a Presidência da República [...] A situação do país
continuava dificílima: inflação alta e em trajetória ascendente, descontrole dos gastos
públicos e um alarmante volume de dívida externa a ser pago já nos primeiros meses
de 1962. (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 2)

Com inflação em alta, salários desvalorizados e custo de vida aumentando — de


51,6% em 1962 para 79,9% em 1964 —, o país se encheu de greves. Além de alarmar
os empresários, a escalada grevista jogou um peso decisivo no fortalecimento das
forças de esquerda e no interior da estrutura sindical, que passou a oscilar entre o
controle estatal herdado da legislação varguista e a autonomia de ação. (SCHAWRCZ;
STARLING, 2015, p. 4)

Em 1963, existiam duas agendas políticas, à esquerda e à direita, disputando para se


transformar num projeto para o país — e a disputa seguiu seu curso sem disposição e
sem capacidade de se resolver dentro das regras democráticas. (SCHAWRCZ;
STARLING, 2015, p. 8)

Entre as esquerdas, o sentimento generalizado era de autossuficiência, existia certa


afobação, e Leonel Brizola, na liderança da coalizão, deu trabalho a Jango. [...] A
linguagem de Brizola, que já era exaltada, descambou rápido para um radicalismo
perigoso, mas essa não foi uma exclusividade sua; no fim do ano de 1963, as
esquerdas sentiam-se à vontade para avaliar o Congresso como conservador, e
consideravam a Constituição de 1946 ultrapassada e a atividade parlamentar, mera
plataforma para propaganda política. (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 8)

Na outra ponta da corda, Carlos Lacerda continuava solto para turbinar a campanha
de desestabilização do presidente da República. Em outubro, concedeu uma longa
entrevista a um jornalista norte-americano — devidamente reproduzida pela Tribuna
da Imprensa — e fez estourar uma nova fase de polarização política: a situação do
país se apresentava tão grave, concluía, que os militares debatiam se era “melhor
tutelá-lo [a Jango], patrociná-lo, pô-lo sob controle até o fim de seu mandato ou alijá-lo
imediatamente”. Para quem aprendeu a fazer política com Vargas, Jango reagiu mal
às declarações de Lacerda: reuniu ministros e enviou mensagem ao Congresso
solicitando a decretação do estado de sítio no país para que ele pudesse intervir na
Guanabara. A hostilidade foi geral. Os governadores mandaram avisar que não
aceitariam atos de exceção em seus estados, as forças de esquerda desconfiaram
que as medidas talvez pudessem ser utilizadas também contra elas, e os três grandes
partidos — PTB, UDN e PSD — se uniram e deixaram claro ao Executivo que o estado
de sítio seria negado. (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 8 - 9)

O comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, foi cuidadosamente preparado [...]


para escancarar a união das esquerdas e o avanço dos trabalhadores ao lado do
governo. [...] O presidente discursou de improviso e acertou no tom e na emoção: a
hora das reformas havia chegado; bastava de conciliação, declarou, convicto.
(SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 9-10)

Dois dias depois [do comício da Central do Brasil], Jango encaminhou a Mensagem
Anual da Presidência ao Congresso, a qual definia a agenda das reformas, propunha a
convocação de um plebiscito para sua aprovação, solicitava delegação de poderes
legislativos ao Executivo e defendia modificações no texto da Constituição de 1946. A
mensagem presidencial deixou os parlamentares de cabelo em pé, e para muita gente
pareceu confirmar os piores prognósticos do Ipes e da UDN: Jango, mais dia, menos
dia, tentaria impor sua política, dissolver o Congresso, concentrar poderes
excepcionais no Executivo, mudar as regras eleitorais para se beneficiar e permitir a
candidatura de Brizola — impossibilitado, pela Constituição de 1946, de concorrer a
qualquer novo cargo eletivo em virtude de seu parentesco com Goulart. (SCHAWRCZ;
STARLING, 2015, p. 10)

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi preparada pelo Ipes através da
União Cívica Feminina, um dos muitos grupos de mulheres organizados pelo instituto
em todo o país para fazer pressão política. Reuniu em torno de 500 mil pessoas, e
tinha dois propósitos: servir como resposta ao comício da Central do Brasil e lançar
um eloquente apelo da sociedade à intervenção das Forças Armadas. Por conta da
excessiva autoconfiança, nem Goulart nem a coalizão das esquerdas ligaram para o
fato de meio milhão de pessoas saírem às ruas, na cidade mais importante do país,
para protestar (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 10-11)

Para depor Jango, faltava unificar os quartéis — que afinal haviam se compromissado
com a legalidade constitucional desde sua posse em 1961. No dia 25 de março, com o
presidente descansando no feriado da Semana Santa em sua fazenda de São Borja, o
ministro da Marinha detonou a crise que iria comprometer de forma irremediável a
autoridade do governo com os militares e fornecer a justificativa para o golpe: mandou
prender quarenta marinheiros e cabos que organizaram as solenidades de
comemoração do segundo aniversário da Associação de Marinheiros e Fuzileiros
Navais do Brasil (AMFNB). A entidade tinha viés sindical, e fora criada com o objetivo
de conseguir melhores condições de trabalho para o pessoal da Marinha de Guerra
que sobrevivia com salários baixos, péssima alimentação nos navios e regulamentos
absurdos — estavam proibidos de casar sem autorização ou de sair às ruas em trajes
civis. [...] Com a ordem de prisão, explodiu o motim: mais de 3600 marinheiros se
entrincheiraram no Palácio do Aço, sede do Sindicato dos Metalúrgicos, no Rio de
Janeiro, e por três dias recusaram-se a abandoná-lo — exigiam que a Marinha
reconhecesse sua entidade e revogasse punições. (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p.
11)

Na madrugada de 27 de março, Jango voltou para o Rio às pressas, nomeou novo


ministro, assumiu as negociações e pôs tudo a perder: pela manhã, acertou a saída
dos amotinados e mandou levá-los a um quartel do Exército. No mesmo dia, à tarde,
liberou a marujada, declarando-os anistiados. O espetáculo dos marinheiros
insubordinados marchando eufóricos pelas ruas do centro do Rio de Janeiro, em
direção ao Ministério da Guerra, calou fundo nas Forças Armadas e deixou estarrecida
a oficialidade. (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 12)

Até hoje os historiadores debatem as razões que permitiram aos golpistas alcançar
uma vitória fácil. É certo que faltou o comando de Jango para resistir. Contudo, entre
as esquerdas e junto aos setores que o apoiavam, ninguém tomou a iniciativa de
assumir a liderança e enfrentar o golpe — nem o Partido Comunista ou o CGT, nem as
Ligas Camponesas, nem Brizola. É provável que todos eles, inclusive Goulart, tenham
feito o mesmo cálculo antes de recuar: a intervenção militar, em 1964, repetiria a
lógica de 1945, 1954, 1955 e 1961. As Forças Armadas se projetariam no ambiente
político no duplo papel de moderador e protagonista para, em seguida, convocar
eleições, devolver o poder aos civis e se recolher aos quartéis. (SCHAWRCZ;
STARLING, 2015, p. 13)

 A economia brasileira na ditadura civil-militar

A posse do general Castello Branco era o prelúdio de uma completa mudança no


sistema político, moldada através da colaboração ativa entre militares e setores civis
interessados em implantar um projeto de modernização impulsionado pela
industrialização e pelo crescimento econômico, e sustentado por um formato
abertamente ditatorial. (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 16)

A ditadura pode até ter sido uma sucessão quase imperial de generais no exercício da
Presidência da República; contudo, entre 1964 e 1985, o Ministério do Planejamento,
juntamente com o da Fazenda, não ficava atrás. Tinha poderes de sobra, era reduto
de civis, e o comando da área econômica cabia quase todo ao Ipes: Roberto Campos,
Octávio Gouvêa de Bulhões, Antônio Delfim Netto, Hélio Beltrão, Mário Henrique
Simonsen. [...] O Ministério da Fazenda dispunha de controle quase total do
orçamento, isto é, sobre gastos que deveriam ser definidos pelo Congresso Nacional.
(SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 19)

O governo Castello Branco ergueu as bases econômicas e financeiras que serviriam


para deslanchar o modelo de desenvolvimento, e deu prioridade a um programa de
estímulo ao investimento estrangeiro e de incentivo às exportações por meio da
desvalorização do cruzeiro em relação ao dólar. Adotou uma dura política de
estabilização: controle dos salários, redução da idade legal mínima de trabalho, fim da
estabilidade no emprego através da criação do Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço (FGTS), repressão aos sindicatos, proibição de greves. (SCHAWRCZ;
STARLING, 2015, p. 19)

[...] enquanto os militares aprofundavam os instrumentos de repressão dentro das


fábricas — e para o restante da sociedade —, a economia se aqueceu e a inflação, em
vez de subir, passou a cair. Teve início um surto de crescimento que, no seu apogeu,
superou qualquer período anterior, e o governo começou a falar de “milagre
econômico brasileiro”. (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 20)

O “milagre econômico”, contudo, teve um preço, e o crescimento da economia se fez


acompanhar de um processo acentuado de concentração de renda, resultado de uma
política salarial restritiva, em que os ganhos de produtividade não eram repassados
para os trabalhadores. (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 21)

Enquanto durou, o “milagre econômico” escamoteou os efeitos da concentração de


renda, e muita gente, em especial entre as classes médias urbanas, se beneficiou com
o crédito fácil, as novas oportunidades profissionais e os estímulos para consumir num
mercado abarrotado de novidades [...] O “milagre econômico” teve seu apogeu entre
1970 e 1972, e o êxito na economia ajuda a entender, ao menos em parte, por que o
general Médici conseguiu ser, ao mesmo tempo, o responsável por comandar o pior
período de repressão e violência política na história brasileira e um presidente popular,
pouco criticado e muito aplaudido. O grau de controle coercitivo sobre a sociedade que
a ditadura adquiriu durante sua presidência foi imenso, mas por si só não garantia
apoio. Todo governo, para se sustentar, depende de alguma forma de adesão, e o
“milagre econômico” ajudou a fabricar uma base geradora de consentimento junto à
população. (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 21-22)

A estrada foi inaugurada por Médici em 27 de setembro de 1972 e utilizada para


potencializar uma imagem ufanista do Brasil, compartilhar o sentimento de que estava
em curso um processo formidável de modernização do país e produzir identidade. Mas
não foi bem assim. A construção da Transamazônica massacrou a floresta, consumiu
bilhões de dólares, e até hoje a estrada tem trechos intransitáveis por conta das
chuvas, dos desmoronamentos e das enchentes dos rios. A Transamazônica torrou
um dinheiro que não havia, mas os brasileiros só entenderam isso na hora em que
acabou o milagre e a inflação bateu na casa de três dígitos — em 1980, atingiu a cifra
de 110%. Quando o governo dos militares terminou, em 1985, o país estava
endividado e a inflação chegava a 235%. (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 22-23)

 Os Atos Institucionais

As Forças Armadas até hoje empregam o termo “Revolução” para se referir ao golpe,
e isso ocorre por conta do primeiro Ato Institucional: garantia-se legitimidade ao
sistema e institucionalizava-se a repressão. Em razão dos vários Atos Institucionais
que se seguiram, esse passou a ser conhecido como AI-1, e forneceu ao governo do
general Castello Branco o instrumento jurídico que permitiu encarcerar milhares de
pessoas, bem como improvisar áreas de detenção em estádios de futebol, como o
Caio Martins, em Niterói, além de transformar embarcações da Marinha Mercante e da
Marinha de Guerra em navios-prisões. (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 25)

O AI-1 tinha prazo de validade — terminaria em 31 de janeiro de 1966, data final do


mandato de João Goulart. Em outubro de 1965, porém, Castello Branco liquidou com
as ilusões de quem ainda acreditava em ditadura temporária, prorrogou o próprio
mandato e baixou por decreto o AI-2. Além das medidas destinadas a fortalecer o
Executivo, o AI-2 mudava as regras do jogo no caso da representação política:
suprimia as eleições por voto popular direto para presidente da República e extinguia
todos os partidos políticos então existentes. (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 26)

O Ato nº 3 foi assinado pelo general Castello Branco em fevereiro de 1966, e se


encarregaria de acabar com as eleições diretas para governadores. Além do mais, um
Ato Complementar serviria para alterar a correlação das forças políticas no Congresso
e nas Assembleias Estaduais, ao estabelecer as normas para criação de apenas dois
partidos: um de apoio ao governo, a Aliança Renovadora Nacional (Arena), e outro de
oposição, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). (SCHAWRCZ; STARLING,
2015, p. 27)

O AI-5 suspendia a concessão de habeas corpus e as franquias constitucionais de


liberdade de expressão e reunião, permitia demissões sumárias, cassações de
mandatos e de direitos de cidadania, e determinava que o julgamento de crimes
políticos fosse realizado por tribunais militares, sem direito a recurso. Foi imposto ao
país numa conjuntura de inquietação política e movimentação oposicionista:
manifestações estudantis, greves operárias, articulações de lideranças políticas do
pré-1964 e início das ações armadas por grupos da esquerda revolucionária.
(SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 24)

 Censura, torturas e massacres institucionalizados

[...] a ditadura violou sua própria legalidade de exceção, e o uso da repressão sem
limites judiciais ocorreu em pelo menos três circunstâncias. A primeira, a partir de
1969, nos casos de desaparecimentos forçados praticados, na maior parte das vezes,
para encobrir homicídios de prisioneiros ou provocar incerteza na oposição sobre o
destino do desaparecido. A segunda, iniciada em 1970, na instalação de centros
clandestinos que serviram para executar os procedimentos de desaparecimento de
corpos de opositores mortos sob a guarda do Estado, como retirada de digitais e de
arcadas dentárias, esquartejamento e queima de corpos em fogueiras de pneus. A
terceira, desde 1964, no uso sistemático da tortura como técnica de interrogatório
(SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 30)

Ao se converter em política de Estado, entre 1964 e 1978, a tortura elevou o torturador


à condição de intocável e transbordou para a sociedade. Para a tortura funcionar, é
preciso que existam juízes que reconheçam como legais e verossímeis processos
absurdos, confissões renegadas, laudos periciais mentirosos. Também é preciso
encontrar, em hospitais, gente disposta a fraudar autópsias e autos de corpo de delito
e a receber presos marcados pela violência física. É preciso, ainda, descobrir
empresários prontos a fornecer dotações extraorçamentárias para que a máquina de
repressão política funcione com maior eficácia. No Brasil, a prática da tortura política
não foi fruto das ações incidentais de personalidades desequilibradas, e nessa
constatação residem o escândalo e a dor. Era uma máquina de matar concebida para
obedecer a uma lógica de combate: acabar com o inimigo antes que ele adquirisse
capacidade de luta. (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 30-31)

O governo dos militares carregava consigo uma proposta de silêncio, e utilizou a


censura política como ferramenta de desmobilização e supressão do dissenso. A ideia
era aparentemente simples: combinava manejar o controle sobre a produção e a
circulação de bens culturais no país com repressão política [...] Filmes eram proibidos
ou tinham cenas cortadas; versos de canções eram mutilados ou vetados; peças
teatrais acabavam barradas pelas autoridades, por vezes às vésperas da estreia [...]
(SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 35)

Deixando de lado a sofisticação cosmopolita da Bossa Nova, a “canção de protesto”


apresentava um programa de denúncia e resistência política, enraizado na
autenticidade cultural e política do homem do povo. (SCHAWRCZ; STARLING, 2015,
p. 37)

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