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FICHAMENTO 2-
SCHWARCZ, L. M. e STARLING, H. M. No fio da navalha: ditadura, oposição
e resistência. In: ___________. Brasil: uma biografia. São Paulo: Cia. das
Letras, 2015.
CUIABÁ-MT
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE GEOGRAFIA, HISTÓRIA E DOCUMENTAÇÃO
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
FICHAMENTO 1-
SCHWARCZ, L. M. e STARLING, H. M. No fio da navalha: ditadura, oposição
e resistência. In: ___________. Brasil: uma biografia. São Paulo: Cia. das
Letras, 2015.
CUIABÁ-MT
2021
FICHAMENTO
Na outra ponta da corda, Carlos Lacerda continuava solto para turbinar a campanha
de desestabilização do presidente da República. Em outubro, concedeu uma longa
entrevista a um jornalista norte-americano — devidamente reproduzida pela Tribuna
da Imprensa — e fez estourar uma nova fase de polarização política: a situação do
país se apresentava tão grave, concluía, que os militares debatiam se era “melhor
tutelá-lo [a Jango], patrociná-lo, pô-lo sob controle até o fim de seu mandato ou alijá-lo
imediatamente”. Para quem aprendeu a fazer política com Vargas, Jango reagiu mal
às declarações de Lacerda: reuniu ministros e enviou mensagem ao Congresso
solicitando a decretação do estado de sítio no país para que ele pudesse intervir na
Guanabara. A hostilidade foi geral. Os governadores mandaram avisar que não
aceitariam atos de exceção em seus estados, as forças de esquerda desconfiaram
que as medidas talvez pudessem ser utilizadas também contra elas, e os três grandes
partidos — PTB, UDN e PSD — se uniram e deixaram claro ao Executivo que o estado
de sítio seria negado. (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 8 - 9)
Dois dias depois [do comício da Central do Brasil], Jango encaminhou a Mensagem
Anual da Presidência ao Congresso, a qual definia a agenda das reformas, propunha a
convocação de um plebiscito para sua aprovação, solicitava delegação de poderes
legislativos ao Executivo e defendia modificações no texto da Constituição de 1946. A
mensagem presidencial deixou os parlamentares de cabelo em pé, e para muita gente
pareceu confirmar os piores prognósticos do Ipes e da UDN: Jango, mais dia, menos
dia, tentaria impor sua política, dissolver o Congresso, concentrar poderes
excepcionais no Executivo, mudar as regras eleitorais para se beneficiar e permitir a
candidatura de Brizola — impossibilitado, pela Constituição de 1946, de concorrer a
qualquer novo cargo eletivo em virtude de seu parentesco com Goulart. (SCHAWRCZ;
STARLING, 2015, p. 10)
A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi preparada pelo Ipes através da
União Cívica Feminina, um dos muitos grupos de mulheres organizados pelo instituto
em todo o país para fazer pressão política. Reuniu em torno de 500 mil pessoas, e
tinha dois propósitos: servir como resposta ao comício da Central do Brasil e lançar
um eloquente apelo da sociedade à intervenção das Forças Armadas. Por conta da
excessiva autoconfiança, nem Goulart nem a coalizão das esquerdas ligaram para o
fato de meio milhão de pessoas saírem às ruas, na cidade mais importante do país,
para protestar (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 10-11)
Para depor Jango, faltava unificar os quartéis — que afinal haviam se compromissado
com a legalidade constitucional desde sua posse em 1961. No dia 25 de março, com o
presidente descansando no feriado da Semana Santa em sua fazenda de São Borja, o
ministro da Marinha detonou a crise que iria comprometer de forma irremediável a
autoridade do governo com os militares e fornecer a justificativa para o golpe: mandou
prender quarenta marinheiros e cabos que organizaram as solenidades de
comemoração do segundo aniversário da Associação de Marinheiros e Fuzileiros
Navais do Brasil (AMFNB). A entidade tinha viés sindical, e fora criada com o objetivo
de conseguir melhores condições de trabalho para o pessoal da Marinha de Guerra
que sobrevivia com salários baixos, péssima alimentação nos navios e regulamentos
absurdos — estavam proibidos de casar sem autorização ou de sair às ruas em trajes
civis. [...] Com a ordem de prisão, explodiu o motim: mais de 3600 marinheiros se
entrincheiraram no Palácio do Aço, sede do Sindicato dos Metalúrgicos, no Rio de
Janeiro, e por três dias recusaram-se a abandoná-lo — exigiam que a Marinha
reconhecesse sua entidade e revogasse punições. (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p.
11)
Até hoje os historiadores debatem as razões que permitiram aos golpistas alcançar
uma vitória fácil. É certo que faltou o comando de Jango para resistir. Contudo, entre
as esquerdas e junto aos setores que o apoiavam, ninguém tomou a iniciativa de
assumir a liderança e enfrentar o golpe — nem o Partido Comunista ou o CGT, nem as
Ligas Camponesas, nem Brizola. É provável que todos eles, inclusive Goulart, tenham
feito o mesmo cálculo antes de recuar: a intervenção militar, em 1964, repetiria a
lógica de 1945, 1954, 1955 e 1961. As Forças Armadas se projetariam no ambiente
político no duplo papel de moderador e protagonista para, em seguida, convocar
eleições, devolver o poder aos civis e se recolher aos quartéis. (SCHAWRCZ;
STARLING, 2015, p. 13)
A ditadura pode até ter sido uma sucessão quase imperial de generais no exercício da
Presidência da República; contudo, entre 1964 e 1985, o Ministério do Planejamento,
juntamente com o da Fazenda, não ficava atrás. Tinha poderes de sobra, era reduto
de civis, e o comando da área econômica cabia quase todo ao Ipes: Roberto Campos,
Octávio Gouvêa de Bulhões, Antônio Delfim Netto, Hélio Beltrão, Mário Henrique
Simonsen. [...] O Ministério da Fazenda dispunha de controle quase total do
orçamento, isto é, sobre gastos que deveriam ser definidos pelo Congresso Nacional.
(SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 19)
Os Atos Institucionais
As Forças Armadas até hoje empregam o termo “Revolução” para se referir ao golpe,
e isso ocorre por conta do primeiro Ato Institucional: garantia-se legitimidade ao
sistema e institucionalizava-se a repressão. Em razão dos vários Atos Institucionais
que se seguiram, esse passou a ser conhecido como AI-1, e forneceu ao governo do
general Castello Branco o instrumento jurídico que permitiu encarcerar milhares de
pessoas, bem como improvisar áreas de detenção em estádios de futebol, como o
Caio Martins, em Niterói, além de transformar embarcações da Marinha Mercante e da
Marinha de Guerra em navios-prisões. (SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 25)
[...] a ditadura violou sua própria legalidade de exceção, e o uso da repressão sem
limites judiciais ocorreu em pelo menos três circunstâncias. A primeira, a partir de
1969, nos casos de desaparecimentos forçados praticados, na maior parte das vezes,
para encobrir homicídios de prisioneiros ou provocar incerteza na oposição sobre o
destino do desaparecido. A segunda, iniciada em 1970, na instalação de centros
clandestinos que serviram para executar os procedimentos de desaparecimento de
corpos de opositores mortos sob a guarda do Estado, como retirada de digitais e de
arcadas dentárias, esquartejamento e queima de corpos em fogueiras de pneus. A
terceira, desde 1964, no uso sistemático da tortura como técnica de interrogatório
(SCHAWRCZ; STARLING, 2015, p. 30)