Você está na página 1de 5

EXMO. SR. DR.

JUIZ FEDERAL DA 1° VARA FEDERAL DE LAJEADO SEÇÃO


JUDICIÁRIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 5007807-05.2018.4.04.7114

AUTOR: CAU – Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul

RÉU: Município de Estrela

MANIFESTAÇÃO DO CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA

O CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA, órgão colegiado,


com atribuições normativas, deliberativas, consultivas e fiscalizadoras, que tem por
finalidade promover a gestão democrática da política cultural do Estado, aqui
representado por seu Presidente, Marco Aurélio Alves, apresenta respeitosamente à
V. Exa. sua manifestação em resposta à intimação expedida em 25 de janeiro de 2019
determinando o que se segue:

Em relação ao item 8, alínea 'e', do referido pronunciamento judicial,


solicitam-se informações acerca do interesse do Conselho na
preservação do prédio sede da antiga Cervejaria Polar, em
Estrela/RS, bem como, em caso positivo, as medidas que estão
sendo adotadas pelo órgão.

I - NATUREZA JURÍDICA DO CONSELHO

Com base na Lei nº 11.289, de 23 de dezembro de 1998, o Conselho Estadual de


Cultura é órgão colegiado, com atribuições normativas, deliberativas, consultivas e
fiscalizadoras, tendo por finalidade promover a gestão democrática da política cultural
do Estado. Cumpre ao órgão, segundo a mesma norma legal em seu art. 2º, “emitir
pareceres sobre outras questões técnico-culturais de sua competência”, o que é
reforçado pelo texto da Lei nº 13.490, de 21 de julho de 2010, no seu Art. 5º, que
dispõe que “compete ao CEC/RS emitir pareceres sobre questões técnico-culturais
que lhe forem submetidas”.

O CEC/RS é constituído por 24 (vinte e quatro) conselheiros, sendo 8 (oito)


representantes do Poder Público e 16 (dezesseis) representantes da sociedade civil
organizada, com seus suplentes. No desempenho de suas atribuições, emitiu o
parecer intitulado “Manifestação pela preservação do Antigo Complexo Industrial Polar
de Estrela/RS”, datado de 15 de janeiro de 2019 e aprovado em Reunião Plenária.

II INFORMAÇÕES REQUERIDAS
O Conselho Estadual de Cultura exarou seu parecer intitulado “Manifestação pela
preservação do Antigo Complexo Industrial Polar de Estrela/RS”, datado de 15 de
janeiro de 2019 e aprovado em Reunião Plenária, no sentido de assinalar a
importância do conjunto arquitetônico, em especial sob os seus aspectos simbólicos.

No mesmo parecer, foi expressada a possibilidade de reabilitação e reutilização do


espaço, com a adaptação do(s) prédio(s) para os usos que se fizerem mais
convenientes. A viabilidade de financiamento foi apontada através da possibilidade de
captação de recursos de patrocínio cultural, por renúncia fiscal do Estado do Rio
Grande do Sul, via cadastramento do projeto no Sistema Pro Cultura RS LIC.

De forma que a atuação do Conselho Estadual de Cultura no presente feito, expresso


no já referido parecer, se dá no cumprimento de funções e no âmbito de suas
competências. Cumpre destacar que o tombamento – instrumento sugerido pelo
CEC/RS – é por sua natureza um ato administrativo, podendo ser exercido neste caso
apenas pelo poder Executivo do Município. Coube a este Conselho, indicar o
instrumento mais adequado, e elucidar os valores culturas do conjunto. Com esta
declaração dos valores culturais – e com base nos estudos já apresentados e os
pareceres exarados pelo Colegiado Setorial de Memória e Patrimônio e pelo Conselho
Estadual de Cultura – e ainda, o inegável envolvimento da comunidade local em prol
da preservação do espaço, julgamos a questão da declaração do valor cultural
resolvida, cabendo ao Executivo a realização do ato administrativo de “tombamento”.

Reforçamos que o tombamento é um ato declaratório do valor cultural, e não


constitutivo. Os valores culturais expressos pelo conjunto, com respaldo na definição
constitucional de patrimônio, precedem a declaração oficial de tombamento e,
portanto, entendemos que já colocam o referido conjunto sob proteção constitucional.

III AÇÕES PROPOSTAS

Ainda na esfera de suas atribuições, o Conselho Estadual de Cultura propõe-se, de


forma a contribuir com o caso em tela, a execução das seguintes ações:

I - Realização de oficina de produção cultural visando esclarecer o funcionamento do


Sistema Pro Cultura RS LIC e capacitar agentes no município para a submissão de
projetos para captação de recursos públicos através de renúncia fiscal. Esta ação visa
elucidar a possibilidade de captação de recursos para a reabilitação dos prédios,
demonstrando a viabilidade da preservação.
II – Realização de um Encontro Regional de Cultura, debatendo questões de políticas
municipais de preservação do patrimônio cultural. Esta ação tem por objetivo
instrumentalizar poderes públicos e comunidade para a preservação do patrimônio
cultural.

IV CONCLUSÕES FINAIS

O Conselho Estadual de Cultura, no uso de suas atribuições, atua na proteção e


salvaguarda da memória do Estado do Rio Grande do Sul, buscando contribuir na
discussão e na busca da melhor alternativa para a preservação do patrimônio cultural
gaúcho.

Dito isso, requer-se que sejam juntados ao presente processo a manifestação


determinada pelo r. magistrado, bem como os demais documentos.

Nestes Termos,

Pede deferimento.

Porto Alegre, 08 de fevereiro de 2019.

Marco Aurélio Alves


Presidente do Conselho Estadual de Cultura
ANEXO
Manifestação pela preservação do Antigo Complexo Industrial
Polar de Estrela/RS (15/01/2019)

O Conselho Estadual de Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, no exercício de


suas atribuições, vem manifestar-se a respeito do risco de demolição de parte do
antigo complexo industrial da Cervejaria Polar, no Município de Estrela (RS).
Recentemente foi aprovada naquele Município a Lei nº 7.127/2018, autorizando a
doação de parte da antiga Cervejaria com destinação específica para a construção do
novo Fórum da Comarca de Estrela. Para viabilizar este novo prédio, será demolido
um dos blocos de alvenaria do conjunto. Esta cessão desconsidera os valores
culturais inerentes ao sítio em questão e a possibilidade de reabilitação e
aproveitamento da edificação pré-existente.
Cumpre inicialmente destacar a relevância do complexo para a identidade do
Município de Estrela. Situa-se nas proximidades do antigo Porto de Estrela, no Rio
Taquari, antigo acesso fluvial da cidade e recentemente revitalizado. A partir deste
local, onde duas esculturas representam simbolicamente a “Indústria” e o “Comércio”,
já é possível visualizar o grande conjunto fabril da Polar, representativo do processo
de industrialização das antigas colônias alemãs. Trata-se, por excelência, de um lugar
relevante para a produção cervejeira e para a memória industrial de todo o Estado do
Rio Grande do Sul.
A presença do antigo complexo fabril na paisagem urbana assegura a manutenção da
identidade do Município e o convívio diário dos cidadãos com um espaço de memória
das gerações passadas, marcadas pelo trabalho e pelo ritmo da antiga indústria. A
permanência da antiga Fábrica da Polar como espaço público, absorvendo novos usos
que assegurem sua sustentabilidade, é uma demanda notória por parte da própria
comunidade estrelense. A Fábrica fez, faz e deve seguir fazendo parte do imaginário
local, integrando o patrimônio cultural do Estado do Rio Grande do Sul.
Os valores do complexo enquanto Patrimônio Cultural não residem especificamente
em seu eventual mérito arquitetônico, posto que pelas características do patrimônio
industrial, recebeu sucessivas reformas e ampliações. O conjunto arquitetônico, não
obstante, pode ser considerado portador de expressiva carga simbólica,
representando valores históricos, tecnológicos e sociais. É, sem nenhuma dúvida, um
sítio merecedor de proteção e tutela legal através de tombamento de reabilitação de
uso. As obras de recuperação poderiam ser viabilizadas com recursos oriundos
derenúncia fiscal, através de patrocínio cultural, via Sistema Pro Cultura RS LIC.
A possibilidade de destruição, ainda que parcial, deste complexo fabril, prejudicaria de
forma irreversível a paisagem urbana de Estrela. Deixaria uma dramática lacuna na
memória industrial do Estado do Rio Grande do Sul, consistindo em uma perda
irrevogável para o patrimônio cultural gaúcho. Apelamos ao Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul, para que recuse a possibilidade de endossar esta ação destruidora da
memória de nosso Estado.
O CEC RS endossa, também, a manifestação recebida da comunidade cultural de
Estrela pela preservação e reabilitação deste conjunto em sua integridade, reforçando
a importância do envolvimento da comunidade local, já expressado através de abraço
coletivo promovido no complexo.
Porto Alegre, 15 de janeiro de 2019.

Você também pode gostar