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28/05/2019
Número: 0810720-74.2015.8.15.0001
Classe: AÇÃO CIVIL PÚBLICA
Órgão julgador: 3ª Vara de Fazenda Pública de Campina Grande
Última distribuição : 06/11/2015
Valor da causa: R$ 1.000.000,00
Assuntos: DANO AMBIENTAL
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
INST DO PATRIMONIO HIST E ARTISTICO DO ESTADO DA SANDRA SUELEN FRANCA DE OLIVEIRA MACEDO
PARAIBA - IPHAEP (AUTOR) (ADVOGADO)
MUNICIPIO DE CAMPINA GRANDE (RÉU)
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA PARAÍBA - PGJ
(MINISTÉRIO PÚBLICO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
21392 23/05/2019 13:14 Sentença Sentença
173
Poder Judiciário da Paraíba
Terceira Vara de Fazenda Pública de Campina Grande
SENTENÇA
Ementa: AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Pretensão de obrigar o ente público de apresentar projeto de
revitalização do antigo “Cine Theatro Capitólio” de acordo com as regras técnicas vigentes – Pleito de
estabelecimento de cronograma de execução das obras – Tutela indeferida – Contestação – Preliminar de
ilegitimidade ativa – Rejeição – Não reconhecimentode litigância de má-fé – Imóvel tombado como
patrimônio histórico em razão do valor cultural da memória coletiva da população campinense – Prédio
que não apresenta estruturas arquitetônicas originais – Existência de estrutura física com risco de iminente
de desabamento – Apresentação de anteprojeto que não foi aprovado em razão de tecnicismos
exacerbados – Regulamentos que esbarram nos princípios que regem à Administração Pública – Ameaça
a integridade física dos transeuntes e imóveis vizinhos – Inexistência de ilegalidade perpetrada pela
edilidade – Não configuração de dano moral coletivo a ser reparado - Improcedência da ação.
1. Oprédio do “Cine - Theatro Capitólio” em nada se assemelha com àquele suntuoso imóvel edificado no
centro da cidade Campina Grande, que originalmente possuía traços da arquitetura art-decó, inclusive não
existe nos autos nenhum documento que demonstre que no interior do imóvel exista qualquer estrutura,
seja de natureza de engenharia, arquitetura, ou artística que possa ser restaurado ao status quo da época da
sua inauguração, muito menos a importância disso para a sociedade paraibana, sendo absolutamente
impossível que a edilidade atenda as exigências dos conselheiros que rejeitaram o projeto apresentado.
2. Apretensão exordial não merece respaldo, considerando que restou incontroverso nos autos que a
edilidade campinense apresentou, desde o ano de 2010, alguns anteprojetos para revitalização do antigo “
Cine - Theatro Capitólio”, que inclusive foram apresentados para análise técnica do IPHAEP-PB, ora
Vistos etc.
Arguiu que depois de quatro anos da referida deliberação, a edilidade ré submeteu nova
proposta concreta para a análise do IPHAEP, e durante todo o ano de 2014, ocorreram
audiências na Promotoria de Defesa do Meio Ambiente e Patrimônio Social da Comarca
de Campina Grande e reuniões com integrantes da administração municipal, sendo que em
agosto de 2014, foi organizada uma visita ao prédio objurgado, na qual o IPHAEP,
acompanhado de integrantes da administração municipal, CREA, Corpo de Bombeiros,
Defesa Civil, dentre outros, afirmando que o único objetivo da referida visita foi tentar
convencer o órgão autor, sobre a necessidade de sua demolição, cuja proposta não foi
aceita.
Assim, após minuciosa narrativa fática/técnica, entende que a edilidade incorreu na prática
de tipos penais, além da suposta prática que ocasionou dano moral coletivo, pugnando pela
concessão de tutela para obrigar a edilidade a apresentar projeto de revitalização do antigo
Cine Capitólio, contemplando sua total preservação, atendendo as diretrizes da legislação
patrimonial, sem qualquer redução na sua volumetria e, posteriormente ser encaminhado
para apreciação do IPHAEP e, após aprovação, que seja executado em prazo não superior
a 12 meses, sob pena de multa diária e, quanto ao mérito, pugna pela confirmação da
tutela, bem como a condenação da edilidade ao pagamento de indenização por danos
morais coletivos, em valores de hoje, não inferiores a R$ 1.000,000,00 (um milhão de
reais) e, demais pedidos de costume, juntando documentos eletrônicos.
Quanto ao mérito, rebateu as arguições exordiais de que não deixou de cumprir com suas
obrigações quanto ao “Projeto de revitalização do Cine Capitólio”, no entanto, a execução
do aduzido projeto até agora não se deu por causa da demandante, em razão de rigor
desarrazoado, indeferido o projeto no tocante “ao aumento de gabarito da edificação”, não
havendo motivo para apresentação de um novo projeto, que foi aprovado por unanimidade
na reunião do Conselho Municipal de Patrimônio – CONPAC.
Afirma ainda, que o prédio poderá desabar a qualquer momento, pugnando para que a
execução do projeto se dê conforme as possibilidades expostas pelo anteprojeto
apresentado, pugnando, ao final, pelo julgamento improcedente da lide e demais pedidos
de costume.
Relatados, decido.
PRELIMINARMENTE.
Da ilegitimidade ativa.
Destarte, não restou claro na referida legislação, a natureza jurídica do referido órgão, no
que pertine a legitimidade ativa ou passiva para figurar nos polos ativo e passivo de ações
judiciais que tramitam sob a égide do rito ordinário. No entanto, no caso dos autos, que se
trata de Ação Civil Pública, disciplinada pela Lei Federal n° 7.347 de 24 de julho de 1985,
o art. 5°, inciso V, alínea b, dispôs sobre as entidades que possuem legitimidade ativa para
propositura de ação principal e cautelar, incluindo-se neste rol, àquelas cuja finalidade
Da litigância de má-fé.
Com relação a alegação da edilidade ré, quanto a possível litigância de má-fé por parte do
IPHAEP - PB, tenho que o pedido também não merece prosperar. É que reputa-se litigante
de má fé aquele que formula pretensão embasada em razões de fato e de direito que sabe
não guardar correspondência com a verdade, afirmando fato inexistente, negando fato
existente ou atribuindo versão mentirosa a fato verdadeiro.
Neste sentido:
"conclui-se que pode ser considerado litigante de má fé aquele que formula pretensão
embasada em razões de fato que sabe não guardarem correspondência com a verdade, para
obter decisão favorável. Ainda, constata-se que a condenação da parte nessa penalidade
pressupõe a existência de prejuízo sofrido pela parte adversa em virtude da atitude
maliciosa. E tal prejuízo, ressalte-se, não deve apenas existir, mas, também, ser
"Na litigância temerária, a má fé não se presume, mas exige prova satisfatória, não só de
sua existência, mas da caracterização do dano processual a que a condenação cominada na
lei visa a compensar.”(STJ, 1ª Turma, REsp. 76.234 - RS, Relator Min. Demócrito
Reinaldo).
Assim, para que haja a condenação ao pagamento de multa e indenização previstas no art.
81 do CPC, deve ser levada em conta a presunção juris tantumde boa fé, a qual apenas
pode ser elidida quando demonstrado ter a parte agido com dolo ao praticar alguma das
condutas descritas no art. 80 do CPC, comprovando, ainda, a existência do prejuízo sofrido
pela parte contrária em razão do ato malicioso, o que, a meu sentir, não ocorreu no
presente caso, não havendo elementos concretos que justifiquem o reconhecimento de
litigância de má-fé e uma possível aplicação depena.
MÉRITO.
Requer ainda, que o projeto aduzido seja encaminhado ao setor competente do IPHAEP –
PB para apreciação e, caso aprovado, que seja determinada a execução do projeto em
Verifica-se que o que ensejou o tombamento do aduzido imóvel, não foi a arquitetura do
prédio que não tem nenhuma relevância artística representativa da época, mas em
decorrência de seu valor cultural conferido ao “Cine - Theatro Capitólio”, ante o seu
significado para a memória coletiva da população campinense, ou seja, não foi tombado
por ter uma relevância ou influência estética para o acervo arquitetônico do Município de
Campina Grande.
Assim sendo, é incontroverso que atualmente existe apenas um imóvel em ruínas, sem
nenhuma relevância arquitetônica, que ocasiona imenso risco à integridade física das
pessoas que trafegam pelo centro da cidade, e aos imóveis que o avizinham, inclusive
atualmente se mostra como uma estrutura física de aparência extremamente desagradável
no centro da cidade, cuja preservação do prédio objurgado, se assenta apenas na memória
afetiva da população campinense, e na contextualização histórica, artística e política em
que é inserida para a cidade de Campina Grande.
Como seja, os atos administrativos podem sofrer controle judicial, contudo o mesmo é
restrito à verificação da legalidade do ato, estando vedada a análise do mérito da gestão
administrativo, sob pena de violar-se o Princípio da Separação de Poderes. Destarte, o
controle judicial de políticas públicas possui caráter excepcional, cabendo ao Poder
Judiciário somente a verificação da legalidade e coibir abusos, não podendo adentrar no
mérito da gestão administrativa. Neste sentido traz-se à colação a jurisprudência correlata:
Portanto, a pretensão exordial não merece respaldo, considerando que restou incontroverso
nos autos que a edilidade campinense apresentou, desde o ano de 2010, alguns anteprojetos
para revitalização do antigo “Cine - Theatro Capitólio”, que inclusive foram apresentados
para análise técnica do IPHAEP-PB, ora autor, no entanto, foram indeferidos sob o plasma
do tecnicismo exacerbado contido nos regulamentos vigentes a serem seguidos para a
preservação do patrimônio histórico-cultural, que não guardam nenhuma coerência com a
situação concreta do prédio em questão, sendo algumas regras constantes da decisão que
indeferiu o projeto apresentado absolutamente impossíveis de cumprimento, como, por
exemplo, a exigência de preservação das coberturas originais, quando se sabe que o prédio
não tem mais teto, restando apenas as paredes laterais prestes a ruir e causar um desastre
sem precedentes nesta cidade.
Destarte, tal celeuma criada pelo IPHAEP-PB, que questiona minúcias técnicas no
anteprojeto apresentado pela edilidade ré, tal como o material e telhas a serem utilizadas na
obra, apresentam-se como melindres injustificáveis que acabaram por atrasar ainda mais a
implementação de interessante projeto arquitetônico-cultural, que beneficiará a urbe
campinense como um todo, tanto sob um aspecto pragmático e de utilidade de espaços
públicos, quanto de aformoseamento físico do centro do Município de Campina Grande.
Permissa venia, a parte autora deveria, no caso concreto, se desapegar das regras
estritamente técnicas, que criaram o inútil binômio “preservação x programa pretendido”,
que acabou por contribuir para maior tempo na deterioração do prédio público, e enveredar
pela seara de implementação de políticas públicas concretas para o financiamento da
revitalização de imóveis na mesma situação, ou auxílio financeiro preventivo para que
outros proprietários de prédios tombados, possam preservar a integralidade da estrutura
arquitetônica do “patrimônio histórico-cultural” do Estado da Paraíba.
Além do mais, saliento que não vislumbro qualquer ilegalidade perpetrada pelo Município
de Campina Grande e, em razão disso, não há como se reconhecer a ocorrência de
E, sem embargos da conotação política que alguns veem no agir do instituto autor, como
levantado nas alegações finais, no presente caso concreto, em observância das regras
constitucionais que tratam sobre estrutura organizacional e competência do Poder
Judiciário, não vislumbro nenhuma prática de crime como apontado na exordial,
supostamente praticado por algum agente público em nome do Município de Campina
Grande, havendo, na verdade, um grande risco de desabamento do prédio, devido o estado
de ruína de seu interior, o que pode vir a causar uma tragédia de enormes proporções nesta
cidade, principalmente se alguma parede cair durante o dia, com o trânsito de veículos e
pessoas ao redor, o que seria também de responsabilidade do autor que tem obstado a
implantação do projeto de construção do novo cine capitólio, o qual atende as exigências
legais diante da situação concreta e não poderia ser simplesmente indeferido com os
argumentos que embasaram a rejeição, não existindo justificativa para acolhimento da
pretensão exordial, pelo contrário, seria arriscar ou esperar acontecer uma tragédia e
depois se procurar os culpados.
Ante o exposto, do mais que dos autos consta e princípios de direito concebíveis na
espécie, nos termos do art. 487, I, do CPC, JULGO IMPROCEDENTE A AÇÃO
proposta pelo INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DO
ESTADO DA PARAÍBA, em face do MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE, que
pode implantar o projeto apresentado independente dos entraves advindos o
IPHAEP.
Sem custas.
P. R. I.
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Acesso no dia 21 de maio de 2019.