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PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR

UC – PLANEAMENTO E GESTÃO DE PROJETOS EM EDUCAÇÃO

Planeamento na Escola: Projeto Educativo e plano de ativ


Análise reflexiva

Jeremias Correia
Docente: Luís Reis
Planeamento na Escola: Projeto Educativo e plano de atividades

Índice
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................................................... 2
2. ENQUADRAMENTO...................................................................................................................................... 3
2.1. RESENHA HISTÓRICA DO PROJETO EDUCATIVO NO CONTEXTO EDUCATIVO PORTUGUÊS.............................3
2.2. O PROJETO EDUCATIVO E A CULTURA ORGANIZACIONAL DA ESCOLA..........................................................6
2.3. O PROJETO EDUCATIVO E A AUTONOMIA DAS ESCOLAS.................................................................................6
2.4. O PROJETO EDUCATIVO E A LIDERANÇA NAS ESCOLAS..................................................................................7
3. CONTEÚDOS DO PROJETO EDUCATIVO.................................................................................................. 8
4. CONCLUSÕES FINAIS................................................................................................................................ 14

os docentes conhecem o PE?


Os PEE conhecem o PEE? Inscrevem os filhos nas escolas com base no PE? Deverá ser o PEE
um instrumento para a escolha da escola dos filhos?
De que forma o PE pode ser um bom marketing?

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1. Introdução
O dicionário Houassis define projeto, como sendo “ideia, desejo, intenção de fazer ou
realizar (algo) no futuro”. Nestas aceções da palavra, estão contidas as três dimensões que
definem um projeto: vontade, futuro e fazer. É um conceito positivo nos dias de hoje, dado
que a ausência de projetos na vida pessoal, é sinónimo de uma espécie de vazio ou em seguir
uma filosofia niilista. No caso das organizações, de uma ideia de anarquia.
Em educação a metodologia de projeto está presente na génese da organização escolar,
mormente na conceção, na planificação de atividades e na elaboração de programas de ação,
para citar alguns casos.
O projeto educativo é um documento da responsabilidade da escola que lhe permite o
exercício da sua autonomia. Está legislado há mais de trinta anos, embora tivesse sido sempre
muito dúbia a explicitação do modo como deveria ser estruturado e elaborado, acabando
muitas vezes as escolas por cumprir esta imposição legal com um elevado grau de
subjetividade, de incerteza e a partir de exemplos importados de outras escolas. Ora, sendo
este documento revelador de características facilitadoras de uma gestão de natureza
estratégica, a sua importação de um outro contexto escolar e subsequente adaptação, pode
causar entropia ao processo, quando o principal objetivo deste documento é potenciar a
eficácia da gestão escolar. Além disso, sendo o plano anual de atividades, o instrumento que
operacionaliza o projeto educativo e, por conseguinte, a autonomia da escola, em caso de não
ocorrer a devida articulação entre ambos, pode comprometer a sua eficiência.
Neste sentido, o presente trabalho tem como propósito, através do conhecimento
adquirido na unidade curricular de Planeamento e Gestão de Projetos em Educação, efetuar
uma análise sobre a conceção, operacionalização e avaliação do projeto educativo, como
instrumento-chave de planeamento estratégico nas escolas.
O trabalho está organizado em três partes: a introdução, onde se pretende
contextualizar o trabalho, o desenvolvimento, onde se apresenta uma resenha histórica, alguns
pré-requisitos fundamentais para a concretização do projeto educativo, os elementos que
caracterizam o projeto educativo, as fases do seu processo de desenvolvimento e finalmente,
recorrendo aos fatores que conduzem ao sucesso do planeamento estratégico apresentados nas
aulas desta UC contextualizados ao projeto educativo, uma reflexão. Relativamente à terceira
parte do trabalho, será reservado às conclusões finais, onde tentarei apresentar algumas
interrogações surgidas durante a análise documental e na redação deste documento, que

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considero pertinentes. Tentarei dar resposta a algumas delas com base na mesma experiência
pessoal, enquanto outras ficarão como desafio para futuras investigações na área.

2. Enquadramento
2.1. Resenha histórica do projeto educativo no contexto educativo português
As primeiras referências normativas ao projeto educativo surgem com a publicação do
decreto-lei 553/80 de 21 de novembro (Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo), no qual
se define que “cada escola particular pode ter um projeto educativo próprio, desde que
proporcione, em cada nível de ensino, uma formação global equivalente à dos
correspondentes níveis de ensino a cargo do Estado” (ponto 1 do art.33º). No entanto, foi no
contexto de reforma do sistema educativo com a publicação da Lei de Bases do Sistema
Educativo (Lei n.º 46/86, de14 de outubro), que segundo Costa (1999) encontra o seu
fundamento nomeadamente nas áreas em que cada escola pode dispor de autonomia, na
definição e implementação do seu currículo, ou seja, nos pontos 2, 4 e 5 do artigo 47.º, num
quadro de um sistema educativo descentralizado que se liga à autonomia.
Na sequência da LBSE é publicado o Decreto-Lei n.º 43/89, de 3 de fevereiro, que
estabeleceu o regime jurídico da autonomia da escola, e onde a expressão “projeto
educativo” emerge em termos da sua aplicabilidade em contexto público. Nesse contexto, é
definido no seu preâmbulo, “a autonomia da escola concretiza-se na elaboração de um
projeto educativo próprio, constituído e executado de forma participada em benefício dos
alunos (...) desenvolvendo-se nos planos cultural, pedagógico e administrativo, dentro dos
limites fixados pela lei” (pontos 1 e 3 do art. 2.º). Relativamente à definição de projeto
educativo, diz-se: “(…) o projeto educativo traduz-se, designadamente, na formulação de
prioridades de desenvolvimento pedagógico, em planos anuais de atividades educativas e na
elaboração de regulamentos internos para os principais sectores e serviços escolares” (ponto
2, do art. 2.º). Assim, o projeto educativo surge como um instrumento revelante não só a
nível da reforma educativa, mas também na concretização do desenvolvimento da
autonomia. No mesmo decreto-lei, pode-se encontrar a origem dos planos anual e plurianual
de atividades. O ponto 2 do art. 2.º configura a autonomia da escola como “(…) o projeto
educativo traduz-se, designadamente, na formulação de prioridades de desenvolvimento
pedagógico, em planos anuais de atividades educativas (...)”. Mais tarde, no Decreto-Lei n.º
172/91, de 10 de maio, a expressão “projeto educativo” aparece associada ao exercício da

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autonomia nas escolas. De acordo com este decreto, o projeto educativo é elaborado e
proposto pelo Conselho Pedagógico (do qual fazem parte docentes em larga maioria,
representantes de encarregados de educação e um técnico dos serviços de psicologia) e
aprovado pelo Conselho de Escola (que reúne docentes, pessoal não docente, representantes
de alunos e encarregados de educação e do município). Deste modo, presume-se que os
diversos atores da comunidade educativa, assumam a sua responsabilidade perante o projeto
educativo, e que desta forma o adotem como referencial para a sua ação.
Na sequência da publicação do Decreto-Lei n.º 115-A/98 de 4 de maio, que ficou
conhecido por regime de autonomia, o projeto educativo constitui um instrumento do
processo de autonomia das escolas é assim definido: “(…) documento que consagra a
orientação educativa da escola, elaborado e aprovado pelos seus órgãos de administração e
gestão para um horizonte de três anos, no qual se explicitam os princípios, os valores, as
metas e as estratégias segundo os quais a escola se propõe cumprir a sua função educativa
(…)” (alínea a), do ponto 2, do artigo 3.º, capítulo I). No mesmo decreto-lei, o plano anual de
atividades, é assim definido: “(…) documento de planeamento, (...) que define, em função do
projeto educativo, os objetivos, as formas de organização e de programação das atividades e
que procede à identificação dos recursos envolvidos.”. Por conseguinte, nesta legislação
encontram-se orientações mais claras do que do ponto de vista do legislador, deve ser um
projeto educativo no sentido de convergir para uma uniformização documental, e passa a
estar a nível do planeamento estratégico, alinhado com o plano anual de atividades, que o
operacionaliza.
Com o decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de abril, e com a imposição às escolas dos
princípios de “accountability em educação” Afonso (2009), e de um órgão de gestão
unipessoal (diretor) o projeto educativo apesar de continuar a ser elaborado pelo Conselho
Pedagógico (agora só formado por docentes), fica numa possível relação de interdependência
com o projeto de intervenção do diretor, podendo resultar desta relação, alguns
condicionalismos que poderão ter como consequência, alguma perda de diversidade. Será
que em todas as escolas o projeto educativo estará alinhado com o projeto de intervenção do
diretor, ou face às constantes mudanças ocorridas nas escolas, estarão apenas articulados?
Do Decreto-lei n.º 137/2012 de 2 de julho, justificado pela necessidade da
reorganização da rede escolar com a criação dos “mega-agrupamentos”, o projeto educativo
e os planos anual e plurianual de atividades continuam a ser mantidos como instrumentos de

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autonomia, mas agora de forma “integrada e articulada tendo em vista a coerência, a eficácia
e a qualidade do serviço prestado” (ponto 1 art. 9º). Assim, este diploma define o projeto
educativo como sendo um: “(…) documento objetivo, conciso e rigoroso, tendo em vista a
clarificação e comunicação da missão e das metas da escola no quadro da sua autonomia
(...)”; e os planos anual e plurianual de atividades como instrumentos que: “(…) concretiza
os princípios, valores e metas enunciados no projeto educativo elencando as atividades e as
prioridades a concretizar no respeito pelo regulamento interno e o orçamento”.
Com este diploma legislativo, projeto educativo deixa de ter um contexto a nível de
escola e passa por um processo de regulação local e de territorialização – mesmo projeto
educativo para escolas diferentes e com alunos de todos os ciclos de ensino – advindo desta
alteração perda de especificidade, uma vez que, como resultado da agregação de escolas
geograficamente próximas, foram reunidas sob o mesmo agrupamento escolas com
contextos, dinâmicas e relações muito diferentes.
Mais recentemente, com o Decreto-Lei n.º21/2019 de 30 janeiro, o projeto educativo
das escolas passa a ser validado pelo Conselho Municipal de Educação, que detém a
competência de apreciar os projetos educativos a desenvolver nos municípios. Ora, com esta
alteração, o projeto educativo das escolas é alvo de uma regulação agora a nível municipal, o
que, em municípios com vários agrupamentos de escolas, poderá segundo Silva & Henriques
(2021), ter como consequência uma “perda do foco nos interesses das comunidades locais e
dos alunos onde se inserem as escolas, em detrimento de uma perspetiva municipal”.
Deste modo, o projeto educativo, documento que aquando da sua génese pretendia ser
identitário de uma escola, orientado para a resolução de problemas afetos e específicos da
comunidade educativa de uma escola, passa por uma evolução deveras significativa, ao ser
atualmente um documento possivelmente alinhado com a visão do diretor, o qual dirige um
conjunto de escolas agregadas por um critério de proximidade geográfica, frequentadas por
alunos oriundos de contextos sociais e culturais muito diferentes. A acrescer a esta evolução,
o projeto educativo depois de aprovado pelo Conselho Geral do agrupamento de escolas e no
qual o município tem assento, tem ainda que ser validado pelo Conselho Municipal, o que
não deixa de ser algo redundante, tendo em consideração a maioria da sua composição.

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2.2. O projeto educativo e a cultura organizacional da escola


Tendo em consideração o ponto anterior, facilmente se depreende que o projeto educativo
enquanto documento orientador, é um símbolo da identidade e autonomia da escola que se
alarga à respetiva comunidade educativa, e que segundo Braz (2012), “assegura a coerência,
unidade e intencionalidade da ação educativa”. Nesses termos, o projeto educativo implica
que as escolas assumam prioridades de desenvolvimento pedagógico, devendo ter como
princípios orientadores, a visão, a missão, os valores do agrupamento ou escola não agrupada
e deve ser aberto à comunidade numa lógica participativa e inclusiva.
Por outro lado, desde a implementação do Decreto-Lei n.º 75/2008 de 22 de abril, na
procura de lideranças fortes e de eficácia, a escola acabou por sofrer uma mudança de
paradigma, dado que, incorporou princípios oriundos do espectro empresarial. Mas, a
estrutura organizacional de uma escola é distinta das estruturas empresariais, em virtude de
gerar interações e comportamentos regulados simultaneamente por normativos e pelas
condições culturais, obtendo uma cultura própria a partir da qual, transmite normas, crenças,
valores que regulam e condicionam não só o comportamento dos seus membros como
também a organização da estrutura. A cultura organizacional influencia significativamente o
sucesso e a qualidade de uma organização.
Face ao exposto, a cultura organizacional passa a ser uma dimensão da gestão estratégica
de recursos humanos a ter em consideração aquando da elaboração do projeto educativo. A
predominância de uma cultura organizacional forte, aceite e partilhada por todos os elementos
que dela fazem parte, gera um forte sentimento de pertença como se de uma família se
tratasse, contribuindo inapelavelmente para uma maior qualidade das relações, facilitando
assim, a compreensão dos objetivos estratégicos e a sua apropriação. No caso das escolas,
funciona ainda como um cartão de visita, dado que, uma escola com uma cultura
organizacional forte, significa normalmente, a existência de um projeto educativo de
qualidade, pelo que, será um local confiável e apelativo para os pais matricularem os seus
filhos.

2.3. O projeto educativo e a autonomia das escolas


A autonomia das escolas públicas portuguesas, tal como observado aquando da análise
do edificado legal, é um processo em constante desenvolvimento, com raízes na década de
oitenta do século passado, e que se consolidou com o Decreto-Lei n.º 75/2008, com a

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introdução na funcionalidade das escolas, do favorecimento da constituição de lideranças


fortes da responsabilidade, da prestação regular de contas, da avaliação de desempenho e de
resultados, e da participação das famílias e comunidade na direção estratégica dos
estabelecimentos de ensino. Face ao seu enquadramento legal, constata-se que o projeto
educativo é um documento ao serviço do diretor, acompanhando o seu mandato e orientando
a sua ação. Deste modo, estando a escola dotada de uma série de autonomias, o projeto
educativo possibilita o exercício de uma gestão eficaz e eficiente, ao permitir a definição de
objetivos, a promoção de um conjunto de linhas de ação de natureza pedagógica,
administrativa e financeira e a otimização dos recursos existentes.
Nas palavras de Ferreira (2016), o projeto educativo, é um instrumento de gestão
estratégica que permite à comunidade educativa e ao diretor (enquanto órgão de gestão),
“pensar a escola”, “fazer na escola” e “equacionar a mudança” através de planos anuais e
plurianuais que concretizem uma “identidade” que se pretende para uma escola, na procura
da diferença. Por conseguinte, o projeto educativo é também um instrumento facilitador das
relações entre o diretor, os docentes, os alunos, o pessoal não docente, os pais e encarregados
de educação e a comunidade envolvente, concretizando um reforço da autonomia da escola.
Assim, tendo por referencial o Decreto-Lei n.º 43/89, de 3 de fevereiro e em jeito de
conclusão, aquando do processo de elaboração do projeto educativo, torna-se relevante a
mais ampla participação da comunidade educativa para que todos os seus membros se sintam
identificados com o projeto e façam dele um instrumento de trabalho contínuo.
Para finalizar e recorrendo ainda a Ferreira (2016), os instrumentos de gestão estratégica
aqui mencionados, podem servir de “alicerce à construção da autonomia da escola”, através
da assinatura de um contrato de autonomia. Neste contexto, o “contrato de autonomia”
“constitui o instrumento de desenvolvimento e aprofundamento da autonomia das escolas,
dada a possibilidade em contratualizar serviços, propor medidas educativas específicas que
permitam distinguir a escola pela diferença das suas práticas educativas.

2.4. O projeto educativo e a liderança nas escolas


As escolas são organizações que se vão construindo ao longo do tempo com um
contexto próprio e fabricando a sua própria história. A liderança nas escolas é situacional,
pelo que, apesar da atuação do líder envolver múltiplas funções como planear, informar,
avaliar, controlar ou punir, deverá ser sobretudo motivar e orientar as pessoas em direção a

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determinados objetivos, tal como sustentado por Braz (2012), quando afirma que “a
participação coletiva dos diversos atores educativos remete-nos, por um lado, para a
necessidade de criação de um ambiente favorável à mobilização dos atores educativos em
condutas de projeto, pois só assim se poderá conduzir à participação, à partilha, à
negociação e ao estabelecimento de uma rede de comunicações facilitadora das relações
interpessoais e da responsabilização coletiva”.
A liderança é, pois, o elemento aglutinador e dinamizador de uma organização (neste
caso a escola), para potenciar o seu crescimento em função de um projeto partilhado, como
é neste caso o projeto educativo.
A elaboração, desenvolvimento e avaliação de um projeto educativo, não são passíveis
de serem concretizados, sem a existência de uma liderança eficaz que consiga gerir os
interesses e as necessidades de todos os atores que interagem na escola enquanto
organização, tal como referido por Braz (2012), quando afirma que “o desenvolvimento do
projeto educativo da escola impõe, desta forma, a existência de líderes facilitadores, na
perspetiva de uma liderança transformacional, que conduzam os professores como
profissionais reflexivos a compreender as situações a enquadrar e resolver os problemas, de
uma forma partilhada”. Um exemplo claro dos “líderes facilitadores”, são as lideranças
intermédias, pois nelas reside grande parte da responsabilidade e do sucesso na construção
de um projeto educativo identitário, objetivo, exequível e que se adeque à missão da
organização. São as lideranças intermédias que estabelecem pontes entre a cúpula diretiva e
a restante estrutura, veiculando ideias, expectativas, orientações, propostas e encorajando o
espírito colaborativo.

3. Conteúdos do Projeto Educativo

De acordo com o entender de Barroso (1992), as vantagens do projeto educativo para as


escolas são: “aumentar a visibilidade da escola, recuperar uma nova legitimidade para a escola
pública, participar na definição de uma política educativa local, globalizar a ação educativa,
racionalizar a gestão de recursos, mobilizar e federar esforços e integrar projetos individuais e de
grupo”.
O projeto educativo responde a necessidades fundamentais de professores, alunos, pais e
encarregados de educação, assim como da restante comunidade envolvente. É um documento

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que permite a organização da escola, orienta toda a ação educativa e é ainda, um guia
informativo para os pais e encarregados de educação, acerca das opções educativas para o futuro
dos seus filhos. Por conseguinte, deve apresentar-se como um documento curto, conciso e
preciso, de modo a possibilitar uma leitura acessível a todos os intervenientes.
Para isso, tal como referenciado por Reis1(2023) é necessário proceder a um planeamento
estratégico do qual fazem parte vários itens essenciais que resultam da resposta a três questões
base: Onde estamos? Onde queremos chegar? Como e quando chegamos lá?
A fim de complementar o supramencionado, e também referenciado por Reis (2023), o
planeamento estratégico requer ainda monitorização, avaliação e reformulação, pelo que poderá
ser acrescentada mais uma questão às anteriores: Como saber se estamos a caminhar para lá?
Destas questões resultam um conjunto de parâmetros de gestão: a definição da missão da
organização (exposição geral dos principais propósitos organizacionais), a visão (aspiração da
organização), os objetivos que são a especificação dos fins que se pretendem atingir, e as
atividades ou ações que são os passos individuais e concretos para implementar a estratégia. Por
conseguinte, de acordo com Costa (1991), qualquer projeto educativo deve conter os seguintes
elementos: a) nota prévia (porquê um projeto para esta escola); b) definição de escola –
princípios básicos da instituição, valores, missão e visão, posicionamento pedagógico e
metodológico; c) caraterização contextual (caraterização do meio local circundante - social,
económico, cultural, geográfico e as infraestruturas); d) enquadramento legal da instituição; e)
recursos materiais da instituição; f) recursos humanos (professores, alunos, pais, pessoal não
docente); g) objetivos gerais (âmbito pedagógico, âmbito administrativo-financeiro, e âmbito
relacional); h) determinação da estrutura organizacional e funcional (estrutura organizacional,
formal, organização académica, organização administrativo-financeira, relacionamento
interinstitucional); i)disposições finais (divulgação, avaliação e revisão do projeto).
Após a estruturação do projeto educativo, como ocorre o seu processo de desenvolvimento?
Quais serão as etapas e como se estruturam?
Para responder a estas questões, segundo Barroso (1992), o processo desenvolve-se em três
fases distintas:
Conceção
a) Criação da equipa do projeto;
b) Justificação, sensibilização, mobilização dos vários intervenientes;

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In Luís Reis (2023), documento de apoio à unidade curricular “Planeamento e Gestão de Projetos em Educação”, da
Pós-graduação “Gestão e Administração Escolar”, do Instituto Piaget.

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c) Elaboração do projeto Educativo (diagnóstico inicial, identidade da escola, objetivos


gerais, estrutura organizacional);
d) Redação e divulgação;
Execução
e) Realização do projeto em articulação com os planos anuais de escola;
Avaliação
f) Contínua e final (processo e dos resultados);
g) Global final (caráter sumativo).

Embora o projeto educativo tenha de ser entendido como um documento de planificação


estratégica de longo prazo com uma estrutura global, ele terá na opinião de Costa (1999), sob pena
de perder a sua funcionalidade, de resultar num plano anual, a elaborar e concretizar. É neste sentido
que os planos de atividades existem: concretizar o projeto educativo relativamente a períodos
temporais mais curtos e numa perspetiva articulada.
Como o projeto educativo tem a vigência de três anos, deve ter em consideração a incerteza de
um futuro próximo, definindo-se objetivos baseados em cenários projetados, infletindo de direção se
necessário, como resultado de uma monitorização constante e de uma avaliação permanente. Ora,
sendo este plano estratégico implementado num ambiente tão complexo como é uma escola, que
garantias deve esta assegurar aquando da sua elaboração, que conduzam ao sucesso da sua
implementação?
A partir da fase de conceção supracitada e dos fatores referenciados por Reis 2 (2023), relativos
as fatores que influenciam o sucesso ou insucesso do planeamento estratégico, irei procurar
contextualizá-los ao projeto educativo, tentando ainda, dar a minha opinião de acordo com a minha
experiência profissional e sempre que possa ser proficiente para o efeito:
a) Consciência generalizada da sua necessidade: a necessidade da utilização do projeto educativo,
justifica-se pelo facto de numa escola, a qualidade do processo de ensino e aprendizagem surge
através da operacionalização do projeto educativo, incidindo em todos os aspetos que façam a
diferença na dinamização da qualidade das aprendizagens como resposta às necessidades dos
alunos que a frequentam.
b) Decisão pela sua utilização e concretização: em função do imperativo legal, mas sobretudo tendo
em conta o explanado no item anterior, ao identificar as opções de desenvolvimento da escola,

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In Luís Reis (2023), documento de apoio à unidade curricular “Planeamento e Gestão de Projetos em Educação”, da
Pós-graduação “Gestão e Administração Escolar”, do Instituto Piaget.

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definindo o que se pretende mudar, como se pretende mudar em função das necessidades dos
docentes, dos alunos e das expectativas dos encarregados de educação.
c) Envolvimento efetivo da organização e disponibilização continuada de informações relevantes:
para que o projeto educativo possa ter sucesso é essencial que integre no seu processo de
elaboração a participação e o contributo de todos os atores educativos. Apesar de frequentarem o
mesmo espaço, devido à especificidade da função de cada um, todos os atores apresentam uma
visão diferente da escola, cuja integração no projeto educativo conduzirá à elaboração de um
documento mais eclético, diferenciador e sobretudo inclusivo. Os docentes, são portadores de
competências técnicas diferenciadas (conhecimento teórico, prático e pedagógico), além de uma
elevada capacidade de trabalho. Serão competências de extrema relevância, dada a necessidade
de analisar e estudar diferentes documentos, refletir sobre a informação, tirar conclusões e
redigir o documento. Além disso, dada a complexidade do trabalho, de modo a evitar tentações
de adaptar um documento já elaborado pertencente a outra realidade, bem como a orientar a
equipa de trabalho para melhorar o seu grau de aptidão para a função, seria importante a
inclusão na equipa responsável pelo projeto de professores com formação especializada no
domínio das ciências da educação. Sobre os funcionários, convém recordar que acompanham os
alunos no exterior das salas de aula, pelo têm outra perceção dos alunos. Muitas vezes conhecem
o contexto familiar, as preocupações, as expetativas e as aspirações dos alunos numa perspetiva
mais intimista, pelo que o seu contributo para o projeto educativo pode ajudar a otimizar as
medidas relacionadas com a equidade e a inclusão. Além disso, também devem ter uma palavra
a dizer relativamente às suas necessidades de formação, assim como relativamente ao rumo que
a escola deve tomar. Quanto aos alunos, sendo os maiores beneficiários de um projeto educativo
de qualidade, o seu grau de satisfação, as competências adquiridas e o sucesso que alcancem, é a
melhor avaliação possível do projeto educativo. Devem ser ouvidos quanto às condições de
estudo, ao currículo, aos seus interesses e aspirações, entre outros. As escolas poderão utilizar as
aulas de cidadania e desenvolvimento para este efeito, bem como as reuniões com os delegados
e subdelegados de todas as turmas, com a associação de estudantes se esta for representativa dos
alunos, entre outras iniciativas. Finalmente, dado que os pais e encarregados de educação
necessitam de escolher a escola onde vão colocar os seus educandos e os cursos que no seu
entendimento melhor garantam o futuro dos seus filhos, devem ser inquiridos no
desenvolvimento do processo sobre o tipo de educação e formação que desejariam para os filhos
e conhecer as suas preocupações. Além da necessária colaboração com a associação de pais, nas

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escolas onde esta seja incipiente, uma forma mais cómoda e mais diligente para a recolha de
informação e de contributos dos encarregados de educação poderá ser feita através da realização
de um questionário online. Para os pais digitalmente pouco competentes, poderão ser
incumbidos os diretores de turma a apoiar a escola na função de recolha. Finalmente na
elaboração do projeto educativo deverão ser tidas em conta as necessidades da sociedade
(especialmente ao nível da formação e da qualificação), pelo que, também devem ser recolhidos
os contributos do tecido social e empresarial.
d) A escola pode utilizar as ferramentas provenientes da inteligência competitiva, para a elaboração
do seu projeto educativo, mormente na missão, na visão e na definição dos objetivos estratégicos
e das linhas de ação. Antes da fase de recolha da informação, será importante analisar a oferta
educativa da zona geográfica da escola, identificar as oportunidades de crescimento com a
introdução por exemplo de novos cursos, conhecer o perfil dos alunos ao nível das suas
necessidades, expectativas e grau de satisfação, melhorar a comunicação com os pais, fortalecer
a relação com a comunidade ao desenvolver oferta educativa específica ou a proceder a
alterações no currículo dentro dos 25% permitidos, ou como captar recursos necessários. Além
destes aspetos, para a elaboração do projeto educativo, deverão ser recolhidas informações sobre
como a escola poderá inovar ao nível das práticas e dos serviços prestados recorrendo não só aos
contributos de todos os atores, bem como a práticas de benchmarking (melhoria com as práticas
e as experiências de outras escolas, participação em redes colaborativas). Relativamente à
monitorização e avaliação, a inteligência competitiva será importante, para aferir a efetividade
das ações, ao nível da gestão de recursos e dos resultados alcançados.
e) Aprendizagem organizacional: a escola é um sistema complexo e dinâmico, em constante
mudança. Para se adaptar a essas mudanças e se manter competitiva, precisa ser capaz de
aprender com as suas experiências, erros e acertos e de utilizar esse conhecimento para melhorar
o seu desempenho e adaptando-se constantemente. Para almejar estes desideratos, será
importante que no projeto educativo, existam objetivos e estratégias, que valorizem o
conhecimento e a aprendizagem de toda a comunidade educativa, a abertura a novas ideias e
experiências, a promoção de um clima organizacional propício ao trabalho colaborativo e à
partilha de conhecimento para melhoria das práticas. Nas etapas subsequentes, será relevante
que a escola tenha a capacidade para analisar criticamente a operacionalização do projeto
educativo e os resultados obtidos, identificar os pontos fortes e fracos e aprender com o sucesso,
mas sobretudo com o infortúnio, uma vez que, por muito que se prepare um projeto, existe

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sempre imprevisibilidade em toda a ação humana. No fim, aproveitar todo o conhecimento


adquirido para melhorar o desempenho e a eficácia da organização.
Para concluir este ponto e tendo presente alguns dos fatores que conduzem ao insucesso de um
planeamento estratégico, como é o caso da complexidade processual que a elaboração de um
projeto educativo acarreta de modo a garantir a sua adequabilidade e exequibilidade, ainda mais
quando na equipa responsável possam existir elementos que apesar de uma inegável capacidade
de trabalho, detêm pouco conhecimento sobre planeamento estratégico, considero ser relevante
que para o processo de conceção do projeto educativo, a escola invista num profissional externo
à escola, com conhecimento e experiência em áreas relevantes da educação, como
pedagogia, avaliação ou gestão escolar. A função deste profissional é o que na gíria se designa
por “amigo crítico”: colaborar de forma crítica e construtiva com a escola fornecendo-lhe
feedback honesto e objetivo sobre as suas práticas, compartilhando as suas observações e
análises, promover a autoconsciência da escola através da reflexão, ajudando deste modo a
escola a identificar os seus pontos fortes, as áreas que requerem melhoria e a encontrar soluções
para os desafios que persistam.
f) Comunicação interna: ao ser criado nas escolas um ambiente plural, propício ao trabalho
colaborativo, à implementação de novas ideias e à partilha de conhecimento, uma das
consequências é a melhoria da comunicação interna. Continua a ser um aspeto onde as escolas
carecem efetivamente de melhoria.
g) Equipa multidisciplinar e metodologia de processos: atendendo às características e finalidade do
projeto educativo, a equipa de trabalho deve ter uma base alargada de sustentação das diferentes
sensibilidades existentes na escola. Segundo Azevedo, et al.(2011), o projeto educativo deve ser
conduzido por uma equipa “pequena sob responsabilidade direta do conselho pedagógico como
forma de garantir a sua operacionalidade”. Ainda segundo Azevedo, et al.(2011), o papel da
equipa
deve ser o “de organizar a recolha da informação indispensável, proceder ao seu tratamento e
análise, promover a participação dos diferentes setores da comunidade, organizar a audição dos
diferentes departamentos e stakeholders da comunidade, para validar as suas análises e
conclusões, redigir o documento final e, após aprovação, proceder ao seu acompanhamento e
avaliação”. Relativamente à metodologia de trabalho deve ser participativa e segundo Patrício
(2013), desenvolver-se numa “perspetiva ascendente quando se tratar de recolher informação e

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opiniões (inquéritos, reuniões) e descendente quando se traçarem as orientações essenciais para


o desenvolvimento do projeto educativo”.

Quanto à ausência de mecanismos de controle, fator enumerado como fator que conduz ao insucesso
de um planeamento estratégico, no caso do projeto educativo, a legislação prevê para executar esse
controlo a elaboração de relatórios periódicos e de um final, denominado por Relatório de
Autoavaliação. Estes documentos são sujeitos à apreciação do Conselho Pedagógico e submetidos à
aprovação do Conselho Geral, pelo diretor, garantindo assim o envolvimento da escola e de todos os
seus elementos no processo de controlo.

4. Conclusões Finais

A escola é uma entidade em constante mudança, fruto não só da mobilidade de alunos e


professores, da legislação, bem como da constante necessidade de dar resposta, concreta e atual,
aos problemas diários, criando as condições necessárias com o objetivo de formar cidadãos
responsáveis, críticos e intervenientes.
A escola tem de estar preparada para essa mudança, exigindo-se neste contexto, uma
dinâmica reflexiva que exige uma constante dinâmica e implica a existência de pessoas que
pensam no que fazem, como o fazem, que atendem aos contextos em que trabalham, os
interpretam e adaptam a própria atuação a eles.
Por conseguinte, entendo ser o momento de colocar as minhas dúvidas e interrogações que
me foram surgindo ao longo do trabalho e que considero pertinente partilhar. A algumas tentarei
apresentar uma resposta respaldada apenas pela minha experiência. Outras deixá-las-ei na forma
de interrogação retórica e lançá-las-ei a debate no dia da apresentação do trabalho.
1. Estará sempre o projeto educativo de uma escola, alinhado com o projeto de intervenção e a
carta de missão do seu diretor?
2. Será que os professores adaptam as suas práticas ao projeto educativo da escola onde
trabalham?
3. Será o projeto educativo suficientemente promovido e difundido pela escola?
4. Será que o projeto educativo tem algum impacto junto das famílias?
5. Sendo o projeto educativo um documento expresso no edificado legal desde 1989, como
instrumento de gestão da autonomia das escolas nas suas múltiplas vertentes, que razão

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existe, para a inexistência de um guião criado pelo Mistério da Educação para auxiliar as
escolas na sua elaboração, execução e avaliação?
6. Não seria expectável com a implementação do Decreto-Lei n.º 115-A/98 e mais tarde com a
implementação do DL 75/2008, com a importação para as escolas, de características e valores
específicos das empresas, que acabam por ser refletidas nos seus instrumentos de gestão,
mormente o projeto educativo, a existência de um guião-base de um documento tão
estruturante como o projeto educativo, ficando a sua especificidade ao cuidado do contexto
escolar?
7. Como se pretende que os projetos educativos sejam cada vez mais inclusivos e que garantam
maior equidade se a lógica prevalente tem subjacente princípios economicistas?
8. Será que a evolução do projeto educativo ao nível das políticas públicas e da sua crescente
regulação é condizente com a necessidade de a escola estabelecer relações de proximidade
com a comunidade educativa cada vez mais heterogénea e multicultural, que presentemente
frequenta os agrupamentos de escolas?

Como possíveis respostas obviamente limitadas pelo pouco tempo disponível para proceder a
uma reflexão mais profusa que permita maior sustentação, sou da opinião que a primeira questão
poderá constituir uma questão de partida para um possível projeto de investigação na área das
Ciências de Educação. A minha vintena de anos de experiência como docente primeiramente numa
escola portuguesa no estrangeiro (EPE), onde os candidatos a diretor concorrem ao abrigo de
legislação específica e são selecionados pelo CRESAP e depois em regime de mobilidade no
Colégio Militar que à semelhança das EPE, é regulado por legislação específica, não me permite ter
dados para resposta.
Relativamente à segunda questão, acredito que a maioria dos docentes adapte o seu trabalho
ao projeto educativo da escola onde trabalhe, desde que o conheça (o que nem sempre ocorre,
atendendo a uma multiplicidade de razões, apesar de ser uma das suas obrigações) e acima de tudo
que se identifique com o mesmo. Obviamente que esta problemática está intrinsecamente
relacionada com o modo como a escola promove e difunde o projeto educativo junto dos
professores. Muitas vezes, os docentes recém-chegados a uma escola, procuram a segurança das
suas práticas junto de docentes mais velhos e que já trabalham na escola há vários anos, na
presunção que os mesmos conhecem o projeto educativo. Outros há, que diligentemente fazem a
sua própria investigação, no sentido de serem o mais proficientes e competentes possível. Mas, sou

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Planeamento na Escola: Projeto Educativo e plano de atividades

da opinião de que a escola obteria maiores dividendos, se priorizasse a difusão do projeto educativo
junto dos professores.

Quanto à terceira questão, a minha resposta é claramente negativa, o que obviamente tem
repercussões não só ao nível da qualidade do serviço prestado, bem como ao nível do
estabelecimento de relações de proximidade com alunos, encarregados de educação e eventualmente
a comunidade local. Nas escolas onde exerci funções (escola portuguesa de moçambique, duas
escolas públicas da área de Lisboa e finalmente o colégio militar), nunca me apresentaram o projeto
educativo, dando a ideia de ser um instrumento secundário, construído devido a uma imposição legal
e depois arquivado. A prioridade sempre foi a sua operacionalização através do plano de atividades
embora numa perspetiva completamente desarticulada ou mesmo independente. Deste modo, não
admira que a maioria dos docentes conheçam melhor o plano de atividades que operacionaliza o
projeto educativo, do que o projeto educativo per se. Não deixa, pois, de ser um contrassenso sem
ser dado a conhecer o projeto educativo aos professores nas diversas reuniões ao longo do ano, serem
solicitadas propostas de atividades para o plano de atividades do ano seguinte, quando as atividades
que integram o plano devem ser uma consequência lógica e operacional dos objetivos, estratégias e
linhas de atuação do projeto educativo. Uma forma muito simples de dirimir este défice de atuação
será no início do ano letivo, antes do início da atividade letiva, realizar uma ação de curta duração na
modalidade de oficina de trabalho onde se apresenta o projeto educativo aos docentes (especialmente
aos recém-chegados numa perspetiva de os acolher e integrar) e sobretudo tentar alinhar as práticas
docentes, com os objetivos propostos no projeto educativo. Uma vez que, ao contrário do local onde
trabalho, as escolas atualmente são pautadas por relevante mobilidade ao nível dos docentes, esta
ação poderia ser replicada ao longo do ano letivo, aproveitando-a ainda para monitorizar e avaliar a
execução do projeto educativo. Numa perspetiva mais abstrata, será importante melhorar a
comunicação interna nas escolas já que até existe suporte informático para o efeito, dotando as
escolas de um fluxograma comunicacional mais fluído e abrangente para que os docentes se
apropriem dos instrumentos de gestão estratégica, os compreendam ao nível da sua sequenciação,
função e conteúdo, contribuindo deste modo, para a eficácia da organização. Quanto aos alunos, caso
a escola tenha um projeto educativo eficaz e que dê uma resposta de qualidade às suas necessidades e
aspirações, relativamente à sua formação académica e cívica, serão seguramente os melhores
promotores do projeto educativo da escola que frequentam. E ao falar de alunos, não me restrinjo aos
atuais, mas também aqueles que completaram o seu percurso escolar, e atingiram os objetivos a que

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Planeamento na Escola: Projeto Educativo e plano de atividades

se propuseram, quer sejam ingressar no ensino superior, ou no mercado de trabalho. Quantas escolas
destacam no site oficial ou nas suas redes sociais, o seu projeto educativo? Uma vez mais, uma ideia
simples e barata: criar um grupo de professores e alunos “influencers” do projeto educativo da escola
a que pertencem, aproveitando a articulação curricular presente nas escolas e subaproveitada, as
competências digitais dos alunos ao nível da criação de produtos multimédia e da gestão de redes
sociais, para que, integrados em equipas com outros atores educativos e da comunidade local (no
mínimo com docentes), criem produtos multimédia e ajudem a gerir a página de internet da escola e
as suas redes sociais, difundindo o projeto educativo e promovam o que de bom a escola faz, para
não ficar refém da imagem produzida pela divulgação dos resultados dos exames nacionais,
especialmente quando, não se trabalha exclusivamente para essa finalidade. Com esta ideia, a partir
da necessidade de resolver um problema de comunicação organizacional das escolas, e através de
comunidades sociais interativas, os alunos fortalecem a sua consciência para a importância do
projeto educativo enquanto documento promotor da eficácia das suas aprendizagens, constroem
conhecimento e potenciam o seu grau de envolvimento com a escola. Para finalizar, a promoção do
projeto educativo junto dos pais e encarregados de educação, também poderá influenciar a sua
escolha na hora de matricular os filhos. Seria importante que as escolas em parceria com a
associação de pais, criassem ao longo do ano, reuniões com os encarregados de educação para este
propósito, podendo os diretores de turma ter a função de gerir o seu grupo turma para este efeito.
Estes momentos seriam dedicados não só a difusão do projeto educativo, bem como a recolha de
feedback que pode revestir-se de alguma utilidade para a monitorização, e avaliação do projeto, bem
como para o diagnóstico inicial, ao nível da análise swot. Para os pais que não pudessem estar
presentes, a difusão seria feita através das redes sociais e seriam criados inquéritos de satisfação,
onde pudessem expressar a sua opinião. Como benefício extra desta atividade, a melhoria do grau de
envolvimento dos pais na vida da escola. Por vezes, conseguem-se melhorias significativas, com
pequenas afinações ao sistema.
Quanto ao impacto do projeto educativo junto das famílias, e tendo mais uma vez presente a
minha experiência, entendo que existe uma correlação positiva entre o impacto do projeto educativo,
o nível socioeconómico e as habilitações literárias das famílias. Sou da opinião que esta questão,
daria uma linha de ação para uma investigação mais aprofundada, dado existirem múltiplas variáveis,
como a segurança, a distância de casa à escola, os resultados dos exames nacionais, o investimento
das famílias em complementos extracurriculares, a inovação pedagógica, a assiduidade do corpo
docente, a abertura da escola à participação dos pais, os recursos disponíveis, a infraestrutura, a

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Planeamento na Escola: Projeto Educativo e plano de atividades

oferta curricular, outros irmãos matriculados na escola. Além disso, acredito que um número muito
significativo de pais, associem a qualidade do ensino aos resultados obtidos, à inexistência de
disciplinas sem professor, ao número de atividades realizadas, aos recursos disponíveis e à ausência
de focos de indisciplina. Neste caso, as famílias podem ser impactadas pelo projeto educativo, mas
muito possivelmente não se apercebem disso, devido à falta de promoção e difusão do projeto
educativo junto das famílias.
Relativamente à ausência de guião, mais uma vez legisla-se e depois não existe uma
preocupação efetiva na preparação dos profissionais que interpretam e consequentemente
concretizam a legislação. Ora, como a interpretação do que se lê é um processo subjetivo, o resultado
em alguns casos eufemisticamente falando, é uma implementação pouco objetiva e possivelmente
pouco enquadrada com os propósitos do legislador. Deste modo, seria benéfico para todos os
envolvidos de que, aquando da implementação de um novo paradigma legislativo dotar as escolas de
recursos para darem as respostas exigidas. Assim, na ausência de um guião-base produzido pelo
Ministério da Educação, pelo menos até 2011 pela Agência Nacional para a Qualificação, esse papel
coube aos investigadores em académicos pertencentes à área das Ciências em Educação, que com os
seus artigos científicos, ou livros, procuram dar conforto às preocupações das escolas. Por
conseguinte, acredito que devido à avaliação externa, em algumas escolas tenham sido elaborados
projetos educativos baseados a partir de um protótipo importado, sem a necessária adequação,
possivelmente desfasado da realidade ou de fraca exequibilidade e que, com um enquadramento
teórico diligenciado pelo ministério da educação, poderia ter tido melhor qualidade.
Para terminar, e responder às duas últimas questões, será pertinente as escolas otimizarem os
seus recursos, e usarem a criatividade na procura de soluções eficientes e eficazes para promover e
difundir o seu projeto educativo agora que por força dos “mega-agrupamentos” é muito importante
fazer chegar a informação a mais alunos e de um modo mais célere, ainda mais em alguns casos, com
elevados índices de mobilidade, com a matrícula de alunos emigrantes e refugiados da guerra.
Obviamente que o preferível fosse reorganizar a rede escolar (tal como os sindicatos advogam),
reduzindo o número de escolas por agrupamento, especialmente em concelhos com elevada
densidade populacional. Com menos escolas e menos alunos para gerir, o trabalho é mais
direcionado o que aumenta a probabilidade de respostas com maior qualidade às expectativas e
necessidades dos alunos, melhorando os rácios de equidade e ocorrendo efetivamente maior inclusão.

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Planeamento na Escola: Projeto Educativo e plano de atividades

Se queremos que o projeto educativo seja o “coração” das escolas, será necessário garantir a
colegialidade de todos os intervenientes, reunindo o maior número de contributos, gerando com esta
prática, consensos, mas acima de tudo, compromissos. Só com compromisso é que é possível
desenvolver um sentimento de pertença a uma organização.

Bibliografia
Afonso, A. J. (2009). Políticas avaliativas e accountability em educação — subsídios para um debate
iberoamericano. Sísifo / Revista de Ciências da Educação, 57-70.
Azevedo, R., Fernandes, E., Lourenço, H., Barbosa, J., Silva, J. M., Costa, L., & Nunes, P. S. (2011).
Projetos Educativos: Elaboração, Monitorização e Avaliação Guião de apoio. Lisboa: Agência
Nacional para a Qualifcação, I.P.
Barroso, J. (1992). Fazer da escola um projecto. Lisboa: Educa.
Braz, M. d. (2012). O Projeto Educativo como documento orientador da vida na escola. Tese de
Mestrado. Escola Superior de Educação de Santarém: Instituto Politécnico de Santarém.
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Lisboa: Texto Editora.
Ferreira, I. M. (2016). O diretor de escolas e a (des)articulação dos instrumentos estratégicos de
gestão – estudo de caso. Tese de Mestrado. Aveiro: Universidade de Aveiro.
Patrício, M. M. (2013). A Autonomia da Escola e o Plano Anual de Atividades - Tese de Mestrado.
Universidade Aberta.
Silva, N. M., & Henriques, S. (2021). Projetos Educativos de Escolas Complexas: Como Construir.
Revista Interacções.

Legislação

 Decreto-Lei n.º 553/80, de 21 de novembro: aprova o Estatuto do Ensino Particular e


Cooperativo.

 Lei n.º 46/86, de 14 de outubro: Lei de Bases do Sistema educativo.

 Decreto-Lei n.º 43/89, de 3 de fevereiro: estabelece o regime jurídico da autonomia das


escolas oficiais dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do ensino secundário.

 Decreto-Lei n.º 172/91, de 10 de maio: define o regime de direção, administração e gestão


dos estabelecimentos de educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário.

 Decreto-Lei n.º 115-A/98, de 4 de maio: aprovação do regime de autonomia, administração e


gestão dos estabelecimentos da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário.

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Planeamento na Escola: Projeto Educativo e plano de atividades

 Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de abril: aprova o regime de autonomia, administração e


gestão dos estabelecimentos públicos da educação pré-escolar e dos ensinos básico e
secundário.

 Decreto-Lei n.º 137/2012 de 2 de julho: procede à segunda alteração ao Decreto-Lei n.º


75/2008, de 22 de abril, alterado pelo Decreto-Lei n.º 224/2009, de 11 de setembro, que
aprova o regime de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos públicos da
educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário.

 Decreto-Lei n.º21/2019 de 30 janeiro - transferência de competências da Administração


direta e indireta do Estado para o poder local democrático.

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